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14/08/2019 Documento:40001237121

Poder Judiciário
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM APELAÇÃO CÍVEL Nº 5005181-92.2017.4.04.7002/PR
RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL ROGER RAUPP RIOS
EMBARGANTE: UNIÃO - FAZENDA NACIONAL (INTERESSADO)

RELATÓRIO

Trata-se de embargos de declaração opostos pela União em face de acórdão assim ementado:

TRIBUTÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA.


ADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. SERVIÇOS HOSPITALARES. IRPJ E CSLL. ALÍQUOTAS REDUZIDAS.
NATUREZA DO SERVIÇO PRESTADO. CRITÉRIO OBJETIVO. LEI Nº 11.727/2008. SOCIEDADE
EMPRESÁRIA. NORMAS DA ANVISA.

1. É certo que o mandado de segurança, ainda quando veicule pretensão de natureza declaratória, exige a
apresentação de documentos aptos à comprovação dos fatos constitutivos do direito alegado pela parte
impetrante, mormente porque o Poder Judiciário não atua como órgão de consulta. No entanto, in casu,
entendo que os documentos apresentados pela impetrante são suficientes à formação de convicção do Juízo,
sendo certo que a controvérsia se resolve, no caso, pela verificação da atividade prevista no objeto social da
empresa, mostrando-se desnecessária, deste modo, a dilação probatória.

2. O Superior Tribunal de Justiça pacificou a matéria atinente à aplicação de alíquotas reduzidas do IRPJ
(8%) e da CSLL (12%) às receitas provenientes de serviços hospitalares. O critério eleito é de cunho objetivo
e concerne à natureza do serviço, que deve ser relacionado à promoção da saúde e ter custo diferenciado,
excluídas, assim, as receitas decorrentes de simples consultas médicas e demais atividades administrativas.
Assim, nos termos do precedente representativo da controvérsia, a concessão do benefício independe da
estrutura física do local de prestação do serviço e se este possuiu, ou não, capacidade para internação de
pacientes (REsp 1.116.399/BA, Rel. Min. Benedito Gonçalves, 1ª Seção, DJe24/02/2010).

3. A Lei nº 11.727/2008 impôs alterações ao artigo 15, § 1º, III, "a", da Lei nº 9.249/1995, que passaram a
viger a partir de 01-01-2009. Além do enquadramento da atividade como de natureza hospitalar, outros dois
requisitos passaram a ser exigidos, a saber: i) estar constituída como sociedade empresária; ii) atender às
normas da ANVISA.

4. As sociedades empresárias devem ser registradas no Registro Público das empresas Mercantis (Junta
Comercial) do Estado em que se encontram estabelecidas.

5. Não é legítimo exigir que a empresa comprove atender às normas da ANVISA. Uma vez que está em
exercício regular de sua atividade e detém o Alvará de funcionamento, há presunção relativa de que está
adequada às regras da vigilância sanitária. Caberia, desta forma, ao Fisco trazer elementos que indiquem o
descumprimento de tais regras. Precedentes desta Corte Regional.

Alega a ocorrência de omissão quanto ao art. 485, IV, do CPC, já que há necessidade de
análise fática quanto à real organização da impetrante como sociedade empresária, o que não pode ser
analisado a partir da mera análise do contrato social. Dessa forma, aduz que o acórdão embargado alargou
indevidamente o benefício legal, violando o art. 111 do CTN. Diz, ainda, que há omissão quanto à nova
redação da IN RFB n.º 1234/2012 pela IN RFB n.º 1.540/2015.

É o relatório.

VOTO

Cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial para: a) esclarecer


obscuridade ou eliminar contradição; b) suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se
pronunciar o juiz de ofício ou a requerimento; c) corrigir erro material (CPC/2015, art. 1.022, incisos I a
III). Em hipóteses excepcionais, admite a jurisprudência emprestar-lhes efeitos infringentes.

Em síntese, a União sustenta haver omissão no acórdão, no tocante à qualificação da


impetrante como sociedade empresária e quanto aos servisos incluídos no regime diferenciado de
tributação.
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Não verifico a ocorrência das omissões apontadas.

Com efeito, no voto-condutor do acórdão restou assim consignado:

"Da inadequação da via processual eleita

O juiz da causa entendeu por julgar extinto o feito sem exame do mérito, por inadequação da via eleita, "em
razão da urgência e especificidade inerente ao rito do mandado de segurança, o qual exige prova pré-
constituída do alegado direito líquido e certo - não se admitindo dilação probatória", não logrando a
impetrante comprovar sequer que exerce as atividades hospitalares exigidas para a redução da base de
cálculo e alíquotas.

