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DE REVISÃO
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CICLOS DE REVISÃO
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DE REVISÃO DPE/PE @CICLOSR3 @CICLOSR3
CPF: 021.806.644-94 ALUNO: Karyn Mourato Almeida e Silva
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FICA A DICA1
Olá, futuros Defensores e Defensoras do Estado de Pernambuco!
Nessa primeira semana de dicas já vamos tratar de um dos temas espinhosos do edital de Direito
Penal: a relação de causalidade. Em provas objetivas, o tema é tratado tanto de forma doutrinária como
por meio de casos práticos para solução.
Veremos aqui os tópicos principais para garantir aquele suado ponto na prova objetiva e, de quebra,
conseguir desenvolver uma boa resposta na discursiva.
RELAÇÃO DE CAUSALIDADE
RESULTADO
»» Resultado
»» Tipicidade penal
Quanto ao resultado, vocês devem estar atentos ao fato de que a doutrina o divide em duas
espécies:
- Resultado jurídico: é aquele que todo crime tem. Pode ser conceituado como a lesão ou o perigo
de lesão ao bem jurídico. Ora, sabemos que um dos princípios do direito penal é a lesividade. Se uma
conduta não lesionasse nem oferecesse perigo de lesão a um bem jurídico, não haveria razão para ela
ser tutelada pelo direito penal.
- Resultado naturalístico: é uma modificação no mundo exterior, que se segue à conduta. Esse
resultado, diferentemente do jurídico, não estará presente em todos os crimes, conforme nós veremos
a seguir. Daí, já podemos concluir que todo crime tem resultado ( jurídico!), mas #ATENÇÃO: nem todo
crime tem resultado naturalístico.
Vamos relembrar essa classificação doutrinária, com alguns exemplos que podem ser de grande
ajuda na hora da prova:
- CRIMES MATERIAIS: são aqueles em que o legislador descreve uma conduta e um resultado
naturalístico. Esse resultado precisa acontecer para que o crime esteja consumado. #SELIGANOEXEMPLO:
homicídio e estupro são crimes materiais.
- CRIMES FORMAIS: nesses casos, o legislador também descreve uma conduta e um resultado
naturalístico. No entanto, para que o crime esteja consumado, esse resultado não precisa ocorrer. Se
ele ocorre, será mero exaurimento da infração, o que poderá causar reflexos na dosimetria da pena.
#SELIGANOEXEMPLO: o crime de extorsão é formal. Seu resultado é a lesão patrimonial, mas ela estará
consumada no momento da exigência mediante violência ou grave ameaça.
- CRIMES DE MERA CONDUTA: aqui, o legislador nem mesmo descreve um resultado naturalístico.
Apenas a conduta é descrita e sua realização consuma o crime. #SELIGANOEXEMPLO: porte ilegal de
arma e violação de domicílio são crimes de mera conduta.
#ATENÇÃO: Segundo a doutrina majoritária, a relação de causalidade apenas tem relevância nos
crimes materiais, já que nos crimes formais e de mera conduta a prática da ação ou omissão já consuma
a infração, independentemente da análise de seu eventual resultado.
Ambos se consumam com a prática da conduta, por essa razão o STF os chama de crimes sem
resultado.
Nos crimes formais, o resultado naturalístico, embora desnecessário para a consumação, pode
ocorrer. Já nos crimes de mera conduta, o resultado naturalístico jamais ocorrerá, pois ele não existe:
o tipo não o prevê.
#EM RESUMO: Crimes de mera conduta NÃO são de consumação antecipada, pois NÃO há
resultado naturalístico. Crimes de consumação antecipada = crimes formais.
Para seguir na análise da matéria, é importante termos em mente o seguinte panorama: para que
um indivíduo tenha responsabilidade jurídico-penal por um resultado, é necessário que haja nexo de
causalidade físico (ou naturalístico) entre esse resultado e sua conduta. No entanto, existem casos em que,
mesmo existindo nexo de causalidade físico, não haverá responsabilidade penal.
Isso porque, ao lado da análise do nexo de causalidade, devem ser analisados outros elementos,
como as concausas, a existência de dolo e culpa e, ainda, alguns requisitos trazidos pela moderna teoria
da imputação objetiva.
A existência de causalidade física, portanto, NÃO quer dizer necessariamente que haverá imputação.
