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Resumo: O presente trabalho ocupa-se de breve debate teórico sobre a adoção do sistema de
produção enxuta, lean manufacturing, pelas organizações como estratégia para a obtenção
de vantagens competitivas no mercado. Para tanto, realiza-se a contextualização histórica
deste sistema, bem como a descrição de suas vantagens e desvantagens na função produção
da unidade de negócios para, por fim, levantar reflexões nas quais a produção enxuta pode
ser instrumento para o cumprimento eficiente das estratégias competitivas estabelecidas para
aquela unidade, atendendo, assim, às estratégias corporativas da organização. Apresentam-
se também algumas condições nas quais tal sistema pode tornar-se inapropriado às
estratégias que a organização deve adotar, considerando as peculiaridades, não somente
desta, mas também do mercado no qual está inserida.
Palavras-chave: Produção enxuta; Vantagem competitiva; Estratégia.
1. Introdução
A função produção tem atingido cada vez mais relevância no âmbito das organizações,
haja vista que as estratégias estabelecidas para esta área podem ser capazes de oferecer
variadas vantagens no mercado competitivo, propiciando, assim, além da eficiência produtiva,
sucesso no plano estratégico de negócios da organização.
Não obstante as inúmeras vantagens que tal sistema pode oferecer em comparação a
outros, tais como a produção em massa, muitas das quais se pretende apresentar neste ensaio,
é imprescindível verificar se a adoção da produção enxuta trata-se de ferramenta útil para todo
tipo de organização, bem como para todo tipo de mercado, ou se existem condições
imprescindíveis para que a lean manufacturing seja eficiente e capaz de proporcionar as
vantagens competitivas almejadas pela organização.
Neste sentido, torna-se imperioso compreender de que maneira a adoção de
determinado sistema de produção pode contribuir para que as estratégias competitivas
estabelecidas para aquela unidade de negócio, a qual sempre está atrelada à estratégia
corporativa da organização, possa ser alcançada de maneira que a organização apresente
vantagens competitivas frente a seus concorrentes. Para tanto, é necessário, primeiramente,
verificar não somente as funcionalidades que hoje a produção enxuta apresenta e suas
vantagens frente aos demais modelos, mas também compreender seu surgimento, suas raízes
históricas, suas possíveis desfuncionalidades, bem como entender o que significa vantagem
competitiva, como essa pode ser obtida e de que forma as estratégias das unidades de negócio
podem proporcionar algo mais para a empresa, para entender se a lean manufacturing pode
ser receita eficiente para o cumprimento do planejamento estratégico da corporação ou pode
tratar-se de medida equivocada em determinadas condições de mercado e ineficiente para
estratégias específicas de produção que a corporação adota ou pretende adotar.
Este artigo busca, portanto, verificar, teoricamente, o alinhamento do sistema de
produção enxuta adotado pela empresa com as estratégias competitivas estabelecidas para sua
atuação no mercado de forma a proporcionar vantagens competitivas, levantando, por fim,
possíveis indicações e contra-indicações da lean manufacturing, dadas as peculiaridades nas
quais pode se enquadrar a organização. Se caracteriza por uma parte introdutória, onde este
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texto está inserido, seguida de alguns aspectos metodológicos que direcionaram a elaboração
deste estudo. Logo após é apresentado um marco teórico sobre os temas abordados –
produção enxuta e estratégias e vantagens competitivas – que suporta o tópico posterior, onde
está disposto o relacionamento entre os temas abordados, apontando não somente o lado
positivo da produção enxuta como também suas restrições de aplicação. Por último, são
realizadas considerações finais sobre o estudo, levantando questionamentos a respeito da
aplicação incondicional da lean production.
2. Aspectos metodológicos
O presente trabalho pode ser caracterizado como uma pesquisa exploratória que,
através de um levantamento bibliográfico sobre os temas produção enxuta e vantagens
competitivas, bem como de seu relacionamento, intenta apontar pontos a serem refletidos a
respeito do tema.
A pesquisa pode ser considerada exploratória, pois o que se pretende com o presente
trabalho é conhecer mais sobre o relacionamento entre temas produção enxuta e vantagem
competitiva, e levantar questionamentos da aplicabilidade desse tipo de produção como
proporcionadora de “algo mais” para qualquer tipo de organização manufatureira. Não se
almeja chegar a uma conclusão definitiva sobre o tema, mas sim propor questões importantes
que devem ser avaliadas antes de uma tomada de decisões. A respeito da pesquisa
exploratória Gil (2002, p.42) tece alguns comentários:
Esta pesquisa tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema,
com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses. Pode-se dizer que a
pesquisa tem como objetivo principal o aprimoramento das idéias ou a descoberta de
intuições.