É certo que o mandado de segurança, ainda quando veicule pretensão de natureza declaratória, exige a
apresentação de documentos aptos à comprovação dos fatos constitutivos do direito alegado pela parte
impetrante, mormente porque o Poder Judiciário não atua como órgão de consulta. No entanto, in casu,
entendo que os documentos apresentados pela impetrante (evento 1, CONTRSOCIAL3, CNPJ4, OUT5,
ALVARA6 e OUT7) são suficientes à formação de convicção do Juízo, sendo certo que a controvérsia se
resolve, no caso, pela verificação da atividade prevista no objeto social da empresa, mostrando-se
desnecessária, deste modo, a dilação probatória.

Outro não é o entendimento desta Corte Julgadora sobre a questão:

MANDADO DE SEGURANÇA. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA.


POSSIBILIDADE DE JULGAMENTO PELO TRIBUNAL. Se a matéria discutida não depende de
dilação probatória, seja porque é eminentemente de direito, seja porque pode ser solucionada com
base na prova pré-constituída apresentada, mostra-se adequada a ação mandamental. A teor do
disposto no art. 515, § 1º, do CPC, é possível que o tribunal analise de imediato o processo quando
ele estiver em condições de julgamento. IMPOSTO DE RENDA PESSOA JURÍDICA (IRPJ).
CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LIQUIDO (CSLL). ALÍQUOTAS. PRESTAÇÃO DE
SERVIÇOS HOSPITALARES. CLÍNICA DE CIRURGIA PLÁSTICA. 1. Está sujeita à alíquota de 8% de
IRPJ e 12% de CSLL, e não à de 32%, a sociedade empresária cujos serviços se vinculam às atividades
desenvolvidas normalmente nos hospitais e comprova o atendimento aos requisitos da Lei nº 11.727, de
2008. 2. A prestação de serviços de cirurgia plástica se insere no conceito de "serviços hospitalares",
uma vez que demanda instalações e equipamentos para a realização de procedimentos e não simples
consulta médica. (TRF4, AC 5067136-92.2015.4.04.7100, SEGUNDA TURMA, Relator RÔMULO
PIZZOLATTI, juntado aos autos em 22/11/2016)

TRIBUTÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. DILAÇÃO PROBATÓRIA. IRPJ. CSLL. LUCRO


PRESUMIDO. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS HOSPITALARES. LEI Nº 9.249/95, ART. 15, § 1º, III,
ALÍNEA A. 1. A questão principal a ser elucidada versa sobre a adequação dos serviços prestados pela
impetrante à expressão serviços hospitalares, a que alude o art. 15, § 1º, inciso III, da Lei nº
9.249/95. A realização de prova pericial revela-se despicienda, porquanto o ato normativo
mencionado na inicial arrola a atividade exercida pela impetrante. A solução da controvérsia
depende apenas da aplicabilidade desse ato normativo para os fins invocados pela autora, não
havendo necessidade de dilação probatória. 2. Justifica-se a alíquota menor na apuração da base de
cálculo do lucro presumido, para as atividades de serviços hospitalares, em razão da margem de lucro
dessas instituições ser menor do que a de outros estabelecimentos de saúde, por abarcar custos
diversos e mais onerosos. 3. A lei escolheu como único critério distintivo a natureza da atividade
prestada, não importando o local onde é prestado o serviço. O exegeta não pode elastecer o
significado da expressão "serviços hospitalares" de tal forma a abarcar atividades que não
correspondam à assistência plena e integral na área de saúde, com instalações adequadas para
internação de pacientes, garantia de atendimento básico de diagnóstico e tratamento, equipe clínica
organizada e apoio permanente prestado por médicos. 4. A atividade desenvolvida pela impetrante não
se enquadra no conceito de serviços hospitalares. 5. Apelação parcialmente provida, para afastar a
extinção do processo sem julgamento do mérito e julgar improcedente o pedido. (TRF4, APELAÇÃO
EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 2005.71.00.029409-5, 1ª TURMA, Des. Federal JOEL ILAN
PACIORNIK, POR UNANIMIDADE, D.E. 10/07/2007, PUBLICAÇÃO EM 11/07/2007)

Dessa forma, merece reforma a sentença para afastar a inadequação da via eleita. Impõe-se, portanto, o
provimento do recurso, no ponto, para reformar a sentença que extinguiu o feito sem resolução no mérito.
Com base no art. 1.013, §3º, I, do Código de Processo Civil vigente, passo à análise do mérito da demanda.

