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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

DÓRIS FIRMINO RABELO

CONFIGURAÇÃO E FUNCIONAMENTO DE FAMÍLIAS COM


IDOSOS QUE APRESENTAM DIFERENTES CONDIÇÕES
PSICOLÓGICAS E DE SAÚDE

Campinas
2014
iii
iv
v
RABELO, D. F. (2014). Configuração e funcionamento de famílias com idosos que
apresentam diferentes condições psicológicas e de saúde. Campinas: Tese de Doutorado em
Educação, Faculdade de Educação da UNICAMP.

RESUMO

Este estudo verificou a percepção de idosos quanto à configuração familiar (tipo de arranjo
familiar, chefia familiar e contribuição dos idosos para o sustento da família) e ao
funcionamento de suas respectivas famílias (satisfação com os relacionamentos familiares e
clima familiar), considerando-se o gênero, a idade, as condições psicológicas indicadas por
depressão e ansiedade e as condições de saúde indicadas por desempenho funcional, por
número de doenças, sinais e sintomas e pelo envolvimento social. Foram realizados quatro
estudos descritivos para analisar: 1) as relações entre a configuração familiar, o gênero, a
idade e as condições psicológicas e de saúde dos idosos; 2) as relações entre a satisfação com
os relacionamentos familiares, o gênero, a idade, as condições psicológicas e de saúde dos
idosos e a configuração familiar; 3) as relações entre o clima familiar, o gênero, a idade, as
condições de saúde física e psicológica e a configuração familiar; 4) as relações entre as
características dos idosos em termos de idade, gênero, condições de saúde física e psicológica,
a configuração familiar e o funcionamento familiar. A amostra, composta por 134 idosos, foi
representativa dos cadastrados no Programa de Saúde da Família de uma Unidade Básica de
Saúde do município de Santo Antônio de Jesus – BA. Foram incluídos aqueles que pontuaram
acima da nota de corte no Mini-Exame do Estado Mental – MEEM. A coleta dos dados foi
feita nos domicílios dos idosos utilizando-se os instrumentos: Questionário de informações
sociodemográficas, sobre o envolvimento social e sobre a configuração familiar; Questionário
de doenças e de sinais e sintomas autorrelatados; INDEX de Independência nas Atividades de
Vida Diária; Escala de desempenho de atividades instrumentais de vida diária; Escala de
Depressão Geriátrica – GDS; Inventário de ansiedade de Beck – BAI; APGAR de Família;
Inventário do clima familiar – ICF. Foram feitas análises de conglomerados mediante o
método da partição, considerando a formação de três agrupamentos. Os resultados sugerem
que a percepção do idoso quanto ao clima familiar positivo, seu lugar na hierarquia familiar e
o significado desta, a função que ocupam na manutenção financeira da família e suas
condições de saúde física e psicológica desempenham papel importante na explicação do
funcionamento da família com e de idosos. O funcionamento familiar está mais relacionado às
condições de saúde física e psicológica dos idosos do que a arranjos específicos de moradia, à
idade ou ao gênero, embora estas variáveis ajudem a modelar os efeitos dessas interações.

Palavras-Chave: Relações familiares; Idosos–saúde mental; Saúde do idoso; Características


da família; Saúde da família.

vii
RABELO, D.F. (2014). Configuration and functioning of families with elderly members who
have different psychological and health conditions. Campinas: Doctoral Thesis in Education,
Faculty of Education at the State University of Campinas, Brazil.

ABSTRACT

The aim of this study was verify the elderly perception of the family configuration (household
arrangement, family leadership and financial contribution) and the functioning of their
respective families (family relationships satisfaction and family climate), considering gender,
age, psychological health (depression and anxiety) and physical health (functional
performance, number of diseases, signs and symptoms and social involvement). Four
descriptive studies was conducted to analyze: 1) relations between the family configuration,
gender, age and psychological and physical health; 2) the relationships between family
relationships satisfaction, gender, age, psychological and health conditions and the family
configuration; 3) relations between the family climate, gender, age, the elderly physical and
psychological health conditions and family configuration; 4) the relationships between the
characteristics of elderly people in terms of age, gender, physical and psychological health
conditions, family configuration and family functioning.The 134 older people sample, was
representative of registered in the Health Family Program in a basic health Unit in Santo
Antônio de Jesus-Bahia. We included those who scored above the cutoff score on the Mini-
Mental State Examination – MMSE. The data collection was made in the elderly households
using the tools: demographic information, survey on social involvement and about the family
configuration; Diseases survey of self-reported signs and symptoms; INDEX of Independence
in activities of daily living; Performance range of instrumental activities of daily living;
Geriatric depression scale-GDS; Beck anxiety inventory-BAI; Family APGAR; Family
Climate Inventory – ICF. Conglomerates analysis by partition method, considering the
formation of three groups, was performed. The results suggest that the elderly perception of
positive family climate, his place in the family hierarchy and the significance of this role,
financial maintenance of the family and their physical and psychological health conditions
play an important role in the explanation of the elderly family functioning. The family
functioning is more related to the elderly physical and psychological health conditions than
the specific housing arrangements, age or gender, although these variables help to model the
effects of these interactions.

Keywords: Family Relations; Elderly-mental health; Health of the elderly; Family


Characteristics; Family Health.

ix
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................................. 01

1. A família numa perspectiva sistêmica................................................................... 06

2. A velhice como último estágio do ciclo de vida


familiar................................................................................................................... 13

3. As configurações familiares e as transferências intergeracionais de


recursos.................................................................................................................. 22

4. A complexidade emocional dos relacionamentos intergeracionais e a saúde


mental dos idosos................................................................................................... 29

5. Conclusões............................................................................................................. 44

UM ESTUDO SOBRE A CONFIGURAÇÃO E O FUNCIONAMENTO DE


FAMÍLIAS COM IDOSOS QUE APRESENTAM DIFERENTES CONDIÇÕES
PSICOLÓGICAS E DE SAÚDE: O CONTEXTO, OBJETIVOS E MÉTODO.

1. O Contexto............................................................................................................. 46

2. Objetivos ............................................................................................................... 47

3. Método................................................................................................................... 48
.
4. Análise de dados.................................................................................................... 54

5. Plano de apresentação dos resultados ................................................................... 54

ESTUDO 1......................................................................................................................... 56

ESTUDO 2......................................................................................................................... 77

ESTUDO 3......................................................................................................................... 96

ESTUDO 4......................................................................................................................... 119

CONCLUSÕES................................................................................................................. 140

REFERÊNCIAS................................................................................................................. 148

ANEXOS........................................................................................................................... 161

xi
AGRADECIMENTOS

À minha Orientadora Dra. Anita Liberalesso Neri, sou muitíssimo grata pela maravilhosa
experiência profissional e pessoal ao longo de vários anos e durante o doutorado, pela maneira
carinhosa de compartilhar seu conhecimento, e por ter creditado confiança no meu trabalho.

Ao meu esposo, Edmar Henrique Dairell Davi pelo seu amor, companheirismo, compreensão
e incentivo ao meu crescimento.

À toda minha família que sempre torceu pelo meu sucesso, em especial minha mãe, Claudia
Barbosa Firmino Rabelo pelo apoio e dedicação que sempre me ofertou e à minha avó Normy
Barbosa Firmino pelo exemplo de vida.

Aos idosos participantes desta pesquisa que generosamente nos receberam em suas casas.

Aos docentes do Programa de Pós-graduação em Educação e em Gerontologia por terem


contribuído com meu desenvolvimento profissional.

Aos meus auxiliares de pesquisa, discentes da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.

Ao estatístico Helymar da Costa Machado pelo tratamento dos dados.

A todos aqueles que direta ou indiretamente colaboraram para o enriquecimento da minha


formação pessoal e profissional.

xiii
LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Tipologia da solidariedade intergeracional (Bengtson; Roberts, 1991)....... 37

Quadro 2: Tipos de abuso e maus tratos a idosos.......................................................... 41

Quadro 3: Variáveis e instrumentos. Estudo Configuração e funcionamento de


famílias com idosos que apresentam diferentes condições psicológicas e de saúde.
Idosos, Santo Antônio de Jesus-BA, 2011...................................................................... 52

Quadro 4: Síntese dos resultados de quatro estudos descritivos e respectivas


configurações de multivariação entre as variáveis idade, gênero, condições de saúde
física e psicológica, configuração e funcionamento familiar. Santo Antônio de Jesus,
Bahia, Brasil. Idosos, 2011.............................................................................................. 143

xv
LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Distribuição das variáveis sociodemográficas da amostra do Estudo


Configuração e funcionamento de famílias com idosos que apresentam diferentes
condições psicológicas e de saúde. Idosos, Santo Antônio de Jesus-BA,
2011............................................................................................................................... 50

ESTUDO 1

Tabela 1: Tamanho dos clusters conforme análise das variáveis idade, gênero,
configuração familiar e condições de saúde física e psicológica. Santo Antônio de
Jesus, Bahia, Brasil. Idosos, 2011................................................................................. 64

Tabela 2. Resultados da análise de conglomerados conforme as variáveis idade,


gênero, configuração familiar e condições de saúde física e psicológica. Santo Antônio
de Jesus, Bahia, Brasil. Idosos, 2011................................................................................ 65

Tabela 3. Frequência de idosos nos três grupos obtidos na análise multivariada em que
entraram as variáveis idade, gênero, configuração familiar e condições de saúde. Santo
Antônio de Jesus, Bahia, Brasil. Idosos, 2011................................................................. 66

ESTUDO 2

Tabela 1: Tamanho dos clusters conforme análise das variáveis idade, gênero,
configuração familiar, condições de saúde física e psicológica e satisfação com os
relacionamentos familiares. Santo Antônio de Jesus, Bahia, Brasil. Idosos, 2011........... 85

Tabela 2. Resultados da análise de conglomerados conforme as variáveis idade,


gênero, condições de saúde física e psicológica, configuração familiar e satisfação com
os relacionamentos familiares. Santo Antônio de Jesus, Bahia, Brasil. Idosos,
2011................................................................................................................................ 86

Tabela 3. Frequência de idosos nos três grupos obtidos na análise multivariada em que
entraram as variáveis idade, gênero, configuração familiar, condições de saúde física e
psicológica, e satisfação com os relacionamentos familiares. Santo Antônio de Jesus,
Bahia, Brasil. Idosos, 2011............................................................................................... 87

ESTUDO 3

Tabela 1: Tamanho dos clusters conforme análise das variáveis idade, gênero,
configuração familiar, condições de saúde física e psicológica e clima familiar. Santo
Antônio de Jesus, Bahia, Brasil. Idosos, 2011................................................................ 104

xvii
Tabela 2. Resultados da análise de conglomerados conforme as variáveis idade,
gênero, condições de saúde física e psicológica, configuração e clima familiar. Santo
Antônio de Jesus, Bahia, Brasil. Idosos, 2011................................................................... 105

Tabela 3. Frequência de idosos nos três grupos obtidos na análise multivariada em que
entraram as variáveis idade, gênero, configuração familiar, condições de saúde física e
psicológica e clima familiar. Santo Antônio de Jesus, Bahia, Brasil. Idosos,
2011................................................................................................................................ 106

ESTUDO 4

Tabela 1: Tamanho dos clusters conforme análise das variáveis idade, gênero,
condições de saúde física e psicológica, configuração e funcionamento familiar. Santo
Antônio de Jesus, Bahia, Brasil. Idosos, 2011................................................................... 127

Tabela 2. Resultados da análise de conglomerados conforme as variáveis idade,


gênero, condições de saúde física e psicológica, configuração e funcionamento
familiar. Santo Antônio de Jesus, Bahia, Brasil. Idosos, 2011.......................................... 128

Tabela 3. Frequência de idosos nos três grupos obtidos na análise multivariada em que
entraram as variáveis idade, gênero, condições de saúde física e psicológica,
configuração e funcionamento familiar. Santo Antônio de Jesus, Bahia, Brasil. Idosos,
2011................................................................................................................................... 130

xviii
LISTA DE ANEXOS

1. Questionário de informações sociodemográficas, configuração familiar e


envolvimento social......................................................................................................... 162

2. Questionário de doenças e de sinais e sintomas auto-relatados (NERI;


GUARIENTO, 2011)...................................................................................................... 163

3. INDEX de Independência nas Atividades de Vida Diária de Katz (KATZ et al,


1963; LINO et al, 2008)................................................................................................. 164

4. Escala de Lawton (LAWTON; BRODY, 1969; BRITO; NUNES; YUASO,


2007)............................................................................................................................... 165

5. Mini-Exame do Estado Mental (FOLSTEIN, FOLSTEIN, MCHUGH, 1975;


BERTOLUCCI et. al., 1994; BRUCKI et. al., 2003)..................................................... 166

6. Escala de Depressão Geriátrica – GDS (YESAVAGE et al, 1983; ALMEIDA;


ALMEIDA, 1999)........................................................................................................... 167

7. APGAR de Família (SMILKSTEIN, 1978; BRASIL, 2006)...................................... 168

8. Inventário do clima familiar – ICF (TEODORO, 2006)............................................. 169

9. Aprovação no comitê de ética em pesquisa da faculdade Maria Milza – FAMAM,


Cruz das Almas – Bahia (protocolo no. 034/2011)........................................................ 170

xix
INTRODUÇÃO

A família vem ganhando novos significados e novas referências na sociedade brasileira


contemporânea, em decorrência de importantes mudanças sociais que marcaram as últimas
décadas, entre elas a urbanização, a diminuição das taxas de natalidade, o aumento da
longevidade, a profissionalização da mulher, o aumento no número de divórcios e de
recasamentos e a diminuição dos espaços domésticos. As famílias tornaram-se menores e com
menor número de membros em cada geração, passou a ser cada vez mais provável contar com
membros idosos e muito idosos entre seus componentes e diminuiu a disponibilidade de
pessoas para exercer o cuidado aos mais velhos dependentes. Vem aumentando a taxa de
chefia familiar exercida por idosos, principalmente em contextos de pobreza, onde eles são
solicitados não só a garantir o próprio sustento, como também a oferecer apoio financeiro
direto aos filhos e aos netos e a desempenhar papeis produtivos no âmbito da família, por
exemplo, cuidar de crianças, da casa e de outros parentes (CAMARANO et al, 2004).

A instituição de valores mais igualitários e de uma cultura mais individualista modificou as


relações entre as gerações, antes alicerçadas em um modelo hierárquico, baseado na
autoridade, que valorizava a tradição e a continuidade dos costumes e que colocava as
demandas familiares acima das demandas individuais (BORGES; ROCHA-COUTINHO,
2008). Progressivamente assimiladas pelo cotidiano familiar, as novas expressões da igualdade
e da liberdade originaram formas mais democráticas de negociação de tarefas e
responsabilidades. Como consequência, a convivência familiar alcançou grande dinamismo e
vem sendo constantemente desafiada pela variação em limites, aspirações, metas e motivações
para conviver (PETRINI, 2005). Emergiram novas formas de relacionamento entre as
gerações. Diversificaram-se as funções do idoso na família e a maneira pela qual as trocas
sociais entre os membros são construídas. A heterogeneidade de posições que podem ser
ocupadas pelo idoso no âmbito familiar vem exigindo grande flexibilidade na realização de
trocas instrumentais e afetivas (DEBERT; SIMÕES, 2011). No entanto, ainda não ocorreu a
completa substituição de um modelo mais tradicional por outro mais contemporâneo de
família. Coexistem ideais da família hierárquica e da família igualitária, como resposta à
necessidade de compatibilizar a individualidade com a reciprocidade entre os membros.
1
Assim, não existe hoje um único ou dominante modelo de família. O que se observa é uma
combinação de estratégias e uma pluralidade de padrões de convivência e de relações
familiares (BORGES; ROCHA-COUTINHO, 2008).

Apesar das alterações que a família sofreu nas últimas décadas, e mesmo considerando o
aumento da demanda por apoio formal, ela ainda é o sistema de suporte mais presente na vida
dos idosos. Permanece comprometida com seus membros mais velhos, em razão da vigência
de valores culturais fundamentais à sociabilidade, entre eles a solidariedade entre as gerações.
Os apoios familiares concretizam-se no intercâmbio de recursos materiais, instrumentais,
afetivos e informativos recebidos e oferecidos pelos indivíduos. A convivência proporciona
condições para a realização e a satisfação das necessidades dos membros, incluindo as de
saúde. As experiências e as informações acumuladas pela família influenciam a prevenção, o
tratamento e o controle de doenças bem como as formas de enfrentamento do adoecimento.
Conviver de forma saudável com um familiar idoso e ampará-lo quando necessário,
especialmente quando existem comprometimentos da saúde, são elementos importantes para
uma dinâmica familiar positiva e para a saúde psicossocial de seus membros (LOPES;
CALDERONI, 2007).

As relações familiares têm sido apontadas em vários estudos como elementos importantes para
o envelhecimento bem-sucedido e para a qualidade de vida na velhice. Por exemplo, Moraes e
Souza (2005) verificaram que as relações familiares, as amizades, o bem-estar, a saúde
percebida, a capacidade funcional e o suporte psicossocial associam-se significativa e
independentemente com envelhecimento bem-sucedido. Idosos entrevistados por Vilela,
Carvalho e Araújo (2006) relataram que necessidades afetivas não satisfeitas são ocasião para
um envelhecimento não saudável. Os idosos esperam que essas necessidades sejam satisfeitas
principalmente pelos familiares, dos quais esperam maior atenção, reconhecimento, aceitação
e paciência. Qualidade de vida significa, para os idosos, poder manter fortalecidos os vínculos
com a família, contribuir para a educação dos descendentes, auxiliar vizinhos e amigos de
maneira a solidificar a rede de suporte social e vivenciar uma dinâmica familiar positiva
(TORRES et al, 2009; VECCHIA et al, 2005). Octogenários apontam os problemas familiares
como um importante determinante de baixa qualidade de vida (XAVIER et al, 2003). Segundo

2
dados de Ferretti, Nierotka e Silva (2011) a família é essencial para que o idoso se perceba
saudável e tem papel central nas redes de apoio que o envolvem.

Enquanto um sistema interdependente, a família tem funcionamento dinâmico e está sujeita às


transformações exigidas ao longo do curso de vida. Os idosos enfrentam questões como as
perdas características do envelhecimento, as consequências de problemas de saúde, as
mudanças em papéis sociais mais amplos e as mudanças nas relações intergeracionais.
Demandas relativas aos eventos de vida precisam ser resolvidas e negociadas dentro de uma
estrutura interpessoal que envolve papéis, regras, funções e necessidades específicas. No
cumprimento dessas exigências a família busca o equilíbrio do sistema familiar. Para tanto,
deve estar preparada para a convivência intergeracional e para a resolução dos conflitos que
podem emergir (CARTER; MCGOLDRICK, 1995). As características e a qualidade relacional
das famílias que contam com um ou mais idosos entre seus membros refletem-se na estrutura
domiciliar e na percepção do funcionamento familiar.

A configuração familiar envolve aspectos mais objetivos da organização familiar, tais como o
arranjo de moradia atual e a posição do idoso dentro da família, determinada pelo desempenho
do papel de chefe, que se associa à contribuição financeira. A estrutura domiciliar é um
indicativo das necessidades de várias gerações, das transferências intergeracionais de recursos
e das condições socioeconômicas e de saúde dos membros (CAMARANO et al, 2004). A
percepção do funcionamento familiar refere-se ao universo subjetivo. Dele fazem parte as
concepções sobre a coesão, o apoio, o conflito e a hierarquia familiar (TEODORO;
ALLGAYER; LAND, 2009). Essas concepções influenciam fortemente as maneiras como as
famílias distribuem recursos e enfrentam momentos de transição, conflitos e adversidades. O
grau de satisfação dos membros da família com os relacionamentos familiares é um indicador
importante do funcionamento familiar porque reflete não só aspectos objetivos das relações
familiares, como também os valores, as expectativas e as crenças internalizadas pelos seus
membros (SILVERSTEIN, 2006).

A idade dos membros da família e o fato de ela conter membros de uma, duas ou três gerações
acarretam diferenças importantes em sua dinâmica, porque cada tipo de família tem

3
necessidades e obrigações diferentes. O gênero, a idade e a condição econômica dos idosos
que integram uma família na qual convivem seus filhos, netos e bisnetos criam uma dinâmica
própria que envolve as funções, os papéis e os relacionamentos familiares. O grau de
vulnerabilidade física e psíquica dos idosos, espelhada em limitações funcionais físicas pode
afetar o equilíbrio da estrutura familiar. A extensão do desequilíbrio pode colocar em risco a
capacidade assistencial da família. Idosos com depressão e ansiedade, condições psicológicas
indicadoras de desregulação emocional, têm forte impacto sobre o suporte social oferecido
pela família e sobre a percepção que seus membros têm sobre seu funcionamento. Quanto
maior a funcionalidade familiar, melhor será a resposta da família às demandas da velhice e
melhor será a qualidade de vida dos idosos. A funcionalidade familiar e a qualidade
emocional dos vínculos familiares dependem da maneira como o sistema foi organizado ao
longo do tempo, dos padrões que foram estabelecidos e das formas de ajustamento vigentes na
família (FALCÃO; BAPTISTA, 2010; ANDRADE; MARTINS, 2011).

Pelo fato de ser fonte primária de suporte e o principal recurso potencializador da saúde física
e mental dos idosos que nela convive, a família ocupa lugar de destaque na agenda social e no
debate político, histórico, sociológico, psicológico e de saúde das sociedades. Compreender as
variações correntes na configuração e no funcionamento da família brasileira que têm idosos
entre seus membros e que vivem em contextos de pobreza, é um desafio que se abre para a
pesquisa voltada ao atendimento das necessidades da população. Os dados resultantes poderão
interessar aos gestores de políticas públicas e aos profissionais de saúde. Do ponto de vista
teórico, é importante compreender a configuração e o funcionamento familiar porque a
qualidade das relações familiares e os padrões de interação podem ser relacionados com o
desenvolvimento e com o curso de diversas condições de saúde física e psicológica dos idosos.

As famílias com membros idosos enfrentam vários desafios emocionais, financeiros, legais e
instrumentais. A percepção sobre o grau em que as necessidades dos idosos devem ser
satisfeitas relaciona-se com a provisão de suporte e com um funcionamento familiar saudável.
A literatura brasileira sobre o assunto é escassa e atualmente está limitada principalmente à
perspectiva do cuidador familiar. Conhecer o ambiente familiar a partir da perspectiva dos
idosos pode contribuir para o desenvolvimento de estratégias de intervenção mais eficazes de

4
promoção da saúde, contribuir para o esclarecimento do impacto de diferentes condições
físicas e psicológicas sobre a família e fundamentar programas direcionados a comunidades
menos favorecidas.

Os sistemas público e privado de saúde são constantemente desafiados a dar respostas eficazes
às necessidades dos idosos, adequando-se aos valores e às praticas culturais e estabelecendo
relações de parceira e corresponsabilidade entre familiares e profissionais. Dados de pesquisa
sobre a configuração e o funcionamento de famílias com idosos podem ser úteis a essas
agências, em processos de intervenção familiar que visem ao estabelecimento e à manutenção
de estruturas familiares mais coesas e responsivas às necessidades de todos os seus membros.
Podem ser úteis em situações de treinamento de profissionais para atuar junto à população
idosa e na promoção de boas relações entre a família e a comunidade.

Foram realizados quatro estudos sobre a configuração e o funcionamento familiar,


considerando-se o gênero, a idade, as condições psicológicas indicadas por depressão e
ansiedade e as condições de saúde indicadas por desempenho funcional, por número de
doenças, sinais e sintomas e pelo envolvimento social, fundamentado no paradigma sistêmico
sobre a família. A configuração foi indicada pelo tipo de arranjo familiar, chefia familiar e
contribuição dos idosos para o sustento da família e o funcionamento, pela satisfação dos
idosos com a dinâmica dos relacionamentos familiares e pelo o clima familiar.

No texto que segue será apresentada a fundamentação teórica, começando pela concepção
sistêmica de família. Nesta visão, a interconectividade é o principal fundamento do
funcionamento da família e busca compreender como o sistema familiar se adapta e se
reorganiza frente a estressores. No tópico seguinte, a família será apresentada sob o ponto de
vista de sua historicidade, em termos de ciclos caracterizados pela interação dos membros
individuais e do sistema familiar com pressões externas e internas que geram exigências para a
adaptação. Ênfase será dada à última fase da vida das famílias, qual seja, a que coincide com a
presença de idosos entre seus membros. No terceiro tópico será considerada a questão das
transferências intergeracionais de recursos nas diferentes configurações familiares, em
interação com características pessoais dos membros, com eventos situacionais, com a situação

5
econômica e a saúde, a funcionalidade e a afetividade dos residentes. O quarto item será
dedicado ao tratamento das relações emocionais que se estabelecem entre as gerações e do seu
impacto sobre a saúde mental dos idosos. O argumento central é que a regulação dos
relacionamentos sociais no âmbito da família está associada com a habilidade de seus
membros de regular e manejar as emoções. Esta habilidade é crucial à harmonia das relações
familiares e intergeracionais nos sistemas familiares.

1. A FAMÍLIA NUMA PERSPECTIVA SISTÊMICA

A literatura sobre a estrutura, o desenvolvimento e o funcionamento da família, assim como


modelos de avaliação e intervenção familiar é bem diversificada. Porém, uma concepção
comumente compartilhada é a de que a família é um sistema. O paradigma sistêmico sobre a
família assume como principal fundamento o da interconectividade existente no grupo
familiar, a qual preside o constante processo de realimentação dos comportamentos dos
membros. Admite que, ao operar como um sistema, a família exerce efeitos sobre os
indivíduos e seu curso de vida, assim como cada membro individual afeta o funcionamento do
grupo como um todo e seu desenvolvimento (PIERCY, 2010).

A concepção de família como um sistema foi desenvolvida por volta dos anos 1950.
Estenderam-se para o sistema familiar os conceitos teóricos desenvolvidos pela teoria geral
dos sistemas e pela cibernética, que tinham a pretensão transdisciplinar de desenvolver
princípios aplicáveis a qualquer sistema, fossem eles biológicos ou sociais. Essa perspectiva
representou um salto para o entendimento da família, ao passar do pensamento linear (causa-
efeito) para o circular (padrão interativo) e ao deslocar o foco do indivíduo (intrapsíquico)
para o das relações (interrelacional). A dinâmica familiar passou a ser vista como o produto de
um sistema, com propriedades que emergem do seu funcionamento sistêmico (SANCHEZ,
2012).

O pensamento sistêmico fornece um quadro conceitual para as tentativas de descrever as


interações complexas que se dão ao longo do tempo entre os membros da família. Os

6
relacionamentos e a natureza das interações entre os elementos do sistema são vistos como tão
importantes quanto os próprios elementos. O desenvolvimento do estresse é visto dentro de
uma matriz contextual, de contornos culturais e sociais. Como premissas, essa perspectiva
inclui a totalidade e a não-somatividade, a homeostase, a morfogênese, os processos de
feedback e a equifinalidade (GRANDESSO, 2000). Segundo os princípios da totalidade e da
não somatividade, o todo é maior ou diferente da soma das partes, isto é, o próprio sistema
familiar tem qualidades que excedem as dos membros individuais. Todo sistema se comporta
de maneira que a mudança em uma parte do sistema provoca mudança em outras subpartes e
no sistema como um todo. A homeostase é um processo de autorregulação que mantém a
estabilidade do sistema, preservando o seu funcionamento. A morfogênese diz respeito à
espontaneidade dos sistemas vivos, sua abertura ao meio e sua capacidade de absorver
estímulos e mudar sua organização. Os processos de feedback do sistema familiar podem
aumentar a estabilidade ou provocar mudança. A equifinalidade é uma característica
representada pela noção de que diferentes condições iniciais podem gerar o mesmo resultado,
bem como diferentes resultados podem ser gerados pela mesma condição inicial, num
processo regido pelos princípios da multicausalidade e da multidetermiação.

Os sistemas complexos têm capacidade de auto-organização, por meio das ações de seus
elementos, que funcionam de forma interdependente. Por meio da retroinformação, a família
regula entradas e saídas para que o sistema como um todo possa se adaptar. Trata-se de um
processo circular em que a ação de um membro da família tem consequências que
influenciarão suas próprias ações futuras e as ações do próprio sistema. A retroalimentação
negativa funciona para manter a homeostase enquanto que os feedbacks positivos respondem
pela morfogênese. A adaptabilidade do sistema diz respeito ao equilíbrio advindo da tendência
à homeostase e da capacidade de transformação (NICHOLS; SCHWARTZ, 2007).

Um evento estressante cria a necessidade de reorganização do sistema e de adaptação. Quando


os padrões habituais são perturbados, por exemplo, por um evento de vida, o sistema tenta
restabelecê-los e recuperar a homeostase, ou seja, a família afetada tentará ajustar-se à nova
situação utilizando os padrões existentes. Quando os padrões habituais não funcionam mais, a
família passa por um período de desequilíbrio desencadeado pela necessidade de modificar os

7
padrões existentes, até alcançar o equilíbrio novamente. Mudanças são presididas por períodos
de desequilíbrio, que podem funcionar como oportunidades para o crescimento ou para o
movimento em busca de oportunidades. No entanto, se os recursos são insuficientes ou se o
sistema não se envolver na ativação de processos de solução de problemas ou de geração de
novos recursos, a adaptação e o consequente crescimento podem não ocorrer (WALSH, 2011).

Não há uma elaboração teórica homogênea sobre a família dentro do pensamento sistêmico, o
que reflete a complexidade do fenômeno. Para a escola estrutural sistêmica, cujo expoente é
Salvador Minuchin (1982), três componentes são essenciais para a compreensão da família:
estrutura, subsistemas e fronteiras. O sistema familiar tem uma estrutura, isto é, uma forma de
funcionamento dada por um conjunto invisível de regras que organizam a interação familiar. A
estrutura da família está relacionada com seu funcionamento. Em um sistema complexo de
elementos em mútua interação, cada membro faz parte de um subsistema e de um sistema, em
uma relação de complementaridade e mutualidade. Os subsistemas familiares são
caracterizados pelo grau de reciprocidade entre os membros, pelo equilíbrio do poder e pela
qualidade afetiva dos relacionamentos. Respondem a demandas específicas associadas ao
desempenho das funções conjugais, parentais, filiais e fraternas, que se diferenciam por meio
de fronteiras ou barreiras invisíveis que regulam o contato e os limites de interação com os
outros, definem os espaços subjetivos de cada membro e delimitam seus papéis. Essas
fronteiras protegem a autonomia e a diferenciação do sistema e dos subsistemas, e assim,
ajudam os membros da família a lidar com a proximidade e com a hierarquia (AUN,
VASCONCELLOS; COELHO, 2007).

A permeabilidade das fronteiras permite as trocas materiais, de informação e emocionais entre


as pessoas. Segundo Minuchin (1982), as famílias podem apresentar fronteiras rígidas (são
restritivas, resultam em isolamento e distanciamento e limitam a afeição e a ajuda), nítidas
(sinalizam a diferenciação e permitem contato e troca) ou difusas (revelam intromissão e
emaranhamento emocional e fornecem apoio mútuo às custas da independência e da
autonomia dos membros). Podendo ir de um extremo emaranhamento até o desligamento, as
fronteiras não representam uma característica definitiva, mas um processo pelos quais os
padrões relacionais do sistema passam ao longo da vida familiar, enquanto exercem suas

8
funções. Quando os subsistemas têm fronteiras claras e definidas, mas dinâmicas e flexíveis,
as associações relacionais são mais adaptáveis às mudanças no ciclo de vida familiar e às
mudanças sociais externas.

Na estrutura familiar há sempre algum tipo de hierarquia e os níveis de poder se diferenciam


segundo o subsistema a qual pertencem. Cada membro familiar participa de vários
subsistemas. A liderança é necessária, e geralmente é assumida pelo subsistema parental,
evidenciando que os pais funcionam em níveis de autoridade e poder diferentes dos filhos. A
hierarquia envolve a compreensão de como é estabelecida a relação de poder entre pessoas,
subsistemas ou gerações e é fundamental para a diferenciação de papéis na família. O padrão
de autoridade precisa ser flexível e adaptável ao processo de desenvolvimento dos membros
da família, por exemplo, à medida que os filhos se diferenciam enquanto indivíduos e se
tornam autônomos ou quando os pais tornam-se dependentes por motivo de doença física ou
mental (COELHO, 2007).

A família compreendida como funcional não é aquela caracterizada pela ausência de


problemas, mas sim a que permite o desenvolvimento adequado, saudável ou adaptado de
todos os seus membros. A interação entre os membros da família é mediada pela
comunicação, pelas trocas de informação e de suporte, pelo desenvolvimento e pela
transmissão de significados. O sistema familiar estabelece regras, hierarquia e limites quanto à
abertura em relação a quem e a como alguém pode participar do sistema. Busca acordos entre
os membros e desenvolve redes para o enfrentamento de uma variedade de situações
estressantes (WAGNER; TRONCO; ARMANI, 2011). O sistema familiar se organiza como
uma estrutura de relações com exigências funcionais para que todos os seus membros
assumam papéis e desempenhem tarefas, interajam, resolvam problemas, respondam uns aos
outros e se comuniquem. O funcionamento familiar é harmônico quando os papeis e as tarefas
são negociadas considerando-se as necessidades circunstanciais e a disponibilidade dos
membros, e quando o grupo familiar é capaz de responder a solicitações, conflitos e situações
críticas, ao mesmo tempo em que cumpre suas funções essenciais. Um funcionamento
insatisfatório reflete-se nos membros individuais e na família como um todo e o
desenvolvimento.

9
Os estudos sobre família têm apontado a coesão e a hierarquia como duas dimensões básicas à
descrição da organização familiar (MINUCHIN, 1982). A coesão é definida como vínculo,
proximidade emocional ou sentimento de estar conectado ao grupo. É uma propriedade dos
subsistemas e dos sistemas familiares com maior bem-estar psicossocial. A hierarquia é
definida como uma estrutura de poder que envolve influência, controle (criação de regras e
imposição de limites), poder decisório e adaptabilidade. Quando auxilia a manter o equilíbrio
no sistema familiar, o exercício de poder é adaptativo. Assim, o funcionamento familiar
saudável está relacionado ao relacionamento igualitário do casal (equilíbrio de poder) e à
superioridade dos pais sobre os filhos. Famílias estressadas têm maior probabilidade de
demonstrar inversão dessa hierarquia, que pode levar ao colapso no funcionamento da família
(GEHRING; MARTI, 1993; GEHRING; MARTI; SIDLER, 1994).

O modelo circumplexo dos sistemas conjugal e familiar proposto por Maynard e Olson (1987)
destaca três dimensões: a coesão, a adaptabilidade e a comunicação. A coesão reflete a
maneira como o sistema equilibra separação versus união. Segundo Olson e Gorall (2003),
existem cinco níveis de coesão: emaranhado (coesão muito alta), conectado (coesão
moderada), separado (coesão baixa) e desligado (coesão muito baixa). Os níveis centrais ou
equilibrados de coesão geram um funcionamento familiar e conjugal equilibrado, enquanto os
níveis extremos ou desequilibrados (desligado ou emaranhado) estão relacionados a problemas
nos relacionamentos. É esperado que os níveis de coesão mudem momentaneamente para que
o sistema lide com os estressores, e que mudem ao longo do tempo para acomodar as
mudanças evolutivas dos membros. Um sistema equilibrado é aquele que pode experimentar
níveis extremos quando apropriado, mas que em seguida volta aos níveis basais de
funcionamento.

A flexibilidade familiar diz respeito a como o sistema equilibra estabilidade com mudança
(MAYNARD; OLSON, 1987). Caracteriza-se pela habilidade do sistema conjugal e familiar
para mudar a estrutura de poder, a liderança (controle e disciplina), os papéis e as regras, em
resposta aos eventos de vida. Como ocorre com a coesão, a permanência prolongada nos
níveis extremos pode ser problemática, gerando inflexibilidade ou flexibilidade caótica.

10
Relacionamentos bem estruturados e estáveis são capazes de mudar de maneira mais
funcional.

Terceira dimensão do modelo circumplexo, a comunicação é considerada uma facilitadora da


alteração dos níveis de coesão e flexibilidade e está relacionada às habilidades de escuta
(empatia e saber ouvir atentamente), de fala (falar por si mesmo), de autorrevelação
(compartilhar sentimentos) e de respeito e consideração (aspectos afetivos da comunicação).
Sistemas equilibrados quanto à coesão e à flexibilidade tendem a ter uma boa comunicação.
Estas dimensões funcionam segundo as expectativas e as normas sociais e culturais. As noções
de equilíbrio e desequilíbrio podem variar segundo a etnia ou ao grupo religioso aos quais a
família pertence.

Gehring e Marti (1993) consideram que a combinação entre coesão e hierarquia define a
estrutura relacional familiar. Acreditam que essa combinação funciona num contínuo que
inclui os níveis equilíbrio, equilíbrio instável e desequilíbrio. Uma estrutura equilibrada é
indicada por coesão moderada ou alta e por hierarquia moderada. O equilíbrio instável é
representado por coesão moderada combinada com baixa ou alta hierarquia, ou por baixa
coesão combinada com moderada hierarquia. Estruturas desequilibradas apresentam escores
extremos nas duas dimensões.

A avaliação das características dos relacionamentos intrafamiliares pelos membros reflete o


ambiente ou o clima familiar e pode contribuir para o entendimento teórico e clínico da
dinâmica familiar. Teodoro, Allgayer e Land (2009) apontam os atributos coesão, apoio,
hierarquia e conflito como aspectos críticos do clima familiar. Um clima positivo guarda
relação inversa com a intensidade de problemas emocionais de seus membros. Segundo
Björnberg e Nicholson (2007), o clima familiar é um processo que inclui comunicação aberta,
adaptabilidade, autoridade intergeracional, atenção às necessidades das gerações e coesão
emocional e cognitiva.

O clima familiar pode ser analisado à luz das relações interpessoais entre os membros, que,
segundo Montiel-Nava, Montiel-Barbero e Peña (2005), comportam três dimensões:

11
relacionamento, crescimento pessoal e manutenção do sistema. A dimensão relacionamento
reflete-se em coesão, expressividade e conflito. A dimensão crescimento pessoal diz respeito
ao grau em que a família permite e ajuda os membros a se desenvolverem como únicos,
independentes e orientados à realização e às atividades intelectuais, culturais e recreativas.
Engloba também a ênfase nos aspectos religiosos. A dimensão manutenção do sistema inclui
aspectos de controle e organização que permitem à família funcionar como um todo
organizado.

