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ENCONTRO DE JOVENS CIENTISTAS PROMOVE

EDUCAÇÃO CIENTÍFICA HÁ 10 EDIÇÕES


Evento ultrapassa a ideia de feira de ciências e se consolida como evento científico, social e cidadão.

E
m 2019 o Encontro de Jovens a ajuda deste mediador. Por isso, todos eles te inovador numa Instituição de Ensino Su-
Cientistas realiza sua décima edição. são considerados jovens cientistas. perior. Apesar do crescimento da Extensão
Mas a história começa muito antes da Universitária em nosso País, dedicar-se a
Os centros avançados de ciências cresce-
sua primeira edição ser concretizada. estudantes da educação básica ainda é algo
ram tanto, inclusive em cidades do interior
No Instituto de Biologia da Universidade inovador”, explica.
do Estado da Bahia, que surgiu a ideia de
Federal da Bahia (Ufba) funciona desde
reunir toda aquela galera para compartilhar Para realizar a décima edição em 2019, que
2005 um projeto de educação científica com
os conhecimentos que estavam produzindo teve 700 inscritos de cerca de 40 instituições
um centro avançado de ciências. A ideia de
em seus centros. Foi aí que se organizou o de ensino públicas e privadas – 13 de Salva-
montar este projeto foi de três educadoras:
Encontro de Jovens Cientistas da Bahia, em dor e 12 do interior do estado – o maior de-
uma bióloga, uma química e uma pedagoga
outubro de 2006. O primeiro evento acon- safio foi a falta dos recursos para a realização
(Rejâne M. Lira da Silva, Rosely C. Lira da
teceu no prédio da Faculdade de Medicina do evento: “Estamos vivendo uma crise sem
Silva e Josefa Rosimere Lira da Silva). A
da Bahia, no Terreiro de Jesus, em Salvador. precedentes na história do nosso País e foi
intenção era trazer estudantes da educação
Reuniu os jovens cientistas dos quatro cen- um grande esforço realizar este evento. Não
básica, principalmente de escolas públicas,
tros de ciências que funcionavam na épo- há recurso para a educação, para a Ciência,
para fazer pesquisa científica dentro da
ca para apresentar os seus experimentos, nem para a Tecnologia e por isso mesmo pre-
universidade, por meio de um programa
suas pesquisas de comunicação oral, vídeos cisamos lutar!”, diz.
chamado Iniciação Científica Júnior.
científicos que tinham produzido e assistir
Além da apresentação dos trabalhos dos Jo-
Deu certo! Foram feitas parcerias com al- conferências de cientistas para
vens Centistas em diferentes modalidades
gumas escolas da cidade, que passaram a
compreender, através das suas histórias de – jogos, experimentos, apresentações orais,
implantar em colaboração com a Ufba estes
vida, como era o ser humano por trás da fotografias e vídeos – o Encontro de Jovens
centros Avançados de ciências. Lá, os estu-
ciência. Cientistas ofereceu uma vasta programação
dantes desenvolviam pesquisa científica
educativa: exposição sobre animais peço-
dentro da área que gostariam de seguir no Os anos foram passando e as possibilida-
nhentos, ciclos de conferência com cientistas
futuro: física, medicina, comunicação, psi- des se abrindo: nas edições posteriores
renomados, lançamento da Revista Jovens
cologia, moda e muito mais. Tinha espaço do evento poderiam participar estudantes
Cientistas e o Prêmio Jovem na Ciência. O
para tudo! Toda a atividade era mediada de quaisquer escolas do estado da Bahia e
evento ultrapassa a ideia de uma simples fei-
por um professor, que tinha o papel de es- até de outros estados do Brasil. De acordo
ra de ciências: é um evento científico, educa-
timular, instigar e orientar. O estudante ia com a professora da UFBA e coordenado-
tivo e cidadão para promover a educação, a
construindo o seu conhecimento sobre o ra do Encontro, Rejâne Lira, a empreitada
vocação e divulgação científica para e com a
tema através de pesquisa profunda, conhe- não é das mais fáceis: “Não tem sido fácil,
juventude.
cendo e aplicando o método científico, com pois há quinze anos isso era absolutamen-
Editorial
Estimados Estudantes, Professores,
Conferencistas, Pais e demais par-
ticipantes,

Estamos vivendo uma crise sem


precedentes na história do nosso
País e foi um grande esforço reali-
zar este evento com e para vocês,
mas conseguimos! Não há recurso
para a educação, para a Ciência,
nem para a Tecnologia e por isso
mesmo precisamos lutar!

