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CURSO TOGA

DIREITO PENAL
Aula 3

TEORIA DO CRIME

FATO TÍPICO

• Crime Impossível (art. 17 do CP):

Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio


ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.

Meio é todo instrumento usado para alcançar o intento criminoso. Já o


objeto é o bem sobre o qual recai o resultado.

Para o crime ser impossível é necessário que a ineficácia do meio ou


impropriedade do objeto sejam absolutas.

Teoria objetiva temperada

Ineficácia do meio absoluta: não há crime

Impropriedade do objeto relativa: há tentativa de crime

Exemplo da ineficácia do meio: sujeito quer matar alguém, compra uma


arma e quando está em frente ao seu desafeto atira, mas nada acontece.
Obviamente, nesse momento ele estaria dando início à execução, e se o fato
não ocorre por causa alheia a sua vontade, poderíamos atribuir tentativa.
Contudo, antes devemos identificar se há eficácia do meio. Se o perito atestar
que a arma estava quebrada e por isso não conseguiria disparar, não podemos
mais falar em tentativa. Há aqui excludente da tipicidade, o meio era
impossível. Aquela arma não era um instrumento apto a matar ninguém. No
entanto se o sujeito usasse a mesma arma para outro crime, como roubar, por
exemplo, ele conseguiria mesmo a arma estando quebrada, não haveria
excludente.

Arma sem munição é tentativa ou não?


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Se a munição estiver em seu pronto alcance, seria tentativa, pois o meio


era relativo. Mas se a munição estivesse em outro local, a ineficácia do meio
seria absoluta.

Exemplo de impropriedade do objeto: sujeito quer matar seu desafeto,


no entanto o desafeto já estava morto ao ser alvejado. Não se pode matar
alguém que já está morto.

Um batedor de carteira que põe a mão no bolso de alguém que não tem
dinheiro nenhum pratica um crime impossível, mas se a vítima tem em um dos
bolsos dinheiro e no outro papel, e o agente escolhe o bolso com papel, é
tentativa.

• Arrependimento Posterior (art. 16):

Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à


pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia
ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois
terços.

Sua natureza jurídica é causa de diminuição de pena. Pode ser aplicado


em qualquer tipo de crime (se norma especial não der tratamento diverso),
desde que não haja grave ameaça ou violência e o ato seja voluntário do
agente.

O artigo exige que o dano seja reparado ou que a coisa seja restituída
até o recebimento da denúncia ou queixa. Qual seria esse momento? Se a
ação penal for pública incondicionada, o MP recebe o inquérito e oferece
denuncia para juiz criminal, o juiz, para iniciar o processo, necessita receber
essa denúncia, precisa avaliar a presença da justa causa – atividade
administrativa. Ele pode rejeitar ou receber. Até o momento do recebimento da
denúncia pelo juiz, pode o agente ser beneficiado pelo arrependimento
posterior.

O artigo fala em denúncia ou queixa. Quando for ação penal pública,


ocorre a denúncia, quando for ação penal privada, queixa.

Continuando com os elementos do fato típico já falamos de conduta (a)


e resultado (b), agora vamos falar de nexo de causalidade (c) e, por fim,
tipicidade (d).

c) Nexo de causalidade - art. 13,CP:


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A lei penal sempre determina um resultado, salvo no crime de mera


conduta, mas que, contudo, tem aplicação da teoria naturalística. Então, para
haver fato típico eu tenho que ter uma conduta e um resultado, mas eu preciso
achar uma ligação entre a conduta e o resultado para poder imputar o crime ao
agente – nexo causal.

Vimos que a teoria da ação adotada é a teoria finalista, o agente já


mostra o dolo ou a culpa no comportamento, mas temos que ligar este ao
resultado.

Exemplo: se eu vejo alguém na rua deitado acho que é alguém


passando mal, mas quando vou ver é uma pessoa morta com tiro e uma arma
ao lado. Se a polícia passa na hora e vê esse resultado, me leva para
delegacia para apurar o ocorrido. Quando o delegado analisa todas as provas,
ele verifica que não há nexo de causalidade entre a minha conduta e a morte,
isso exclui o fato típico.

Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é


imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem
a qual o resultado não teria ocorrido.

Superveniência de causa independente

§ 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui


a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores,
entretanto, imputam-se a quem os praticou.