Tendo em vista que um autor geralmente tenta defender seu ponto de vista frente aos
demais existentes, algumas vezes os lados negativos do que está sendo apresentado é
suplantado em detrimento de uma caracterização mais afável do assunto, de forma a
convencer o leitor da sua ampla aplicabilidade. Este trabalho se propõe a avaliar “os dois
lados” da produção enxuta quanto à sua capacidade de gerar vantagem competitiva para as
organizações. Para isso foram realizadas pesquisas em periódicos, livros e publicações a
respeito do tema.
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3. Produção enxuta
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Neste Contexto, o Governo Japonês entendeu como mais viável criar barreiras aos
produtores externos, assim como replicar internamente o modelo de “Grandes fábricas”. Para
tanto, vislumbrou a transformação das embrionárias companhias automobilísticas japonesas
em duas ou três grandes, de forma que fosse possível competir com as “Big Three”, de
Detroit (WOMACK et alli, 1992).
Para a sorte do povo japonês, a proposição governamental não evoluiu e, com base
num pequeno número de maquinário já ultrapassado em Detroit adquirido por Taiichi Ohno,
principal engenheiro de produção da Toyota, inicia-se o modo enxuto de ser e pensar a
sistemática de produção, reduzindo os lotes, eliminando os custos financeiros dos imensos
estoques, aumentando a diversidade da produção, ampliando a qualidade dos produtos,
evitando o retrabalho e agregando valor às tarefas de seus empregados.
Assim surge o conceito de Produção enxuta, nos moldes em que atualmente muitas, ou
quase todas, organizações vislumbram estruturar seus sistemas de produção, reduzindo custos
e agregando qualidade e flexibilidade à sua sistemática de Produção e, consequentemente, às
suas estratégias competitivas, tanto com o mercado consumidor, quanto com o mercado
fornecedor, saindo do curto prazo e do imediatismo de resultados para pensar em relações
comerciais mais duradouras, e, consequentemente, mais lucrativas. Mais do que pensar uma
nova forma de manufatura, a produção enxuta marca uma nova forma de pensar a organização
e o mercado.
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“qualidade”.
É claro que essa perfeição é praticamente inatingível, ou então seu custo é altíssimo,
mas sua busca contínua gerando efeitos surpreendentes pode ser responsável pelo alcance de
inúmeras vantagens competitivas para as organizações, possibilitando a execução eficiente
das estratégias estabelecidas para o seu plano de negócios.
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desenvolvimento das atividades primárias de forma que estas possam gerar vantagem
competitiva para os clientes.
Atividades
de Apoio
Atividades Primárias
Estrutura
Organizacional
De forma geral, as atividades primárias podem ser divididas em logística interna, que
abarca procedimentos como recebimento, armazenagem e distribuição interna de insumos e
produtos semi-acabados, o manuseio de material, o controle de estoques, a programação de
frotas e veículos e a devolução para fornecedores; em operações, onde se encontram as
atividades relacionadas à transformação dos insumos em produtos finais, tais como trabalho
com máquinas, embalagens, montagens, manutenção de equipamentos, testes e operações de
produção; em logística externa, que envolve as atividades de coleta, armazenamento e
distribuição física do produto final para os compradores; em marketing e vendas, onde estão
relacionadas às atividades associadas indução e oferta de produtos aos clientes diretos e/ou
finais, através do mix de marketing (preço, promoção, propaganda e praça), cotação e seleção
dos modais de transporte mais adequados; e em serviços, que engloba as atividades que
intentam ampliar ou manter o valor do produto, tais como instalação, treinamento de uso,
manutenção, fornecimento de peças e ajuste do produto.
Já as atividades de apoio estão subdivididas em aquisição, onde se concentram as
atividades de compras de insumos, serviços e produtos intermediários; em desenvolvimento de
tecnologia, que abarca além do P&D (pesquisa e desenvolvimento de produtos), a TI
(tecnologia da informação), projeto de equipamento de processo e procedimento de
atendimento; em gerência de recursos humanos, onde se encontram todas as atividades
operacionais de recursos humanos (folha de pagamento, recrutamento, seleção, contratação,
demissão) e de desenvolvimento da gestão de competências (treinamento, política de cargos e
salários, remuneração variável, participação nos resultados); e em infra-estrutura da empresa,
onde estão inseridas as atividades que dão apoio à cadeia inteira, tais como contabilidade,
finanças, planejamento, jurídico, gerência de qualidade e gerência geral.
