Você está na página 1de 12

Os Filhos de Deus – O arrependimento de Deus – A origem dos demônios – Os 120 anos

Alexander da Silva Vasconcelos[1]

“Toda a Palavra de Deus é pura; escudo é para os que confiam nele. Nada acrescentes às suas palavras,
para que não te repreenda e sejas achado mentiroso”.[2] Provérbios 30:5,6

“Abre tu os meus olhos, para que veja as maravilhas da tua lei”.[3] Salmo 119:18

Com estes imperativos em mente, vamos analisar a passagem em questão,


especificamente os versículos de um até o doze.

Quando os filhos de Deus tomaram para si as filhas dos homens algo de


muito grave aconteceu. Quem eram eles?

Em todas as outras passagens no Antigo Testamento onde aparece a


expressão “filhos de Deus” sempre se referem aos anjos (Jó 1:6; 2:1; 38:7; Dn 3:25).
Aqui seria diferente? Comecemos pelos esclarecimentos que nos são dados por Judas:

Alguns têm alegado que no v. 7 o pronome demonstrativo “AQUELE”


deveria ser traduzido por “ESTES” como nas demais ocorrências dele no texto grego
(vv. 8,10,12,14,16,19). Mas é isso aquilo que a estrutura textual indica?

Leia o v. 7 com o pronome “ESTES” e depois leia o v.8 e veja se não é


estranho? Se Judas falava dos “homens ímpios” no v. 7 (e não dos anjos), por que o v. 8
começa com a frase “e, contudo, também estes”?

A conjunção “contudo” liga os exemplos dos vv. 5, 6 e 7 com os “homens


ímpios” a que Judas se refere exatamente com a idéia de adversidade, ou seja, apesar
dos exemplos registrados na história bíblica de condenação de hereges, os “homens
ímpios” do v. 4 ainda assim repetem os mesmos pecados. Se eles são mencionados no v.
7, por que Judas usou essa conjunção?

Observemos ainda o uso da partícula de inclusão (ou advérbio, para alguns


gramáticos) “TAMBÉM”. Ela não seria necessária somente se Judas NÃO tivesse
mencionado os “homens ímpios” no v. 7? O uso dela no v. 8 não seria para AGORA
contabilizá-los no grupo dos ímpios anteriormente exemplificados?

Onde encaixar os “semelhantemente adormecidos” do v. 8? Uma vez que já


foram supostamente mencionados no v. 7, seriam os “homens ímpios” do v. 4
semelhantes a eles próprios?

Se Judas tivesse se referido aos “homens ímpios” do v. 4 no v. 7, o v. 8 não


começaria assim: “estes são adormecidos, contaminam sua carne...”?
As respostas a essas perguntas não nos levariam a seguinte conclusão: os
habitantes de Sodoma e Gomorra se entregaram à FORNICAÇÃO da mesma forma que
os ANJOS (de Gn 6), recebendo ambos, mais os ingratos incrédulos do Egito, o juízo
Divino; exemplos esses ignorados pelos homens ímpios combatidos por Judas?
CERTAMENTE QUE SIM!

Em segundo lugar, em Mateus 22:30 (e Mc 12:34,35 e Lc 20:34-36) Jesus


afirma que nós (os salvos), na ressurreição, seremos “como os anjos de Deus NO CÉU”.
Quando estão aqui na Terra, entre nós, como são os anjos de Deus?

Em Gênesis 18 e 19 (especificamente 18:1-3,16,22; 19:1) nos carvalhais de


Manre, eis três HOMENS em pé junto a ele. Abraão pôs tudo diante deles... e comeram.
Então viraram aqueles [dois] homens os rostos dali, e foram-se para Sodoma; mas
Abraão ficou ainda em pé diante da face do SENHOR. De repente... vieram os dois
ANJOS a Sodoma à tarde!