A família tem uma cultura própria que é regida por regras, valores e crenças. Segundo Naves e
Jesus (2005), sua funcionalidade é fruto do equilíbrio entre a cultura das relações interpessoais
(coesão/conflito, sentimento de pertença; afetividade e comunicação), a cultura da heurística
(capacidade de adaptação à mudança, criatividade), a cultura da hierarquia (regras, os papeis,
os limites) e a cultura dos objetivos sociais (objetivos sociais, pressão social, competitividade).
O equilíbrio refere-se à flexibilidade e à rigidez, que devem complementar-se em proporções
mais ou menos simétricas, frente às demandas internas e externas do sistema. A
disfuncionalidade reflete a incapacidade de obter equilíbrio entre os vários aspectos desse
complexo processo e não se caracteriza apenas pela presença do conflito, mas também pela
dificuldade de lidar com ele de forma eficaz. O conflito pode colocar a adaptação familiar em
risco, quando afeta significativamente a coesão. Também pode ser um veículo de mudança e
de reestruturação e, como tal, é indispensável ao desenvolvimento das relações familiares. Em
qualquer fase do desenvolvimento, a funcionalidade da família reflete-se na capacidade de
adaptação e mudança, na capacidade de enfrentar a pressão social, nos recursos afetivos e na
organização de papéis, normas e regras.

No âmbito das disfunções familiares, Osorio (2009) descreve dois fenômenos que podem
causar sofrimento no campo relacional da família: o divórcio e as cisões intra e inter
geracionais. O divórcio gera questões de ordem financeira, social e emocional. É disfuncional
se as etapas de seu ciclo não se sucedem dentro do esperado ou se o sofrimento imposto aos
membros da família impede a execução das tarefas correspondentes ao seu ciclo de vida. As
cisões intrageracionais são situações de conflito entre pessoas de uma mesma geração; as
intergeracionais envolvem conflitos entre pessoas de gerações diferentes. São exemplos das

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primeiras as brigas entre irmãos por dinheiro e outros bens materiais. Exemplificam cisões
intergeracionais os conflitos entre pais e filhos decorrentes de desacordos com relação às
escolhas afetivas ou profissionais destes últimos. A violência, o abandono e os abusos também
são instâncias de disfuncionalidade familiar.

A família sofre constantes pressões externas e internas, tais como doenças, morte,
nascimentos, casamentos e separações, que requerem constante transformação nas relações e
nas posições dos membros dentro do sistema. Se a família responde com rigidez aos diferentes
eventos estressantes, podem ocorrer padrões disfuncionais. Como os membros operam como
um sistema e estão ligados de várias maneiras ao longo da vida, os desafios e transições do
ciclo vital determinam a forma de ser e de estar da família e determinam como as situações
são vivenciadas, segundo suas forças e vulnerabilidades. A compreensão dos problemas que os
idosos e seus familiares vivenciam depende das características dos eventos de transição, dos
padrões familiares e das relações inter e intrageracionais. As relações familiares são moldadas
pela história de vida dos seus membros e pelas circunstâncias históricas específicas que os
afetam e afetam o sistema familiar ao longo das respectivas existências (CARTER;
MCGOLDRICK, 1995).

2. A VELHICE COMO ÚLTIMO ESTÁGIO DO CICLO DE VIDA FAMILIAR

O desenvolvimento humano é um processo de curso de vida, é multidimensional e


multidirecional, inclui a ocorrência simultânea de ganhos e perdas em várias dimensões do
funcionamento e é demarcado por eventos normativos e não-normativos. Os cursos de vida
individuais são únicos e ocorrem em contextos históricos e sociais em contínua transformação
(PIERCY, 2010). O curso de vida familiar é igualmente de longa duração, contextualizado,
multidimensional, sujeito a ganhos e perdas concorrentes e demarcado por eventos de
transição. Seus membros individuais e a família como sistema cumprem trajetórias de tarefas
evolutivas que se influenciam reciprocamente (DESSEN; COSTA JÚNIOR, 2005). Para
Hoffman (1995), a família não muda numa linha suave e contínua, mas em saltos

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descontínuos. Pressões e tensões podem significar disfuncionalidade momentânea, sinalizando
uma nova e mais complexa integração. Porem, quando a solução dos problemas é impedida ou
retardada, podem sobrevir problemas duradouros de adaptação.

As respostas da família aos eventos de transição da vida de seus membros e do sistema como
um todo dependem da história familiar compartilhada, das normas sociais sobre o significado
dos eventos, dos comportamentos e papéis esperados, das crenças compartilhadas com relação
às fases da vida e à duração e à sequência dos eventos (PIERCY, 2010). Os eventos de
transição costumam gerar estresse familiar. Geralmente os membros são capazes de enfrenta-
lo e supera-lo (COELHO, 2007), mas o estresse pode ser intensificado por conflitos
intergeracionais com relação a valores e a expectativas de comportamento.

A necessidade de adaptação simultânea de várias gerações produz tensão. Segundo Carter e


McGoldrick (1995), existem estressores horizontais e verticais no ciclo de vida familiar. Os
primeiros são de natureza evolutiva, podendo ser normativos ou não-normativos. Os segundos
incluem os padrões, mitos, segredos, tabus e rótulos, assim como as expectativas e os legados
familiares, e são transmitidos para as gerações seguintes. Para Levy e Féres-Carneiro (2008),
se, ao longo da história familiar, determinados conflitos são minimizados ou evitados e as
emoções são anestesiadas, uma mudança brusca pode desorganizar o equilíbrio do grupo,
fazendo eclodir uma crise reveladora de sentimentos de ameaça à integridade do self, dando
origem a intenso sofrimento associado à percepção de descontinuidade.

O estresse presente nos momentos de transição pode se acumular nas relações entre as
gerações. Se não resolvidas, as dificuldades de adaptação às mudanças e os processos
emocionais subjacentes podem repetir-se, de maneira que os padrões vinculares observados
em uma geração podem ser transmitidos para as seguintes. Trata-se do processo de
transmissão geracional, no qual as experiências do passado dos membros são atualizadas em
face de um evento de vida contemporâneo e generalizadas para outras esferas da vida
individual e familiar. Por causa da interdependência dos membros da rede familiar, o
sofrimento psíquico pode ser reativado e revivido no presente, por membros que não
vivenciaram o fato principal (COELHO, 2007). Para Carter e McGoldrick (1995), basta um

14
estresse no eixo horizontal para que a família se apresente como disfuncional e ocorra um
rompimento no sistema, especialmente se houver um estresse intenso e concorrente no eixo
vertical. A disfunção se apresenta como a presença constante (caráter longitudinal) ou
ocasional de estruturas patológicas, coincidentes com a dificuldade da família de adaptar-se a
mudanças e a novas circunstâncias. A insuficiência familiar também pode conduzir à
disfunção, caracterizada, por exemplo, pela impossibilidade física de os membros prestarem a
assistência necessária ao idoso, bem como por situações de maus-tratos e violência
decorrentes de carências materiais, sociais, psicológicas e afetivas (LEME, 2007).

Ritos de passagem associados a eventos tais como o nascimento, a puberdade, o casamento e a


morte têm um papel terapêutico nas crises familiares normativas. São períodos especiais,
oportunos para a mudança e para a elaboração de processos emocionais familiares
(FRIEDMAN, 1995). O mesmo não ocorre nas transições idiossincráticas, pois elas
geralmente não dão origem a rituais familiares apropriados para unir o indivíduo, a família e a
comunidade. Pela ausência de um mapa ou de apoio contextual, esses eventos requerem
complexa reelaboração dos relacionamentos (IMBER-BLACK, 1995). Os idosos vivenciam
desafios normativos e não normativos de sua própria vida e da vida dos demais membros da
família, justamente num momento de sua vida em que têm grande chance de estar fisicamente
fragilizados. Sua adaptação e a adaptação da família dependerão dos padrões relacionais, do
tipo de sistema que criaram ao longo dos anos e das suas formas peculiares de ajustamento a
novas exigências (FALCÃO; BAPTISTA, 2010).

Hareven (1996) identifica três domínios nos padrões familiares e nas relações geracionais
envolvendo pessoas idosas:
1. Sincronia entre os eventos de transição da vida de cada membro da família e os eventos
de transição da história social. Na vida individual, os eventos de vida demarcam o
envolvimento das pessoas em novas fases do desenvolvimento e em novos papeis
sociais, como acontece, por exemplo, com a entrada na escola, o casamento e a
parentalidade. Podem demarcar, também, o afastamento de papéis, caso da
aposentadoria e da saída dos filhos de casa para constituir a própria família. A
elaboração desses momentos de transição da vida individual pode ser facilitada ou

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dificultada por períodos da vida social caracterizados por abundancia ou por restrição
de recursos financeiros, empregos e oportunidades. Os idosos podem viver fortes
sentimentos de incontrolabilidade se seus filhos e netos vierem a viver eventos por
demais estressantes em comparação com os recursos de que dispõem para enfrenta-los,
ou de viverem eventos de transição da vida pessoal em momentos de instabilidade
política e socioeconômica.
2. Sincronia entre as transições individuais e as do coletivo familiar e como as relações
geracionais são afetadas nesse processo. Os indivíduos sucessivamente se engajam em
uma variedade de configurações familiares, que mudam ao longo do tempo em função
da emergência de novas exigências e tarefas para a família como um todo. Eventos
familiares como mortes, casamentos, nascimentos e migrações propõem novas
exigências aos membros de cada núcleo familiar. A sincronia entre as novas exigências
que pesam para a família, que tem que realocar papeis e atribuições de status é um
aspecto crucial da adaptação da família e de seus membros. A assincronia entre esses
aspectos é exemplificada por conflitos entre as metas individuais e as necessidades e
ditames da família, os quais podem afetar as relações intergeracionais.
3. Impacto acumulado de acontecimentos anteriores da vida das coortes e das famílias. As
experiências anteriores de cada coorte, moldadas pelos eventos históricos, têm impacto
sobre o curso de vida das próximas gerações, sobre a disponibilidade de recursos para
os membros familiares e sobre as habilidades de enfrentamento na velhice.

À medida que as pessoas se movimentam juntas através da vida emergem oportunidades de


desenvolvimento. As trajetórias familiares podem ser analisadas de uma perspectiva de
estágios (por exemplo, o da formação do casal pelo casamento, o do nascimento dos filhos e o
da velhice de parte de seus membros). Cada estágio acarreta exigências emocionais, sociais e
funcionais específicas, gera reorganização de papéis e de regras familiares e implica em maior
ou menor grau de reorganização das relações dentro do sistema (CARTER; MCGOLDRICK,
1995).

A velhice dos membros idosos é o último do ciclo de vida familiar, caracterizado pelo
rompimento com o trabalho formal, pelo vislumbre da perda de independência e autonomia,

16
pela proximidade da morte e pela vivência do luto pela perda do cônjuge, de parentes e de
amigos. Ao mesmo tempo, há a possibilidade de reencontro com o cônjuge, de projeção da
continuidade familiar nas futuras gerações, de reestruturação de papéis familiares e de revisão
de vida, de busca de integridade e de busca de significado. As características e a qualidade
desse momento são consequentes a como as fases anteriores foram vividas, aos
relacionamentos passados e aos padrões familiares desenvolvidos para manter a integração
familiar (CARVENY; BERTHOUD, 2009).

Homens e mulheres envelhecem de forma diferente. A maioria dos idosos atuais foi
socializada segundo um modelo em que a posição das mulheres nos relacionamentos era
definida pelos homens. Cabia às mulheres a responsabilidade emocional pelos
relacionamentos familiares e o gerenciamento das relações de intimidade, o que lhes conferia
poder dentro da família. Esse padrão está mudando aos poucos, mas ainda é predominante
entre os atuais idosos, conforme documentado por pesquisas de levantamento. Por exemplo,
Socorro e Dias (2007) avaliaram a perspectiva de mulheres idosas quanto aos papéis
vivenciados durante o ciclo vital da família. A maioria das idosas relatou que se moldaram aos
padrões de família tradicional segundo o qual deveriam abandonar a vida profissional,
subordinar-se aos seus maridos e ficar responsáveis pelos cuidados da casa e dos filhos. Com a
viuvez, boa parte passou a residir com filhos e a cuidar de netos e de parentes idosos, mas
relataram sentirem-se amparadas e acolhidas por suas famílias na velhice. Santos e Dias
(2008) encontraram que os homens idosos exercem papel de transmissores de valores,
conciliadores, agregadores e provedores de suporte financeiro, tendo importância fundamental
na família. Mostram-se disponíveis nos momentos de crises e manifestam desejo de
permanecer na posição de chefes e de norteadores do comportamento familiar.

Como já comentado, os eventos que marcam a vida pessoal dos idosos também marcam as
relações familiares. A dependência e a incapacidade resultantes de problemas de saúde física e
mental, a viuvez e a aposentadoria de um membro idoso acarretam implicações para o
equilíbrio da família. O estresse decorrente desses eventos pode juntar-se com outros,
principalmente em contextos de vulnerabilidade social. A viuvez é considerada um dos
eventos de transição mais difíceis, pois é seguida por reconfiguração e adaptação de papéis e

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funções parentais, de chefia e de suporte na família. O processo de luto decorrente da viuvez
está associado com maior risco de transtorno mental, com maior número de enfermidades de
saúde geral (PARKES, 1998), com mortalidade aumentada (GOMES et al, 2013) e com mais
sintomas depressivos (TRENTINI et al, 2009). A perda do cônjuge adiciona novos problemas
ao cotidiano, acarreta necessidade de reavaliação do significado da vida e das metas, tem
impacto sobre a identidade e implica em responder a novas exigências na vida prática. A
adaptação à viuvez parece ser mais difícil para os relacionamentos com elevados níveis de
proximidade e de dependência instrumental e com baixos níveis de conflitos no casamento
(SILVA; FERREIRA-ALVES, 2012). Os homens costumam ser mais dependentes em termos
instrumentais e as mulheres em termos emocionais. Homens e mulheres mais ajustados
aprendem mais rapidamente a manejar o estresse decorrente da viuvez e das consequentes
alterações em papeis e tarefas associados a gênero (SILVERSTEIN; GIARUSSO, 2010).

Para Carter e McGoldrick (1995), na velhice ou estágio tardio do ciclo de vida familiar, aceitar
a mudança dos papéis geracionais é o principal processo emocional de transição. Os idosos
devem apoiar a chamada geração do meio, formada pelos filhos, genros e noras, permitindo-
lhes maior centralidade no desempenho de papeis de autoridade. A recusa em passar parte do
controle, a inflexibilidade ou a dificuldade para aceitar a mudança de papéis são ocasião para
conflitos e para disfuncionalidade familiar e pessoal. Segundo Silverstein e Bengtston (1994),
muitos idosos relutam em solicitar ou aceitar suporte dos filhos, preferindo permanecer
autônomos pelo maior tempo possível, mesmo quando a necessidade de assistência é
inarredável. Se por um lado a interpretação da oferta de ajuda como desnecessária pode ajudar
os idosos a preservar a autoestima e a autoeficacia, por outro pode causar desprazer e conflitos
nas relações com os filhos. Quando há expectativa de suporte e esta não se realiza, os idosos
podem sentir-se alienados e negligenciados. Se é verdade que as relações intergeracionais ao
longo da vida são caracterizadas por uma tensão entre a autonomia a e dependência, também é
verdadeiro que, na velhice, a saúde dessas relações exige a negociação dos papéis geracionais.

Com o aumento da expectativa de vida e com a diminuição da disponibilidade de jovens para


o cuidado, está aumentando o número de idosos que cuidam de outros idosos, por um período
cada vez mais longo. Cuidar exige a realização de atividades diárias, dar assistência nas crises

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de saúde, oferecer conforto emocional, interagir com profissionais de saúde e lidar com
conflitos familiares. Dados do Estudo Fibra Campinas (NERI, 2010) sobre o cuidado a idosos
exercido por outros idosos com diferentes condições de saúde e bem-estar social apontam que
a escassez de ajuda e a privação de contatos sociais são fontes de risco ao bem-estar físico e
psicológico dos cuidadores idosos. As idosas cuidadoras tinham mais doenças crônicas do que
os idosos cuidadores. Ser cuidador homem e ter deixado de lado a maior número de atividades
avançadas de vida diária foram condições associadas ao baixo suporte social percebido. Para o
grupo de cuidadores, baixa renda familiar associou-se com depressão e a percepção de que o
suporte social disponível era insuficiente associou-se com maior probabilidade de afastamento
social. Esses resultados mostram a complexidade das relações entre gênero, doenças,
incapacidade, depressão e prestar cuidados na velhice.

A funcionalidade familiar é especialmente desafiada em situações de doença do idoso. A


presença de limitações funcionais importantes pode afetar o equilíbrio da estrutura familiar e a
capacidade assistencial da família (TORRES et al, 2009; TORRES et al, 2010; SANTOS;
PAVARINI; BARHAM, 2011), além de impor parâmetros às escolhas, às possibilidades de
ação diante dos estressores, (PIERCY, 2010). Idosos com incapacidade física e cognitiva,
com problemas emocionais e sem renda suficiente para o próprio sustento são os que mais
necessitam de cuidados de longa duração. Embora a família seja a principal instituição
responsável pelo cuidado, questiona-se se pode desempenhar essa tarefa de forma adequada.
Uma parte significativa de idosos com dificuldades em atividades instrumentais de vida diária
relatam não receber ajuda de outros membros da família, o que significa que suas necessidades
básicas não são devidamente atendidas. Por sua vez, as famílias não contam com programas
regulares de apoio formal do governo ou da iniciativa privada sob a forma de atenção
domiciliar, assistência ambulatorial e recursos financeiros. A principal fonte potencial de
apoio dos homens é a cônjuge e, no caso das mulheres, os filhos. No entanto, idosos
dependentes podem viver em arranjos familiares não continentes. Os que vivem sozinhos ou
em casa de parentes são mais vulneráveis à violência familiar e à residência institucional
(CAMARANO; KANSO, 2010).

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São exemplos de fatores que influenciam a boa funcionalidade de famílias com idosos que
requerem cuidados de longa duração: contar com uma rede de suporte social informal
composta por parentes, amigos, voluntários ou grupos religiosos; facilidade de acesso aos
serviços de saúde; recursos comunitários, que possibilitam o acompanhamento regular do
estado de saúde dos idosos. São importantes, também, a capacidade adaptativa dos familiares
diante da doença; a organização da casa; relações afetivas consistentes, responsáveis e seguras
e grande dedicação dos familiares ao idoso. (MARQUES; RODRIGUES; KUSUMOTA,
2006; HORTA; FERREIRA; ZHAO, 2010). As maiores dificuldades da família dizem
respeito à desorganização emocional, ao luto antecipado, à sobrecarga do papel de cuidador, à
falta de conhecimento sobre a doença e ao desajuste familiar, que aumentam com a doença,
com a falta de colaboração para o cuidado e com o distanciamento nos relacionamentos. As
mulheres estão mais expostas a sentir insatisfação em relação à funcionalidade familiar do que
os homens idosos (SILVA; GALERA; MORENO, 2007; SANTOS; PAVARINI; BARHAM,
2011).

A família é a principal responsável por oferecer companhia, ajuda financeira, informações,


visitas, ajuda nas atividades básicas e instrumentais da vida diária, facilitação do acesso a
serviços de saúde e auxilio na regulação dos hábitos de saúde. Esses apoios são capazes de
atuar positivamente na saúde física e mental dos idosos, na medida em que favorecem o
enfrentamento e a recuperação, fortalecem o sistema imunológico e exercem efeito
amortecedor em relação ao estresse. As trocas de apoio contribuem para o senso de controle,
para o bem-estar psicológico e para a satisfação com a vida nos idosos (BARROS; SANTOS;
ERDMANN, 2008; LEITE et al, 2008; FIORILLO; SABATINI, 2011; MOTA et al, 2010;
ALVARENGA et al, 2011).

Quando os idosos não têm doenças nem dependência, a satisfação com a dinâmica familiar e o
bom relacionamento entre os membros da família tornam-se mais prováveis. As exceções
geralmente incluem os idosos que moram sozinhos e que precisam recorrer a pessoas fora da
família e as famílias cujos membros são todos idosos. Os idosos saudáveis preocupam-se com
a dependência, a doença e a solidão e têm opinião formada sobre as características da pessoa
que gostariam que fosse sua cuidadora (PAVARINI et al, 2006; PAIVA et al, 2011).

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A assimilação da situação de cuidar, a resolução dos problemas dela advindos e a organização
necessária para o enfrentamento e para a manutenção da trajetória familiar dependem da
história familiar pregressa. As questões afetivas arraigadas nas relações e as tensões existentes
dentro da família tendem a ser exacerbadas pela enfermidade do idoso. A partir da melhor
elaboração dos conflitos e da consolidação de novos arranjos, a família consegue buscar
alternativas e novos recursos para a idoso e para a própria estabilidade.

Segundo Coelho (2007), as famílias em situação de vulnerabilidade social são prejudicadas


pela vivencia acumulativa de situações de estresse envolvendo más condições de vida e de
trabalho, mais violência, maior instabilidade financeira e maior suscetibilidade a crises
imprevisíveis. O ciclo de vida familiar dessas pessoas tende a ser mais truncado, menos
delineado, com fases mais curtas e com demarcação mais confusa de papéis. É comum que
seus membros assumam responsabilidades e papéis para os quais ainda não estão preparados
(exemplos: gravidez precoce de netos e perdas repentinas). Para os idosos dessas famílias, as
responsabilidades com filhos e netos não são diminuídas. Sua aposentadoria representa uma
fonte importante de sustento de toda a família. Muitos continuam trabalhando para sobreviver
e o arranjo familiar e domiciliar predominante em regiões mais pobres é o multigeracional. Os
idosos são levados a viver arranjos com elevado grau de ansiedade, aumentada pelo contexto
de pobreza, com mais dificuldade de atendimento às suas necessidades. São mais vulneráveis
às frustrações do dia-a-dia e ao desgaste das relações entre as gerações (HINES, 1995).

O ambiente familiar é uma entidade formativa de qualquer indivíduo, fornece os fatores


protetores e, ao mesmo tempo, pode atuar como uma fonte de estresse. O sistema familiar é
moldado pelas histórias individuais e familiares ao longo da vida, as quais determinam
diferentes formas de funcionamento. Move-se criando trajetórias de vida individual e familiar,
e diversifica-se de acordo com os vários estágios do desenvolvimento humano. Além de ajudar
a moldar os relacionamentos entre os membros, os eventos de vida e as mudanças
socioeconômicas e demográficas influenciam a organização, a configuração e as funções da
família. Estas refletem características pessoais e situacionais, necessidades, expectativas e
formas de suporte determinadas pela situação econômica, pela saúde, pela funcionalidade e
pela a afetividade dos seus membros, dentro de contexto socioculturais específicos.

21
3. AS CONFIGURAÇÕES FAMILIARES E AS TRANSFERÊNCIAS
INTERGERACIONAIS DE RECURSOS

O conceito de configuração familiar diz respeito a quem faz parte de uma unidade domiciliar e
como esta se organiza, caracterizando um núcleo ou nicho familiar. Os diversos arranjos
domiciliares podem envolver uma pessoa vivendo sozinha, um casal, uma família nuclear
tradicional (pai, mãe e filhos), uma família monoparental, uma família ampliada (pai, mãe,
filhos, netos e bisnetos), um idoso vivendo com a família de um filho ou filha, um idoso
vivendo com outros parentes, um idoso vivendo com amigos ou agregados, um idoso ou um
casal de idosos vivendo com empregados domésticos ou cuidadores e arranjos mistos
(PEDRAZZI, 2008). As diversas transformações sociais em curso no Brasil estão modificando
o tamanho e a configuração da família, assim como estão mudando os arranjos domiciliares.

A família é um importante instrumento para a manutenção e o tratamento de saúde de seus


membros. É nela que se organizam os vínculos e os intercâmbios de apoio. Sua composição é
um indicador importante de sua capacidade assistencial. Tanto os arranjos de moradia quanto a
condição dos idosos no domicílio refletem eventos socioeconômicos e relacionais ocorridos
em etapas anteriores do ciclo de vida familiar. Os arranjos domiciliares são formados,
também, com base em aspectos demográficos (sexo, estado conjugal e idade),
socioeconômicos (residência urbana ou rural, escolaridade, renda) e relativos à saúde e à
capacidade funcional dos membros, em especial dos idosos (CAMARGOS; RODRIGUES;
MACHADO, 2011).

Os arranjos familiares sofrem diferenciação por gênero. A tipologia predominante para os


homens é a família nuclear tradicional, enquanto que as mulheres estão distribuídas em
tipologias heterogêneas (ROMERO, 2002; PEDRAZZI et al, 2010). Para as mulheres, morar
com alguém, principalmente com o cônjuge e os filhos, funciona como fator protetor com
relação à autopercepção negativa de saúde (ROMERO, 2002). Morte do cônjuge, idade
avançada, pobreza e baixa escolaridade são motivos importantes para a corresidência entre
idosos e as gerações mais jovens (SILVA; BESSA; OLIVEIRA, 2004). A longevidade é uma

22
realidade predominantemente feminina. Sendo mais pobres e menos escolarizadas do que os
homens, as mulheres são mais vulneráveis às consequências do envelhecimento e apresentam
mais doenças e incapacidades incidentes do que os homens idosos. Como o tipo de arranjo
familiar é comumente determinado pela incapacidade física e pela pobreza, as mulheres têm
maior probabilidade de morar com parentes.

A configuração familiar também é moldada pela chefia familiar e pela contribuição dos
membros adultos e idosos para o sustento da família. Nesse sentido, os economistas
consideram a existência de famílias de idosos e de famílias com idosos (CAMARANO et al,
2004). Nas famílias de idosos, o idoso é o chefe da família, é geralmente mais jovem,
economicamente produtivo e com boas condições de saúde. Sua renda é fundamental ao
orçamento familiar, nele prevalecendo transferências descendentes de apoio (das gerações
mais velhas para as mais jovens). Idosos com algum grau de dependência física podem
manter-se na posição de chefes de família, se tiverem rendimentos e se puderem contar com o
cônjuge para ajuda-los com cuidados. Nas famílias com idosos, eles ocupam a posição de
parentes do chefe da família. São geralmente mais velhos e do sexo feminino, com renda
insuficiente para garantir seu sustento e, com frequência, precisam de ajuda para o
desempenho de atividades de vida diária. Nessas famílias, prevalecem transferências de apoio
ascendentes (da geração mais nova para a mais velha).

Se por um lado a corresidência pode dar origem a conflitos relacionados ao controle familiar e
ao manejo e à destinação dos recursos materiais, por outro pode beneficiar os idosos e seus
descendentes, em especial em situações de pobreza extrema. Embora facilite a transferência de
recursos materiais, instrumentais, emocionais e cognitivos entre as gerações, a corresidência
não garante que o idoso receberá o apoio de que precisa, mesmo quando contribui
financeiramente ou cuida de netos e da casa.

As contradições e os conflitos inerentes às configurações familiares e aos laços familiares têm


efeitos sobre a qualidade de vida de todos os membros e dos idosos em particular. Apesar de a
convivência familiar multigeracional oferecer mais oportunidades para conflitos, um maior
número de pessoas no domicílio pode influenciar positivamente o apoio afetivo e emocional a

23
idosos (SANTOS; PAVARINI, 2009; SOUZA; SKUBS; BRETAS, 2007; Pedrazzi et al,
2010). Para os velhos, esses elementos podem funcionar com um seguro contra maus tratos e
negligência. Para os membros não-idosos da família, contar com a renda dos idosos pode
funcionar como um seguro contra privações materiais.

Os idosos mais velhos tendem a obter mais ajuda do que os idosos jovens, mas os homens de
mais de 80 anos, de baixa renda, não casados e com pequena rede de apoio tendem a ser
menos cuidados (ROSA et al, 2007; PAVARINI et al, 2009). Motta et al (2010) descreveu as
vivências incomuns de famílias multigeracionais com idosos centenários. Nelas, a geração
pivô, ou geração do meio, é composta por idosos que se dividem entre os cuidados aos pais
centenários e aos descendentes (filhos, netos e bisnetos). Ou seja, oferecem apoios quando eles
próprios estão mais fragilizados. É comum que mencionem renúncias, dificuldades e
obrigações em demasia.

Ser casado é fator protetor tanto para homens quanto para mulheres. Os homens casados, com
maior escolaridade e renda mais alta desfrutam de melhor interação social e de mais apoio
emocional e informativo. As mulheres idosas com baixa escolaridade e renda, não casadas e
que vivem com menor número de pessoas estão expostas a maior risco de baixo ou
inadequado suporte social (PINTO et al, 2006; ROSA et al, 2007). Idosos casados relatam
melhor bem-estar físico e psicológico do que os não casados, possivelmente porque são mais
favorecidos pelo apoio recebido pela família e das redes sociais externas à família (BIRDITT;
ANTONUCCI, 2007). Segundo Corbi e Menezes-Filho (2006) e Peiró (2006), os casados têm
cerca de 50% mais chance de se avaliarem como felizes que os solteiros, viúvos e separados.
Entre homens e entre mulheres, a satisfação conjugal atenua a percepção negativa da saúde. A
presença do cônjuge tende a ser um fator protetor, favorecendo a manutenção das condições
que levam à melhor percepção de saúde (WALDINGER; SCHULZ, 2010).

Morar sozinho não significa necessariamente abandono, descaso, solidão ou enfraquecimento


dos laços familiares. Pode representar uma nova realidade mais inovadora e bem-sucedida de
envelhecimento, compatível com recursos suficientes de saúde e renda e com valorização da
independência e da privacidade. Os idosos com maior chance de viverem sozinhos são

24
homens, com maior renda, com maior escolaridade, com 75 anos ou mais, sem filhos, com boa
saúde e capacidade funcional e os viúvos (CAMARGOS; MACHADO; RODRIGUES, 2007).
No entanto, morar sozinho pode configurar uma condição de risco para o bem-estar,
especialmente para os idosos com problemas de saúde ou que não dispõem de condições
adequadas de subsistência. O estudo de Silva, Rabelo e Queroz (2010) mostrou relações entre
os arranjos de moradia e a satisfação dos idosos com a dinâmica familiar. Os mais insatisfeitos
foram os que moravam sozinhos ou com outras pessoas fora da família. Mesmo quando os
idosos moravam com outras pessoas da família, a ausência do cônjuge associou-se com níveis
mais baixos de satisfação.

Batistoni et al (2013) observaram que a maioria dos idosos espera ser cuidada por alguém,
especialmente pelas filhas, principalmente aqueles que moram com o cônjuge e os
descendentes e os que têm percepção mais positiva de suporte social. Ou seja, os idosos
esperam que as relações de parentesco e a convivência traduzam-se em cuidado e ajuda mútua.
De modo inverso, é menos provável que o idoso acredite que receberá ajuda, na presença de
um histórico familiar de conflitos ou de situações relacionais mal resolvidas. Embora nenhum
tipo de arranjo garanta que o idoso venha a receber a ajuda de que precisa ou que espera, a
percepção de que há pessoas disponíveis para o suporte contribui para que mantenham
sentimentos de que são valorizados e cuidados.

Eventualmente, os indivíduos podem não se basear apenas em laços de consanguinidade para


considerar algumas pessoas como membros de sua família. Para alguns, a noção de família
pode incluir ou excluir parentes, assim como pode eleger pessoas externas, residentes ou não-
residentes no mesmo domicílio. Essas escolhas são feitas segundo os critérios do próprio
idoso, de acordo com o que ele considera mais importante em termos instrumentais ou
emocionais (COELHO, 2007).

As práticas de cuidados exercidas na família inscrevem-se no quadro de referência das redes


de relações sociais. As transferências intergeracionais de apoio são produzidas pela
necessidade dos membros da família e por expectativas socioculturalmente construídas. O
suporte fornecido pela família e os apoios que os mais velhos lhe oferecem são indicadores da

25
estrutura e da dinâmica do funcionamento familiar. Se bem que seja importante para o bem-
estar dos idosos e sirva como indicador importante dos recursos materiais e humanos da
família, a corresidência não esgota a complexidade da estrutura e da dinâmica das unidades
familiares formada por idosos ou que têm membros idosos entre seus componentes.

A família é uma organização social que se esforça para distribuir recursos (por exemplo,
dinheiro, bens, tempo e espaço), com base em decisões estratégicas orientadas à manutenção
do equilíbrio do sistema e do bem-estar dos membros. A intensidade e o fluxo dessas
transações exibem diferentes motivações e características, mas seu elemento comum é a
necessidade de satisfazer tanto as necessidades individuais quanto as coletivas. A deliberação
do chefe de família quanto à alocação dos recursos familiares é seletiva e não representa,
necessariamente, a preferência dos outros membros. Frente a demandas concorrentes, as
percepções e expectativas de pais, filhos, irmão e netos sobre quais são as necessidades e
sobre como deve ser o fluxo das transferências podem ser muito diferentes. Ao envolver
interesses conflitantes, a alocação de recursos pode implicar em barganhas de poder
(SILVERSTEIN, 2006).

O exame das transferências intergeracionais de recursos tem sido realizado a partir de duas
perspectivas teóricas: a da troca social e a do altruísmo. A teoria da troca social sustenta que
os indivíduos agem com base em cálculos de custo e benefício. Por conseguinte, toda a
interação social, inclusive as que se dão entre os membros da família, é vista como um
intercâmbio de recursos. Em consonância com esta perspectiva, os pais ajudam filhos adultos
que anteriormente os ajudaram, ou que deverão ajudá-los no futuro. Em contraste, a
perspectiva do altruísmo não vê as transferências em termos de troca mútua. Pelo contrário,
acredita que comportamentos altruístas destinam-se principalmente a aumentar o bem-estar
dos destinatários. Deste ponto de vista, os pais que apoiam filhos adultos o fazem por amor e
como forma de melhorar a vida dos filhos. Como subproduto não intencional seu bem-estar
também aumenta (ROLL; LITWIN, 2010).

Na atualidade, idosos jovens são obrigados a ajudar as gerações mais velhas e as mais novas
ao mesmo tempo, otimizando seu tempo e seus recursos para oferecer tudo o que for possível

26
aos representantes de ambas as gerações (FINGERMAN; SECHRIST; BIRDITT, 2013).
Mesmo em famílias com um ou dois progenitores idosos com incapacidade funcional, a ajuda
recebida por eles é pouco maior do que a que oferecem aos filhos. O fluxo de suporte é
preferencialmente direcionado aos filhos e netos, porque de modo geral eles são vistos como
uma extensão dos pais e porque apresentam importantes demandas associadas ao
prolongamento da educação, à carreira, ao trabalho, ao desemprego e aos filhos pequenos.
Esse padrão de suporte só é alterado quando os pais idosos enfrentam uma crise na saúde e
apresentam incapacidade (FINGERMAN et al, 2010).

No Brasil, o fluxo de apoio dos idosos para os mais jovens é crucial na maior parte da vida e
os pais só começam a demandar maior suporte dos filhos a partir dos 75 anos (CAMARANO
et al, 2004). Parte significativa da corresidência verificada no Nordeste brasileiro está mais
associada às necessidades dos filhos adultos do que às dos pais (SAAD, 2004). É comum que
os idosos priorizem as necessidades dos descendentes em detrimento das suas e que gastem
mais de sua renda com outros familiares do que com eles mesmos. A renda dos idosos tem
grande impacto na diminuição da pobreza e no aumento do investimento em capital humano
(ex: maior escolarização dos jovens e redução do trabalho infantil) (CAMARANO et al,
2004). Em muitas comunidades do Nordeste brasileiro, os rendimentos dos idosos
movimentam a pequena economia local.

Os idosos da América Latina estão longe de ser um fardo para suas famílias, pois as
transferências econômicas que realizam para os outros membros da família são maiores do que
as que recebem (ENGLER, 2007). Rosero-Bixby (2011) considera que, na América Latina, o
envelhecimento da população beneficia a qualidade de vida das famílias. Sousa, Silver e Griep
(2010) observaram que a maioria das mulheres idosas fornece mais apoio do que recebe
(58,3% contra 29,3%). Entre as ofertas de apoio pelos idosos estão: tomar conta dos netos,
cuidar da moradia e manejar o dinheiro da família. Entre os tipos de suporte recebido da
família estão: dinheiro (61,1%), cuidados pessoais (31,5%), companhia para se locomover
(18,5%) e moradia (13%). As mulheres que mais recebem suporte da família são as mais
velhas, que vivem sozinhas. As mães oferecem mais suporte instrumental e emocional às
filhas do que aos filhos, enquanto que os pais tendem a oferecer mais dinheiro aos filhos do

27
que às filhas (DEINDL; BRANDT, 2011). Os filhos casados tendem a receber mais ajuda dos
seus pais idosos do que filhos solteiros, assim como os idosos casados dão e recebem mais
ajuda financeira do que os que não casados (SAAD, 2004).

Ao ajudar os filhos, os pais podem vivenciar conflitos entre duas normas: a da reciprocidade e
da solidariedade. Os pais são geralmente motivados pela solidariedade, mas a norma da
reciprocidade também opera na diferenciação dos que receberão mais suporte. Assim, a
prioridade do suporte parece ser fruto de uma combinação entre a percepção de qual filho mais
precisa e de qual deles receberam mais auxílio no passado. Estudo de Suitor, Pillemer e
Sechrist (2006) revelou que a maioria das mães tende a ajudar mais as filhas mulheres, mais
jovens, não casadas, que moram perto, que têm problemas de saúde e que as ajudaram
recentemente. Viuvez e divórcio associam-se com a diminuição da ajuda dos pais aos filhos, e
com o aumento da ajuda destes para com aqueles. O recasamento dos pais diminui pela
metade a chance de oferta de transferências financeiras aos filhos adultos. (SHAPIRO;
REMLE, 2010).

O tamanho da família influencia as transferências de recursos dos pais para os filhos. Um


grande número de filhos diminui as condições de provimento de recursos e de igualdade. Os
recursos familiares são finitos e costumam ser distribuídos àqueles que a família considera que
mais precisam. A proximidade, a intimidade, a preferência de suporte e os afetos positivos
influenciam os padrões de ajuda de pais para filhos (FINGERMAN et al, 2010;
FINGERMAN; SECHRIST; BIRDITT, 2013). Da mesma forma, a responsabilidade pelo
cuidado dos pais não é distribuída igualmente entre os filhos. Os estudos mostram um padrão
hierárquico pelo qual um membro familiar se torna o cuidador principal de idosos
dependentes: em primeiro lugar o cônjuge e depois uma filha adulta; na ausência destas, outro
membro do sexo feminino (CAMARANO; MELLO, 2010). Além do gênero e do grau de
parentesco, a história de vida pregressa, a composição familiar, a proximidade física e a
qualidade do relacionamento determinam a preferência quanto a quem realizará as tarefas do
cuidado (PAVARINI et al, 2006). O idoso costuma saber quem ele gostaria que fosse seu
cuidador, embora nem sempre essa expectativa seja correspondida em função de outras
demandas contextuais.

28
O fluxo de apoio entre as gerações reflete normas sociais internalizadas e pressões sociais
externas. A família é um sistema social cujos laços envolvem expectativas de reciprocidade,
responsabilidade, compromisso e partilha de afeições e objetivos. O suporte familiar beneficia
os indivíduos por meio do desempenho das funções de dar e receber informações e auxílio
material e emocional, por fortalecer o senso de serem amados e valorizados e a identidade
social, e por ajudar a dar sentido às experiências de vida. A convivência multigeracional torna-
se cada vez mais provável com o aumento da longevidade. Esta ocorrência é de particular
interesse em contextos de vulnerabilidade social.

