1 - Discuta acerca da filosofia do direito em Kant, Hegel e Marx.
A filosofia do direito em Kant nasce no período da filosofia moderna, neste período o direito estava em processo de transformação tanto no conceito quanto das práticas do direito. A liberdade é tema central do pensamento de Kant, para ele as pessoas devem ter o máximo de liberdade, desde que essa não interfira indevidamente na liberdade alheia (todos devem gozar do mesmo sistema de liberdades). Embora Kant faça criticas em seus estudos sobre o racionalismo ele tem uma visão racionalista e universalista sobre o direito. A crítica que Kant faz sobre a razão é a respeito da concepção dogmática racionalista, incluindo os relativistas e céticos. Kant também falará em sua filosofia sobre o imperativo categórico, trata-se de uma orientação para o agir moral racional. Além disso, é um imperativo para o agir.
Hegel representa uma filosofia muito particular, porque trata de um mundo em
mudanças, e só nesse contexto é possível compreender o seu pensamento jurídico. Identificando a razão com a realidade, seu sistema filosófico somente se completa quando a própria realidade for necessariamente o racional. E é no direito e no Estado que Hegel enxergará a racionalidade plenificada, realizada. “O sistema do direito é o império da liberdade realizada”, diz Hegel no § 4 o dos Princípios da filosofia do direito. Se de um lado a filosofia do direito de Hegel é uma recuperação da teoria política clássica, com a introdução do elemento novo da subjetividade desenvolvida vivencialmente pelo cristianismo, juridicamente pelo direito romano e teoricamente pela filosofia moderna, particularmente Kant, por outro lado, essa mesma recuperação é também feita por meio de uma ruptura com essa tradição, pela introdução, no movimento do Espírito objetivo, da nova realidade da vida econômica europeia desenvolvida pelo capitalismo e sua versão política efetivada na Revolução Francesa.
Hegel se afasta do jusnaturalismo e, ao mesmo tempo, rejeita um tratamento do
direito como uma ciência positiva, limitada às normas. É preciso, para Hegel, entender a razão de ser dessa própria ciência positiva do direito no todo social. Por isso, para Hegel não é a ciência do direito, mas sim a filosofia do direito, o momento superior da reflexão sobre o próprio direito, na medida em que o pensamento jusfilosófico analisa o direito pelo todo. A compreensão filosófica do direito no todo social aponta para seus laços com a economia, a política, a moral. A filosofia é uma forma de práxis, e nisso Karl Marx fincou a divisa mais alta dos horizontes do pensamento filosófico. O marxismo é totalmente distinto das demais filosofias estabelecidas, por ser um pensamento orientado ao entendimento crítico da sociedade existente, em busca de sua transformação. Trata-se de um pensamento orientado à ação revolucionária. O marxismo consegue chegar às entranhas da relação do direito com a sociedade, desnudando a sua origem última e o seu imo mais verdadeiro, o capitalismo. O direito, como se dá no mundo contemporâneo, é uma manifestação necessária da própria circulação mercantil capitalista, conforme Marx expõe em O capital e Pachukanis revela no mais alto pensamento jurídico do século XX. Sua lógica e sua justiça terminam por ser a própria lógica e justiça do capital. O marxismo, ao desnudar as entranhas do direito no todo social e histórico, revela sua face e, portanto, possibilita a mais límpida reflexão sobre o injusto do capitalismo e o justo no socialismo. Ao expandir os horizontes da práxis para a revolução, o marxismo aponta um justo que não se pensava até então, e portanto chega ao ápice da totalização possível do presente sobre o justo.
2 – Quais os três caminhos da filosofia do direito contemporâneo?