Relevância da omissão

§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e


podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: a) tenha
por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; b) de outra forma, assumiu
a responsabilidade de impedir o resultado; c) com seu comportamento anterior,
criou o risco da ocorrência do resultado.

O artigo 13, caput, usa a chamada Teoria da conditio sine qua non ou
Teoria dos Antecedentes Causais. A pergunta que se faz é: se o sujeito tivesse
agido, o resultado teria ocorrido?

Existem as causas absolutamente independentes – quando não haverá


crime – ou causas relativamente independente – quando haverá crime, por
estar presente o nexo causal.
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A lei diz que causa é toda ação ou omissão sem a qual o resultado não
teria ocorrido.

Causa (= conduta):

• Absolutamente independente do resultado: não há nexo


• Relativamente independente do resultado: há nexo
o Preexistentes: decorre de fato anterior a conduta.
o Concomitante: decorre de fato simultâneo a conduta.
o Superveniente: (art. 13,§1°) Teoria da Causalidade
Adequada: decorre de fato posterior a conduta. De alguma forma
será imputada a pessoa aquilo que ela quis fazer.

Exemplos - causa (=conduta) absolutamente independente do resultado


(não há nexo):

1- Causa absolutamente independente preexistente: Quero


matar meu desafeto, mas no dia que eu decido matá-lo, ele resolve se
suicidar tomando uma caixa de Lexotan. Eu, pensando que ele está
dormindo, atiro cinco vezes nele. Contudo, o laudo da morte atesta que
ele já estava morto quando atirei, morreu pela ingestão de remédios -
crime impossível.

2- Causa absolutamente independente concomitante: eu atiro


pelas costas, mas, ao mesmo tempo, o desafeto cai duro no chão morto
de ataque cardíaco – crime impossível.

3- Causa absolutamente independente superveniente: quero


matar meu marido para ficar com o seguro de vida. Coloco um veneno
na comida, mas antes de ingerir toda a comida, ocorre um terremoto e o
marido morre soterrado.

Exemplos - causa (=conduta) relativamente independente do resultado


(há nexo):

1 - Relativamente independente Preexistente: estou lutando com


meu desafeto corto o braço dele com canivete, mas ele era hemofílico e
morre. Apesar de morrer por ser hemofílico, ele só morreu porque provoquei
o corte - haverá lesão corporal seguida de morte. Resultado foi culposo. O
agente não sabia que o desafeto era hemofílico, pois se soubesse haveria
relação direta, responderia por homicídio doloso.
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2 - Relativamente independente Concomitante: queria matar meu


desafeto e ao mesmo tempo ele passa mal por me ver apontando uma
arma para ele.

3 - Relativamente independente Superveniente: atirei no desafeto,


mas ele foi socorrido e levado pela ambulância, no caminho do hospital,
ainda vivo a ambulância colide com outro carro e a vítima morre no
acidente – art. 13 §1º do CP – teoria da causalidade adequada – haverá
tentativa de homicídio para quem deu o tiro.

d) Tipicidade penal:

Último elemento do fato típico. Seria o enquadramento do fato social na


tipificação dada pela lei. Temos que encontrar no comportamento duas
tipicidades.

Pela corrente tradicional, para ter tipicidade tem que haver no


comportamento: (i) tipicidade material e (ii) tipicidade formal.

A tipicidade material é o comportamento humano enquadrado na lei. Se


eu mato um cachorro, me enquadro no art. 121, CP? Não, pois cachorro não é
“alguém”. A tipicidade formal me leva a verificar se esse comportamento gerou
lesão ou ameaça de lesão a um bem jurídico.

Para corrente moderna (garantista), a tipicidade é formada pela: (i)


tipicidade material e pela (ii) tipicidade conglobante. Enquanto a material exige
lesão ou ameaça de lesão, a conglobante exige efetiva lesão ao bem jurídico.
Se houver apenas ameaça não há crime. Daí decorre o Princípio da
Insignificância. Se a lesão for ínfima não se atribui o crime à pessoa, há
absolvição por ausência de tipicidade penal.

Para definir se há crime precisamos verificar todos os elementos do fato


típico (conduta, resultado, nexo de causalidade e tipicidade). Mas não basta
isso, pois crime é fato típico ilícito e culpável, vejamos os outros elementos.