A nossa principal produção é, sem


dúvida, testemunhar o crescimen-
to dxs estudantes, que muitas ve-
zes chegam tímidxs e insegurxs,
mas com brilho nos olhos e aqui se
transformam movidos pelo desejo
pelo conhecimento.

Às/aos Professoras (es), Diretoras

EXPOSIÇÃO TRAZ À
(es) e Coordenadoras (es) Peda-
gógicas (os) da Educação Básica,
Orientandas (os) da Graduação e
da Pós-graduação, Estagiárias (os)
e Bolsistas, parceiras (os) nesta jor-
nada, a minha justa homenagem
TONA LENDAS SOBRE OS
por acreditarem e construírem este
sonho conosco.
ANIMAIS PEÇONHENTOS
Este é um Evento Científico, mas

C
também Social Educativo e Cidadão. omo parte da programa- e pode se transformar também
Aproveitem a Universidade Federal ção do 10° Encontro de numa tora em brasa, queiman-
da Bahia, que abre as portas para Jovens Cientistas, a ex- do aqueles que põem fogo nas
nós com 73 anos de história, orgu- posição “Salve Boitatá, a matas e florestas. O termo é a
lho de todos os que moram na cida- serpente de fogo!” foi promo- junção das palavras tupis "boi"
vida pelo Núcleo Regional de e "tatá", significando "cobra" e
de do Salvador da Bahia, berço da
Ofiologia e Animais Peçonhen- "fogo".
Ciência e da Cultura na Bahia.
tos da Universidade Federal da
Bahia (Noap, Ufba). Utilizando Para Rejâne Lira, coordenadora
zoologia Viva, mostra de bis- da exposição, uma visita à ati-
cuits, zookits e jogos, o obje- vidade pode ajudar o visitante
tivo da exposição foi dialogar a aprender sobre os animais
com o público sobre os animais peçonhentos e lendas a respei-
peçonhentos. to desses animais, incluindo os
nomes que os indígenas dão a
A ideia do nome da exposição esses bichos: "O nosso intuito é
vem em comemoração a 2019 contribuir para aumentar a re-
como Ano Internacional das flexão sobre a necessidade ur-
Línguas Indígenas. No folclore gente de preservar, revitalizar
Profª. Drª. Rejâne Maria Lira-da-Silva brasileiro o Boitatá é uma co- e promover as línguas indíge-
Coordenadora do 10º Encontro de Jovens Cientistas bra de fogo gigante que protege nas em todo o mundo", explica.
os campos contra aqueles que
o incendeiam. Vive nas águas

Informativo Oficial do 10º Encontro de Jovens Cientistas. Programa Social de Educação, Vocação e Divulgação Científica da Bahia, Universidade Federal da
Bahia. Endereço: Rua Barão de Jeremoabo, 147, Campus de Ondina, Instituto de Biologia. CEP 40.170-290, Salvador/BA. Telefone: (71) 3283-6564. E-MAIL:
imprensajovenscientistas@gmail.com. BLOG: www.encontrodejovenscientistas.wordpress.com. COMISSÃO ORGANIZADORA: Rejâne Maria Lira da Silva (co-
ordenadora); Ana Caroline Caldas de Almeida, André Luís Melo dos Santos, Bárbara Rosemar Nascimento de Araújo; Bruno Pamponet Silva Santos; Caio
Vinícius de Jesus Ferreira dos Santos; David Santana Lopes; Isa Malena Góes Cerdeira Araújo, João Carlos Ferreira Lima; Jorge Lúcio Rodrigues das Dores;
Josefa Rosimere Lira da Silva; Micheli Ferreira Fonseca Rocha, Rafaela Santos Chaves; Rosely Cristina Lira da Silva; Therezinha Vasconcelos Santos Brasil,
Yukari Figueroa Mise. ASSESSORIA DE IMPRENSA: Mariana Rodrigues Sebastião (Jornalista, DRT BA 4260). Apoio: Caio Vinícius de Jesus Ferreira dos Santos.
PROJETO GRÁFICO/DIAGRAMAÇÃO: Mariana Pimentel de Paula. Identidade Visual: Thais Mota.
HISTÓRIAS DE CADA UM(A):
QUANDO TODAS E TODOS SÃO IMPORTANTES

