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Políticas Públicas & Cidades, vol. 4 (2), dezembro 2016.

ISSN: 2359-1552

Artigo
“UM GRITO NA RUA”: Jane Jacobs e a vida das grandes
cidades1

Fernando Augusto Souza Pinho


Programa de Pós-Graduação em Urbanismo (PÓS-URB), Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCC),
Campinas, SP – Brasil.
E-mail: fernandopinhossa@yahoo.com.br

PINHO, F. A. S. “Um grito Resumo


na rua”: Jane Jacobs e a O livro seminal de Jane Jacobs, Death and life of great american
vida das grandes cidades. cities (1961), passados 55 anos desde sua publicação, continua a
Revista Políticas Públicas despertar atenção e questionamentos. Buscando manter a
& Cidades, v.4, n.1, p.92 – expressão do manifesto, que me parece ser uma das virtudes do
106, ago./dez. 2016. livro, este artigo tem como objetivos apresentar as linhas gerais de
https://doi.org/10.23900/2 Morte e vida de grandes cidades, em especial a sua ideia de cidade
359-1552.2016v4n2p102
e de vida urbana, destacar a importância da observação do
cotidiano e da experiência pessoal (e por isso, política) de Jane
Jacobs para as proposições feitas e, ainda, apresentar algumas
formas de recepção e críticas sobre seu livro e sobre uma nova
concepção de planejamento urbano.

Palavras-chave: Jane Jacobs. Vida Urbana. Planejamento Urbano.

1
Dois esclarecimentos iniciais são necessários: o primeiro diz respeito à ousadia em tomar de empréstimo parte
de um dos subtítulos do estimulante livro de Marshall Berman (1986),
ns de seus contemporâneos, que [...] criaram uma
ord
este artigo, privilegiando a vitalidade das grandes cidades, como bem
desejava Jacobs.

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Introdução
Apesar de sua importância, o primeiro livro de Jane Jacobs, intitulado Death and life of
great american cities, de 1961, foi tardiamente editado no Brasil, embora não tenha perdido
sua força. Quase 40 anos depois de sua publicação, foi traduzido como Morte e vida de
grandes cidades (2000), omitindo, assim como em outras edições, a especificidade na
análise do caso norte-americano.

contra os princípios e os objetivos que moldaram o planejamento urbano e a reurbanização


Assim, a autora buscou, a partir de suas observações do cotidiano
urbano, apresentar alternativas ao urbanismo moderno ortodoxo, ou ao que ela chamou de
piência dos teóricos do urbanismo é então questionada
pela escrita sobre o funcionamento das cidades, sobre como elas são e não como elas
deveriam ser.

O livro foi estruturado em 4 partes. Na 1ª parte, intitulada


é abordado o comportamento dos habitantes na cidade, numa perspectiva multiescalar, que
vai desde o uso das calçadas e parques até o bairro como um lugar de identidade. Na 2ª

diversidade de usos como um fator de sustentação da vitalidade urbana, tanto em termos


econômicos quanto sociais. A 3ª parte trata das forças que podem atuar na decadência ou na
recuperação de áreas degradadas da cidade e a última parte apresenta táticas para
revitalizar as cidades.

Neste artigo, procuro apresentar e analisar esta obra de Jane Jacobs, porém não seguirei
rigidamente a estruturação feita pela autora. Procurando evitar um formato mais linear e
tendo o objetivo de experimentar um diálogo mais fluido com as ideias ali presentes,
agrupei alguns capítulos em temas ou até mesmo inverti sua ordem. De início, busco captar
a noção de cidade impressa nas entrelinhas do livro, para em seguida destacar o que seria o
seu ponto central. Feita uma síntese de Morte e vida de grandes cidades, por fim, tecerei
relações entre a vida e a obra de Jane Jacobs, a partir de sua experiência pessoal e do diálogo
com outros autores. Deste modo, acredito que a força do manifesto de Jane Jacobs tenha
sido mantida, mesmo com os eventuais rearranjos aqui empreendidos.

A Cidade para Jane Jacobs


O conceito de cidade parece estar mais expresso no último capítulo de seu livro2. Ao
contrário de um conceito sobre a cidade, preocupava a autora a identificação das formas em
que a vida urbana acontece.

Recorrerei a uma analogia feita por Jacobs entre a história do pensamento científico e a
história do planejamento urbano. Tal comparação foi feita a partir de um ensaio sobre

2
Tal inversão é interessante na medida em que reforça o descompromisso da autora com o rigor e formalismo
teórico-acadêmicos e, por outro lado, o seu compromisso com o raciocínio pela indução.