Três vastas perspectivas podem ser compreendidas na filosofia do direito contemporânea. A primeira delas é um grande campo de legitimação e de aceitação do direito e das instituições políticas e jurídicas, que se poderia chamar de visão estatal, formalista, institucional, liberal ou, em amplo sentido, juspositivista. Nesse grande campo está a maior parte dos teóricos do direito, embora estes variem tanto em suas abordagens que seja possível nesse campo compreender tanto extremados normativistas quanto pensadores ecléticos e mesmo moralistas. É possível, portanto, vislumbrar algumas grandes subcorrentes do pensamento juspositivista: os juspositivismos ecléticos, os juspositivismos estritos e os juspositivismos éticos. O segundo grande campo de perspectiva jusfilosófica reside numa perspectiva não formalista, não liberal, e que se encaminha a uma percepção realista do fenômeno jurídico. Trata-se de um campo não juspositivista, mas sem o entendimento profundo e crítico possibilitado pelo marxismo. Como o marxismo também é não juspositivista, por dupla exclusão é que se há de apontar um caminho ao mesmo tempo não juspositivista e também não marxista. Se se quisesse nomeá-lo por uma alcunha própria, poder-se-ia nomear esse campo de filosofia do direito do poder, ou até mesmo existencialista num sentido lato, e, dentro dele, estão tanto as filosofias do direito propriamente existenciais bem como as perspectivas que desvendam o poder para além das normas jurídicas, como a do decisionismo ou a da microfísica do poder. A terceira grande perspectiva jusfilosófica é a filosofia do direito crítica, que tem no marxismo o seu mais importante e pleno caminho. O marxismo representa a crítica mais profunda e o horizonte mais amplo da transformação social, política e jurídica, porque há de investigar os nexos históricos e estruturais do direito com o todo social, e daí a sua plenitude para a filosofia do direito. Os três caminhos da filosofia do direito contemporânea representam, também, três abordagens quanto à extensão do fenômeno jurídico. Na primeira trilha, juspositivista, há uma tentativa de redução do direito apenas aos limites da sua manifestação e elaboração estatal. O jurídico se confina ao normativo estatal. O juspositivismo é a mais reducionista das visões jusfilosóficas contemporâneas. No segundo campo, não juspositivista, a compreensão do direito dá um salto qualitativo. O direito não é mais tido no mero limite das normas jurídicas estatais. Por detrás das normas jurídicas, há as relações de poder, que são concretas, históricas, sociais, desde as maiores decisões da vontade estatal até a microfísica do poder. As filosofias do direito não juspositivistas buscam, então, escapar do reducionismo formalista. No entanto, somente o marxismo consegue ser a plena compreensão do direito. Isso porque não apenas amplia o espectro de análise do direito do campo da norma jurídica para o do poder, como também se põe a entender os nexos mais profundos das próprias relações de poder. Assim sendo, a totalidade das relações sociais está em análise na filosofia do direito marxista, que se revela, então, o mais vasto e pleno caminho jusfilosófico contemporâneo.
3 – Pesquise o conceito de filosofia do direito juspositivista.
O Juspositivismo é uma corrente de pensamento que surgiu no século XIX como critica ao direito natural, afirmando a existência somente do direito positivado. A filosofia juspositivista possui três grandes correntes de pensamento, juspositivismo eclético, estrito ou pleno e ético, vejamos: Juspositivismo Eclético: surgiu na transição entre o jusnaturalismo e o juspositivismo, e defende a ideia de que o direito positivado está fundamentado na cultura, moral, valores sociais, entre outros, que são valores externos ao ordenamento jurídico. Tal corrente afirma que o direito pode ser explicado enquanto combinação de várias fontes, por exemplo, Miguel Reale, na Teoria Tridimensional do Direito, afirma que o direito deve ser entendido a integração de fato valor e norma. Outro exemplo é a Escola Histórica do Direito, onde Savigny traz o “espirito do povo” (cultura, usos e costumes históricos como fenômeno jurídico). Juspositivismo Estrito ou Pleno: Tal corrente de pensamento se opõe ao Juspositivismo Eclético, seu maior expoente é Hans Kelsen que, no início do século XX traz a Teoria Pura do Direito, onde outras fontes que não sejam a norma jurídica positivada, devem ser excluídas do campo de estudo do direito, sendo o fundamento último do direito uma norma, não um valor. Juspositivismo Ético: Surgiu após a “crise” do juspositivismo estrito, que defendia que o direito não poderia ser definido a partir de ideias como moral, justiça, ética ou democracia, o que fazia com que o direito em Estados totalitários (nazistas e fascistas), fosse reconhecido igualmente como direito e portanto, as práticas nazistas, se positivadas, seriam consideradas “corretas”. A vertente ética do juspositivismo surge na segunda metade do século XX e retoma a reflexão sobre o direito a partir de princípios como eticidade e ideia de consenso social. Ronald Dworkin, John Rawls, Robert Alexy e Jürgen Habermas são os filósofos do direito mais conhecidos dessa nova fase. A teoria da Ação Comunicativa de Habermas é um exemplo desta forma de pensar. O Juspositivismo Ético não defende um direito natural, e também não é igual ao Juspositivismo eclético, embora ambos pensem o direito a partir da eticamente. No Juspositivismo ético, o direito não é somente uma reescrita dos valores da moral, da cultura e da tradição, pelo contrário, é o direito que deve nortear a sociedade dentro de princípios que são a condição para que seja efetiva a opção mais racional para o todo social.
4 – Pesquise o conceito de filosofia do direito não juspositivista.