4. A COMPLEXIDDE EMOCIONAL DOS RELACIONAMENTOS


INTERGERACIONAIS E A SAÚDE MENTAL DOS IDOSOS

A maior longevidade alcançada pelos brasileiros está favorecendo uma convivência mais
prolongada entre as gerações. A convivência entre idosos, adultos, adolescentes e crianças no
mesmo domicílio acarreta alterações na hierarquia e na dinâmica da família, diversificação das
funções e mudanças nos papeis sociais dos idosos (LOPES; SANTOS, 2009). As trocas
podem se estruturar como relações de aliança, solidariedade e inclusão, ou então de conflito,
dominação e exclusão, beneficiando ou prejudicando a autonomia, a privacidade, a aceitação e
o respeito entre os membros. A convivência intergeracional abarca benefícios e dificuldades,
tanto para os idosos quanto para seus familiares. As doenças e as limitações físicas são as
mudanças que causam maior impacto na qualidade das relações entre os idosos e a família
(SOUZA; SKUBS; BRÊTAS, 2007).

O suporte advindo da família envolve elementos como coesão (proximidade emocional entre
os membros da família), apoio (suporte dado e recebido na família), adaptabilidade
(capacidade da família de se ajustar às mudanças) e comunicação. A percepção de que o
suporte familiar é satisfatório reflete a força da ligação emocional, sua adaptabilidade a
situações de estresse e o compartilhamento de afeto, estima e gratificação (NICHOLS;
SCHWARTZ, 2007).

29
A percepção de suporte atua como moderador do efeito dos eventos estressantes sobre a saúde
mental (HYDE et al, 2011; PETTIT et al, 2011). Couto e colaboradores (2009) investigaram
como a rede de apoio social se articula com o bem-estar psicológico em idosos expostos a
eventos de vida estressantes. Os resultados mostraram que, quanto maior a reciprocidade
dentro das redes de apoio, maior o bem-estar psicológico. As autoras sugerem que esses
processos podem favorecer a resiliência psicológica individual frente a eventos adversos.

Dois mecanismos psicológicos fundamentais operam na regulação dos relacionamentos sociais


ao longo da vida: a autorregulação da proximidade emocional e o monitoramento da
reciprocidade (LANG; WAGNER; NEYER, 2009). A regulação da proximidade emocional
diz respeito à preferência pelo parentesco, à capacidade de diferenciação dos laços de
parentesco de outros tipos de relacionamento e às respostas às regras de intimidade,
familiaridade, disponibilidade, compromisso e confiança. A maioria das pessoas relata maior
senso de proximidade em relação a seus parentes biológicos do que com outros parceiros
sociais, mesmo quando são controladas a frequência do contato e a proximidade geográfica. A
proximidade emocional serve para assegurar a continuidade, a confiabilidade e a estabilidade
dos relacionamentos, mesmo em momentos de instabilidade. Está relacionada ao apego
emocional e à preocupação com as necessidades dos outros. A extensão em que as pessoas são
capazes de regular o quão próximas se sentem em relação aos outros determina a elasticidade
do seu contexto interpessoal e o grau de proximidade buscada nos relacionamentos. O
monitoramento da reciprocidade relaciona-se à preferência pela cooperação e pela
interatividade. Existem situações nas quais os indivíduos aceitam trocas sociais menos
recíprocas, por exemplo, quando um pai idoso torna-se dependente e precisa de cuidados
intensivos. Por isso, em vez de uma simples conta de custo e benefício imediato, o
monitoramento da reciprocidade envolve a consideração das experiências passadas de
relacionamento e das condições atuais do parceiro social.

Os mecanismos psicológicos de regulação dos relacionamentos sociais apresentam


especificidades relacionadas à idade e se diferenciam segundo a natureza do relacionamento.
Com o envelhecimento, as redes sociais diminuem e as interações sociais tornam-se menos
frequentes, mas os idosos passam a manejar seus relacionamentos de forma a maximizar o

30
apoio, o companheirismo e o conforto emocional e a minimizar as tensões e as dificuldades.
As estratégias de que os idosos lançam mão para otimizar suas relações sociais são explicadas
pela microteoria de seletividade socioemocional (SCHEIBE; CARSTENSEN, 2010). Segundo
este modelo, ocorre seleção voluntária e adaptativa dos parceiros sociais ao longo da vida
adulta e os idosos desempenham papel proativo no investimento emocional em relações que
lhes são recompensadoras. Na velhice, contatos emocionalmente significativos são mais
importantes do que outras motivações para o contato social, o que leva à escolha de parceiros
com quem podem manter relações de intimidade e proximidade e ligações de longo prazo.
Essa regulação da vida social proporciona bem-estar. Mudanças em circunstâncias da vida
podem criar desafios e impor limites a essa estratégia. Por exemplo, doenças e incapacidades
graves podem levar a uma redução involuntária dos parceiros sociais (CHARLES;
CARSTENSEN, 2009).

As pessoas se esforçam para manter contatos sociais positivos, mas, na velhice, esse esforço
pessoal está mais associado à proximidade emocional do que à percepção da reciprocidade
(LANG et al, 2013). À medida que o tempo passa, qualquer relacionamento pode enfrentar
dificuldades. Essa ameaça exige um esforço intencional para a sua manutenção, o que depende
da natureza (parentesco x não-parentesco) e da qualidade do relacionamento. Em contextos
estáveis e com baixos níveis de ameaça, trocas não recíprocas são toleradas, mas em situações
de instabilidade e de forte ameaça, os indivíduos ficam mais sensíveis à desigualdade. Talvez
por isso os idosos sejam mais propensos a desistir de relacionamentos fora da família do que
os adultos.

Experiências de conflito nos relacionamentos pessoais são relatadas com menor frequência por
idosos do que por não-idosos e têm implicações diferentes segundo a natureza do
relacionamento: o conflito está associado à maior proximidade emocional entre membros
familiares e à menor proximidade quando se trata de outros relacionamentos. Os
relacionamentos conflituosos exigem maior esforço pessoal para a sua manutenção. O
investimento de esforço para esta finalidade costuma ser diferentes para parentes e não-
parentes: maior esforço tende a ser direcionado aos familiares por sua maior proximidade
emocional e menor exigência de reciprocidade (LANG et al, 2013).

31
Mais interações positivas, menos interações negativas e satisfação com os relacionamentos
sociais estão associados com a habilidade de regular e manejar as emoções (MARROQUÍN,
2011). A regulação emocional envolve os processos intrínsecos e extrínsecos responsáveis
pelo início, pelo monitoramento, pela avaliação e pela modificação das reações emocionais
(intensidade e duração). Quando as pessoas experimentam estados afetivos desagradáveis e
indesejáveis, elas podem engajar-se na autorregulação do afeto ou na regulação interpessoal
do afeto. As interações que geram afetos agradáveis desempenham um papel importante na
construção e na manutenção de conexões de alta qualidade porque as pessoas tendem a atribuí-
las ao parceiro. Emoções positivas levam os indivíduos a fazer mais julgamentos positivos
sobre a qualidade de suas relações. Afetos negativos implicam em uma avaliação mais
negativa (NIVEN; HOLMAN; TOTTERDELL, 2012).

A frequência e a intensidade da expressão emocional positiva e negativa, bem como a


qualidade das relações familiares contribuem para o clima familiar. Os padrões familiares
modelam as regras de expressão de afetos positivos e negativos, de maneira que um ambiente
coeso e com relacionamentos positivos dá um tom de aceitação. Enquanto isso, ambientes
críticos, hostis e com relações negativas desencorajam a expressão das necessidades
emocionais, diminuem a habilidade de regular a própria emoção e aumentam o desconforto
emocional (FOSCO; GRYCH, 2012). A efetividade da regulação social da emoção é
moderada pelas expectativas de proximidade emocional. A família é a principal fonte de apoio
e proximidade emocional e seus vínculos são fundamentais para oferecer um contexto que
favoreça o crescimento, o desenvolvimento, a segurança e a autonomia (FLORES JR;
BERENBAUM, 2012). A coesão familiar reflete a percepção de proximidade enquanto que a
percepção de apoio relaciona-se com a reciprocidade.

Os aspectos interpessoais da regulação emocional ajudam a explicar os mecanismos pelos


quais o suporte social influencia a saúde mental. Por exemplo, os comportamentos sociais de
indivíduos deprimidos têm consequências mal adaptativas para a própria depressão e afetam a
provisão de suporte, gerando uma dinâmica pessoa-ambiente prejudicial à saúde psíquica
(MARROQUÍN, 2011). A depressão tem sido cada vez mais caracterizada como um distúrbio
de desregulação da emoção. Há evidências de que grupos clinicamente deprimidos usam

32
estratégias menos adaptativas, mais disfuncionais e menos flexíveis do que grupos não-
deprimidos. A depressão potencializa os afetos negativos e diminui os positivos. Caracteriza-
se como uma visão negativa de si mesmo, do mundo e do futuro e por uma regulação mal
adaptativa da emoção. Essas condições relacionam-se com baixo suporte social, com menor
proximidade com outras pessoas e com menor satisfação social. A baixa percepção de suporte
pode influenciar a regulação emocional, ao limitar os recursos que o indivíduo pode ativar em
sua rede social (WERNER-SEIDLER et al, 2012).

Embora não seja uma decorrência natural do envelhecimento, a depressão é um dos


transtornos mentais mais comuns em idosos. As alterações neuropáticas e os fatores sociais
predominam como causa dos distúrbios depressivos de início tardio. As experiências de vida e
o contexto ambiental tais como os eventos de vida negativos e traumáticos, as perdas, a
doença física, a diminuição da independência, o suporte social inadequado e o isolamento
social constituem os principais fatores psicossociais de risco na etiopatogenia dos transtornos
depressivos em idosos (MARINHO, 2007). Os familiares podem perpetuar os sintomas
psiquiátricos do idoso bem como o idoso pode intensificar seus sintomas e a percepção de
disfuncionalidade familiar, em decorrência da desregulação emocional própria da depressão
(BLAZER, 2003). Sendo um sistema, a instauração de sintomas depressivos num membro
idoso e a tensão introduzida afetam as outras partes do sistema. Assim, idosos deprimidos
podem reduzir suas interações com os familiares ou podem aumentar a quantidade de
interação por meio de excessiva solicitação de ajuda, que aumenta a dependência. Quando o
idoso é o principal responsável pela manutenção da coesão familiar, a depressão pode causar
um desequilíbrio nesse funcionamento, precipitar conflitos e provocar ou aumentar a
ansiedade dos outros membros da família. Algumas famílias podem mostrar-se incapazes de
proporcionar o apoio necessário ou então se organizam de forma a manter o idoso em estado
depressivo. Ligações insatisfatórias e conflitantes e apoio excessivo podem afetar os idosos de
maneira adversa.

Indivíduos com ansiedade tendem a experimentar emoções negativas de forma incontrolável e


muitas vezes faltam habilidades necessárias para gerencia-las e regula-las (CARL et al, 2013).
Os sintomas de ansiedade, tais como o medo, a tensão excessiva e a instabilidade emocional

33
são comuns na velhice, especialmente entre mulheres idosas com funcionamento psicossocial
pobre, com menos habilidades pessoais e com maior necessidade de suporte emocional. A
combinação entre ansiedade e depressão em idosos associa-se ao agravamento do sofrimento
físico advindo de condições clínicas, ao risco de comprometimento funcional e a maior
sofrimento psíquico (STELLA, 2007).

O envolvimento social, a atividade e o suporte social protegem os idosos da depressão. As


redes sociais são importantes para a troca de recursos, para a influência social e para o contato
face-a-face, processos que beneficiam a saúde física e psicológica. A experiência de restrição
social pode interferir nas interações positivas e forçar a pessoa a envolver-se mais em trocas
negativas, o que resulta em menor bem-estar (SHERMAN et al, 2011). Além disso, a
participação social expressa-se em funcionamento mais independente na vida cotidiana, no
envolvimento em atividades e no exercício de papéis complexos relacionados ao trabalho, ao
lazer, à vida social e à vida em comunidade.

O envolvimento social é conceituado como a frequência de participação em atividades que


envolvem interações entre as pessoas, por exemplo, na velhice o envolvimento em atividades
físicas, voluntariado, socialização com a comunidade e serviços religiosos. Essas conexões
promovem o senso de propósito na vida, encorajam comportamentos positivos em relação à
saúde e estão associadas ao envelhecimento bem sucedido. Altos níveis de envolvimento
social têm efeito protetor sobre as limitações físicas e cognitivas (THOMAS, 2011).

A participação social pode ser reduzida em função de problemas de saúde e incapacidade


funcional, em decorrência das prioridades socioemocionais dos idosos ou devido a normas de
comportamento etário, a papéis de gênero e a oportunidades sociais (NERI et al, 2011). No
entanto, estar socialmente envolvido intensifica o suporte social, aumenta o bem-estar, ajuda a
manter o idoso autônomo no seu contexto sociocultural, promove um autoconceito mais
positivo e aumenta o senso de controle sobre o ambiente e sobre a própria vida. A restrição do
idoso ao ambiente doméstico tem efeitos negativos para a saúde física e cognitiva e para o
envolvimento social, e pode gerar sentimentos de solidão e desânimo. O baixo envolvimento
em atividades está associado com idade avançada e a fragilidade (NERI et al, 2013).

34
A frequência e a intimidade nos contatos, mesmo que à distancia, fortalecem as relações
familiares. A frequência dos contatos revela a efetivação do apoio recebido e o grau de
correspondência das relações interpessoais (DOMINGUES; QUEIROZ; DERNIL, 2007). Os
encontros de família são importantes para o fortalecimento dos relacionamentos e para a troca
emocional. Para que sejam uma experiência satisfatória, devem promover sentimentos de
união e de pertencimento ao grupo familiar, clima emocional de alegria, compartilhamento de
experiências e troca emocional de sentimentos positivos, e devem envolver baixo conflito
(LEMOS; SANTOS; PONTES, 2009).

A interação entre emoção, relacionamentos e saúde é central no estudo do sistema familiar dos
ou com idosos. As emoções desempenham um papel fundamental na comunicação de
informações importantes sobre os estados internos a outras pessoas. Saber como a outra pessoa
sente é crucial para coordenar as interações sociais e responder adequadamente às suas
necessidades (ENGLISH et al, 2012). As emoções positivas são centrais à coesão e ao apoio
enquanto que os sentimentos negativos, que podem gerar estresse, agressividade ou mudança,
caracterizam o conflito (TEODORO, 2006).

Voltar-se para outros significativos em tempos de necessidade, como os idosos


frequentemente fazem com seus familiares, reflete uma forma ativa de enfrentamento. No
entanto, o envolvimento dos idosos com sua rede social nem sempre traz efeitos positivos. As
famílias podem não estar preparadas para expressar emoções negativas e positivas de forma
adequada, nem para responder apropriadamente a situações de estresse. Podem criar um
ambiente adverso à expressão de liberdade e autonomia de seu membro familiar mais velho
(REIS et al, 2011). Podem ser excessivamente críticas, negligentes, exigentes, insensíveis e
desrespeitosas, com prejuízos à saúde e ao bem-estar dos idosos. Em outros casos,
comportamentos de superproteção que impedem o idoso de engajar-se em atividades
produtivas e de serem autônomos podem reforçar os comportamentos de dependência (ROOK
et al, 2007).

Os vínculos emocionais dentro da família são fundamentais para oferecer ao indivíduo um


contexto favorável ao crescimento, ao desenvolvimento, à segurança e à autonomia. Os pais

35
passam grande parte de sua vida convivendo com filhos adultos e esse relacionamento é
distinto de qualquer outro devido à longa história compartilhada. Os laços entre pais e filhos
não só envolvem uma grande quantidade de contatos e trocas de apoio, mas também intensa
proximidade e emoções positivas e negativas. Três perspectivas teóricas dominam a literatura
sobre a qualidade emocional da relação pais-filhos: a teoria da solidariedade (BENGTSON;
ROBERTS, 1991), a perspectiva do conflito (CLARK et al, 1999) e a teoria da ambivalência
(LUECHER; PILLEMER, 1998).

Bengtson e Roberts (1991) criaram uma tipologia com seis dimensões explicativas da
solidariedade intergeracional: associativa, afetiva, funcional, normativa, consensual e
estrutural. O modelo foca a coesão familiar como um importante componente das relações
familiares, particularmente para aumentar o bem-estar na velhice. No Quadro 1 podem ser
observadas as definições e exemplos de interações de cada uma das dimensões.

Posteriormente o modelo passou a considerar a dimensão conflito. De fato, a maioria dos pais
e dos filhos relata algum nível de tensão em suas relações. As tensões podem derivar da
competição entre necessidades, do excesso ou da escassez de contatos, de problemas na
expressão do poder, de diferenças de personalidades ou de conflitos não resolvidos no passado
(FINGERMAN; BIRDITT, 2011). O conflito é um aspecto normativo das relações familiares,
mas pode afetar a maneira pela qual os familiares percebem uns aos outros e a sua disposição
para dar assistência. Dificuldades financeiras e problemas de saúde são fatores que podem
gerar muita tensão, assim como as escolhas e o estilo de vida dos filhos adultos e os padrões
de comunicação e interação com os pais (CLARKE et al, 1999). O conflito aumenta a
ansiedade e afeta significativamente o funcionamento familiar, principalmente quando a
coesão é baixa. Interações negativas e conflituosas podem indicar dificuldade em equilibrar as
necessidades individuais e as da unidade familiar (PRIEST; DENTON, 2012).

36
Quadro 1: Tipologia da solidariedade intergeracional (Bengtson; Roberts, 1991)
Tipo de solidariedade Definição Indicadores

Associativa Tipo e frequência das Face-a-face, telefone, e-mail; festas,


interações e das atividades. comemorações, visitas rotineiras.

Afetiva Tipo e grau de sentimentos Afeição, calor, respeito, proximidade,


positivos e grau de confiança e compreensão recíprocos.
reciprocidade.

Consensual Nível de concordância em Harmonia ou conflito.


valores, atitudes e crenças.

Funcional Nível de ajuda e de Ajuda material, afetiva, instrumental e


intercâmbio de recursos. informativa. Unidirecional x recíproca.

Normativa Força do compromisso com o Importância atribuída à família e aos


desempenho de papeis e papeis intergeracionais.
obrigações familiares.

Estrutural Número, tipo e proximidade Arranjos domiciliares, corresidência,


geográfica dos membros da tamanho da família, saúde dos membros.
família.

As mulheres investem nos relacionamentos sociais e na coesão entre as gerações, planejando


eventos familiares, oferecendo suporte e mantendo as conexões. De forma similar, as filhas
são mais envolvidas emocionalmente nos seu relacionamento com os pais. Em decorrência
desses padrões de gênero, as mulheres têm maior probabilidade de relatar conflitos e
sobrecarga do que os homens. Solidariedade e conflito não são dimensões ortogonais, mas
podem combinar-se em padrões em que variam as suas intensidades, por exemplo, alta
solidariedade e alto conflito ou baixa solidariedade e baixo conflito (LOWENSTEIN, 2007).
Porem, conflitos intensos constituem-se mais como riscos do que como oportunidades à
solidariedade intergeracional (SECHRIST et al, 2012; SZYDLIK; 2008).

O modelo da ambivalência oferece um quadro de referência para o entendimento da


complexidade dos aspectos positivos e negativos das relações intergeracionais. Essa
ambivalência tem contornos sociológicos e psicológicos. De um ponto de vista sociológico,
emergem sentimentos e cognições conflitantes, quando a estrutura social não provê

37
orientações claras para os comportamentos ou relacionamentos interpessoais. O desempenho
de papéis pode envolver normas ou expectativas incompatíveis que causam emoções ou
crenças contraditórias (por exemplo, quando a necessidade de trabalhar compete com a
necessidade de prover cuidado a pais idosos). As mulheres têm maior probabilidade de ocupar
papéis que geram normas conflitantes (FINGERMAN; BIRDITT, 2011). A ambivalência
psicológica refere-se à experiência simultânea de sentimentos positivos e negativos (por
exemplo, amor e irritação). É diferente da confusão ou indiferença, que envolvem baixos
níveis de sentimentos positivos e negativos (SILVERSTEIN; GIARUSSO, 2010). O
relacionamento pais-filhos pode gerar sentimentos ambivalentes para os pais, quando há
contradição entre suas normas e expectativas e suas emoções, especialmente em relação aos
filhos problemáticos e que não são ou não foram bem-sucedidos profissional ou afetivamente.
A ambivalência está associada a maior risco de depressão, pior qualidade de vida e pior saúde,
principalmente quando os idosos necessitam de suporte dos filhos (BIRDITT; FINGERMAN;
ZARIT, 2010).

O modelo de ambivalência complementa em vez de competir com o modelo solidariedade-


conflito, sendo conceitualmente adequado para explorar sentimentos contraditórios
(LOWENSTEIN, 2007). No entanto, baixo afeto e ambivalência nos relacionamentos
intergeracionais têm sido associados a consequências negativas e predizem pior qualidade de
vida na velhice (SILVERSTEIN; GIARUSSO, 2010). Os relacionamentos ambivalentes são
mais imprevisíveis e podem não prover suporte quando ele é mais necessário. Rook et al
(2012) observaram associações entre relações ambivalentes, pior saúde e maior incapacidade
funcional em idosos. Ao mesmo tempo, nessa pesquisa, laços problemáticos (interações
exclusivamente negativas) apareceram associados com pior saúde psicológica e maiores
desafios ao enfrentamento. No estudo publicado por Lowenstein (2007), a solidariedade
(afetividade e consenso) e a reciprocidade nas trocas sociais foram os preditores mais
robustos de qualidade de vida, seguidas pela ambivalência. Na pesquisa longitudinal de
Hogerbrugge e Komter (2012) não foi observada relação entre a quantidade de conflitos nas
relações pais-filhos e os níveis de afetividade e solidariedade normativa ou estrutural no longo
prazo. Porem, os conflitos associaram-se com os padrões de solidariedade associativa e
funcional no longo prazo. O modelo original de solidariedade explicou melhor os

38
relacionamentos intergeracionais e as alterações nas relações familiares do que o da
ambivalência. Para os autores, o contato, a afetividade e as trocas de suporte são centrais à
solidariedade intergeracional, enquanto que o conflito parece ser exógeno ao modelo.

Receber suporte emocional também tem custos, que dependem de três fatores. Primeiro, da
bagagem cultural, pois o grau em que a independência ou a interdependência é sancionada e
usada para organizar as práticas e significados no cotidiano varia entre as culturas. O segundo
fator refere-se ao estresse percebido por parte de quem recebe o suporte. Em contextos de
valorização da interdependência, as pessoas que precisam de cuidados podem ficar
preocupadas com o ônus de quem está oferecendo o suporte. Ficam menos preocupadas
quando o apoio é necessário e justificável. Mesmo em situações de real dificuldade, nas quais
a independência é mais valorizada, receber suporte pode ser visto como um sinal de
incapacidade e incompetência, o que afeta o senso de autoeficácia de quem recebe. O terceiro
fator diz respeito à personalidade. Quanto maior o neuroticismo, mais sensibilizado o
indivíduo ficará para os custos de receber suporte e menos positiva será a relação entre ter
ajuda e a saúde. Para muitos idosos, oferecer suporte é mais importante do que receber,
porque os envolve em comportamentos sociais produtivos e fortalece a autoestima (PARK et
al, 2013; THOMAS, 2010).

Para serem positivas, as trocas de suporte social requerem a comunicação clara das
necessidades e a capacidade do provedor de suporte para atendê-las. A não compreensão ou a
má comunicação podem interferir tanto na apropriada provisão de suporte quanto na
percepção da adequação do suporte recebido. A comunicação é um condutor vital na provisão
de suporte e interfere na satisfação relativa à organização e a reorganização de papeis, na
coesão e nos conflitos familiares. O suporte familiar bem intencionado, mas equivocado, pode
resultar em superproteção ou em aconselhamento negativo e mal informado. A superproteção
é um aspecto problemático do suporte familiar. Nessa situação, o idoso é excessiva e
desnecessariamente ajudado, induzido a ser dependente, protegido do contato com qualquer
estresse e é geralmente infantilizado. Cimarolli, Reinhardt, Horowitz (2006) observaram que
alto nível de superproteção percebido por idosos com incapacidade visual crônica associou-se

39
com menor ajustamento, menor adaptação e menor domínio sobre o ambiente, bem como com
nível mais alto de incapacidade funcional.

Embora a maioria dos idosos desfrute de boas condições de saúde, a dependência é um


elemento importante das relações pais idosos-filhos adultos ou idosos. Quando o cuidado se
faz necessário, manifestam-se expectativas que devem ser atendidas em nome da saúde das
relações (SECHRIST et al, 2012). A crescente dependência dos pais pode levar a um
desequilíbrio de poder entre as gerações e ao conflito (WETHINGTON; DUSH, 2007).
Conquanto a concepção geral seja de que a família é uma facilitadora das condições para o
equilíbrio emocional do idoso, ela pode atuar no sentido oposto, exercendo maus tratos e
abusos contra os idosos que necessitam de cuidados. Essas ocorrências são definidas como
atos isolados ou repetidos, ou ainda, como a falta de ações apropriadas dentro de
relacionamentos em que há expectativa de confiança, causando dano ou sofrimento aos idosos.
Um significado correlato é o do uso que os familiares fazem do poder ou do controle físico ou
psicológico para causar dano ou ameaçar a integridade dos idosos. Entre os perpetradores de
abusos e maus tratos contra idosos figuram em primeiro lugar os familiares, uma vez que a
grande maioria dos idosos são cuidados em família, mesmo em países em que há
disponibilidade de instituições domiciliares (BRITO; FALEIROS, 2009).

O abuso contra idosos é uma causa importante de lesões, doenças, perda de produtividade,
isolamento, depressão e desespero (JOHANNESEN; LOGIUDICE, 2013). Trata-se de
fenômeno universal, culturalmente enraizado e de múltiplas dimensões, cuja definição e
normatização dependem de valores e costumes culturais e de fatores contextuais que definem
o lugar do idoso na estrutura social. É um problema de saúde publica em âmbito mundial
(WHO, 2008). No Quadro 2 é apresentada uma tipologia das formas de abusos e maus tratos a
idosos segundo Tatara, Thomas e Cyphers (1998).

40
Quadro 2: Tipos de abuso e maus tratos a idosos.
Tipo Descrição Exemplos
Físico Uso de força física com potencialQualquer tipo de punição física: machucar, bater
de machucaduras ou fraturas, dor com objeto, esmurrar, empurrar, derrubar, estapear,
física ou deficiência física. beliscar, cutucar, queimar, restringir movimentos,
aprisionar ou administrar remédios impróprios ou
em excesso.
Sexual Contato sexual de qualquer tipo, Obrigar um idoso demenciado a participar
não consentido pelo idoso ativamente ou como observador em atos sexuais ou
em conversas libidinosas.

Emocional ou Infringir angústia, dor, desgosto, Coerção, ridicularização, criticismo, ofensas morais,
físico medo, humilhação, culpa ou acusações, culpabilização, silêncio, “gelo”.
vergonha a um idoso.
Financeiro ou Uso ilegal ou impróprio das Exploração financeira exercida por meio de coerção,
material reservas financeiras, dos ativos privação física e emocional e chantagem financeira
ou das propriedades do idoso ou afetiva para a realização de empréstimos; a
cessão de talões de cheques, de senha de cartões
bancários e de benefícios; a assinatura em
documentos de compra e venda e em procurações.
Representada também por roubo de documentos e
senhas e por falsificação de assinatura. Alienação de
bens e fraudes com a ajuda de advogados.
Convencer ou obrigar o idoso a participar de
sorteios, loterias, pirâmides e correntes financeiras
fraudulentas. Ludibria-lo com base em sua boa fé.
Abandono Renúncia ou desistência de Deixar um idoso dependente só ou sem atendimento,
alguém que tem obrigação legal prejudicando sua saúde e seu bem-estar.
de cuidar do idoso.
Negligência Falta de cumprimento de Privar o idoso de comida, roupas, conforto,
responsabilidades e deveres para medicação essencial.
com idosos.
Autonegligência Comportamentos de idosos Autonegligência: negar-se ativamente a tomar
cognitivamente prejudicados que remédios e a submeter-se a tratamentos
ameaçam sua própria saúde ou reabilitadores; esconder remédios ou joga-los fora;
segurança. Incapacidade de beber água contaminada; deixar os bicos do gás do
desempenhar atividades de fogão abertos; estocar lixo e encher a casa de
autocuidado, incluindo animais encontrados nas ruas.
alimentação, abrigo, medicação e Comportamentos autodestrutivos: excesso de
segurança. Diferente de consumo de álcool, consumo de substancias
comportamentos autodestrutivos químicas, abuso de remédios, excessos
assumidos intencionalmente por comportamentais, envolver-se em jogos de azar.
adulto cognitivamente íntegros,
sabendo que prejudicam sua
saúde e segurança.

Os antecedentes familiares moderam a qualidade do relacionamento entre avós, pais e netos. O


exercício do papel de avó é uma parte importante do ciclo de vida familiar, tem impacto sobre
como a velhice é vista e sobre a identidade dos idosos (KAUFMAN; ELDER JR, 2003). Os
estudos sobre a relação entre avós e netos mostram que eles interagem uns com os outros com
frequência, tendem a ser emocionalmente próximos e apresentam uma relação satisfatória
41
(CARDOSO, 2011; DREW; SILVERSTEIN, 2007). Porém, estes relacionamentos não estão
imunes às tensões, pressões e disfunções enfrentadas pelas famílias contemporâneas, e estão
sujeitos à interferência da geração intermediária que os liga, por exemplo, divórcio, doença e
migração (CERVENY; MACEDO; SCHALCH, 2012).

Os avós tendem a funcionar como elos entre as gerações, transmissores de valores e tradições,
figuras de autoridade que auxiliam os pais na socialização dos filhos, cuidadores temporários,
exemplos ou mentores, ou apoiadores em momentos de crise. Ser avô ou avó oferece
oportunidades de reavaliação da própria vida e de realização vicária através dos netos (DIAS,
2008). As diferenças entre avós e avôs parecem confirmar papéis educacionais tradicionais.
As avós em comparação com avôs geralmente gastam uma maior quantidade de tempo e
realizam mais atividades junto com seus netos e são mais envolvidas em atividades simbólicas
baseadas na linguagem (por exemplo, contando contos de fadas, histórias ou anedotas sobre a
própria família); enquanto que os avôs se envolvem mais com atividades físicas com os netos,
como jogos e práticas ao ar livre (SMORTI; TSCHIESNER; FARNETI, 2012). Todas essas
atividades conjuntas indicam a efetivação de trocas afetivas que promovem maior
proximidade emocional e do exercício de um papel considerado valioso, importante e desejado
na velhice (MAHNE; MOTEL-KLINGEBIEL, 2012).

De uma perspectiva sistêmica e evolutiva, os avós exercem grande influência na vida dos
netos, mas a recíproca é verdadeira. A saúde mental dos avós é afetada pela qualidade do
relacionamento com os netos, assim como estes se beneficiam da proximidade emocional dos
avós (HAYSLIP; PAGE, 2012). Avós que perderam contato com seus netos experimentam um
impacto negativo na sua saúde emocional (DREW; SILVERSTEIN, 2007). Jovens de famílias
divorciadas indicam que suas relações com suas avós maternas são mais salientes para sua
adaptação do que jovens de famílias intactas, o que sugere que os laços desenvolvidos podem
afetar positivamente o funcionamento psicológico dos netos após o divórcio dos pais
(HENDERSON et al, 2009).

Quando os avós não são os principais responsáveis pelos netos, a relação entre as partes torna-
se de uma natureza mais afetuosa e é por esta razão que parecem mais generosos e tolerantes

42
do que os pais. Já os avós que criam netos podem se sentir isolados e confusos no exercício do
papel. Os sentimentos podem ser ambivalentes, envolvendo negatividade mesclada com afeto,
assistência, aprendizagem e alegria. É comum avós cuidadores experimentarem esgotamento,
perda de liberdade, ansiedade em relação à responsabilidade, raiva, rancor e medo, bem como
apresentarem comportamentos como mimar excessivamente os netos e não saber impor limites
(DIAS, 2008).

Marangoni e Oliveira (2010) investigaram relações intergeracionais entre avós cuidadores e


seus netos adolescentes em camadas sociais médio-baixas e baixas do Distrito Federal, Brasil.
Os resultados evidenciaram o papel ativo dos avós no processo de desenvolvimento dos netos,
a sua importância enquanto provedores de suporte emocional e financeiro e sua posição
enquanto referência adulta mais importante. O desempenho do papel de cuidador dos netos
frequentemente não era escolhido, mas imposto pela realidade sociofamiliar, envolvia
preocupações e sobrecarga, mas também gratificação. O estudo apontou conflitos
intergeracionais e dificuldades de entendimento mútuo das necessidades e expectativas de
cada geração. Os avós identificaram a atualidade como um tempo de violência, medo e
insegurança, que ocasionam grande preocupação e vigilância por parte deles. A realidade
sociofamiliar suscitou lembranças sobre as experiências familiares dos avós, geralmente
permeadas por sofrimento, rigidez, autoridade e unidirecionalidade.

Para os avós e para o bem-estar familiar, a coesão parece ser o elemento mais importante das
relações intergeracionais. As diferenças nas percepções do funcionamento familiar refletem o
tipo de cuidado oferecido aos netos, estresses e tensões familiares, recursos e características
das avós. Apesar de muitos avós cuidadores considerarem seu papel recompensador, sua
complexa situação os coloca em maior risco de perceber problemas no funcionamento
familiar. Avós cuidadoras têm mais problemas de saúde e depressão e têm maior
probabilidade de viver na pobreza do que avós não cuidadoras. Netos criados por avós têm
maior risco de apresentar problemas comportamentais e emocionais (MUSIL et al, 2010).

O relacionamento dos idosos com seus filhos adultos e netos envolve grande complexidade
emocional. A qualidade dessas relações está associada às suas condições de saúde física e

43
mental. Essas características estão refletidas tanto na estrutura domiciliar quanto na percepção
do seu funcionamento. A maneira pela qual a família consegue otimizar seus recursos com
vistas ao provimento de cuidado aos idosos envolve as escolhas que os membros familiares
fazem de acordo a estrutura da família, o contexto cultural, político e econômico, e as normas
de piedade filial (percepção moral de obrigação) (SILVERSTEIN, 2006). Mesmo que grande
parte dos idosos tenha uma boa saúde, a doença e a dependência são uma grande preocupação,
pois podem afetar o equilíbrio da estrutura familiar e sua capacidade assistencial.

5. CONCLUSÕES

O contexto familiar é dinâmico e interdependente. Seu funcionamento ao longo do tempo


reflete a capacidade que os indivíduos têm de se adaptar aos desafios e limitações do ambiente
social e aos eventos dos cursos de vida individual, familiar e societal.

Na atualidade, há maior diversidade e a fluidez nas configurações familiares e no


funcionamento das famílias de modo geral, e das famílias com membros idosos em particular.
Apesar da heterogeneidade dos arranjos familiares, em todo o mundo, os idosos têm na família
o locus por excelência para convivência e cuidado. Estes beneficiam seu bem-estar
psicológico, sua saúde e a continuidade do seu desenvolvimento na última fase do seu curso de
vida. Também beneficiam a continuidade da família como instituição social responsável pela
socialização e pela proteção aos seus membros mais jovens e pelos cuidados dedicados aos
seus membros mais velhos. A solidariedade entre as gerações é um princípio basilar da vida
social e a família é seu mais forte motor.

Há escassez de dados brasileiros sobre o funcionamento de famílias com idosos, levando em


conta as condições de saúde física e psicológica destes últimos. Não estão disponíveis dados
de pesquisa realizadas com populações residentes em regiões com nível de desenvolvimento

44
socioeconômico baixo e intermediário e suas demandas especificas sobre a estrutura e a
dinâmica da família com membros idosos.

A ampliação de conhecimentos sobre como se dá a adaptação dos idosos dentro das famílias
de que fazem parte tem potencial para beneficiar várias áreas de pesquisa e de atuação
profissional. A teorização sobre o desenvolvimento humano e sobre a família nos anos
avançados pode ser favorecida, assim como as teorias sobre a sociologia da família, a
demografia e a epidemiologia. As políticas públicas e as intervenções em saúde e em proteção
social podem auferir ganhos da ampliação dos conhecimentos sobre as necessidades e as
expectativas dos idosos e de suas famílias e, com eles, expandir os atuais limites de sua
atuação. A psicologia clínica e a psicologia da família podem derivar sugestões úteis à
intervenções que tenham como foco a melhoria da qualidade de vida subjetiva e da
autorregulação cognitivo-emocional dos idosos que vivem nos diversos arranjos familiares
propiciados pelas atuais condições de convivência entre as gerações.

45
UM ESTUDO SOBRE A CONFIGURAÇÃO E O FUNCIONAMENTO DE FAMÍLIAS
COM IDOSOS QUE APRESENTAM DIFERENTES CONDIÇÕES PSICOLÓGICAS E
DE SAÚDE: CONTEXTO, OBJETIVOS E MÉTODO

O presente estudo faz parte da pesquisa “Desenvolvimento familiar e o idoso: rede de suporte
social, dinâmica familiar e a convivência intergeracional”, destinado a investigar o
funcionamento de famílias com idosos e sua rede de suporte informal e formal. O estudo foi
realizado com base em amostra probabilística representativa dos domicílios com idosos
cadastrados na Unidade Básica de Saúde (UBS) CENTROSAJ do município de Santo Antônio
de Jesus – BA. O contexto da pesquisa, os objetivos da tese e a metodologia empregada serão
descritas a seguir.

1. O CONTEXTO

O município de Santo Antônio de Jesus – BA é localizado no Recôncavo Baiano e, de acordo


com dados do IBGE 2010, tem população total de 90.985 habitantes, área de unidade
territorial de 261.348 Km² e densidade demográfica de 348,14 hab/km². Situa-se às margens
da rodovia BR 101. Dista 187 km da capital, Salvador, por via terrestre, e 90 km por via
marítima (BRASIL, 2011).

As condições socioeconômicas desta localidade da região do Nordeste brasileiro inclui um


Produto Interno Bruto (PIB) per capta de R$ 8.142,94 e Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH-M) de 0,7, considerado alto (dados sobre IDH: PNUD, 2010; sobre o PIB per capta:
IBGE, 2008). O comércio e o serviço tornaram-se a principal forma de economia a partir da
década de 1970, quando houve uma migração da população rural para a cidade, sendo que sua
estrutura setorial está distribuída da seguinte forma: 5,62% para agropecuária, 21,30% para
indústria e 73,08% para serviços e comércio.