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ciência e complexidade, publicado na edição de 1958 do relatório anual da Fundação


Rockefeller Center, de autoria do Dr. W. Weaver, que estabeleceu três etapas de
desenvolvimento na história do pensamento científico: a 1ª etapa era representada pela
capacidade de lidar com problemas de simplicidade elementar, como a análise de
problemas de duas variáveis, característicos das ciências físicas nos séculos XVII ao XIX; a
2ª etapa, cujo método foi criado pelas ciências físicas a partir de 1900, caracterizava-se pela
capacidade de lidar com problemas de complexidade desorganizada, com inúmeras
variáveis, cuja atuação individual era desconhecida, mas que o seu conjunto tinha
propriedades médias ordenadas e analisáveis; e na 3ª etapa, que foi propiciada pelo avanço
das ciências biológicas, já havia a capacidade de lidar com problemas de complexidade
organizada, onde muito mais importante que o número de variáveis era o fato de que elas
eram inter-relacionadas. A partir desta abstração, Jane Jacobs considera as cidades como
um problema de complexidade organizada, onde as variáveis são diversas, mas não são
desordenadas e sim inter-
enfoque, portanto, altera a forma como são percebidos e, principalmente, como são
propostas soluções para seus problemas.

Então, o pensamento moderno sobre as cidades não teria acompanhado a evolução do


pensamento moderno científico. O planejamento urbano estaria estagnado no modelo de
pensamento oriundo das ciências físicas, com base em problemas de simplicidade
elementar e/ou de complexidade desorganizada. Tal estágio seria explicado pela influência
desta corrente na gênese do urbanismo, mas acima de tudo repousaria em um completo
descaso ou desprezo pelas cidades:

A teoria do planejamento da Cidade-Jardim teve origem no final do século


XIX, e Ebenezer Howard abordou o problema do planejamento de cidades
como um cientista de ciências físicas analisando um problema simples de
duas variáveis. As duas variáveis principais na concepção de planejamento
da Cidade-Jardim eram a quantidade de moradias (ou população) e o
número de empregos. Elas foram consideradas como estando inter-
relacionadas de maneira direta e simples, na forma de sistemas
relativamente fechados. Por sua vez, as moradias tinham suas variáveis, a
elas relacionadas da mesma maneira direta, simples e interdependente:
playgrounds, áreas livres, escolas, centro comunitário, equipamentos e
serviços padronizados. A cidade como um todo era mais uma vez
considerada uma entre duas variáveis numa relação simples e direta entre
cidade e cinturão verde. Como sistema ordenado, praticamente se resumia
a isso (Idem, p. 484).

Mais adiante, por sua vez, Le Corbusier é caracterizado dentro da corrente do pensamento
sobre a cidade como um problema de complexidade desorganizada:

No fim da década de 1920 na Europa e na de 1930 nos Estados Unidos, a


teoria do planejamento urbano começou a assimilar idéias mais novas
sobre a teoria da probabilidade desenvolvida pela ciência física. Os
planejadores passaram a reproduzir e aplicar essas análises exatamente
como se as cidades fossem problemas de complexidade desorganizada,
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compreensíveis simplesmente por meio da análise estatística, previsíveis


por meio da aplicação da probabilidade matemática, controláveis por meio
da conversão em conjuntos de médias.

Essa concepção da cidade como uma coleção de gavetas de arquivo foi,


efetivamente, bem adaptada pela visão da Ville Radieuse de Le Corbusier,
aquela versão mais verticalizada e centralizada da Cidade-Jardim de duas
variáveis. Embora o próprio Le Corbusier só tenha ensaiado uma
aproximação com a análise estatística, seu plano assimilou o
reordenamento estatístico de um sistema de complexidade desorganizada,
solúvel matematicamente; seus arranha-céus num parque eram uma
celebração artística do poder da estatística e do triunfo das médias
matemáticas (Idem, p. 485-486).

É óbvio que Jacobs destaca o fato de que, embora enunciem tipos semelhantes de
problemas, as cidades e as ciências biológicas não possuem os mesmos problemas. A
analogia estabelecida foi apenas um recurso que possibilitou chamar a atenção para a
necessidade de refletir as cidades enquanto organismo repleto de inter-relações intrincadas
e inteligíveis. Ao nível do detalhe, ou analogamente do microscópico, existe uma ordem na
aparente desordem. Para essa compreensão das cidades, três modos de reflexão seriam
importantes: a atenção minuciosa sobre os processos urbanos, relativizando-os, tendo em
vista que os elementos citadinos podem ter efeitos diferentes, segundo as circunstâncias e o
contexto em que existem; a indução como uma forma de raciocínio fundamental, pois
considera o particular como ponto de partida para o geral; e a busca por irregularidades, as
-padrão.

Mais ainda, continua a a


cidade pelos reformadores e planejadores urbanos, ou mesmo o descaso pelo tema,
poderiam também ser relacionados a uma oposição socialmente construída entre natureza,
homem e cidade. Ora, sendo o ser humano uma parte da natureza, as cidades seriam tão
naturais quanto os locais onde os animais vivem. Essa contradição, resultado do que Jacobs
dou por muito tempo a visão da natureza
e do homem natural como benignos, e, ao contrário, as cidades como centros malignos e
inimigos da natureza.