A Filosofia do Direito Não Juspositivista é a postulação do entendimento do fenômeno jurídico para além do juspositivismo estatal. Essa via não se contenta em compreender um direito normativo estatal somado com alguns dados outros da realidade social. Pelo contrário, há de buscar, diretamente na realidade social, a manifestação do fenômeno jurídico. Em outras palavras, essa corrente filosófica busca compreender o direito por meio da observação direta da realidade social e das manifestações dos fenômenos jurídicos. Os autores desta via filosófica, na qual os expoentes são Martin Heidegger, Carl Schmitt, Michel Foucault, Hans-Georg Gadamer e Karl Marx, não se contentam com a técnica normativa do direito, ao contrário, eles fazem crítica à técnica. O principal caminho nessa perspectiva é a própria filosofia existencial. Enquanto o direito juspositivista pregava a certeza, reduzindo o direto à técnica normativa, aqui no não positivismo analisa-se os fatos por uma espécie de humildade e reverência ao oculto e às profundezas do existencial. Trata-se de uma crítica ampla ao direito e à sociedade. Para os autores desta corrente, o não juspositivismo, o direito não é expressão limitada e automática do comando normativo. Ele manifesta-se socialmente como uma expressão de poder. A visão de que as análises partam da norma jurídica é um mero ato burocrático. Carl Schmitt é o teórico mais importante dessa visão do poder para além do direito. A partir de Martin Heidegger, a consideração do direito não se fará a partir da técnica insípida e neutra, pretensamente universal, mas, sim, por meio da compreensão das concretas situações existenciais. Para Heidegger, a existência, como manifestação social e natural, não se reduz à técnica da norma estatal, nem ao método filosófico analítico, que lhe é a ferramenta teórica mais próxima. Para a visão existencial do direito, ao contrário da analítica normativa, o direito se manifesta e se compreende a partir de uma hermenêutica situacional. Em outra das tantas possíveis vertentes não juspositivistas ainda situadas no entendimento do direito ligado ao poder, Michel Foucault encaminha-se para a descoberta da microfísica do poder, da disciplina como manifestação estrutural que afeta tanto o direito quanto os desejos, os corpos, os gestos, produz outra vigorosa reflexão que não se encontra limitada pelos quadrantes do direito positivo estatal. Em comum a todas as vertentes não juspositivistas está uma apreensão do direito como fenômeno histórico, num entendimento muito mais complexo, porque dinâmico, da realidade social e do poder que lhe subjaz. Arraigado numa perspectiva histórico-social da existência, seria até mesmo tentador chamar a todo esse caminho de existencial, em atenção à filosofia de Heidegger, que dominou boa parte do horizonte filosófico do século XX. Mas como outras visões também fazem essa ultrapassagem não necessariamente vinculadas ao pensamento existencial heideggeriano, como Schmitt e Foucault, a visão existencial pode ser considerada, em sentido estrito, uma das possíveis visões não juspositivistas. Como o marxismo é a outra grande vertente filosófica não juspositivista, os caminhos de Heidegger, Gadamer, Schmitt, Foucault e outros próximos poderiam ser identificados, com mais propriedade, como caminhos não juspositivistas não marxistas, pois, quanto ao direito, não procedem como o marxismo, que quererá desvendar as especificidades históricas e sociais do fenômeno jurídico. Pelo contrário, as visões existenciais e o decisionismo jurídico parecem privilegiar esferas gerais da abertura existencial em detrimento de esferas sociais históricas específicas. O direito, assim, é assemelhado a uma espécie de manifestação do problema existencial genérico, ou do poder em geral. Para o marxismo, que mergulha nas estruturas sociais históricas, além da sua perspectiva a partir da totalidade, o direito se revela também um fenômeno social específico. Mas, muitas vezes, para uma perspectiva existencial, o que sobra em largueza lhe falta em especificidade.
5 – Postule as reflexões pós positivistas.
Segundo Dimitri Dimoulis, o termo pós-positivismo embora recorrente, talvez seja insuficiente e falho. Mesmo os doutrinadores que não propõem uma definição do termo deixam claras as conotações moralistas e idealistas, dizendo que o pós-positivismo abandona a postura escrita e mescla a descrição com a avaliação do sistema do direito, isto é, o ser do direito com referencia ao dever ser ideal. No pós-positivismo há uma compreensão do Direito muito além da “letra fria da lei”, no entanto nunca desprezando o direito positivo. Trata-se de uma leitura ética, moral do Direito, contudo, sem recorrer ao abstrato, ao metafísico. No pós-positivismo, além haver a limitação do poder do governante, também ocorre o surgimento do conceito de direito fundamental, tendo como base a dignidade da pessoa humana, promovendo, desse modo, a aproximação do Direito aos princípios, à Filosofia. Assim, no Pós-positivismo, traz essa percepção da sociedade de ter um forte conteúdo humanitário no direito, afim de não ter no próprio direito, justificativa para a barbárie. O pós-positivismo não nega o positivismo, mas transcende sua visão de Direito afastado das outras ciências sócias, negando a separação do direito e da moral.
REFERÊNCIAS
FIALHO, Marcelito Lopes; ADORNO, Paulo Alves; SANTIAGO, Valdemar; LEME,
Fabrício Augusto Aguiar. Os três caminhos do pensamento jurídico contemporâneo. Intr@ciência Revista Científica – 14. ed. Dezembro, 2017. Disponível em: <http://uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20180511143018.pdf> Acesso em 16 jun 2019.
MASCARO, Alysson Leandro. Filosofia do direito – 6. ed. rev. e atual. – São Paulo: Atlas, 2018.