Em Juízes 13 Manoá levantou-se... e foi àquele homem, e disse-lhe: és tu


aquele homem que falou a esta mulher? E disse: eu sou... deixa que te detenhamos, e te
preparemos um cabrito... Ainda que me detenhas, não comerei de teu pão; e se fizeres
holocausto o oferecerás ao SENHOR. Porque não sabia Manoá que era o anjo do
SENHOR [motivo pelo qual não aceitou o convite para cear].[4]

Por fim, os anjos são referidos nas Escrituras por nomes próprios do gênero
masculino: “o HOMEM Gabriel” em Dn 9:21 e “o ANJO Gabriel” em Lc 1:26; Dn
10:13,21; 12:1; Jd 9; Ap 12:7 (relacionados ao arcanjo Miguel). [5]

O que podemos concluir? Entre nós, os anjos têm forma e aparência


humanas, de homens (até em visões: Ez 8 e 9; Dn 10 e 12). E sem asas![6]

Diante do acima exposto, voltemos ao texto em questão.

No versículo 4 temos uma frase muito intrigante: “e também depois”.


Depreende-se que havia alguns homens (filhos de homens com mulheres) pré-
diluvianos de grande estatura; este fato, apesar de existente, pela própria estrutura do
versículo (parte a)[7], não é corriqueiro, mas exceções, assim como em casos específicos
após o dilúvio (Nm 13:32,33; Dt 3)[8] e alguns raríssimos casos hodiernos.[9]

Contudo, a parte b[10] do versículo evidencia que as relações entre mulheres e


anjos produziam com grande freqüência, como característico dessa relação, gigantes.
Além disso, somente do fruto dessa relação, é que Moisés nos diz que surgiram “os
valentes que houve na antiguidade, os homens de fama”.[11]

O que de tão grave resultou dessa relação para que Deus decretasse o fim de
toda carne (v. 13)?

A exposição do irmão Wilbur Pickering é elucidativa: “...sabemos através da


medicina moderna que cada ser humano leva nas veias o sangue do pai, não da mãe, de
sorte que a raça mista mencionada em Gênesis 6:4 levava sangue demoníaco, não
humano nas veias; e sabemos através do Texto Sagrado que o espírito humano é
transmitido pelo esperma do homem, de sorte que aquela raça mista havia perdido o
espírito humano, e presumivelmente a ‘imagem de Deus’ também. Se Satanás tivesse
conseguido corromper todo o mundo, teria sido impossível o nascimento do Messias, o
segundo Adão, e Gênesis 3:15 não poderia se cumprir”.[12]

Graças à presença do óvulo nessa relação, não se pode falar em perda total
da imagem de Deus[13] motivo pelo qual tal descendência ainda é referida como
‘homens’ (vv. 4,5,6,7).[14]

Por que então Deus não destruiu tudo e começou do ‘zero’? Porque
empenhara Sua palavra a Adão, fazendo-lhe uma promessa. Por que fizera tal
promessa? “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito,
para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”!

Logo, o emprego do verbo ‘arrepender-se’ em Gn 6:6 deve ser entendido


como tristeza profunda e não como mudança de planos, senão Deus destruiria a todos
sobre a face da terra sem preservar a ninguém; mas foi exatamente o que Ele não fez. E
não o fez por amor![15]

O que Deus fez para resolver esse enorme problema? Por que tal incidente
não se repetiu após o dilúvio? Como Deus o frustrou?[16]

O desvelo de tal resposta se inicia com os relatos de Pedro e Judas:

“Porque, se Deus não perdoou aos anjos que pecaram, mas, havendo-os
lançado no inferno (ταρταρώσας - Tártaro),[17] os entregou às cadeias da escuridão,
ficando reservados para o juízo”. II Pedro 2:4

‘Tártaro’, única vez que aparece no NT, mesmo assim de fácil compreensão
para os leitores da epístola,[18] uma vez que Pedro não precisou mais do que ‘cadeias da
escuridão’, que traz a noção de limitação de movimentos, de detenção; não de reclusão,
de clausura. Quem diz? Judas: “E aos anjos que não guardaram o seu principado, mas
deixaram a sua própria habitação, reservou na escuridão e em prisões eternas até ao
juízo daquele grande dia”. Judas 5

