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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA

Resumidamente, a Administração Direta é o próprio ente da Federação. Fazem


parte da estrutura federativa brasileira a União, os estados, o Distrito Federal e
os municípios, todos pessoas jurídicas de direito público. Estes, por conseguinte,
são os entes que compõem as diversas Administrações Diretas que coexistem em
nosso país.

A Administração Pública Direta é formada por órgãos públicos, ou seja, partes de


uma pessoa jurídica. São exemplos de órgãos do ente União Federal:
os Ministérios, as Forças Armadas, a Receita Federal, e, inclusive, os próprios
Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Deve-se atentar, portanto, em que
a Administração Direta é o ente no todo, com toda a sua máquina estatal.

A criação dos órgãos públicos se dá por um processo chamado


de desconcentração. Desconcentrar nada mais é do que dividir internamente.
Exemplificando: se a Administração nota que um órgão está encarregado de
muitas tarefas e ficando desorganizado por isso, ela pode, por meio de lei (art.
48, XI da CF), criar um novo órgão, desconcentrando uma ou mais tarefas do
antigo e resolvendo esse problema.

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA INDIRETA


As entidades que fazem parte da Administração Indireta estão muito bem
explicitadas no Decreto-Lei n° 200/67 (DL 200/67):

Decreto-Lei n° 200/67

Art. 4° A Administração Federal compreende: […]


II – A Administração Indireta, que compreende as seguintes categorias de
entidades, dotadas de personalidade jurídica própria:

a) Autarquias;
b) Empresas Públicas;
c) Sociedades de Economia Mista.
d) fundações públicas. (Incluído pela Lei nº 7.596, de 1987)

Assim, a estrutura da Administração Indireta abriga tanto pessoas jurídicas de


direito público (como as autarquias), quanto pessoas jurídicas de direito privado
(como as empresas públicas e as sociedades de economia mista).

Obs: as fundações, em princípio, são pessoas de direito privado, mas, quando


criadas por lei, seguem o regime das autarquias e assumem, assim, personalidade
de direito público (entidades autárquicas, no sentido amplo da expressão).

A criação das entidades da Administração Indireta se dá mediante um processo


de descentralização (art. 37, XIX e XX, da CF), que, por meio de lei, cria uma
nova pessoa jurídica.

Cuidado! Nem todo ato de descentralização gera uma nova pessoa jurídica: a
delegação de serviço público, por exemplo, constitui ato de descentralização que
ocorre mediante parceria com uma pessoa jurídica já existente, para execução de

um serviço público. Mas isso é assunto para um outro texto…


2. PRINCÍPIOS
2.1. LEGALIDADE
Subsunção de todos à vontade da lei e à vontade do povo. O
Administrador só pode fazer aquilo que está previsto em lei. O
Administrador pode fazer tudo àquilo que estiver contemplado
pelo direito, entendendo-se por “direito” a Constituição, Lei
infraconstitucional, princípios, doutrina, jurisprudência,
eventualmente usos e costumes (legalidade extensiva).
Observe-se que o Art. 5º, II dispõe que só a lei obriga, ou seja,
o Ato Administrativo, para obrigar, deve decorrer diretamente
da lei. Deve-se sustentar, portanto, na lei que respeitou o
devido processo legislativo.

2.2. IMPESSOALIDADE:
Tratar todos igualmente, decorre da isonomia. Não pode
privilegiar ou prejudicar ninguém (ausência de privilégios e
prejuízos).

A Administração pública não tem rosto, ou seja, não importa


quem feriu o direito de algum particular, quem fez, seja o
servidor público A, B ou C, será sempre a Administração
pública. Fere-se o princípio da impessoalidade se o rosto da
obra pública contenha imagem que lembre algum político da
época (ex: vaso com trevo do Maluf). Não se admite tal medida,
podendo incorrer em uma Ação Civil Pública.

2.3. MORALIDADE
A Administração deve pautar-se pela ética e honestidade. Se
um Ministro de Estado utilizar o avião destinado às suas
funções para fins não inerentes à função (viagens particulares),
estará ferindo a moralidade Administrativa.

Qualquer situação não inerente à função poderá gerar processo


de improbidade Administrativa.

2.4. PUBLICIDADE
Todos os atos da Administração devem ser públicos,
transparentes. Não se está dizendo que todos os atos da
Administração devem ser publicados na imprensa oficial (que é
uma espécie de publicidade). A Lei de Acesso a
Informacao possibilita a qualquer um pedir documento para a
Administração pública, sem usar qualquer tipo de motivação,
ressalvados os casos de:
( ) Relevante interesse coletivo;

( ) Garantia da segurança nacional;

( ) Honra;

( ) Privacidade.

Os atos quando públicos permitem o controle da máquina


estatal pelos cidadãos. Há uma possibilidade também de
projetar a eficácia dos atos, por aqueles que se acharem no
direito de defesas de seus interesses, como por exemplo, o
ensejo de uma ação popular contra o agente público que não
esta tomando os devidos cuidados para manutenção do
patrimônio pública.

2.5. EFICIÊNCIA
A Administração deve pautar-se pela organização, celeridade e
qualidade. Não se fala em eficiência sem falar em
planejamento.

Organização
Lei do Processo Administrativo Federal (Lei 9.786/98).
Celeridade
Lei do Pregão (Lei 10.520/02), com o advento dessa lei, em 20
dias estaria feito o pregão; estipulou limites e prazos para fazer
o pregão.
Qualidade
Lei das Concessões e Permissões de Serviços Públicos
(Lei 8.987/95), direcionando a execução do Serviço Público aos
particulares, onde a eficiência seria melhor. Com isso há o
surgimento de Agências Reguladoras (Anatel, Anac, por ex.).
2.6. PRESUNÇÃO DE LEGITIMIDADE / VERACIDADE
DO ATO ADMINISTRATIVO
Todos os atos da Administração presumem-se legais, porque os
atos devem seguir o princípio da Legalidade Restrita, fazer
tudo em observância da lei. Tal princípio descende diretamente
do Princípio da Legalidade, pois a Administração só pode fazer
o que está na lei, então, presumem-se que tudo que faça, seja
com observância da lei.

Para retirar a presunção de legalidade de um ato


Administrativo, o instrumento correto é a Impugnação. Caso
não seja impugnado, pode ser considerado exigível. Maria
Sylvia Zanella Di Pietro diz que todos os atos devem ser legais,
presumindo a Legalidade, mas na Veracidade reside a certeza
dos Fatos, significando que se presumem verdadeiros os
motivos indicados para a edição do ato Administrativo.

Ex.: Administração pública compra papel para a máquina de


fotocópias, tem que comprar papel porque está faltando na
máquina. Portanto, o Princípio da Veracidade dos Fatos
significa que se presumem verdadeiro os motivos para o ato
Administrativo.