No que tange ao setor saúde, o município de Santo Antonio de Jesus exerce um papel
importante, pois nucleia a microrregião leste do Estado da Bahia, que é sede da 4ª DIRES
46
(Diretorias Regionais de Saúde). Conforme explicitado no Plano Diretor de Regionalização da
Assistência à Saúde, versão 2002, o Estado da Bahia foi subdividido em sete macrorregiões de
saúde, que correspondem a grandes áreas com características físicas e socioeconômicas
relativamente peculiares. A região Nordeste do Estado da Bahia compreende o litoral norte e o
recôncavo, onde está localizada a Região Metropolitana de Salvador. Nela estão situados cento
e um municípios distribuídos por dez micro regiões, com uma população total de 5.265.302
habitantes, que representam cerca de 39,8% da população do Estado (BAHIA, 2004).

A cidade de Santo Antônio de Jesus conta com 20 unidades de saúde na zona urbana, sendo a
Unidade Básica de Saúde (UBS) CENTROSAJ a maior do município, localizada no bairro
Centro. Segundo os dados do SIAB (Sistema de Informação da Atenção Básica) 2010, estão
cadastradas 2.754 famílias que somam 9.234 pessoas, sendo 1344 idosos, o que representa
14,5% dos cadastradas nessa UBS, segundo a faixa etária. Dentro da zona urbana da cidade, o
CENTROSAJ tem a maior concentração de idosos, totalizando 16,8% das pessoas com idade
igual ou superior a 60 anos cadastradas nas 20 Unidades Básicas de Saúde (UBS) da zona
urbana da cidade (n=7983).

2. OBJETIVOS

Foi estabelecido como objetivo geral o cumprimento do seguinte propósito de pesquisa:


tomando-se como base autorrelatos dos idosos, investigar a configuração familiar (tipo de
arranjo familiar, chefia familiar e contribuição dos idosos para o sustento da família) e o
funcionamento familiar (satisfação com os relacionamentos familiares e clima familiar),
considerando-se o gênero, a idade, as condições psicológicas indicadas por depressão e
ansiedade e as condições de saúde indicadas por desempenho funcional, por número de
doenças, sinais e sintomas e pelo envolvimento social dos idosos.

O estudo estabeleceu os seguintes objetivos específicos:

1. Analisar relações entre a configuração familiar, o gênero, a idade e as condições


psicológicas e de saúde dos idosos.

47
2. Verificar relações entre a satisfação com os relacionamentos familiares, o gênero, a
idade, as condições psicológicas e de saúde dos idosos e a configuração familiar.

3. Identificar relações entre o clima familiar, o gênero, a idade, as condições psicológicas


e as condições de saúde dos idosos e a configuração familiar.

4. Estudar relações entre as características dos idosos em termos de idade, gênero,


condições de saúde física e psicológica e a configuração familiar, sua satisfação com
os relacionamentos familiares e sua percepção sobre o clima familiar.

3. MÉTODO

Procedimentos de recrutamento

Com a ajuda de agentes comunitários de saúde treinados, foram feitos a identificação e o


arrolamento dos domicílios com idosos localizados em todas as 21 micro-áreas da região da
zona urbana abarcadas pela UBS CENTRSAJ do município de Santo Antônio de Jesus. Dentre
os domicílios com idosos identificados, foram sorteados 134 (referente ao quantitativo total de
idosos em relação à população atendida pela UBS, para um nível de confiança de 90% e para
um erro amostral de 5%) para efeito de recrutamento. Duzentos e sete domicílios com idosos
foram visitados por entrevistadores treinados na abordagem dos idosos e na aplicação dos
instrumentos da pesquisa. Dentre esses 207, sete (3,4%) não cumpriam um ou mais critérios
de elegibilidade.

Os critérios de elegibilidade para participação dos idosos na pesquisa foram os seguintes:


1. Ter idade igual ou superior a 60 anos.
2. Ter residência permanente na subárea de saúde e no domicilio familiar.
3. Aceitar participar da pesquisa após tomar conhecimento do processo.
48
Os critérios de exclusão aplicados por ocasião do recrutamento foram os seguintes:
1. Déficit auditivo ou visual grave.
2. Dificuldades de expressão verbal.
3. Dificuldades de compreensão.
4. Confusão mental e desorientação temporal e espacial.
5. Estar temporária ou permanentemente acamado.
6. Apresentar estado de saúde física que impossibilitasse a participação na pesquisa.

Quando os endereços não eram encontrados, ou quando os idosos não eram localizados por
motivos de viagem, falecimento, doença, internação ou mudança de endereço, ou ainda,
quando não atendiam aos critérios de elegibilidade, exclusão e inclusão, buscava-se outro
endereço na mesma rua. Esse outro endereço era indicado pelo agente comunitário de saúde
ou por pessoas residentes na micro-área.

O critério de inclusão na amostra baseou-se no desempenho dos idosos no Mini-Exame do


Estado Mental (MEEM) (FOLSTEIN, FOLSTEIN, MCHUGH, 1975; BERTOLUCCI et. al.,
1994), um teste de rastreio de demências comumente usado em estudos populacionais. Foram
adotadas as notas de corte apresentadas por Brucki et al (2003) para cada faixa de escolaridade
menos um desvio padrão. As notas de corte são: 17 para os analfabetos, 22 para idosos com
escolaridade entre 1 e 4 anos; 24 para os com escolaridade entre 5 e 8 anos e 26 para os que
tinham 9 anos ou mais de escolaridade. O teste contem 30 itens pertencentes aos domínios
orientação temporal e espacial, memória, cálculo, linguagem e praxias e é de rápida aplicação
(7 a 12 minutos). Sua aplicação foi o primeiro procedimento da fase de entrevista que se
seguiu imediatamente ao recrutamento dos idosos nos domicílios, como será explicado mais
adiante.

No mesmo domicílio, poderia haver mais de um idoso. Quando mais de um manifestava


interesse em participar, a escolha era feita com base na maior pontuação obtida no MEEM.
Aos idosos que não preenchiam o critério de inclusão pela pontuação no MEEM era explicado
que alguns participantes iriam ser submetidos a uma entrevista mais longa e outros a uma
entrevista mais curta, porque isso fazia parte do planejamento. Sessenta e seis dentre os 200

49
idosos (31,9%) pontuaram abaixo da nota de corte no MEEM. A amostra final foi constituída
por 134 idosos.

Caracterização demográfica e socioeconômica dos idosos participantes

A Tabela 1 a seguir apresenta os dados sobre a amostra obtida no estudo (n=134), segundo as
variáveis demográficas (gênero, faixa etária, cor, status conjugal) e socioeconômicas
(escolaridade, renda familiar, trabalho e aposentadoria, propriedade da residência).

Tabela 1: Distribuição das variáveis sociodemográficas da amostra do Estudo Configuração e


funcionamento de famílias com idosos que apresentam diferentes condições psicológicas e de
saúde. Idosos, Santo Antônio de Jesus-BA, 2011.
Variáveis Categorias N %

Gênero Masculino 30 22,4


Feminino 104 77,6
Grupos de idade 60-74 89 66,4
75+ 45 33,6
Estado civil Solteiro 15 11,2
Casado 46 34,3
Viúvo 61 45,5
Divorciado 12 9,0
Cor ou raça Branca 40 29,9
Negra 40 29,9
Parda 52 38,8
Amarela 02 1,5
Trabalho Sim: Atividade informal 20 14,9
Sim: Atividade formal 07 5,2
Não 107 79,9
Aposentadoria ou Pensão Aposentado: Sim 101 75,4
Pensionista: Sim 20 14,9
Não 13 9,7
Escolaridade Analfabeto 47 35,1
Ensino Fundamental incompleto 67 50,0
Ensino Fundamental completo 07 5,2
Ensino médio incompleto 06 4,5
Ensino médio completo 04 3,0
Superior 03 2,2
Propriedade da residência Sim 107 79,9
Não 27 20,1
Renda familiar 1.0-2.0 SM 101 75,4
(em faixas de SM) 2.1-4.0 SM 28 20,9
4.1-8.0 SM 03 2,2
>8 SM 02 1,5

50
Aspectos éticos

A pesquisa “Desenvolvimento familiar e o idoso: rede de suporte social, dinâmica familiar e a


convivência intergeracional”, foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade
Maria Milza - FAMAM localizada no município de Cruz das Almas – Bahia (protocolo no.
034/2011). Desta forma, este estudo está de acordo com o preconizado pela Resolução nº.
196/96, que objetiva assegurar os direitos e deveres referentes à comunidade científica, aos
sujeitos da pesquisa e ao Estado.

Os participantes foram informados acerca dos objetivos da pesquisa e sobre o direito à opção
individual de participar ou não e foram certificados sobre o sigilo que seria mantido em
relação aos seus dados individuais e à sua identidade. Após a resposta afirmativa em
participar, era solicitado que cada idoso assinasse um Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE), de acordo com as diretrizes da resolução 196/96 do Conselho Nacional
de Saúde (CNS), do Ministério da Saúde do Brasil. Foram explicados os benefícios que a
pesquisa trará para o esclarecimento dos fatores que podem interferir positivamente ou
negativamente na qualidade de vida de idosos e a forma como a pesquisa aconteceria, visando
a salvaguardar os direitos dos sujeitos envolvidos. O Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido foi redigido em duas vias, uma entregue aos participantes e a segunda arquivada
pelos pesquisadores. Esse documento informava o nome do coordenador da pesquisa e
oferecia um numero para contato em caso de duvida e um numero do comitê de ética da
universidade, para eventuais reclamações. Ao fim da coleta dos dados, os instrumentos
respondidos foram guardados em um envelope sob a responsabilidade dos pesquisadores.

Procedimentos de coleta de dados

Logo depois da assinatura do TCLE e antes da aplicação do MEEM, o entrevistador solicitava


ao idoso que ambos se dirigissem a um local da casa que pudesse proporcionar maior
privacidade e tranquilidade e onde não ocorressem interrupções devido à passagem de pessoas
ou ao ruído do telefone e de outros equipamentos. Uma vez localizado esse local e uma vez

51
acomodados ele e o idoso, pedia licença para começar a entrevista, que, como dito acima,
incluía a aplicação do MEEM.

A coleta de dados durou de duas a três visitas de duas horas cada uma, em média, dependendo
da disposição de cada idoso. Optou-se por este procedimento porque a avaliação proposta
neste estudo é extensa, mas também era fundamental que todos os instrumentos fossem
respondidos adequadamente para o cumprimento dos objetivos propostos e para que os idosos
não se cansassem.

Variáveis e instrumentos

Os entrevistadores compareceram às sessões de coleta de dados de posse de um formulário


impresso com as questões, caneta, formulário de registro e crachá com sua fotografia e com o
logotipo da Universidade. No Quadro 3 são apresentadas as variáveis e os instrumentos
utilizados, selecionados para o presente estudo:

Quadro 3: Variáveis e instrumentos. Estudo Configuração e funcionamento de famílias com


idosos que apresentam diferentes condições psicológicas e de saúde. Idosos, Santo Antônio de
Jesus-BA, 2011.
Variáveis de interesse Instrumentos

Sociodemográficas Questionário de informações


Idade e sexo. sociodemográficas. Anexo 1

Configuração familiar Questionário com itens de resposta


Arranjo de moradia, chefia familiar, contribuição do idoso estruturada pelo pesquisador.
para o sustento da família. Anexo 1

Condições de saúde

Questionário de doenças e de sinais e


Número de doenças autorrelatadas que, segundo o idoso,
sintomas auto-relatados (NERI;
foram diagnosticadas pelo médico no último ano;
GUARIENTO, 2011). Anexo 2
problemas de saúde autorrelatados no último ano.

Independência funcional para ABVDs


INDEX de Independência nas
6 itens para ABVDs com três possibilidades de respostas
Atividades de Vida Diária de Katz
de autorrelato sobre ajuda necessária para: banho, vestir-
(KATZ et al, 1963; LINO et al,
se, toalete, transferência, controle esfincteriano e
2008). Anexo 3
alimentação (nenhuma ajuda, ajuda parcial ou ajuda total).
Continua

52
Continuação do Quadro 3

Independência funcional para AIVDs Escala de Lawton (LAWTON;


7 itens para AIVDs com três possibilidades de respostas de BRODY, 1969; BRITO; NUNES;
autorrelato sobre ajuda necessária para: telefonar, usar YUASO, 2007). Anexo 4
transportes, compras, cozinhar, serviços domésticos, uso
de medicação, manejo de dinheiro- nenhuma, parcial ou
total.
Questionário com itens de resposta
Envolvimento social (participação em atividades físicas, estruturada pelo pesquisador.
em centro de convivência, na comunidade e religiosas). Anexo 1

Status cognitivo Mini-Exame do Estado Mental


Teste de rastreamento e permite uma avaliação global do (FOLSTEIN, FOLSTEIN,
funcionamento cognitivo. É composto por uma avaliação MCHUGH, 1975; BERTOLUCCI et.
objetiva da orientação, memória, cálculo, linguagem e al., 1994; BRUCKI et. al., 2003).
praxias mediante 30 itens. Anexo 5

Condições Psicológicas
Sintomas depressivos
15 perguntas objetivas (sim ou não) a respeito de como o Escala de Depressão Geriátrica –
idoso tinha se sentido durante a última semana. Pontuação GDS (YESAVAGE et al, 1983;
entre 0 e 5 se considera normal, 6 a 10 indica depressãoALMEIDA; ALMEIDA, 1999).
leve e 11 a 15 depressão severa. Anexo 6
Ansiedade
21 questões sobre como o indivíduo tem se sentido na Inventário de ansiedade de Beck -
última semana, expressas em sintomas comuns de BAI (CUNHA, 2001). Utilização
ansiedade. Cada questão apresenta quatro possíveis restrita aos psicólogos e por isso não
respostas, e a que se assemelha mais com o estado mental foi anexado no trabalho.
do indivíduo deve ser sinalizada. Pontuação entre 11 e 19
se considera ansiedade leve, de 20 a 30, moderado e de 31
a 63 grave.

Funcionamento Familiar

Satisfação com os relacionamentos familiares


Satisfação com os domínios: adaptação, companheirismo, APGAR de Família (SMILKSTEIN,
desenvolvimento, afetividade e capacidade resolutiva. São 1978; BRASIL, 2006).
cinco questões avaliadas de 0 (nunca), 1 (algumas vezes) Anexo 7
ou 2 (sempre). O escore de 0 a 4 indica elevada disfunção
familiar, 5 e 6 moderada disfunção familiar e 7 a 10 boa
funcionalidade familiar.

Clima familiar*
22 itens avaliados em uma escala de 5 pontos (1= de jeito Inventário do clima familiar – ICF
nenhum; 2=pouco; 3=mais ou menos; 4=muito; (TEODORO, 2006). Anexo 8
5=completamente) relativos a quatro fatores: apoio, coesão
(vínculo emocional existente entre os membros da
família), conflito (relação agressiva e conflituosa existente
entre os membros da família) e hierarquia (nível de
controle e poder no sistema familiar).

53
A medida de clima familiar não foi criada para avaliar especificamente as relações familiares
de idosos. Como a grande parte das escalas de avaliação familiar, ele focaliza a criança e o
adolescente. No entanto, justifica-se a escolha desse pela escassez de escalas adequadas para a
população idosa, as quais sejam capazes de avaliar o sistema familiar de forma mais
minuciosa. Ou seja, foram priorizadas as características: tamanho, simplicidade e facilidade de
aplicação.

4. ANÁLISE DE DADOS

Os dados foram submetidos à análise estatística com a utilização do programa SPSS


(Statistical Package for Social Sciences ®), versão 12.0. Foram feitas tabelas de frequência das
variáveis categóricas e estatísticas descritivas das variáveis numéricas. Com o objetivo de
estudar o perfil da amostra, foram feitas análises de conglomerados (Cluster Analysis)
mediante o método da partição, considerando a formação de três agrupamentos. A análise
comparativa da composição dos conglomerados obtidos foi feita mediante os testes qui-
quadrado e Exato de Fisher. Estes testes foram feitos com auxílio do pacote estatístico The
SAS System for Windows (Statistical Analysis Sustem), versão 9.2. O nível de significância
adotado para todos os testes foi de 5%.

5. PLANO DE APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Apresentaremos os resultados divididos em quatro estudos no qual cada um deles corresponde


a um dos objetivos específicos da tese. Os estudos estão estruturados em formato de artigos
destinados a publicação em periódicos. Para tanto, foi adotado o formato habitual desse tipo de
documento, com tópicos dedicados à introdução teórica, à metodologia, aos resultados e à
discussão, às conclusões e referências.

54
Dessa maneira, os resultados serão apresentados na seguinte ordem:

Estudo 1: Configuração familiar e condições de saúde física e psicológica de idosos.

Estudo 2: Configuração familiar, condições de saúde física e psicológica de idosos e seu grau
de satisfação com os relacionamentos familiares.

Estudo 3: Relações entre clima familiar, configuração familiar e saúde física e psicológica de
idosos.

Estudo 4: Avaliações sobre a configuração e o clima familiar e satisfação com as relações


familiares em idosos com diferentes condições de saúde física e psicológica.

55
ESTUDO 1

CONFIGURAÇÃO FAMILIAR E CONDIÇÕES DE SAÚDE FÍSICA E PSICOLÓGICA DE


IDOSOS

Introdução

A família é locus privilegiado de vínculos afetivos e intercâmbios de apoio em vários


domínios e, como tal, importante foco dos programas de atenção primária à saúde da
população. Sua composição contribui para a sua capacidade assistencial cotidiana e é
referenciada a aspectos do contexto demográfico, socioeconômico e epidemiológico e a
aspectos da saúde e dos recursos pessoais e materiais de seus membros (MOTA et al, 2010;
ALVARENGA et al, 2011). As configurações familiares são formas de organização que
determinam como se dão as trocas de suporte no contexto domiciliar, sendo que interagem
reciprocamente compondo-as o tipo de arranjo de moradia do idoso, sua posição de chefe de
família ou parente deste, assim como sua contribuição financeira.

O arranjo domiciliar diz respeito ao número de membros de uma unidade familiar e às


relações de consanguinidade e geracionais existentes entre eles. O grau de incapacidade física
e de necessidade econômica dos idosos é importante determinante de corresidência entre
idosos, filhos e netos, assim como a variável gênero (CAMARANO et al, 2004). As viúvas
com necessidade de assistência física, cognitiva e econômica são o maior contingente entre os
idosos que vivem com a família de um filho ou filha, ao passo que a maioria dos homens
idosos ou vivem com a esposa ou companheira da mesma idade, ou com mulheres mais
jovens, com quem se uniram em segundas núpcias (CAMARANO, 2006; PEDRAZZI et al,
2010). Outra razão pelas quais os idosos residem com os descendentes é a necessidade
econômica de filhos e netos, aos quais os idosos podem oferecer moradia (cerca de 80% dos
idosos brasileiros têm casa própria e chefiam 86,5% das famílias em que vivem) e dinheiro
para a subsistência (famílias brasileiras que contém idosos estão em melhores condições

56
econômicas, sendo que as demais apresentam uma proporção duas vezes mais elevada de
famílias pobres) (CAMARANO, KANSO, MELLO, 2004) .

Economistas e demógrafos identificam dois tipos de família: famílias “de idosos” e famílias
“com idosos”. Nas primeiras o idoso é o chefe da família, ou seja, responde pelo sustento da
família, é geralmente mais jovem, economicamente produtivo e com boas condições de saúde.
Sua renda é fundamental ao orçamento familiar, no qual prevalecem transferências
descendentes de apoio (das gerações mais velhas para as mais jovens). Idosos com algum grau
de dependência física podem manter-se na posição de chefes de família, se tiverem
rendimentos e se puderem contar com o cônjuge para ajuda-los. Nas famílias “com idosos”,
estes ocupam a posição de parentes do chefe da família. São geralmente mais velhos e do sexo
feminino, com renda insuficiente para garantir seu sustento e com frequência precisam de
ajuda para o desempenho de atividades de vida diária. Nessas famílias, prevalecem
transferências de apoio ascendentes (da geração mais nova para a mais velha) (CAMARANO
et al, 2004).

As condições de saúde física interferem na manutenção de papéis e funções do idoso dentro da


família (ROSA et al, 2007; PAVARINI et al, 2009). São indicadas pelo nível de desempenho
de atividades básicas e instrumentais de vida diária e por doenças crônicas, cuja incidência
aumenta com a idade. Relaciona-se com a redução do envolvimento em atividades sociais
complexas, que exigem independência física e cognitiva (NERI et al, 2013a). A restrição ao
ambiente doméstico tem efeitos negativos que podem gerar sentimentos de solidão, desânimo
e sintomas depressivos (SHERMAN et al, 2011). A depressão e a ansiedade são os transtornos
mais comuns na velhice e estão associadas à percepção de suporte social como insuficiente ou
negativo, ao menor grau de proximidade com outras pessoas e à menor satisfação com as
relações sociais (BLAZER, 2003; CARL et al, 2013). A presença concomitante de ansiedade e
depressão em idosos associa-se ao sofrimento físico e psíquico decorrente do agravamento de
doenças crônicas e incapacidades (STELLA, 2007).

Idosos com limitações funcionais importantes e com problemas de saúde mental requerem
mais assistência da família, o que geralmente dá origem à corresidência entre membros de

57
duas ou três gerações da mesma família e, eventualmente, de pessoas de fora, que prestam
serviços domésticos e de cuidado aos familiares. Um maior número de pessoas no domicílio
pode influenciar positivamente o apoio afetivo e emocional aos idosos (SANTOS;
PAVARINI, 2009) e pode oferecer apoios em várias dimensões (SOUZA; SKUBS; BRETAS,
2007; PEDRAZZI et al, 2010). A coabitação é uma estratégia que geralmente beneficia os
idosos e seus descendentes, embora algumas famílias sejam incapazes de proporcionar o apoio
necessário a idosos dependentes e outras proporcionem excesso de ajuda, estimulando a
dependência ou gerando desconforto psicológico nos idosos (REIS et al, 2011).

Entre os idosos brasileiros, tem sido observado aumento do número de domicílios unipessoais,
sendo que em 2006 representavam 13,2% dos arranjos domiciliares de idosos e 40,3% dos
domicílios unipessoais brasileiros (CAMARGOS, RODRIGUES, MACHADO, 2011). Morar
sozinho não significa necessariamente negligência ou abandono por parte dos filhos, nem
enfraquecimento dos laços familiares ou sentimentos de solidão e de sofrimento psicológico
para os idosos. Quando isso acontece, há riscos importantes para o bem-estar, especialmente
de idosos com problemas de saúde e/ou que não dispõem de condições adequadas de
subsistência. Por outro lado, morar sozinho pode refletir uma nova e bem-sucedida realidade
de envelhecimento, na medida em que morar só e estar bem nessa condição é uma escolha
possível apenas para idosos com recursos suficientes de saúde e renda e que valorizam a
independência e a privacidade (CAMARGOS; MACHADO; RODRIGUES, 2007).

A corresidência não garante que o idoso irá receber o apoio que precisa ou espera, mesmo
quando contribui financeiramente ou com o cuidado de netos e da casa, mas, de todo modo,
facilita a transferência de recursos materiais, instrumentais, emocionais e informativos e
facilita seu fluxo de acordo com as características, a disponibilidade de recursos e as
necessidades de cada geração (SOUZA; SKUBS; BRÊTAS, 2007). A percepção de suporte e a
expectativa de ser cuidado por pessoas próximas, caso haja necessidade, também estão
associadas ao arranjo domiciliar. Estudo de Batistoni et al (2013) mostrou que a maioria dos
idosos espera ser cuidado por alguém, especialmente pelas filhas, e esta expectativa é maior
entre aqueles que moram com o cônjuge e descendentes. A avaliação de que há pessoas
disponíveis para o suporte contribui para o sentimento de ser valorizado e cuidado.

58
As práticas de cuidados exercidas na família inscrevem-se no quadro de redes de relações
sociais. As transferências intergeracionais de apoio são produzidas pela necessidade dos
membros da família e por expectativas socioculturalmente construídas e estão associadas à
configuração familiar. A provisão de cuidados e de recursos é moldada em um complexo
contexto que leva em conta interesses conflitantes. Envolve expectativas de reciprocidade,
responsabilidade, compromisso, partilha de afeições e objetivos. A família é requisitada para
dar assistência em diferentes situações, que exigem mudança, adaptação, novas tarefas e que
demandam o provimento de várias formas de suporte. A configuração familiar reflete essas
alterações. O governo e entidades da sociedade civil dedicadas à atenção à saúde e à proteção
social têm na família um parceiro essencial para garantir o bem-estar dos idosos e da família.
Por esse motivo, pesquisas que sirvam para aumentar a base de conhecimentos sobre a
configuração de famílias com e de idosos que apresentam diferentes condições econômicas e
de saúde põem gerar importantes subsídios para o planejamento e a gestão de políticas sociais
e de saúde orientadas aos idosos e à família. O objetivo deste estudo foi analisar, a partir da
perspectiva do idoso, as relações entre a configuração familiar e a idade, o gênero, as
condições de saúde física e psicológica dos idosos.

Método

Participantes e procedimentos

O campo selecionado para estudo foi Santo Antonio de Jesus, Estado da Bahia – Brasil, cujo
papel no setor da saúde é importante no Recôncavo Baiano. Tem população total de 90.985
habitantes, sendo que 9149 (7983 residentes na zona urbana e 1166 na zona rural), ou 10% da
população total, têm 60 anos ou mais. O município tem 20 unidades básicas de saúde (UBS)
localizadas na zona urbana. Dente elas, foi selecionada a que tinha o maior número de idosos
cadastrados, o que correspondeu a 14,5% do total de pessoas cadastradas e a 16,8% dos idosos
residentes na cidade. Segundo dados do Sistema de Informação da Atenção Básica ano 2010,
nessa unidade estavam cadastradas 2.754 famílias que somavam 9.234 pessoas, dentre os
quais 1344 com 60 anos e mais. O tamanho da amostra foi fixado em 134 idosos, para um
nível de confiança de 90% e para erro amostral de 5%.

59
Com a ajuda de agentes comunitários de saúde, foram realizados a identificação e o
arrolamento dos domicílios com idosos localizados em todas as 21 micro-áreas abrangidas
pela UBS selecionada. Dentre os domicílios com idosos identificados, foram sorteados 134,
que foram visitados para efeito de recrutamento. Quando os endereços não eram encontrados,
ou quando os idosos não eram localizados por motivos de viagem, falecimento, doença,
internação ou mudança de endereço, ou ainda, quando não atendiam aos critérios de
elegibilidade e inclusão, buscava-se outro endereço previamente arrolado entre os que tinham
idosos em sua estrutura. Esse outro endereço ficava na mesma rua. O agente comunitário de
saúde e pessoas residentes na micro-área auxiliaram nessa identificação.

Os recrutadores foram instruídos para considerar os seguintes critérios de elegibilidade: idade


igual ou superior a 60 anos; residência permanente na região e no domicílio; compreensão das
instruções; interesse em participar e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido.
Como critério de inclusão foi adotada a pontuação referente as notas de corte apresentadas por
BRUCKI et al (2003) para cada faixa de escolaridade menos um desvio padrão no Mini-
Exame do Estado Mental –MEEM (FOLSTEIN, FOLSTEIN, MCHUGH, 1975;
BERTOLUCCI et. al., 1994), um teste de rastreio de demências comumente usado em estudos
populacionais.

Foram visitados 207 domicílios com idosos, dos quais sete (3,4%) não cumpriam um ou mais
critérios de elegibilidade. Sessenta e seis idosos (31,9%) pontuaram abaixo da nota de corte no
MEEM, razão pela qual foram excluídos. Em cada domicilio, todos os idosos eram
entrevistados com vistas à seleção para participação no estudo e a escolha do participante era
baseada na maior pontuação obtida no Mini-Exame do Estado Mental. Era solicitado ao idoso
que a entrevista ocorresse em um local da casa que pudesse proporcionar maior privacidade e
tranquilidade, evitando-se a interrupção por outras pessoas. A coleta durou de duas a três
visitas de 2 horas cada uma, em média.

A realização da pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Maria
Milza (FAMAM), do município de Cruz das Almas – Bahia (protocolo no. 034/2011), de

60
acordo com a Resolução nº. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), do Ministério da
Saúde do Brasil. Todos os idosos assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido.
Foi garantido a todos o direito de abandonar a pesquisa a qualquer momento. Aos que foram
excluídos com base na pontuação no MEEM foi dito que a pesquisa tinha diferentes formas de
coleta de dados e que se agradecia sua participação naquele momento.

Variáveis e instrumentos

Status cognitivo. Foi utilizado o Mini-Exame do Estado Mental (FOLSTEIN, FOLSTEIN,


MCHUGH, 1975; BERTOLUCCI et. al., 1994), teste de rastreamento que permite uma
avaliação global do funcionamento cognitivo quanto a orientação espacial e temporal,
memória, cálculo, linguagem e praxias. As notas de corte utilizadas foram as de Brucki et al
(2003) para cada faixa de escolaridade menos um desvio padrão: 17 para os analfabetos, 22
para os idosos com 1 a 4 anos de escolaridade, 24 para os que tinham de 5 a 8 e 26 para os que
tinham 9 anos ou mais de escolaridade.
1. Características sociodemográficas. Foram avaliadas a idade (agrupada em duas
faixas - 60 a 74 anos e 75 anos ou mais) e o gênero (feminino x masculino).
2. Configuração familiar. Compreendeu a variáveis e itens que se seguem.
2.1. Arranjos de moradia (com base na pergunta: com quem o(a) sr(a) mora?, com
opções para a indicação de sozinho e com o cônjuge ou companheiro, filhos, netos,
outros parentes e pessoas de fora da família). As respostas foram agrupadas nas
categorias sozinho, com o cônjuge ou companheiro, com o cônjuge e descendentes,
com descendentes e outros tipos de arranjo);
2.2. Chefia familiar (com base na pergunta: quem é o chefe da família? As respostas
foram agrupadas nas opções sim ou não para a chefia do idoso).
2.3. Contribuição financeira do idoso para o sustento da família (uma pergunta com
as alternativas total, parcial ou nenhuma).
3. Condições de saúde física:
3.1. Questionário de doenças e de sinais e sintomas auto-relatados. Doenças
crônicas diagnosticadas por médico no ultimo ano (nove doenças, com respostas

61
dicotômicas) e sinais e sintomas (total de doze com respostas dicotômicas), ambas
agrupadas nas categorias nenhuma; 1 a 2; 3 ou mais (NERI; GUARIENTO, 2011);
3.2. Índice de Independência nas Atividades de Vida Diária (KATZ et al, 1963;
LINO et al, 2008). Foi obtido mediante escala de 6 itens com três possibilidades de
resposta sobre a ajuda necessária (nenhuma, parcial ou total) para banho, vestir-se,
toalete, transferência, controle esfincteriano e alimentação. As respostas foram
agrupadas em: independente, dependência parcial e dependência total.
3.3. Desempenho de atividades instrumentais de vida diária (LAWTON; BRODY,
1969; BRITO; NUNES; YUASO, 2007), mediante escalas com três possibilidades
de resposta sobre a ajuda necessária (nenhuma, parcial ou total) para telefonar, usar
transportes, compras, cozinhar, serviços domésticos, uso de medicação e manejo de
dinheiro. As respostas foram agrupadas em: independente, dependência parcial e
dependência total.
3.4. Envolvimento social: a avaliação foi baseada em autorrelato sobre a
participação em atividades físicas, em centro de convivência, na comunidade e
religiosas (quatro questões com respostas que foram agrupadas em sim ou não). Os
dados foram categorizados pela mediana, em menor ou maior envolvimento social.
4. Condições de saúde psicológica:
4.1. Escala de Depressão Geriátrica (YESAVAGE et al, 1983; ALMEIDA;
ALMEIDA, 1999) com 15 perguntas tipo sim x não, a respeito de como o idoso
havia se sentido durante a última semana, os quais referem-se a humores disfóricos.
Trata-se escala de rastreio de depressão, com nota de corte > 6 para depressão leve
e > 11 para depressão grave. Posteriormente, foram reunidas as categorias para
analises dicotômicas (sim x não).
4.2. Inventário de Ansiedade de Beck – BAI (CUNHA, 2001), com 21 itens
versando sobre sintomas comuns de ansiedade e perguntando como o indivíduo
sentiu-se na última semana, com relação a cada um deles. Cada item apresenta
quatro possibilidades de resposta A nota de corte para ansiedade leve é >11, para
ansiedade moderada > 20 e para ansiedade grave, > 31, numa pontuação que pode
variar entre 1 e 63 pontos. Posteriormente, foram reunidas as categorias leve,
moderada ou grave, para analises dicotômicas (sim x não).

62
Análise de dados

Com o objetivo de estudar o perfil da amostra, foi feita análise de conglomerados mediante o
método da partição. A análise comparativa da composição dos conglomerados obtidos foi feita
mediante os testes qui-quadrado e Exato de Fisher. O nível de significância adotado para os
testes estatísticos foi de 5%.

Resultados

A idade dos participantes variou de 60 a 95 anos, com média de 72 e desvio-padrão de 8 anos.


A maioria era do sexo feminino (77,6%), chefe de família (72,4%), contribuindo totalmente
(49,2%) ou parcialmente (44%) para o sustento da família. A maior parte vivia com
descendentes (41%), outros com o cônjuge e descendentes (23,9%), sozinhos (17,9%), em
outros tipos de arranjos (9,7%) ou só com o cônjuge (7,5%).

Quanto às condições físicas, a maioria relatou ter de uma ou duas doenças (52,2%), três ou
mais sinais e sintomas (59,7%), baixo envolvimento social (65,7%), e independência para as
atividades básicas (96,3%) e instrumentais (58,2%) de vida diária. Com relação às condições
psicológicas, 82,9% dos idosos não apresentava sintomatologia depressiva superior a 5 pontos
e 76,9% não pontuaram acima de 10 em sintomas de ansiedade.

Na análise de conglomerados foi utilizado o método de partição, estabelecendo a priori a


criação de três clusters, cujos resultados podem ser observados na tabela 1. A composição do
conglomerados ou grupos foi a seguinte:

Grupo 1 (n=73; 54,5% da amostra): predominantemente formado por idosos jovens,


participantes de arranjo formado pelo cônjuge e por descendentes, com baixa frequência de
chefia familiar, que não contribuem ou contribuem parcialmente para sustento familiar, com
poucas doenças, poucos sinais e sintomas, nível elevado de participação social, independência
total para ABVDs, independência total para AIVDs, sem depressão e sem ansiedade.

63
Grupo 2 (n=59; 44% da amostra): predominantemente formado por idosos mais velhos,
residentes com descendentes e chefes de família, que sustentam a família (contribuição total);
com número alto de doenças e de sinais e sintomas, baixa participação social, independência
total para ABVDs, independência parcial em AIVDs, com depressão e com ansiedade;

Grupo 3 (n=02; 1,5% da amostra): Mulheres de mais de 75 anos, doentes e fisicamente


dependentes, com menor participação social e sem depressão.

Tabela 1: Tamanho dos clusters conforme análise das variáveis idade, gênero, configuração
familiar e condições de saúde física e psicológica. Santo Antônio de Jesus, Bahia, Brasil.
Idosos, 2011.
Grupos Frequência RMS2 (Desvio- Distância máxima Cluster mais Distância entre os
padrão) observada do centro próximo centróides do grupo

1 73 0.8603 4.1311 2 2.5842


2 59 0.9404 4.7823 1 2.5842
3 02 0.8468 2.0743 2 7.2845

2
A formação com três clusters teve um R de 0.208, ou seja, explicou 20.8% da variabilidade
dos dados. As variáveis que mais contribuíram para a formação dos conglomerados (variáveis
com maior R2) foram as atividades básicas de vida diária (R2 =0,732), as atividades
instrumentais de vida diária (R2 =0,487), o número de doenças (R2 =0,241) e idade (R2 =
0,225). A Tabela 2 mostra os resultados da análise de conglomerados.

64
Tabela 2. Resultados da análise de conglomerados conforme as variáveis idade, gênero,
configuração familiar e condições de saúde física e psicológica. Santo Antônio de Jesus,
Bahia, Brasil. Idosos, 2011.
Variáveis Desvio-padrão Coeficiente de RSQ/(1-RSQ)
determinação
Gênero 1.00154 0.012010 0.012156
Idade 0.88721 0.224690 0.289807
Arranjos de moradia 0.99977 0.015492 0.015736
Chefia familiar 0.96714 0.078707 0.085431
Contribuição para o sustento família 0.94625 0.118066 0.133872
N° doenças autorrelatadas 0.87799 0.240731 0.317057
N° sinais e sintomas autorrelatadas 0.91590 0.173737 0.210269
Envolvimento social 0.96527 0.082269 0.089643
ABVDs 0.52139 0.732239 2.734675
AIVDs 0.72160 0.487124 0.949789
Depressão 0.92617 0.155110 0.183586
Ansiedade 0.91301 0.178948 0.217950
Total 0.89656 0.208260 0.263041

A Tabela 3 apresenta dados comparativos sobre a distribuição da amostra conforme as


variáveis em estudo. Houve um percentual significativamente superior de idosos de 60 a 74
anos no Grupo 1 e um percentual significativamente diferente dos demais grupos entre os
idosos de 75 anos e mais no Grupo 2. No Grupo 3 ambos os participantes tinham 75 anos e
mais. Nos três grupos predominaram mulheres. Os arranjos mais comuns eram o idoso
vivendo só com os descendentes (cerca da metade no Grupo 2) e o casal de idosos vivendo
com descendentes (cerca de 1/3 no Grupo 1). A grande maioria era formada por idosos chefes
de família, de cujos recursos esta dependia total ou parcialmente. Cerca de 80% dos idosos do
Grupo 2 pontuou abaixo da mediana na variável participação social e 46,6% dos idosos do
Grupo 1 pontuou acima da mediana. A maioria dos idosos do Grupo 1 relatou ter 1 ou 2
doenças crônicas, ao passo que 57,6% do Grupo 2 relatou ter 3 doenças ou mais. Da mesma
forma, as queixas de sinais e sintomas ≥3 foram mais presentes no Grupo 2 do que no Grupo
1. A grande maioria dos idosos dos Grupos 1 e 2 eram independentes para o desempenho de
ABVD, mas no Grupo 2 a grande maioria tinha algum grau de dependência para AIVD. Os
percentuais mais elevados de pontuação para depressão e ansiedade igualmente ocorreram no
Grupo 2.
65
Tabela 3. Frequência de idosos nos três grupos obtidos na análise multivariada em que
entraram as variáveis idade, gênero, configuração familiar e condições de saúde física e
psicológica. Santo Antônio de Jesus, Bahia, Brasil. Idosos, 2011.
Variáveis Categorias Amostra total Grupos (%)
n % 1G1 2G2 3G3 Valor-p*
Idade 60-74 anos 89 66,4 86,3 44,1 0 <0,001
≥75 anos 45 33,6 13,7 55,9 100,0
Gênero Feminino 104 77,6 74,0 81,4 100,0 0,642
Masculino 30 22,4 26,0 18,6 0
Arranjos de Sozinho 24 17,9 13,7 22,0 50,0 0,024
moradia C/ cônjuge/companheiro 10 7,5 6,9 8,5 0
C/ cônjuge e descendentes 32 23,9 34,2 10,2 50,0
Com descendentes 55 41,0 35,6 49,1 0
Outros 13 9,7 9,6 10,2 0
Chefia familiar Sim 97 72,4 61,6 86,4 50,0 0,002
Não 37 27,6 38,4 13,6 50,0
Contribuição para Total 66 49,3 34,2 67,8 50,0 <0,001
o sustento família Parcial 59 44,0 54,8 30,5 50,0
Nenhuma 09 6,7 11,0 1,7 0
Envolvimento Menor 88 65,7 53,4 79,7 100,0 0,002
social Maior 46 34,3 46,6 20,3 0
N° doenças Nenhuma 18 13,4 21,9 3,4 0 <0,001
autorrelatadas 1-2 70 52,3 64,4 39,0 0
≥3 46 34,3 13,7 57,6 100,0
N° sinais e Nenhum 12 9,0 16,4 0 0 <0,001
sintomas 1-2 42 31,3 41,1 18,6 50,0
autorrelatadas ≥3 80 59,7 42,5 81,4 50,0
ABVDs Independente 129 96,3 100,0 94,9 0 <0,001
Dependência parcial 03 2,2 0 5,1 0
Dependente 02 1,5 0 0 100,0
AIVDs Dependência total 08 6,0 0 10,2 100,0 <0,001
Dependência parcial 48 35,8 11,0 67,8 0
Independência 78 58,2 89,0 22,0 0
Depressão Sim 23 17,2 4,1 33,9 0 <0,001
Não 111 82,8 95,9 66,1 100,0
Ansiedade Sim 31 23,1 6,8 42,4 50,0 <0,001
Não 103 76,9 93,2 57,6 50,0
*Teste Exato de Fisher; diferença significativa se p≤0,05.
G1
: Idosos jovens e saudáveis, financeiramente apoiados pelos filhos, vivendo em domicílios compartilhados pelo
casal e seus filhos e/ou netos.
G2
: Idosos mais velhos, com problemas de saúde física e psicológica, que vivem em famílias que são por eles
sustentadas.
G3
: Mulheres de mais de 75 anos, doentes e fisicamente dependentes, com necessidade de cuidado.