Veja que Judas nos dá a noção de cadeias (de Pedro) como ‘reserva’ e limita
a noção de ‘prisões’. ‘Eternas’ tem o sentido figurado uma vez que vem acompanhada
da preposição ‘até’, cujo conteúdo significativo fundamental é de aproximação de um
limite com insistência nele[19], e eternidade é algo sem limites![20]

A peregrinação ao grego conduzirá quem for às mesmas conclusões:

“HAVENDO-OS LANÇADO NO INFERNO – O abismo, um lugar de


miséria desconhecida. OS ENTREGOU – Como criminosos condenados são entregues a
uma custódia segura, como se presos com correntes mais fortes em uma masmorra de
trevas, ficando reservados para o julgamento do grande dia. Embora ainda aquelas
correntes não prejudiquem que freqüentemente andem para cima e para baixo
procurando quem possam tragar”.[21]

“OS ENTREGOU ÀS CADEIAS DA ESCURIDÃO – ‘Onde a escuridão


repousa está como correntes sobre eles.’ (Rob. Lex.). O sentido parece ser, que eles
estão confinados na escura casa-de-prisão, como se por correntes. Não devemos supor
que os espíritos estão literalmente amarrados, mas que era comum amarrar ou algemar
os presos que estavam nas masmorras, e a representação aqui é tomada a partir desse
fato. Esta representação que a massa dos anjos caídos estão confinados no Tártaro, ou
no inferno, não é incompatível com as representações que ocorrem em outros lugares
[da Bíblia], que é permitido a seu líder vagar pela Terra, e que mesmo [a] muitos dos
espíritos é permitido tentar os homens. Pode ser ainda verdade também que as massas
são confinadas dentro dos limites da sua escura habitação; e pode até mesmo ser
verdade também que Satanás e aqueles que têm permissão para vagar pela Terra estão
em cativeiro, e estão autorizados a vagar somente dentro de certos limites, e que eles
estão assim restringidos para que sejam levados a julgamento no último dia”.[22]

“[II Pedro 2:]4. SE – A apódose (ou membro conseqüente) da sentença não é


expressa, mas está virtualmente contida em 2 Pedro 2:9. Se Deus no passado tem
punido os ímpios e salvo o Seu povo, podemos ter certeza de que Ele também fará isto
nos nossos dias (compare com o final de 2 Pedro 2:3); ANJOS – as mais elevadas das
criaturas inteligentes (compare com esse versículo, Judas 1:6), mas não foram poupados
quando pecaram; INFERNO – grego, “Tártaro”. Esta palavra grega não ocorre em
nenhum outro lugar no Novo Testamento ou na Septuaginta.[23] É equivalente ao grego
habitual, “Geena”. Não é inconsistente com 1 Pedro 5:8, pois, embora o destino final
desses anjos caídos seja o inferno, todavia, por um tempo, eles são autorizados a
perambular fora dele nas “trevas deste mundo”; ESCRAVOS DO TÁRTARO
(chamado de “o abismo”, ou “profundezas”, Lucas 8:31; “o poço sem fundo”,
Apocalipse 9:11) também pode vir sobre a terra. Passo a passo eles são dados para o
Tártaro, até que finalmente eles serão totalmente presos a ele; ENTREGOU – tal como
o juiz entrega o prisioneiro condenado para os agente penitenciários (Apocalipse 20:2);
ÀS CADEIAS – (Judas 1:6). Os manuscritos mais antigos têm a leitura, “covis”, como
traduz Alford: o grego, no entanto, pode, em grego helenístico, significar “correntes”,
como Judas expressa. Eles estão “reservados” à “negrura das trevas” [Judas 1:13] do
inferno como sentença final, condenação final, danação final, e, enquanto isto não se
completa, sua exclusão da luz do céu já foi iniciada. Assim, os ímpios foram
considerados como praticamente “na prisão” (embora ainda estejam largamente sobre a
terra) desde o momento em que a sentença de Deus saiu, embora não tenha sido
executada até cento e vinte anos depois”.[24]

