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CENTRO DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE MÉTODOS E TÉCNICAS DE ENSINO
ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO EM PORTUGUÊS II
PROFESSORA: MARIANA MARIS
A primeira parte é responsável pela introdução do relatório, contando com uma breve
explanação da disciplina; a segunda descreve como foram coletados os dados expostos,
descrição das fases do estágio e as justificativas para escolhas tomadas pelo discente; a
terceira parte é constituída pela fundamentação teórica, subdividida em cinco diretrizes
essenciais para a compreensão da prática docente, tendo Soares (1998, 1995), Geraldi (1997,
2014), Bunzen (2006), Martins (2005), Cavalvante e Melo (2007), Antunes (2007), entre
outros, como ponto de orientação das análises que aqui serão expostas, visando compreender
as práticas docentes; a quarta e a quinta seções são as encarregadas pelas análises dos dados,
atrelando as concepções teóricas com as situações observadas no período de estágio e a sexta
seção é relativa às considerações finais: ao que me foi relevante nesse processo de
acompanhamento da sala de aula, nossas discordâncias e convergências com os métodos
aplicados pelas professoras - orientadora e supervisoras - e como o estágio pode ter
enriquecido nossa prática.
2. Metodologia
3. Fundamentação teórica
[...] toda e qualquer metodologia de ensino articula uma opção política - que
envolve um teoria de compreensão e interpretação da realidade - com os
mecanismos utilizados em sala de aula. [...] os conteúdos ensinados, o enfoque que
se dá a eles, as estratégias de trabalho com os alunos,a bibliografia utilizada, o
sistema de avaliação, o relacionamento com os alunos, tudo corresponderá nas
nossas atividades concretas de sala de aula, ao caminho por que optamos.
(GERALDI, 1997, p. 2)
Assim sendo, o “para que ensinar?” que o autor enxerga como o principal
norteador para o trabalho do professor na sala de aula está permeado pela concepção
de língua ou linguagem que o docente adota - consciente ou inconscientemente. Essas
concepções podem ser divididas fundamentalmente entre três correntes: a linguagem
é a expressão do pensamento, a linguagem é instrumento de comunicação e a
linguagem é uma forma de interação.
Dentro das nuances possíveis dessa interação verbal, passamos pela ossada da
literatura. Martins (2005) afirma as conexões entre a literatura e a leitura são
palpáveis por vários motivos, entre eles: “a própria natureza interdisciplinar do ato de
ler que envolve contribuições de diversas áreas. [...] o ato de ler é influenciado por
[...] um conjunto de noções determinantes na interação do leitor com o texto;” (p.
514), “o fato de a significação do texto literário ser construída a partir da participação
efetiva do receptor, o que torna evidente as relações dinâmicas entre a literatura e o
leitor;” (p. 515) e “a teoria literária só existe em função da leitura e da literatura [...]
subsidiando a prática do professor, no sentido de ampliar concepções críticas sobre o
fazer literário e a recriação do texto pelo leitor.” (p. 515). Ou seja, a concepção de
leitura está intrinsecamente relacionada com o trabalho de literatura que o docente
possuirá dentro da sala de aula e as teorias que usará para direcionar seu trabalho.
Por ser uma prática social que transborda o espaço escolar, ao adentrar neste
espaço, esta sofre um processo de escolarização. Segundo Martins (2005), o
artificialismo acaba tornando-se uma frequente através de atividades, distanciando o
aluno do papel central da literatura: a capacidade de expandir horizontes e visões de
mundo. Isto, segundo a autora, deveria ser realizado através e além da estética do
texto literário.
O aluno deveria ser orientado para compreender o papel estética da
literatura, bem como a função social desta manifestação artística.
Não encontrando uma relação direta entre o texto literário e o seu
cotidiano, o aluno não percebe a literatura como espaço de
construção de mundos possíveis que dialogam com a realidade.
(MARTINS, 2005, p. 517)
Para que esta conexão seja criada, é necessário que haja o contato do aluno
com o texto literário, levando em conta que “ensinar literatura não é apenas elencar
uma série de textos ou autores e classificá-los num determinado período literário, mas
sim revelar para o aluno o caráter atemporal, bem como a função simbólica e social
da obra literária.” (MARTINS, 2005, p. 523), destacando os aspectos culturais,
políticos - seja por aproximação ou por rompimento com estes - e o “reconhecimento
das singularidades estéticas do fazer literário” (MARTINS, 2005, p. 524).