Discussão

O primeiro grupo representou a maior parte da amostra e constituiu-se predominantemente por


idosos mais jovens, independentes, física e psicologicamente saudáveis e mais envolvidos
socialmente. A capacidade funcional é um indicador de saúde e bem-estar e oferece bases para

66
o envolvimento social, um importante indicador de envelhecimento bem-sucedido. Manifesta-
se por melhor funcionamento na vida cotidiana, em maior envolvimento em atividades e no
exercício de papéis complexos relacionados ao trabalho, ao lazer, à vida social e à
comunidade. As redes sociais são importantes para a troca de recursos, para a influência social
e o contato face-a-face e esses processos influenciam a saúde física e psicológica. Manter altos
níveis de ligação social por meio do engajamento social tem efeito protetor sobre as limitações
físicas e cognitivas (THOMAS, 2011).

Além da melhor saúde física e psicológica, esteve associado a esse grupo o arranjo de moradia
com o cônjuge ou companheiro(a) e descendentes. É mais provável que o casal esteja intacto
em uma idade mais jovem, principalmente para as mulheres que são mais longevas. Esse tipo
de coabitação consegue reunir maior renda e pode facilitar pela proximidade física as
transferências de apoio (CAMARANO et al, 2004).

Estar casado é fator protetor tanto para homens quanto para mulheres idosas, pois aumenta as
chances de apoio material e emocional e de interações sociais positivas. A presença do
cônjuge também favorece a manutenção das condições que levam à melhor percepção de
saúde (WALDINGER; SCHULZ, 2010). Os homens idosos casados, com maior escolaridade
e renda desfrutam de melhor interação social e maior apoio emocional e de informação. As
mulheres idosas não casadas, com baixa escolaridade e renda e que vivem com um menor
número de pessoas são as que sofrem mais risco de suporte social insuficiente ou inadequado
(PINTO et al, 2006; ROSA et al, 2007).

Observou-se menor frequência de chefia familiar e contribuição parcial ou nenhuma para o


sustento familiar, características destacadas do Grupo 1. É possível que essa associação se
refira principalmente ao cônjuge do chefe de família. A maioria dos atuais idosos foi
socializada segundo um padrão de família tradicional no qual os maridos são os chefes de
família e provedores e cabe a esposa ficar responsável pelos cuidados da casa e dos filhos.
Assim, as mulheres idosas costumam assumir o papel de chefia quando viúvas, solteiras ou
divorciadas, mas com renda devido a convenções culturais e sociais associadas aos papéis de

67
gênero. Além disso, a melhor saúde, a idade mais jovem e a menor sobrecarga associada ao
papel do provedor pode ter facilitado a maior participação social fora do ambiente doméstico.

O segundo grupo foi formado predominantemente por idosos mais velhos, ou seja, com 75
anos ou mais, com mais doenças e mais sinais e sintomas autorrelatados, menor envolvimento
social, com perdas quanto ao desempenho independente de atividades instrumentais. A
diminuição de envolvimento em atividades sociais é um indicador precoce de perdas em
mobilidade e em outras capacidades funcionais que são pré-requisito para o desempenho
independente de atividades de vida diária (GRIFFITH et al, 2010; NERI et al, 2013a). As
incapacidades associadas ao aumento da dependência física, frequentemente têm como sub-
produtos disfunções no senso de controle, rebaixamento da autoestima, diminuição da
atividade social, sendo os idosos de baixa renda mais afetados do que os de renda mais
elevada (SUTTAJIT et al, 2010).

Também esteve associado ao grupo 2 características de pior saúde psicológica, com maior
ansiedade e sintomas depressivos. A incapacidade física está entre os mais significativos
fatores de risco para depressão em adultos mais velhos, bem como a depressão em si está
associada à deficiência (JIANG et al, 2004). Idosos deprimidos têm mais incapacidade
funcional do que seus pares não-deprimidos, e vários estudos longitudinais também
encontraram evidência de um efeito prejudicial da depressão na deficiência física ao longo do
tempo. Maior risco de depressão foi encontrado para as perdas nas atividades instrumentais do
que nas atividades básicas de vida diária (SUTTAJIT et al, 2010). Na população brasileira, a
depressão clínica e os sintomas depressivos estiveram associados com a deficiência funcional,
mesmo após o ajuste para fatores demográficos, condições socioeconômicas, morbidades
físicas e demência (SILVA; SCAZUFCA; MENEZES, 2013).

Como nos jovens adultos, ansiedade e depressão frequentemente aparecem associadas em


pessoas idosas. Enquanto que a depressão como fator de risco para a incidência das limitações
de atividade em idosos foi verificada na literatura, os estudos prestaram menor atenção à
ansiedade, apesar de sua alta prevalência, com ou sem comorbidade com a depressão.
Ajustando por variáveis sociodemográficas e de saúde e por depressão e utilização de

68
ansiolíticos no passado e no momento atual, a ansiedade foi associada com aumento da
incidência de restrição social e de limitação em atividades instrumentais de vida diária em
idosos (NORTON et al, 2012).

As condições crônicas também desempenham um papel importante para explicar parte da


associação entre incapacidade funcional, depressão e ansiedade. O maior número de
morbidades em idosos está associado à pior qualidade de vida no domínio psicológico e pode
contribuir para o advento de sentimentos negativos (TAVARES; DIAS, 2012). A doença
pessoal ou os problemas de saúde são eventos estressantes associados com o aparecimento do
transtorno de adaptação, definido como um distress subjetivo e um distúrbio comportamental
ou emocional que interfere significativamente no funcionamento social ou pessoal e que
aparece dentro de 3 meses após a exposição a um estressor psicossocial identificável,
mudança de vida ou evento de vida estressante. Até 39% dos sujeitos que apresentam o
transtorno tem uma condição de comorbidade psiquiátrica, principalmente do tipo ansioso. Os
sintomas de ansiedade são particularmente incapacitantes nas atividades da vida diária para
idosos e estão associados com o pior status social e econômico, bem como com condições
médicas crônicas (ARBUS et al, 2013).

No segundo grupo predominou o arranjo domiciliar em que um idoso sem um cônjuge (viúvo,
divorciado ou solteiro) vive com descendentes, maior frequência de chefia familiar e
contribuição total para o sustento familiar. A ausência do cônjuge e a idade avançada são
motivos importantes para a corresidência entre idosos e as gerações mais jovens (SILVA;
BESSA; OLIVEIRA, 2004). A saúde também é um determinante do arranjo domiciliar, no
entanto, apesar de um conjunto de condições desfavoráveis, esses idosos continuam
desempenhando papel de chefia no núcleo familiar seja porque tem boas condições de renda,
seja porque a família como um todo e os filhos em particular são muito pobres. Geralmente,
nas transferências intergeracionais de recursos, o fluxo de suporte é preferencialmente
direcionado aos mais jovens, e esse padrão só é alterado quando os pais idosos enfrentam uma
crise na saúde e apresentam incapacidade (FINGERMAN et al, 2010). No Brasil, o fluxo de
apoio dos idosos para os mais jovens é crucial na maior parte da vida e os pais só começam a
demandar maior suporte dos filhos a partir dos 75 anos (CAMARANO et al, 2004). Parte

69
significativa da corresidência verificada no Nordeste brasileiro está mais associada às
necessidades dos filhos adultos do que às dos pais idosos (SAAD, 2004).

As consequências desse padrão de fluxo de apoio predominantemente descendente para os


idosos inclui o risco de menor assistência às suas necessidades, especialmente considerando
que o grupo 2 não apresentou associações relativas a uma crise na saúde ou uma grave
dependência funcional. É comum que os idosos priorizem as necessidades dos descendentes
em detrimento das suas e que gastem mais de sua renda com outros familiares do que com eles
mesmos. Essa configuração familiar pode refletir mais uma imposição de condições sociais
desfavoráveis do que uma preferência ou aspiração pessoal. Assim, esses idosos podem estar
em desvantagem ao precisar de ajuda para atividades cotidianas, e ao mesmo tempo, ter que
sustentar a família, num momento da vida em que é esperado maior centralidade da geração do
meio no desempenho de papeis de autoridade e provisão de suporte. Por outro lado, em
situações de pobreza, o fato de ajudar a família com dinheiro protege o idoso de abandono e
maus tratos, pelo menos enquanto ele não se torna física e cognitivamente dependente.

O terceiro grupo, o menor de todos, foi composto por duas idosas com dependência total em
AIVD e ABVD e que provavelmente precisam ser cuidadas. São todos mais velhos, com três
ou mais doenças autorrelatadas e com menor participação social. Por outro lado, nenhuma das
idosas desse grupo apresentou sintomas depressivos. As associações desse grupo parecem
indicar uma capacidade de ajustamento à situação da dependência e melhor regulação
emocional. É possível que o processo de perda das capacidades funcionais seja mais difícil e
tenha maiores efeitos psicológicos do que o período após essa transição independência-
dependência. Aceitar a situação de ser dependente e cuidado por alguém envolve um processo
de adaptação e ajustamento e esse cluster parece ter reunido essas características. Trata-se da
perspectiva da adaptação enquanto processo, isto é, a responsividade ao estímulo inicial
diminui ao longo do tempo e o bem-estar retorna ao nível preexistente, anterior ao evento
(LUHMANN et al, 2012).

Para Hollingsworth, Didelot e Levington (2002), o ajustamento é consequência de vários


fatores, entre eles a variabilidade humana e a sua singularidade em termos de recursos e forças

70
psicológicas; como a incapacidade foi adquirida, sua severidade e a cronicidade; a idade de
início e; as condições socioculturais e ambientais. A literatura aponta estágios para o
ajustamento à incapacidade que vão desde o impacto inicial (caracterizada pelas reações de
choque e ansiedade) até a reintegração ou reorganização (reconhecimento e aceitação
psicológica da deficiência e suas implicações físicas, sociais, familiares, pessoais e
profissionais para o futuro). Segundo Findler, Shalev e Barak (2014), o equilíbrio se perpetua
enquanto for possível, até que surge um episódio desafiador. No curso da instalação de uma
incapacidade é natural a emergência de uma desordem e um desequilíbrio, incluindo as
mudanças emocionais ao longo desse processo. Se o desafio é acomodado e assimilado, a vida
retorna a um novo equilíbrio dinâmico.

As associações do grupo 3 também podem refletir as expectativas sociais e normativas


referentes a um idoso com dependência, isto é, de um lado a perspectiva de velhice como uma
época de possível incapacidade e doença e por outro, a espera de ser cuidado pelos seus. Os
idosos, a partir de sua história individual e familiar, tem definido quem acreditam que deveria
prover assistência a eles no caso de necessidade. A percepção de que obtém ajuda quando
necessário reflete o cumprimento dessa expectativa (BATISTONI et al, 2013).

Nesse grupo observou-se que uma idosa mora sozinha e a outra com o cônjuge e os
descendentes, porém, não houve associações significativas com qualquer tipo de arranjo
domiciliar. Os arranjos considerados não continentes, como morar sozinho, constitui-se em
risco para o idoso, contudo, novas formas de organização podem ser possíveis até certo ponto.
Esses idosos apresentam dependência funcional, mas estão preservados cognitivamente, o que
indica maior autonomia e capacidade de compreensão do mundo que o cerca e das suas
condições atuais. O ajustamento não ocorre apenas no indivíduo, mas acomoda todo um
sistema familiar que precisa se reorganizar para atender as demandas de um familiar idoso.
Nesse sentido, pode-se pensar que as famílias ou o próprio idoso conseguem fazer esse ajuste
de formas alternativas ao arranjo domiciliar quando existem condições favoráveis para isso.

Homens e mulheres envelhecem de formas diferentes, o que interfere em suas configurações


familiares. Porém, gênero foi a única variável que não esteve associada à formação dos

71
grupos, provavelmente em virtude do elevado número de mulheres na amostra. No entanto, é
possível fazer suposições sobre as possíveis combinações entre arranjos familiares e gênero,
considerando-se dados censitários e de pesquisas epidemiológicas. As variáveis que mais
contribuíram para a formação dos grupos foram as atividades básicas e instrumentais de vida
diária, o número de doenças e a idade, apontando para a centralidade que saúde e idade têm na
vida dos idosos e de sua família. A importância das condições de saúde, objetiva ou subjetiva
para o bem-estar e para a qualidade de vida foi mostrada em vários estudos tanto na
perspectiva dos próprios idosos (ex: ROSA; CUPERTINO; NERI, 2009; NERI et al, 2013b)
quanto na de profissionais de saúde (ROWE; KAHN, 1997).

Considerações Finais

Os dados indicam que as condições de saúde são cruciais à configuração familiar e a saúde
psicológica. A presença do cônjuge/companheiro(a) no arranjo domiciliar e o maior
envolvimento social são indicadores de um envelhecimento com melhor funcionalidade, saúde
psicológica e talvez de um fluxo de transferências intergeracionais de recursos menos oneroso
para o idoso.

Os idosos mais velhos parecem enfrentar duas situações: a vivência das perdas na capacidade
funcional e a dependência total. No primeiro caso, é provável que a percepção de crescente
necessidade de auxílio em atividades cotidianas associadas ao exercício de um papel central
para a manutenção do sustento familiar tem efeitos psicológicos importantes. No segundo
caso, a dependência é o produto de um processo de perdas que exige adaptação à situação
atual e às possibilidades reais de futuro e as consequências psicológicas são positivas quando
esse ajustamento é alcançado.

A principal limitação do estudo se refere a não inclusão de dados sobre estado conjugal e
renda pessoal e familiar. No entanto, este estudo fornece indícios importantes de como as
variáveis de interesse podem estar associadas a partir de uma análise raramente realizada nesse
campo em conjunto com informações provenientes do Nordeste brasileiro, região com
escassos estudos dessa natureza. Dado o impacto importante das atividades da vida diária no

72
funcionamento social e familiar, nosso estudo sublinha a necessidade de aumentar o
reconhecimento das condições de saúde física e psicológica em idosos e de como as famílias
estão se organizando para oferecer o suporte necessário às necessidades de seus membros em
envelhecimento.

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76
ESTUDO 2

CONFIGURAÇÃO FAMILIAR, CONDIÇÕES DE SAÚDE FÍSICA E PSICOLÓGICA DE


IDOSOS E SEU GRAU DE SATISFAÇÃO COM OS RELACIONAMENTOS
FAMILIARES

Introdução

Os apoios familiares podem atuar positivamente sobre a saúde física e mental dos idosos, na
medida em que favorecem o enfrentamento, fortalecem o sistema imunológico e contribuem
para o senso de controle, para o bem-estar psicológico e para a satisfação com a vida (MOTA
et al, 2010; FIORILLO; SABATINI, 2011; ALVARENGA et al, 2011). A percepção do
suporte familiar como satisfatório reflete a força da ligação emocional estabelecida entre os
membros da família, sua adaptabilidade a situações de estresse e o compartilhamento de afeto,
estima e gratificação que permeia as relações. Atua como um moderador do efeito dos eventos
estressantes sobre a saúde mental (HYDE et al, 2011) e é o fator mais importante para a
diminuição da vulnerabilidade de adultos à depressão (PETTIT et al, 2011).

A família é a principal fonte de suporte emocional, instrumental, financeiro e informativo para


os idosos. Seu ambiente, suas características e seu funcionamento são moldados ao longo da
vida pelas histórias individuais e pela história familiar. A funcionalidade familiar indica a
extensão em que opera como uma unidade coesa, o que denota capacidade para manejar e
adaptar-se às diferentes situações (PIERCY, 2010). A satisfação com os relacionamentos
familiares é um indicativo da funcionalidade familiar, ou, em que medida a família está apta
para lidar com as situações de crise de forma realista e adequada, e de cumprir e harmonizar
suas funções essenciais (RODRÍGUEZ-SÁNCHEZ et al, 2011). A avaliação da satisfação
com os relacionamentos familiares é importante para identificar pontos fortes que podem
servir como amortecedores dos eventos estressores.

77
A funcionalidade de famílias com a presença de idosos é desafiada em muitas situações, com
destaque para a dependência resultante de problemas de saúde física e psicológica e para
eventos correlatos, tais como a perda de papéis, a redução da autoridade, o rebaixamento do
senso de controle, a redução do bem-estar dos idosos e o aumento dos conflitos familiares
(TORRES et al, 2010; MOTA et al, 2010). Para os idosos, necessitar de cuidador e permitir
ser cuidado é um longo processo de negociação e ajustamento, que envolve expectativas e
aceitação próprias e dos cuidadores potenciais, assim como disponibilidade de suporte
(SILVA; BOUSSO; GALERA, 2009).

Tanto a idade avançada quanto o número de condições crônicas e o nível de engajamento


social constituem-se em fatores de risco para uma pior capacidade funcional (GRIFFITH et al,
2010; NERI et al, 2013). O aumento da incidência de restrição social e de limitações em
atividades instrumentais de vida diária estão associados aos transtornos de ansiedade
(NORTON et al, 2012) e à depressão em idosos (BATISTONI et al, 2013). A depressão e a
ansiedade são condições psicológicas associadas à desregulação emocional e têm impacto
sobre a percepção de suporte social e de funcionamento familiar (WERNER-SEIDLER et al,
2012; CARL et al, 2013). Idosos com depressão e ansiedade e com percepção de disfunção
familiar estão em risco de não terem suas necessidades respondidas, de vivenciarem tensões
constantes e pode indicar pouca flexibilidade e capacidade de ajustamento do sistema familiar
aos desafios que enfrentam.

O tipo de arranjo de moradia do idoso, sua posição de chefe de família ou parente deste, assim
como sua contribuição financeira interagem reciprocamente compondo as configurações
familiares, formas de organização que determinam como se dão as trocas de suporte no
contexto domiciliar. As configurações domiciliares são um indicativo importante do ambiente
físico e social do idoso e das estratégias de transferência intergeracional de recursos que
predominam em cada família (CAMARANO et al, 2004). As trocas estabelecidas entre as
gerações acontecem nos níveis afetivo, instrumental, financeiro e educativo e podem se
estruturar como relações de aliança, solidariedade e inclusão, ou de conflito, dominação e
exclusão. Organizam-se em torno dos papeis atribuídos ao idoso e da hierarquia estabelecida
entre os componentes da família (LOPES; SANTOS, 2009).

78
A avaliação da funcionalidade familiar mediante o nível de satisfação dos idosos com os
relacionamentos familiares associa-se às variáveis gênero, idade e saúde física e aos arranjos
de moradia. Os estudos de Pavarini et al. (2006), Silva, Rabelo e Queroz (2010), Santos,
Pavarini e Barham (2011) e Paiva et al. (2011) mostraram que a maioria dos idosos relatou
boa funcionalidade familiar. Os mais insatisfeitos são as mulheres, os que moram sozinhos ou
em arranjos mistos sem familiares e aqueles que não esperam ser cuidados por um familiar.
Nos estudos de Torres et al. (2009 e 2010), os idosos dependentes apresentaram maior
disfunção familiar.

O funcionamento familiar influencia as respostas às demandas do idoso e o cumprimento de


funções essenciais de suporte, favorecendo a emergência de fatores protetores e estressantes.
Informa sobre a capacidade da família de utilizar recursos intra e extra familiares para resolver
problemas, compartilhar decisões e responsabilidades, orientação e apoio mútuo. A
incapacidade de negociação de tarefas e papéis considerando-se as necessidades
circunstanciais é indicador de disfunção familiar (POWAZKI; WALSH, 2002). As famílias
com membros idosos enfrentam vários desafios e a percepção de que as necessidades são
respondidas relaciona-se com a provisão de suporte e com um funcionamento familiar
saudável.

Conhecer o ambiente familiar a partir da perspectiva dos idosos pode contribuir para o
desenvolvimento de estratégias de intervenção mais eficazes de promoção da saúde, contribuir
para o esclarecimento do impacto de diferentes condições físicas e psicológicas sobre a família
e fundamentar programas direcionados a comunidades menos favorecidas. O objetivo deste
estudo foi analisar relações entre a configuração familiar, as condições de saúde física e
psicológica de idosos e seu grau de satisfação com a dinâmica dos relacionamentos familiares,
com base em autorrelatos de homens e mulheres idosos.

79
Método

Participantes e procedimentos

O campo selecionado para estudo foi Santo Antonio de Jesus, Estado da Bahia – Brasil, cujo
papel no setor da saúde é importante no Recôncavo Baiano. Tem população total de 90.985
habitantes, sendo que 9149 (7983 residentes na zona urbana e 1166 na zona rural), ou 10% da
população total, têm 60 anos ou mais. O município tem 20 unidades básicas de saúde (UBS)
localizadas na zona urbana. Dente elas, foi selecionada a que tinha o maior número de idosos
cadastrados, o que correspondeu a 14,5% do total de pessoas cadastradas e a 16,8% dos idosos
residentes na cidade. Segundo dados do Sistema de Informação da Atenção Básica ano 2010,
nessa unidade estavam cadastradas 2.754 famílias que somavam 9.234 pessoas, dentre os
quais 1344 com 60 anos e mais. O tamanho da amostra foi fixado em 134 idosos, para um
nível de confiança de 90% e para erro amostral de 5%.

Com a ajuda de agentes comunitários de saúde, foram realizados a identificação e o


arrolamento dos domicílios com idosos localizados em todas as 21 micro-áreas abrangidas
pela UBS selecionada. Dentre os domicílios com idosos identificados, foram sorteados 134,
que foram visitados para efeito de recrutamento. Quando os endereços não eram encontrados,
ou quando os idosos não eram localizados por motivos de viagem, falecimento, doença,
internação ou mudança de endereço, ou ainda, quando não atendiam aos critérios de
elegibilidade e inclusão, buscava-se outro endereço previamente arrolado entre os que tinham
idosos em sua estrutura. Esse outro endereço ficava na mesma rua. O agente comunitário de
saúde e pessoas residentes na micro-área auxiliaram nessa identificação.

Os recrutadores foram instruídos para considerar os seguintes critérios de elegibilidade: idade


igual ou superior a 60 anos; residência permanente na região e no domicílio; compreensão das
instruções; interesse em participar e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido.
Como critério de inclusão foi adotada a pontuação referente as notas de corte apresentadas por
Brucki et al (2003) para cada faixa de escolaridade menos um desvio padrão no Mini-Exame

80
do Estado Mental –MEEM (FOLSTEIN, FOLSTEIN, MCHUGH, 1975; BERTOLUCCI et.
al., 1994), um teste de rastreio de demências comumente usado em estudos populacionais.

Foram visitados 207 domicílios com idosos, dos quais sete (3,4%) não cumpriam um ou mais
critérios de elegibilidade. Sessenta e seis idosos (31,9%) pontuaram abaixo da nota de corte no
MEEM, razão pela qual foram excluídos. Em cada domicilio, todos os idosos eram
entrevistados com vistas à seleção para participação no estudo e a escolha do participante era
baseada na maior pontuação obtida no Mini-Exame do Estado Mental. Era solicitado ao idoso
que a entrevista ocorresse em um local da casa que pudesse proporcionar maior privacidade e
tranquilidade, evitando-se a interrupção por outras pessoas. A coleta durou de duas a três
visitas de 2 horas cada uma, em média.

A realização da pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Maria
Milza (FAMAM), do município de Cruz das Almas – Bahia (protocolo no. 034/2011), de
acordo com a Resolução nº. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), do Ministério da
Saúde do Brasil. Todos os idosos assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido.
Foi garantido a todos o direito de abandonar a pesquisa a qualquer momento. Aos que foram
excluídos com base na pontuação no MEEM foi dito que a pesquisa tinha diferentes formas de
coleta de dados e que se agradecia sua participação naquele momento.

Variáveis e instrumentos

Status cognitivo. Foi utilizado o Mini-Exame do Estado Mental (FOLSTEIN, FOLSTEIN,


MCHUGH, 1975; BERTOLUCCI et. al., 1994), teste de rastreamento que permite uma
avaliação global do funcionamento cognitivo quanto a orientação espacial e temporal,
memória, cálculo, linguagem e praxias. As notas de corte utilizadas foram as de Brucki et al
(2003) para cada faixa de escolaridade menos um desvio padrão: 17 para os analfabetos, 22
para os idosos com 1 a 4 anos de escolaridade, 24 para os que tinham de 5 a 8 e 26 para os que
tinham 9 anos ou mais de escolaridade.
1. Características sociodemográficas. Foram avaliadas a idade (agrupada em duas
faixas - 60 a 74 anos e 75 anos ou mais) e o gênero: feminino x masculino.

81
2. Configuração familiar. Compreendeu a variáveis e itens que se seguem.
2.1. Arranjos de moradia (com base na pergunta: com quem o(a) sr(a) mora?, com
opções para a indicação de sozinho e com o cônjuge ou companheiro, filhos, netos,
outros parentes e pessoas de fora da família). As respostas foram agrupadas nas
categorias sozinho, com o cônjuge ou companheiro, com o cônjuge e descendentes,
com descendentes e outros tipos de arranjo);
2.2. Chefia familiar (com base na pergunta: quem é o chefe da família? As respostas
foram agrupadas nas opções sim ou não para a chefia do idoso).
2.3. Contribuição financeira do idoso para o sustento da família (uma pergunta com
as alternativas total, parcial ou nenhuma).
3. Condições de saúde física:
3.1. Questionário de doenças e de sinais e sintomas auto-relatados. Doenças
crônicas diagnosticadas por médico no ultimo ano (nove doenças, com respostas
dicotômicas) e sinais e sintomas (total de doze com respostas dicotômicas), ambas
agrupadas nas categorias nenhuma; 1 a 2; 3 ou mais (NERI; GUARIENTO, 2011);
3.2. Índice de Independência nas Atividades de Vida Diária (KATZ et al, 1963;
LINO et al, 2008). Foi obtido mediante escala de 6 itens com três possibilidades de
resposta sobre a ajuda necessária (nenhuma, parcial ou total) para banho, vestir-se,
toalete, transferência, controle esfincteriano e alimentação. As respostas foram
agrupadas em: independente, dependência parcial e dependência total.
3.3. Desempenho de atividades instrumentais de vida diária (LAWTON; BRODY,
1969; BRITO; NUNES; YUASO, 2007), mediante escalas com três possibilidades
de resposta sobre a ajuda necessária (nenhuma, parcial ou total) para telefonar, usar
transportes, compras, cozinhar, serviços domésticos, uso de medicação e manejo de
dinheiro. As respostas foram agrupadas em: independente, dependência parcial e
dependência total.
3.4. Envolvimento social: a avaliação foi baseada em autorrelato sobre a
participação em atividades físicas, em centro de convivência, na comunidade e
religiosas (quatro questões com respostas que foram agrupadas em sim ou não). Os
dados foram categorizados pela mediana, em menor ou maior envolvimento social.

82
4. Condições de saúde psicológica:
4.1. Escala de Depressão Geriátrica (YESAVAGE et al, 1983; ALMEIDA;
ALMEIDA, 1999) com 15 perguntas tipo sim x não, a respeito de como o idoso
havia se sentido durante a última semana, os quais referem-se a humores disfóricos.
Trata-se escala de rastreio de depressão, com nota de corte > 6 para depressão leve
e > 11 para depressão grave. Posteriormente, foram reunidas as categorias para
analises dicotômicas (sim x não).
4.2. Inventário de Ansiedade de Beck – BAI (CUNHA, 2001), com 21 itens
versando sobre sintomas comuns de ansiedade e perguntando como o indivíduo
sentiu-se na última semana, com relação a cada um deles. Cada item apresenta
quatro possibilidades de resposta A nota de corte para ansiedade leve é >11, para
ansiedade moderada > 20 e para ansiedade grave, > 31, numa pontuação que pode
variar entre 1 e 63 pontos. Posteriormente, foram reunidas as categorias leve,
moderada ou grave, para analises dicotômicas (sim x não).
5. APGAR da Família (SMILKSTEIN, 1978; BRASIL, 2006; DUARTE, 2001), que
avalia a satisfação com as relações familiares em cinco domínios: adaptação,
companheirismo, desenvolvimento, afetividade e capacidade resolutiva. São cinco
questões avaliadas de 0 (nunca), 1 (algumas vezes) ou 2 (sempre). O escore de 0 a 4
indica elevada disfunção familiar, 5 e 6 moderada disfunção familiar e 7 a 10 boa
funcionalidade familiar. Posteriormente, para analises dicotômicas foram reunidas as
categorias elevada + moderada em disfunção familiar X boa funcionalidade.

Análise de dados

Com o objetivo de estudar o perfil da amostra, foi feita análise de conglomerados mediante o
método da partição. A análise comparativa da composição dos conglomerados obtidos foi feita
mediante os testes qui-quadrado e Exato de Fisher. O nível de significância adotado para os
testes estatísticos foi de 5%.

83
Resultados

A idade dos participantes variou de 60 a 95 anos, com média de 72 e desvio-padrão de 8 anos.


A maioria era do sexo feminino (77,6%), chefe de família (72,4%), contribuindo totalmente
(49,2%) ou parcialmente (44%) para o sustento da família. A maior parte vivia com
descendentes (41%), 23,9% com o cônjuge e descendentes, 17,9% sozinhos, 9,7% em outros
tipos de arranjos e 7,5% só com o cônjuge.

A maioria relatou ter de uma ou duas doenças (52,2%), três ou mais sinais e sintomas (59,7%),
baixo envolvimento social (65,7%), e independência para as atividades básicas (96,3%) e
instrumentais (58,2%) de vida diária. Com relação às condições psicológicas, 82,9% dos
idosos não apresentava sintomatologia depressiva e 76,9% não pontuou para ansiedade.

Os idosos relataram satisfação com os relacionamentos familiares quanto à adaptação (81,3%),


ao companheirismo (82,8%), ao desenvolvimento (81,3%), à afetividade (80,6%) e à
capacidade resolutiva da família (84,3%), indicando que a grande maioria percebe boa
funcionalidade de sua família (85,8%).

Na análise de conglomerados foi utilizado o método de partição, estabelecendo a priori a


criação de três clusters, cujos resultados podem ser observados na tabela 1. A composição dos
conglomerados ou grupos foi a seguinte:

Grupo 1 (n = 24; 17,9% da amostra): predominantemente formado por idosos com


independência em ABVDs, com dependência parcial ou independência total em AIVDs, com
ansiedade, insatisfeitos com a adaptação, o companheirismo, o desenvolvimento, a
afetividade, a capacidade resolutiva e com percepção de disfunção familiar.

Grupo 2 (n = 2; 1,5% da amostra): predominantemente formado por idosos com dependência


total em ABVDs e em AIVDs, com ansiedade, satisfeitos com a adaptação, o
companheirismo, o desenvolvimento, a afetividade e a boa funcionalidade familiar.

84
Grupo 3 (n = 108; 80,6% da amostra): predominantemente formado por idosos com
independência em ABVDs, com independência em AIVDs, sem ansiedade, satisfeitos com
adaptação, companheirismo, desenvolvimento, afetividade, capacidade resolutiva e boa
funcionalidade familiar.

Tabela 1: Tamanho dos clusters conforme análise das variáveis idade, gênero, configuração
familiar, condições de saúde física e psicológica e satisfação com os relacionamentos
familiares. Santo Antônio de Jesus, Bahia, Brasil. Idosos, 2011.
Grupos Frequência RMS2 (Desvio- Distância máxima Cluster mais Distância entre os
padrão) observada do centro próximo centróides do grupo

1 24 1.0404 5.5541 3 5.1185


2 02 0.8287 2.4860 3 7.7766
3 108 0.8218 6.3436 1 5.1185

A estrutura de 3 grupos ou conglomerados apresentou um R2 de 0.264, ou seja, explicou


26.4% da variabilidade dos dados. As variáveis que mais contribuíram na formação dos
grupos (variáveis com maior R 2) foram as atividades básicas de vida diária (R 2
= 0,725) e a
satisfação com a dinâmica de funcionamento familiar (R2 =
0,757). A tabela 2 mostra os
resultados da análise de conglomerados.

85
Tabela 2. Resultados da análise de conglomerados conforme as variáveis idade, gênero,
condições de saúde física e psicológica, configuração familiar e satisfação com os
relacionamentos familiares. Santo Antônio de Jesus, Bahia, Brasil. Idosos, 2011.
Variáveis Desvio-padrão Coeficiente de RSQ/(1-RSQ)
determinação
Gênero 1.00276 0.009595 0.009688
Idade 0.98545 0.043499 0.045477
Arranjos de moradia 0.99460 0.025651 0.026326
Chefia familiar 1.00549 0.004192 0.004210
Contribuição para o sustento família 1.00715 0.000894 0.000895
N° doenças autorrelatadas 0.99423 0.026372 0.027086
N° sinais e sintomas autorrelatadas 1.00108 0.012915 0.013084
Envolvimento social 0.99883 0.017338 0.017644
ABVDs 0.52811 0.725296 2.640277
AIVDs 0.97437 0.064883 0.069385
Depressão 0.99525 0.024369 0.024977
Ansiedade 0.97072 0.071873 0.077439
Adaptação 0.69320 0.526697 1.112813
Companheirismo 0.57711 0.671955 2.048358
Desenvolvimento 0.63599 0.601597 1.510021
Afetividade 0.59851 0.647175 1.834269
Capacidade resolutiva 0.69292 0.527075 1.114502
Satisfação dinâmica familiar 0.49645 0.757246 3.119403
Total 0.86421 0.264368 0.359375

A Tabela 3 apresenta dados comparativos sobre a distribuição da amostra quanto à satisfação


com a dinâmica de funcionamento familiar, a configuração familiar e as condições de saúde
física e psicológica dos idosos. Os grupos tiveram uma distribuição igualitária quanto á idade,
ao gênero, aos arranjos de moradia, à chefia familiar, ao nível de contribuição para o sustento
da família, e à saúde física quanto ao envolvimento social e ao número de doenças, sinais e
sintomas autorrelatados.

86
Tabela 3. Frequência de idosos nos três grupos obtidos na análise multivariada em que entraram as variáveis
idade, gênero, configuração familiar, condições de saúde física e psicológica, e satisfação com os
relacionamentos familiares. Santo Antônio de Jesus, Bahia, Brasil. Idosos, 2011.
Variáveis Categorias Amostra total Conglomerados (%)
n % 1G1 2G2 3G3 Valor-p*
Idade 60-74 anos 89 66,4 79,2 0 64,8 0,053
≥75 anos 45 33,6 20,8 100,0 35,2
Gênero Feminino 104 77,6 70,8 100,0 78,7 0,654
Masculino 30 22,4 29,2 0 21,3
Arranjos de Sozinho 24 17,9 29,2 50,0 14,8 0,112
moradia C/ cônjuge/companheiro 10 7,5 4,1 0 8,3
C/ cônjuge e descendentes 32 23,9 16,7 50,0 25,0
Com descendentes 55 41,0 29,2 0 44,5
Outros 13 9,7 20,8 0 7,4
Chefia familiar Sim 97 72,4 70,8 50,0 73,2 0,639
Não 37 27,6 29,2 50,0 26,8
Contribuição para Total 66 49,3 54,2 50,0 48,1 0,878
o sustento família Parcial 59 44,0 37,5 50,0 45,4
Nenhuma 09 6,7 8,3 0 6,5
Envolvimento Menor 88 65,7 75,0 100,0 63,0 0,371
social Maior 46 34,3 25,0 0 37,0
N° doenças Nenhuma 18 13,4 12,5 0 13,9 0,383
autorrelatadas 1-2 70 52,3 45,8 0 54,6
≥3 46 34,3 41,7 100,0 31,5
N° sinais e Nenhum 12 9,0 4,2 0 10,2 0,664
sintomas 1-2 42 31,3 25,0 50,0 32,4
autorrelatadas ≥3 80 59,7 70,8 50,0 57,4
ABVDs Independente 129 96,3 95,8 0 98,2 <0,001
Dependência parcial 03 2,2 4,2 0 1,8
Dependente 02 1,5 0 100,0 0
AIVDs Dependência total 08 6,0 12,5 100,0 2,8 0,001
Dependência parcial 48 35,8 41,7 0 35,2
Independência 78 58,2 45,8 0 62,0
Depressão Sim 23 17,2 29,2 0 14,8 0,224
Não 111 82,8 70,8 100,0 85,2
Ansiedade Sim 31 23,1 45,8 50,0 17,6 0,005
Não 103 76,9 54,2 50,0 82,4
Adaptação Insatisfeito 25 18,7 79,2 0 5,6 <0,001
Satisfeito 109 81,3 20,8 100,0 94,4
Companheirismo Insatisfeito 23 17,2 83,3 0 2,8 <0,001
Satisfeito 111 82,8 16,7 100,0 97,2
Desenvolvimento Insatisfeito 25 18,7 83,3 0 4,6 <0,001
Satisfeito 109 81,3 16,7 100,0 95,4
Afetividade Insatisfeito 26 19,4 87,5 0 4,6 <0,001
Satisfeito 108 80,6 12,5 100,0 95,4
Capacidade Insatisfeito 21 15,7 70,8 50,0 2,8 <0,001
resolutiva Satisfeito 113 84,3 29,2 50,0 97,2
Satisfação Disfunção familiar 19 14,2 79,2 0 0 <0,001
dinâmica familiar Boa funcionalidade 115 85,8 20,8 100,0 100,0
*Teste Exato de Fisher; diferença significativa se p≤0,05.
G1
. Idosos com necessidade de ajuda instrumental para o desempenho de AVD, com ansiedade, com avaliações
negativas e com insatisfação com os relacionamentos familiares.
G2
. Idosos dependentes para o desempenho de AVD, com ansiedade e com satisfação com os relacionamentos
familiares.
G3
. Idosos totalmente independentes e com satisfação com os relacionamentos familiares.