Acima de qualquer coisa, vemos que Jane Jacobs é uma apaixonada pela cidade, ao
contrário da corrente antiurbana norte-americana3. Sua crítica ácida aos problemas
observados não diminui o seu otimismo frente à capacidade humana de superar problemas.
Para ela,

(...) as cidades, criadas e usadas pelas criaturas que amam as cidades, são
menosprezadas por essas mentes tacanhas por não terem a imagem amena

3
Segundo Françoise Choay (2002), o antiurbanismo norte-americano foi inspirado pela época heroica dos
pioneiros e sua relação com a imagem de uma natureza virgem. Os pensadores antiurbanos mantêm um

urbanismo americano do século XX.

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das cidades suburbanizadas. Outros aspectos da natureza são também


menosprezados porque não têm a imagem amena da natureza
suburbanizada. O sentimentalismo para com a natureza desnatura tudo
aquilo que toca.

As grandes cidades e as zonas rurais podem conviver muito bem. As cidades


grandes precisam de zonas rurais próximas. E a zona rural do ponto de
vista do homem precisa das grandes cidades, com todas suas variadas
oportunidades e sua produtividade, de modo que os seres humanos possam
ter condições de prezar o restante do mundo natural em vez de amaldiçoá-
lo.

O ser humano é, em si, difícil, e, portanto, todos os tipos de coletividades


(exceto as cidades imaginárias) têm problemas. As grandes cidades têm
dificuldades em abundância, porque têm pessoas em abundância. Mas as
cidades cheias de vida não são impotentes para combater mesmos os
problemas mais difíceis. Não são vítimas passivas de uma sucessão de
circunstâncias, assim como não são a contrapartida maléfica da natureza.

As cidades vivas têm uma estupenda capacidade natural de compreender,


comunicar, planejar e inventar o que for necessário para enfrentar as
dificuldades (Idem, p. 498).

Observando a vida nas grandes cidades


Mas, diante desse manifesto pró-urbano, o que daria a uma grande cidade o status de uma
omente o cotidiano desses lugares vivos é que poderia dar
respostas a essa questão, pois a vida da cidade seria representada pela vitalidade das
relações das pessoas com o lugar em que residem.

Ruas e calçadas
As ruas e as calçadas seriam elementos fundamentais para a dinâmica das cidades, pois
seriam uma espécie de termômetro urbano: se parecerem monótonas, a cidade parecerá
monótona; se parecerem interessantes, a cidade parecerá interessante. Se as ruas e calçadas
não estiverem livres da violência e do medo, relativamente, a cidade ou partes dela serão
perigosas. É nesse espaço público, no termo mais amplo, que se desenvolve parcela
significativa dos embates sociais urbanos, seja no âmbito da dominação, da resistência ou
da negoc
são protagonistas ativos do drama urbano da civilização versus

Considerando a generalização da violência e da insegurança como um problema


característico das grandes cidades, a segurança urbana é uma primeira questão abordada. E,
ainda, entendendo a importância de ruas e calçadas na dinâmica da cidade, nada mais
sensato do que procurar entender como a segurança urbana se relacionaria com esses
elementos.
especificamente a paz nas ruas e calçadas, não seria apenas um mero resultado da presença
da polícia. Ainda que fosse necessária a vigilância policial, a segurança nas ruas e calçadas

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intricada, quase inconsciente, de controles e padrões de comportamento espontâneos


ugar, a
segurança urbana não se resolve por meio da descentralização ou da dispersão das pessoas.
Se isso fosse a solução correta, não haveria insegurança em zonas de baixa densidade
populacional.

Na verdade, o que tornaria uma rua segura seria a movimentação que nela ocorre ao longo
de todo o dia. Mas, então, o que explicaria as diferenças entre uma rua movimentada e
interessante, onde circulam os moradores locais, mas também estranhos, e entre uma rua
deserta, evitada por muitas pessoas e por isso lugar propício para a violência? Para Jacobs,
três características principais constituiriam uma rua segura:

estariam para ela voltados; uma nítida separação entre o espaço público e o espaço privado,
de modo que fique claro qual a área em que deve haver vigilância e em qual se deva ter
privacidade; e uma circulação ininterrupta de usuários nas calçadas, de modo que seja
induzida uma variedade de observadores desse movimento, potencializando assim o
número de olhos atentos ao espaço público.

Parques
Os parques, como as ruas e calçadas, são relevantes para a vida nas grandes cidades.
Entretanto, para Jacobs, sua implantação vinha sendo feita de forma acrítica, como se um
maior número de áreas livres proporcionasse, em contrapartida, um melhor projeto
urbano. Portanto, antes de qualquer coisa, o que deveria ser feito era se perguntar para
quem e para quê essas áreas servem.