Das alíquotas do IRPJ e CSLL incidentes sobre prestação de serviços hospitalares

A tributação favorecida no que toca ao IRPJ e à CSLL incidentes sobre receitas de prestação de serviços
hospitalares justifica-se pelo custo diferenciado de tais atividades, dada sua complexidade e necessidade de
alto investimento tecnológico e de pessoal.

A determinação da extensão do conceito "serviços hospitalares" foi objeto de grande controvérsia nos
Tribunais pátrios, que ora tendiam a privilegiar interpretações mais restritivas, ora mais flexíveis, acerca das
atividades equiparáveis a atividades hospitalares.

A Secretaria da Receita Federal editou diversas instruções normativas procurando definir o conteúdo da
expressão, elaboradas a partir de parâmetros fixados em Resoluções da ANVISA acerca de exigências a
serem respeitadas pelas instituições hospitalares, concluindo que o critério para auferir o benefício de
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redução de alíquota dependeria da estrutura física da empresa prestadora de serviços, que deveria ser
equiparável a estrutura de hospitais, inclusive com possibilidade de internação de pacientes.

Esta interpretação restritiva da norma foi afastada pela 1ª Seção do STJ, a partir do julgamento do REsp n.
951.251/PR (DJe 03/06/2009), de Relatoria do Ilustre Ministro Castro Meira, que firmou entendimento sobre
a abrangência da expressão "serviços hospitalares", de que trata o art. 15, § 1º, III, "a", da Lei nº 9.249/95,
de modo que abrangessem aquelas atividades voltadas à promoção da saúde e que tivessem custo
diferenciado das simples consultas médicas, independentemente de serem desenvolvidas dentro de instalações
hospitalares ou de possuírem capacidade de internação de pacientes.

Esse entendimento foi reafirmado em sede de recurso especial representativo da controvérsia, nos seguintes
termos:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO AOS ARTIGOS


535 e 468 DO CPC. VÍCIOS NÃO CONFIGURADOS. LEI 9.249/95. IRPJ E CSLL COM BASE DE
CÁLCULO REDUZIDA. DEFINIÇÃO DA EXPRESSÃO "SERVIÇOS HOSPITALARES".
INTERPRETAÇÃO OBJETIVA. DESNECESSIDADEDE ESTRUTURA DISPONIBILIZADA PARA
INTERNAÇÃO. ENTENDIMENTO RECENTE DA PRIMEIRA SEÇÃO. RECURSO SUBMETIDO AO
REGIME PREVISTO NO ARTIGO 543-C DO CPC.

1. Controvérsia envolvendo a forma de interpretação da expressão "serviços hospitalares" prevista na


Lei 9.429/95, para fins de obtenção da redução de alíquota do IRPJ e da CSLL. Discute-se a
possibilidade de, a despeito da generalidade da expressão contida na lei, poder-se restringir o
benefício fiscal, incluindo no conceito de "serviços hospitalares" apenas aqueles estabelecimentos
destinados ao atendimento global ao paciente, mediante internação e assistência médica integral.

2. Por ocasião do julgamento do RESP 951.251-PR, da relatoria do eminente Ministro Castro Meira, a
1ª Seção, modificando a orientação anterior, decidiu que, para fins do pagamento dos tributos com as
alíquotas reduzidas, a expressão "serviços hospitalares", constante do artigo 15, § 1º, inciso III, da Lei
9.249/95, deve ser interpretada de forma objetiva (ou seja, sob a perspectiva da atividade realizada
pelo contribuinte), porquanto a lei, ao conceder o benefício fiscal, não considerou a característica ou
a estrutura do contribuinte em si (critério subjetivo), mas a natureza do próprio serviço prestado
(assistência à saúde). Na mesma oportunidade, ficou consignado que os regulamentos emanados da
Receita Federal referentes aos dispositivos legais acima mencionados não poderiam exigir que os
contribuintes cumprissem requisitos não previstos em lei (a exemplo da necessidade de manter
estrutura que permita a internação de pacientes) para a obtenção do benefício. Daí a conclusão de
que "a dispensa da capacidade de internação hospitalar tem supedâneo diretamente na Lei 9.249/95,
pelo que se mostra irrelevante para tal intento as disposições constantes em atos regulamentares".