87
Houve um percentual superior de idosos de 60 a 74 anos nos Grupos 1 e 3 e no Grupo 2 ambos
os participantes tinham 75 anos e mais. Nos três grupos predominaram mulheres, chefes de
família, de cujos recursos esta dependia total ou parcialmente. Metade dos idosos no Grupo 1
viviam em arranjos considerados menos continentes (sozinho ou outros arranjos) enquanto que
no Grupo 3 os arranjos mais comuns eram os familiares com cônjuge e/ou descendentes. A
maioria dos três grupos pontuou abaixo da mediana na variável participação social e não
apresentaram sintomatologia depressiva superior a 5 pontos. A maior parte dos idosos dos
Grupos 1 e 3 relatou ter 1 ou 2 doenças, três ou mais sinais e sintomas, independência para as
ABVDs e AIVDs (e dependência parcial para o G1); enquanto que o grupo 2 apresentou maior
número de doenças, sinais e sintomas, dependência total para ABVDs e AIVDs. Os
percentuais mais elevados de pontuação para ansiedade ocorreram nos Grupos 1 e 2. A
totalidade dos idosos dos Grupos 2 e 3 declararam-se satisfeitas com a dinâmica da família,
mas no Grupo 1, cerca de 80% declararam-se insatisfeitos. As avaliações nos domínios da
funcionalidade familiar seguiram a mesma tendência.

Discussão

O primeiro grupo foi formado predominantemente pelos idosos insatisfeitos com os


relacionamentos familiares em todos os domínios avaliados, indicando maior percepção de
disfunção familiar. Esteve associado às características desse grupo idosos independentes nas
atividades básicas, independentes ou parcialmente dependentes nas atividades instrumentais de
vida diária e com ansiedade.

A qualidade das relações familiares e os padrões de interação relacionam-se com o


desenvolvimento e com o curso da ansiedade. Interações que geram afetos agradáveis
desempenham um papel importante na construção e na manutenção de conexões de alta
qualidade porque as pessoas atribuem valor positivo aos parceiros sociais. Emoções negativas
implicam em avaliações negativas porque são fontes de informação sobre o valor dos
relacionamentos (NIVEN; HOLMAN; TOTTERDELL, 2012).

88
Interações negativas podem indicar dificuldades no equilíbrio entre as necessidades
individuais e as da unidade familiar, acarretando aumento da ansiedade dos membros e
afetando o funcionamento familiar. Indivíduos com ansiedade tendem a ter menos controle
sobre emoções negativas, o qual se associa à falta de habilidade para gerenciar e regular
experiências emocionais intensas (CARL et al, 2013). Os principais sintomas da ansiedade,
tais como o medo, a tensão excessiva e a instabilidade emocional são mais comuns entre
idosos com funcionamento psicossocial pobre, com menos habilidades sociais e com maior
necessidade de suporte emocional (STELLA, 2007). Idosos com necessidades não atendidas,
vivendo em ambiente tenso e disfuncional são fortes candidatos a ter sintomas de ansiedade e
a terem agravadas suas condições de dependência funcional e de restrição social (VINK;
AARTSEN; SCHOEVERS, 2008; NORTON et al, 2012).

O segundo grupo foi formado apenas por dois idosos, que eram totalmente dependentes para
atividades básicas e instrumentais de vida diária e que tinham ansiedade. Estes idosos
provavelmente precisam ser cuidados, situação que exige a elaboração de processos
emocionais individuais e familiares bem como reorganização de papéis e funções entre os
membros da família. Nesse grupo, a ansiedade parece dizer mais respeito à capacidade
funcional do que à qualidade das relações familiares, pois os idosos relataram estar satisfeitos
com quase todos os domínios da funcionalidade familiar avaliados (adaptação,
companheirismo, desenvolvimento e afetividade).

A satisfação com os relacionamentos familiares reflete a percepção de que o suporte é


suficiente, cumprimento de expectativas normativas quanto a ser cuidado em caso de
necessidade e capacidade assistencial da família, ou que pelo menos não é fonte de um nível
intolerável de conflitos. Os estudos nacionais indicam que idosos dependentes apresentam pior
avaliação do funcionamento familiar (TORRES et al., 2009; TORRES et al., 2010), no
entanto, os dados encontrados sugerem o inverso: os idosos com dependência relataram boa
funcionalidade familiar. Relatos positivos sobre a família e alta satisfação com relação ao seu
funcionamento e ao apoio que oferece aos pais idosos pode em parte ser determinada pela
necessidade de o idoso manter a autoestima, uma vez que uma família harmoniosa e filhos
apoiadores são largamente atribuídos às qualidades dos idosos como pais e ao cumprimento de

89
papeis e deveres sociais como progenitores de uma prole emocionalmente equilibrada,
produtiva e grata.

O terceiro grupo representou a maioria da amostra e foi formado predominantemente por


idosos independentes para o desempenho de atividades básicas e instrumentais de vida diária,
sem ansiedade, satisfeitos com os relacionamentos familiares em todos os domínios avaliados
e que relataram viver em famílias com bom nível de funcionalidade. Os sentimentos de
proximidade emocional funcionam como amortecedores da ansiedade (FLORIAN;
MIKULINCER; HIRSCHBERGER, 2002) e o suporte social têm efeito protetor sobre o bem-
estar emocional de idosos (CHARLES; CARSTENSEN, 2009). Esses dados são indicadores
de uma feliz associação entre boa saúde física e psicológica e funcionalidade familiar, o que
aumenta a possibilidade de os idosos não terem suas condições crônicas agravadas por tensões
e aumenta a possibilidade de que se mantenham independentes. Relações familiares
harmoniosas têm sido apontadas em vários estudos como elementos importantes para o
envelhecimento bem-sucedido e para a qualidade de vida na velhice (MORAES; SOUZA,
2005; VILELA; CARVALHO; ARAÚJO, 2006).

As variáveis idade, gênero, arranjos de moradia, chefia familiar, contribuição para o sustento
da família, envolvimento social, número de doenças, sinais e sintomas e sintomas depressivos
tiveram distribuições compatíveis com as encontradas em outros estudos (PEDRAZZI et al,
2010; GUARIENTO et al, 2013; RIBEIRO et, 2013; NERI et al, 2013). Neste estudo, sua
variabilidade não foi suficiente para que elas se manifestassem na formação dos três grupos,
mas é importante lembrar que idade avançada, número de condições crônicas e nível de
envolvimento social são fatores de risco para dependência funcional (GRIFFITH et al, 2010;
NERI et al, 2013) e que esta afeta a funcionalidade familiar. As mulheres vivem mais e têm
maior risco de viver em famílias disfuncionais (SANTOS; PAVARINI; BARHAM, 2011) do
que os homens. A configuração familiar é um indicador importante do ambiente físico e social
do idoso, das trocas intergeracionais e do funcionamento familiar.

As variáveis que mais contribuíram para a formação dos grupos, ou seja, que se relacionaram
de forma mais robusta com as demais, foram o desempenho de atividades básicas de vida

90
diária e a satisfação com a dinâmica de funcionamento familiar. O comprometimento das
atividades básicas de vida diária é determinante da necessidade de ser cuidado e por isso afeta
as relações familiares e o potencial de assistência da família que precisa se reorganizar para
responder às necessidades do membro idoso.

Considerações Finais

Os dados apresentados neste estudo são de especial interesse porque coletados num contexto
social brasileiro com piores condições socioeconômicas e de predominância de corresidência
de familiares de várias gerações e de intercâmbios de ajuda descendente entre os idosos e os
mais jovens. Embora não seja possível fazer afirmações sobre relações de causa e efeito com
relação aos dados, uma vez que eles são de natureza descritiva, foram observadas associações
interessantes. Entre elas a principal é a das relações entre a satisfação e as avaliações positivas
ou negativas dos idosos sobre a própria família e o nível de saúde física e mental e de
independência apresentada por eles. Com base na literatura e na observação clínica, é possível
afirmar que há relações recíprocas entre essas variáveis.

O estudo fornece indícios importantes sobre como as variáveis de interesse se associaram


numa análise raramente realizada nesse campo, e inexistente para a região do Nordeste
brasileiro. Coloca em realce a necessidade de aumentar o conhecimento sobre como as
famílias estão se organizando para oferecer o suporte necessário às necessidades de seus
membros idosos, como eles se sentem com relação a isso e quais os reflexos sobre a família.

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95
ESTUDO 3

RELAÇÕES ENTRE CLIMA FAMILIAR, CONFIGURAÇÃO FAMILIAR E SAÚDE


FÍSICA E PSICOLÓGICA DE IDOSOS

Introdução

O conceito de clima familiar diz respeito às características do funcionamento do sistema


familiar e da natureza das relações afetivas entre seus integrantes. A predominância de
relações calorosas, amistosas, flexíveis, construtivas, aceitadoras, empáticas e solidárias
caracterizam um clima positivo. Seu inverso, ou seja, relações frias, hostis, agressivas, rígidas,
rejeitadoras e não aceitadoras, ou a presença de distúrbios emocionais e de doenças mentais
caracterizam um clima negativo (FOSCO; GRYCH, 2012). Teodoro, Allgayer e Land (2009)
destacam a coesão e o apoio como dimensões do clima positivo enquanto que a hierarquia e o
conflito caracterizam um clima negativo. Os padrões familiares modelam as regras de
expressão de afetos positivos e negativos, de maneira que um ambiente coesivo e com
relacionamentos positivos dá um tom de aceitação e apoio enquanto que ambientes críticos,
hostis e com relações negativas podem desencorajar a expressão das necessidades emocionais,
diminuir a habilidade de regular a própria emoção e aumentar o distress emocional.

O clima familiar do idoso está relacionado com suas condições de saúde, pois além de se
constituírem em grande fonte de preocupação para eles e para os seus familiares, doenças e
incapacidades podem prejudicar o equilíbrio familiar. A emergência da necessidade de cuidar,
gerada por problemas de saúde nos idosos geralmente funciona como evento estressante que
exige a mobilização dos recursos de enfrentamento da família (PIERCY, 2010), para dar conta
de questões quanto a moradia, dinheiro, cuidado instrumental, responsabilidade e afeto. O
idoso com limitações funcionais importantes são mais insatisfeitos com os relacionamentos
familiares (TORRES et al., 2010), tem maior risco de depressão (BATISTONI et al, 2013) e
ansiedade (VINK; AARTSEN; SCHOEVERS, 2008) e estão mais expostos ao risco de viver
em arranjos domiciliares não continentes (CAMARANO; KANSO, 2010).

96
O conceito de configuração familiar diz respeito a quem integra o nicho familiar (conforme
sexo e idade, por exemplo), ao grau de parentesco entre os membros, ao desempenho de chefia
e ao nível da contribuição oferecida pelos membros para o sustento da família. Diferentes
configurações são determinadas por variáveis demográficas, econômicas e de saúde dos
membros, as quais determinam papéis e funções, trocas de recursos materiais e formas de
relacionamento (CAMARANO et al, 2004). A configuração familiar oferece as bases para a
convivência diária e para o clima emocional da família e é um importante indicativo do
ambiente físico e social em que vivem seus membros.

Os estudos sobre família têm apontado a coesão e a hierarquia como duas dimensões básicas
da organização familiar. Segundo os conceitos da escola estrutural sistêmica de Minuchin
(1982), estes são os aspectos que formam a estrutura familiar de todas as famílias. Mudanças
nessas dimensões acarretam alterações nas formas de interação e no funcionamento da família.
A coesão é definida como vínculo ou proximidade emocional e como o sentimento de estar
conectado ao grupo por laços de pertencimento e afeto, é uma propriedade de famílias com
maior bem-estar psicossocial, nas quais as pessoas se esforçam para manter contatos sociais
positivos. Na velhice, os esforços de coesão estão mais associados ao senso de proximidade
emocional do que à percepção de reciprocidade nas trocas sociais (LANG et al, 2013).

A hierarquia é definida como uma estrutura de poder que envolve influência, controle (criação
de regras e imposição de limites), poder decisório e adaptabilidade. Quando auxilia a manter o
equilíbrio no sistema familiar, o exercício de poder é adaptativo. O funcionamento familiar
saudável está relacionado ao relacionamento igualitário do casal (equilíbrio de poder) e à
predominância do poder e da influência dos pais. Famílias estressadas tem maior
probabilidade de demonstrar inversão hierárquica, que pode leva-la ao colapso (GEHRING,
MARTI, SIDLER, 1994; GEHRING, MARTI, 1993). Quando os pais idosos apresentam forte
dependência física e cognitiva, a inversão hierárquica torna-se uma necessidade e não se
configura como disfunção, mas nem por isso deixam de ser geradoras de estresse familiar. Por
outro lado, o valor da hierarquia familiar sofre mudanças culturais ao longo das gerações. Por
exemplo, no Brasil, os idosos atuais cresceram em famílias que valorizavam a autoridade, a
tradição e a continuidade dos costumes e que colocavam as demandas familiares acima das

97
demandas individuais. O valor da igualdade e da liberdade e o fortalecimento da ideologia
individualista foram progressivamente sendo assimiladas no cotidiano familiar e hoje são mais
valorizadas pelas gerações mais jovens (BORGES; ROCHA; COUTINHO, 2008).

O modelo solidariedade-conflito destaca que os níveis de coesão e conflito familiar predizem


as relações intergeracionais e suas consequências na velhice (LOWENSTEIN, 2007). O
conflito é um aspecto normal das relações familiares, mas pode afetar a maneira pela qual os
membros familiares se percebem, a disposição para dar assistência e a dificuldade de resolver
divergências ao longo do tempo. O conflito aumenta a ansiedade e afeta significativamente o
funcionamento familiar quando a coesão é baixa (FINGERMAN; BIRDITT, 2011).

A percepção de que o suporte familiar é satisfatório reflete a força da ligação emocional, a


adaptabilidade a situações de estresse e o compartilhamento de afeto, estima e gratificação
entre os membros da família. A percepção de suporte atua como um moderador do efeito dos
eventos estressantes sobre a saúde mental (HYDE et al, 2011) e é apontado como de grande
importância para diminuir a vulnerabilidade à depressão em adultos (PETTIT et al, 2011). Em
idosos expostos a eventos de vida estressantes, quanto maior a reciprocidade dentro das redes
de apoio, maior o bem-estar psicológico (COUTO et al, 2009).

A interação entre emoção, relacionamentos e saúde é central no estudo do sistema familiar do


idoso já que afeta as trocas intergeracionais. A compreensão desses aspectos vem ganhando
importância para que sejam pensadas medidas de intervenção que proporcionem maior
integração social na família e na comunidade e diminuição da dependência e do isolamento
social. As emoções desempenham um papel fundamental na comunicação de informações
importantes sobre os estados internos a outras pessoas e saber como a outra pessoa sente é
crucial para coordenar as interações sociais e responder adequadamente às necessidades
(ENGLISH et al, 2012). As emoções positivas nos relacionamentos interpessoais definem a
afetividade enquanto que os sentimentos negativos, que podem gerar estresse, agressividade
ou mudança, caracterizam o conflito. Essas características são centrais para a formação de
conexões sociais, para a manutenção de relacionamentos de longo prazo, tem um impacto
duradouro e moldam o ambiente social do indivíduo ao longo do tempo.

98
O objetivo deste estudo foi analisar relações entre o clima familiar, a configuração familiar e
as condições de saúde física e psicológica de homens e mulheres idosos de diferentes idades.

Método

Participantes e procedimentos

O campo selecionado para estudo foi Santo Antonio de Jesus, Estado da Bahia – Brasil, cujo
papel no setor da saúde é importante no Recôncavo Baiano. Tem população total de 90.985
habitantes, sendo que 9149 (7983 residentes na zona urbana e 1166 na zona rural), ou 10% da
população total, têm 60 anos ou mais. O município tem 20 unidades básicas de saúde (UBS)
localizadas na zona urbana. Dente elas, foi selecionada a que tinha o maior número de idosos
cadastrados, o que correspondeu a 14,5% do total de pessoas cadastradas e a 16,8% dos idosos
residentes na cidade. Segundo dados do Sistema de Informação da Atenção Básica ano 2010,
nessa unidade estavam cadastradas 2.754 famílias que somavam 9.234 pessoas, dentre os
quais 1344 com 60 anos e mais. O tamanho da amostra foi fixado em 134 idosos, para um
nível de confiança de 90% e para erro amostral de 5%.

Com a ajuda de agentes comunitários de saúde, foram realizados a identificação e o


arrolamento dos domicílios com idosos localizados em todas as 21 micro-áreas abrangidas
pela UBS selecionada. Dentre os domicílios com idosos identificados, foram sorteados 134,
que foram visitados para efeito de recrutamento. Quando os endereços não eram encontrados,
ou quando os idosos não eram localizados por motivos de viagem, falecimento, doença,
internação ou mudança de endereço, ou ainda, quando não atendiam aos critérios de
elegibilidade e inclusão, buscava-se outro endereço previamente arrolado entre os que tinham
idosos em sua estrutura. Esse outro endereço ficava na mesma rua. O agente comunitário de
saúde e pessoas residentes na micro-área auxiliaram nessa identificação.

Os recrutadores foram instruídos para considerar os seguintes critérios de elegibilidade: idade


igual ou superior a 60 anos; residência permanente na região e no domicílio; compreensão das

99
instruções; interesse em participar e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido.
Como critério de inclusão foi adotada a pontuação referente as notas de corte apresentadas por
Brucki et al (2003) para cada faixa de escolaridade menos um desvio padrão no Mini-Exame
do Estado Mental –MEEM (FOLSTEIN, FOLSTEIN, MCHUGH, 1975; BERTOLUCCI et.
al., 1994), um teste de rastreio de demências comumente usado em estudos populacionais.

Foram visitados 207 domicílios com idosos, dos quais sete (3,4%) não cumpriam um ou mais
critérios de elegibilidade. Sessenta e seis idosos (31,9%) pontuaram abaixo da nota de corte no
MEEM, razão pela qual foram excluídos. Em cada domicilio, todos os idosos eram
entrevistados com vistas à seleção para participação no estudo e a escolha do participante era
baseada na maior pontuação obtida no Mini-Exame do Estado Mental. Era solicitado ao idoso
que a entrevista ocorresse em um local da casa que pudesse proporcionar maior privacidade e
tranquilidade, evitando-se a interrupção por outras pessoas. A coleta durou de duas a três
visitas de 2 horas cada uma, em média.

A realização da pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Maria
Milza (FAMAM), do município de Cruz das Almas – Bahia (protocolo no. 034/2011), de
acordo com a Resolução nº. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), do Ministério da
Saúde do Brasil. Todos os idosos assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido.
Foi garantido a todos o direito de abandonar a pesquisa a qualquer momento. Aos que foram
excluídos com base na pontuação no MEEM foi dito que a pesquisa tinha diferentes formas de
coleta de dados e que se agradecia sua participação naquele momento.

Variáveis e instrumentos

Status cognitivo. Foi utilizado o Mini-Exame do Estado Mental (FOLSTEIN, FOLSTEIN,


MCHUGH, 1975; BERTOLUCCI et. al., 1994), teste de rastreamento que permite uma
avaliação global do funcionamento cognitivo quanto a orientação espacial e temporal,
memória, cálculo, linguagem e praxias. As notas de corte utilizadas foram as de Brucki et al
(2003) para cada faixa de escolaridade menos um desvio padrão: 17 para os analfabetos, 22

100
para os idosos com 1 a 4 anos de escolaridade, 24 para os que tinham de 5 a 8 e 26 para os que
tinham 9 anos ou mais de escolaridade.
1. Características sociodemográficas. Foram avaliadas a idade (agrupada em duas
faixas - 60 a 74 anos e 75 anos ou mais) e o gênero: feminino x masculino.
2. Configuração familiar. Compreendeu a variáveis e itens que se seguem.
2.1. Arranjos de moradia (com base na pergunta: com quem o(a) sr(a) mora?, com
opções para a indicação de sozinho e com o cônjuge ou companheiro, filhos, netos,
outros parentes e pessoas de fora da família). As respostas foram agrupadas nas
categorias sozinho, com o cônjuge ou companheiro, com o cônjuge e descendentes,
com descendentes e outros tipos de arranjo);
2.2. Chefia familiar (com base na pergunta: quem é o chefe da família? As respostas
foram agrupadas nas opções sim ou não para a chefia do idoso).
2.3. Contribuição financeira do idoso para o sustento da família (uma pergunta com
as alternativas total, parcial ou nenhuma).
3. Condições de saúde física:
3.1. Questionário de doenças e de sinais e sintomas auto-relatados. Doenças
crônicas diagnosticadas por médico no ultimo ano (nove doenças, com respostas
dicotômicas) e sinais e sintomas (total de doze com respostas dicotômicas), ambas
agrupadas nas categorias nenhuma; 1 a 2; 3 ou mais (NERI; GUARIENTO, 2011);
3.2. Índice de Independência nas Atividades de Vida Diária (KATZ et al, 1963;
LINO et al, 2008). Foi obtido mediante escala de 6 itens com três possibilidades de
resposta sobre a ajuda necessária (nenhuma, parcial ou total) para banho, vestir-se,
toalete, transferência, controle esfincteriano e alimentação. As respostas foram
agrupadas em: independente, dependência parcial e dependência total.
3.3. Desempenho de atividades instrumentais de vida diária (LAWTON; BRODY,
1969; BRITO; NUNES; YUASO, 2007), mediante escalas com três possibilidades
de resposta sobre a ajuda necessária (nenhuma, parcial ou total) para telefonar, usar
transportes, compras, cozinhar, serviços domésticos, uso de medicação e manejo de
dinheiro. As respostas foram agrupadas em: independente, dependência parcial e
dependência total.

101
3.4. Envolvimento social: a avaliação foi baseada em autorrelato sobre a
participação em atividades físicas, em centro de convivência, na comunidade e
religiosas (quatro questões com respostas que foram agrupadas em sim ou não). Os
dados foram categorizados pela mediana, em menor ou maior envolvimento social.

4. Condições de saúde psicológica:


4.1. Escala de Depressão Geriátrica (YESAVAGE et al, 1983; ALMEIDA;
ALMEIDA, 1999) com 15 perguntas tipo sim x não, a respeito de como o idoso
havia se sentido durante a última semana, os quais referem-se a humores disfóricos.
Trata-se escala de rastreio de depressão, com nota de corte > 6 para depressão leve
e > 11 para depressão grave. Posteriormente, foram reunidas as categorias para
analises dicotômicas (sim x não).
4.2. Inventário de Ansiedade de Beck – BAI (CUNHA, 2001), com 21 itens
versando sobre sintomas comuns de ansiedade e perguntando como o indivíduo
sentiu-se na última semana, com relação a cada um deles. Cada item apresenta
quatro possibilidades de resposta A nota de corte para ansiedade leve é >11, para
ansiedade moderada > 20 e para ansiedade grave, > 31, numa pontuação que pode
variar entre 1 e 63 pontos. Posteriormente, foram reunidas as categorias leve,
moderada ou grave, para analises dicotômicas (sim x não).
5. Clima familiar. Foi avaliado por meio do Inventário do Clima Familiar – ICF,
instrumento construído por Teodoro (2006). São 22 itens avaliados em uma escala de 5
pontos (1= de jeito nenhum; 2=pouco; 3=mais ou menos; 4=muito; 5=completamente)
relativos a quatro domínios: apoio (suporte dado e recebido na família) coesão (vínculo
emocional existente entre os membros da família), conflito (relação agressiva e
conflituosa existente entre os membros da família) e hierarquia (nível de controle e
poder no sistema familiar). Os dados foram agrupados pela mediana, em maior ou
menor percepção quanto aos quatro domínios avaliados e em maior ou menor
percepção de clima positivo (apoio + coesão) e de clima negativo (hierarquia e
conflito).

102
Análise de dados

Com o objetivo de estudar o perfil da amostra, foi feita análise de conglomerados mediante o
método da partição. A análise comparativa da composição dos conglomerados obtidos foi feita
mediante os testes qui-quadrado e Exato de Fisher. O nível de significância adotado para os
testes estatísticos foi de 5%.

Resultados

A idade dos participantes variou de 60 a 95 anos, com média de 72 anos e desvio-padrão de 8


anos. A maioria era do sexo feminino (77,6%), chefe de família (72,4%), contribuindo
totalmente (49,2%) ou parcialmente (44%) para o sustento da família. A maior parte vivia com
descendentes (41%), seguido do arranjo com cônjuge e descendentes (23,9%), sozinho
(17,9%), em outros tipos de arranjos (9,7%) ou só com o cônjuge (7,5%).

Quanto às condições físicas, a maioria relatou ter de uma a duas doenças (52,2%), três ou mais
sinais e sintomas (59,7%), baixo envolvimento social (65,7%), e independência para as
atividades básicas (96,3%) e instrumentais (58,2%) de vida diária. Com relação às condições
psicológicas, 82,9% dos idosos não apresentava sintomatologia depressiva e 76,9% não
mostrou ansiedade.

A maioria dos idosos percebeu menor apoio familiar (58,2%), menor coesão (56,7%), menor
conflito (50,7%), menor hierarquia (53,7%), menor clima familiar positivo (53,7%) e se
dividiu igualmente quanto à percepção de clima negativo (50% menor e 50% maior).

Na análise de conglomerados foi utilizado o método de partição, estabelecendo a priori a


criação de três clusters, cujos resultados podem ser observados na tabela 1. A composição do
conglomerados ou grupos foi a seguinte:

Grupo 1 (n= 5; 3,7% da amostra): predominantemente formado mulheres, chefes de família,


idosos que sustentavam a família, com pouca participação social e com maior número de

103
doenças; com dependência total ou parcial em ABVDs e dependência total em AIVDs; com
depressão e com ansiedade; e com percepção de menor apoio, de menor coesão, de menor
hierarquia, de menor clima positivo e de menor clima negativo.

Grupo 2 (n=74; 55,2% da amostra): predominantemente formado por homens, chefes de


família, idosos que sustentavam a família e pouca participação social; com menor número de
doenças, independência em ABVDs e independência em AIVDs; sem depressão e sem
ansiedade; e com percepção de menor apoio, de menor coesão, de menor hierarquia, de menor
clima positivo e de menor clima negativo.

Grupo 3 (n=55; 41,1% da amostra): predominantemente formado por mulheres, com menor
frequência de chefia familiar, que contribuíam parcialmente para sustento familiar e com
maior participação social; com numero intermediário de doenças, independência em ABVDs e
independência em AIVDs; sem depressão e sem ansiedade; e com percepção de maior apoio,
de maior coesão, de maior hierarquia, de maior clima positivo e de maior clima negativo.

Tabela 1: Tamanho dos clusters conforme análise das variáveis idade, gênero, configuração
familiar, condições de saúde física e psicológica e clima familiar. Santo Antônio de Jesus,
Bahia, Brasil. Idosos, 2011.
Grupos Frequência RMS2 (Desvio- Distância máxima Cluster mais Distância entre os
padrão) observada do centro próximo centróides do grupo

1 05 1.0269 4.8069 2 5.7673


2 74 0.9633 5.2216 3 2.2732
3 55 0.8907 4.8025 2 2.2732

2
A formação com 3 grupos obteve um R de 0.137, ou seja, explicativo de 13.7% da
variabilidade dos dados. As variáveis que mais contribuíram para a formação dos grupos
(variáveis com maior R 2), ou seja, que se relacionaram com as demais de forma mais robusta,
2
foram as atividades básicas de vida diária (R =0,887), apoio familiar (R2 =0,242) e clima
familiar positivo (R2 =0,224). A Tabela 2 mostra os resultados da análise de conglomerados.

104
Tabela 2. Resultados da análise de conglomerados conforme as variáveis idade, gênero,
condições de saúde física e psicológica, configuração e clima familiar. Santo Antônio de
Jesus, Bahia, Brasil. Idosos, 2011.
Variáveis Desvio-padrão Coeficiente de RSQ/(1-RSQ)
determinação
Gênero 0.97856 0.056827 0.060251
Idade 0.99193 0.030880 0.031864
Arranjos de moradia 1.00354 0.008049 0.008114
Chefia familiar 0.96136 0.089691 0.098528
Contribuição para o sustento família 0.98188 0.050403 0.053079
N° doenças autorrelatadas 0.94296 0.124189 0.141799
N° sinais e sintomas autorrelatadas 0.98697 0.040529 0.042241
Envolvimento social 0.97296 0.067592 0.072492
ABVDs 0.33847 0.887158 7.861940
AIVDs 0.95208 0.107177 0.120043
Depressão 0.97132 0.070717 0.076099
Ansiedade 0.95719 0.097559 0.108106
Apoio 0.87685 0.242692 0.320466
Coesão 0.93344 0.141799 0.165229
Conflito 1.00034 0.014376 0.014585
Hierarquia 0.95383 0.103888 0.115931
Clima positivo 0.88726 0.224608 0.289671
Clima negativo 0.95274 0.105944 0.118499
Total 0.93610 0.136893 0.158605

A Tabela 3 apresenta dados de comparação quanto ao clima familiar, à configuração familiar e


às condições de saúde física e psicológica dos idosos. Observa-se que as variáveis que se
relacionaram nos conglomerados foram gênero, chefia familiar, contribuição para o sustento
da família, envolvimento social, número de doenças, atividades básicas e instrumentais de
vida diária, ansiedade, depressão, apoio, coesão, hierarquia, clima positivo e clima negativo.
Idade, arranjos de moradia, número de sinais e sintomas e conflito não integraram os grupos,
sinal de que se distribuíram de forma similar entre eles.

105
Tabela 3. Frequência de idosos nos três grupos obtidos na análise multivariada em que entraram as variáveis
idade, gênero, configuração familiar, condições de saúde física e psicológica e clima familiar. Santo Antônio de
Jesus, Bahia, Brasil. Idosos, 2011.
Variáveis Categorias Amostra total Conglomerados (%)
n % 1G1 2G2 3G3 Valor-p*
Faixa etária 60-74 anos 89 66,4 60,0 59,5 76,4 0,108
≥75 anos 45 33,6 40,0 40,5 23,6
Gênero Feminino 104 77,6 100,0 68,9 87,3 0,028
Masculino 30 22,4 0 31,1 12,7
Arranjos de Sozinho 24 17,9 40,0 23,0 9,1 0,061
moradia C/ cônjuge/companheiro 10 7,5 0 9,4 5,4
C/ cônjuge e descendentes 32 23,9 20,0 14,9 36,4
Com descendentes 55 41,0 40,0 44,6 36,4
Outros 13 9,7 0 8,1 12,7
Chefia familiar Sim 97 72,4 80,0 83,8 56,4 0,002
Não 37 27,6 20,0 16,2 43,6
Contribuição para Total 66 49,3 80,0 59,5 32,7 0,008
o sustento família Parcial 59 44,0 20,0 32,4 61,8
Nenhuma 09 6,7 0 8,1 5,5
Envolvimento Menor 88 65,7 80,0 75,7 50,9 0,011
social Maior 46 34,3 20,0 24,3 49,1
N° doenças Nenhuma 18 13,4 0 23,0 1,8 <0,001
autorrelatadas 1-2 70 52,3 0 51,3 58,2
≥3 46 34,3 100,0 25,7 40,0
N° sinais e Nenhum 12 9,0 0 10,8 7,3 0,145
sintomas 1-2 42 31,3 20,0 39,2 21,8
autorrelatadas ≥3 80 59,7 80,0 50,0 70,9
ABVDs Independente 129 96,3 0 100,0 100,0 <0,001
Dependência parcial 03 2,2 60,0 0 0
Dependente 02 1,5 40,0 0 0
AIVDs Dependência total 08 6,0 80,0 5,4 0 <0,001
Dependência parcial 48 35,8 20,0 37,8 34,5
Independência 78 58,2 0 56,8 65,5
Depressão Sim 23 17,2 60,0 20,3 9,1 0,011
Não 111 82,8 40,0 79,7 90,9
Ansiedade Sim 31 23,1 80,0 27,0 12,7 0,002
Não 103 76,9 20,0 73,0 87,3
Apoio Menor 78 58,2 80,0 78,4 29,1 <0,001
Maior 56 41,8 20,0 21,6 70,9
Coesão Menor 76 56,7 60,0 73,0 34,5 <0,001
Maior 58 43,3 40,0 27,0 65,5
Conflito Menor 68 50,7 60,0 55,4 43,6 0,396
Maior 66 49,3 40,0 44,6 56,4
Hierarquia Menor 72 53,7 60,0 67,6 34,5 <0,001
Maior 62 46,3 40,0 32,4 65,5
Clima positivo Menor 72 53,7 80,0 73,0 25,5 <0,001
Maior 62 46,3 20,0 27,0 74,5
Clima negativo Menor 67 50,0 80,0 62,2 30,9 <0,001
Maior 67 50,0 20,0 37,8 69,1
*Teste Exato de Fisher; diferença significativa se p≤0,05.
G1
. Mulheres física, psicológica e financeiramente oneradas e com tendência ao isolamento, com avaliações negativas do
clima familiar.
G2
. Homens financeiramente onerados, com tendência ao isolamento, mas com boa saúde e independência física, com
avaliações negativas do clima familiar.
G3
. Mulheres parcialmente responsáveis pelo sustento da família, com boa saúde, socialmente envolvidas e com avaliações
positivas do clima familiar.

106
Houve um percentual superior de idosos de 60 a 74 anos nos três grupos. Predominaram as
mulheres nos grupos 1 e 3 e um percentual significativamente diferente dos demais grupos
entre os homens no grupo 2. Os grupos 1 e 2 apresentaram um percentual superior de chefes
de família, de cujos recursos esta dependia totalmente e com menor envolvimento social,
enquanto que o inverso foi verificado no grupo 3, com menor chefia familiar e contribuição
financeira parcial e maior envolvimento social. Nos três grupos predominaram arranjos
familiares com cônjuge e/ou descendentes. Todos os idosos do grupo 1 relataram ter 3 ou mais
doenças, a maioria dos grupos 2 e 3 uma ou duas doenças e nos três grupos a maior parte
relatou ter 3 ou mais sinais e sintomas. Predominou no grupo 1 idosos com dependência total
ou parcial em ABVDs e dependência total em AIVDs, enquanto que nos grupos 2 e 3 idosos
independentes. A presença de depressão e ansiedade foi predominante somente no grupo 1.

Os grupos 1 e 2 opõem-se ao Grupo 3, na medida em que os dois primeiros apresentaram


avaliações negativas do clima familiar e eram onerados por chefia familiar e por doenças,
incapacidades e baixa participação social. O Grupo 3 foi formado predominantemente por
mulheres independentes, com boa saúde, socialmente participativas e com avaliações positivas
do clima familiar.

Discussão

O primeiro grupo representou a menor parcela da amostra e foi formado por mulheres,
majoritariamente por uma pior saúde física com maior número de doenças, dependência total
ou parcial nas atividades básicas e dependência total nas atividades instrumentais de vida
diária e menor participação social. Entre os idosos, as mulheres são as que mais precisam de
cuidados permanentes (CAMARANO; KANSO, 2010), principalmente as mais velhas, porque
têm maior risco para comprometimento funcional e para doenças autorrelatadas (NERI et al,
2011), assim como estão mais expostas ao risco de restrição ao domicílio do que os homens
idosos e os idosos mais jovens (NERI et al, 2013). Essas condições guardam forte associação
com prejuízos sociais, tais como baixo nível de escolaridade e renda, com maior longevidade e
com maior exposição ao ônus associado às tarefas domésticas e de cuidado. O estresse gerado
por essas condições pode tornar-se ainda mais intenso e deletério ao bem-estar, quando traz à

107
tona conflitos intergeracionais com relação a valores e expectativas de comportamento
relacionadas ao cuidado.

Apesar das condições de saúde física, os idosos desse grupo caracterizaram-se por maior
frequência de chefia familiar e com contribuição total para sustento familiar. A proporção de
mulheres idosas chefes de família aumentou 2,5 vezes entre 1980 e 200 no Brasil e reduziu-se
a proporção de mulheres vivendo na casa de filhos e/ou na casa de outros parentes
(CAMARANO, 2003). A renda e a posse do domicilio tem grande influência sobre o aumento
do número de homens e particularmente de mulheres idosas que são chefes de família, mesmo
que apresentem algum grau de dependência. Essa responsabilidade pode conferir maior poder
às mulheres idosas, já fortalecido pelo gerenciamento emocional e da vida pratica da família.
Também pode gerar sobrecarga objetiva e subjetiva e falta de apoio e de cuidado, pois as
idosas continuam desempenhando o seu papel de cuidadora, mas assumiu também o de
provedora. A maior preocupação decorre do maior risco deste contigente feminino de
debilidades físicas, o que pode acarretar perda de autonomia e incapacidade para lidar com as
atividades do cotidiano, além do aparecimento de novos papéis sociais, como o de ser chefes
de família.

O primeiro grupo apresentou também maior frequência de depressão e ansiedade. As mulheres


são mais vulneráveis às consequências do envelhecimento. Têm maior risco de apresentar
depressão e ansiedade (VINK; AARTSEN; SCHOEVERS, 2008; CUNHA; BASTOS; DEL
DUCA; 2012) bem como piores condições de saúde física do que os homens (ARBUS et al,
2013; BATISTONI et al, 2013). A associação entre ansiedade e depressão em idosos é comum
(a prevalência pode variar de 27,5% a 45%) e está associada ao agravamento do sofrimento
físico advindo de condições clínicas, a maior risco de comprometimento funcional e a maior
sofrimento psíquico (STELLA, 2007).

Embora a família seja a principal instituição responsável pelo cuidado, questiona-se se pode
desempenhar essa tarefa de forma adequada. Uma parte significativa de idosos com
dificuldades em atividades básicas não recebe ajuda e suas necessidades não são devidamente
atendidas pelas famílias e estas, por sua vez, não contam com programas de apoio formal do

108
governo. Falta de apoio e maior exposição a interações sociais negativas têm sido associados
com pior saúde e funcionalidade (POWERS et al, 2012).

Percepção de menor apoio, de menor coesão e de menor clima familiar positivo é um


indicador de que o idoso não se sente amparado e conectado ao grupo. Diante da doença do
idoso, a capacidade adaptativa dos familiares é um elemento essencial para a existência de um
clima familiar positivo caracterizado por relações afetivas consistentes, responsáveis e seguras
e por dedicação ao idoso (MARQUES; RODRIGUES; KUSUMOTA, 2006; HORTA;
FERREIRA; ZHAO, 2010). As maiores dificuldades da família na situação de cuidado dizem
respeito à desorganização emocional, à falta de colaboração para o cuidado e ao
distanciamento afetivo nos relacionamentos. As mulheres estão mais expostas a sentir
insatisfação em relação à funcionalidade familiar do que os homens (SILVA; GALERA;
MORENO, 2007; SANTOS; PAVARINI; BARHAM, 2011). A assimilação da situação de
cuidar, a resolução dos problemas dela advindos e a organização necessária para o
enfrentamento e para a manutenção da trajetória familiar depende da história familiar
pregressa. As questões afetivas arraigadas nas relações e as tensões existentes dentro da
família tendem a serem exacerbadas pela enfermidade do idoso.