Jane Jacobs entendia que os parques, à parte da fantasia de que seriam os pulmões da
cidade, é que são influenciados diretamente pela comunidade onde estão instalados, e não
são os parques que transformam o seu entorno ou mesmo que promovam um sentimento de
vizinhança. Um parque vazio, sem uso, não é mais do que um elemento decorativo em um
bairro. É necessário, portanto, compreendê-lo como parte integrante da complexidade da
vida no bairro, como um lugar, entre outros, que promove circulação e sociabilidade. Desta
forma, um parque bem-sucedido, que propicia uma vinculação apaixonada das pessoas do
bairro, deveria incluir quatro elementos em sua concepção. O primeiro deles é a sua
complexidade que se refere à potencialidade de que o parque gere múltiplos motivos para
que as pessoas o freqüente. Deve ser, então, um espaço estimulante para usos e estados de
espírito diversificados, o que pode ser atingido por meio de diferenças sutis, como
mudanças de nível no piso, perspectivas variadas ou agrupamentos de árvores. O segundo
elemento-chave é a sua centralidade, que confere ao parque um reconhecimento de que ele
é um lugar central ou de destaque no bairro. A insolação ou a possibilidade de ser iluminada
pelo sol seria o terceiro elemento importante. E, por fim, a delimitação espacial seria a
última característica de um parque bem-sucedido, tendo em vista que os prédios existentes
ao seu redor, por exemplo, poderiam contribuir para que ele fosse efetivamente um
destaque no cenário urbano.

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Os bairros e sua autogestão


Essa valorização das ruas, das calçadas e dos parques como elementos de sociabilidade nas

(como Jacobs se refere), que culminou na privatização e na despersonalização dos


lugares, bem como consolidou a idéia de isolamento na multidão enquanto característicos
das grandes cidades.

Ruas, calçadas e parques são partes integrantes de um bairro, o qual por sua vez insere-se
no grande tecido urbano que é a cidade. A vida na grande cidade se realiza então ao nível
micro, na instância mais próxima aos cidadãos que é o bairro. E se a vitalidade dos bairros, e
de suas ruas e calçadas, reside principalmente (mas não somente) no pertencimento, no
sentimento de comunidade, nada mais natural do que seus moradores tivessem interesse
pela condução coletiva desse lugar. Entretanto, a autogestão do bairro não implica
reconhecê-lo como uma unidade auto-suficiente e voltada para si mesma, ao contrário de
bairro como uma ilha, com
zonas e usos estanques.

O bairro, como se pode depreender, adquire na obra de Jane Jacobs uma importância
fundamental, embora alguns urbanistas proclamassem que esse conceito não tinha mais
sentido na vida das metrópoles. A negação do bairro, enquanto vínculo emocional e local,
era aparentemente fundamentada na intensa mobilidade urbana, na ruptura com um dito

vantagens das cidades. Recorro às palavras de Jacobs em resposta a essas críticas:

Sejam os bairros o que forem e seja qual for sua funcionalidade, ou a


funcionalidade que sejam levados a adquirir, suas qualidades não podem
conflitar com a mobilidade e a fluidez de uso urbano consolidadas, sem
enfraquecer economicamente a cidade de que fazem parte. A falta de
autonomia tanto econômica quanto social nos bairros é natural e necessária
a eles, simplesmente porque eles são integrantes das cidades (...)

Apesar da extroversão inerente aos bairros, isso não quer dizer


obrigatoriamente que os moradores consigam viver bem sem eles como
num passe de mágica. Até mesmo o mais citadino dos cidadãos se importa
com o ambiente da rua e do distrito em que mora, seja quais forem suas
opções fora deles; e os moradores comuns das cidades dependem bastante
de seu bairro na vida cotidiana que levam (Idem, p. 128).

Em síntese, o que Jane Jacobs prega é a necessidade de que nasça e se consolide uma
responsabilidade pública por parte dos moradores da cidade, materializada na autogestão
de ruas, calçadas, parques, enfim do bairro. Para tal, é necessário reconhecer a importância
que deveriam ter as experiências dessas pessoas nas decisões tomadas nos altos escalões do
governo, ou então que estas pessoas mobilizadas constituam uma pressão eficiente na
condução dos rumos a serem tomados.

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Como vimos, o grau de vitalidade de uma grande cidade está estreitamente relacionado ao
grau de diversidade presente em cada lugar específico. Nesse sentido, quatro seriam as
condições indispensáveis para gerar esta diversidade: a necessidade de existirem usos
combinados, de modo a gerar uma freqüência significativa de pessoas em circulação ao
longo do dia inteiro, amenizando assim o desequilíbrio de horários e a ociosidade de
espaços; a necessidade de quadras curtas, com o objetivo de que o fluxo de pessoas se cruze
e se entrelace, ao invés de ficar concentrado em um pequeno número de ruas; a
necessidade de haver uma combinação de edifícios com idades e estados de conservação
variados, com objetivo de com isso propiciar neles o estabelecimento de usos diversificados;
e a necessidade de uma alta concentração de pessoas no distrito, incluindo aí aquelas cujo
propósito é manter-se morando lá.

Alternativas para promoção da vitalidade urbana


Tomando como referência tais condições para que as cidades sejam lugares cheios de vida,
Jacobs propõe táticas diferentes das que então vinham sendo realizadas. Serão destacadas
aqui as propostas relativas à questão habitacional, ao trânsito, à estética urbana e aos
projetos de revitalização4 - temas já reconhecidos como pertencentes à competência do
planejamento urbano, porém com práticas deslocadas do que deveria ser seu objetivo final,
e por isso questionadas pela autora. Como afirmou em seu livro, muitas de suas propostas
não são originais, mas sim uma sistematização de outras ideias.

