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Tema da palestra: Crise do processo penal

Palestrante: Professor Auri Lopes Jr1


Maria Benedita Froes Sousa2

O professor Aury Lopes Jr iniciou sua palestra admitindo a ideia da


punição como elemento civilizatório, portanto necessário. No entanto, não se
trata de punir de qualquer modo, além disso, é preciso saber a quem punir, não
mirar um alvo a ser. Punir quem? Pergunta o palestrante. É preciso evitar uma
seletividade, uma espécie de etiquetamento na hora de punir, porque o sistema
punitivo mira um alvo. É preciso critérios ao punir. Sendo assim, a primeira
pergunta que ele se faz é: o que deve ser punido? Lopes Jr frisa que o direito
penal é ultima ratio, desse modo, o sistema penal não deve se preocupar com
qualquer coisa, pois se o direito penal for banalizado, veremos um sistema de
justiça que transforma a todos em criminosos, isso levaria a uma banalização da
“ultima ratio”, o que é comum em tempos de autoritarismo.
Também criticou aquilo que ele chamou de “Ciclo autofágico”. O ciclo
autofágico consiste no fato de existir o problema da violência, aí fazem mais lei
penal, entulha a polícia e os tribunais, e nada funciona, não tem punição, as
pessoas se sentem mais inseguras e recorrem a mais lei penal. E você entra no
ciclo da morte, pois é uma verdadeira máquina de moer. Sendo assim, o ciclo
autofágico leva a insegurança e consequente impunidade.
Como punir e Crise do processo penal
O descontrole por parte do poder público garante o domínio das facções.
Desse modo, o caos no sistema carcerário parece ser irreversível. Diante desse
caos do sistema carcerário, há de se refletir sobre o problema do
encarceramento em massa, pois existe o mito de que basta punir para que
resolva o problema do sistema carcerário. Muitos pensam segundo a teoria do
direito penal do inimigo, ou seja, pensam conforme a ideia de que se o sujeito é
réu em processo, logo ele tem culpa no cartório. Mas vale lembrar que processo
é caminho necessário para chegar à pena, imprescindível, portanto, seguir as
regras do jogo, ou seja, o processo penal não deve ser feito de qualquer modo,
pois trabalha-se com vidas que, se não forem devidamente ouvidas e com
garantia de contraditório, poderão pegar injustamente uma punição.
O processo é fruto de evolução civilizatória, pois em tempos primitivos não havia
um processo garantista.
A estrutura dialética do processo
O processo tem uma estrutura dialética. É preciso garantir para punir e
punir garantido. De que modo acontece a estrutura dialética do processo?
Acontece através de um juiz deve ser imparcial, um Ministério Público que tem
a carga da prova, portanto tem o dever de produzir provas e com a defesa que

1
Advogado criminalista e Doutor em Direito Processual Penal pela Universidad Complutense de Madrid.
2
Graduando do 6º período do Curso de Direito da Universidade CEUMA.
tem a presunção de inocência. Se o MP não produzir as provas necessárias,
tem-se que garantir à defesa a presunção de inocência. O juiz criminal deve
conduzir o processo pela lei e a constituição, com imparcialidade e somente ao
final do processo, sopesando adequadamente as provas reconhecer a culpa ou
declarar a absolvição.
Experimento de Rosenhan e o Efeito primazia – Rosenhan
Mas no Brasil essa realidade do juiz imparcial ainda está distante, pois
muitos juízes além de serem colocados em um lugar que não é seu, o juiz entra
excessivamente contaminado. Grande maioria dos juízes apresenta ausência
total de originalidade cognitiva. Conforme o experimento de Rosenhan, o efeito
primazia trata-se do fato de que as primeiras informações recebidas tem mais
peso que as demais, fundamentando-se a ideia de que há uma preponderância
das cognições oriundas da primeira impressão relativamente as outras a elas
conectadas. Sendo assim, a primeira informação é a que fica. Desse modo, a
maioria dos juízes acreditam no direito penal do autor, dando pouca atenção ao
réu.
Teoria da dissonância cognitiva
Ao falar da teoria da dissonância cognitiva, o professor Aury Lopes Jr
disse que o indivíduo busca – como mecanismo de defesa do ego – um equilíbrio
em seu sistema cognitivo, reduzindo o nível de contradição entre o seu
conhecimento e sua opinião. Trata-se de um anseio por eliminação das
contradições cognitivas. No contexto do judiciário, tem-se um problema: O
mesmo juiz receber acusação, realizar a instrução e o julgamento. Os juízes
apresentam uma situação desconfortável gerada pela posição diante de duas
teses antagônicas.
Medidas de redução de danos:
- Vedação da atuação de ofício.
- Não pode ser o mesmo a receber a denúncia e sentenciar.
- Prevenção como critério de exclusão.
- Imprescindibilidade do juiz das garantias.
- Exclusão física dos autos do inquérito.
Normalizando o anormal
Ele utilizou o mito da caverna de Platão, o qual consta no livro “A
República”, para mostrar que atualmente estamos normalizando o anormal
funcionamento da justiça. O processo penal brasileiro é primitivo, portanto, é um
sistema processual ultrapassado, pois possui uma estrutura inquisitória. Como
se viu, o juiz entra contaminado, não possuindo originalidade cognitiva. Além
disso, o mesmo juiz faz tudo. Ausência de estética de imparcialidade.
Por fim, teceu críticas ao “Pacote anti crime”, do ministro de Estado da
Justiça, Sérgio. A crítica se concentrou na previsão de barganha que o projeto
prevê, o que seria uma forma de monetizar o processo penal, levando ao fim o
próprio processo penal. Finalizou dizendo que diante dessas coisas ora
expostas, se torna urgente fazer um exercício de estranhamento a esse estado
de coisas.

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