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Direito Civil 08-04-2019

Professor Ricardo Calado

Na aula passada nós começamos a falar de propriedade. Falamos sobre a descoberta.


Começamos a falar sobre usucapião. Nós vamos começar a estudar a aquisição da
propriedade imóvel depois nós vamos começar a estudar a aquisição da propriedade
móvel. Esse estudo é diferente por conta dos institutos que se diferenciam. Quando a
gente for estudar a perda a gente estuda junto. Porque aí dá para trabalhar os mesmos
institutos tanto da propriedade imóvel quanto da propriedade móvel.

Nós vimos então o que é adquirir a propriedade. O que é aquisição do direito de


propriedade? Nós vemos que numa relação de direito real eu tenho uma relação
estabelecida entre um sujeito que eu denomino de (titular) da coisa. Quando esse
direito se personifica o sujeito que nós denominamos de titular nós afirmamos que
houve ali a aquisição do direito - e aí eu não me refiro ao direito de propriedade, mas
poderia ser o de servidão, usufruto, enfim, qualquer outra modalidade de direito real.

Também falamos que assim como a gente adquire a posse de forma originária e
derivada, o mesmo acontece com a propriedade.

A aquisição originária não há intermediação subjetiva. Não há outra pessoa que


transfira esse direito, ou seja, não há transmissibilidade. Nós Vimos que existem duas
formas de aquisição originária da propriedade: a usucapião e a aceção. Vimos ainda
que a propriedade pode ser de forma derivada, aí eu vou ter uma intermediação
subjetiva do sujeito porque certamente haverá a transmissibilidade - o proprietário
anterior transfere o direito para o adquirente - o alienante para o adquirente.

Vimos sobre a herança e a transcrição. Herança não é objeto de estudo do direito das
coisas, mas do direito das sucessões.

E agora nós vamos focar no Usucapião, na acessão e no registro (transcrição do


registro de propriedade).

No primeiro tipo de aquisição da propriedade imóvel, tem um instituto que é dos mais
demandados nas nossas avaliações- é o usucapião (prescrição aquisitiva: é uma
prescrição cujo decurso do tempo leva à sua aquisição e não à sua perda. Então aplica-
se todas as hipóteses de suspensão ou de interrupção que se aplica no caso do
devedor - leitura do art. 197, 198, 199, 200, 201. Então nós vimos que o usucapião por
ser uma relação jurídica ele exige três requisitos:

- subjetivos ou pessoais;

- Objetivos ou reais; e

- os formais.
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Os requisitos subjetivos são aqueles que diz respeito às pessoas para a relação de
usucapião - seja o usucapiendo (aquele que quer usucapir a coisa), seja aquele que
está perdendo o direito de propriedade. Diz a doutrina majoritária que por ser uma
relação jurídica ambos necessitam possuir capacidade genérica para a prática de atos
da vida civil. E aí foi aquilo que eu tava falando - art. 1244cc combinado com esses
dispositivos, porque as vezes a pessoa é capaz mas a relação jurídica não se
desenvolve porque aquela fruição do prazo, nós vamos ver que pode ser 15, 10, 5, 2
ela não flui - ascendente, descendente, cônjuges, pessoas absolutamente incapazes,
aqueles que estão em missão fora do Brasil, pendência de condição suspensiva,
nenhuma dessas hipóteses permite fluidez desse prazo.

Requisitos reais: (estudem isso porque pode cair na prova de vcs). A gente tem que
pensar se aquele objeto é passível de usucapião, porque nem todo objeto é possível
usucapir. Aquilo que não for objeto de propriedade não pode haver usucapião - os
bens fora de comércio, os bens públicos, o condomínio também não, porque enquanto
não cessar a comunhão não pode haver usucapião, eu não posso adquirir algo que eu
seja dono.

Quanto aos requisitos formais nós vimos que tem dois tipos: Comuns e especiais.
Comuns porque estão presentes de forma geral em todas as modalidades de
usucapião - posse no tempo caracteriza justamente a posse ad usucapionem. Os
especiais é justo titulo e boa fé porque esses dois so vão está presente em uma
modalidade de usucapião que é o Ordinário.

A posse deve ser ad usucapionem até a implementação do prazo prescritivo (que é o


prazo do usucapião), 15 anos, 10 anos, 5 anos 3 anos coisas imóveis, com 2 anos que é
o especial. Enquanto não for implementado os requisitos do usucapião a posse será ad
interdicta - Qual a diferença? Posse ad interdicta permite ao possuidor a defesa dela
pelas ações possessórias e posse ad usucapionem são aquelas que são se
implementaram os requisitos do usucapião, a defesa que ele pode utilizar não é mais
só a defesa possessória, mas a defesa da prescrição aquisitiva - se eu já tenho todos os
requisitos de usucapir e eu estou sendo demandado daquela posse eu posso ir la e
entrar com usucapião. Se eu não tenho esse direito e estou sendo demandado daquela
posse, quais são os meus direitos? as ações possessórias porque aí é para defender a
posse - posse ad interdicta.