Habitação
Para a questão habitacional, como parte integrante da estratégia para promoção da
diversidade urbana, Jacobs propõe a subvenção de moradias através do que ela denomina

à construção, pela iniciativa privada, de edifícios (de tipos e modalidades diferentes, e não
conjuntos habitacionais) em bairros onde seja necessária a substituição de prédios
degradados ou o aumento da oferta de moradias. Aos construtores seriam dados dois tipos
de garantia pelo poder público. A primeira seria a obtenção do financiamento necessário
para a construção do edifício. A segunda garantia dada para os construtores, ou para os
proprietários que comprassem os prédios posteriormente, refere-se ao aluguel de unidades
habitacionais de modo que fosse mantida sua sustentação econômica. Pela garantia de
financiamento da construção ou da renda do aluguel dos apartamentos ocupados, o poder
público faria duas exigências. A primeira seria a definição do bairro ou lugares específicos
dentro dele para a construção do prédio. A segunda exigência estabelecia que, na maioria
dos casos, os candidatos a inquilinos seriam de uma determinada área, cuja seleção seria
feita pelo proprietário do imóvel. A partir desta seleção, o poder público verificaria a renda
dos inquilinos e cobriria a diferença daqueles que não pudessem arcar com o valor total do

4
Na última parte de seu livro, além das citadas recomendações para a habitação, trânsito, estética urbana e
projetos de revitalização, Jane Jacobs apresenta alternativas para a gestão e o planejamento da cidade, as quais
foram excluídas desta seção tendo em vista que elas são mencionadas em outras partes deste artigo.

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aluguel. Conforme a renda familiar fosse aumentando, o subsídio diminuiria e o percentual


do aluguel aumentaria. No momento em que a família pudesse pagar o valor do seu aluguel,
o poder público deixaria de interferir nessa relação inquilino-proprietário.

Os benefícios de tal medida induziriam a estabilidade e a diversidade da população,


dependendo da especificidade de cada problema e lugar. Como resultados imagináveis
poderiam ser citados: o estímulo a novas construções em localidades menos atrativas e, em
conseqüência, à permanência de pessoas que já moram ali; a manutenção, na vizinhança,
de pessoas cuja moradia precisasse ser demolida em função da degradação do prédio, da
necessidade de um novo uso naquele espaço ou mesmo para a redução gradativa de altas
densidades habitacionais; as habitações contribuiriam, de forma complementar, para a
combinação de usos necessária para a diversidade urbana; a possibilidade de
preenchimento de vazios decorrentes da abertura de novas ruas em quadras muito longas; e
a possibilidade de promover a diversidade de tipos e idades dos prédios de uma
determinada área.

Trânsito
As altas taxas de congestionamento de veículos são um problema das grandes cidades, cuja
solução passava pela necessária construção de mais vias e, naturalmente, de toda uma
estrutura que desse suporte eficiente ao uso do carro particular. Jacobs sintetiza
precisamente as conseqüências dessa situação para a cidade:

As artérias viárias, junto com estacionamentos, postos de gasolina e drive-


ins, são instrumentos de destruição urbana poderosos e persistentes. Para
lhes dar lugar, ruas são destruídas e transformadas em espaços imprecisos,
sem sentido e vazios para qualquer pessoa a pé. Os centros urbanos e outros
bairros que são maravilhas de complexidade compacta e sólido apoio
mútuo acabam displicentemente desentranhados. Os pontos de referência
são aniquilados ou tão deslocados de seu contexto na vida urbana que se
tornam trivialidades irrelevantes. A feição urbana é desfigurada a ponto de
todos os lugares se parecerem com qualquer outro, resultando em Lugar
Algum (Idem, p. 377).

Porém, para a autora, não são os automóveis em si que destroem as cidades; ao contrário, os
automóveis e as cidades deveriam ser encarados como aliados potenciais. O que deveria
realmente importar para os planejadores urbanos, no final das contas, é como responder à
questão sobre como prover um uso do solo complexo e concentrado sem destruir o
transporte urbano.

O impasse resultante da oposição automóvel versus pedestre vinha sendo resolvido com a
destinação específica para cada um desses usos, cuja efetividade só seria atingida se
houvesse uma relevante queda no número de veículos nas cidades e um aumento na
utilização do transporte público, o que não estava ocorrendo. Além disso, a separação dos
pedestres não garantiria o espaço para a crescente circulação de automóveis. Na prática,
observava-se o sacrifício constante e progressivo das necessidades dos pedestres em função
do predomínio, além do tolerável, dos carros particulares, e também a menor oferta do
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transporte público. Para Jane Jacobs, a solução deveria contemplar as necessidades dos
pedestres e a forçosa redução do número de automóveis nas ruas, fazendo com os veículos
restantes trabalhassem com maior eficiência. Nas cidades norte-americanas, essa redução
já vinha acontecendo, porém de forma acidental e não reconhecida e nem praticada como
uma política pública urbana. O decréscimo da circulação de automóveis só poderia
acontecer através do exercício de uma pressão sobre as condições favoráveis de seu uso.
Essa pressão deveria constituir-se em um processo gradual, mas constante. Fariam parte
desse processo as táticas que garantissem o espaço a outros usos urbanos necessários e
desejados, e que se rivalizassem com as necessidades viárias dos automóveis. Podem ser
citados como exemplos deste tipo de tática: o alargamento de calçadas para o estreitamento
do leito das ruas, e obviamente para a comodidade da circulação dos pedestres; a
implantação de espaços externos a pontos de grande aglomeração através do avanço parcial
sobre a rua; o fechamento de ruas de parque nos quais o seu uso justificasse tal medida;
entre outros. Outra ação de caráter muito relevante é a melhoria do transporte público
como política fundamental para aumentar a pressão sobre o uso do carro particular.