Até mesmo entre aquele que negam serem anjos os “filhos de Deus” de Gn.
6, tal noção é admitida (mesmo que de forma um tanto confusa!):

“O julgamento que se seguiu ao pecado dos anjos inclui o seu lançamento


no inferno (tartaros; II Pe 2:4), acorrentados na escuridão, e o seu juízo no dia futuro. O
uso da palavra ‘cadeias’ (ARC) dá a impressão de que seus movimentos são restritos, e
portanto não podem ser os demônios sobre os quais lemos nos Evangelhos, mas a
essência do trecho é que estão restritos aos abismos de trevas, portanto por onde
vagueiam nunca podem escapar da escuridão. As palavras ‘lançado no inferno’
(tartaroo) é um particípio no tempo aoristo e poderia ser traduzido ‘os tatarizando’,
portanto é a sua condição e não o seu lugar de habitação que é mencionada. Antes da
sua queda, estes anjos eram luzes brilhantes, mas agora são poderes das trevas”.[25]

Os anjos caídos foram reservados na escuridão, impedidos de terem


forma e aparência humanas. Categoricamente falando, esta é a origem dos ‘anjos’
do Diabo, dos demônios, aqueles que precisam de corpos de humanos para operar
entre nós de forma concreta![26]

Filosoficamente falando, existe um tipo de ‘cadeias’ para cada tipo de


liberdade que cada ser humano deveria gozar: para a liberdade de locomoção existem os
presídios; para a liberdade de expressão impõem-se a censura[27] (muito comum durante
o regime militar brasileiro por meio de leis (AI-5) e organismos (DOPS, SNI)); para a
liberdade de pensamento, de consciência, de reflexão tem-se valido da alienação,
ocupação das pessoas com dados que não informam, mas consomem muito de seu
tempo, entretendo a mente e amortecendo a consciência, de certa forma brutalizando sua
audiência. É do senso douto que dos três tipos de ‘cadeias’ o pior é exatamente aquela
que não é material, palpável, visível... Logo, não deveria causar estranheza tal
afirmativa... Ela é possível, provável, viável, bíblica.

Mais recentemente, a Ciência, serva das Escrituras, por meio de seu


ramo Tecnologia, veio corroborar nossa análise, no que muito nos regozija! Vide a
Reportagem de 1ª Página do Jornal “O Imparcial” de 8 de janeiro de 2018,
intitulada “Longe delas – Tornozeleiras eletrônicas usadas no combate à violência
contra a mulher”!![28]
Harmonizando-se com as passagens supra, e também denunciando o
‘arquiteto’ desse grande ataque, vejamos Apocalipse 12.

Nos versículos 1 e 2 fala-se de “um grande sinal no céu: uma mulher...”


facilmente identificada com a nação de Israel.[29] Existe uma personagem que interage
com tal ‘mulher’ e é na descrição desta que João faz revelações impressionantes.

“E viu-se outro sinal no céu: e eis que era um grande dragão vermelho...”.
Até aqui ele está sozinho. Mas de repente, “a sua cauda levou após si a terça parte das
estrelas do céu”.[30] Onde foi que tais ‘estrelas’ foram parar? O dragão “lançou-as sobre
a terra”!? Depois, nos versículos 7 a 9, ele não está mais sozinho, mas com ‘os seus
anjos”![31] Coincidência ou harmonia? Confusão ou precisão? Particular interpretação
ou clara exposição?[32]

Tal análise traz certeza ao parecer de um teólogo quando dizia a respeito dos
demônios que “ao que parece, espíritos destituídos de seus corpos (Mt 12:43-45; Mc
5:10-13)”,[33] ‘fechando o círculo’ da necessidade da possessão demoníaca, pois sem
corpos, os demônios não podem atuar em nosso mundo ‘como se fossem humanos’,
necessitando de corpos 100% humanos.[34]

Entende-se também o porquê da não repetição dessas relações até o presente


momento. Mesmo numa eventual relação sexual em que um dos parceiros esteja
endemoninhado, os corpos ainda são de humanos; e numa eventual gravidez, o fruto
também é 100% humano.[35]

Os filhos de Deus... o arrependimento de Deus... a origem dos demônios.


