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The aim of this article is to discuss and figure out the ways of
approaching Africa with black diaspora. To get this goal done, we
consider Africa and Diaspora theorically and methodologically as
a continuous and territory as a paiting of life. Having done this
altogether framing of Africa and Diaspora, the contending
exercise treated this ways of approach, by outstanding the
meanings and curriculum reach of the law 10.639/2003
concerning to overcoming of colonialism and of racism from
places. In the final stages of the text, the enphasis falls on the
Site/Contato african heritage in Diasporas; its marks and presences in the
territories, in analytic understanding of the black brazilian cultural
www.capoeirahumanidadeseletras.com.br
system as philosophical category, hermeneutic key and pole of
capoeira.revista@gmail.com
approach with Africa and Diaspora.
Editores
Marcos Carvalho Lopes
marcosclopes@unilab.edu.br Keywords: Africa, Diaspora, territory, law 10.639, african
heritage, black brazilian cultural system, philosophical category
Pedro Acosta-Leyva
leyva@unilab.edu.br and hermeneutic key.
África e Diásporas: as vias de aproximação
Introdução
A primeira exigência, para demarcar ou assegurar as condições teóricas e metodológicas
para viabilizar as vias de (re) aproximação com África e com a Diáspora, passa pelo
conhecimento ou pela consideração de alguns pressupostos formulados pelas obras de DIOP
(1964), OLIVEIRA (2006), BOKOLO( 2013), KI-ZERBO ( 2013) e CUNHA JUNIOR(2013) ,
que dizem respeito à história, à cultura, à política, ao racismo e ao colonialismo. Os
pressupostos, sinteticamente, são os seguintes:
1- a história da África precisa ser contada de dentro e conjugada com a valo-
rização das línguas nacionais (KI-ZERBO, 2013, p. 22 - 23);
2- a absoluta relevância de estudos e análises que considerem a “África e a
Diáspora negro-africana conjuntamente” e, em outros termos, valorizem o uso teórico e
conceitual desta perspectiva (KI-ZERBO, 2013, p 23);
3- a necessidade, diante do epistemicídio e extermínio de africanos e afro-
descendentes, de uso de concepções teóricas e conceitos produzidos e fertilizados por in-
telectuais africanos (as), negros (as), antirracismo, anticolonialismo e/ou estabilizados pe-
los processos educativos, políticos e filosóficos sistematizados pelos movimentos negros
e pelos sistemas culturais negro-africanos e afrodescendentes;
4- o eixo de história comum da África e da diáspora, numa conjunção pendu-
lar e encruzilhada, deve ser fertilizado pela unidade na diversidade (DIOP, 1964) ;
5- as manifestações culturais na África e na Diáspora constituem, a rigor, um
complexo, denso, sofisticado e milenar sistema cultural que, no eixo de unidade na diver-
sidade, são “revelados” pelos princípios estruturantes comuns, o que possibilita a relação,
a troca, a dinâmica e a existência de uma cosmogonia e base filosófica comum assentada
na África e na Diáspora (ANTONIO, 2015, p. 122);
6- a noção de diáspora, a história comum, a unidade na diversidade, o sistema
cultural e os princípios estruturantes comuns definem o território como quadro de vida;
7- os estudos não podem se limitar aos temas que falam da África e da Diás-
pora como meros esboços de visitantes, mas discutir e responder em profundidade às
questões epistemológicas e, no mesmo diapasão, ao racismo e aos processos coloniais;
8- a educação, utilizada como sinônimo de ensinar, é uma especificidade
humana (FREIRE, 1977), perspectiva que redefine os processos educativos, tecnológicos
É Diop (1964), na tese da história comum dos africanos na África e nas diásporas, que
possibilita o nosso entendimento de que a chave cruzada da história, dinamizada pela unidade na
diversidade, não é outra coisa senão a materialização dessa história comum e pluricultural nos
espaços.
A identidade negro-africana diaspórica é um processo que transcende os limites
identitários nacionais. Sendo assim, revela um processo supraterritorial. No entanto, a dimensão
internacional é socialmente subordinada às especificidades dos territórios. A identidade negro-
africana diáspórica, em cada território, é o dado específico dessa unidade, as especificidades
locais.