Estética urbana
Sobre o padrão visual urbano, Jane Jacobs parte de um mal estar pessoal, materializado na
sua convicção de que a cidade não é uma obra de arte. É possível que tal afirmação
constitua-se como uma reação ao movimento City beautiful, o qual, junto à Cidade-jardim
de Howard e à Ville radieuse de Le Corbusier, se equiparava como um alvo de críticas da
autora, ainda que em menor grau. Esse pensamento, contudo, não discrimina a arte como
uma expressão da vida humana, muito menos sua importância na organização das cidades;
porém, ela entende que arte e vida, ainda que estejam entrelaçadas, não são a mesma coisa.
A arte tem formas próprias de ordem: os artistas optam pelos materiais e organizam obras
que estão sob seu controle. Haveria, então, uma simplificação em relacionar a cidade como
uma obra de arte. Nessa confusão entre arte e vida não se produziria vida nem arte. O

um mau uso da arte:

Encarar a cidade, ou mesmo um bairro, como se fosse um problema


arquitetônico mais amplo, passível de adquirir ordem por meio de sua
transformação numa obra de arte disciplinada, é cometer o erro de tentar
substituir a vida pela arte (Idem, p. 416).

As origens de tal erro repousariam na herança da utopia urbanística do século XIX, que por
sua vez impregnou e gerou a Cidade-Jardim e a Ville Radieuse, cujo propósito seria a criação
de um ambiente simples, harmônico, padronizado, controlado e constituído de arte
consensual. É preciso negar essa concepção, assumindo a cidade como um sistema
complexo de ordem funcional. Não existe um elemento-chave para isso, mas sim uma
diversidade de elementos; ou melhor, a própria mistura seria o elemento fundamental e de
ordem. Nesse sentido, Jacobs sugere medidas que permitam às pessoas construir suas
próprias ordens e sentidos, a partir do que elas vêem. Uma primeira orientação a esse
respeito confere um destaque às ruas, como principal peça da paisagem urbana. Boa parte
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das ruas, não todas, necessitaria de recortes visuais que pudessem romper a perspectiva
monótona e ressaltar a intensidade de seu uso. Isso poderia ser realizado, como exemplo,
mediante a abertura de ruas ou a introdução de praças em quadras longas. Outra sugestão
seria a de constituir pontos de referência locais. Além de serem um elemento orientador,
esses marcos promoveriam a diversidade urbana mas também sinalizariam visualmente a
importância de determinadas áreas funcionais, como o fazem alguns edifícios particulares,
bibliotecas públicas, igrejas e equipamentos urbanos.

Projetos de revitalização
Neste item Jacobs refere-se à separação desse tipo de intervenção do tecido urbano como
um dos maiores inconvenientes dessas iniciativas. Ao invés de estarem integrados ao lugar
em que são implantados, eles acabam por enfraquecer a vitalidade de seu entorno, como
pode ser visto nos casos dos conjuntos habitacionais de baixa renda, os centros culturais e
os centros administrativos. Os conjuntos habitacionais deveriam ser recuperados da mesma
maneira que os cortiços, tornando-os seguros e viáveis, de modo que seus moradores ali
permanecessem por livre escolha. Poderiam ser aplicadas as propostas já apresentadas
anteriormente, como: a abertura de novas ruas interligando esses conjuntos ao seu entorno;
a introdução de usos combinados de modo a combater a monotonia, o perigo e a falta de
comodidade; e o estímulo à moradia de renda garantida. Já no caso dos centros culturais e
dos centros administrativos, a tentativa de reintegração à estrutura urbana não poderia ser
totalmente aplicável. Considerando o desbalanceamento que existe entre concentração de
pessoas e outros horários do dia, o melhor seria optar pelo desmembramento gradual
desses conjuntos, transferindo-os para outros locais da cidade de modo a sustentar a
diversidade urbana.