Falta-nos abordar os 120 anos: qual o seu significado? Quais suas implicações?

Há geralmente duas respostas. Uma delas afirma que daquele momento em


diante os homens passariam a ter como expectativa de vida ao nascerem 120 anos (no
máximo). Para onde a evidência (bíblica) aponta?

Depois do dilúvio, Noé viveu 350 anos. Mas ele fora favorecido pela
estrutura do mundo daquela época. Tudo bem! É verdade! Mas também é verdadeira a
lista de Gênesis 11! E mais: Abraão, que nasceu 350 anos após o dilúvio, viveu 175
anos. Sara viveu 127. Jacó viveu 147... José é o primeiro a ser mencionado na Bíblia a
morrer de velhice com menos de 120 anos, isto já se passando 713 anos após o
dilúvio.[36]

Já nos tempos de Moisés... se observava que “os dias de nossa vida chegam a
setenta anos, e se alguns, pela robustez, chegam a oitenta anos, o orgulho deles é
canseira e enfado, pois cedo se corta e vamos voando” (Sl 90:10), assinalando não haver
relação entre Gn 6:6 com expectativa de vida. O próprio destaque dado aos ‘longevos’
120 anos de Moisés, em que “seus olhos nunca se escureceram, nem perdeu o seu
vigor” (Dt 34:7), demonstram que tal situação (de 120 anos) já não era corriqueira
nestes tempos, mas exceção.

Logo, a derrocada da expectativa de vida após o dilúvio ocorreu de forma


gradativa como conseqüência das drásticas mudanças geomorfoclimáticas provocadas
pelo catastrófico juízo Divino[37], nada relacionada com Gn 6:3.

A outra resposta fala que esses 120 anos representariam o tempo decorrente
entre o chamado de Noé (Gn 6:13,14) e sua entrada na arca (Gn 7:6,13,16). Mas há algo
nessa resposta que ‘incomoda’: quando lhe nascem seus filhos, ele tinha 500 anos (Gn
5:32) e quando entra na arca, tinha 600. Onde encaixar os 20 anos da diferença?
Inicialmente a resposta está na correta compreensão do caráter missionário de Deus.
Vejamos:

Tanto em João 1:1-18 quanto em Romanos 11:11-36 vemos que Deus tem
adotado até agora 3 métodos para lidar com os humanos:

1º) Romanos 11:30a: revelação (comunicação) direta com todos os humanos


(ler Jó 21:7,13-15; 22:15-17; Gn 3:8,9; 12:1; 18:1-33; 20:1-18; 31:24; Ex 3:1-22;
20:1,18-21; Nm 22:8-13...). Este método vigorou de Adão até o pleno estabelecimento
do Estado de Israel. De Abrão até Moisés percebe-se o período de transição entre o 1º e
o 2º método;[38]

2º) Romanos 11:30b-31a: Deus lida diretamente só com Israel, usando-o


como nação sacerdotal a favor dos povos (Gn 12:1-3). Através das maravilhas que Deus
operava em Israel e a seu favor, Ele atraía os outros povos (gentios) à Si (Ex 7:1-5;
9:18-21; Js 2:1-24; 9:8-11,21-27...). Este método vigorou desde a saída do Egito (Ex
4:22) até a descida do Espírito Santo para habitar permanentemente nos crentes em
Jesus (At 2);