2.7. AUTOEXECUTORIEDADE
A Administração Pública pode executar seus próprios atos sem
o socorro do Poder Judiciário. Poderá por si só, mediante ato
próprio, executar este ato. (ex: lacrar um restaurante). Pode
anular todos os atos praticados pela Administração pública, ou
pode revogar todo e qualquer ato Administrativo.

2.8. LEGALIDADE (+) AUTOEXECUTORIEDADE

Os atos da Administração Pública a priori, presumem-se ser


legais e legítimos, podem e devem ser exequíveis
imediatamente, cabendo a Administração Pública realizar,
independente de autorização judicial.
Auto executar significa poder rever seus atos, corrigi-los
independente de provocação. Contudo, só poderá fazer o que
está na lei. Se não houver previsão legal, o ato será desprovido
de autoexecutoriedade.

Exceção: quando a Administração Pública estiver protegendo o


maior bem jurídico, que é a vida p ex., perigo de vida (perigo
de desabamento), neste caso, a Administração poderá invadir a
casa do individuo sem autorização e desapropriar o dono de
sua casa, não importando se o ato é ou não é auto executório. É
o que ocorre por exemplo, quando o particular se recusa a sair
de uma casa que esteja na iminência de desabamento, nestes
casos, a administração, com o objetivo de salvaguardar o
direito maior, qual seja a vida, ela estará autorizada a invadir o
âmbito do domicilio para proteger o particular mesmo.

2.9. AUTOTUTELA
A Administração Pública deve rever seus próprios atos. Pode
anular seus próprios atos quando eivados de vícios que
contenham ilegalidade. Deve anular por que o ato cria direito.
A Administração Pública também pode revogar seus atos
quando inconveniente ou inoportunos, respeitado o direito
adquirido. Sumula 473 STF: anula-se o ato ilegal; revoga-se o
ato inconveniente ou inoportuno.

Súmula 473 STF: ADMINISTRAÇÃO PODE ANULAR SEUS


PRÓPRIOS ATOS, QUANDO EIVADOS DE VÍCIOS QUE OS
TORNAM ILEGAIS, PORQUE DELES NÃO SE ORIGINAM
DIREITOS; OU REVOGÁ-LOS, POR MOTIVO DE
CONVENIÊNCIA OU OPORTUNIDADE, RESPEITADOS OS
DIREITOS ADQUIRIDOS, E RESSALVADA, EM TODOS OS
CASOS, A APRECIAÇÃO JUDICIAL.

Atos administrativos
Segundo Hely Lopes Meirelles: "Ato administrativo é toda manifestação
unilateral de vontade da Administração Pública que, agindo nessa qualidade,
tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar, extinguir e
declarar direitos, ou impor obrigações aos administrados ou a si própria".

J. Cretella Junior apresenta uma definição partindo do conceito de ato jurídico.


Segundo ele, ato administrativo é "a manifestação de vontade do Estado, por
seus representantes, no exercício regular de suas funções, ou por qualquer
pessoa que detenha, nas mãos, fração de poder reconhecido pelo Estado, que
tem por finalidade imediata criar, reconhecer, modificar, resguardar ou
extinguir situações jurídicas subjetivas, em matéria administrativa".

Para Celso Antonio Bandeira de Mello é a "declaração do Estado (ou de quem


lhe faça as vezes - como, por exemplo, um concessionário de serviço público) no
exercício de prerrogativas públicas, manifestada mediante providências
jurídicas complementares da lei, a título de lhe dar cumprimento, e sujeitos a
controle de legitimidade por órgão jurisdicional".

Tal conceito abrange os atos gerais e abstratos, como os regulamentos e


instruções, e atos convencionais, como os contratos administrativos.

Assim o conceito geral de ato administrativo, seria aquele que é manifestado ou


declarado pela administração pública, incumbido das prerrogativas do direito
público, ou por meio dos particulares, também investido das prerrogativas do
direito público, no qual possui como finalidade imediata a produção de efeitos
jurídicos determinados, estando em conformidade com o interesse público e sob
o regime predominantemente do direito público também.

3. REQUISITOS DOS ATOS ADMINISTRATIVOS

São necessários à formação do ato. Sem a convergência desses elementos, não se


aperfeiçoa o ato, qual não terá condições de eficácia para produzir efeitos
válidos.

1. Competência: é a primeira condição de sua validade; nenhum ato


- discricionário ou vinculado - pode ser realizado validamente
sem que o agente disponha de poder legal para praticá-lo; sendo
um requisito de ordem pública, é intransferível e improrrogável
pela vontade dos interessados, podendo ser delegada e avocada.
2. Finalidade: é o bem jurídico objetivado pelo ato administrativo.
O Administrador não pode fugir da finalidade que a lei imprimiu
ao ato, sob pena de nulidade do ato pelo desvio de finalidade
específica. Havendo qualquer desvio, o ato é nulo por desvio de
finalidade, mesmo que haja relevância social.
3. Forma: revestimento exteriorizador do ato administrativo, a
vontade da administração exige procedimentos especiais e forma
legal; todo ato administrativo, é, em princípio, formal.
4. Motivo: é a situação de direito que autoriza ou exige a prática do
ato administrativo.
5. Objetivo: a criação, modificação ou comprovação de situações
jurídicas concernentes a pessoas, coisas ou atividades sujeitas
à ação do Poder Público. Pode ser vinculado ou discricionário.

4. ESPÉCIES DE ATOS ADMINISTRATIVOS

1. Atos Normativos: Aqueles que contêm um comando geral do


Executivo, visando a correta aplicação da lei
2. Atos Ordinários: Visam disciplinar o funcionamento da
Administração e a conduta funcional de seus agentes. Emanam
do poder hierárquico da Administração.
3. Atos Negociais: Aqueles que contêm uma declaração de vontade
do Poder Público coincidente com a vontade do particular.
4. Atos Enunciativos: Aqueles que se limitam a certificar ou atestar
um fato, ou emitir opinião sobre determinado assunto.

5. CLASSIFICAÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS

Os atos administrativos possuem uma classificação muito ampla, assim


podemos evidenciar alguns que são mais comumente abordados no direito
administrativo.
Temos os atos vinculados e os atos discricionários. O primeiro é aquele no qual
a administração pratica sem nenhuma margem de liberdade em sua decisão, ou
seja, obedece ao que estar previsto na lei, não cabendo ao agente apreciar a
oportunidade e conveniência administrativa da edição desse ato. Os atos
discricionários são os que a administração pratica com uma certa liberdade na
sua escolha, pois apesar de o ato estar previsto na lei, a mesma deixa uma
margem quanto ao seu conteúdo, podendo a sua realização ser feita pela
oportunidade e conveniência administrativa.