As diásporas não podem prescindir da materialidade que constitui o espaço, mas não
podem também prescindir da descolonização do pensamento e da desnaturalização dos
apagamentos construídos com apoio da ciência hegemônica e das suas historiografias. Cabe
aqui, a propósito, citar novamente Moore (2008, p.15) que nos lembra:
que o mesmo processo de perda da memória histórica que aflige as populações
afrodescendentes da Diáspora americana também afeta as diásporas africanas do Oriente
Médio (Iraque, Síria, Iêmen, Turquia, Irá, Afeganistão) e da Ásia Meridional (Índia,
Paquistão, Sri Lanka).
A história, ainda que sumária, da África e das suas Diásporas, resenhada inicialmente,
revela que o entendimento da unidade, num processo contínuo, não pode ser feito isoladamente e
abstraindo o território. Em outros termos, a África explica as diásporas e igualmente as
diásporas explicam a África. Na mesma relação dialógica, há a base territorial. No entanto, não
há um processo apenas de adição; existe a necessidade de compreensão sistêmica da África e das
suas diásporas no território.
Não é possível, incluindo as formações territoriais, entender plenamente as diásporas
fora do todo a que pertence. A totalidade dada pela África e pelas diásporas pressupõem cisões,
rupturas que possibilitam a dinâmica, o movimento. Há questões estruturais erigidas no passado
e atualizadas pelas conjunturas atuais, que assumem uma dimensão espacial. Podemos afirmar,
nas desigualdades socioespaciais existentes no Brasil, país com o maior contingente de negros
nas Américas, o casamento das heranças estruturais fundadas na escravatura, no pós-trabalho
escravizado e nas suas sucessivas atualizações conjunturais. O fato de a população negro-
brasileira ser a absoluta maioria nos cortiços, favelas e nos bairros destituídos de bens materiais e
culturais e, por outo lado, ser minoria nos bairros ricos e mais bem localizados, revela o racismo
e as atualizações socioespaciais.
A compreensão do todo, África, Diáspora, estrutura e conjuntura, não é um exercício
tautológico e vazio de significações, pois a totalidade se faz e se refaz permanentemente. O lugar
social ocupado por negros e negras, no Brasil, é bem ilustrativo dessa realidade. Eis o desenho
transitivo, ou melhor, permanentemente transitivo da totalidade de que necessitamos tratar;
inicialmente, no âmbito da unidade na diversidade. A teia de solidariedade, vias concretas e
sistêmicas de aproximação, se dá através da política, da cultura, da filosofia, dos currículos, da
Lei 10.639, e da historiografia.
1
A Lei 10.639/2003 determina no § 1 o que o conteúdo programático [...] incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos
negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas
social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.
africanos e africanas nas áreas consideradas de domínio exclusivo da Europa. Cunha, a propósito
da história da matemática e da filosofia, se posiciona do seguinte modo:
questionamos as informações sobre as origens gregas da matemática e da filosofia. Mos-
tramos que matemáticos como Tales de Mileto, tido como grego, não nasceu e nem vi-
veu na Grécia. Tales se incorpora a nosso estudo mais tarde pelo seu postulado sobre as
retas paralelas. Mileto é parte da Jônia, que hoje é a Turquia. Na mesma linha exempli-
ficamos como Ptolomeu, nascido em Ptolomelomeia, cidade do vale do Nilo. Como
também da grande matemática e filósofa Hipatia, que é Egípcia e figura na história co-
mo grega. Estes erros são devidos à história da cidade egípcia de Alexandria que foi
dominada pelos gregos deste o século III antes de cristo até a invasão romana, restando
neste período como colônia da Grécia, sem, contudo transformar os seus habitantes em
Gregos. Seria como dizer que Tiradentes, figura histórica brasileira fosse um herói por-
tuguês, pois nasceu num período que o Brasil era colônia de Portugal. Trata-se de um
reaproximar da história escrita e mostrando os inconvenientes da ideologia do eurocen-
trismo, da ideia de ocidente, sociedade ocidental e tendo a Grécia como marco de fun-
dação, retirando a Etiópia, Núbia e Egito da história (CUNHA, 2013, p. 104 -105).