A
Universidade não é só dos A ideia do “Histórias de Cada Um” Muito mais do que Refletir sobre
muros para dentro. Ela pre- é inspirada na oficina de uma pro- a formação histórica, social e pes-
cisa ser também dos muros fessora da educação básica pública soal dos jovens, desenvolvendo o
para fora. Por isso, um dos da Bahia, que desenvolveu a ideia sentimento de pertença à essa for-
seus pilares é a extensão. Na Uni- com seus alunos dentro da escola. mação, “Histórias de Cada Um(a)”
versidade Federal da Bahia (UFBA) A ACCS BIO A82 ampliou a ideia e ajuda a refletir sobre como sonhos,
uma das atividades para tornar a a levou para duas comunidades do medos, inseguranças, pequenas
extensão uma coisa real é a Ativi- interior baiano. A primeira foi São e grandes alegrias e pequenas e
dade Curricular em Comunidade em Francisco do Paraguaçu, distrito de grandes tristezas e frustrações são
Sociedade (ACCS). Independente de Cachoeira. Quarenta e sete jovens praticamente as mesmas em todos
qual curso façam, os estudantes da entre 4 e 31 anos contaram a suas os lugares.
UFBA são livres para se matricular histórias que formaram o volume 1
nas ACCS. Elas são verdadeiros es- do vídeo-livro “Histórias de Cada Embora os jovens ainda estejam em
paços de intercâmbio de experiên- Um”. Vídeo-livro porque além de fase de construção das suas identi-
cias e conhecimento. serem escritas, as histórias tam- dades e personalidades, que nesse
bém foram gravadas em vídeo e momento circula entre conflitos e
No Instituto de Biologia funciona reunidas num pen-drive. questionamentos que se estendem
uma dessas ACCS, que se chama até a adolescência, inclusive até a
Programa Social de Educação, Voca- A segunda comunidade foi Lençóis, fase adulta, num processo de cons-
ção e Divulgação Científica, ou para e 15 jovens, 1 professora e 1 mãe trução pessoal, demonstra como
ficar mais fácil, apenas ACCS BIO contaram suas histórias. A iniciati- família, amigos/as, lugar onde se
A82. Um dos trabalhos dela está va gerou o volume 2 do vídeo-li- nasce e vive é importante, não im-
voltado para comunidades quilom- vro. E não parou por aí: em 2019 porta qual seja este lugar.
bolas do interior da Bahia e envol- o volume 3 do “Histórias de Cada
ve a construção de um livro auto- Um” foi o espaço das crianças. Para baixar o livro ‘Histórias de
biográfico intitulado “Histórias de Trinta e quatro alunos da Escola cada Um(a)’ acesse www.salaver-
Cada Um(a)”. Essa iniciativa já gerou Municipal Nova do Bairro da Paz, deufba.wordpress.com
3 volumes deste livro nos quais jo- em Salvador, entre 8 e 10 anos di-
vens escreveram a história das suas vidiram seu cotidiano, seus sonhos
vidas com a ajuda dos estudantes e lembranças que marcaram as sus
da UFBA que integram a ACCS. vidas.

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E NT R O N
U E R A M
CACIQ MBÁ
TU P I N A

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amon Souza Santos, conhecido como Cacique Ramon Ytajibá Tupinambá, é uma das principais
lideranças do Território Ancestral Indígena Tupinambá de Olivença, localizado em Ilhéus, no Sul
da Bahia. Este ano, o Cacique foi um dos conferencistas do Encontro de Jovens Cientistas e falou
sobre os valores da sua comunidade indígena e a importância deste povo na formação do Bra-
sil. A palestra foi em comemoração ao Ano Internacional das Línguas Indígenas, comemorado em 2019.
Confira entrevista com essa liderança!