Os atos gerais ou individuais outra modalidade de atos administrativos. Os


primeiros são aqueles que não possuem destinatários determinados, ou seja, são
atos abstratos. Os atos individuais são aqueles que possuem destinatários
certos, produzindo os seus efeitos concretos diretamente sobre estes.

Os atos internos são aqueles nos quais tem a finalidade de produzir os seus
efeitos apenas no âmbito interno da administração, atingindo as pessoas e os
órgãos diretamente ligados. Já os atos administrativos externos são aqueles que
atingem a administração de uma forma geral.

O ato administrativo simples é aquele que vai decorrer apenas de uma única
manifestação de vontade de apenas um órgão ou colegiado, assim ele se
completa a partir de sua manifestação, não dependendo de outros. O ato
administrativo complexo é aquele que vai necessitar para a sua formação da
manifestação de dois ou mais órgãos administrativos, só sendo considerado
perfeito quando ocorrer essas manifestações. O ato administrativo composto é
aquele que apesar de ser manifestado por apenas um órgão, ele necessita de um
outro ato para que o aprove e assim possa estar apto a produzir os seus efeitos.
Por fim, temos os atos administrativos constitutivos, extintivos, modificativos e
declaratórios. Os atos constitutivos são aqueles que criam uma situação nova
para os seus destinatários, podendo ser o reconhecimento de um direito ou a
imposição de uma obrigação. Os atos extintivos são aqueles que põem fim a uma
determinada situação jurídica individual. Os atos modificativos são aqueles que
alteram uma situação já existente, sem provocar a sua extinção, não suprimindo
os direitos e obrigações já existentes. Os atos declaratórios é aquele no qual
afirma a existência de um fato ou então de uma situação jurídica.

6. EXTINÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS

 Revogação: é a extinção de um ato administrativo legal e


perfeito, por razões de conveniência e oportunidade, pela
Administração, no exercício do poder discricionário.
 Cassação: modalidade de anulação do ato administrativo que,
embora legítimo na sua origem e formação, torna-se ilegal na sua
execução. Ocorre principalmente nos atos negociais.
 Anulação: é a supressão do ato administrativo, com efeito
retroativo, por razões de ilegalidade e ilegitimidade.
 Caducidade: extinção de ato administrativo em consequência de
norma jurídica superveniente, a qual impede a permanência da
situação anteriormente consentida.

Processo e procedimento administrativo


Processo administrativo é a sequência de atividades da Administração,
interligadas entre si, que visa a alcançar determinado efeito final previsto em
lei. Trata-se do modo como a Administração Pública toma suas decisões, seja
por iniciativa de um particular, seja por iniciativa própria.

No Brasil, a Lei que trata das diretrizes gerais do procedimento


administrativo é a Lei n.º 9.784 de 1999, a qual se aplica a todos entes da
Administração Pública direta e indireta federais. Além disso, o STJ tem
reconhecido a aplicação desta lei federal para entes estaduais e municipais
que ainda não aprovaram leis próprias.

A Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999 regula o procedimento


administrativo no âmbito da Administração pública Federal.

O procedimento administrativo, como espécie do gênero processo de


direito, é um conjunto de atos administrativos, sucessivos e concatenados,
praticados pela Administração Pública com o objetivo de satisfazer
determinadas finalidades de interesse público. Suas disposições têm
aplicabilidade obrigatória apenas sobre a Administração Pública direta e
indireta, incluindo os 3 poderes da união, restando os demais entes da
federação como corolário fora de sua abrangência. São órgãos todas as
unidades de atuação desprovidas de personalidade jurídica, integrantes de
estrutura organizacional da Administração Pública direta e indireta. Quando
direta pertencem à estrutura do Estado, caso pertençam a Administração
indireta encontra-se dentro das estruturas das autarquias, associações
públicas, empresas públicas e sociedade de economia mista. Entidades são
todas as unidades personalizadas precisamente por serem pessoas jurídicas,
como as autarquias, associações públicas, fundações públicas, empresas
públicas, sociedades de economia mista e, evidentemente, o próprio Estado.
As entidades são sujeitos de direitos e obrigações diferentemente dos órgãos.

Licitação
A licitação é um processo administrativo que visa assegurar
igualdade de condições a todos que queiram realizar um contrato com
o Poder Público. A Licitação é disciplinada por lei (Lei 8666 de 1993).
Esta estabelece critérios objetivos de seleção das propostas de
contratação mais vantajosas para o interesse público.

O procedimento licitatório deve observar os seguintes princípios:

 Moralidade: comportamento escorreito, liso e honesto da


Administração.
 Impessoalidade: proibição de qualquer critério subjetivo,
tratamento diferenciado ou preferência, durante o processo
licitatório para que não seja frustrado o caráter competitivo
desta.
 Legalidade: disciplina a licitação como uma atividade
vinculada, ou seja, prevista pela lei, não havendo subjetividade
do administrador.
 Probidade: estrita obediência às pautas de moralidade,
incluindo não só a correção defensiva dos interesses de quem a
promove, bem como as exigências de lealdade e boa-fé no
trato com os licitantes.
 Publicidade: transparência dos atos da Administração Pública.
 Julgamento objetivo: vedação da utilização de qualquer
critério ou fator sigiloso, subjetivo, secreto ou reservado no
julgamento das propostas que possa elidir a igualdade entre os
licitantes. Artigo 44, da Lei 8666/93.
 Vinculação ao Instrumento Convocatório: respeito às
regras estabelecidas no edital ou na carta-convite – artigo 41,
Lei 8666/93
 Sigilo das propostas: é um pressuposto de igualdade entre os
licitantes. O conteúdo das propostas não é público, nem
acessível até o momento previsto para sua abertura, para que
nenhum concorrente se encontre em situação vantajosa em
relação aos demais.
 Competitividade: o procedimento de licitação deve buscar o
melhor serviço pelo menor preço.

As licitações possuem seis modalidades: Concorrência, tomada de


preços, convite, concurso, leilão e pregão.

A Concorrência exige requisitos de habilitação (exigidos no edital),


na fase inicial, comprovados documentalmente. Esta modalidade
ocorre quando se trata de concessão de direito real de uso, de obras
ou serviços públicos – de engenharia ou não -, na compra e venda de
imóveis (bens públicos), licitações internacionais. A Lei 8666/93 em
seu art. 23 define os limites de valores para esta modalidade: Acima
de R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais) para obras e
serviços de engenharia; e acima de R$ 650.000,00 (seiscentos e
cinqüenta mil reais) para compras e serviços de outras naturezas.

A Tomada de preços é a espécie que necessita de um certificado do


registro cadastral (CRC), ou seja, necessita comprovar os requisitos
para participar da licitação até o terceiro dia anterior ao término do
período de proposta.

O Convite não requer publicação de edital. Trata-se de uma


contratação mais célere. Os interessados sejam cadastrados ou não,
são escolhidos e convidados em número mínimo de três licitantes. Os
demais interessados que não forem convidados, poderão comparecer
e demonstrar interesse com vinte e quatro horas de antecedência à
apresentação das propostas.