2) Ilicitude:

A regra é que todo fato típico seja ilícito, no entanto, existem fatos que a
própria sociedade justifica a ação do agente. Temos as chamadas causas
excludentes da ilicitude. Que na parte geral do nosso Código está prevista no
art. 23.
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Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:

I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular
de direito.
Excesso punível
Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste
artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo.

Quando o sujeito vai proteger seu bem jurídico ele não pode agir em
excesso, sob pena de responder pela sua conduta.

Essas são as excludentes legais, veremos depois que tem uma supra
legal que é bastante considerada.

I) Estado necessidade - art. 24,CP:

Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato


para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de
outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias,
não era razoável exigir-se.

§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal


de enfrentar o perigo.

§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado,


a pena poderá ser reduzida de um a dois terços.

O estado de necessidade trata da situação de perigo atual a bem


jurídico. A pessoa que se beneficiará dessa excludente não pode ter sido a
causadora do perigo. Lembra daquele lema: “antes ele do que eu”.

Exemplo: em um naufrágio, um tripulante para salvar sua vida afoga


outro para poder usar o único salva vidas do barco. Ele não causou a situação,
ele usou o meio que tinha para se salvar. Esse é o estado de necessidade
próprio.

Existe também o estado de necessidade de terceiro.

Exemplo: um médico tem que escolher um paciente para internar na


única vaga que restou de uma UTI. Ele está em uma situação de perigo que ele
não causou, mas ele tem que agir para salvar uma das pessoas. Outro caso
ocorreu aqui no RJ, um policial do BOPE matou um morador pensando que
este estava prestes a atirar em seu colega. Após atirar, verificou-se que o
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morador portava uma furadeira e não uma arma. Essa é uma discriminante
putativa.

OBS: Erro do tipo: o sujeito interpreta mal a realidade, ele erra sobre as
elementares que constituem a norma penal incriminadora, e assim, comete um
crime; se o erro for justificável, exclui dolo e culpa; se não for, responde
culposamente se houver previsão legal. Erro de proibição: é o erro quanto ao
mandamento (ilicitude) da norma penal incriminadora; justificável, exclui dolo e
culpa, se for injustificável, trata-se de uma causa de diminuição.

No estado de necessidade a lei diz que o perigo tem que ser atual (estar
acontecendo), não pode ser iminente como na legitima defesa. Existe doutrina
que entende que, embora a lei não tenha falado, o agente em situação
iminente de perigo pode ser beneficiado pelo estado de necessidade, mas isso
não está na lei.

O parágrafo 1° desse artigo prevê que o garantidor daquela situação não


pode usar dessa excludente (exemplos: bombeiro, salva-vidas, policial...). No
entanto, existem situações que permitem alegar estado de necessidade, pois a
lei não exige ato heróico do garantidor, ele tem que poder salvar. Se ele verifica
que não tem como ele ajudar, ele tem que pedir auxílio a quem possa, não
pode ficar inerte, mas também não se exige que ele se entregue a morte no
lugar do outro.

II) Legítima defesa:

Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente


dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu
ou de outrem.

Fala em bem jurídico que está sendo agredido. O estado de


necessidade pode ser gerado por caso fortuito ou força maior, já a legitima
defesa a lei diz que ocorre por ação humana. O bem tem que estar sendo
agredido de forma atual ou iminente (prestes a acontecer) e o beneficiado deve
usar moderadamente os meios que dispõe.

Se o Anderson Silva vier a me dar um chute, eu posso dar um tiro nele


como defesa? Posso, pois o chute dele é fatal para mim. Óbvio que se eu
descarregar minha arma estarei agindo com excesso, a defesa deve ser
suficiente para parar a agressão. A emoção ou paixão não são excludentes.

Teve um caso que a mãe flagrou seu companheiro estuprando a filha de


9 anos, a mãe, atordoada, pegou uma faca sem ponta e ficou esfaqueando o
estuprador pelas costas até cessar sua conduta, ao todo deu 17 facadas. O MP
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defendeu o excesso por conta das 17 facadas. O defensor explicou que a ação
de uma faca de manteiga é contundente e não pérfuro-cortante, e por conta
disso a mãe foi absolvida, por ter agido em legítima defesa de terceiro. Tem
que verificar o caso concreto.

Se um cachorro me ataca e eu dou um tiro, estou em estado de


necessidade e não em legítima defesa, pois o cachorro não é “alguém”.

III) Estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de


direito:

A lei não conceitua essas duas excludentes, pois seria impossível prever
as hipóteses de incidência.

O exercício regular de direito é aplicável a qualquer um de nós. Eu


posso exercer meu direito desde que não viole o do outro.

Exemplo: eu tenho uma propriedade e quero protegê-la, posso? Sim é


meu direito por cerca elétrica ou ter um pitbull, mas tenho que colocar uma
placa avisando aos outros.

Outro exemplo: Art. 301, CPP. Qualquer do povo poderá e as


autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja
encontrado em flagrante delito.

Qualquer um pode prender quem quer que esteja em flagrante delito.


Esse é um direito do cidadão. Mas não posso exceder esse direito amarrando a
pessoa no poste, por exemplo. Não temos o poder da força que tem a polícia.

No estrito cumprimento do dever legal, ocorre a prática de um fato típico,


mas que, no entanto, não é ilícito, tendo em vista ser praticado por um agente
público, muitas vezes interferindo na esfera privada do indivíduo, justamente
para assegurar o cumprimento da lei, dentro dos limites aceitáveis. Exemplo:
prisão em flagrante realizada pela autoridade policial.

IV) Consentimento do ofendido - causa supra legal de excludente de


ilicitude:

Vamos saber se podemos usar ou não ao verificar o bem jurídico. O


bem jurídico deve ser relativamente disponível. Ou seja, não posso autorizar
ninguém a tirar minha vida nem vender meus órgãos, por exemplo, pois são
direitos indisponíveis.
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Contudo, se um casal é sadomasoquista, ou alguém faz uma tatuagem,


não há crime, pois há consentimento. A integridade física é relativamente
disponível. Havendo consentimento haverá excludente de ilicitude.

DICA: quando a lei diz “não há crime…” trata de uma excludente de


ilicitude. Quando diz: “é isento de pena quem…” trata de uma exclui
culpabilidade.

3 ) Culpabilidade:

É um juízo de reprovação. Requer a presença de três elementos:

A) Imputabilidade: nossa lei determina que é imputável a pessoa com


idade igual ou superior a 18 anos. Critério biopsicológico ligado a política
criminal.

B) Potencial consciência da ilicitude do fato;

C) Exigibilidade de conduta adversa: a nossa lei penal é imperativa.


Ninguém pode alegar o desconhecimento da lei penal. Nós vivemos numa
democracia, isso quer dizer, a grosso modo, que quem determina a nossa
norma somos nós em consenso. Então, nada justificaria a prática de um crime.

Existem as excludentes de cada um desses elementos.

A) Inimputabilidade (art. 26, CP) pessoas inimputáveis são os


doentes mentais (doença determinada pela medicina, ex. esquizofrenia. Aplica-
se medida de segurança), desenvolvimento mental incompleto (índios sem
convívio com a civilização, surdos e surdos-mudos – depende do caso
concreto) ou retardado (idiota -idade mental de 0 a 3 anos; imbecil – 3 a 7
anos e débil mental - 7 a 12 anos)e os menores de 18 anos devendo ser
aplicado lei especial (art. 27,CP e ECA).

B) Erro de proibição justificável – art. 21. Erro sobre a ilicitude do fato


isenta de pena.

C) Coação moral irresistível; obediência hierárquica (ordem


aparentemente lícita) e embriaguez involuntária e completa (art.28, § 1º CP);

Embriaguez – art. 28, CP:

- pode ser dolosa (II - há crime)


- culposa (II - há crime)
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- ou por caso fortuito e força maior (§1°). Esta se subdivide em: completa (não
há crime) ou incompleta ( § 2º - há crime com redução de pena).

Acabamos teoria do crime.

PENA

Concursos de pessoas – art. 29, CP:

Só é aplicável para os chamados crimes unissubjetivos. São aqueles em


que a lei determina que basta uma pessoa para prática do crime, não se exige
um número de agentes.

Concurso de pessoas eventual. Incide o art. 29.

Nos crimes plurissubjetivos não se aplica o art. 29. O concurso de


pessoas, aqui, é necessário para caracterização do crime. Exemplo:
associação criminosa – art. 288 do CP.

Se num homicídio eu tenho a participação de outro, temos que ver quem


fez o que para poder aplicar as penas, na medida de sua reprovação
(culpabilidade – art. 29 do CP).

