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49-Texto Do Artigo-251-1-10-20170317 PDF
49-Texto Do Artigo-251-1-10-20170317 PDF
ISSN: 2359-1552
Artigo
“UM GRITO NA RUA”: Jane Jacobs e a vida das grandes
cidades1
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Dois esclarecimentos iniciais são necessários: o primeiro diz respeito à ousadia em tomar de empréstimo parte
de um dos subtítulos do estimulante livro de Marshall Berman (1986),
ns de seus contemporâneos, que [...] criaram uma
ord
este artigo, privilegiando a vitalidade das grandes cidades, como bem
desejava Jacobs.
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Introdução
Apesar de sua importância, o primeiro livro de Jane Jacobs, intitulado Death and life of
great american cities, de 1961, foi tardiamente editado no Brasil, embora não tenha perdido
sua força. Quase 40 anos depois de sua publicação, foi traduzido como Morte e vida de
grandes cidades (2000), omitindo, assim como em outras edições, a especificidade na
análise do caso norte-americano.
Neste artigo, procuro apresentar e analisar esta obra de Jane Jacobs, porém não seguirei
rigidamente a estruturação feita pela autora. Procurando evitar um formato mais linear e
tendo o objetivo de experimentar um diálogo mais fluido com as ideias ali presentes,
agrupei alguns capítulos em temas ou até mesmo inverti sua ordem. De início, busco captar
a noção de cidade impressa nas entrelinhas do livro, para em seguida destacar o que seria o
seu ponto central. Feita uma síntese de Morte e vida de grandes cidades, por fim, tecerei
relações entre a vida e a obra de Jane Jacobs, a partir de sua experiência pessoal e do diálogo
com outros autores. Deste modo, acredito que a força do manifesto de Jane Jacobs tenha
sido mantida, mesmo com os eventuais rearranjos aqui empreendidos.
Recorrerei a uma analogia feita por Jacobs entre a história do pensamento científico e a
história do planejamento urbano. Tal comparação foi feita a partir de um ensaio sobre
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Tal inversão é interessante na medida em que reforça o descompromisso da autora com o rigor e formalismo
teórico-acadêmicos e, por outro lado, o seu compromisso com o raciocínio pela indução.
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Mais adiante, por sua vez, Le Corbusier é caracterizado dentro da corrente do pensamento
sobre a cidade como um problema de complexidade desorganizada:
É óbvio que Jacobs destaca o fato de que, embora enunciem tipos semelhantes de
problemas, as cidades e as ciências biológicas não possuem os mesmos problemas. A
analogia estabelecida foi apenas um recurso que possibilitou chamar a atenção para a
necessidade de refletir as cidades enquanto organismo repleto de inter-relações intrincadas
e inteligíveis. Ao nível do detalhe, ou analogamente do microscópico, existe uma ordem na
aparente desordem. Para essa compreensão das cidades, três modos de reflexão seriam
importantes: a atenção minuciosa sobre os processos urbanos, relativizando-os, tendo em
vista que os elementos citadinos podem ter efeitos diferentes, segundo as circunstâncias e o
contexto em que existem; a indução como uma forma de raciocínio fundamental, pois
considera o particular como ponto de partida para o geral; e a busca por irregularidades, as
-padrão.
Acima de qualquer coisa, vemos que Jane Jacobs é uma apaixonada pela cidade, ao
contrário da corrente antiurbana norte-americana3. Sua crítica ácida aos problemas
observados não diminui o seu otimismo frente à capacidade humana de superar problemas.