No Concurso, ocorrerá a escolha de trabalho científico, artístico, ou


técnico com prêmio ou remuneração aos vencedores, conforme o
edital publicado na imprensa oficial com antecedência mínima de
quarenta e cinco dias. A escolha do vencedor será feita por uma
comissão julgadora especializada na área.

A modalidade de licitação denominada Leilão não se confunde com o


leilão mencionado no Código de Processo Civil. Esta espécie licitatória
versa sobre a venda de bens inservíveis para a Administração
Pública, de mercadorias legalmente apreendidas, de bens penhorados
(dados em penhor – direito real constituído ao bem) e de imóveis
adquiridos pela Administração por dação em pagamento ou por
medida judicial.

O Pregão foi instituído pela lei 10520/02, e versa sobre a aquisição


de bens e serviços comuns (serviços cujos padrões de desempenho e
qualidade possam ser objetivamente definidos pelo edital).

Contrato administrativo
Contrato administrativo é o tipo de contrato assinado entre a administração
pública (governoa Federal, Estadual e Municipal) e uma empresa privada para
a realização de obras, prestação de serviços ou fornecimentos de materiais,
alimentos ou mão de obra, por exemplo.
Para isso, a escolha da empresa privada que prestará tais serviços públicos ocorre
geralmente por meio de licitação. De acordo com a Lei 8.666/1993, os contratos
administrativos devem ser claros e precisos quanto à execução, direitos, obrigações
e responsabilidade de ambas as partes. Quanto os serviços forem contratos sem
licitação, devem ser respeitados os termos do acordo.

Quais os tipos de contrato administrativo?


1. Contrato de obra pública: quando o poder público contrata uma empresa para
realizar serviços de construção, reforma ou ampliação de bem público, como uma
praça, museu, hospital ou escola, por exemplo.
2. Contrato de fornecimento: esse é o tipo de contrato firmado quando se faz
necessária a compra de materiais de consumo por parte da administração pública,
como alimentos, móveis ou combustível.
3. Contrato de concessão: trata-se de um contrato no qual o poder público concede
um de seus bens por um determinado tempo. Isso pode ser de maneira gratuita ou
por meio de valores. Durante esse período, a empresa privada será responsável
por administrar o bem (ou empresa). Exemplos são as concessionárias de energia,
de água, empresas de pedágio e alguns aeroportos.
4. Contrato de gestão: é uma espécie de parceria entre o poder público e a empresa
privada, para que sejam cumpridas metas, prazos e cronograma de trabalho em
alguma obra, por exemplo. Tanto o controle como decisões finais continuam sob
responsabilidade da administração pública.
5. Contrato de serviço: ocorre quando são contratos serviços, como, por exemplo,
uma empresa terceirizada para realizar a limpeza em escolas. Além disso, esse
tipo de contrato administrativo também contempla serviços de manutenção,
instalação, conserto, entre outros.
6. Contrato de gerenciamento: é um contrato de gerenciamento de um órgão
público, mas de acordo com um contrato administrativo que segue as normas do
direito público. A empresa privada é considerada uma mediadora, já que o poder
público é quem continua a tomar as decisões finais.

Contratos de gestão
A expressão contrato de gestão, denominação utilizada no Brasil, é,
como dito anteriormente, compromisso institucional firmado entre a
Administração Pública Direta e cada entidade a ela subordinada, incluem-se
nesse rol as autarquias, fundações, empresas públicas e as sociedades de
economia mista, inclusive entidades da própria Administração Direta, bem
como as Organizações Sociais.

Os contratos de gestão têm como pretensão estimular a Gestão por


Objetivos ou Gestão por Resultados, cuja finalidade é servir como eixo central
da Administração Pública de forma a deslocar o controle normativo, entenda-se
jurídico, fiscal, orçamentário e tarifário, para o controle de fins, objetivos e
metas a serem atingidos. Uma vez que uma Administração por Objetivos bem
executada servirá como base para a redução de controles burocráticos e
elevará a eficiência da mesma.

São objetivos[3] do contrato de gestão, enquanto instrumento de


implementação de políticas e de gestão:

 Fortalecer a supervisão e os controles ministeriais sobre os resultados


das políticas públicas sob sua responsabilidade;

 Melhorar o processo de gestão da instituição contratada; e

 Promover o controle social sobre os resultados esperados e dar-lhes


publicidades.

Características

 Os contratos de gestão são compromissos institucionais firmados entre


o Estado, por intermédio de seus órgãos, com agências executivas ou
com as organizações sociais;

 O propósito dos contratos de gestão é contribuir para o atingimento dos


objetivos das políticas públicas, especificando obrigações, metas,
responsabilidades, recursos, mecanismos de avaliação e penalidades;

 Para o Poder Público, os contratos de gestão, funcionam como


instrumentos de supervisão e avaliação de políticas públicas, de forma
descentralizada;

 Já para as organizações sociais contratadas, os contratos de gestão,


possibilitaram uma melhor gestão estratégica, na medida em que tal é
direcionada para a ação organizacional;

 Os contratos de gestão oferecem uma boa base de comparação entre


os desempenhos atual e futuro e entre instituições assemelhadas;

 Tal instrumento de gestão permite uma melhor definição para que se


adote a estratégia de ação necessária para oferecer melhores
condições, da parte contratada, para o atingimento dos objetivos e
metas convencionados; e

 Os contratos de gestão permitem uma nítida avaliação de desempenho,


tanto dos gestores, quanto da organização.
O REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO
Na Constituição da República Federativa do Brasil, podemos encontrar
diversos princípios e normas as quais orientam, regulam e conduzem a
atividade desempenhada pelos agentes públicos, encarregados de velar pela
coisa e pelos serviços públicos.

A expressão regime jurídico da Administração Pública é utilizada


para caracterizar, em um sentido mais amplo, os regimes de direito público e
de direito privado, estes, que se submetem a Administração Pública.

Maria Sylvia Zanella di Pietro (2014, p.61) ensina que “a


expressão regime jurídico administrativo é reservada tão somente para
abranger o conjunto de traços, de conotações, que tipificam o Direito
Administrativo, colocando a Administração Pública numa posição privilegiada,
vertical, na relação jurídico-administrativa. Basicamente, pode-se dizer que o
regime administrativo resume-se a duas palavras
apenas: prerrogativas e sujeições. ”

As “pedras de toque”, expressão utilizada por Celso Antonio Bandeira


de Mello, diz respeito a dois princípios que integram o regime jurídico
administrativo: a) A Supremacia do Interesse Público sobre o particular; b) A
Indisponibilidade do Interesse Público.