Entendido até aqui? Vamos agora ver as teorias que sobre a relação de causalidade.
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu
causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
Causa, portanto, para o Código Penal, é toda ação ou omissão sem a qual o resultado não teria
ocorrido. Mas como vamos verificar, em um caso concreto, o que será causa e o que não será? É simples!
Sabemos que para todo resultado, podem-se observar vários acontecimentos que antecederam
sua realização. Querem um exemplo? João praticou homicídio doloso com emprego de arma, porém
antes de praticar a conduta, Lauro, seu amigo, emprestou seu revólver a ele. O revólver de Lauro, por sua
vez, foi adquirido de Bruno, que comprou de Marcelo... e por aí vai.
Assim, com o intuito de evitar o regresso ao infinito e saber se determinada conduta é ou não
causa do evento, a doutrina criou o método da eliminação hipotética de Thyrén (#OLHAOTERMO).
Mas coach, o que é isso?! De acordo com esse método, uma ação é considerada causa do resultado
quando, ao ser suprimida mentalmente (daí o “hipoteticamente”, sacaram?) do mundo dos fatos, verificar-
se que o resultado não seria produzido.
No exemplo acima, se Lauro não tivesse emprestado a arma de fogo, o resultado morte não teria
ocorrido. Logo, trata-se de causa para o resultado.
Agora você pode estar pensando: mas se a arma não tivesse sido emprestada, o agente poderia
matar de outra forma, não? SIM! E é aqui que devemos ter muita #ATENÇÃO! Apesar de o Código
Penal referir-se a causa como a conduta sem a qual o resultado não teria ocorrido, a doutrina aponta a
necessidade de se complementar essa redação com o termo “da forma como ocorreu”.
#RESUMEAECOACH: será considerada causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria
#ALERTAEXEMPLOBATIDO
#TAEMTODOSOSLIVROS:
Basta pensarmos, ainda, que se não analisássemos tendo como parâmetro o resultado da forma
como ele ocorreu, ninguém mais seria responsabilizado por homicídio, já que a morte de todos
certamente ocorrerá em algum momento, o agente apenas antecipa o resultado.
CRÍTICA À TEORIA: a definição de causa sob o aspecto natural pode levar a certos exageros, como
condenar o comerciante de uma faca pelo crime contra a pessoa do qual ela foi instrumento. Como,
então, impedir que isso ocorra?
O finalismo corrige esses excessos por meio do dolo e da culpa. Assim, ainda que existente o nexo
de causalidade físico, o indivíduo deveria ter agido com dolo ou culpa quanto ao resultado. Atualmente,
porém, também a teoria da imputação objetiva, desenvolvida pelos teóricos do funcionalismo, é usada
para limitar o regresso ad infinitum da causalidade natural.
Assim, voltando ao exemplo do vendedor da faca, tem-se que, apesar de sua conduta ter sido causa
de uma eventual lesão corporal, ele não será responsabilizado, porque:
1) Em um viés finalista, pode-se dizer que não houve dolo ou culpa, pois não era nem mesmo
previsível ao comerciante que seu cliente utilizaria a faca para lesionar alguém.
2) Com base na teoria da imputação objetiva, pode-se ainda dizer que a conduta do vendedor
de facas não cria um risco desaprovado pelo ordenamento jurídico, o que também afasta a
sua responsabilidade.
Vimos, então, o principal sobre a teoria da equivalência dos antecedentes causais. Agora vamos
passar a analisar as hipóteses em que mais de uma conduta é realizada em direção a um resultado. São
as chamadas concausas.
CONCAUSAS
Concausa é o nome dado a uma causa que provoca um resultado, em associação a uma ou mais
causas. Nesse ponto da matéria é fundamental que vejamos exemplos de todas as hipóteses para facilitar
a compreensão. Duas são as espécies de concausas:
A causa efetiva do resultado não se origina do A causa efetiva do resultado se origina (ainda que
comportamento concorrente. indiretamente) do comportamento concorrente.
a) Preexistentes: Jonas, com dolo de matar, atira contra Mário, que já havia ingerido veneno
ministrado por Carlos algumas horas antes. Constata-se que a morte se deu exclusivamente em razão do
veneno. Nesse caso:
»» Jonas responderá apenas pelos atos já praticados, em conformidade com seu dolo: homicídio
tentado.
b) Concomitantes: Jonas e Carlos atiram contra Mário simultaneamente, com dolo de matar, mas
é comprovado que a morte decorreu exclusivamente do disparo de Carlos.
