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"Desmistificando a Psicometria" por Prof.

Josemberg Moura de Andrade

Avaliar a mente humana, composta por processos latentes que não são
observados a olho nu, nunca foi um processo trivial. Pelo contrário, pode-se
afirmar, sem ressalvas, que avaliar a mente humana é um processo árduo,
complexo e que exige grande seriedade por parte do psicólogo avaliador.
Estamos epistemologicamente distantes das ciências físicas e, felizmente ou
infelizmente, não dispomos de uma régua da inteligência ou uma balança
mágica para medir emoções. A área da psicologia que se propõe a representar
os processos mentais por meio do símbolo numérico é a psicometria. Ressalta-
se, todavia, que a psicometria está entre as disciplinas de menor popularidade
entre os acadêmicos de psicologia das universidades do país. O alunado
costuma ter bastante resistência quando se depara com conceitos psicométricos
e estatísticos. O ponto nevrálgico é que a psicometria muitas vezes é enxergada
como algo descontextualizado e sem aplicação direta. O número, muitas vezes,
é concebido como o objetivo último da psicometria e a interpretação psicológica
é negada ou deixada em segundo plano.
Contrariando esse tipo de posicionamento, temos, nos últimos anos, o aumento
da produção científica nacional em avaliação psicológica, avaliação educacional
e psicologia social e organizacional com destacado uso da psicometria. Isso é
especialmente evidenciado nos últimos congressos de avaliação psicológica
como, por exemplo, o Congresso do Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica
e o Encontro Mineiro de Avaliação Psicológica, que no último mês de setembro
aconteceu na sua nona edição. A psicometria tem sido utilizada como
ferramenta para inspeção da qualidade psicométrica dos testes psicológicos,
testes de conhecimento, inventários de personalidade e escalas atitudinais
utilizadas nas pesquisas, avaliações psicológicas e avaliações educacionais em
todo país. Mais do que isso, a qualidade dos instrumentos, ou falta dela, tem
determinado a qualidade dos resultados das pesquisas realizadas em todo país.
A Resolução número 02/2003 do Conselho Federal de Psicologia resultou na
busca de melhoramento dos instrumentos psicológicos brasileiros por parte dos
psicólogos, no entanto, avanços ainda precisam ser realizados. Nessa direção, o
mercado reclama por novas contribuições de professores e pesquisadores que
estejam engajados com a problemática da medida psicológica, ao passo que
demanda a formação especializada de novos profissionais, os acadêmicos de
psicologia de hoje. Uma recente conquista é a utilização da Teoria de Resposta
ao Item (TRI) no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Certamente, a TRI
passará por um processo de maior popularização e psicólogos serão instigados
a dar suas contribuições. Tecnicamente, a TRI é um conjunto de modelos
matemáticos que considera o item como unidade básica de análise e procura
representar a probabilidade de um examinando dar uma resposta certa a um
item como função dos parâmetros do item (dificuldade, discriminação e
probabilidade de acerto ao acaso) e do traço latente do indivíduo.
Embora pareça complexa e de difícil compreensão, as vantagens práticas da
utilização da TRI são mais intuitivas e atraentes ao leitor menos especializado.
Por exemplo, com a TRI é possível comparar o desempenho de respondentes
que se submeteram a testes diferentes, processo este chamado de equalização.
Por meio da TRI também é possível desenvolver testes psicológicos ou
educacionais adaptativos por computador. A propósito, a testagem adaptativa
por computador (Computer Adaptative Testing - CAT) parece ser o futuro da
avaliação psicológica. Em um CAT, a partir de um processo interativo, os itens
do teste a serem apresentados são selecionados com base nos níveis de
proficiência dos respondentes, o que resulta em resultados de desempenhos
mais condizentes com a realidade. Na TRI, como o foco de análise é o item (ao
invés do teste como na Teoria Clássica dos Testes - TCT), itens com maiores
níveis de dificuldade valem mais pontos no cálculo da proficiência (o teta) do
respondente. Isso leva a resultados mais fidedignos e é dessa forma que as
notas do ENEM são calculadas atualmente. Apesar das vantagens, a TRI não
veio substituir a TCT, e sim, ambas devem ser utilizadas em conjunto, como
teorias complementares. É mister afirmar que a psicometria é de grande valia na
medida em que tem aplicações práticas, fornecendo ferramentas que
possibilitam a operacionalização de avaliações psicológicas e educacionais.
Quando bem estruturadas e operacionalizadas, essas avaliações orientam
decisões baseadas em dados científicos, subsidiam políticas públicas e
favorecem o crescimento pessoal dos agentes envolvidos. Sem dúvidas, é uma
área desafiadora e que reclama por novas contribuições. Neste sentido, a
Psicometria deixa de ser um bicho papão e passa a ser um valioso instrumento
para a construção do conhecimento contemporâneo.

SILVANA – PSICOMETRIA 2º ANO

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