EJC – O senhor tem uma vasta mili- a minha comunidade, trabalhamos em voltados para o nosso bem viver. Nes-
tância na luta pela valorização do seu coletivo, somos iguais. Porém há ne- te momento estamos terminando de
povo e território. Como isso começou? cessidade de luta, pois não temos mais construir o nosso núcleo escolar com
o nosso território, já que ele foi trans- recursos próprios e temos farinheiras
CR – Desde pequenos somos prepara- formado em cidades, bairros e distri- que produzem a nossa própria farinha
dos para seguir lutando e trabalhando tos. Hoje estamos aglomerados em um de alta qualidade na região. Também
coletivamente com toda nossa comu- território bem menor e aguardamos trabalhamos com a medicina natural
nidade para conseguirmos os nossos a demarcação do nosso território in- com aquelas pessoas que precisam.
objetivos. A nossa principal luta é pela dígena de acordo com o cumprimen- Conseguimos em 2010 inserir a ener-
garantia dos nossos territórios sagra- to da Constituição Federal de 1988. gia elétrica na comunidade e recente-
dos, para dar condição de sobrevivên- Muitas dificuldades existem porque mente o sistema simplificado de água
cia às nossas florestas, principalmente trabalhamos com famílias e nem todos para o abastecimento das famílias.
a Mata Atlântica e manguezais e tudo têm o mesmo pensamento, mas vamos Estamos sempre trabalhando na ali-
que há dentro desse território. ajustando os nossos passos em assem- mentação natural, orgânica, sem o uso
bleias e reuniões. Mas o nosso maior de agrotóxicos e sempre aprendemos
EJC – Por toda essa luta, hoje o senhor problema ainda é o avanço de minera- a trabalhar com as fases da lua. Tudo
tem visibilidade e representa o seu doras com a destruição das nossas flo- isso tem a ver com a minha história e
povo em ambientes externos à sua restas e nascentes, além da dificuldade cada dia aprendo mais.
comunidade. Enfrentou dificuldades de acesso aos recursos públicos do go-
para chegar onde está hoje nesse sen- verno, já que tudo é muito tecnológico EJC – Como cacique e representante
tido? Se sim, quais foram essas dificul- sem ser social. do povo Tupinambá, o que ainda gos-
dades e como conseguiu resolvê-las? taria de fazer? Aonde ainda gostaria
EJC – O que hoje mais lhe encanta nos de chegar?
CR – Estou na frente da comunidade projetos que consegue desenvolver
há 14 anos, apesar de ser jovem. Fui dentro e fora da sua comunidade e CR – Recentemente terminei minha
preparado para isso desde pequeno que têm a ver com a sua história? graduação em artes e linguagens
assim como os anciãos e os encantes pela Universidade do Estado da Bah-
da floresta, mas não sou maior do que CR – Nossos projetos internos são mais ia (UNEB) e fiz uma pesquisa voltada