A professora observada possui uma rotina cansativa: mora em Recife; vai para a
escola todo dia de ônibus e trabalha em outra escola e ainda leciona no EJA, isto pode
acarretar uma falta de planejamento mais sólido no trabalho da professora e uma certa
precarização do ensino da língua portuguesa - mesmo que inconscientemente. Pude
observar isso quando aconteceram imprevistos na sala de aula, com a frequente liberação
dos alunos num horário diferente do término previsto das aulas e com a prática de cessão
das aulas de LP para outros fins.
Em relação ao desenvolvimento das aulas, nas que pude observar poucas práticas de
linguagem foram desdobradas. O trabalho com a oralidade foi nulo, sendo o eixo mais
precarizado durante a observação, seguida da análise linguística, produção de texto e da
literatura, respectivamente. Focaremos nos trabalhos observados das aulas das práticas
de leitura e dissertaremos acerca da ausência - ou das poucas práticas - das outras e as
consequências disso.
Após ler o trecho do texto em conjunto com os alunos, a professora perguntou para
os alunos se eles haviam compreendido o que estava escrito. Alguns poucos responderam
que não, o que a levou a explicar sobre o que o texto falava e o contexto do resto do texto
para os alunos. Ela utilizou as dúvidas como gancho para o assunto que queria trabalhar
no dia: informações principais e informações secundárias, o qual ela explicou de maneira
breve. Desenvolveu este assunto mais profundamente através de uma atividade que se
deu de seguinte maneira: os alunos precisavam retirar do texto as informações que
enxergavam como principais e como secundárias. A docente deu um tempo para a
elaboração das respostas dos alunos e após esse tempo pediu para que eles respondessem
no quadro. A partir das respostas deles, percebeu as dúvidas acerca do assunto e tentou
saná-las adicionando mais informações nos conceitos que havia apresentado
anteriormente. A professora não chegou a abordar o gênero e as implicações disto para
como as informações estão postas no excerto do texto, nem as implicações linguísticas
de uma reportagem, muito menos seu contexto social.
Esse tipo de aula foi bastante comum durante meu período na escola, sendo o esquema
de aula que mais observei na prática desta professora. Analisando a partir das
perspectivas expostas por Theodoro (1999) já citadas na fundamentação teórica deste
relatório, podemos observar uma concepção de leitura errônea, atrelada principalmente a
ideia de que ler é decodificar mensagens presentes no texto e que ler é extrair a ideia
central do texto, buscando destacar qual os elementos principais deste e diferenciá-lo dos
secundários, como se estes não tivessem igual importância para a construção dos sentidos
que podem ser encontrados no tecer da leitura se fosse uma postura mais interativa da
leitura: considerando seu contexto de produção, o papel dos signos ali escolhidos pelo
autor, a compreensão e produção de sentidos causados por estes e como eles são recebidos
pelos alunos.
Ao decorrer das aulas, pude perceber um respeito pelas variedades linguísticas dos
alunos - tanto na fala quanto na escrita - por parte de da professora Júlia. Este respeito,
no entanto, beira a negligência em alguns casos. Por exemplo, poucas vezes vi a docente
fazendo uma análise mais profunda dos textos em que lia com os alunos e nas produções
textuais, a professora não parecia ter muita preocupação com os desvios que
prejudicavam a compreensão dos textos produzidos pelos alunos, inclusive. Assim sendo,
preocupa-me e intriga-me esta declaração da professora, dada em entrevista (Anexo A),
sobre a priorização da compreensão do funcionamento da língua pelos alunos. Pergunto-
me até onde isso não pode disfarçar uma falta de domínio de alguns fenômenos
linguísticos e sobre o próprio uso da língua. Portanto, o ensino da AL aproxima-se, de
certa forma, da proposta de Antunes (2007) quando defende a não priorização da
metalinguagem, mas peca no trabalho epilinguístico que deveria ser “posto” em seu lugar;
aproxima-se da proposta de Geraldi (1997) de respeito de não-depreciação da variante
falada pela comunidade escolar, mas falha em ampliar as capacidades linguísticas dos
alunos.