3º) Romanos 11:31b: Deus lida diretamente com ambos (judeus e gentios)
através de pessoas regeneradas e habitadas pelo Espírito Santo, proclamando o
Evangelho (Rm 1:1-17). O método agora é nós, os crentes, irmos através do poder do
Espírito Santo a toda criatura (At 1:8; Mc 16:15; Mt 28:18-20). A compreensão do
papel de Jesus como missionário medianeiro entre o 2º e o 3º método está explicitada
em Rm 15:1-13.[39]

Será que Deus já havia se pronunciado antes do chamado de Noé a respeito


da destruição do mundo pré-diluviano? Se sim, o chamado de Noé vai estar vinculado a
essas revelações e não ao nascimento de seus filhos. Tendo em mente o 1º método, em
vigor nos tempos de Noé, o comentário de Arthur W. Pink nos auxilia:

“É certo que os homens crentes daquela época deveriam ter bom testemunho
que revelasse sua fé no Salvador. A conduta desses homens deveria ser bem marcante.
Arthur Pink, em seu livro ‘Glenings in Genesis’ comenta a história de Enoque e
Matusalém, Gn 5:21-27, sugerindo que, tirando todas as pontuações do versículo 22,
pois era a escrita no original, verifica-se que Deus fora ao encontro de Enoque quando
lhe nascera Matusalém e desse encontro se originou o nome de seu filho, cujo
significado é: quando morrer virá ou Matusalém. Judas, na sua epístola, fala de Enoque
como proclamador da segunda vinda do Messias à geração que viveu antes do dilúvio.
‘Andou Enoque com Deus’ daquele momento em diante e foi arrebatado antes do
dilúvio (v. 24).[40] O mesmo também faz um cálculo matemático com respeito à
validade da revelação de Deus: o v. 25 diz que Matusalém gerou Lameque quando tinha
a idade de 187 anos. No v. 28, afirma que com 182 anos Lameque gerou Noé. Logo,
quando nasceu Noé, Matusalém tinha 369 anos, que é a soma de 187 mais 182. O
dilúvio começou quando Noé atingiu a idade de 600 anos (Gn 7:11), portanto,
Matusalém deveria ter alcançado a idade de 969 anos e morrido, ou seja, a soma de 369
mais 600 anos. Nesse ano da vida de Noé, Deus cumprira a revelação que dera a
Enoque, fazendo de Matusalém uma testemunha viva de que, antes do juízo vir, seria
muito longânime e misericordioso. Através de Matusalém poderiam controlar a época
do juízo. Quando morrer virá... o dilúvio. Por outro lado, quem foi em busca de Noé?
Hb 11:4-7 diz literalmente que Noé foi movido a construir uma arca por temor à
revelação recebida. Em Gn 6:9-22 é Deus (Elohim), o Deus de compromisso,
contemplando a criação. ‘Assim fez Noé; conforme a tudo o que Deus (Elohim) lhe
mandou, assim o fez’, por compromisso. Deus ama a raça e tem um compromisso com
toda a criação, preservando-a [Hb 1:1-6; II Pe 3:7-12]. Aqui não é Deus convidando
Noé para crer n’Ele e sim Deus se revelando a um que já era crente. Aparentemente Noé
não se mostra surpreso com aquele modo de Deus se revelar a ele, sendo tal atividade
normal entre eles [comparar com Is 6]. No cap. 7:1 é o Senhor (Jeová) que fala a Noé;
aqui é Jeová julgando e é Jeová salvando também.[41]

De fato, nem precisamos tirar a pontuação vocálica do v. 22 (pois toda ela


em todo o Texto Massorético é original)[42] nem precisamos ir ao hebraico.

Verifiquemos um recorte da palestra “Deus conhece o futuro de antemão” de


Norbert Lieth, proferida na Conferência Bíblica da Chamada da Meia-Noite em
2001:[43]

“Genealogia de Sete (Gn 5)

Lembremos que: ‘... eu sou Deus, e não há outro Deus... que anuncio o fim
desde o princípio’ (Isaías 46).