3. Assim, devem ser considerados serviços hospitalares "aqueles que se vinculam às atividades
desenvolvidas pelos hospitais, voltados diretamente à promoção da saúde", de sorte que, "em regra,
mas não necessariamente, são prestados no interior do estabelecimento hospitalar, excluindo-se as
simples consultas médicas, atividade que não se identifica com as prestadas no âmbito hospitalar,
mas nos consultórios médicos".

4. Ressalva de que as modificações introduzidas pela Lei 11.727/08 não se aplicam às demandas
decididas anteriormente à sua vigência, bem como de que a redução de alíquota prevista na Lei
9.249/95 não se refere a toda a receita bruta da empresa contribuinte genericamente considerada, mas
sim àquela parcela da receita proveniente unicamente da atividade específica sujeita ao benefício
fiscal, desenvolvida pelo contribuinte, nos exatos termos do § 2º do artigo 15 da Lei9.249/95.

5. Hipótese em que o Tribunal de origem consignou que a empresa recorrida presta serviços médicos
laboratoriais (fl. 389), atividade diretamente ligada à promoção da saúde, que demanda maquinário
específico, podendo ser realizada em ambientes hospitalares ou similares, não se assemelhando a
simples consultas médicas, motivo pelo qual, segundo o novel entendimento desta Corte, faz jus ao
benefício em discussão (incidência dos percentuais de 8% (oito por cento), no caso do IRPJ, e de 12%
(doze por cento), no caso de CSLL, sobre a receita bruta auferida pela atividade específica de
prestação de serviços médicos laboratoriais).

6. Recurso afetado à Seção, por ser representativo de controvérsia, submetido ao regime do artigo 543-
C do CPC e da Resolução 8/STJ.

7. Recurso especial não provido. (grifos meus)

(REsp 1.116.399/BA, Rel. Min. Benedito Gonçalves, 1ª Seção, DJe 24/02/2010).

A partir desses precedentes, o critério eleito passou a ser objetivo e concerne tão-somente à natureza do
serviço prestado, bastando que seja voltado à promoção da saúde e que possua custo diferenciado de
atividades de simples consultas médicas.

Das modificações trazidas pela Lei nº 11.727/2008

Confira-se a atual redação dos dispositivos aplicáveis à matéria:

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Art. 15. A base de cálculo do imposto, em cada mês, será determinada mediante a aplicação do
percentual de oito por cento sobre a receita bruta auferida mensalmente, observado o disposto nos
arts. 30 a 35 da Lei nº 8.981, de 20 de janeiro de 1995

[...]

b) para as pessoas jurídicas a que se refere o inciso III do art. 36 da Lei nº 8.981, de 20 de janeiro de
1995, observado o disposto nos §§ 1º e 2º do art. 29 da referida Lei;

III - trinta e dois por cento, para as atividades de

a) prestação de serviços em geral, exceto a de serviços hospitalares e de auxílio diagnóstico e terapia,


patologia clínica, imagenologia, anatomia patológica e citopatologia, medicina nuclear e análises e
patologias clínicas, desde que a prestadora destes serviços seja organizada sob a forma de sociedade
empresária e atenda às normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Anvisa; (Redação
dada pela Lei nº 11.727, de 2008) .

[...]

Art. 20. A base de cálculo da contribuição social sobre o lucro líquido, devida pelas pessoas jurídicas
que efetuarem o pagamento mensal a que se referem os arts. 27 e 29 a 34 da Lei no 8.981, de 20 de
janeiro de 1995, e pelas pessoas jurídicas desobrigadas de escrituração contábil, corresponderá a doze
por cento da receita bruta, na forma definida na legislação vigente, auferida em cada mês do ano-
calendário, exceto para as pessoas jurídicas que exerçam as atividades a que se refere o inciso III do §
1o do art. 15, cujo percentual corresponderá a trinta e dois por cento.

Assim, as modificações legislativas trazidas à matéria pelo artigo 29 da Lei nº 11.727/2008, se por um lado
promoveram a extensão do benefício também a outras atividades equiparadas a "serviços hospitalares", por
outro impuseram mais dois requisitos além da prestação de serviços voltados à promoção da saúde: i) estar
constituída como sociedade empresária; ii) atender às normas da ANVISA.

O artigo 29 da Lei 11.717/2008 passou a vigorar a partir de 01/01/2009, nos termos do artigo 41, VI, do
mesmo diploma.