Para ela,
(...) as cidades, criadas e usadas pelas criaturas que amam as cidades, são
menosprezadas por essas mentes tacanhas por não terem a imagem amena
3
Segundo Françoise Choay (2002), o antiurbanismo norte-americano foi inspirado pela época heroica dos
pioneiros e sua relação com a imagem de uma natureza virgem. Os pensadores antiurbanos mantêm um
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Ruas e calçadas
As ruas e as calçadas seriam elementos fundamentais para a dinâmica das cidades, pois
seriam uma espécie de termômetro urbano: se parecerem monótonas, a cidade parecerá
monótona; se parecerem interessantes, a cidade parecerá interessante. Se as ruas e calçadas
não estiverem livres da violência e do medo, relativamente, a cidade ou partes dela serão
perigosas. É nesse espaço público, no termo mais amplo, que se desenvolve parcela
significativa dos embates sociais urbanos, seja no âmbito da dominação, da resistência ou
da negoc
são protagonistas ativos do drama urbano da civilização versus
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Na verdade, o que tornaria uma rua segura seria a movimentação que nela ocorre ao longo
de todo o dia. Mas, então, o que explicaria as diferenças entre uma rua movimentada e
interessante, onde circulam os moradores locais, mas também estranhos, e entre uma rua
deserta, evitada por muitas pessoas e por isso lugar propício para a violência? Para Jacobs,
três características principais constituiriam uma rua segura:
estariam para ela voltados; uma nítida separação entre o espaço público e o espaço privado,
de modo que fique claro qual a área em que deve haver vigilância e em qual se deva ter
privacidade; e uma circulação ininterrupta de usuários nas calçadas, de modo que seja
induzida uma variedade de observadores desse movimento, potencializando assim o
número de olhos atentos ao espaço público.
Parques
Os parques, como as ruas e calçadas, são relevantes para a vida nas grandes cidades.
Entretanto, para Jacobs, sua implantação vinha sendo feita de forma acrítica, como se um
maior número de áreas livres proporcionasse, em contrapartida, um melhor projeto
urbano. Portanto, antes de qualquer coisa, o que deveria ser feito era se perguntar para
quem e para quê essas áreas servem.
Jane Jacobs entendia que os parques, à parte da fantasia de que seriam os pulmões da
cidade, é que são influenciados diretamente pela comunidade onde estão instalados, e não
são os parques que transformam o seu entorno ou mesmo que promovam um sentimento de
vizinhança. Um parque vazio, sem uso, não é mais do que um elemento decorativo em um
bairro. É necessário, portanto, compreendê-lo como parte integrante da complexidade da
vida no bairro, como um lugar, entre outros, que promove circulação e sociabilidade. Desta
forma, um parque bem-sucedido, que propicia uma vinculação apaixonada das pessoas do
bairro, deveria incluir quatro elementos em sua concepção. O primeiro deles é a sua
complexidade que se refere à potencialidade de que o parque gere múltiplos motivos para
que as pessoas o freqüente. Deve ser, então, um espaço estimulante para usos e estados de
espírito diversificados, o que pode ser atingido por meio de diferenças sutis, como
mudanças de nível no piso, perspectivas variadas ou agrupamentos de árvores. O segundo
elemento-chave é a sua centralidade, que confere ao parque um reconhecimento de que ele
é um lugar central ou de destaque no bairro. A insolação ou a possibilidade de ser iluminada
pelo sol seria o terceiro elemento importante. E, por fim, a delimitação espacial seria a
última característica de um parque bem-sucedido, tendo em vista que os prédios existentes
ao seu redor, por exemplo, poderiam contribuir para que ele fosse efetivamente um
destaque no cenário urbano.
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Ruas, calçadas e parques são partes integrantes de um bairro, o qual por sua vez insere-se
no grande tecido urbano que é a cidade. A vida na grande cidade se realiza então ao nível
micro, na instância mais próxima aos cidadãos que é o bairro. E se a vitalidade dos bairros, e
de suas ruas e calçadas, reside principalmente (mas não somente) no pertencimento, no
sentimento de comunidade, nada mais natural do que seus moradores tivessem interesse
pela condução coletiva desse lugar. Entretanto, a autogestão do bairro não implica
reconhecê-lo como uma unidade auto-suficiente e voltada para si mesma, ao contrário de
bairro como uma ilha, com
zonas e usos estanques.
O bairro, como se pode depreender, adquire na obra de Jane Jacobs uma importância
fundamental, embora alguns urbanistas proclamassem que esse conceito não tinha mais
sentido na vida das metrópoles. A negação do bairro, enquanto vínculo emocional e local,
era aparentemente fundamentada na intensa mobilidade urbana, na ruptura com um dito
Em síntese, o que Jane Jacobs prega é a necessidade de que nasça e se consolide uma
responsabilidade pública por parte dos moradores da cidade, materializada na autogestão
de ruas, calçadas, parques, enfim do bairro. Para tal, é necessário reconhecer a importância
que deveriam ter as experiências dessas pessoas nas decisões tomadas nos altos escalões do
governo, ou então que estas pessoas mobilizadas constituam uma pressão eficiente na
condução dos rumos a serem tomados.