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para o fortalecimento da nossa língua que se fala do indígena, é tudo sobre o as nossas escolas, desde a pré-escola
Tupinambá. Me filiei a um partido com índio passado, não existe o índio pre- ao ensino médio. Nossos professores,
o intuito de mostrar que conseguimos sente. O próprio nome “indígena” já diretores e vice diretores são todos in-
alcançar um cargo representativo no tem uma trajetória, povos originários dígenas.
parlamento e conseguimos pela pri- de várias formas e troncos linguísticos.
meira vez alcançar mais de 2 mil vo- São 5 troncos linguísticos dentro do EJC – Que mensagem de estímulo dei-
tos num trabalho movido apenas pelo Brasil com 325 povos e mais 185 lín- xaria aos jovens que serão os futuros
respeito ao próximo e sem recursos guas indígenas ainda faladas no nosso profissionais e pesquisadores que fa-
financeiros para campanha. Isso foi país, e o povo Tupinambá, o qual eu rão a diferença para o nosso país?
muito importante. Ainda gostaria de pertenço, é do tronco Tupi. Tivemos
ver meus jovens acessando a univer- várias dificuldades, invasões de terri- CR – Vocês não são o futuro, vocês são
sidade, uma universidade que tenha tório, não só de quem veio colonizar, o presente, que é para ser construído
respeito pelos saberes e fazeres dos mas também dos próprios jesuítas, coletivamente, de modo a desenvol-
povos originários, pois ainda somos que aprenderam nossas línguas para ver os dons de cada um, para depois
pesquisados por elas, mas não há um nos dominar e acrescentar o dialeto a gente pensar nesse futuro, porque o
retorno para as nossas comunidades. deles, trazer a religião deles e isso co- futuro é algo além do dia, então não
Gostaria que fossemos assumidos por meçou a impactar dentro das nossas conseguimos prever o que vai acon-
essas instituições de forma respeitosa. comunidades. Como nós somos povos tecer. Então primeiros fazemos cons-
primeiros de contato, passamos por truções para o presente, somos impor-
EJC – Estamos no Ano Internacional todo esse trabalho, mas ainda estamos tantes no agora. E é dessa forma que
das Línguas Indígenas pela Organi- aqui resistindo dentro desse processo. a gente precisa se sentir enraizado,
zação das Nações Unidas. Sendo uma Lembrando que Salvador é território conhecedores da nossa linhagem, de
pessoa que vivencia isso todos os dias, Tupinambá. Falo isso porque Salvador onde viemos enquanto entes formado-
como acha que esse reconhecimento hoje é a maior cidade do estado da res e transformadores de um país, da
pode ser feito na educação básica das Bahia com indígenas declarados urba- sua casa, do lugar onde você está ou
grandes cidades? nos. da sua escola. Todo esse caminho só
pode acontecer se a gente compreen-
CR – Há uma defasagem ainda dentro EJC – Pode nos contar um pouco sobre der quem somos nós. “Quem sou eu?” É
do nosso contexto brasileiro de educa- o projeto que você e parceiros reali- uma pergunta que fazemos… que vocês
ção básica, que nem compreendemos zam na sua comunidade, de resgate da possam perguntar isso aos seus pais,
o que é. Acreditamos que a educação é língua Tupinambá? avós, porque a partir da trajetória da
vivenciada, construída e compartilha- sua família você vai poder se construir
da, ela está em tudo, seja na árvore, CR – Tem alguns linguistas que estão ou se desconstruir para saber de que
na Terra, na água ou no peixe. Também fazendo esse trabalho conosco aqui forma ajudar no hoje dentro do nosso
está no ato de sermos doadores entre para ter esse fortalecimento da nos- país. Que Tupã Nhanderú (Deus Maior)
nós, respeitando o outro. Isso é educa- sa língua. Iniciamos o trabalho com e nossos encantos da floresta estejam
ção. Quanto à questão das línguas, não os anciãos de mais de 100 anos, que com vocês e que nessa roda de diálogo
é só essa questão que preocupa, mas conheceram os seus bisavôs e ainda e grande ritual possamos trocar mui-
trazer o que aconteceu e o que acon- conversavam na língua e a conheciam, tas ideias e ensinamentos um para o
tece com os povos originários desse com o intuito de fazer esse reaviva- outro. Kwekatu! (Gratidão!)
país. É tudo muito supérfluo sobre o mento. Temos esse trabalho em todas

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E NT R E S
N A T E L L
SUZA LIMA
C U N H A

C
oordenadora do Laboratório de Bioprospecção e Biotecnologia do Instituto de Biologia da UFBA,
a professora Suzana Telles Cunha Lima foi uma das Conferencistas do 10º Encontro de Jovens
Cientistas. Sua carreira de pesquisadora já lhe rendeu vários prêmios e os seus trabalhos estão
concentrados em áreas de inovação nos campos da Biotecnologia de Microalgas, Bioprospecção
de Fitofármacos e Bioquímica de Proteínas. Quer saber mais sobre tudo isso? Então confira essa super
entrevista da professora!