Requisitos para o concurso de pessoas:

o Pluralidade de condutas
o Liame subjetivo
o Relevância causal das condutas
o Identidade de crimes para os concorrentes

Para identificar tenho que encontrar no fato mais de uma pessoa


concorrendo para o crime, com o mesmo propósito, a partir daí já temos
concurso. Por isso que quando a polícia chega leva todo mundo que está por
perto. É necessário ainda que haja aderência de vontade entre os
concorrentes, todos têm que estar com a mesma vontade, caso contrário, não
há concurso.

As condutas devem ser relevantes para o resultado. Exemplo: aluno liga


para a professora no momento em que ela atiraria em alguém, perguntando se
terá aula no dia seguinte; essa ligação não teve nada a ver com o crime,
embora registrada nesse momento, pois o aluno, de nenhuma forma, concorreu
para o homicídio praticado pela professora.
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O concurso foi criado para aplicação da pena, para que todos que
concorreram para o crime respondam criminalmente por ele, daí ter a natureza
jurídica de FORMA DE APLICAÇÃO DA PENA.

Para eu achar o autor do crime, quem pratica a conduta principal,


existem algumas teorias:

1- Teoria restritiva: autor é quem pratica a conduta criminosa.


2- Teoria extensiva: incompatível com art. 29. Todos que concorrem
são autores, teriam todos a mesma reprovação.
3- Teoria do domínio do fato: autor é quem tem o poder de
interromper a ação delituosa.

Para a doutrina e lei, a regra é a restritiva e a exceção é o domínio do


fato. O STF entende que a regra é o domínio do fato, as outras não existem.

Qual diferença de autor para coautor? O coautor é o plural de autor. Mas


existem crimes que eu posso ter cada um identificado separadamente.

Exemplo: crime de estupro: tem o verbo constranger (obrigar mediante


violência ou grave ameaça), mas essa figura depende do ato sexual sem
consentimento. Então, eu posso ter A, B e C praticando estupro contra D.
Digamos que A segura D com violência para que B pratique o ato sexual
enquanto o C vigia. O A praticou parcialmente o crime, o B praticou todo crime
e o C não praticou nenhuma conduta descrita no crime. B seria autor, A coautor
e C partícipe. Então, posso ter essa diferenciação quando o tipo penal permite.
Nem todos permitem, por exemplo: roubo, se dois roubam, ainda que um só
acompanhe o outro sem imprimir violência ou grave ameaça, os dois são
coautores, pois agiram com os requisitos da lei, não tem como separar no
estupro por conta das elementares do crime.

Quanto à natureza jurídica do concurso de pessoas, a regra é a Teoria


Monista ou Unitária, a Dualista e a Pluralística são exceções.

Pela Teoria Monista, todos que concorrem, respondem com as penas do


crime para o qual concorreram.

Nós temos uma exceção importante em dois crimes contra a


Administração Pública: corrupção ativa e passiva.

Exemplo: o particular oferece vantagem para o funcionário não fazer o


que tem que fazer (crime formal), o funcionário recebe, no momento que
recebe os dois agem com liame subjetivo, mas os dois respondem por crimes
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diferentes, autônomos, um responde por corrupção ativa (art. 333 do CP) o


outro por corrupção passiva (art. 317 do CP) – aplica-se a Teoria Dualista.

Se o funcionário solicitasse a vantagem ao particular, só haveria um


crime, que seria o cometido pelo funcionário, não há crime para o particular,
por ausência de previsão legal.

Tem ainda a Teoria Pluralista que também é uma exceção, está no art.
29, §2°, CP. Chamamos de cooperação dolosamente distinta ou desvio
subjetivo de conduta.

Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas


penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.

§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave,


ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na
hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.

Exemplo: suponhamos que A e B decidem assaltar um banco, o A fica


no carro enquanto o B entra para roubar, o B quando entra é surpreendido pelo
segurança, ele atira no peito do vigia e vai embora. O que ocorreu no caso do
B? Latrocínio, roubo seguido de morte. O A estava lá fora, ele queria a morte?
Não, queria apenas o roubo. Então, responderá como partícipe da tentativa de
roubo e o B responderá por latrocínio consumado (incide o latrocínio mesmo
não havendo roubo consumado – Súmula 610 STF).

Na teoria dualista, é a lei que traz os crimes distintos. Na pluralística,


não é a lei que distingue os crimes, foi o fato que determinou a diversidade de
crimes.