A vantagem competitiva freqüentemente provém da habilidade de coordenação e
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administração dos elos entre as atividades, da mesma forma que provém das próprias
atividades individuais.
Dessa forma, a manufatura, para que possa gerar vantagem competitiva para a
organização, precisa de um direcionamento estratégico. Tradicionalmente o processo de
manufatura tem sido gerenciado da base para o topo (Bottom-up). Essa forma de
gerenciamento é criticada por Skinner (1969) que propõe que as decisões de produção devem
ser construídas quando da elaboração das estratégias competitivas da organização, e alinhadas
às estratégias corporativas, de forma a possibilitar um aumento do arsenal de armas
competitivas direcionadas para o foco da organização.
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também, através da maior flexibilidade da produção que o sistema enxuto oferece maior
flexibilidade , reduzindo-se a pouca funcionalidade de um sistema rígido, incapaz de atender a
pequenas variações nos pedidos em relação ao quantitativo solicitado para cada família, pois a
mesma célula é capaz de atender às variações necessárias. Acresça-se, ainda, os ganhos
oriundos das melhorias alcançadas com a maior velocidade obtida em todo o ciclo de
produção, acelerando-se a operação, diminuindo-se os tempos de set up's, reduzindo
distâncias, através de um melhor arranjo físico, e propiciando o acesso às informações sobre a
produção em tempo praticamente real. Desta forma, ganhando-se em tempo, reduzem-se os
custos de possíveis paralisações em virtude de problemas previsíveis. De fato, as vantagens de
custo proporcionadas pela produção enxuta estão em quase todos os mecanismos que a
operacionalizam e decorrem dos ganhos das demais eficiências requeridas.
Já com relação a outros benefícios, apresenta-se, também, o sistema enxuto rico em
possibilidades de acréscimo organizacional. As medidas acima citadas, além de agregarem
economia financeira à produção e, logicamente, à organização como um todo, são ainda mais
interessantes quando vistas sob a ótica da percepção do cliente, pois contribuem não somente
para os resultados mais “palpáveis” da empresa, em especial os financeiros, mas também
para o fortalecimento da marca e da imagem desta e de seus produtos.
Garantir à função produção vantagens tais como a velocidade, a confiabilidade, a
flexibilidade, reduzindo custos e ainda acrescendo a qualidade dos produtos apresenta-se
como uma verdadeira “mágica” que faz da lean production o sucesso que hoje ela é,
permitindo ao gerente “fazer melhor” (SLACK, 1993).
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mesmo, de serem reconstruídas ou reformadas, sendo obrigatório o devido estudo quanto aos
impactos financeiros e quanto ao mix de produtos ora ofertados, no sentido de verificar a
viabilidade da lean manufacturing.
Por último, e talvez mais importante, dado que sem o cumprimento deste conjunto de
regras torna-se impossível pensar em produção enxuta, é condição expressa do sistema enxuto
a existência de planos-mestres de produção estáveis (sem a perspectiva de sensíveis
alterações), com reduzidos tempos de set up's, e uma relação de parceria com os fornecedores
pertencentes à cadeia de suprimentos, garantindo o pleno funcionamento do sistema. Pedem-
se planos-mestres estáveis, pois além de demandar um grande volume de capital para dispor
uma instalação rígida, preparada para uma certa família de produtos, este sistema trabalha
tendo como objetivo a “utopia” do estoque zero, ou seja, busca a incessante redução de
estoques, não sendo capaz de atender substanciais alterações na demanda, razão pela qual não
são indicados a este tipo de mercado, ou de consumo de produto.
Espera-se, por sua vez, a diminuição nos tempos de preparação das máquinas, onde se
tenta transformar os tempos de preparação internos em externos, de forma a agilizar o câmbio.
As organizações que adotam a estrutura celular devem ter seu tempo de preparação reduzido a
quase zero, tendo em vista que a disposição dos equipamentos são permanentes, havendo
apenas a revisão das máquinas e uma ligeira adaptação para produtos diferentes pertencentes
à mesma família. Caso a organização não consiga reduzir este tempo de set up (devido a
diversos fatores, principalmente, à ineficiência operacional) será impossível garantir o
aumento na flexibilidade das atividades de manufatura, perdendo o sistema enxuto importante
diferencial em relação à produção em massa, e, consequentemente, influenciando também na
estrutura de custos que a lean manufacturing oferece por não demandar investimentos
adicionais oriundos das alterações nos produtos.