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Como vimos, o grau de vitalidade de uma grande cidade está estreitamente relacionado ao
grau de diversidade presente em cada lugar específico. Nesse sentido, quatro seriam as
condições indispensáveis para gerar esta diversidade: a necessidade de existirem usos
combinados, de modo a gerar uma freqüência significativa de pessoas em circulação ao
longo do dia inteiro, amenizando assim o desequilíbrio de horários e a ociosidade de
espaços; a necessidade de quadras curtas, com o objetivo de que o fluxo de pessoas se cruze
e se entrelace, ao invés de ficar concentrado em um pequeno número de ruas; a
necessidade de haver uma combinação de edifícios com idades e estados de conservação
variados, com objetivo de com isso propiciar neles o estabelecimento de usos diversificados;
e a necessidade de uma alta concentração de pessoas no distrito, incluindo aí aquelas cujo
propósito é manter-se morando lá.
Habitação
Para a questão habitacional, como parte integrante da estratégia para promoção da
diversidade urbana, Jacobs propõe a subvenção de moradias através do que ela denomina
à construção, pela iniciativa privada, de edifícios (de tipos e modalidades diferentes, e não
conjuntos habitacionais) em bairros onde seja necessária a substituição de prédios
degradados ou o aumento da oferta de moradias. Aos construtores seriam dados dois tipos
de garantia pelo poder público. A primeira seria a obtenção do financiamento necessário
para a construção do edifício. A segunda garantia dada para os construtores, ou para os
proprietários que comprassem os prédios posteriormente, refere-se ao aluguel de unidades
habitacionais de modo que fosse mantida sua sustentação econômica. Pela garantia de
financiamento da construção ou da renda do aluguel dos apartamentos ocupados, o poder
público faria duas exigências. A primeira seria a definição do bairro ou lugares específicos
dentro dele para a construção do prédio. A segunda exigência estabelecia que, na maioria
dos casos, os candidatos a inquilinos seriam de uma determinada área, cuja seleção seria
feita pelo proprietário do imóvel. A partir desta seleção, o poder público verificaria a renda
dos inquilinos e cobriria a diferença daqueles que não pudessem arcar com o valor total do
4
Na última parte de seu livro, além das citadas recomendações para a habitação, trânsito, estética urbana e
projetos de revitalização, Jane Jacobs apresenta alternativas para a gestão e o planejamento da cidade, as quais
foram excluídas desta seção tendo em vista que elas são mencionadas em outras partes deste artigo.
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Trânsito
As altas taxas de congestionamento de veículos são um problema das grandes cidades, cuja
solução passava pela necessária construção de mais vias e, naturalmente, de toda uma
estrutura que desse suporte eficiente ao uso do carro particular. Jacobs sintetiza
precisamente as conseqüências dessa situação para a cidade:
Porém, para a autora, não são os automóveis em si que destroem as cidades; ao contrário, os
automóveis e as cidades deveriam ser encarados como aliados potenciais. O que deveria
realmente importar para os planejadores urbanos, no final das contas, é como responder à
questão sobre como prover um uso do solo complexo e concentrado sem destruir o
transporte urbano.
O impasse resultante da oposição automóvel versus pedestre vinha sendo resolvido com a
destinação específica para cada um desses usos, cuja efetividade só seria atingida se
houvesse uma relevante queda no número de veículos nas cidades e um aumento na
utilização do transporte público, o que não estava ocorrendo. Além disso, a separação dos
pedestres não garantiria o espaço para a crescente circulação de automóveis. Na prática,
observava-se o sacrifício constante e progressivo das necessidades dos pedestres em função
do predomínio, além do tolerável, dos carros particulares, e também a menor oferta do
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transporte público. Para Jane Jacobs, a solução deveria contemplar as necessidades dos
pedestres e a forçosa redução do número de automóveis nas ruas, fazendo com os veículos
restantes trabalhassem com maior eficiência. Nas cidades norte-americanas, essa redução
já vinha acontecendo, porém de forma acidental e não reconhecida e nem praticada como
uma política pública urbana. O decréscimo da circulação de automóveis só poderia
acontecer através do exercício de uma pressão sobre as condições favoráveis de seu uso.