O Código Civil de 2002 trouxe distinção essencial entre sociedade simples e sociedade empresária. A
sociedade simples foi introduzida em substituição às sociedades civis, constituindo pessoa jurídica que
realiza atividade intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda que com o concurso de
auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa (artigo 966, §
único), contrapondo-se às atividades empresárias, as quais se enquadram no conceito de empresa - conjunto
organizado de meios com vista a exercer uma atividade quer produz e oferece bens/serviços, visando atender
alguma necessidade humana. As sociedades empresárias devem ter seu ato constitutivo inscrito no Registro
Público das empresas Mercantis (Junta Comercial) do Estado em que se encontram estabelecidas.

Da análise da Alteração e Consolidação do Contrato Social registrada perante a Junta Comercial do Estado
do Paraná em 05/01/2017 e juntada aos autos verifica-se que a sociedade tem por objeto social "serviços de
complementação diagnóstica e terapêutica; serviços de clínica médica ambulatorial com recursos para
realização de exames complementares; serviços de clínica médica ambulatorial com recursos para realização
de procedimentos cirúrgicos; serviços de atenção ambulatorial" (evento 1, CONTRSOCIAL3).

Há também nos autos o Cadastro de Inscrição e de Situação Cadastral da Pessoa Jurídica (CNPJ) em que
consta (evento 1, CNPJ4):

CÓDIGO E DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE ECONÔMICA PRINCIPAL:

86.40-2-99 - Atividades de serviços de complementação diagnóstica e terapêutica não especificadas


anteriormente

CÓDIGO E DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES ECONÔMICAS SECUNDÁRIAS:

86.30-5-02 - Atividade médica ambulatorial com recursos para realização de exames


complementares

86.30-5-01 - Atividade médica ambulatorial com recursos para realização de procedimentos


cirúrgicos

86.30-5-99 - Atividades de atenção ambulatorial não especificadas anteriormente

CÓDIGO E DESCRIÇÃO DA NATUREZA JURÍDICA

206-2 - Sociedade Empresária Limitada

https://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/inteiro_teor.php?orgao=1&numero_gproc=40001237122&versao_gproc=4&crc_gproc=3e7d9d3d&termo… 4/7
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Restou comprovado, ainda, que a parte autora está constituída na forma de "Sociedade Empresária" pelo
menos desde 05/01/2017, quando do registro da Quarta Alteração e Consolidação do Contrato Social na
Junta Comercial do Estado do Paraná (evento 1, CONTRSOCIAL3).

No que diz respeito ao segundo requisito, a saber, a atenção às normas expedidas pela ANVISA, tenho que
deve ser flexibilizado. É que a regra constante da nova redação do artigo 15 da Lei nº 9.249/95 foi redigida
de forma geral, deixando de especificar a quais normas está se referindo. Assim, deve o julgador interpretar
essa exigência levando em conta a finalidade da norma que consiste em garantir tributação privilegiada aos
estabelecimentos que, em razão da natureza dos serviços prestados voltados à promoção da saúde, incorrem
em maiores custos na sua atividade.

Nesse contexto, não é legítimo exigir que a empresa comprove atender às normas da ANVISA. Uma vez que
está em exercício regular de sua atividade e detém o alvará de funcionamento, há presunção relativa de que
está adequada às regras da vigilância sanitária. Caberia, desta forma, ao Fisco trazer elementos que
indiquem o descumprimento de tais regras.

No mesmo sentido, tem decidido a 2ª Turma desta Corte Regional: APELREEX 5003004-65.2011.404.7003,
2ª T., Relatora p/ Acórdão Luciane Amaral Corrêa Münch, D.E. 29/06/2012; APELREEX 5004670-
86.2011.404.7105, 2ª T., Relator p/ Acórdão Rômulo Pizzolatti, D.E. 07/11/2012.

De qualquer forma, a impetrante atende às normas da ANVISA, tendo em vista que possui alvará de licença
sanitária (evento 1, OUT5).

Dessa forma, merece provimento a apelação para, examinando o mérito, julgar procedente o pedido para
reconhecer integralmente o direito líquido e certo da Impetrante de reduzir, a partir de 05/01/2017, a base de
cálculo de 32% (trinta e dois por cento) para 08% (oito por cento) para o cálculo do IRPJ e ter minorada a
base de cálculo para 12% (doze por cento) no tocante ao cálculo da CSLL."

O voto tratou suficientemente da adequação da via eleita para analisar a questão, inclusive
quanto à qualificação da impetrante como sociedade empresária a partir de janeiro de 2017, e quanto aos
serviços por ela prestados.