A Supremacia do Interesse Público sobre o Particular, estabelece que o


interesse do Estado deve prevalecer em relação ao interesse do particular.
Deve-se existir uma relação de verticalidade, esta que de modo sucinto, é o
que o Estado busca para a garantia do interesse coletivo, ou seja, sempre que
houver necessidade o Estado pode limitar e restringir direitos individuais para a
garantia do interesse coletivo. Esse princípio confere verdadeiros privilégios ao
administrador, que ao fazer uso dessas prerrogativas, faz com que o
administrado se submeta a elas.

Há diversos institutos do Direito Administrativo que são consequências


desse princípio da Supremacia do Interesse Público sobre o particular. Os
institutos podem ser: a) Poder de Polícia (limita a atuação do particular em
nome do interesse público); b) Atributos dos Atos Administrativos (presunção
de legitimidade); c) Intervenção do Estado na propriedade (desapropriação por
interesse público, necessidade pública ou interesse social), d) Cláusulas
exorbitantes nos contratos administrativos (colocam o Estado em posição mais
favorável, extrapolando a ordem do direito privado) dentre outros.

Tópicos do regime jurídico aplicável à Adm pública


Que se vê, na pratica, é que o regime jurídico aplicável às administrações públicas
(direta, indireta, autônoma, delegada) é um regime jurídico híbrido, a mesclar
elementos, institutos e conceitos de direito público e de direito privado, aspectos de
legalidade e de autonomia das vontades.
Nesse passo, a maior ou menor incidência das regras de direito público e de direito
privado (e vice e versa) nas relações travadas pelas administrações públicas
dependerá: (a) da pessoa jurídica (sujeito) que exerce a atividade administrativa, seja
ela pertencente ou não à administração pública; (b) do tipo de atividade
administrativa desenvolvida (regulação, polícia, serviços públicos, atividade
econômica, fomento); (c) do instrumento jurídico utilizado para efetivar a ação
administrativa; (d) da finalidade perseguida pela atividade administrativa; (e) dos
direitos e interesses legitimamente envolvidos nessa persecução.

Forma de organização administrativa


organização de sua Administração, o Estado pode adotar
basicamente as seguintes formas de realização da função
administrativa: “centralização”, “descentralização”,
“concentração” e “desconcentração”.
A função administrativa é realizada de
forma centralizada quando ela é
desempenhada diretamente pela própria entidade estatal
(União, Estados, Distrito Federal e Municípios), por meio de
seus vários órgãos e agentes públicos. Nessa forma de
atuação, temos a Administração Pública direta, que é o
próprio Estado.
A função administrativa, por outro lado, é realizada de
forma descentralizada quando a entidade estatal a exerce,
não diretamente, mas de forma indireta, por meio
de entidades administrativas que cria para esse fim
específico e que integrarão a sua Administração Pública
indireta (são as autarquias, fundações governamentais,
empresas públicas, sociedade de economia mista e consórcios
públicos).
Todavia, na concentração, a função administrativa é exercida
no âmbito interno de cada entidade (política ou
administrativa), por apenas um órgão público, sem
qualquer divisão.
E na desconcentração, a função administrativa é exercida
também no âmbito interno de cada entidade (política ou
administrativa), porém por mais de um órgão público, que
divide competências.
É importante deixar claro que a "descentralização" não se
confunde com a “desconcentração”. Tanto uma quanto outra,
é verdade, são formas de distribuição de competências.
Contudo, na descentralização essa distribuição se
dá externamente, ou seja, de uma entidade para outra,
pressupondo, portanto, duas pessoas jurídicas distintas, a
estatal (entidade política) e a pessoa jurídica por ela criada
(entidade meramente administrativa). Já na desconcentração,
a distribuição de competências ocorre internamente, dentro
da própria entidade com competência para desempenhar a
função, entre os seus próprios órgãos.
A desconcentração cuida-se de uma técnica de administração,
destinada a desafogar o exercício da função administrativa,
haja vista que, podendo uma determinada entidade pública
exercer sua atividade por meio de um único órgão público, ou
seja, “concentradamente”, ela pode, para facilitar o
desempenho dessa atividade, exercê-la por mais de um órgão,
o que o faz “desconcentradamente”. Na desconcentração,
reitere-se, há uma divisão interna de competências ou funções,
no interior do próprio Estado ou das entidades de direito
público que cria.

Controle da administração pública

Para uma descrição sumária do sistema de controle da Administração Pública no


Brasil, basta dizer que a Administração se submete tanto a um controle interno,
quanto a um controle externo.

Compreende-se por controle interno ou poder de autocontrole o dever de a


Administração Pública anular seus próprios atos, quando praticados em
desconformidade com o direito. Cabem nessa categoria os instrumentos
de controle da Administração centralizada sobre autarquias, fundações e
empresas estatais.

O controle externo, por seu turno, corresponde tanto ao controle do Poder


Legislativo sobre a Administração, como ao controle jurisdicional, observando-se
que no Brasil não se adota o sistema de jurisdição administrativa, mas, sim, a
unicidade de jurisdição, inspirada na Constituição norte-americana. Segundo o art.
5º, XXXV, da Constituição Federal Brasileira: “a lei não excluirá da apreciação do
Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.

Os principais mecanismos de controle interno são o recurso administrativo; a


supervisão ministerial; a representação a órgãos internos de correição e os
processos decisórios.

O recurso administrativo é a concretização do direito constitucional de petição, por


meio do recurso, no curso de um processo administrativo ou não, o interessado
pede a revisão do ato praticado pela administração, a revisão da decisão
administrativa.
Chama-se supervisão ministerial o controle de ofício realizado pelos ministérios
sobre entidades da administração descentralizada: autarquias, fundações
governamentais e empresas estatais.

Nos últimos anos, proliferou a criação de órgãos de correição interna, geralmente


chamados controladorias. As controladorias realizam auditorias e controles de
ofício, mas também recebem e processam representações feitas por qualquer
interessado contra funcionários e autoridades públicas.

Como meio de controle prévio e interno da atividade administrativa, a Lei nº


9.784/1999 estabeleceu regras de processo administrativo. Por essa lei, tanto atos
administrativos que afetam o interesse de indivíduos, como atos que afetam
interesses coletivos ou difusos – os atos normativos, por exemplo – devem ser
precedidos de processo decisório. As regras da Lei nº 9.784/1999 estabelecem
hipóteses em que mecanismos como audiências e consultas públicas podem ser
realizados. Os processos decisórios voltam-se a melhorar o modo de produção
das decisões administrativas, tornando-as mais razoáveis, mais motivadas e, por
conseguinte, mais estáveis.