DESCENDÊNCIA DE SETE: SIGNIFCADO DOS NOMES:


Adão Homem/humanidade
Sete Estabelecido/determinado
Enos Mortal/homem pecaminoso
Cainã Medo/chorar/preocupação
Maalalel O Deus abençoado
Jerede Descerá
Enoque Ensinar/consagrado a Deus
Matusalém Sua morte traz
Lameque O homem desesperado/violente
Noé Descanso/paz/consolo

Fazendo uma frase com os significados dos nomes acima:

‘Ao homem está estabelecido da morte ter medo, mas o Deus abençoado
descerá para ensinar. Sua morte traz ao desesperado consolo (ou paz)’.

Esta é a mensagem do Evangelho completo, nos 10 nomes da descendência


de Sete!”[44]

(Uau! Nas palavras de Chuck Missler: “você nunca me convencerá que um


grupo de rabinos judeus tramou a ocultação do Evangelho do Messias em uma
genealogia de sua venerável Tora!)

Somando-se um ao outro e comparando com Jó 21:13-15 e 22:15-17, vemos


que desde de Enoque Deus decretara o fim da raça pré-diluviana[45]. Isto explica
também as palavras de Lameque que “este [Noé] nos consolará acerca de nossas obras e
do trabalho de nossas mãos, por causa da terra que o SENHOR amaldiçoou” (Gn 5:29,
grifo nosso).

Amaldiçoou com que? “Com dor comerás dela todos os dias da tua vida.
Espinhos, e cardos também, te produzirá...”? Não. Porque se fosse à maldição de Gn
3:17-19 que Lameque estivesse se referindo, então Deus falhou, pois até hoje ela existe.
Logo, concluímos que Lameque se refere à profecia revelada a Enoque, sendo o
‘consolo de nossa obras’ o cumprimento de tudo que os crentes daquela época haviam
pregado.

Enfim, a conclusão é que o chamado de Noé está intimamente


relacionado com as revelações de Deus aos seus servos pré-diluvianos. Logo, Deus
chamou Noé quando ele tinha 480 anos.[46]

Como assim?! E Gn 6:18? No chamado de Noé, Deus lhe revelou que sua
família, que ele ainda haveria de constituir futuramente (vinte anos depois falando de
filhos, não do casamento necessariamente),[47] é que entrariam na arca, sendo que tal
revelação coincide cronologicamente com a queda dos anjos (que foi a ‘gota d’água’ na
depravação do mundo pré-diluviano), bem caracterizado pelo emprego do advérbio
‘então’ tanto no v. 3 quanto no v. 13, caracterizando-os como concomitantes, não
havendo relação com o nascimento dos filhos de Noé.[48]

Recapitulando...

A expressão ‘filhos de Deus’ (de Gênesis 6 e de todo o VT) faz referência


aos anjos; quando estão entre nós, eles têm forma humana: corpo e aparência.

Os anjos de Gn 6, sob influência satânica, fornicaram com as filhas dos


homens. Desta relação surgiram ‘os valentes que houve na antiguidade, os homens de
fama’.

Contudo, a proliferação desta super-raça corromperia,


‘tricotomicamente’falando, todo o mundo, tornando impossível o nascimento do
Messias, comprometendo o cumprimento de Gn 3:15.

O dilúvio destruiu esta super-raça e os anjos (caídos) foram entregues às


cadeias da escuridão, mudada sua condição para demônios.[49]

Deus preservou Noé, chamando-o e capacitando-o, não só a construir a Arca,


mas também a pregar que o consolo somente é achado em Jeová, sendo talvez o
ministério mais longo de que se tem notícia (120 anos), valendo-lhe os títulos de
‘herdeiro da justiça’ e ‘pregoeiro da justiça’.

Da revelação a Enoque até Noé, 369 anos; do nascimento de Noé até seu
chamado, 480 anos; do chamado até o dilúvio, 120 anos. Total, 969 anos. Isto se chama:
paciência Divina! (Romanos 9:19-24). Deus só não destruiu tudo porque empenhara sua
palavra a Adão. E por amor; motivo pelo qual arrependimento dever ser entendido como
profunda tristeza.