»» Jonas responderá apenas pelos atos já praticados, em conformidade com seu dolo: homicídio
tentado.
c) Supervenientes: Jonas, com dolo de matar, atira contra Mário e lhe causa ferimentos que
certamente causariam sua morte. Após o disparo, porém, o teto do local em que estavam desaba, e
Mário vem a falecer em decorrência do desabamento.
»» Jonas responderá apenas pelos atos já praticados, em conformidade com seu dolo: homicídio
tentado.
2) Concausas relativamente independentes: são aquelas que possuem entre si uma relação de
dependência na causação do resultado. Também podem ser:
»» Se Jonas queria desde o início matar a vítima, responderá pelo homicídio consumado doloso.
»» Se Jonas queria lesionar, mas sabia da hemofilia de Mário, responderá por lesão seguida de
morte, já que lhe era previsível o resultado.
»» Se Jonas queria lesionar e não sabia nem tinha como saber da hemofilia, não poderá responder
pelo resultado morte. Do contrário, ele estaria sendo responsabilizado objetivamente, o que
não é aceito no direito penal. Responderá apenas pela lesão.
b) Concomitantes: Jonas atira contra Mário, que tem um ataque cardíaco em decorrência da lesão
e vem a falecer.
»» Se Jonas tinha desde o início o dolo de matar, responderá pelo homicídio consumado.
c) Supervenientes: para essas hipóteses, o Código Penal trouxe previsão específica de casos em
que a causa superveniente relativamente independente poderá excluir a imputação. Vejamos o artigo 13,
parágrafo 1o, do Código Penal:
§ 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só,
produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.
Para que se exclua a imputação, a causa deve ter produzido, POR SI SÓ, o resultado. Mas o que
significa isso? Primeiro, devemos ter em mente que “por si só” não significa que a causa antecedente
não terá relevância, pois do contrário ela não seria relativamente independente, e sim absolutamente
independente.
Vamos ao clássico exemplo para facilitar a compreensão: Jonas, com dolo de matar, atira contra
Mário, que é socorrido e colocado em uma ambulância. A ambulância colide com um caminhão e Mário
vem a falecer em decorrência dos traumas da colisão.
Desde já, verificamos que o tiro dado por Jonas contribuiu para que Mário estivesse na ambulância
no momento do acidente, daí se tratar de uma causa relativamente dependente. Mas o acidente produziu
por si só o resultado? Há duas maneiras de se analisar isso:
»» Para produzir “por si só” o resultado, a causa anterior (tiro) não pode contribuir para o resultado
no momento em que ele ocorreu. Ora, no exemplo acima, o tiro em nada contribuiu para a
morte no momento do acidente, decorrendo a morte apenas dos traumas ocorridos.
»» A doutrina fala ainda que se deve verificar se a causa superveniente estava na linha
de desdobramento causal da conduta do agente. Voltando ao exemplo, a morte por
politraumatismos não está na linha de desdobramento de um tiro. Dessa forma, não haveria
responsabilização.
Ambas as formas de análise podem ser utilizadas, chegando-se à mesma conclusão: Jonas
responderá pelos atos já praticados e em conformidade com o seu dolo: homicídio tentado.
#ATENÇÃO! Ainda no exemplo, caso a morte tivesse decorrido de infecção hospitalar, estaria ela
na linha de desdobramento do tiro efetuado pelo agente, já que se espera que alguém socorrido
após um tiro possa morrer em decorrência de uma infecção. Até mesmo eventual omissão no
atendimento médico estaria nessa linha de desdobramento.
#COLANARETINA #PARANÃOESQUECER:
#JÁCAIU: (CESPE – DPE-ES – 2009) Considere a seguinte situação hipotética. Alberto, pretendendo
matar Bruno, desferiu contra este um disparo de arma de fogo, atingindo-o em região letal. Bruno
foi imediatamente socorrido e levado ao hospital. No segundo dia de internação, Bruno morreu
queimado em decorrência de um incêndio que assolou o nosocômio. Nessa situação, ocorreu
uma causa relativamente independente, de forma que Alberto deve responder somente pelos atos
praticados antes do desastre ocorrido, ou seja, lesão corporal.
