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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS - UFAL

FACULDADE DE DIREITO DE ALAGOAS – FDA

CURSO DE DIREITO - PERÍODO: 2º - DISCIPLINA: SOCIOLOGIA DO DIREITO 2


Prof. Dr. Manoel Cavalcante de Lima Neto

1. SOCIOLOGIA JURÍDICA NA ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA

1.1. ACESSO À JUSTIÇA


1.1.1. Barreiras de acesso à justiça
1.1.1.1. Acesso formal à justiça – que consiste na possibilidade legal de acionar o
judiciário em caso de conflito (existência de leis que tutelam direitos e de
órgãos que efetivam essa tutela). O acesso formal à Justiça é garantido na
Constituição (art. 5º, incisos XXXV, LIV, LV). (Sabadell, p. 206).
1.1.1.1.1. Acesso efetivo à justiça – que consiste na possibilidade real de pedir
proteção judiciária. (Sabadell, p. 207).
1.1.1.1.2. Barreiras econômicas. Os altos custos do processo intimidam as partes,
que muitas vezes desistem de solicitar a proteção judiciária porque não
podem pagar as despesas ou porque não é satisfatória a relação entre o
custo do processo e o benefício esperado.
1.1.1.1.3. Barreiras sociais. Por desconfiarem do sistema de Justiça, os eventuais
litigantes desistem do processo. A falta de confiança é devida a
experiências anteriores dos interessados ou relatos de outras pessoas.
Outra barreira social consiste no medo de romper relações sociais e
sofrer represálias quando se inicia em processo contra amigos,
vizinhos, empregadores ou pessoas poderosas.
1.1.1.1.4. Barreiras pessoais. A falta de informações sobre direitos de proteção
judiciária e, principalmente, sobre possibilidades de assistência gratuita
impedem pessoas oriundas de classes desfavorecidas de exercerem seus
direitos. Além disso, a inferioridade cultural dificulta a comunicação
com os advogados e juízes, criando ulteriores desvantagens.
1.1.1.1.5. Barreiras jurídicas. Trata-se de obstáculos relacionados às regras de
organização do processo e de funcionamento dos tribunais: excessiva
duração do processo e incerteza em relação ao resultado; distância
geográfica do tribunal; número limitado de juízes, promotores e
procuradores; incompetência profissional e psicológica de advogados.
(Sabadell, p. 207).