Outro ponto que merece destaque na mentalidade enxuta é caracterização de toda a
cadeia de suprimentos como parte atuante no modelo de manufatura, sem a qual não há como
se pensar na obtenção das vantagens competitivas que a produção enxuta pode oferecer. Este
sistema exige, sobretudo, uma participação integrada e em “tempo real” de todos os membros
da SCM - Suppy Chain Management. Como se espera a obtenção de benefícios e a redução de
custos em virtude do aumento da velocidade da produção combinada com a redução de
estoques, é imprescindível que os parceiros tenham a exata visualização da demanda que
devem atender de seus produtos, produzindo, assim como a empresa espera para si, somente o
necessário, reduzindo seus estoques e evitando o “efeito chicote”, assim como garantindo a
não paralisação da atividades de manufatura pela falta de materiais para o trabalho, haja vista
que os estoques encerraram e a cadeia não foi capaz de atender aos pedidos.
6. Considerações finais
Buscando encerrar este trabalho, sem, no entanto, finalizar aqui as discussões, haja
vista que o próprio debate a que se propôs este artigo traz a seus autores muito mais
questionamentos aos quais se pretende aprofundar do que conclusões definitivas, algumas
considerações tornam-se necessárias.
Muito além do debate específico quanto às funcionalidades e desfuncionalidades
peculiares da adoção da lean production nos mais variados ambientes, fica o ensinamento
quanto a importância que a estratégia de manufatura assume no tocante à viabilização das
estratégias organizacionais, garantindo o seu desenvolvimento. Mas até que ponto realmente
as organizações consideram sua área de manufatura como propiciadora de vantagens
competitivas, sendo necessária abordagem estratégica para tal? E qual o grau de maturidade
das empresas brasileiras que adotaram o sistema de produção enxuta?
A exata compreensão dos determinantes operacionais para, assim, definir-se qual o
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sistema de manufatura ideal para aquela organização faz perceber a função produção mais
próxima do planejamento estratégico da empresa e integrada às demais funções. À atividade
de manufatura passa, portanto, a valer a aplicação de recursos e esforços visando sua exata
definição, pois pode agregar inúmeros benefícios, assim como reduzir custos, tornando esta
relação melhor e sendo, assim, indispensável para o sucesso competitivo.
Em outro sentido, o desrespeito às atividades de manufatura e a despreocupação com o
estabelecimento de estratégias para esta função pode acarretar o fracasso organizacional como
um todo, uma vez que não somente esta empresa está buscando vantagens através de seu
processo produtivo, mas todas que competem no mercado, sendo a gerência eficiente de
produção não um mero modismo, mas sim uma condição de sobrevivência. Não adianta,
portanto, investir, por exemplo, em marketing, se não existe efetivamente uma política de
produção estrategicamente definida para as peculiaridades e o ambiente no qual está inserida
a empresa. Entretanto, ao perceber que o sistema produtivo necessita de uma reestruturação,
até que ponto compensa para as empresas apresentar uma orientação estratégica agressiva e
investir o capital necessário para adequá-lo, tendo em vista que se trata de um sistema de
capital intensivo?
A produção enxuta pode sim tratar-se de um sistema de produção extremamente
valoroso para a obtenção de vantagens no mercado. Entretanto, há de se ater que não se
constitui de modelo, ou simples fórmula de sucesso, aplicável a toda e qualquer organização,
em todo e qualquer contexto. Além de entender a atividade manufatura como estratégica para
a empresa, a decisão que implementa determinado sistema de produção deve compreender
que não existe uma fórmula infalível para o sucesso de todas as empresas e que este depende
fundamentalmente da escolha de um sistema capaz de atender de forma mais satisfatória
àquela realidade específica.
Assim, a lean manufacturing deve ser reconhecida com extremamente vantajosa, mas
os responsáveis por sua implementação devem de fato considerar suas restrições, sob pena da
empresa adotar um sistema reconhecido e valorizado no mercado sem, no entanto, obter
vantagens e, pior ainda, até mesmo fracassar na execução de seu plano de produção.
7. Referências bibliográficas
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