O controle externo realizado pelo Legislativo, por sua vez, tem como principais
instrumentos: (1) as autorizações prévias (como no caso da autorização para a
produção de energia por meio de centrais nucleares); (2) a sustação de
regulamentos editados pela Administração (inclusive por agências reguladoras) por
exorbitarem os poderes que lhes foram delegados por lei; (3) a possibilidade de o
Legislativo convocar ministros para prestar esclarecimentos; (4) as comissões
parlamentares de inquérito, as quais detêm poderes de investigação equiparados
aos das autoridades judiciais; (5) o impeachment, processo por meio do qual se
visa condenar o presidente da república, governadores e prefeitos por crime de
responsabilidade (expediente típico dos países em que vigora o sistema
presidencialista de governo); e, enfim, (6) o controle orçamentário e financeiro que
é realizado pelo Legislativo com o auxílio de outro importante órgão
de controle externo da Administração: o Tribunal de Contas.

Finalmente, temos o amplo controle jurisdicional. O controle se dá, nesse caso, por
meio do ajuizamento de ações perante os distintos órgãos judiciários por aqueles
que a legislação vai considerar legitimados para tanto.

A Constituição Federal regula em termos genéricos boa parte dessas ações, as


quais chamamos de remédios constitucionais, a saber: (1) o mandado de
segurança, voltado a amparar direito líquido e certo da pessoa diretamente
prejudicada contra o excesso ou o desvio de poder das autoridades
administrativas; (2) a ação popular, que pode ser ajuizada por qualquer cidadão
contra ato lesivo ao patrimônio público e que atente contra a legalidade, a
moralidade, o meio ambiente ou o patrimônio histórico, cultural ou artístico; (3) a
ação direta de inconstitucionalidade e a arguição de descumprimento de preceito
fundamental, ações distintas que realizam o controle concentrado de
constitucionalidade e podem ser ajuizadas pelo Presidente da República; pela
Mesa do Senado Federal; pela Mesa da Câmara dos Deputados; pela Mesa de
Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; pelo
Governador de Estado ou do Distrito Federal; pelo Procurador-Geral da República;
pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; partido político com
representação no Congresso Nacional ou confederação sindical ou entidade de
classe de âmbito nacional; (4) o habeas data volta-se a proteger a esfera íntima
dos indivíduos contra: a) usos abusivos de registros de dados pessoais coletados
por meios fraudulentos, desleais ou ilícitos; b) introdução nesses registros de
dados sensíveis (assim chamados os de origem racial, opinião política, filosófica
ou religiosa, filiação partidária e sindical, orientação sexual, etc.); c) conservação
de dados falsos ou com fins diversos dos autorizados em lei; (5) o mandado de
injunção pode ser utilizado sempre que a falta de norma regulamentadora torne
inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas
inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania; e, por fim, o remédio
atualmente mais comum, (6) a ação civil pública de improbidade, voltada a
combater atos administrativos praticados em desconformidade com o direito,
inclusive com os princípios gerais de direito administrativo e que levem ao
enriquecimento ilícito de agentes públicos ou causem lesão ao erário. A ação é
geralmente titulada pelo Ministério Público.

Bens públicos
1. Conceito

Prefere-se a expressão “bens públicos” a “domínio público”. Domínio Público


reflete o exercício do direito de propriedade pelo Estado, sendo o conjunto de
bens móveis e imóveis destinados ao uso direto do Poder Público ou à utilização
direta ou indireta da coletividade, regulamentados pela Administração e
submetidos a regime de direito público.

Segundo Hely Lopes Meirelles, o domínio público, em sentido amplo,


“corresponde ao poder de dominação ou de regulamentação que o Poder
Público exerce sobre os bens de seu patrimônio, do particular ou aos de fruição
geral (res nullius). O domínio eminente é o resultado do poder político, pelo
qual o Poder Público submete à sua vontade todas as coisas de seu território
(manifestação da soberania interna), abrangendo todos os bens e legitimando as
intervenções na propriedade, sujeito, porém, ao regime do direito
administrativo (público), e não ao regime do direito civil (privado)” [1].

De acordo com o Código Civil (artigo 98), bens públicos são aqueles
pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno, quais sejam: União,
Estados, DF, Municípios, Autarquias e Fundações Públicas. Possuem como
características (regime jurídico) a alienabilidade condicionada,
impenhorabilidade, imprescritibilidade e a não-onerabilidade. Todos os demais
são bens particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem.

Quanto aos bens das pessoas jurídicas de direito privado, pertencentes à


Administração Pública Indireta, como o são as sociedades de economia mista e
as empresas públicas, há controvérsia acerca de sua natureza. Hely Lopes
defende tratarem-se de bens públicos, porém com destinação especial, podendo
ser sujeitos a alienação, penhora e oneração. O professor Carvalhinho, por outro
lado, defende tratarem-se de bens particulares, uma vez que o Código Civil só
reconhece como públicos os bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito
público.

2. Classificação de bens públicos


a) quanto à titularidade:

Federais – União (art. 20, CF);


Estaduais – Estados (art. 26, CF);
Distritais – artigo 26, CF (competência estadual);
Municipais – Municípios (previstos em lei orgânica).

b) de acordo com o Código Civil (art. 99):


- Bens de uso comum do povo: são bens do Estado, mas destinados ao uso da
população. Ex.: praias, ruas, praças etc. As regras para o uso desses bens será
determinada na legislação de cada um dos entes proprietários.

- Bens de uso especial: são bens, móveis ou imóveis, que se destinam ao uso pelo
próprio Poder Público para a prestação de serviços. A população os utiliza na
qualidade de usuários daquele serviço. Ex.: hospitais, automóveis públicos,
fórum etc. Assim, compete a cada ente definir os critérios de utilização desses
bens.

- Dominicais: constituem o patrimônio disponível, exercendo o Poder Público os


poderes de proprietário como se particular fosse. São bens desafetados, ou seja,
não possuem destinação pública.

3. Afetação e Desafetação

Com exceção dos bens dominicais, todos os demais bens públicos são
incorporados ao patrimônio público para uma destinação. Essa destinação
especial é chamada de afetação. A retirada dessa destinação, com a inclusão do
bem dentre os chamados dominicais, corresponde à desafetação.

A desafetação pode ser formal ou tácita. Desafetação tácita se dá através de um


de um fato natural ou de um fato administrativo, como, por exemplo, o
abandono de um prédio. Já a desafetação formal consiste na declaração, feita
pelo Poder Público, de que o bem não tem destinação pública. Pode ser feita
através de procedimento administrativo ou pelo Legislativo, sendo muito
comum com automóvel público.

A desafetação é que permite a alienação de bens públicos. Uma desapropriação


somente é possível se ao bem for feita uma destinação, uma afetação pública
que justifique essa intervenção estatal – supremacia do interesse público. Se ao
terreno não for dada essa destinação caberá, inclusive, a retrocessão.