Dessa forma, emerge a conclusão de que pretende o embargante reabrir a discussão acerca de
matéria que já foi apreciada e julgada no acórdão, sem que esteja ele eivado de quaisquer dos vícios
sanáveis através dos aclaratórios.

A rejeição dos embargos, portanto, é medida que se impõe.

Consideram-se incluídos no acórdão os elementos que o embargante suscitou, para fins de


pré-questionamento, ainda que os embargos de declaração sejam inadmitidos ou rejeitados, caso o tribunal
superior considere existentes erro, omissão, contradição ou obscuridade (art. 1.025 do CPC/2015).

Ante o exposto, voto por rejeitar os embargos de declaração.

Documento eletrônico assinado por ROGER RAUPP RIOS, Desembargador Federal Relator, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei
11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de 2010. A conferência da autenticidade do
documento está disponível no endereço eletrônico http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do código
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Signatário (a): ROGER RAUPP RIOS
Data e Hora: 7/8/2019, às 18:48:50

5005181-92.2017.4.04.7002 40001237121 .V4

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Poder Judiciário
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM APELAÇÃO CÍVEL Nº 5005181-92.2017.4.04.7002/PR
RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL ROGER RAUPP RIOS

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EMBARGANTE: UNIÃO - FAZENDA NACIONAL (INTERESSADO)

EMENTA

TRIBUTÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO,


OBSCURIDADE OU CONTRADIÇÃO. CORREÇÃO DE ERRO MATERIAL.
INEXISTÊNCIA. PREQUESTIONAMENTO IMPLÍCITO.

1. Cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial para: a) esclarecer


obscuridade ou eliminar contradição; b) suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se
pronunciar o juiz de ofício ou a requerimento; c) corrigir erro material (CPC/2015, art. 1.022, incisos I a
III). Em hipóteses excepcionais, entretanto, admite-se atribuir-lhes efeitos infringentes.

2. Não se enquadrando em qualquer das hipóteses de cabimento legalmente previstas, devem


ser rejeitados os declaratórios.

3. Consideram-se incluídos no acórdão os elementos que o embargante suscitou, para fins de


pré-questionamento, ainda que os embargos de declaração sejam inadmitidos ou rejeitados, caso o tribunal
superior considere existentes erro, omissão, contradição ou obscuridade (art. 1.025 do CPC/2015).

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, a Egrégia 1ª Turma do
Tribunal Regional Federal da 4ª Região decidiu, por unanimidade, rejeitar os embargos de declaração, nos
termos do relatório, votos e notas de julgamento que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

Porto Alegre, 07 de agosto de 2019.

Documento eletrônico assinado por ROGER RAUPP RIOS, Desembargador Federal Relator, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei
11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de 2010. A conferência da autenticidade do
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Poder Judiciário
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO

EXTRATO DE ATA DA SESSÃO ORDINÁRIA DE 07/08/2019

APELAÇÃO CÍVEL Nº 5005181-92.2017.4.04.7002/PR

INCIDENTE: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO


RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL ROGER RAUPP RIOS
PRESIDENTE: DESEMBARGADOR FEDERAL ROGER RAUPP RIOS
PROCURADOR(A): MAURICIO PESSUTTO
APELANTE: TOLAZZI E TOLAZZI CLINICA MEDICA LTDA - EPP (IMPETRANTE)
ADVOGADO: LUCIANO MAIA BASTOS (OAB PR024646)

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14/08/2019 Documento:40001237121
APELADO: UNIÃO - FAZENDA NACIONAL (INTERESSADO)
MPF: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL (MPF)

Certifico que este processo foi incluído na Pauta da Sessão Ordinária do dia 07/08/2019, na sequência 751,
disponibilizada no DE de 23/07/2019.

Certifico que a 1ª Turma, ao apreciar os autos do processo em epígrafe, proferiu a seguinte decisão:
A 1ª TURMA DECIDIU, POR UNANIMIDADE, REJEITAR OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.

RELATOR DO ACÓRDÃO: DESEMBARGADOR FEDERAL ROGER RAUPP RIOS


VOTANTE: DESEMBARGADOR FEDERAL ROGER RAUPP RIOS
VOTANTE: JUIZ FEDERAL ALEXANDRE GONÇALVES LIPPEL
VOTANTE: JUIZ FEDERAL FRANCISCO DONIZETE GOMES
MARIA CECÍLIA DRESCH DA SILVEIRA
Secretária

Conferência de autenticidade emitida em 14/08/2019 11:31:49.

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