Essa pressão deveria constituir-se em um processo gradual, mas constante. Fariam parte
desse processo as táticas que garantissem o espaço a outros usos urbanos necessários e
desejados, e que se rivalizassem com as necessidades viárias dos automóveis. Podem ser
citados como exemplos deste tipo de tática: o alargamento de calçadas para o estreitamento
do leito das ruas, e obviamente para a comodidade da circulação dos pedestres; a
implantação de espaços externos a pontos de grande aglomeração através do avanço parcial
sobre a rua; o fechamento de ruas de parque nos quais o seu uso justificasse tal medida;
entre outros. Outra ação de caráter muito relevante é a melhoria do transporte público
como política fundamental para aumentar a pressão sobre o uso do carro particular.
Estética urbana
Sobre o padrão visual urbano, Jane Jacobs parte de um mal estar pessoal, materializado na
sua convicção de que a cidade não é uma obra de arte. É possível que tal afirmação
constitua-se como uma reação ao movimento City beautiful, o qual, junto à Cidade-jardim
de Howard e à Ville radieuse de Le Corbusier, se equiparava como um alvo de críticas da
autora, ainda que em menor grau. Esse pensamento, contudo, não discrimina a arte como
uma expressão da vida humana, muito menos sua importância na organização das cidades;
porém, ela entende que arte e vida, ainda que estejam entrelaçadas, não são a mesma coisa.
A arte tem formas próprias de ordem: os artistas optam pelos materiais e organizam obras
que estão sob seu controle. Haveria, então, uma simplificação em relacionar a cidade como
uma obra de arte. Nessa confusão entre arte e vida não se produziria vida nem arte. O
As origens de tal erro repousariam na herança da utopia urbanística do século XIX, que por
sua vez impregnou e gerou a Cidade-Jardim e a Ville Radieuse, cujo propósito seria a criação
de um ambiente simples, harmônico, padronizado, controlado e constituído de arte
consensual. É preciso negar essa concepção, assumindo a cidade como um sistema
complexo de ordem funcional. Não existe um elemento-chave para isso, mas sim uma
diversidade de elementos; ou melhor, a própria mistura seria o elemento fundamental e de
ordem. Nesse sentido, Jacobs sugere medidas que permitam às pessoas construir suas
próprias ordens e sentidos, a partir do que elas vêem. Uma primeira orientação a esse
respeito confere um destaque às ruas, como principal peça da paisagem urbana. Boa parte
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das ruas, não todas, necessitaria de recortes visuais que pudessem romper a perspectiva
monótona e ressaltar a intensidade de seu uso. Isso poderia ser realizado, como exemplo,
mediante a abertura de ruas ou a introdução de praças em quadras longas. Outra sugestão
seria a de constituir pontos de referência locais. Além de serem um elemento orientador,
esses marcos promoveriam a diversidade urbana mas também sinalizariam visualmente a
importância de determinadas áreas funcionais, como o fazem alguns edifícios particulares,
bibliotecas públicas, igrejas e equipamentos urbanos.
Projetos de revitalização
Neste item Jacobs refere-se à separação desse tipo de intervenção do tecido urbano como
um dos maiores inconvenientes dessas iniciativas. Ao invés de estarem integrados ao lugar
em que são implantados, eles acabam por enfraquecer a vitalidade de seu entorno, como
pode ser visto nos casos dos conjuntos habitacionais de baixa renda, os centros culturais e
os centros administrativos. Os conjuntos habitacionais deveriam ser recuperados da mesma
maneira que os cortiços, tornando-os seguros e viáveis, de modo que seus moradores ali
permanecessem por livre escolha. Poderiam ser aplicadas as propostas já apresentadas
anteriormente, como: a abertura de novas ruas interligando esses conjuntos ao seu entorno;
a introdução de usos combinados de modo a combater a monotonia, o perigo e a falta de
comodidade; e o estímulo à moradia de renda garantida. Já no caso dos centros culturais e
dos centros administrativos, a tentativa de reintegração à estrutura urbana não poderia ser
totalmente aplicável. Considerando o desbalanceamento que existe entre concentração de
pessoas e outros horários do dia, o melhor seria optar pelo desmembramento gradual
desses conjuntos, transferindo-os para outros locais da cidade de modo a sustentar a
diversidade urbana.