A posse deve ser ad usucapionem, mansa e pacifica, contínua, publica e justa. O lapso
temporal varia. Antes de expirar-se o prazo o possuidor poderá valer-se dos interdictos
possessórios - eu ainda não tenho direito de usucapião mas eu já tenho a posse ad
interdicta. A ação de usucapião é imprescritível porque é uma ação declaratória.

justo titulo e boa fé só serão exigidos para usucapião ordinário - Em outras


modalidades há uma presunção absoluta, como no usucapião extraordinário.
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Modalidades de usucapião:

O que eu preciso fazer é sempre relacionar a aquisição da propriedade com a posse


porque a posse tem que ser requisito indispensável para o usucapião.

hipóteses:

- Extraordinária;

- Ordinária;

- E Especial (alguns autores chamam de usucapião constitucional, porque ta previsto


na CF).

A especial se divide em duas espécies: Urbana e Rural. A urbana porque o objeto do


bem que ta sendo usucapido é urbana e a Rural porque ta na zona rural.

A urbana eu tenho três tipos principais:

- a chamada Especial urbana pro misero ou pro moradia;

- A familiar ou por abandono de lar - art. 1240, a. cc

- E a Especial urbana coletiva.

- E eu tenho a especial rural que é chamada de pro labore (pelo trabalho que a pessoa
desenvolveu naquela area que tem até 50hc, para fim de moradia). São essas seis, mas
não são os únicos.

Usucapião extraordinário:

A primeira dela é a extraordinária - ta prevista no art. 1238cc. Ela é extraordinária


porque para esse usucapião não se exige nem justo titulo nem boa fé, porque a posse
para que gere usucapião tem que ser uma posse mansa, pacifica, inconteste, mas tem
que ter boa fé, a pessoa tem que ter o justo titulo para adquirir, no entanto o próprio
código civil estabelece uma hipótese que é extraordinária, em contra partida a lei exige
o maior lapso temporal de todos, o prazo é que tem que ta 15 anos na posse do bem,
ela é a mais longa de todas. Os requisitos estão na lei. a partir do 1238cc - parágrafo
único desse art. se refere a chamada posse trabalho, reflete a função social da posse, o
legislador ta privilegiando aquele possuidor que dá uma destinação social à posse, e aí
o reflexo positivo é que diminui o prazo de 15 anos para 10, isso se dá pela destinação.
Da lei a gente extrai os requisitos:

- Posse mansa, pacifica, contínua. A posse não pode ter sofrido contestação e tem que
ser contínua, não se admite (***) dessa continuidade, não se admite a soma de posse,
a posse tem que ser atual, tem que ser contínua.
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- Para que haja usucapião tem que ficar demonstrado o comportamento - animus
domini, ele tem que querer a propriedade.

Obs: o legislador atribuiu a esse tipo de usucapião a presunção absoluta de justo titulo
e boa fé. Como essa presunção é absoluta não se pode discutir o titulo, não se pode
exigir do possuidor que ele exiba documentos no processo, que ele exiba o titulo,
também não se pode pedir que se declare a inexistência do título. Não se admite prova
em contrário. Dois efeitos que decorrem diretamente dessa presunção absoluta: Não
pode pedir a inscrição do documento e nem a declaração de inexistência do
documento porque para o direito isso não interessa, gerou para o possuidor uma
presunção absoluta - a partir dos 15 anos presume-se que ele é um possuidor de boa
fé. E como isso é um requisito geral é necessário que haja uma sentença declaratória.