A herança africana na Diáspora tem base ou está fincada nos territórios. A divisão social
do trabalho escravizado e pós-trabalho escravizado deixou marcas, superposições, ou seja,
rugosidades nos espaços. Milton Santos (2002, p. 43) diz nos seus escritos: “As rugosidades não
podem ser apenas encaradas como herança físico-territoriais, mas também como heranças
socioterritoriais ou sociogeográficas”. A apropriação desse conceito, para o exercício de análise
da diáspora, é um instrumento para garantir a aproximação da sua realidade concreta, que tem
dimensão territorial. Corroborando com o conceito relativo às heranças que se materializam nos
territórios, Muniz Sodré, numa referência explicita às heranças religiosas assentadas na energia
vital, fala dos espaços do sagrado concebidos e vividos pelos descendentes de africanos no Brasil
e nas Américas. Os terreiros e a corporeidade negra são as formas, que atualizam a história no
presente e nos territórios. Sodré (2002, p.68) discorre sobre o território mítico e político:
O saber mítico que constituía o ethos da africanidade no Brasil adquiria contornos cla-
ramente políticos diante das pressões de todo tipo exercida contra a comunidade negra.
Assim, os espaços que aqui se “refaziam” tinham motivações ao mesmo tempo míticas e
políticas. Veja o caso dos Quilombos: não foi apenas o grande espaço de resistência
guerreira. Ao longo da vida brasileira, os quilombos representavam recursos radicais de
sobrevivência grupal, com uma forma comunal de vida e modos próprios de organiza-
ção.
unidade na diversidade, que transitivamente promove a dinâmica desse processo nos lugares e na
sua conjugação conjunta.
Partilhamos a tese de que há ainda, como elemento comum nos países africanos e na
Diáspora, um dinâmico, milenar e complexo sistema cultural que, a exemplo do pêndulo história
comum-unidade na diversidade, é dinamizado e atualizado por princípios estruturantes comuns
que possibilitam a convivência, as trocas, o diálogo e a compreensão cosmogônica desse
conjunto sistêmico de manifestações culturais e religiosas nos territórios, que materializam a
continuidade transatlântica.
Vejamos o exemplo da África subsaariana. Merece destaque a centralidade da cultura
como denominador comum num processo de longa duração em que as mudanças climáticas,
tornada história, impulsionaram, a partir das manifestações políticas, econômicas, técnicas e
linguísticas, os contatos, as trocas e a solidariedade.
Ao falar sobre a “África subsaariana”, mesmo na época de Hegel (Hegel, 1975, 173-
174) e em nossa época (Eze, 1988, 139), frequentemente se parte do falso pressuposto
que o deserto do Sahara é o berço da África. O ponto é que, antes do nascimento do de-
serto do Sahara, os povos da África nesta região do continente viviam em proximidade
(Davidson, 1974, 27-32). No momento em que os povos foram separados pela amplia-
ção do abismo do deserto, realizou-se um complexo intercâmbio cultural entre eles. Este
pensamento sugere, pelo menos, que existam alguns traços culturais entre os povos da
África (RAMOSE, 2011).
Quaisquer que sejam as proposições alinhavadas pela história e pelos mesmo sistema
cultural, o território é o elemento, como quadro de vida, de troca de experiências, de técnicas e de
conhecimentos vividos e estabilizados, nuclear para a compreensão da extensão África -
Diáspora.
Decorre desse conceito, do território como quadro de vida, a nossa tese de que a África,
entendida a partir dos países e mais ainda dos lugares, se materializa no Brasil e nos países que
receberam no passado escravista e no presente, por razões econômicas e outras, africanos e
africanas.
A noção de sistema cultural pressupõe a noção do todo e das partes. Sobretudo, exige a
compreensão de que a parte, uma manifestação cultural isolada, não explica o todo. O todo
revela, a partir do entendimento integrado de todo o sistema, a parte.
Arte, cultura e religião, na concepção africana preservada nas Américas, formam um
conjunto intrinsecamente amalgamado. Os planos religiosos ou da religiosidade perpassam as
esferas artísticas e culturais. Há uma visão de mundo fundamentada em valores da
continente africano e com o trânsito, as diásporas americanas, poderíamos, então, perguntar: será
que elas se relacionam apenas individualmente com a África? De igual modo, deveríamos
indagar: se elas se relacionam e/ou se os sistemas aqui explicitados no processo transitivo da
África e da Diáspora não estariam, a rigor, inter-relacionados na estrutura de superfície do
sistema cultural negro-africano e afrodescendente e na estrutura profunda dos princípios
estruturantes desses sistemas? Há interdependência do ponto de vista cosmogônico e histórico
entre os sistemas samba, capoeira, candomblé e umbanda? Quais os elementos nucleares dessa
teia de interdependência? Defendemos a tese de que os princípios estruturantes, assentados na
ancestralidade, oralidade, circularidade, energia vital, expansão e restituição, entre outros,
estariam presentes em inúmeras manifestações culturais no continente africano e nos territórios
transatlânticos.