Considerações finais
Certamente, nos dias de hoje, esta forma de compreender a cidade e sua gestão não nos
parecerá inovadora. Entretanto, se levarmos em consideração que, no momento em que o
primeiro livro de Jane Jacobs foi escrito, os projetos de renovação urbana ou de cidades-
jardim eram dominantes nas práticas urbanísticas, poderemos então relativizar essa
conclusão apressada. Provavelmente, nos anos 60, os planejadores urbanos profissionais ou
os teóricos do urbanismo foram tomados de assalto por uma posição oposta às práticas
então vigentes. Poderíamos, inclusive, imaginar o quanto podem ter sido indagadas as
origens e a fundamentação desse pensamento. Buscando uma resposta possível a essa
questão, e já contaminado pelas páginas de Morte e vida nas grandes cidades, só a consigo
conceber como fruto da experiência vivenciada por Jane Jacobs, a qual só foi possível
apreender de modo esparso e incompleto.
A vida na obra
Jane Jacobs nasceu em 1916, na cidade de Scranton, Pensilvânia. Após o high school,
desempenhou a função de jornalista no Scranton Tribune. Da Pensilvânia mudou-se para
Nova Iorque, onde sua vida oscilou entre diferentes tipos de trabalho e entre períodos de
desemprego. Como escritora e depois editora, publicou matérias sobre a metalurgia norte-
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americana, bem como foi jornalista free-lance do The New York Herald Tribune e da Vogue.
Em outro emprego, desta vez governamental, conheceu seu marido, o arquiteto Robert
Jacobs, a quem atribuiu sua cultura urbanística5. Mais tarde, em 1952, foi integrar a equipe
da revista Architectural Fórum, até seu desaparecimento (Pamuk, 2003; Choay, 2002).
Depois de 30 anos em Nova Iorque, foi, em 1968, com a família, para Toronto, temendo que
seus filhos fossem convocados para a guerra do Vietnã, onde se tornou cidadã canadense
em 1974 (Segawa, 2001; Steigerwald, 2001) e escreveu mais cinco livros: Economy of cities,
de 1969; Question of separatism, 1980; Cities and the weatlh of nations, de 1984; Systems of
survival, 1992; e The nature of economies, em 2000 (Steigerwald, 2001).
Em termos acadêmicos e profissionais, Jane Jacobs não possuía formação nem experiência
alguma em planejamento urbano (Steigerwald, 2001). Ayse Pamuk (2003), professor de
planejamento urbano da Universidade da Virgínia, atribui essa curiosidade intelectual sobre
crescimento, estagnação e declínio de cidades e regiões à vivência em cidades tão diferentes
como Scranton, Nova Iorque e Toronto. Porém, não pode ser esquecido, de forma alguma, o
seu ativismo comunitário contra os projetos de renovação urbana, no início da década de 60,
em Greenwich Village (Nova Iorque), onde morava. Mais tarde, esteve envolvida em
movimentos contra a construção de vias expressas em Manhattan (1968) e em Toronto
(1969), sendo presa por três vezes nas manifestações promovidas. Uma atividade mais
recente foi o seu envolvimento em prol da separação de Toronto.
Outros diálogos
Para Françoise Choay (2002), Jane Jacobs seria uma representante do que ela chamou de
uma crítica de segundo grau ao urbanismo (ou seja, uma crítica das realizações inspiradas
por uma crítica inicial), que ganha força após a II Guerra Mundial. Em busca de um
dos construtores, tem um caráter empírico e produz uma variedade de novos ângulos sobre
Peter Hall (2002) atribui a produção de Morte e vida de grandes cidades como resultado da
experiência, ou melhor do sucesso na batalha travada por Jane Jacobs contra Robert Moses,
um executivo profi
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[...] Acima de tudo, agradeço a meu marido, Robert H. Jacobs, Jr. já não sei dizer quais idéias no livro são
.