Autoria:

 imediata: regra. (art. 29). Toda pessoa que pratica conduta é


autor imediato. Pode haver quem colabore com liame subjetivo, a
pena será de acordo com a culpabilidade. Não há concurso de
pessoas.

 mediata: há duas pessoas, pelo menos: o autor mediato utiliza


outra pessoa para prática. Usa um inimputável, por exemplo, ou
pratica coação, obediência hierárquica, erro de tipo provocado por
terceiro (induz o outro a erro). Quem responde é quem influencia
ou que dá a ordem. Não há concurso, pois não há liame subjetivo.
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 colateral: duas pessoas praticando sem que um tenha


consciência da conduta do outro. A e B querem matar C, quando
ele passa ambos atiram juntos. Não há um crime apenas, pois
não há unidade de vontade. Cada um responde pelo que fez.

 incerta: Ocorre na hipótese de autoria colateral quando, por


exemplo, A e B atiram contra C e ambos atiram no coração, não
tem como identificar quem matou. Não tem solução, o Estado não
tem certeza de quem foi o autor do crime. Assim, pelo princípio do
in dubio pro reo, eles irão responder por tentativa de homicídio,
diante da incerteza do Estado.
 ignorada: é a famosa bala perdida. Não se consegue apurar nem
indícios de quem foi o autor.

Participação:

É sempre uma conduta acessória. O partícipe nunca pratica a conduta


criminosa, apenas colabora. A natureza jurídica é a acessoriedade. No
entanto, utilizamos a teoria da acessoriedade limitada (entendimento
majoritário). Se há conduta acessória, há conduta principal feita pelo autor.
Para ter acessório basta que a conduta do autor seja típica e ilícita, não
precisa ser culpável. Pode haver um menor de idade praticando crime com a
colaboração de um imputável. O imputável responde por participação no furto e
o menor responde por ato infracional análogo ao furto.

Formas de participação:

 moral: é o induzimento e a instigação (plantar- alimentar a ideia)


 material: é o auxílio material (fornecer instrumentos)

Pode haver participação por omissão do agente garantidor.

Exemplo: policial vê um cidadão correndo carregando uma bolsa e


sendo perseguido por populares. O dever do policial seria perseguir o meliante,
mas o policial fica inerte. A inércia contribuiu para a consumação do crime.
Policial responde por participação por omissão.

E se eu não sou garantidor? Ninguém tem obrigação de avisar –


Participação negativa – conivência.

Participação no crime culposo: não é possível, pois não há liame


subjetivo. Se nem o autor quer o resultado, como o partícipe vai querer?
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No entanto, alguns entendem que possa existir (Rogério Greco). Por


exemplo, um carona começa a induzir o motorista a superar a velocidade
permitida e o motorista acaba atropelando alguém – há lesão corporal culposa
no trânsito, poderia o carona responder por participação - entendimento
minoritário.

Por fim, vamos falar do art. 30 do CP: as circunstancias incomunicáveis.


É possível que um particular colabore com funcionário público e responda por
peculato?

Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter


pessoal, salvo quando elementares do crime.

As elementares estão sempre no caput e as circunstâncias estão nos


parágrafos e nas normas penais não incriminadoras.

Tanto elementar, quanto a circunstância podem ser objetivas ou


subjetivas.

Objetiva diz respeito ao fato, subjetiva diz respeito ao agente.

As elementares sempre comunicam, sejam objetivas ou subjetivas.


Enquanto que as circunstâncias subjetivas não comunicam, somente as
objetivas.

Exemplo: peculato. Se um particular contribui com funcionário público


sabendo da condição dele, este particular também responderá por peculato,
pois a elementar “ser funcionário público” comunica. Se eu retiro essa
expressão do tipo penal, eu tenho outro crime, por isso trata-se de uma
elementar. Agora, se o particular não conhece essa condição, responderá por
crime simples.

As circunstancias são as qualificadoras. Motivo fútil, por exemplo, é uma


circunstância subjetiva, portanto, não comunica.

Se alguém me ajuda a matar uma pessoa que me chamou de burra


(motivo fútil – insignificante e desproporcional), eu respondo por homicídio
qualificado e a pessoa que emprestou a arma, responde por participação em
homicídio simples. A circunstância aqui é subjetiva, não comunica.

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