Ex: Eu entro com uma ação reinvidicatória, de uma propriedade imóvel, mas a pessoa
já ta la ha 17 anos, em tese ela ja tem o direito de usucapião, mas eu apareci com o
titulo dizendo que o terreno é meu, ela vai dizer que não vai me devolver o imóvel
porque contra mim ocorreu uma prescrição porque passou mais de 15 anos, ela teve
uma prescrição aquisitiva. Aí ela alega no processo dizendo que ela preencheu os
requisitos e vai usucapir os bens e por isso eu vou perder o meu direito de
propriedade. Nessa ação reinvidicatória o juiz não poderá declarar o usucapião dela,
porque ação reinvidicatória não é ação declaratória. O que o juiz vai ter que fazer? O
juiz acatando o direito dela de usucapião (...............) reunir as provas, ouvir as
testemunhas, testemunhas, ela se apresentou como dona, ela que paga conta de luz,
conta de água. O que o juiz vai fazer? ele vai julgar improcedente a minha ação, então
aquela sentença vai surtir efeito para nós dois, mas segundo a doutrina majoritária ela
não vai poder levar essa sentença para registrar no cartório de imóveis dizendo que
ganhou o usucapião. O que ela precisaria fazer é ajuizar uma ação de usucapião,
porque até então ela resolveu contra mim, mas e contra terceiros? Resumindo, mesmo
que ela ganhe porque o juiz julgou improcedente a minha ação, não dispensa ela a
obrigação de ir ao juiz e requerer uma ação declaratória, que é imprescritiva que o juiz
declare o direito dela - aí essa ação declaratória ela pega a sentença e vai para o
cartório de imóveis e faz o registro. Qual é a diferença? A maior parte da doutrina diz
que o efeito da defesa de usucapião é a improcedência da ação reinvidicatória, ela
precisa ajuizar uma ação declaratória de usucapião para obter a sentença.

- 1241cc.

Usucapião Ordinário:

Usucapião ordinário - art. art. 1242cc: Aqui diminui o prazo. Parag. único - será de 5
anos o prazo - aqui trata-se da posse-trabalho: aquela que se dá destinação social.

Esse usucapião ordinário tem a sua peculiaridade: Qual a diferença do ordinário? É que
eu preciso ter um justo titulo e uma boa fé (lembrem o que é justo titulo: é aquele
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titulo hábil a transferir, mas não transferiu porque tem um vicio) e a boa fé é aquela
pessoa que desconhece os vícios. O titulo pode ser judicial ou extrajudicial. Então para
essa modalidade de usucapião a lei exige justo titulo e boa fé, ou seja, aquele que ta
usucapindo a coisa não pode ter noção do impedimento. Por isso é que tanto no caput
quanto no parágrafo único ele exige que o bem tenha sido adquirido de forma onerosa
com base no titulo que foi posteriormente cancelado. É diferente do extraordinário
que eu posso conseguir a posse de qualquer jeito (mas aqui no ordinário quando se
fala de titulo é porque alguém transferiu a posse para ele, tem o elemento da
translatividade).

- Ex: Imagina que você ta vendendo um imóvel e eu compro da tua mão, a gente faz
um contrato de compra e venda, mas quando eu vou transferir aquele imóvel eu
descubro que aquele imóvel ta sendo retomado pelo banco, uma ação contra você. O
justo título é aquele que é formalmente hábil para transferência, mas ele vai ser
posteriormente anulado porque ele tem um vício. (48:00).

- O legislador diminuiu o prazo porque a pessoa tem o justo titulo e a boa fé que são
requisitos indispensáveis do usucapião ordinário. Esse titulo pode ser um contrato,
uma escritura.

Eu comprei um imóvel de um herdeiro mas la na frente aquele testamento foi anulado,


aí eu não posso perder, mas posso entrar com usucapião. A lei exige esses requisitos,
leiam o artigo 1242 completo.

- Tem que ter o registro cancelado posteriormente em razão de um vicio, é esse o


usucapião ordinário, ele surge assim.

- A redução de 10 para 5 anos é pela mesma razão do extraordinário: o possuidor


construiu moradia, fez uns serviços e deu uma destinação social - isso é a posse
trabalho.

- Então o que caracteriza o ordinário é o justo titulo e boa fé, não gera presunção e se
é requisito tem que ser comprovado no processo.

Obs: o prazo diminuiu porque eu moro no imóvel, porque eu posso adquirir usucapião
sem morar no imóvel. Se eu não morar o prazo permanece 100 anos. (52:35:00).

OBS: Assim como o extraordinário o ordinário também decorre de uma ação


declaratória, é o requisito geral.

Usucapião Especial:

Pode ser urbano ou rural (também chamado pro labore).


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Esse dispositivo tem assento na CF, por isso é que ele também é chamado de
usucapião constitucional - art. 183 CF e o artigo 1240cc. Esse dispositivo vem
reproduzido no art. 1240cc.