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David Harvey (1998), em seu livro Condição pós-moderna, ao tratar da retórica coletiva dos
movimentos sociais e dos movimentos contraculturais e antimodernistas dos anos 60,
considera Morte e vida de grandes cidades
ocurado definir toda uma
Como contraponto, algumas dificuldades podem ser apontadas neste trabalho de Jacobs.
equivalênci
Nesse sentido, para Berman (1986), o livro de Jane Jacobs expressaria com perfeição o
ou seja, uma reconquista da rua em contraposição à
hegemonia das vias expressas. Além disso, mesmo não tendo usado expressões tidas como
anos 706:
Portanto, ela alimentou não só uma renovação do feminismo, mas, igualmente, uma
consciência masculina cada vez mais generalizada de que, sim, as mulheres tinham algo a
nos dizer sobre a cidade e a vida que compartilhávamos e de que tínhamos empobrecido as
nossas próprias vidas, bem como as delas, ao não lhes dar ouvidos até então (Idem, p. 306).
Em outra direção, temas como a família, a rua, o bairro e a identidade local, idealizados por
Jane Jacobs, foram deturpados e/ou vulgarizados, servindo tanto à plataforma radical-
moralista da Nova Direita (Berman, 1986) como à Nova Esquerda. Outra associação feita é a
referência à autora como uma das fundadoras ou inspiradoras do New urbanism (Segawa,
6
Segundo Berman (1986, p. 305), desde Jane Addams (1860-1935), Jane Jacobs seria a primeira mulher com uma
visão plenamente articulada sobre a cidade. Maiores informações sobre Jane Addams, confira Hall (2002).
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novos enfoques sobre a cidade. E se, atualmente, acreditamos que somente perspectivas
multidisciplinares e inovadoras, com participação social, podem dar conta de nossos
problemas urbanos contemporâneos, certamente a obra de Jane Jacobs contribuiu muito
para isso.
Referências
ARANTES, Otília. Urbanismo em fim de linha. São Paulo: EDUSP, 1998.
BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. Tradução por
Carlos Felipe Moisés e Ana Maria L. Ioriatti. São Paulo: Companhia das Letras, 1986.
CHOAY, Françoise. O urbanismo: utopias e realidades uma antologia. 5. ed. Trad. Dafne
Nascimento Rodrigues. São Paulo: Editora Perspectiva, 2002.
FERNANDES, Ana. Consenso sobre a cidade? In: ESTEVES JÚNIOR, Milton e URIARTE, Urpi Montoya
(org.). Panoramas urbanos: reflexões sobre a cidade. Salvador: EDUFBA, 2003. 238 p. p. 71-81.
HALL, Peter. Cidades do amanhã: uma história intelectual do planejamento e do projeto urbanos do
século XX. 1. ed. amp. Trad. por Pérola de Carvalho. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2002.
HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. 7. ed.
Trad. Adail Sobral e Maria Stela Gonçalves. São Paulo: Edições Loyola, 1998.
JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. Trad. Carlos Rosa. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
LARA, Fernando. Admirável urbanismo novo. Vitruvius Portal de Arquitetura, fev. 2001
(Arquitextos 001). Disponível em
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/01.009/923. Acesso em: 1 ago. 2016.
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Acesso em: 1 ago. 2016.
PAMUK, Ayse. Notes on Jane Jacobs's contributions. Disponível em:
http://www.people.virginia.edu/~plan303/pamuk.html. Acesso em: 04 nov. 2003.
PARK, Robert Ezra. A cidade: sugestões para a investigação do comportamento humano no meio
urbano. In: VELHO, O. G. (org.). O fenômeno urbano. Rio de Janeiro: Zahar, 1976. p. 26-67.
7
Para uma análise crítica do new urbanism, vide Lara (2001) e Fernandes (2003).
8
Como já demonstrou Arantes (1998), a cultura urbana dos anos 60, enquanto ideário de resistência e rebeldia,
foi apropriada e desvirtuada segundo interesses hegemônicos, dando origem à alienação estetizante da
contemporaneidade.
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SEGAWA, Hugo. Vida e morte de um grande livro. Vitruvius Portal de Arquitetura, dez. 2001
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http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/01.001/3259. Acesso em: 1 ago.
2016.
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