O ensino de literatura no ensino médio já está mais inserido numa lógica mais
historiográfica, tradicionalmente. A prática da professora aqui analisada não foge totalmente
desta realidade, apesar de não se resumir a isto. Para exemplificar, trago uma situação
observada na experiência de estágio. Ao trabalhar as cantigas trovadorescas, a professora
trouxe o contexto de produção destas e suas origens, além de trazer várias cantigas - não
apenas se limitando as que estavam no livro didático. Nas aulas seguintes, no entanto, traçou
um paralelo entre a literatura de cordel e as cantigas, não abrindo mão de falar das origens e
seu contexto de produção, mas trazendo cordéis contemporâneos, com temas que apetecem
e interessam os alunos e as aulas que abordaram as semelhanças entre os cordéis e as cantigas
prenderam mais a atenção dos alunos que interagiram mais com a professora e com a aula,
provando a postulação de Martins (2007, p. 517) que “não encontrando uma relação direta
entre o texto literário e o seu cotidiano, o aluno não percebe a literatura como espaço de
construção de mundos possíveis que dialogam com a realidade.” Ou seja, mesmo que a
professora recorra a tradição historiográfica da literatura, ela ainda traz uma abordagem que
se alinha mais a uma interação concreta com a obra literária. O trabalho de leitura dentro do
período de observação que realizei esteve altamente atrelado com o trabalho de literatura.
Ficou perceptível para mim que a concepção de leitura que a professora Ana resolve adotar
em sua prática é a mais próxima da interação possível, valorizando a produção dos
significados que os alunos obtiveram ao entrar em contato com o texto literário, porém
tomando cuidado para não levá-los a superinterpretação, trazendo sempre elementos do
textos para embasar suas visões acerca do texto e estimulando-os a fazer o mesmo.
(THEODORO, 1999) As leituras da cantigas de amor e de amigo na sala de aula foram um
ótimo exemplo desta prática no período de observação.
Apesar de ter sido abordado, o ensino da prática de oralidade da professora Ana foi o
mais precarizado dentro de seu trabalho. Pois comete o mesmo pecado da docente anterior,
atribui o trabalha da oralidade a verbalização de textos ou a pura fala dos alunos, não
realizando um trabalho consolidada com a oralidade através dos gêneros orais, como
recomendam Cavalcante e Melo (2007). A atividade que mais se aproximou de um trabalho
de oralidade realizado pela professora foi a oralização de uma pesquisa acerca de músicas
contemporâneas que os alunos tivessem identificado como semelhantes as cantigas
trovadorescas de amor ou de amigo: este trabalho se aproxima de um trabalho com oralidade,
pois a professora explicitou como faria avaliação do trabalho, desde postura até o conteúdo
explicado para a compreensão da turma.
6. Considerações finais
Referências
SILVA, Ivanda Maria Martins. Literatura em sala de aula: da teoria literária à prática escolar.
PPGL 30 Anos–Melhores Teses e Dissertações. Recife: Programa de Pós-Graduação em
Letras da UFPE, 2005. Disponível em: http://www.pgletras.com.br/Anais-30-
Anos/Docs/Artigos/5.%20Melhores%20teses%20e%20disserta%C3%A7%C3%B5es/5.2_I
vanda.pdf. Acesso em 14 de maio de 2019.
1. Qual a sua formação acadêmica? Em que ano e em que instituição concluiu sua
graduação?
2. O que embasa seu fazer na sala de aula? (concepção de linguagem, pressupostos teóricos
- metodologicos)
3. Quais são os objetivos gerais e específicos do que ensina em sala de aula?
4. Como seleciona os assuntos/conteúdos ensinados? O que pretende ensinar para os alunos
quando seleciona esses conteúdos?
5. Quais materiais utiliza em sala? Como escolhe/elabora esses materiais? Utiliza o livro
didático?
6. Como você prepara suas aulas?
7. Como você verifica a aprendizagem do conteúdo ensinado?
8. Como você avalia suas condições de trabalho? E seus alunos?