Esse tipo de usucapião surge como forma de regulamentação do direito fundamental


de moradia, os demais não. O extraordinário e o ordinário pode ser utilizado para
qualquer outro fim, mas se o extraordinário e o ordinário forem utilizados para
moradia aí causa redução. Esse aqui (O especial), surgiu la na CF de 88 como forma de
atendimento ao direito de moradia, então ele tem por base a função social, de
atendimento ao direito de moradia - o código civil encampou- trouxe além
extraordinário e o ordinário que já existiam, o especial, o que é mais constitucional.
Em 2001 foi editado a lei 10.257 conhecida como estatuto das cidades que vem
justamente regulamentar a ocupação urbana e nesse estatuto prevê lá no art. 9º a
regulamentação desse usucapião. (fica a dica para vocês lerem).

- Nós tiramos esses requisitos da lei:

- Posse contínua mansa e pacifica (requisito geral);

- Posse de área urbana de até 250m2 (requisito especifico);

- 5 anos - pro moradia;

- Utilização do imóvel, pro misero, porque presume-se que ele não tem aonde morar

obs: Não se consegue se é proprietário de outro imóvel rural, e também não pode
recair sobre imóveis públicos. Nem se consegue ao mesmo possuidor mais de uma vez.

OBS: Enunciado de uma doutrina que a jurisprudência vem encampando "Para efeito
do art. 1240 caput, entende-se por área urbana o imóvel edificado ou não - pode ser
um terreno e pode ser a construção".

OBS: A única que exige justo titulo e boa fé é ordinária.

OBS: Não se inclui nesse preceito posse anterior a 88, porque esse usucapião só foi
criado em 88.

Usucapião familiar ou usucapião especial urbano por abandono de lar

Esse tipo de usucapião foi inserido no código civil por uma lei de 2011 que veio
acrescentar essa nova modalidade de usucapião Especial Urbana que é para fins de
moradia também na alínea A.

- Esse é o menor prazo de todos, porque é apenas 2 anos para consumação da


usucapião familiar. Vamos ler o art. 1240-A c/c.
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- Observem aí que são quase iguais os requisitos especiais da urbana normal - A


especial geral. Mas tem os requisitos específicos porque ele é conferido com uma
situação especial, por isso que ele é chamado de usucapião especial por abandono de
lar. É Aquela hipótese em que os cônjuges, os companheiros conviviam no imóvel, mas
um dos cônjuges abandona o lar. Esse instituto de abandono de lar é do direito das
famílias, o que implica o abandono de lar é o elemento objetivo que é o prazo, no caso
para usucapião a lei estabelece 2 anos, mas também ela exige um elemento subjetivo
para o abandono, que é o animus abandonandi, ou seja, é a vontade do cônjuge
abandonar o lar. É aquela história do cara dizer para a mulher que vai ali comprar um
cigarro e some no mundo. Então para que caracterize o abandono tem esses dois
requisitos - tem que ser consciente e voluntário (mas isso é la do direito de família).

- Então se tiver o animus donandi aquele que permaneceu no imóvel pode ir ao juiz e
requerer o usucapião.

- O outro requisito é que o usucapiente deve ser proprietário, ex cônjuge ou


companheiro, deve-se adquirir o bem aí na vigência do casamento, não entra ai os
bens chamados particulares, bens particulares são aqueles que não se comungam na
união ou no casamento. E para finalizar O STF já equiparou para alguns direitos a união
afetiva, então para companheiros do mesmo sexo se aplica este usucapião.

Usucapião especial coletiva: também ta previsto no estatuto das cidades.

Semelhante aos que nós já vimos mas tem uma diferença

- Área urbana com mais de 250 metros, a outra era com área ate 240 metros.

- Posse de 5 anos interruptos e sem oposição;

- (so para pontuar: dispensa boa fé);

- Existem no local das famílias de baixa renda utilizando o imóvel para a moradia, por
isso que ele é chamado de coletivo;

- E impossibilidade de identificação da área de cada morador. Identificação individual


da área, quer dizer, é uma área extensa acima de 250 m2

- Não pode ser possuidor de outro imóvel urbano ou rural

OBS: É uma modalidade que se assemelha ao outro mas tem duas distinções: Primeiro
a área que tem que ser superior a 250 m2 e a impossibilidade de você demarcar qual a
área de cada possuidor, por isso é chamado de usucapião coletivo.
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Usucapião rural ou pro labore CF art. 191 - vamos ler esse artigo. Vamos ler também
art. 1239cc

Requisitos:

- O usucapiendo não pode ser proprietário de propriedade rural ou bem urbano;

- Posse contínua e pacífica pelo prazo de 5 anos.

- Não excedente a 50hec.

- Ter tornado o imóvel produtivo (função social)

- e constituído sua moradia

- Independe de justo titulo e boa fé

- Não pode recair sobre bens públicos. Na verdade não pode incidir usucapião sobre
bens públicos. (1:18:00).

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