4. Regime Jurídico dos Bens Públicos

Em regra, os bens públicos são inalienáveis. O regime jurídico dos bens públicos
abrange quatro características principais:

1) Alienabilidade condicionada – os bens públicos para serem alienados devem


preencher os seguintes requisitos determinados em lei:

- Prova da desafetação do bem;


- Autorização legislativa específica, em se tratando de bens imóveis, e
procedimento administrativo, quando se tratar de bens móveis;
- Avaliação prévia feita pela Administração Pública;
- Procedimento licitatório. Para os bens imóveis, o procedimento a ser adotado é
a concorrência; para os móveis, o leilão.

A Administração Pública pode, em vez de alienar, atribuir aos particulares o uso


do bem público, sua gestão. Os instrumentos normais são autorização de uso,
permissão de uso, concessão de uso, concessão de direito real de uso e cessão de
uso.

2) Impenhorabilidade – tendo em vista que os bens públicos são impenhoráveis,


o Código de Processo Civil prevê um procedimento especial para execução
contra a Fazenda Pública, que se faz mediante precatórios (art. 100, da CF).

3) Imprescritibilidade – os bens públicos, móveis ou imóveis, não podem ser


adquiridos pelo particular por usucapião, independentemente da categoria a
que pertencem.

4) Não-onerabilidade – é consequência da impenhorabilidade, já que se o bem


não pode ser penhorado, também não pode ser dado em garantia para débitos
da Administração Pública.

5. Uso dos Bens Públicos

Em princípio, os bens públicos são utilizados pela própria Administração ou


pelas Entidades Públicas que os detêm. Porém, a Administração Pública poderá
destinar seus bens ao uso por particulares, desde que isso não implique
satisfação de interesses exclusivamente privados, já que o fim público deve ser
sempre atingido.

Há duas formas de uso de bens públicos:

1) Uso comum: utilização de um bem público pelos membros da coletividade,


sem que haja discriminação entre os usuários, nem consentimento estatal
específico para esse fim. Não são apenas os bens de uso comum do povo que
possibilitam o uso comum, mas também os bens de uso especial, quando
utilizados em conformidade aos fins normais aos quais se destinam.

2) Uso especial: utilização de bens públicos em que o indivíduo se sujeita a


regras específicas e consentimento estatal, ou se submete à incidência da
obrigação de pagar pelo uso. O uso especial pode ser uso especial privativo,
chamado simplesmente de uso privativo, que é o direito de utilização de bens
públicos conferido pela Administração a pessoas determinadas. Pode alcançar
qualquer das três categorias de bens públicos, admitindo as seguintes formas:

a) Autorização de Uso: ato administrativo unilateral, discricionário e precário,


pelo qual a Administração consente que determinado indivíduo utilize bem
público de modo privativo, atendendo primordialmente ao seu próprio
interesse.
b) Permissão de Uso: ato administrativo unilateral, discricionário e precário,
pelo qual a Administração consente que particular se utilize privativamente de
bem público, atendendo, em igual nível, aos interesses público e privado. Tem
caráter intuitu personae e exige licitação, sempre que houver mais de um
interessado.

c) Concessão de Uso: contrato administrativo pelo qual a Administração confere


ao particular o uso privativo de bem público, independentemente do maior ou
menor interesse público da pessoa concedente. Exige licitação. Pode ser onerosa
ou gratuita.

d) Concessão de Direito Real de Uso: contrato administrativo pelo qual o Poder


Público confere ao particular o direito real resolúvel de uso de terreno público
ou sobre o espaço aéreo que o recobre, para os fins que, prévia e
determinantemente, o justificam.

e) Cessão de Uso: contrato administrativo pelo qual a Administração consente o


uso gratuito de bem público por órgãos da mesma pessoa ou de pessoa diversa,
incumbida de desenvolver atividade que, de algum modo, traduza interesse para
a coletividade.

Intervenção do estado na propriedade privada


Segundo José dos Santos Carvalho Filho (2012), pode-se
admitir duas formas básicas de intervenção estatal na
propriedade privada, são elas: a) intervenção restritiva; e b)
intervenção supressiva.

A Intervenção restritiva é aquela na qual o Estado impõe


restrições e condições ao uso da propriedade sem retirá-la de
seu dono. A doutrina tradicionalmente considera modalidade
de intervenção restritiva: a servidão administrativa, a
requisição, a ocupação temporária, as limitações
administrativas e o tombamento.

Já a Intervenção supressiva, ao contrário da restritiva, é aquela


na qual o Estado, valendo-se de sua supremacia sobre os
particulares, transfere coercitivamente a propriedade de um
bem de terceiro para si.

Modalidades de Intervenção
1. Desapropriação
É o procedimento administrativo por meio do qual o Estado
transfere a propriedade privada de um determinado bem para
o poder público, por necessidade ou utilidade pública, ou por
interesse social, mediante o pagamento de indenização prévia,
justa e em dinheiro (CF, art. 5º, XXIV).
2. Confisco
É a perda da propriedade privada para o Estado em razão de
uma punição, nunca há pagamento de indenização.

3. Limitação Administrativa ou Poder de Polícia


São restrições gerais, por meio das quais a administração
pública impõe a proprietários indeterminados obrigações de
fazer ou não fazer, com o objetivo de garantir que a
propriedade atenda a sua função social.

4. Servidão Administrativa
A servidão administrativa é um ônus real público incidente
sobre uma propriedade alheia, autorizando ao poder público a
usar da propriedade para permitir a execução de obras e
serviços de interesse da coletividade.

5. Tombamento
É a modalidade de intervenção na propriedade que visa
proteger o patrimônio histórico, cultural, arqueológico,
artístico, turístico ou paisagístico brasileiro.

6. Requisição
A requisição é a modalidade de intervenção estatal mediante a
qual o Poder Público utiliza propriedade particular, diante de
situação de iminente perigo público, sendo assegurada ao
proprietário indenização ulterior, se houver dano.

7. Ocupação Temporária
É a forma de intervenção do Estado por meio da qual o poder
público utiliza bens particulares em apoio à execução de obras
e serviços públicos. Exemplo: ocupação de um terreno privado
para o depósito de equipamentos destinados à execução de
obra.
Técnica Legislativa
“Técnica Legislativa é o conjunto de procedimentos e normas redacionais específicas,
que visam à elaboração de um texto que terá repercussão no mundo jurídico”.