Considerações finais
Certamente, nos dias de hoje, esta forma de compreender a cidade e sua gestão não nos
parecerá inovadora. Entretanto, se levarmos em consideração que, no momento em que o
primeiro livro de Jane Jacobs foi escrito, os projetos de renovação urbana ou de cidades-
jardim eram dominantes nas práticas urbanísticas, poderemos então relativizar essa
conclusão apressada. Provavelmente, nos anos 60, os planejadores urbanos profissionais ou
os teóricos do urbanismo foram tomados de assalto por uma posição oposta às práticas
então vigentes. Poderíamos, inclusive, imaginar o quanto podem ter sido indagadas as
origens e a fundamentação desse pensamento. Buscando uma resposta possível a essa
questão, e já contaminado pelas páginas de Morte e vida nas grandes cidades, só a consigo
conceber como fruto da experiência vivenciada por Jane Jacobs, a qual só foi possível
apreender de modo esparso e incompleto.

A vida na obra

Jane Jacobs nasceu em 1916, na cidade de Scranton, Pensilvânia. Após o high school,
desempenhou a função de jornalista no Scranton Tribune. Da Pensilvânia mudou-se para
Nova Iorque, onde sua vida oscilou entre diferentes tipos de trabalho e entre períodos de
desemprego. Como escritora e depois editora, publicou matérias sobre a metalurgia norte-
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americana, bem como foi jornalista free-lance do The New York Herald Tribune e da Vogue.
Em outro emprego, desta vez governamental, conheceu seu marido, o arquiteto Robert
Jacobs, a quem atribuiu sua cultura urbanística5. Mais tarde, em 1952, foi integrar a equipe
da revista Architectural Fórum, até seu desaparecimento (Pamuk, 2003; Choay, 2002).
Depois de 30 anos em Nova Iorque, foi, em 1968, com a família, para Toronto, temendo que
seus filhos fossem convocados para a guerra do Vietnã, onde se tornou cidadã canadense
em 1974 (Segawa, 2001; Steigerwald, 2001) e escreveu mais cinco livros: Economy of cities,
de 1969; Question of separatism, 1980; Cities and the weatlh of nations, de 1984; Systems of
survival, 1992; e The nature of economies, em 2000 (Steigerwald, 2001).

Em termos acadêmicos e profissionais, Jane Jacobs não possuía formação nem experiência
alguma em planejamento urbano (Steigerwald, 2001). Ayse Pamuk (2003), professor de
planejamento urbano da Universidade da Virgínia, atribui essa curiosidade intelectual sobre
crescimento, estagnação e declínio de cidades e regiões à vivência em cidades tão diferentes
como Scranton, Nova Iorque e Toronto. Porém, não pode ser esquecido, de forma alguma, o
seu ativismo comunitário contra os projetos de renovação urbana, no início da década de 60,
em Greenwich Village (Nova Iorque), onde morava. Mais tarde, esteve envolvida em
movimentos contra a construção de vias expressas em Manhattan (1968) e em Toronto
(1969), sendo presa por três vezes nas manifestações promovidas. Uma atividade mais
recente foi o seu envolvimento em prol da separação de Toronto.

Outros diálogos
Para Françoise Choay (2002), Jane Jacobs seria uma representante do que ela chamou de
uma crítica de segundo grau ao urbanismo (ou seja, uma crítica das realizações inspiradas
por uma crítica inicial), que ganha força após a II Guerra Mundial. Em busca de um

dos construtores, tem um caráter empírico e produz uma variedade de novos ângulos sobre

afetivo nas cidades e a necessidade de maior associação da população nos processos de


planejamento surgem como importantes contribuições desta corrente; por outro lado, a
apologia incondicional do asfalto e da grande cidade metropolitana seriam seus principais
utenticamente
urbano, uma apologista das megalópoles, em detrimento dos subúrbios e das cidadezinhas

Peter Hall (2002) atribui a produção de Morte e vida de grandes cidades como resultado da
experiência, ou melhor do sucesso na batalha travada por Jane Jacobs contra Robert Moses,
um executivo profi

suas vizinhanças, pequenos estabelecimentos comerciais ameaçados pela operação terra-

5
[...] Acima de tudo, agradeço a meu marido, Robert H. Jacobs, Jr. já não sei dizer quais idéias no livro são
.

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limpa, que souberam formar coalizões anti-


depois por várias cidades norte-americanas.

David Harvey (1998), em seu livro Condição pós-moderna, ao tratar da retórica coletiva dos
movimentos sociais e dos movimentos contraculturais e antimodernistas dos anos 60,
considera Morte e vida de grandes cidades
ocurado definir toda uma

libelos contra as palavras-de- ue foi permitido graças ao


seu distanciamento do cotidiano dos urbanistas.

Como contraponto, algumas dificuldades podem ser apontadas neste trabalho de Jacobs.

equivalênci

simplificação poderia ser entendida como um recurso no âmbito da ofensiva jacobsiana às


intervenções urbanísticas, responsabilizando o urbanismo e o planejamento pela falta de
vitalidade das cidades norte-americanas. Outro problema encontrado refere-se à
repercussão e difusão das idéias de Jacobs nos anos 70 e 80, o que acabou por alimentar
tendências antagônicas, tais como o Feminismo, o ativismo comunitário, a Nova Esquerda,
a Nova Direita e o Neo-urbanismo (Berman, 1986; Segawa, 2001).