1.1.1.2. Acesso à justiça e obstáculos – Sadeck


1.1.1.2.1. O direito de acesso à justiça não significa apenas recurso ao Poder
Judiciário sempre que um direito seja ameaçado. Esse direito envolve
uma série de instituições estatais e não estatais. Como consta do texto
constitucional, são vários os mecanismos e instituições que podem
atuar na busca da solução pacífica de conflitos e do reconhecimento de
direitos.
1.1.1.2.2. Cappelletti e Garth (1988), em trabalho pioneiro sobre a efetivação dos
direitos, identificam, no movimento de acesso à justiça, três ondas e
barreiras que deveriam ser superadas para que os indivíduos, sobretudo
os mais carentes, tivessem, de fato, seus direitos garantidos,
transformando-se em cidadãos. A primeira onda caracteriza-se pela
garantia de assistência jurídica para os pobres. A segunda se manifesta
na representação dos direitos difusos, e a terceira ocorre com a
informalização de procedimentos de resolução de conflitos.
1.1.1.2.3. Pesquisas comparativas internacionais mostram que sociedades
marcadas por elevados índices de desigualdade econômica e social
apresentam alta probabilidade de que amplas camadas de sua
população sejam caracterizadas pelo desconhecimento de direitos. Essa
característica compromete a universalização do acesso à justiça,
afastando da porta de entrada todos aqueles que sequer possuem
informações sobre direitos.
1.1.1.2.4. A escolaridade desempenha um papel fundamental, tanto como fator
que opera no sentido da diminuição das desigualdades sociais, quanto
como motor para o conhecimento de direitos e como pleiteá-los. O
Censo de 2012 aponta a existência de 13,2 milhões de analfabetos
plenos e mais 27,8 milhões de analfabetos funcionais.
1.1.1.2.5. Com efeito, os mais frequentes usuários do Judiciário são: a Caixa
Econômica Federal, a União, o INSS, os bancos, as empresas de
telefonia, os municípios. O setor público é responsável por 51% das
demandas judiciais em tramitação no país.
1.1.1.2.6. Estudo realizado pela Escola de Direito da FGV-SP, em 2012,
evidencia que a procura pelo Judiciário se concentra entre pessoas com
maior nível de renda e de escolaridade.
1.1.1.2.7. De forma resumida, no elenco de causas aparecem, dentre outras: a
legislação, o número de recursos, o formalismo, o tratamento dado às
demandas individuais repetitivas, o número de juízes, a infraestrutura, o
gerenciamento, o orçamento, a mentalidade de magistrados e dos
demais operadores do direito.
1.1.1.2.8. Os defensores de alterações na legislação relativa ao número de
recursos apontam que, na situação atual, um processo comum pode ser
apreciado em quatro graus de jurisdição (primeiro grau, tribunal local,
tribunais superiores e Supremo Tribunal Federal) até que se obtenha a
decisão final, passível de ser executada. Dessa forma, sustentam, os
processos podem ser eternizados9. O diagnóstico e a proposta de
redução nas possibilidades de recurso se apoiam em dados
comparativos internacionais, evidenciando que o Brasil é o único país
do mundo democrático em que um processo pode percorrer tão longo
trajeto. Entre as 56 Supremas Cortes representadas na Comissão de
Veneza, apenas no Brasil um processo individual tem tão ampla
possibilidade. Ademais, alegam-se que mesmo a Declaração
Americana de Direitos Humanos, o Pacto de San Jose da Costa Rica,
alude à necessidade de revisão das decisões por uma instância superior.
1.1.1.2.9. ...o modelo em vigor acaba por diminuir o papel e a responsabilidade
dos juízes que atuam no primeiro grau e mesmo dos desembargadores,
convertendo esses graus de jurisdição em mero rito de passagem. O
excesso de formalismo somado à linguagem hermética, prolixa,
ostentando cultura e erudição, também são apontados como causas da
morosidade, provocando o retardamento das decisões e, na maior parte
das vezes, a incompreensão por parte dos jurisdicionados.
1.1.1.2.10. O número insuficiente de juízes, de servidores, além de aspectos
relacionados à infraestrutura, também é evocado dentre as explicações
para a lentidão do Judiciário. De acordo com o “Relatório Justiça em
Números – 2013”, o Poder Judiciário contava, em 2012, com um corpo
de 17.077 magistrados, correspondendo a 8,8 juízes para cada 100 mil
habitantes, e com 205 servidores para cada 100 mil habitantes.
Considera-se que, embora o índice de 8,8 juízes para cada 100 mil
habitantes não seja inferior aos padrões internacionais, o atual corpo de
magistrados e servidores não seria adequado ao exponencial volume de
demandas.
1.1.1.3. Acesso à justiça como um direito
1.1.1.3.1. O art. 5º, inciso XXXV, declara que: a lei não excluirá da apreciação
do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito....Consagra o direito de
invocar a atividade jurisdicional, como direito público subjetivo. Não
se assegura aí apenas o direito de agir, o direito de ação. Invocar a
jurisdição para a tutela de direito é também direito daquele contra quem
se age, contra quem se propõe a ação. (J. Afonso, p. 431).
1.1.1.3.2. Direito a uma duração razoável do processo. Esse direito foi instituído
pela EC-45/2004, mediante o acréscimo do inc. LXXVIII ao art. 5º, da
Constituição, para estatuir que a todos são assegurados, no âmbito
judicial e administrativo, a razoável duração do processo e os meios
que garantam a celeridade de sua tramitação. (J. Afonso, p. 432).

1.1.1.4. CNJ – JUSTIÇA EM NÚMEROS – 2018 – ANO BASE 2017


1.1.1.4.1. Casos novos da Justiça Estadual = 20.207.585 (Criminal = 2.501.484;
Não -criminal = 17.706.101) – Pendentes = 63.482.535.
1.1.1.4.2. Casos novos na Justiça Federal = 3.865.182 (Criminal = 126.559; Não-
criminal = 3.738.623). Pendentes = 10.305.148

Bibliografia Básica
CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Tradução de Ellen
Gracie Northfleet. Porto Alegre: Sergio Fabris, 1988.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 24 ed. São Paulo:
Malheiros, 2005.
SABADELL, Ana Lucia. Manual de Sociologia Jurídica: Introdução a uma leitura
externa do direito. 7 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2017.
SADECK, Maria Tereza Aina. Acesso à justiça: um direito e seus obstáculos.
Revista da USP. São Paulo n. 101, p. 55-66 • março/abril/maio 2014.
SOUTO; Claudio; SOUTO; Solange. Sociologia do Direito: uma visão substantiva. 3
ed. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2003.

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