A antropogênese e a cosmogênese, alicerçadas no sistema cultural negro-brasileiro,
negro –africano e diaspórico, demandam a superação dos limites outorgados pela compreensão
parcial desse sistema. Em outras palavras, a antropogênese e a cosmogênese são chaves
hermenêuticas para a compreensão das filosofias particulares dos Akans, dos nagôs, dos bantus e
de várias etnias, povos e manifestações em conjunto e isoladamente no continente africano e no
mundo. Decorre dessa compreensão, o pressuposto, elas são chaves hermenêuticas igualmente
para a interpretação e a revelação, como brada Ki-Zerbo, “da espécie humana”.
Ramose (2011) defende o mesmo ponto de vista e salienta “que a particularidade é um
ponto de partida válido e viável para fazer e construir uma filosofia. Assim, a filosofia africana
de fato existe com competência para fazer reivindicações pluriversais”.
A efetiva consideração ao objeto da filosofia da ancestralidade é outra exigência
nuclear. O primeiro passo é o enfoque do sistema cultural negro-africano como categoria
filosófica. Desse ângulo, o objeto da filosofia da ancestralidade é o complexo, dinâmico e
milenar sistema cultural negro-africano com suas derivações no sistema cultural afrodescendente.
Isto posto, o segundo passo é reconhecer ou precisar que o sistema cultural negro africano e
afrodescendente pela sua própria natureza “energizada”, ou seja, mística e histórica, não é apenas
cultura pura, é um híbrido; ou seja, é social, religioso, científico e político. O sacrifício,
princípio dinâmico da restituição e continuidade da vida-energia, explica simbólica e
concretamente o devir filosófico e político.
Na cultura nagô, o sacrifício é uma operação imprescindível: a oferenda (ebó), transpor-
tado por Exu, dinamiza a relação entre vivos e ancestrais ou princípios cósmicos (os ori-
xás), reequilibrando ou reparando o círculo coletivo das trocas e, assim, permitindo a
expansão do grupo. O sacrifício implica no extermínio simbólico da acumulação e num
movimento de redistribuição (princípio, portanto, visceralmente antitético ao do capital).
No período clássico da acumulação do capital no ocidente, homem íntegro era o que se
integrava na ética de produção e de acumulação. Para melhor caracterizar a oposição
nagô, se poderia dizer que nagô íntegro é o que restitui, o que devolve. O que simboli-
camente não deixa resto (SODRÉ, 1988, p.128).
A filosofia da ancestralidade, concebida nesta relação dialógica, deixa de ser uma chave
interpretativa apenas da estrutura de superfície do sistema negro-africano; mas sim chave
interpretativa da estrutura profunda desse sistema, ou seja, dos seus princípios estruturantes, a
ancestralidade, a oralidade, a circularidade, a iniciação, a expansão, a restituição, a energia vital e
a pluriversalidade dessas relações entrelaçadas com as disciplinas históricas e com as dinâmicas
sociais e espaciais.
Como princípio estruturante do pensamento negro-africano na diáspora, tomemos como
exemplo Exu, ele não é basilar somente para o entendimento desse sistema, mas sim da
explicação e funcionamento do macro e do microcosmo, o que implica o alargamento e o alcance
da antropogênese e da cosmogênese alicerçada nos legados negro-africanos, neste sentido,
aplicável à espécie humana e ao entendimento, como arte de pensar e filosofar, a respeito do
cosmo, da eternidade, do Eterno, de Deus ou dos deuses.
Mas a filosofia da ancestralidade deve, lembrando a noção energizada e histórica de
cultura, ser pensada de dentro, isto é, a partir do sistema cultural negro-africano e dos seus
princípios estruturantes. Há tentativas equivocadas que querem trazer conceitos e perspectivas
filosóficas alheias, estranhas, ao sistema cultural negro-africano:
Outra exigência imperativa é de que a história (e a cultura) da África devem pelo menos
ser vistas de dentro, não sendo medidas por réguas de valores estranhos [...] Mas essas
conexões têm que ser analisadas nos termos de trocas mútuas, e influências multilaterais
em que algo seja ouvido da contribuição africana para o desenvolvimento da espécie
humana (Ki- ZERBO, 2010, p. 52).
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