Nesse sentido, para Berman (1986), o livro de Jane Jacobs expressaria com perfeição o
ou seja, uma reconquista da rua em contraposição à
hegemonia das vias expressas. Além disso, mesmo não tendo usado expressões tidas como

anos 706:

Portanto, ela alimentou não só uma renovação do feminismo, mas, igualmente, uma
consciência masculina cada vez mais generalizada de que, sim, as mulheres tinham algo a
nos dizer sobre a cidade e a vida que compartilhávamos e de que tínhamos empobrecido as
nossas próprias vidas, bem como as delas, ao não lhes dar ouvidos até então (Idem, p. 306).

Em outra direção, temas como a família, a rua, o bairro e a identidade local, idealizados por
Jane Jacobs, foram deturpados e/ou vulgarizados, servindo tanto à plataforma radical-
moralista da Nova Direita (Berman, 1986) como à Nova Esquerda. Outra associação feita é a
referência à autora como uma das fundadoras ou inspiradoras do New urbanism (Segawa,

6
Segundo Berman (1986, p. 305), desde Jane Addams (1860-1935), Jane Jacobs seria a primeira mulher com uma
visão plenamente articulada sobre a cidade. Maiores informações sobre Jane Addams, confira Hall (2002).

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2001), um movimento de prática conservadora e alvo de críticas vigorosas7, sendo que a


própria Jane Jacobs havia criticado alguns projetos e construções dos neo-urbanistas8.

Por uma nova concepção de planejamento


O vigor do primeiro livro de Jane Jacobs, embora tenha conflitado com visões
tradicionalmente estabelecidas, obteve muito respeito nos meios profissionais e
acadêmicos, sendo considerado como um dos mais influentes na história do planejamento
urbano. A perspectiva adotada e pregada por Jacobs é considerada como um marco
revolucionário, em especial por questionar as práticas vigentes, na primeira metade do

novos enfoques sobre a cidade. E se, atualmente, acreditamos que somente perspectivas
multidisciplinares e inovadoras, com participação social, podem dar conta de nossos
problemas urbanos contemporâneos, certamente a obra de Jane Jacobs contribuiu muito
para isso.

Referências
ARANTES, Otília. Urbanismo em fim de linha. São Paulo: EDUSP, 1998.
BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. Tradução por
Carlos Felipe Moisés e Ana Maria L. Ioriatti. São Paulo: Companhia das Letras, 1986.
CHOAY, Françoise. O urbanismo: utopias e realidades uma antologia. 5. ed. Trad. Dafne
Nascimento Rodrigues. São Paulo: Editora Perspectiva, 2002.
FERNANDES, Ana. Consenso sobre a cidade? In: ESTEVES JÚNIOR, Milton e URIARTE, Urpi Montoya
(org.). Panoramas urbanos: reflexões sobre a cidade. Salvador: EDUFBA, 2003. 238 p. p. 71-81.
HALL, Peter. Cidades do amanhã: uma história intelectual do planejamento e do projeto urbanos do
século XX. 1. ed. amp. Trad. por Pérola de Carvalho. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2002.
HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. 7. ed.
Trad. Adail Sobral e Maria Stela Gonçalves. São Paulo: Edições Loyola, 1998.
JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. Trad. Carlos Rosa. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
LARA, Fernando. Admirável urbanismo novo. Vitruvius Portal de Arquitetura, fev. 2001
(Arquitextos 001). Disponível em
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MEYER, Regina P. Pensando a urbanidade. Vitruvius Portal de Arquitetura, dez. 2001 (Resenhas on-
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Acesso em: 1 ago. 2016.
PAMUK, Ayse. Notes on Jane Jacobs's contributions. Disponível em:
http://www.people.virginia.edu/~plan303/pamuk.html. Acesso em: 04 nov. 2003.
PARK, Robert Ezra. A cidade: sugestões para a investigação do comportamento humano no meio
urbano. In: VELHO, O. G. (org.). O fenômeno urbano. Rio de Janeiro: Zahar, 1976. p. 26-67.

7
Para uma análise crítica do new urbanism, vide Lara (2001) e Fernandes (2003).
8
Como já demonstrou Arantes (1998), a cultura urbana dos anos 60, enquanto ideário de resistência e rebeldia,
foi apropriada e desvirtuada segundo interesses hegemônicos, dando origem à alienação estetizante da
contemporaneidade.

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SEGAWA, Hugo. Vida e morte de um grande livro. Vitruvius Portal de Arquitetura, dez. 2001
(Resenhas on-line). Disponível em:
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/01.001/3259. Acesso em: 1 ago.
2016.

Janeiro: Zahar, 1976. p. 11-25.


STEIGERWALD, Bill. Urban studies legend Jane Jacobs on gentrification, the New Urbanism, and her
legacy. Reason Magazine, jun. 2001. Disponível em:
http://reason.com/archives/2001/06/01/city-views. Acesso em: 1 ago. 2016.
WIRTH, Louis. O urbanismo como modo de vida. In: VELHO, O. G. (org.). O fenômeno urbano. Rio
de Janeiro: Zahar, 1976. p. 90-113.

Submetido: 19 de agosto de 2016.


Aceito: 28 de novembro de 2016

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