I – INTRODUÇÃO

A elaboração legislativa exige, acima de tudo, bom senso e responsabilidade, pois as


leis interferem, direta ou indiretamente, na vida das pessoas.
É preciso que tenhamos ciência de que nem todos os problemas podem ser resolvidos
através de lei.
Por outro lado, uma lei mal feita pode surtir o efeito contrário do esperado, trazendo
ainda mais dúvidas à questão que se pretendia esclarecer, e dando margem a
desnecessárias batalhas jurídicas.
Além disso, a lei tem que levar em conta o interesse do conjunto da sociedade, e
nunca privilegiar interesses particulares.
Para que tenha validade e não macule o ordenamento jurídico, a lei deve ser
elaborada com a observância das seguintes normas (no Estado de São Paulo), além
da legislação específica do tema que se pretende tratar:

a) Constituição Federal (arts. 2º, 21, 22, 23, 24, 25, 30, 48, 49, 51, 52, 61, § 1º, 84,
96 e 165)
b) Constituição do Estado de São Paulo (arts. 5º, 20, 24, 47, 69 e 174)
c) Lei Complementar estadual nº. 863, de 29/12/1999, com as alterações da Lei
Complementar estadual nº. 944, de 26/06/2003
d) Regimento Interno da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo (artigo 147
da XIII CRI)

II - ETAPAS DA ELABORAÇÃO LEGISLATIVA

a) Definição da matéria a ser normatizada


b) Verificação da possibilidade jurídica
c) Estudo da matéria, pesquisa da legislação e jurisprudência (verificar SEMPRE se
existe lei pré-existente ou consolidação acerca da matéria)
d) Elaboração de anteprojeto
e) Revisão do anteprojeto
f) Redação final

III - PARTES DAS PROPOSIÇÃO LEGISLATIVA

1. PARTE PRELIMINAR

a) Epígrafe - indica o tipo da proposição: Projeto de lei, Projeto de lei complementar,


Projeto de resolução, Proposta de emenda à Constituição, Projeto de decreto
legislativo (artigo 21 da Constituição do Estado e artigo 145 do Regimento Interno da
ALESP – XIII CRI).

b) Ementa – deve resumir com clareza o conteúdo do ato, para efeito de arquivo e,
principalmente, pesquisa, devendo, caso altere norma em vigor, fazer referência ao
número e ao objeto desta.

c) Fórmula de promulgação – deve indicar a autoridade ou o órgão legiferante (ex: A


Assembléia Legislativa”) e descrever a ordem de execução, traduzida pelas formas
verbais "decreta", "resolve" e "promulga".

Exemplos
A Mesa da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, nos termos do § 3º do
artigo 22 da Constituição do Estado, promulga a seguinte Emenda ao texto
constitucional:
ou
O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO:Faço saber que a Assembléia
Legislativa decreta e eu promulgo a seguinte lei complementar:

2. PARTE NORMATIVA - ORDENAÇÃO DO TEXTO LEGAL

a) Artigo – frase que encerra um comando normativo.


· Tem numeração ordinal até o 9º e cardinal a partir do 10.
· Quando se tratar de um só artigo, deve ser grafado como “Artigo único”.
· Deve conter um único comando normativo, fixado em seu caput
· As exceções ou os complementos devem ser fixadas em suas divisões (parágrafos
e incisos)
· As palavras em língua estrangeira devem ser destacadas (itálico, negrito, aspas)
· Suas frases iniciam-se com letras maiúsculas e terminam com ponto final
b) Parágrafo – é a fórmula de umas das divisões do artigo.
· Deve completar o sentido ou abrir exceções à norma contemplada no caput do
artigo
· É representado com numeração ordinal, após o símbolo §
· Se houver um só parágrafo, será grafado como “Parágrafo único”.
· Pode desdobrar-se em incisos.

c) Inciso – é usado para exprimir enumerações relacionadas ao caput do artigo ou


ao parágrafo.
· É expresso em algarismo romano
· É iniciado com letra minúscula e termina com ponto e vírgula; salvo o último inciso
do artigo, que termina com ponto final
· Pode desdobrar-se em alíneas

d) Alínea – é usada para enumerações relativas ao texto do inciso.


· É grafada em letra minúscula, seguida de parênteses
· Seu texto inicia-se com letra minúscula e termina com ponto e vírgula, com
exceção da última alínea do inciso
· Pode desdobrar-se em item (ex: art. 12 CF)
e) Item – é usado para enumerações relativas ao texto da alínea.
· É grafado por algarismos arábicos, na forma cardinal, seguido de ponto
· O texto do item inicia-se com letra minúscula e termina em ponto e vírgula, com
exceção do último item da alínea (ex: art. 145 da CF)

3. PARTE FINAL

a) Cláusula orçamentária - O art. 25 da Constituição Estadual dita que


nenhum projeto de lei que implique a criação ou o aumento de despesa pública será
sancionado sem que dele conste a indicação dos recursos disponíveis, próprios para
atender aos novos encargos.

b) Cláusula de vigência: “ esta lei entra em vigor na data de sua publicação” ou “...
entra em vigor “x” dias após sua publicação”. Na ausência da cláusula revogatória,
vale a regra da Lei de Introdução ao Código Civil, ou seja, entra em vigor 45 dias após
sua publicação. É errado dizer que a lei “entrará” em vigor.

c) Cláusula revogatória: deve indicar expressamente as leis ou os dispositivos legais


revogados. Em caso de consolidação de leis, utiliza-se a fórmula: "são formalmente
revogados, por consolidação e sem interrupção de sua força normativa...“.

d) Disposições transitórias: possui numeração própria, iniciando-se por artigo 1º, no


final do texto legal.
IV - REGRAS PARA REDAÇÃO DAS NORMAS

· Usar frases impositivas


· construir as orações na ordem direta, evitando adjetivações dispensáveis
· buscar a uniformidade do tempo verbal (preferência tempo presente ou futuro
simples do presente)
· Observar regras de pontuação
· articular a linguagem, técnica ou comum, de modo a ensejar perfeita compreensão
do objetivo da lei
· evitar o emprego de expressão ou palavra que possibilite duplo sentido ao texto
· usar apenas siglas consagradas pelo uso, observado o princípio de que a primeira
referência no texto seja acompanhada de explicitação de seu significado
· grafar por extenso quaisquer referências a números e percentuais, exceto data,
número de lei e nos casos em que houver prejuízo para a compreensão do texto
· indicar, expressamente, o dispositivo objeto de remissão, preterindo o uso das
expressões "anterior", "seguinte" ou equivalentes

V – ALTERAÇÃO DAS LEIS

· Revogação integral – com a reprodução integral em novo texto, quando se tratar de


alteração considerável
· Revogação parcial
· Substituição, no próprio texto, do dispositivo alterado ou acréscimo de dispositivo
novo
· É vedada a renumeração de artigo ou unidade superior ao artigo (capítulo, título,
etc).Deve-se usar o mesmo nº do artigo (ou unidade imediatamente superior), seguido
de letras maiúsculas em ordem alfabéticas (ex.: Artigo 5º-A, Artigo 5º-B, Artigo 5º-C)
· O reordenamento interno das unidades em que se desdobra o artigo é permitido,
devendo ser o artigo assim modificado identificado ao final com as letras (NR)
· É vedado o reaproveitamento do nº de dispositivo revogado, vetado ou declarado
inconstitucional, devendo essa indicação ser mantida junto ao dispositivo da lei
modificada.

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