A saúde psicológica também tem relação com a qualidade dos relacionamentos familiares. A
maior percepção de suporte familiar está associada com menor sintomatologia depressiva em
idosos (SHERMAN et al, 2011). Estudo de Kivelä e colaboradores (2008) aponta que um pior
relacionamento familiar e marital é mais uma consequência do que um preditor da depressão
em idosos. As emoções servem a funções sociais e distúrbios a elas associados estão
associados a doenças psicológicas. Os comportamentos sociais de indivíduos deprimidos tem
consequências mal adaptativas para a própria depressão e afetam a provisão de suporte
(MARROQUÍN, 2011).

Apesar da maior frequência de chefia familiar e a total contribuição financeira, o primeiro


grupo se caracterizou por uma percepção de menor hierarquia. Isso mostra os efeitos da
dependência funcional sobre o status do idoso na família e da possibilidade de uma inversão
hierárquica. Indica também que existe um conflito na percepção do idoso entre a contribuição

109
e o papel que ele considera que tem na família e a resposta desta à sua função e poder na
hierarquia familiar. Pode indicar ainda que o idoso tem pouco poder decisório na alocação dos
seus recursos financeiros e que o padrão de autoridade não foi flexível e adaptável ao processo
de dependência física do idoso.

Por outro lado, esteve associado a esse grupo menor percepção de clima negativo, o que
assinala tanto uma percepção de menor hierarquia quanto de menor conflito familiar.
Experiências de conflito são relatadas com menor frequência pelos idosos do que por adultos
mais jovens (LANG et al, 2013). Além disso, a incapacidade funcional, a depressão e a
ansiedade limitam a energia disponível para o idoso se engajar em trocas conflituosas.

No segundo grupo, composto pela maioria da amostra, foram observadas associações entre ser
homem, ter melhores condições de saúde física, independência tanto para atividades básicas
instrumentais de vida diária, mas menor participação social e ausência de sintomas de
depressão e de ansiedade. Homens apresentam maior tendência de interromper as atividades
avançadas de vida diária, mesmo que tenham boa saúde, em função da aposentadoria, da perda
de recursos e do menor engajamento em atividades extradomésticas que estão relacionadas à
saúde (BORIM et al, 2011; RIBEIRO et al, 2013). Com isso, apresentam menor envolvimento
social na velhice do que as mulheres, mesmo na presença de condições similares de
funcionalidade física. Quando se trata do risco de depressão e ansiedade, o sexo masculino
está em vantagem, pois as mulheres apresentam pior saúde psicológica do que os homens
(GIORDANO; LINDSTRÖM, 2011).

O segundo grupo apresentou maior frequência de chefia familiar e contribuição total para
sustento familiar. Segundo Camarano e colaboradores (2004), no Brasil, nas famílias cujo
idoso é o chefe da família, predominam aqueles do sexo masculino, mais jovens, com
melhores condições de saúde, cuja renda é central ao orçamento familiar e prevalecem as
transferências descendentes de apoio. Para muitos desses idosos as responsabilidades com
filhos e netos não são diminuídas, pois sua aposentadoria representa uma fonte importante de
sustento da família, mesmo quando o domicílio não é multigeracional. Nos contextos de maior
pobreza fica mais difícil satisfazer as próprias necessidades. Por isso, os idosos tornam-se

110
mais vulneráveis às frustrações do dia-a-dia e ao desgaste das relações entre as gerações
(HINES, 1995).

Apesar da boa saúde física e psicológica, esteve associada às características desse grupo uma
percepção de menor apoio, de menor coesão, de menor hierarquia, de menor clima positivo e
de menor clima negativo. A coesão familiar é um importante componente das relações
familiares. Baixo afeto nos relacionamentos intergeracionais prediz pior qualidade de vida na
velhice (SILVERSTEIN; GIARUSSO, 2010). É possível que as consequências de uma pior
qualidade dos relacionamentos familiares sejam diferentes para homens e mulheres. Por
questões culturais, as mulheres tipicamente relatam maior investimento nos relacionamentos
sociais e favorecem a coesão entre as gerações, ao oferecer suporte e manutenção das ligações
sociais e afetivas. Assim, os efeitos psicológicos de uma pior qualidade dos relacionamentos
familiares podem ser maiores para elas do que para os homens, principalmente se a condição
de dependência estiver presente.

A troca positiva de suporte requer uma comunicação clara da necessidade bem como a
habilidade do provedor de suporte de atender a necessidade expressada pelo idoso. Tanto os
homens idosos quanto seus familiares podem ter expectativas irrealistas a respeito dos
comportamentos de suporte. A não compreensão ou a má comunicação podem interferir tanto
na apropriada provisão de suporte quanto na percepção da adequação do suporte recebido.
Ajudar e receber ajuda são componentes-chave da interação familiar e representam parte do
que significa pertencer a uma unidade coesa. As famílias com membros idosos enfrentam
vários desafios e a percepção de que as necessidades são atendidas relaciona-se com
funcionamento familiar saudável.

O envolvimento dos idosos com sua rede familiar nem sempre traz efeitos positivos. As
famílias podem não estar preparadas para expressar emoções negativas e positivas de forma
adequada, nem para responder apropriadamente a situações de estresse. Com excesso de ajuda
ou ajuda intrusiva ou desnecessária, podem criar um ambiente adverso à expressão de
liberdade e autonomia de seu membro familiar mais velho (REIS et al, 2011). Além disso, se
há a presença de um histórico familiar de situações relacionais mal resolvidas, é menos
provável que o idoso perceba apoio.
111
A percepção de menor hierarquia familiar, apesar da boa saúde física e mental e da posição do
idoso como chefe e provedor da família pode indicar que ele considera que nem seu status e
nem sua autonomia estão sendo respeitados pela família.Essa situação pode dar origem a
problemas relacionados ao controle familiar, ao manejo de recursos e relativos à percepção de
dependência entre as gerações. Estudo de Santos e Dias (2008) mostrou que homens idosos
desejam permanecer na posição de chefes familiares e de norteadores do comportamento
familiar, mas que consideram que o tratamento dado aos mais velhos hoje não os respeita e
valoriza como antigamente e se ressentem disso. A instituição de valores mais igualitários e de
uma cultura mais individualista modificou as relações entre as gerações, antes alicerçadas em
um modelo hierárquico, baseado na autoridade, que valorizava a tradição e a continuidade dos
costumes (BORGES; ROCHA-COUTINHO, 2008). O alto valor dado à individualidade, à
liberdade e à igualdade nas relações pessoais, presentes nas gerações mais jovens, coloca as
escolhas e necessidades individuais acima das familiares. Isso pode ser interpretado pelo idoso
como sinônimo de menor apoio, de menor coesão e de menor hierarquia. Pouca flexibilidade e
pouca capacidade de ajustamento a tais mudanças nos modelos tradicionais de família,
masculinidade, feminilidade e respeito aos mais velhos podem levar ao distanciamento nas
relações intergeracionais familiares, dadas pela percepção tanto de menor clima positivo
quanto de menor clima negativo.

O terceiro grupo foi formado predominantemente por mulheres, em boas condições de saúde
física e psicológica, com uma ou duas doenças, independência em atividades básicas e
instrumentais de vida diária, participação social, ausência de depressão e ansiedade e
contribuição parcial para o sustento familiar.

As mulheres tendem a manter atividades sociais, o contato com sua rede social e atividades
extradomésticas relacionadas ao autocuidado. Essa participação é facilitada quando desfrutam
de boa saúde física e pela redução da responsabilidade nos contextos familiar e doméstico,
como ilustrado pela menor sobrecarga associada à chefia e ao sustento familiar (RIBEIRO et
al, 2013). O envolvimento social funciona como fator protetor contra o isolamento social e
funcional e está associado a mais suporte social, maior bem-estar psicológico e melhor
qualidade de vida na velhice, que favorecem o clima familiar e sua avaliação pelas idosas

112
(THOMAS, 2011). Esse grupo percebeu maior apoio, maior coesão e maior hierarquia
familiar. Quando os idosos não têm limitações funcionais importantes e nem problemas de
saúde psicológica, a satisfação com a dinâmica familiar e o bom relacionamento entre os
membros da família tornam-se mais prováveis. Por se tratar de um grupo mais competente
funcionalmente, a percepção de maior hierarquia relaciona-se com o exercício da autonomia,
da maior participação nas decisões familiares e da manutenção do seu status dentro do sistema
familiar. Perceberam tanto maior clima positivo quanto maior clima negativo, o que indica que
a afetividade também pode ser acompanhada da tensão necessária ao crescimento e ao
amadurecimento da família. Idosos autônomos também brigam pelo que desejam e expressam
seus pensamentos e emoções, o que pode levar à discordância e ao conflito.

Quanto à percepção de maior clima negativo, dependendo dos recursos de saúde, sociais e
econômicos, a ajuda recebida dos familiares pode ser interpretada como intrusiva, por
prejudicar o autoconceito e o senso de autoeficacia quanto à competência funcional e por
fortalecer o estigma de ser um fardo. A maioria dos pais e filhos relata algum grau de tensão
entre si, que se reflete na percepção de proximidade emocional e de coesão. Essas tensões
resultam da competição entre necessidades próprias do desenvolvimento, de conselhos não
solicitados, da frequência de contatos, das formas de expressão de poder, de diferenças de
personalidades ou dos padrões de relacionamento anterior (FINGERMAN; BIRDITT, 2011).
Os pais idosos mencionam conflitos relacionados com os hábitos e as escolhas de estilo de
vida dos filhos adultos, enquanto que os filhos reclamam das formas de comunicação e do
estilo de interação dos pais (CLARKE et al, 1999). Como as mulheres são responsáveis por
manter a família unida e cuidar dos parentes, e como tipicamente descrevem maior
investimento nos relacionamentos sociais e na coesão entre as gerações do que os homens,
elas têm maior probabilidade de avaliar o clima familiar de forma negativa, até mesmo porque
são sobrecarregadas por essas tarefas.

As variáveis que mais contribuíram na formação dos três conglomerados foram o desempenho
de atividades básicas de vida diária, o apoio familiar e o clima familiar positivo. Esses dados
apontam o impacto que a dependência funcional tem para o sistema familiar e o quanto podem
afetar a capacidade assistencial e a provisão de suporte. A crescente dependência dos pais

113
idosos pode levar a um desequilíbrio de poder entre as gerações, além de a história familiar
pregressa influenciar a solidariedade intergeracional na velhice (WETHINGTON; DUSH,
2007). Ao que parece, a afetividade ou o clima positivo e as limitações funcionais são as
dimensão que melhor explicam o funcionamento de famílias com idosos.

Considerações Finais

Este estudo mostrou que o clima familiar positivo, a posição hierárquica e a função que os
idosos ocupam na família, associadas a suas condições de saúde física desempenham papel
importante na explicação do funcionamento familiar na velhice. As diferentes formas pelas
quais a família pode se posicionar diante do papel do idoso e da dinâmica hierárquica
estabelecida entre seus membros afeta de maneira diferente a saúde psicológica de homens e
mulheres idosas, que sofrem mais desvantagens do que aqueles.

Homens e mulheres têm expectativas diferentes com relação à família, especialmente quanto à
hierarquia e quanto à aceitação de mudanças nos papéis geracionais. As mulheres têm maior
expectativa de receber cuidado e apoio familiar do que os homens, pois são mais vulneráveis à
dependência funcional e provavelmente já exerceram o papel de cuidadoras, o que as torna
mais exigentes e conscientes do que desejam do cuidado. Os homens idosos esperam manter
sua posição de autoridade e de norteadores do comportamento familiar. Essas expectativas e a
insistência em cumpri-las pode gerar desgaste nas relações familiares.

Este estudo fornece indícios importantes de como as variáveis de interesse podem estar
associadas a partir de uma análise raramente realizada nesse campo, de modo especial no
Nordeste brasileiro, região com escassos estudos dessa natureza. Dado o impacto importante
das atividades da vida diária no funcionamento social e familiar, esta pesquisa chama a
atenção para a necessidade de aumentar o conhecimento sobre as condições de saúde física e
psicológica em idosos e sobre como as famílias estão se organizando para oferecer o suporte
necessário às necessidades de seus membros que envelhecem.

114
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118
ESTUDO 4

AVALIAÇÕES SOBRE A CONFIGURAÇÃO E O CLIMA FAMILIAR E SATISFAÇÃO


COM AS RELAÇÕES FAMILIARES EM IDOSOS COM DIFERENTES CONDIÇÕES DE
SAÚDE FÍSICA E PSICOLÓGICA

Introdução

A configuração familiar envolve aspectos objetivos tais como o arranjo de moradia, a posição
do idoso na família, os intercâmbios de ajuda e o desempenho de chefia familiar, determinadas
pelas condições socioeconômicas, pelas necessidades da família e pelas condições de saúde do
idoso. A percepção do idoso sobre o funcionamento familiar diz respeito à sua avaliação sobre
a qualidade das relações, a eficácia do atendimento das suas necessidades e o grau em que as
relações familiares correspondem às expectativas sociais e às suas expectativas pessoais. Os
atributos coesão, apoio, conflito e hierarquia (TEODORO; ALLGAYER; LAND, 2009), assim
como a satisfação com os relacionamentos familiares são os principais indicadores de
funcionalidade familiar (RODRÍGUEZ-SÁNCHEZ et al, 2011).

Teodoro, Allgayer e Land (2009) apontam a coesão e o apoio como as dimensões essenciais
do clima familiar positivo. Coesão significa vínculo emocional e esse reflete no sentimento de
estar conectado ao grupo. Na velhice, as trocas sociais são baseadas principalmente na busca
de proximidade emocional ou coesão (LANG et al, 2013). Avaliar o suporte como positivo e
suficiente atua como moderador do efeito dos eventos estressantes sobre o bem-estar
psicológico dos idosos (HYDE et al, 2011). A percepção de que há pessoas disponíveis para
ajudar em tempos de necessidade afeta a sua saúde física e mental (BATISTONI et al, 2013).
Os mesmos autores (TEODORO; ALLGAYER; LAND, 2009) apontam a hierarquia e o
conflito como características definidoras de clima emocional negativo na família. É provável
que, ao afirmar tal ponto de vista, eles tenham levado em conta a combinação das duas
características ou a incompatibilidade entre os valores dos membros da família quanto ao

119
sentido da hierarquia, porque, em princípio, a hierarquia é um principio fundamental ao
funcionamento dessa instituição social e ao cumprimento dos papeis que lhe são atribuídos.

Ao longo do curso a vida familiar, a maneira como a hierarquia se apresenta sofre mudanças.
Assim, a autoridade parental associada ao afeto, à flexibilidade e à atenção às necessidades é
fundamental ao desenvolvimento das crianças e dos adolescentes, muito embora se espere que
as mudanças cognitivas que ocorrem nesta fase da vida abram mais oportunidades para
conflitos de valores com os pais do que quando os filhos estão na idade escolar, quando o
status cognitivo e social da criança prediz maior harmonia nas relações com os pais. Ou seja,
espera-se que na infância e na adolescência a hierarquia familiar seja presidida pelos pais e
que a partir da adolescência ocorram alterações nas relações de poder entre pais e filhos. Uma
das tarefas evolutivas fundamentais a ser realizada por idosos que perdem independência
física, cognitiva e financeira é a delegação de autoridade e poder aos filhos. Isto caracteriza
uma inversão de papeis na estrutura de poder da família, uma das características básicas das
famílias com membros idosos que não raramente causa conflitos e perda de coesão.

Em suma, em qualquer fase do ciclo vital de seus membros, a hierarquia familiar envolve
influência, controle e adaptabilidade. O que se altera junto com as mudanças evolutivas de
seus integrantes é a força dessas relações e sua combinação com a coesão e o conflito. Em
qualquer fase do curso da vida familiar, o conflito aumenta a ansiedade dos membros. Quando
a coesão é baixa, o funcionamento familiar é significativamente prejudicado (LOWENSTEIN,
2007; FINGERMAN; BIRDITT, 2011). Dito de outra forma, os níveis de coesão e de conflito
na família, associadas ao significado que a hierarquia tem para seus integrantes, predizem a
qualidade das relações intergeracionais e as consequências dessa qualidade sobre a
funcionalidade da família e sobre bem-estar de seus membros.

Os estudos de Pavarini et al. (2006), Silva; Rabelo e Queroz (2010), Santos; Pavarini; Barham
(2011) e Paiva et al. (2011) mostraram que a maioria dos idosos relata satisfação com os
relacionamento familiares. As mulheres apresentam-se com níveis mais baixos de satisfação,
assim como os idosos que moram sós ou em arranjos mistos (com pessoas fora da família) e os
que não esperam ser cuidados por um familiar. Nos estudos de Torres et al. (2009) e Torres et

120
al. (2010), com idosos dependentes, foram observadas taxas altas de disfunção familiar. A
necessidade de cuidado é um evento estressante que exige da família a mobilização de seus
recursos de enfrentamento (PIERCY, 2010). Os idosos com limitações funcionais importantes
tem maior risco de depressão (BATISTONI et al, 2013) e ansiedade (VINK; AARTSEN;
SCHOEVERS, 2008) e estão mais vulneráveis a viver em arranjos domiciliares não
continentes (CAMARANO; KANSO, 2010).

A convivência com membros idosos doentes, com incapacidades físicas e com piores
condições de saúde psicológica propõe à família um conjunto de desafios com forte potencial
para dar origem a novas configurações (por exemplo, coabitação entre membros idosos e não
idosos) e a novas formas de funcionamento. Conflitos e tensões historicamente existentes
dentro das famílias tendem a ser exacerbadas pela enfermidade de membros idosos. Lidar com
essas novas condições exige a elaboração de conflitos e a busca de alternativas e de novos
recursos pelos idosos e pelos demais membros da família, em favor da harmonia, da
funcionalidade e da estabilidade familiar (TORRES et al, 2010; SANTOS; PAVARINI;
BARHAM, 2011). Por outro lado, os desafios gerados pela presença de idosos doentes e
incapacitados no seio da família podem ser veículo positivos de mudança, reestruturação e
fortalecimento dos vínculos familiares (RESENDE et al, 2008).

Necessitar de um cuidador e permitir ser cuidado é um longo processo de negociação e


ajustamento, que envolve expectativas e a disponibilidade de suporte (SILVA; BOUSSO;
GALERA, 2009). A depressão e a ansiedade são condições psicológicas associadas à
desregulação emocional e tem impacto sobre a percepção de suporte social e de
funcionamento familiar (WERNER-SEIDLER et al, 2012; CARL et al, 2013). O gênero e a
idade também tem influência, pois determinam diferentes papéis e funções nas relações
familiares (CAMARGOS; RODRIGUES; MACHADO, 2011).

A percepção de que as necessidades individuais e coletivas são respondidas é um indicador de


funcionamento familiar saudável e de clima familiar positivo. A disfunção familiar se
caracteriza pela dificuldade de lidar com os eventos estressantes de forma eficaz. O suporte
familiar satisfatório reflete a força da ligação emocional estabelecida entre os membros de

121
uma família, sua adaptabilidade às circunstâncias desafiadoras e o compartilhamento de apoio,
afeto, estima e gratificação. Famílias com idosos são consideradas funcionais quando aptas a
absorver e a manejar as situações de crise de forma realista e adequada, bem como a cumprir e
a harmonizar suas funções essenciais. Maior grau de funcionalidade familiar indicada por
coesão, organização e apoio corresponde a níveis mais altos de qualidade de vida percebida
por seus membros idosos (SILVERSTEIN; GIARRUSSO, 2010).

As transformações na sociedade contemporânea afetaram a convivência familiar e sua


organização e fizeram emergir novas formas de relacionamento entre as gerações e de funções
que o idoso pode ocupar no sistema familiar. A configuração e a dinâmica da família, a
natureza dos vínculos e dos relacionamentos que a caracterizam e as condições de saúde física
e psicológica de seus integrantes formam um sistema relacional e emocional complexo. A
literatura sobre família no Brasil é rica e vasta no campo da infância e juventude, mas escassa
quando se trata dos idosos. Conhecer o ambiente familiar a partir da perspectiva dos idosos
pode contribuir para o desenvolvimento de estratégias de intervenção mais eficazes de
promoção da saúde, contribuir para o esclarecimento do impacto de diferentes condições
físicas e psicológicas sobre a família e fundamentar programas direcionados a comunidades
menos favorecidas.

O objetivo desse estudo foi identificar, a partir da percepção de idosos, as relações entre a
idade, o gênero, as condições de saúde física e psicológica dos idosos, a configuração da
família a qual pertencem e o funcionamento familiar indicada pela satisfação com os
relacionamentos familiares e a avaliação sobre o clima familiar.

Método

Participantes e procedimentos

O campo selecionado para estudo foi Santo Antonio de Jesus, Estado da Bahia – Brasil, cujo
papel no setor da saúde é importante no Recôncavo Baiano. Tem população total de 90.985
habitantes, sendo que 9149 (7983 residentes na zona urbana e 1166 na zona rural), ou 10% da

122
população total, têm 60 anos ou mais. O município tem 20 unidades básicas de saúde (UBS)
localizadas na zona urbana. Dente elas, foi selecionada a que tinha o maior número de idosos
cadastrados, o que correspondeu a 14,5% do total de pessoas cadastradas e a 16,8% dos idosos
residentes na cidade. Segundo dados do Sistema de Informação da Atenção Básica ano 2010,
nessa unidade estavam cadastradas 2.754 famílias que somavam 9.234 pessoas, dentre os
quais 1344 com 60 anos e mais. O tamanho da amostra foi fixado em 134 idosos, para um
nível de confiança de 90% e para erro amostral de 5%.

Com a ajuda de agentes comunitários de saúde, foram realizados a identificação e o


arrolamento dos domicílios com idosos localizados em todas as 21 micro-áreas abrangidas
pela UBS selecionada. Dentre os domicílios com idosos identificados, foram sorteados 134,
que foram visitados para efeito de recrutamento. Quando os endereços não eram encontrados,
ou quando os idosos não eram localizados por motivos de viagem, falecimento, doença,
internação ou mudança de endereço, ou ainda, quando não atendiam aos critérios de
elegibilidade e inclusão, buscava-se outro endereço previamente arrolado entre os que tinham
idosos em sua estrutura. Esse outro endereço ficava na mesma rua. O agente comunitário de
saúde e pessoas residentes na micro-área auxiliaram nessa identificação.

Os recrutadores foram instruídos para considerar os seguintes critérios de elegibilidade: idade


igual ou superior a 60 anos; residência permanente na região e no domicílio; compreensão das
instruções; interesse em participar e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido.
Como critério de inclusão foi adotada a pontuação referente as notas de corte apresentadas por
Brucki et al (2003) para cada faixa de escolaridade menos um desvio padrão no Mini-Exame
do Estado Mental –MEEM (FOLSTEIN, FOLSTEIN, MCHUGH, 1975; BERTOLUCCI et.
al., 1994), um teste de rastreio de demências comumente usado em estudos populacionais.

Foram visitados 207 domicílios com idosos, dos quais sete (3,4%) não cumpriam um ou mais
critérios de elegibilidade. Sessenta e seis idosos (31,9%) pontuaram abaixo da nota de corte no
MEEM, razão pela qual foram excluídos. Em cada domicilio, todos os idosos eram
entrevistados com vistas à seleção para participação no estudo e a escolha do participante era
baseada na maior pontuação obtida no Mini-Exame do Estado Mental. Era solicitado ao idoso

123
que a entrevista ocorresse em um local da casa que pudesse proporcionar maior privacidade e
tranquilidade, evitando-se a interrupção por outras pessoas. A coleta durou de duas a três
visitas de 2 horas cada uma, em média.

A realização da pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Maria
Milza (FAMAM), do município de Cruz das Almas – Bahia (protocolo no. 034/2011), de
acordo com a Resolução nº. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), do Ministério da
Saúde do Brasil. Todos os idosos assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido.
Foi garantido a todos o direito de abandonar a pesquisa a qualquer momento. Aos que foram
excluídos com base na pontuação no MEEM foi dito que a pesquisa tinha diferentes formas de
coleta de dados e que se agradecia sua participação naquele momento.

Variáveis e instrumentos

Status cognitivo. Foi utilizado o Mini-Exame do Estado Mental (FOLSTEIN, FOLSTEIN,


MCHUGH, 1975; BERTOLUCCI et. al., 1994), teste de rastreamento que permite uma
avaliação global do funcionamento cognitivo quanto a orientação espacial e temporal,
memória, cálculo, linguagem e praxias. As notas de corte utilizadas foram as de Brucki et al
(2003) para cada faixa de escolaridade menos um desvio padrão: 17 para os analfabetos, 22
para os idosos com 1 a 4 anos de escolaridade, 24 para os que tinham de 5 a 8 e 26 para os que
tinham 9 anos ou mais de escolaridade.
1. Características sociodemográficas. Foram avaliadas a idade (agrupada em duas
faixas - 60 a 74 anos e 75 anos ou mais) e o gênero: feminino x masculino.
2. Configuração familiar. Compreendeu a variáveis e itens que se seguem.
2.1. Arranjos de moradia (com base na pergunta: com quem o(a) sr(a) mora?, com
opções para a indicação de sozinho e com o cônjuge ou companheiro, filhos, netos,
outros parentes e pessoas de fora da família). As respostas foram agrupadas nas
categorias sozinho, com o cônjuge ou companheiro, com o cônjuge e descendentes,
com descendentes e outros tipos de arranjo);
2.2. Chefia familiar (com base na pergunta: quem é o chefe da família? As respostas
foram agrupadas nas opções sim ou não para a chefia do idoso).

124
2.3. Contribuição financeira do idoso para o sustento da família (uma pergunta com
as alternativas total, parcial ou nenhuma).
3. Condições de saúde física:
3.1. Questionário de doenças e de sinais e sintomas auto-relatados. Doenças
crônicas diagnosticadas por médico no ultimo ano (nove doenças, com respostas
dicotômicas) e sinais e sintomas (total de doze com respostas dicotômicas), ambas
agrupadas nas categorias nenhuma; 1 a 2; 3 ou mais (NERI; GUARIENTO, 2011);
3.2. Índice de Independência nas Atividades de Vida Diária (KATZ et al, 1963;
LINO et al, 2008). Foi obtido mediante escala de 6 itens com três possibilidades de
resposta sobre a ajuda necessária (nenhuma, parcial ou total) para banho, vestir-se,
toalete, transferência, controle esfincteriano e alimentação. As respostas foram
agrupadas em: independente, dependência parcial e dependência total.
3.3. Desempenho de atividades instrumentais de vida diária (LAWTON; BRODY,
1969; BRITO; NUNES; YUASO, 2007), mediante escalas com três possibilidades
de resposta sobre a ajuda necessária (nenhuma, parcial ou total) para telefonar, usar
transportes, compras, cozinhar, serviços domésticos, uso de medicação e manejo de
dinheiro. As respostas foram agrupadas em: independente, dependência parcial e
dependência total.
3.4. Envolvimento social: a avaliação foi baseada em autorrelato sobre a
participação em atividades físicas, em centro de convivência, na comunidade e
religiosas (quatro questões com respostas que foram agrupadas em sim ou não). Os
dados foram categorizados pela mediana, em menor ou maior envolvimento social.
4. Condições de saúde psicológica:
4.1. Escala de Depressão Geriátrica (YESAVAGE et al, 1983; ALMEIDA;
ALMEIDA, 1999) com 15 perguntas tipo sim x não, a respeito de como o idoso
havia se sentido durante a última semana, os quais referem-se a humores disfóricos.
Trata-se escala de rastreio de depressão, com nota de corte > 6 para depressão leve
e > 11 para depressão grave. Posteriormente, foram reunidas as categorias para
analises dicotômicas (sim x não).
4.2. Inventário de Ansiedade de Beck – BAI (CUNHA, 2001), com 21 itens
versando sobre sintomas comuns de ansiedade e perguntando como o indivíduo

125
sentiu-se na última semana, com relação a cada um deles. Cada item apresenta
quatro possibilidades de resposta A nota de corte para ansiedade leve é >11, para
ansiedade moderada > 20 e para ansiedade grave, > 31, numa pontuação que pode
variar entre 1 e 63 pontos. Posteriormente, foram reunidas as categorias leve,
moderada ou grave, para analises dicotômicas (sim x não).
5. Avaliação do funcionamento familiar
5.1. APGAR da Família (SMILKSTEIN, 1978; BRASIL, 2006; DUARTE, 2001),
que avalia a satisfação com as relações familiares em cinco domínios: adaptação,
companheirismo, desenvolvimento, afetividade e capacidade resolutiva. São cinco
questões avaliadas de 0 (nunca), 1 (algumas vezes) ou 2 (sempre). O escore de 0 a
4 indica elevada disfunção familiar, 5 e 6 moderada disfunção familiar e 7 a 10 boa
funcionalidade familiar. Posteriormente, para analises dicotômicas foram reunidas
as categorias elevada + moderada em disfunção familiar X boa funcionalidade.
5.2. Clima familiar. Foi avaliado por meio do Inventário do Clima Familiar – ICF,
instrumento construído por Teodoro (2006). São 22 itens avaliados em uma escala
de 5 pontos (1= de jeito nenhum; 2=pouco; 3=mais ou menos; 4=muito;
5=completamente) relativos a quatro domínios: apoio (suporte dado e recebido na
família) coesão (vínculo emocional existente entre os membros da família),
conflito (relação agressiva e conflituosa existente entre os membros da família) e
hierarquia (nível de controle e poder no sistema familiar). Os dados foram
agrupados pela mediana, em maior ou menor percepção quanto aos quatro
domínios avaliados e em maior ou menor percepção de clima positivo (apoio +
coesão) e de clima negativo (hierarquia e conflito).

Análise de dados

Com o objetivo de estudar o perfil da amostra, foi feita análise de conglomerados mediante o
método da partição. A análise comparativa da composição dos conglomerados obtidos foi feita
mediante os testes qui-quadrado e Exato de Fisher. O nível de significância adotado para os
testes estatísticos foi de 5%.

126
Resultados

A idade dos participantes variou de 60 a 95 anos, com média de 72 anos e desvio-padrão de 8


anos. Na análise de conglomerados foi utilizado o método de partição, estabelecendo a priori a
criação de três clusters, cujos resultados podem ser observados na tabela 1. A composição do
conglomerados ou grupos foi a seguinte:

Grupo 1 (n=4; 3% da amostra): predominantemente formado por idosos com dependência


total ou parcial em ABVDs, dependência total em AIVDs, depressão e ansiedade; satisfeitos
com a adaptação, o companheirismo, o desenvolvimento e a capacidade resolutiva da família,
com percepção de boa funcionalidade familiar; e com percepção de menor apoio, menor
conflito e menor clima familiar positivo;

Grupo 2 (n = 22; 16,4% da amostra): predominantemente formado por idosos independentes


para ABVDs e para AIVDs, com depressão e com ansiedade; insatisfeitos com a adaptação, o
companheirismo, o desenvolvimento, a afetividade e a capacidade resolutiva da família e com
disfunção familiar; com percepção de menor apoio, menor coesão, menor clima positivo e
maior conflito.

Grupo 3 (n = 108; 80,6% da amostra): predominantemente formado por idosos com


independência para ABVDs e para AIVDs, sem depressão e sem ansiedade; satisfeitos com a
adaptação, o companheirismo, o desenvolvimento, a afetividade, a capacidade resolutiva e
com boa funcionalidade da família; com percepção de maior apoio, maior coesão e maior
clima familiar positivo e menor conflito.

Tabela 1: Tamanho dos clusters conforme análise das variáveis idade, gênero, condições de
saúde física e psicológica, configuração e funcionamento familiar. Santo Antônio de Jesus,
Bahia, Brasil. Idosos, 2011.
Grupos Frequência RMS2 (Desvio- Distância máxima Cluster mais Distância entre os
padrão) observada do centro próximo centróides do grupo

1 04 1.0596 4.9610 3 6.2728


2 22 0.9686 6.4268 3 5.5416
3 108 0.8673 6.4892 2 5.5416

127
2
A formação com três clusters teve um R de 0.221, ou seja, explicou 22.1% da variabilidade
dos dados. As variáveis que mais contribuíram para a formação dos conglomerados foram
desempenho de ABVD (R 2 = 0,816) e satisfação com a dinâmica de funcionamento familiar
(R2 = 0,642), conforme pode ser observado na tabela 2.

Tabela 2. Resultados da análise de conglomerados conforme as variáveis idade, gênero,


condições de saúde física e psicológica, configuração e funcionamento familiar. Santo
Antônio de Jesus, Bahia, Brasil. Idosos, 2011.
Variáveis Desvio-padrão Coeficiente de RSQ/(1-RSQ)
determinação
Gênero 1.00211 0.010878 0.010998
Idade 1.00093 0.013209 0.013386
Arranjos de moradia 1.00473 0.005707 0.005740
Chefia familiar 1.00670 0.001788 0.001791
Contribuição para o sustento família 1.00288 0.009361 0.009450
N° doenças autorrelatadas 0.98080 0.052493 0.055402
N° sinais e sintomas autorrelatadas 0.98803 0.038479 0.040018
Envolvimento social 1.00462 0.005914 0.005949
ABVDs 0.43197 0.816204 4.440819
AIVDs 0.95726 0.097426 0.107942
Depressão 0.97824 0.057438 0.060938
Ansiedade 0.93627 0.136572 0.158174
Adaptação 0.74643 0.822217 0.451218
Companheirismo 0.58594 0.661837 1.957154
Desenvolvimento 0.64207 0.593939 1.462687
Afetividade 0.56847 0.681701 2.141697
Capacidade resolutiva 0.65705 0.574774 1.351692
Satisfação dinâmica familiar 0.60232 0.642671 1.798540
Apoio 0.95950 0.093202 0.102781
Coesão 0.97152 0.070340 0.075662
Conflito 0.94961 0.111793 0.125863
Hierarquia 1.00469 0.005770 0.005804
Clima positivo 0.92986 0.148355 0.174198
Clima negativo 0.99153 0.031660 0.032695
Total 0.88911 0.221364 0.284297

A Tabela 3 apresenta dados comparativos sobre a distribuição da amostra quanto à


configuração familiar, quanto às condições de saúde física e psicológica e quanto ao
funcionamento familiar. Observa-se que as variáveis que se relacionaram foram as AIVD, as

128
ABVD, a ansiedade, a depressão, a adaptação, o companheirismo, o desenvolvimento, a
afetividade, a capacidade resolutiva, a satisfação com a dinâmica familiar, o apoio, a coesão, o
conflito e o clima positivo. Não se associaram significativamente ente si ou às demais
variáveis: idade, gênero, arranjos de moradia, chefia familiar, contribuição para o sustento da
família, envolvimento social, número de doenças, sinais e sintomas, hierarquia e clima
negativo, sinal de que se distribuíram de forma similar entre os grupos.

Houve um percentual superior de idosos de 60 a 74 anos nos grupos 2 e 3 e metade no grupo


1. A maioria nos três grupos foi composta por mulheres, por arranjos familiares com cônjuge
e/ou descendentes, por chefes de família, e por idosos com menor envolvimento social. Nos
grupos 1 e 2 observou-se um maior percentual de contribuição total para o sustento familiar. A
maior parte do grupo 1 relatou ter 3 ou mais doenças enquanto os grupos 2 e 3 duas ou menos,
mas os três grupos relataram ter 3 ou mais sinais e sintomas. Predominou no grupo 1 idosos
com alguma dependência em ABVDs e dependência total em AIVD e nos grupos 2 e 3 idosos
independentes. A presença de depressão e ansiedade foi significativamente predominante nos
grupos 1 e 2.

Os grupos 1 e 2 opõem-se ao Grupo 3, de maneira que os dois primeiros apresentaram


avaliações mais negativas do clima familiar, embora o grupo 1 tenha apresentado boa
funcionalidade familiar bem como o grupo 3. O grupo 2 contrasta com o grupo 3 na medida
em que são funcionalmente independentes, mas com condições psicológicas e avaliações
familiares diferentes.

129
Tabela 3. Frequência de idosos nos três grupos obtidos na análise multivariada das variáveis idade, gênero, condições de saúde
física e psicológica, configuração e funcionamento familiar. Santo Antônio de Jesus, Bahia, Brasil. Idosos, 2011.
Variáveis Categorias Amostra total Conglomerados (%)
n % 1 2 3 Valor-p*
Idade 60-74 anos 89 66,4 50,0 77,3 64,8 0,381
≥75 anos 45 33,6 50,0 22,7 35,2
Gênero Feminino 104 77,6 100,0 72,7 77,8 0,598
Masculino 30 22,4 0 27,3 22,2
Arranjos de moradia Sozinho 24 17,9 25,0 27,3 15,8 0,705
C/ cônjuge/companheiro 10 7,5 0 4,5 8,3
C/ cônjuge e descendentes 32 23,9 25,0 18,2 25,0
Com descendentes 55 41,0 50,0 31,8 42,6
Outros 13 9,7 0 18,2 8,3
Chefia familiar Sim 97 72,4 75,0 68,2 73,2 0,835
Não 37 27,6 25,0 31,8 26,8
Contribuição para o Total 66 49,3 75,0 54,5 47,2 0,727
sustento família Parcial 59 44,0 25,0 36,4 46,3
Nenhuma 09 6,7 0 9,1 6,5
Envolvimento social Menor 88 65,7 75,0 72,7 63,9 0,734
Maior 46 34,3 25,0 27,3 36,1
N° doenças Nenhuma 18 13,4 0 13,6 13,9 0,051
autorrelatadas 1-2 70 52,3 0 40,9 56,5
≥3 46 34,3 100,0 45,5 29,6
N° sinais e sintomas Nenhum 12 9,0 0 0 11,1 0,295
autorrelatadas 1-2 42 31,3 25,0 22,7 33,3
≥3 80 59,7 75,0 77,3 55,6
ABVDs Independente 129 96,3 0 95,4 100,0 <0,001
Dependência parcial 03 2,2 50,0 4,6 0
Dependente 02 1,5 50,0 0 0
AIVDs Dependência total 08 6,0 75,0 13,6 1,8 <0,001
Dependência parcial 48 35,8 25,0 40,9 35,2
Independência 78 58,2 0 45,5 63,0
Depressão Sim 23 17,2 50,0 31,8 13,0 0,018
Não 111 82,8 50,0 68,2 87,0
Ansiedade Sim 31 23,1 75,0 50,0 15,7 <0,001
Não 103 76,9 25,0 50,0 84,3
Adaptação Insatisfeito 25 18,7 25,0 77,3 6,5 <0,001
Satisfeito 109 81,3 75,0 22,7 93,5
Companheirismo Insatisfeito 23 17,2 0 86,4 3,7 <0,001
Satisfeito 111 82,8 100,0 13,6 96,3
Desenvolvimento Insatisfeito 25 18,7 0 86,4 5,6 <0,001
Satisfeito 109 81,3 100,0 13,6 94,4
Afetividade Insatisfeito 26 19,4 50,0 90,9 3,7 <0,001
Satisfeito 108 80,6 50,0 9,1 96,3
Capacidade Insatisfeito 21 15,7 25,0 77,3 2,8 <0,001
resolutiva Satisfeito 113 84,3 75,0 22,7 97,2
Satisfação dinâmica Disfunção familiar 19 14,2 0 77,3 1,8 <0,001
familiar Boa funcionalidade 115 85,8 100,0 22,7 98,2
Apoio Menor 78 58,2 75,0 90,9 50,9 <0,001
Maior 56 41,8 25,0 9,1 49,1
Coesão Menor 76 56,7 50,0 86,4 50,9 0,004
Maior 58 43,3 50,0 13,6 49,1
Conflito Menor 68 50,7 75,0 13,6 57,4 <0,001
Maior 66 49,3 25,0 86,4 42,6
Hierarquia Menor 72 53,7 50,0 45,4 55,6 0,702
Maior 62 46,3 50,0 54,6 44,4
Clima positivo Menor 72 53,7 75,0 95,5 44,4 <0,001
Maior 62 46,3 25,0 4,5 55,6
Clima negativo Menor 67 50,0 75,0 31,8 52,8 0,140
Maior 67 50,0 25,0 68,2 47,2
*Teste Exato de Fisher; diferença significativa se p≤0,05.