Contudo, exerceu Seu justo juízo, menos contra seus servos; pois a favor
deles, Deus só exerce correção, nunca juízo.[50]

Finalizando...

Nunca devemos afirmar coisas do tipo: “o todo [de Gn 1] é poético e não se


presta a exatas correlações científicas”[51]; ou “... porém, se o vocábulo hebraico [mïn =
espécie] tem sentido obscuro...”[52]; ou “o Gênesis não é um livro-texto para aprender
Ciência ou História”.[53] De Gênesis ou de qualquer um dos 66 livros das Sagradas
Escrituras.
A Bíblia é inspirada por Deus, por conseqüência, infalível, inerrante,
preservada e suficiente; sendo autoridade em tudo aquilo em que se pronuncia, seja
teologia, biologia, física, química, matemática, história, geografia[54]... especialmente
em TUDO “o que diz respeito à vida e piedade, pelo conhecimento dAquele que nos
chamou pela sua glória e virtude”.[55]

Devemos então proceder assim: “ó Deus, tem misericórdia de mim,


pecador”! “Escuta-me, pois, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu me ensinarás”. “Faze-
me saber os teus caminhos, SENHOR; ensina-me as tuas veredas”. “Abre tu os meus
olhos, para que veja as maravilhas da tua lei”.[56] Então os nossos ouvidos: “ouvirão a
palavra do que está por detrás de ti, dizendo: este é o caminho, andai nele, sem vos
desviardes nem para a direita nem para a esquerda”!!!

Em segundo lugar, é muito importante analisar Gênesis 5-7, pois,


escatologicamente falando, Jesus afirma que “como aconteceu nos dias de Noé,
assim será também nos dias do Filho do homem” (Lc 17:24-30; Mt 24:37-39). E a
repetição de tais uniões abomináveis em tal contexto futuro é mais do que provável
(Dn 2:39-45; Ap 12:7-12; 18:1-5).[57]

De valor eterno é a compreensão de que o que ocorreu no Éden foi uma


queda letal, não um tropeço (Rm 3:23; 5:12; I Co 15:21,22). E essa é que é a nossa
herança (Gn 5:3,5; Rm 3:9-18)! E para não nos enveredarmos pelo mesmo caminho
dos homens de Gn 6, e desta vez sermos destruídos pelo fogo (II Pe 3), precisamos
reconhecer que não buscamos o bem e que não há nada de bom em nós (Is 64:6), que a
salvação vem somente do Senhor Jesus (At 4:10-12), que somente pela graça somos
salvos (Ef 2:8,9), que precisamos recebê-Lo e confessá-Lo (Jo 1:12,13; Rm 10:1-13).
Daí em diante, devemos viver para Cristo, ‘o qual [nos] amou, e se entregou a si mesmo
por [nós]! Até a hora em que vamos ‘encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos
sempre com o Senhor’, ‘que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o
seu corpo glorioso’... ‘e reinaremos sobre a terra’... ‘depois virá o fim, quando tiver
entregado o reino a Deus, ao Pai, e quando houver aniquilado todo o império, e toda a
potestade e força. Porque convém que [Cristo] reine até que haja posto a todos os
inimigos debaixo de seus pés’.

Então ore assim:

“Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as


minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias. Lava-me
completamente da minha iniqüidade, purifica-me do meu pecado. Porque eu conheço as
minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim. Contra ti, contra ti
somente pequei, e fiz o que é mal à tua vista, para que sejas justificado quando falares, e
puro quando julgares. Eis que em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu
minha mãe... Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais branco do
que a neve... Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus... [que] morreu por nossos
pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia,
segundo as Escrituras, o qual é sobre todos, Deus bendito eternamente. Amém”. (Sl
51:1-7; At 8:37; I Co 15:3,4 Rm 9:5)

Você também pode gostar