A assertiva foi considerada INCORRETA. #EXPLICACOACH: A morte por queimaduras não está
no desmembramento fático da ação de realizar disparo de arma de fogo contra alguém. Portanto,
trata-se de causa superveniente relativamente independente que por si só produziu o resultado. No
entanto, Alberto responderá pelos atos já praticados, em conformidade com o seu dolo, que não
era de lesionar, e sim de matar. Assim, responderá por tentativa de homicídio.
Pessoal, até aqui, vimos o nexo de causalidade físico. No entanto, existem alguns crimes que
possuem resultado naturalístico, sem contudo apresentarem a relação de causalidade física entre ele e a
conduta. São os crimes omissivos impróprios, para os quais foi necessária a criação, por lei, de um nexo
de causalidade específico, do qual trataremos a partir de agora.
CAUSALIDADE NA OMISSÃO
Os crimes omissivos têm como base de autoria a violação de um dever de agir. Esse dever pode ser
de duas naturezas:
»» Dever geral de agir: baseado em um dever geral de solidariedade com os demais. Sua violação
possibilita a responsabilização pela mera omissão, em razão da violação de um mandamento de
agir previsto em tipos penais específicos. São os chamados crimes omissivos próprios. Exemplo:
omissão de socorro (art. 135, CP).
»» Dever especial de agir: nesse caso, tem-se a violação de um dever de agir para evitar um
resultado. A violação desse dever dá origem a um crime omissivo impróprio, que é aquele
em que se responde pelo tipo de crime comissivo, em razão de uma omissão, daí também
ser chamado de crime comissivo por omissão. Como nesses crimes também há um resultado
naturalístico, precisa também haver um nexo causal. E é desse nexo que vamos tratar!
Esse nexo causal não poderá ser físico, pois a conduta omissiva de quem violou um dever especial
de agir não pode gerar um resultado em uma relação naturalística de causalidade. Por essa razão,
foi necessário que a lei criasse um nexo causal normativo, isto é, a lei define as hipóteses em que
determinadas pessoas possuem dever especial de agir para impedir resultados lesivos.
Essas pessoas são chamadas de garantidoras. A grande maioria dos casos de responsabilização de
garantidores se dá nas hipóteses do artigo 13, parágrafo 2o, do Código Penal. São elas:
Há também outros casos em fora do Código Penal em que a lei cria esse dever especial de agir,
como é o caso da lei 9.605/98 (lei de crimes ambientais), em relação ao diretor, administrador, membro de
conselho e de órgão técnico, auditor, gerente, preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo
da conduta criminosa de outrem, deixa de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la.
»» Não é em todo caso de omissão que existe causalidade normativa, apenas na omissão imprópria.
»» A condição de garantidor é elementar do crime omissivo impróprio. Por isso, ainda que subjetiva,
poderá ser estendida ao partícipe (art. 30, CP).
»» Exemplo: A babá (garantidora) cuida de uma criança na praia. Uma amiga da babá se junta
a ela e a criança começa a se afogar. Não há salvamento e a criança morre. As hipóteses de
responsabilização aqui são as seguintes:
a) Se a babá deixa de salvar e a amiga também, ambas com dolo, a babá responderá pelo
resultado morte e a amiga por omissão de socorro.
b) No entanto, se a babá é convencida pela amiga a deixar de salvar a criança, esta poderá
responder também pelo resultado morte, já que se torna partícipe do crime da babá,
comunicando-se a sua posição de garantidora.
»» Por ser elementar do crime, o erro sobre a condição de garantidor é erro de tipo. Exemplo:
pai deixa de salvar criança e após o falecimento vem a descobrir que era seu filho, que a mãe
manteve em segredo. Se era impossível que ele soubesse da sua condição fática de garantidor,
o erro é invencível e ele responderá apenas pela omissão de socorro.
A omissão continua sendo um nada, uma conduta negativa. Do nada, nada surge. Não se pode
dizer que a mãe causou a morte, mas que a mesma não IMPEDIU ou EVITOU a morte. Por isso se
fala, aqui, em nexo de não impedimento ou de não evitação.
Pessoal, por hoje ficamos por aqui. Espero que tenham gostado da dica e que ela
contribua para somar mais um ponto aos muitos que vocês terão na prova!
Grande Abraço!
Maurício Travassos