130
Discussão

O primeiro grupo foi composto por idosos que requerem cuidados básicos e instrumentais de
vida diária. Um momento de transição importante na família é quando os pais idosos, que
cuidaram e deram suporte aos filhos ao longo de toda a vida, precisam ser cuidados. Esse
evento afeta o equilíbrio da estrutura familiar e exige negociação de tarefas, flexibilidade e
capacidade de ajustamento às novas demandas. O estresse vivenciado à essa transição pode
associar-se a prejuízo à funcionalidade familiar, até que a família se reorganize em um novo
modo de funcionamento. A assimilação da situação de cuidar, a resolução dos problemas dela
advindos, a organização necessária para o enfrentamento e para a manutenção dos vínculos
familiares dependem da história familiar pregressa.

Além da dependência funcional, o primeiro grupo pontuou para depressão e ansiedade. O


comprometimento funcional e a fragilidade na velhice está associada a estas condições
psicológicas (NÍ MHAOL´AIN et al, 2012) e a níveis mais baixos de bem-estar,
possivelmente em decorrência de uma crise de identidade refletida em resposta psicológica
mal adaptativa a um evento de transição desafiador e às perdas em saúde (ANDREW; FISK;
ROCKWOOD, 2012). A dependência traz mudanças na identidade, na imagem corporal e
exige o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento. Para os idosos nessas condições, a
presença de outras pessoas que valorizem sua história e que validem os rituais diários que
ancoram sua experiência é vital para sua qualidade de vida (NICHOLSON et al, 2012).

Os idosos do primeiro grupo mostraram satisfação com os relacionamentos familiares com


relação à adaptação, ao companheirismo, ao desenvolvimento e à capacidade resolutiva. Por
outro lado, na avaliação do clima familiar perceberam menor apoio e menor clima positivo,
indicando uma ponderação mais negativa tanto da proximidade emocional quanto da
reciprocidade nas relações, mesmo tendo mostrado satisfação com as relações familiares no
APGAR. Ao que parece, a avaliação da família foi diferente quando feita de forma geral pela
satisfação e quando avaliada por domínios mais específicos que exploraram mais de perto
aspectos comportamentais, cognitivos e afetivos. É possível que os idosos tenham sido
realistas ao avaliarem suas circunstâncias, demandas situacionais e estressores ao

131
reconhecerem que recebem alguma assistência, mas que a família ainda não foi capaz de
responder a todas as necessidades que emergem nessa condição. No entanto, não se sabe como
essas famílias funcionavam previamente e se essas características refletem apenas um padrão
de funcionamento que foi estabelecido ao longo do ciclo de vida familiar.

Além disso, é possível que o fato do primeiro grupo, que é a minoria da amostra, ter
apresentado satisfação com os relacionamentos familiares, mas percepção de menor apoio e
clima familiar positivo, não tenha a ver só com as diferenças nos instrumentos. O suporte de
familiares a idosos dependentes é seletivo e as transferências de apoio não são equivalentes de
todas as partes. Isso significa que eles podem estar satisfeitos com o apoio recebido de alguns
membros, mas não de todos, pois não são todos que assumem os cuidados ou estão
sensibilizados com as necessidades dos idosos. E tem a questão da transferência dos recursos
do idoso na família, o que pode deixar alguns filhos ou parentes insatisfeitos, o que por sua
vez pode resultar em problemas na percepção de coesão e de apoio na família como um todo.
O volume da assistência está positivamente associado à proximidade emocional
(SILVERSTEIN, 2006), o que sugere que eles estejam sendo cuidados, mas não da forma
como gostariam ou esperam. Porém, é preciso destacar que os idosos tendem a avaliar
positivamente a sua família porque isso protege seu autoconceito e a sua autoestima. Avaliar
negativamente a família pode significar insucesso pessoal e ameaça ao senso de
autorrealização.

A percepção de suporte social representa diferenças individuais associadas ao ambiente e às


interações sociais. Baixa percepção de suporte social está relacionada à depressão em vários
estudos, no entanto pouco se sabe sobre quais aspectos do suporte são mais afetados e de que
maneira (MARROQUÍN, 2011). Na presença de dependência, as expectativas socialmente
normativas com relação ao cuidado de idosos pelos familiares podem apresentar diferentes
efeitos sobre a satisfação e sobre os afetos positivos. A percepção de que o suporte é positivo
e suficiente parece ter efeitos benéficos sobre as emoções quando quem o recebe percebe
equilíbrio nas trocas. Esse efeito pode estar relacionado aos custos do suporte quando é
socialmente visível, tais como o sentimento de dívida, de incompetência ou de baixo senso de
autoeficácia (BOLGER; AMAREL, 2007).

132
A percepção de menor conflito familiar foi predominante no primeiro grupo, o que pode
indicar que esta família esteja ainda se ajustando às novas necessidades do idoso, o que afetou
a qualidade positiva das relações, mas não a negativa. Além disso, pode sugerir uma forma
passiva de enfrentamento como distanciar-se de situações conflituosas a fim de preservar
recursos físicos, sociais e psicológicos, especialmente porque apresentaram comprometimento
funcional.

No segundo grupo, associaram-se a independência funcional, uma pior condição psicológica,


insatisfação com a dinâmica de funcionamento familiar (em todos os domínios), e a percepção
de menor apoio, menor coesão e menor clima positivo e maior conflito. As relações
interpessoais influenciam a regulação emocional e esta relação é bidirecional. A depressão é
uma experiência emocional caracterizada por baixo afeto positivo e alto afeto negativo, por
uma visão negativa de si mesmo, do mundo e do futuro e por uma regulação mal adaptativa da
emoção e, esses fatores, estão relacionados com baixo suporte social, menor proximidade com
outras pessoas e menor satisfação social. A habilidade de regular e manejar as emoções de
forma adaptativa está associada com a satisfação com os relacionamentos sociais e com mais
interações sociais positivas e menos interações negativas com outras pessoas (MARROQUÍN,
2011).

Não se sabe se a disfunção familiar contribuiu para a maior sintomatologia depressiva ou o


contrário, mas sabe-se que os familiares podem perpetuar os sintomas psiquiátricos do idoso
bem como o idoso pode intensificar seus sintomas e a percepção de disfuncionalidade familiar
em decorrência da desregulação emocional própria da depressão (BLAZER, 2003). O conflito
familiar está associado aos transtornos de ansiedade (PRIEST; DENTON, 2012), e afeta
significativamente o funcionamento familiar quando a coesão é baixa. Interações negativas e
conflituosas podem indicar uma dificuldade em equilibrar as necessidades individuais e as da
unidade familiar.

A percepção de maior conflito familiar observado no segundo grupo pode ter relação com as
tensões advindas da autonomia e independência dos idosos. A autonomia é um valor cultural
importante e um anseio de pessoas de todas as idades. A perda de independência física,

133
cognitiva e financeira, com a consequente necessidade de aceitação de ajuda e a mudança de
papeis familiares é um grande desafio na velhice. Conflitos podem emergir nos
relacionamentos familiares com relação ao controle e ao manejo de recursos, à tomada de
decisões, às diferenças em valores e expectativas quanto ao cumprimento de papéis ou devido
a uma percepção inapropriada de dependência de uma geração em relação a outra
(SILVERSTEIN; BENGTSON, 1994).

Os idosos do segundo grupo são independentes, mas com piores condições psicológicas, não
se sabe se antecedentes ou consequentes às avaliações dos idosos sobre as relações familiares.
De todo modo, a necessidade de suporte social é latente. A troca positiva de suporte social
requer uma comunicação clara da necessidade bem como a habilidade do provedor de suporte
encontrar a necessidade expressada. Os indivíduos podem ter expectativas irrealistas de
comportamentos de suporte por parte de familiares, e a não compreensão ou a má
comunicação podem interferir tanto na apropriada provisão de suporte quanto na percepção da
adequação do suporte recebido. A comunicação é um condutor vital na provisão de suporte e
interfere na satisfação com a reorganização de papeis, na coesão e nos conflitos familiares. O
suporte familiar bem intencionado, mas equivocado, pode resultar em superproteção ou em um
aconselhamento negativo e mal informado.

Toda troca de suporte abarca custos e benefícios e o envolvimento dos idosos com sua rede
social nem sempre traz efeitos positivos. As famílias podem não estar preparadas para
expressar emoções negativas e positivas de forma adequada, nem para responder
apropriadamente a situações de estresse. Podem criar um ambiente adverso à expressão de
liberdade e autonomia de seu membro familiar mais velho (REIS et al, 2011). Podem ser
excessivamente críticos, negligentes, exigentes, insensíveis e desrespeitosos, com prejuízos à
saúde e ao bem-estar dos idosos.

A qualidade emocional das ligações familiares influencia o bem-estar emocional, e na velhice,


a proximidade emocional (percepção de afetuosidade física, verbal e emocional) é o principal
mecanismo psicológico de regulação dos relacionamentos sociais e do esforço empreendido na
manutenção desses relacionamentos (Lang et al, 2013). Nota-se que a coesão (domínio do

134
ICF) e a afetividade (domínio do APGAR) dizem respeito à proximidade emocional no
contexto familiar e foram avaliados negativamente nesse conglomerado. Segundo Priest e
Denton (2012), em famílias latinas a coesão, uma característica dessa cultura, está associada
com menor estresse e problemas de ansiedade e inclui priorizar as obrigações familiares,
honrar a família e usá-la como referência para a definição de self.

No terceiro grupo, que contem a maior parte da amostra, estão associadas à independência
funcional, uma boa saúde psicológica e percepção de boa funcionalidade familiar, satisfação
com os relacionamentos familiares e avaliações mais positivas do clima familiar.
As avaliações dos idosos deste grupo podem ter sido afetadas pela independência funcional e
pela ausência de sintomas depressivos e de ansiedade nos idosos, pelo alto grau de
adaptabilidade das suas famílias ou, mas provavelmente por ambos os fatores. Essa
adaptabilidade familiar reflete-se em maior resiliência, que, ao mesmo tempo, possibilita aos
idosos um ajustamento positivo frente aos desafios da velhice e o atendimento mais adequado
das necessidades dos membros da família (MARIN; HUBER, 2011).

Os padrões de expressão emocional positiva e negativa contribuem para a socialização da


emoção e fazem parte de um conjunto de regras estabelecidas para sua expressão na família.
Relações familiares positivas e um ambiente coeso dão o tom de aceitação para a experiência
emocional e para a expressão de necessidades (FOSCO; GRYCH, 2012). Quando coerente
com o estado interno das pessoas, a expressão de emoções positivas leva a níveis mais altos de
funcionamento psicológico ao aumento da conectividade social (MAUSS et al, 2011).

O terceiro grupo caracterizou as respectivas famílias como funcionais, sugerindo que elas têm
boa capacidade de absorver e de lidar com as situações de crise de forma realista e adequada e
de cumprir e harmonizar suas funções essenciais. Suas avaliações sugerem que são robustos o
vinculo emocional e o compartilhamento de afeto e apoio nas famílias. O funcionamento
psicológico positivo dos idosos observado nesse grupo deve ter relações recíprocas com essas
características das famílias.

135
Conclusão

Os dados apontaram que boa saúde física está associada a avaliações positivas sobre a
funcionalidade familiar, mas esta associação pode ser alterada na presença de piores condições
psicológicas. Idosos funcionalmente independentes podem se encontrar em duas situações:
aqueles que percebem um funcionamento familiar saudável ou aqueles que percebem o
inverso. Neste último caso, não se tem clareza das relações de causa e efeito entre a presença
de depressão e ansiedade e a pior avaliação familiar, mas pode-se dizer que estas condições
estão associadas e apontam a interrelação entre a desregulação emocional própria destas
condições psicológicas e os padrões de interação familiares estabelecidos e a capacidade
destas famílias de atender às demandas desse idoso. Ao mesmo tempo, as famílias com idosos
dependentes podem ter dificuldades em responder às necessidades emergentes do idoso de
maneira que a dependência funcional está associada à disfuncionalidade familiar e com piores
desfechos de saúde psicológica para os idosos. A qualidade das relações familiares pode
interferir na provisão de suporte.

Embora neste estudo se tenha priorizado a percepção do idoso, a inclusão de um único ponto
de vida dificulta o entendimento do funcionamento familiar como um todo e dos fatores que
interferem na qualidade das relações familiares e na provisão de suporte. Dessa maneira,
sugere-se uma abordagem multireferencial e multidimensional nos estudos sobre a família de
idosos.

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139
CONCLUSÕES

Neste documento acadêmico, foram apresentados quatro estudos descritivos sobre a percepção
de idosos quanto à configuração (tipo de arranjo familiar, chefia familiar e contribuição dos
idosos para o sustento da família) e ao funcionamento de suas respectivas famílias (satisfação
com os relacionamentos familiares e clima familiar), considerando-se o gênero, a idade, as
condições psicológicas indicadas por depressão e ansiedade e as condições de saúde indicadas
por desempenho funcional, por número de doenças e de sinais e sintomas e pelo envolvimento
social.

Análises multivariadas baseadas em distribuições de frequência de um conjunto de variáveis


categóricas, caso da análise de conglomerados, não indicam nem correlações e nem o peso
relativo de certas variáveis sobre outra. Ao contrario, são uteis para indicar as tendências
gerais da distribuição conjunta das variáveis. São baseadas no cálculo das distâncias
euclidianas entre as variáveis estudadas, num espaço multiplano. Em seguida as variáveis são
agrupadas conforme a proximidade geométrica entre elas e o pesquisador procura identificar
grupos que façam sentido no universo de variáveis estudadas (PEREIRA, 1999). Os
agrupamentos são comparados com a teoria e com dados de pesquisa e com base nessas
comparações, são interpretados.

Em todos os estudos entraram as mesmas variáveis sociodemograficas (idade e gênero), as


condições de saúde física e psicológica dos idosos, e a configuração familiar. A diferença
entre os estudos esteve em inserir uma de cada vez em cada um deles as diferentes variáveis
relativas à família: satisfação com os relacionamentos familiares e clima familiar e ambas no
quarto estudo. Essa forma de atuar com as variáveis na análise de dados substitui com
elegância e economia, análises de regressão univariada e multivariada, ou de análises
multigrupos e multiníveis.

O status atual do conhecimento brasileiro sobre as relações focalizadas nestes estudos permite
que tenha sido feita opção por uma abordagem multivariada da frequência dos dados, por se

140
julgar ela suficiente e necessária para a futura realização de estudos mais analíticos e
estatisticamente mais robustos. Segue-se uma síntese dos resultados dos quatro estudos que
foram objeto de apresentação neste trabalho.

Com relação às variáveis presentes nos estudos, apresentaram diferenças estatisticamente


significativas na composição dos conglomerados:

1. Variáveis sociodemográficas: a idade no Estudo 1 nos três grupos e o gênero no Estudo


3 nos três grupos.

2. Configuração familiar: o arranjo de moradia no Estudo 1 em dois grupos, a chefia


familiar e a contribuição financeira para o sustento da família no Estudo 1 em dois
grupos e no Estudo 3 em 3 grupos.

3. Condições de saúde física: as doenças crônicas autorrelatadas nos estudos 1 e 3 em


todos os grupos, os sinais e sintomas autorrelatados no Estudo 1 em dois grupos, e as
atividades básicas e instrumentais de vida diária em todos os estudos em todos os
grupos.

4. Condições psicológicas: a depressão nos estudos 1, 3 e 4 em todos o grupos e a


ansiedade em dois grupos no Estudo 1 e em todos os grupos nos estudos 2, 3 e 4.

5. Funcionamento familiar: a satisfação com os relacionamentos familiares como


indicativo de funcionalidade familiar em todos os estudos que entrou na análise e em
todos os grupos; a coesão no Estudo 3 em três grupos e no Estudo 4 em dois grupos, o
apoio em todos os estudos e grupos, a hierarquia no Estudo 3 nos três grupos, o
conflito no Estudo 4 em três grupos, o clima positivo em todos os estudos e grupos e o
clima negativo no Estudo 3 em três grupos.

Nos resultados como um todo, a chefia familiar, a contribuição financeira, as doenças


autorrelatadas e o envolvimento social só mostraram associações significativas no Estudo 1

141
(com a idade, os arranjos de moradia e com os sinais e sintomas – que apresentaram diferenças
estatisticamente significativas só no estudo 1) e no Estudo 3 (com o gênero –
significativamente diferente só no estudo 3 - e com o clima familiar). O conflito familiar só
mostrou associação significativa no Estudo 4, quando a variável satisfação com os
relacionamentos familiares entrou na análise; e a hierarquia e o clima negativo somente no
Estudo 3.

O Quadro 4 apresenta a síntese dos resultados dos quatro estudos descritivos e respectivas
configurações de multivariação entre as variáveis idade, gênero, condições de saúde física e
psicológica, configuração e funcionamento familiar.

142
Quadro 4: Síntese dos resultados de quatro estudos descritivos e respectivas configurações de multivariação entr
gênero, condições de saúde física e psicológica, configuração e funcionamento familiar. Santo Antônio de Jesus,
2011.
Estudo 1 Estudo 2 Estudo 3
Grupos
1 2 3 1 2 3 1 2 3
n=73 n=59 n=02 n=24 n=02 n=108 n=05 n=74 n=55
Idade 60-74 75e + 75 e + - - - - - -
Gênero - - - - - - F M F
Arranjo moradia Conjuge + Descendentes - - - - - - -
descendentes

Chefia familiar Não Sim - - - - Sim Sim Não


Contribuição Parcial/ Total - - - - Total Total Parcial
financeira nenhuma
Doenças Até 2 3ou+ 3ou+ - - - 3ou+ Até 2 Até 2
Sinais/sintomas Até 2 3ou+ - - - - - - -
ABVDs Independente Independente Dependência Independente Dependência Independente Dependência Independente Independente
Total Total total/parcial

AIVDs Independente Dependência Dependência Independente/ Dependência Independente Dependência Independente Independente
parcial Total dependência Total Total
parcial
Envolvimento maior menor menor - - - menor menor maior
social
Depressão Não Sim Não - - - Sim Não Não
Ansiedade Não Sim - Sim Sim Não Sim Não Não
Funcionalidade disfunção boa boa
familiar
Coesão menor menor maior
Apoio menor menor maior
Hierarquia menor menor maior
Conflito - - -
Clima positivo menor menor maior
Clima negativo menor menor maior
Analisamos todos os agrupamentos dos quatro estudos na tentativa de sintetizar os dados a
partir das características que se repetiram. Considerando que a funcionalidade física e as
condições psicológicas contribuíram para a formação dos agrupamentos em todos os estudos,
podemos resumir os dados em quatro grupos:

1) Idosos com boa saúde física e com boa saúde psicológica: Representaram a maioria da
amostra. Incluiu idosos mais jovens, em arranjos com a presença do cônjuge e descendentes,
que não eram chefes de família ou os principais responsáveis pelo sustento familiar, com
maior envolvimento social e com boa funcionalidade familiar. Esses dados apontam que estes
idosos estão envelhecendo sem grandes prejuízos nas condições de saúde, apresentam
indicadores importantes de bem-estar manifestados pelo maior funcionamento na vida
cotidiana, relações positivas e melhor regulação emocional. Um menor número de fatores de
risco biológico, social ou familiar é importante para o envelhecimento bem-sucedido e para a
qualidade de vida na fase da velhice. No entanto, esse grupo apresentou diferenças entre
homens e mulheres. Os homens, apesar das boas condições de saúde física e psicológica,
mostraram uma avaliação mais negativa do clima familiar, maior ônus financeiro com a chefia
familiar e a contribuição financeira total e menor envolvimento social. Já as mulheres não
apresentaram esse ônus e além do maior envolvimento social fizeram uma avaliação positiva
do clima familiar.

2) Idosos com boa saúde física mas com pior saúde psicológica: Os idosos com essas
características incluíram os mais velhos, com menor frequência quanto à presença do cônjuge
no domicílio, chefes de família e que contribuíam totalmente para o sustento da família, com
menor envolvimento social, que relataram disfunção familiar e que fizeram avaliações mais
negativas do clima familiar.

3) Idosos com dependência funcional e com boa saúde psicológica: Os idosos que
predominaram nestas condições foram as mulheres, mais velhas e sem envolvimento social.
Nenhuma avaliação do funcionamento familiar associou-se a estas características.
4) Idosos com dependência funcional e com pior saúde psicológica: Os idosos com estas
características incluíram as mulheres, chefes de família e principais responsáveis pelo sustento
familiar, com menor envolvimento social e que embora tenham relatado boa funcionalidade
familiar apresentaram uma avaliação mais negativa do clima familiar.
A funcionalidade física indicada pelas atividades básicas de vida diária contribuiu para a
formação dos grupos em todos os estudos e as condições psicológicas indicadas pela
depressão e ansiedade em quase todos os estudos e grupos. Apesar do pequeno número de
idosos dependentes na amostra, este grupo se diferenciou e mostrou associações importantes
para o maior entendimento de como as pessoas nessas condições estão vivendo. A
incapacidade funcional total ou parcial e as complicações dela resultantes são capazes de
afetar o funcionamento de qualquer família. Exigem a reorganização do sistema familiar e
modificação de padrões construídos ao longo do tempo. Este é um processo que envolve o
ajustamento da família e do idoso, a resolução de problemas, as expectativas de papéis e o
manejo de ambiguidades comportamentais, cognitivas e afetivas nos relacionamentos. De
modo geral, as avaliações dos idosos sugerem que, em sua maioria, eles são cuidados, mas que
as famílias têm dificuldades de ajustamento às mudanças exigidas pela dependência deles.

A qualidade do funcionamento familiar precede e oferece o cenário para a incapacidade


funcional e as formas de a família lidar com ela (por exemplo, tipo de suporte demonstrado
entre os membros e cooperação durante os eventos críticos) e influencia a maneira pela qual a
família enfrenta o estresse gerado pelos problemas de saúde física e mental do idoso. Os dados
apontaram que as famílias com idosos dependentes, com depressão e com ansiedade podem ter
mais dificuldades em responder às suas necessidades e de apresentarem formas adaptativas de
funcionamento.

A chefia familiar e a contribuição financeira são indicadores da configuração familiar, mas


também são indicadores de hierarquia familiar. Grande parte dos idosos tinha posição central
na família, sendo responsáveis pelo seu sustento, mesmo que apresentassem perdas em saúde.
Protagonizar a manutenção do sustento familiar pode gerar uma sobrecarga com efeitos
importantes no funcionamento familiar e na saúde psicológica. É possível ainda que uma pior
qualidade dos relacionamentos familiares limite a ajuda disponibilizada, inclusive a financeira,

145
o que condiciona os idosos a viverem unicamente com seus recursos, independente de quais
são suas necessidades. Ambas as situações podem se constituir em um risco para o bem-estar
do idoso quando precisam de auxílio para questões cotidianas, mas como não se configuram
como uma crise, não são atendidas em detrimento de outras demandas familiares. A presença
do cônjuge/companheiro(a) no arranjo domiciliar e o maior envolvimento social são
indicadores de um envelhecimento com melhor funcionalidade, saúde psicológica e talvez de
um fluxo de transferências intergeracionais de recursos menos oneroso para o idoso.

A coesão e o apoio funcionam como recursos para a manutenção e a promoção de saúde física
e mental na velhice e relacionam-se com os apoios instrumental, emocional e material
disponibilizados pela família. Se por um lado a proximidade emocional é o elemento mais
importante na velhice, pois é ela que regula os relacionamentos sociais e é a principal
motivação para o contato social, por outro os resultados apontam que essa foi uma propriedade
percebida com menor frequência pelos idosos. Estudos indicam que a coesão familiar e o
apoio são valorizados pelos idosos, mas que, em casos de dependência funcional, o
mecanismo de seletividade socioemocional é limitado quando é necessário aceitar
involuntariamente determinados relacionamentos devido ao cuidado.

Idosos do sexo feminino, com maior idade, com menor envolvimento social, com maior chefia
e contribuição financeira, em arranjos sem a presença do cônjuge e com percepção mais
negativa do clima familiar parecem estar em desvantagem. A idade mostrou associação
somente no estudo 1, sendo que a faixa etária mais jovem associou-se com melhores
condições de saúde física e mental e com a presença de um cônjuge ou companheiro. O gênero
mostrou associação somente no estudo 3, apontando que homens e mulheres parecem ter
expectativas diferentes com relação à família, especialmente quanto à percepção de hierarquia
e quanto à aceitação da mudança nos papéis geracionais. As mulheres guardam maior
expectativa quanto ao cuidado e ao apoio familiar, pois são mais vulneráveis à dependência
funcional e provavelmente já exerceram o papel de cuidadoras, o que as torna mais exigentes e
conscientes do que querem obter com o cuidado. Já os homens idosos esperam manter sua
posição de autoridade e de norteador do comportamento familiar, no entanto, a sobrecarga do
exercício dessa função pode gerar desgaste nas relações familiares. A heterogeneidade de

146
formas pela qual a família pode se posicionar diante do papel do idoso e da dinâmica
hierárquica estabelecida entre os componentes afetam de maneira diferente a saúde
psicológica de homens e mulheres idosas, estando elas em desvantagem.

A literatura sobre a violência na velhice indica que idosos com problemas psicológicos e
dependência funcional, em condições de desarmonia familiar e com baixo apoio social estão
em maior risco de sofrer maus-tratos e violência (BRITO, FALAEIROS, 2009;
JOHANNESEN; LOGIUDICE, 2013; TATARA; THOMAS; CYPHERS, 1998). Idosos
nessas condições, bem como seus familiares, deve ser alvo das políticas de saúde pública para
que sua situação não seja naturalizada no cotidiano das relações familiares e nas formas de
negligência social (MINAYO, 2003).

No cômputo geral, as relações familiares foram percebidas pelos idosos como satisfatórias em
alguns aspectos, mas com um baixo clima tanto positivo quanto negativo. Nesse caso, não se
trata de uma ambivalência afetiva, mas uma indiferença envolvendo baixos níveis de
sentimentos positivos e negativos. Idosos com melhor saúde física e psicológica, com menor
sobrecarga no ambiente doméstico e com maior envolvimento social apresentam maiores
recursos de compensação das características negativas dos relacionamentos familiares.

Embora a importância da contribuição da família para a qualidade de vida dos idosos seja
amplamente reconhecida, o que sabemos no Brasil, com base em dados populacionais sobre as
relações entre pessoas idosas e seus familiares ainda é pouco e limitado à perspectiva do
cuidador. Os estudos relatados fornecem uma visão do ponto de vista das pessoas idosas e uma
visão sobre as tensões implícitas aos acordos negociados na família. Os estudos indicaram que
o funcionamento familiar está mais relacionado às condições de saúde física e psicológica dos
idosos do que a arranjos específicos de moradia, à idade ou ao gênero, embora estas variáveis
ajudem a modelar os efeitos dessas interações.

A família é a fonte primária de suporte e o principal recurso potencializador da saúde física e


mental dos idosos. Um melhor funcionamento familiar associa-se a melhor qualidade de vida
dos idosos, sugerindo o quão relevantes são interações familiares, a organização familiar e o

147
apoio familiar. Os profissionais de saúde devem estar atentos às repercussões que a depressão,
a ansiedade, as limitações funcionais e a disfunção familiar têm sobre o idoso e sobre sua
família.

Os dados apresentados sugerem que, considerando-se a perspectiva dos idosos, o clima


familiar positivo, seu lugar na hierarquia da família, o significado da hierarquia para eles, a
função que ocupam na manutenção financeira da família e suas condições de saúde física
desempenham papel importante na explicação do funcionamento da família com e de idosos.
Fornecem indícios sobre como as variáveis de interesse se associam, numa análise raramente
realizada nesse campo, em especial no Nordeste brasileiro. Dado o impacto importante da
independência dos idosos para o desempenho de atividades de vida prática e de autocuidado
para o funcionamento familiar, os estudos apresentados colocam em evidencia a necessidade
de aumentar a base de conhecimentos sobre as condições de saúde física e psicológica em
idosos, em relação a como as famílias estão se organizando para oferecer a eles o suporte
necessário.

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160
ANEXOS

161
ANEXO 1

FICHA DE INFORMAÇÕES SÓCIO-DEMOGRÁFICAS, CONFIGURAÇÃO


FAMILIAR E ENVOLVIMENTO SOCIAL

1-Idade:__________________

2- Sexo: (1) F (2) M

3- Com quem mora?

(1) Sozinho (2) Com cônjuge ou companheiro (3) Com filhos (4) Com cônjuge e filhos
(5) Com netos (6) Com cônjuge, filhos e netos (5) Outros parentes (6) Pessoas fora da família

4- Quem é o chefe da família: (1) idoso (2) cônjuge (3) filho/a (4) neto/a (5) outro
5- O(a) Sr(a) é proprietário de sua residência? (1) Sim (2) Não (3) a casa é do familiar
6- De que forma o(a) Sr(a) participa das despesas da casa:

(1) Responsável por todas as despesas


(2) Responsável por algumas despesas
(3) Quando necessário
(4) Quando quer
(5) Não participa
(6) Outros:_____________________________________________________________________
7- Participa de algum centro de convivência para idosos? (1) Sim (2) Não
8- Faz atividade física?
(1) Nunca (2) Até 1 x mês (3) Quinzenalmente (4) 1x semana (5) 2x ou + semana

9- Participa de alguma atividade na comunidade (social, voluntária)?


(1) Nunca (2) Até 1 x mês (3) Quinzenalmente (4) 1x semana (5) 2x ou + semana

10- Participa de alguma atividade religiosa?


(1) Nunca (2) Até 1 x mês (3) Quinzenalmente (4) 1x semana (5) 2x ou + semana

162
ANEXO 2

Questionário de doenças e de sinais e sintomas auto-relatados (NERI; GUARIENTO,


2011).

163
ANEXO 3

INDEX de Independência nas Atividades de Vida Diária de Katz (KATZ et al, 1963;
LINO et al, 2008).

Atividade Independencia Dependencia Dependencia total

(1) parcial (0,5) (0)

Banho

Transferência

Vestuário

Continência

Higiene pessoal

Alimentação

Soma dos pontos

164
ANEXO 4

Escala de Avaliação do desempenho para atividades instrumentais de vida diária


(LAWTON; BRODY, 1969; BRITO; NUNES; YUASO, 2007).

ATIVIDADE AVALIAÇÃO
O (a) Sr(a) consegue usar o telefone? Sem ajuda 3
Com ajuda parcial 2
Não consegue 1
O (a) Sr(a) consegue ir a locais distantes, Sem ajuda 3
usando algum transporte, sem necessidade Com ajuda parcial 2
de planejamentos especiais? Não consegue 1
O (a) Sr(a) consegue fazer compras? Sem ajuda 3
Com ajuda parcial 2
Não consegue 1
O (a) Sr(a) consegue preparar suas próprias Sem ajuda 3
refeições? Com ajuda parcial 2
Não consegue 1
O (a) Sr(a) consegue arrumar a casa/ subir Sem ajuda 3
escadas? Com ajuda parcial 2
Não consegue 1
O (a) Sr(a) consegue fazer trabalhos Sem ajuda 3
manuais domésticos, como pequenos Com ajuda parcial 2
reparos? Não consegue 1

O (a) Sr(a) consegue lavar e passar sua Sem ajuda 3


roupa/ cuidar do jardim? Com ajuda parcial 2
Não consegue 1
O (a) Sr(a) consegue tomar seus remédios na Sem ajuda 3
dose e horários corretos? Com ajuda parcial 2
Não consegue 1
O (a) Sr(a) consegue cuidar de suas Sem ajuda 3
finanças? Com ajuda parcial 2
Não consegue 1
Total _________ Pontos

165
ANEXO 5

Mini-Exame do Estado Mental (FOLSTEIN, FOLSTEIN, MCHUGH, 1975; BERTOLUCCI et. al.,
1994; BRUCKI et. al., 2003).

ORIENTAÇÃO Pontuação
Dia do mês 1
Mês 1
Ano 1
Dia da semana 1
Hora 1
Local específico 1
Local genérico 1
Bairro/rua 1
Cidade 1
Estado 1

MEMÓRIA IMEDIATA
Repita as palavras: Pêra, mesa, centavo 1 1 1

ATENÇÃO E CÁLCULO
Quanto é 100-7? (até completar 5 subtrações)
93 (1) 86 (1) 79 (1) 72 (1) 65 (1)

EVOCAÇÃO
Diga de novo o nome dos três objetos que eu mencionei há pouco 1 1 1

Linguagem
Nomear um relógio e uma caneta 1 1
Repita: “Nem aqui, nem ali, nem lá” 1
Comando: “Pegue o papel com a mão direita, dobre ao meio e coloque no chão” 1 1 1
Ler e executar: “Feche os olhos” 1
Escrever uma frase 1

Copiar o desenho 1

166
ANEXO 6

Escala de Depressão Geriátrica – GDS (YESAVAGE et al, 1983; ALMEIDA; ALMEIDA,


1999).

1) Você está satisfeito com sua vida? Sim / NÃO

2) Você interrompeu muitas vezes suas atividades? SIM / Não

3) Você sente sua vida vazia? SIM / Não

4) Você fica com freqüência aborrecido? SIM / Não

5) Você está de bem com a vida a maior parte do tempo? Sim / NÃO

6) Você tem medo de que algo de ruim vai lhe acontecer? SIM / Não

7) Você se sente alegre a maior parte do tempo? Sim / NÃO

8) Você, com freqüência, sente-se inútil? SIM / Não

9) Você prefere ficar em casa em vez de sair e fazer coisas novas? SIM / Não

10) Você sente que está freqüentemente tendo problemas de memória? SIM / Não

11) Você pensa que é maravilhoso estar vivo agora?


Sim / NÃO
12) Você pensa que não vale a pena viver como está vivendo agora?
SIM / Não
13) Você se sente cheio de energia?
Sim / NÃO
14) Você sente que a situação não tem solução?
SIM / Não
15) Você pensa que muita gente é melhor do que você?
SIM / Não

167
ANEXO 7

APGAR de Família (SMILKSTEIN, 1978; BRASIL, 2006)

Sempre Ás Nunca
vezes

O(a) Sr(a) está satisfeito(a) pois pode recorrer à sua família em busca de 2 1 0
ajuda quando alguma coisa está te incomodando ou preocupando?

O(a) Sr(a) está satisfeito(a) com a maneira pela qual o(a) 168r(a) e sua 2 1 0
família conversam e compartilham os problemas?

O(a) Sr(a) está satisfeito(a) com a maneira como sua família aceita e 2 1 0
apóia seus desejos de iniciar ou buscar novas atividades e procurar novos
caminhos ou direções?

O(a) Sr(a) está satisfeito(a) com a maneira pela qual sua família 2 1 0
demonstra afeição e reage às suas emoções, tais como raiva, mágoa ou
amor ?

O(a) Sr(a) está satisfeito(a) com a maneira pela qual o (a) sr(a) e sua 2 1 0
família compartilham o tempo juntos?

TOTAL:

(1) 0 a 4 (2) 5 a 6 (3) 7 a 10

168
ANEXO 8
Inventário do clima familiar – ICF (TEODORO, 2006).

Este questionário trata de um tema sobre o qual todos nós temos muito a dizer: a nossa família. Gostaríamos de
pedir que você pense sobre o(s) membro(s) de sua família e sobre como eles, geralmente, se relacionam. Abaixo
estão algumas frases que descrevem situações e sentimentos que podem ou não ocorrer no dia-a-dia de qualquer
família. Responda se as frases se aplicam ou não à sua família.

Em minha família... De jeito Pouco Mais ou Muito Comple-


nenhum menos
tamente

Procuramos ajudar as pessoas da nossa família 1 2 3 4 5


quando percebemos que estão com problemas
As proibições são constantes 1 2 3 4 5
Uns mandam e outros obedecem 1 2 3 4 5
As pessoas zombam umas das outras 1 2 3 4 5
Briga-se por qualquer coisa 1 2 3 4 5
Algumas pessoas deixam de fazer as suas coisas para 1 2 3 4 5
auxiliar as outras pessoas da família

Não importa a vontade da maioria, a decisão final é 1 2 3 4 5


sempre da mesma pessoa
As pessoas irritam umas às outras 1 2 3 4 5
As pessoas gostam de passear e de fazer coisas 1 2 3 4 5
juntas
As pessoas resolvem os problemas brigando 1 2 3 4 5

As pessoas criticam umas às outras frequentemente 1 2 3 4 5


Resolver problemas significa discussão e brigas 1 2 3 4 5
As pessoas tentam ajudar umas às outras quando as 1 2 3 4 5
coisas não vão bem
As pessoas gostam umas das outras 1 2 3 4 5

Sinto que existe união entre os membros 1 2 3 4 5


Os mais velhos mandam mais 1 2 3 4 5
As pessoas se sentem próximas umas das outras 1 2 3 4 5
O(s) filho(s) tem pouco poder nas decisões familiares 1 2 3 4 5
Temos prazer e alegria em passar o tempo juntos 1 2 3 4 5
Algumas pessoas resolvem os problemas de maneira 1 2 3 4 5
autoritária
Ajudamos financeiramente uns aos outros 1 2 3 4 5
As pessoas me ajudam a fazer as coisas quando não 1 2 3 4 5
tenho tempo

169
ANEXO 9

APROVAÇÃO NO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DA FACULDADE MARIA


MILZA – FAMAM, CRUZ DAS ALMAS – BAHIA
(PROTOCOLO NO. 034/2011).

170
171
172
173

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