EJC: A senhora é bióloga com estu- fícil relacionamento, na iniciação e no tecnologia tem papel fundamental para
dos em biotecnologia de microalgas, doutorado. a economia e ao mesmo tempo para o
bioprospecção de fitofármacos e bio- desenvolvimento sustentável? Se sim,
química de proteínas. Poderia nos EJC: O que hoje mais lhe encanta nas quais são esses?
explicar brevemente o que seria cada áreas que estuda?
uma dessas coisas? S: Sim, a biotecnologia é justamente uma
S: A aplicação dos resultados e a possi- área interdisciplinar que utiliza de orga-
S: Bioprospecção é a busca de molécu- bilidade de resolver problemas impor- nismos e moléculas produzidas por eles
las de importância farmacológica em tantes. para obter itens de importância econômi-
animais, plantas e micro-organismos. ca como remédios, biodiesel, alimentos,
EJC: Existe alguma temática que pes- fármacos, polímeros, marcadores toxico-
EJC: Em que momento da vida decidiu soalmente considera mais gratificante lógicos, ambientais, de doenças, e uma
que esse era o campo que queria se- de trabalhar/pesquisar? ampla gama de produtos e nano-produtos.
guir?
S: Atualmente, as microalgas e a EJC: Que mensagem de estímulo deixaria
S: Não houve um momento específico, bioprospecção destes organismos. aos jovens que estão descobrindo as suas
foi o resultado de uma interdiscipli- vocações e querem ser profissionais e
naridade ao longo de minha formação EJC: Como profissional e pesquisadora,
pesquisadores que farão a diferença para
acadêmica. o que ainda gostaria de fazer? Aonde
o nosso país?
ainda gostaria de chegar?
EJC: Enfrentou dificuldades para che- S: Não desistam com as dificuldades eco-
gar onde está hoje em sentido aca- S: Gostaria de fazer mais extensão o
nômicas atuais. Fazer o que se gosta é ex-
dêmico e profissional? Se sim, quais que, atualmente, o tempo dedicado à
tremamente benéfico pra viver uma vida
foram essas dificuldades e como con- pesquisa não permite.
feliz. A ciência é linda, intrigante, hetero-
seguiu resolvê-las? gênea e, acima de tudo, para todos! Esta
EJC: Este ano o tema da Semana Na-
será a ferramenta para sairmos de todas
S: Sim. O fato de ser mulher num labo- cional de Ciência e Tecnologia é Bioe-
as dificuldades do momento e do futuro.
ratório (na USP e UNICAMP) dominado conomia: Diversidade e Riqueza para o
por homens, muitos orientadores de di- Desenvolvimento Sustentável. A bio-

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Foto: Reprodução Edgar Digital UFBA
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ENT R D E
N A N D R A
JAI L S O

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residente da Academia de Ciências da Bahia e Fellow da Royal Society of Chemistry, o professor Jailson Andrade
tem uma longa estrada como pesquisador: é Licenciado e Bacharel em Química, Mestre em Ciências e Doutor em
Química Analítica e Inorgânica. Além de ser Professor Titular da UFBA aposentado, é Professor Titular e Pró-Rei-
tor de Pós-graduação e Pesquisa do Centro Universitário SENAI-CIMATEC. Em 2016 a Sociedade Brasileira de
Química criou o Prêmio que leva o seu nome e é conferido a professores e estudantes que tenham contribuição original e
criativa para a formação do Químico. O professor Jailson foi um dos Conferencistas do 10º Encontro de Jovens Cientistas
e concedeu entrevista ao Pergaminho Científico. Confira!

Pergaminho Científico - O senhor tem uma PC - Como profissional e pesquisador da Unidas. O intuito é reconhecer a Tabela como
vasta experiência como pesquisador da quí- química, o que ainda gostaria de fazer? uma das conquistas mais importantes da
mica. Em que momento da vida decidiu que Aonde ainda gostaria de chegar? ciência moderna. Como pesquisador da Quí-
esse era o campo que queria seguir? mica, como acha que esse reconhecimento
JA - Olhando apenas para a química, em pode ser feito na educação básica?
Jailson Andrade – Quando participei do curso vista da trajetória, nunca estou acostuma-
colegial, tive um professor de química bri- do com tudo. Atuei na Sociedade Brasileira JA - O feito de Mendeleiev, quando propôs a
lhante e naquele momento resolvi que faria de Química (SBQ), passando por todos os Tabela Periódica, comparo com Newton com
química, por influência desse professor. cargos administrativos até alcançar a presi- a lei da gravitação universal e Darwin com
dência... Fui conselheiro e editor da revista a vida... Como ela progride. Newton mostrou
PC - Enfrentou dificuldades para chegar onde da SBQ. Também coordenei workshops da a organização do universo e da gravida-
está hoje em sentido acadêmico e profissio- American Chemical Society e até participei de... E Darwin, como a vida progride, como
nal? Se sim, quais foram essas dificuldades e de sua criação. Também sou associado da os seres vivos evoluem e se organizam...
como conseguiu resolvê-las? Royal Society of Chemistry. Tive atuações Mendeleiev mostrou quais são os tijolos
muito fortes no CNPq (Conselho Nacional que compõem todas essas coisas, que são
JA – Considero que tive mais facilidades do de Desenvolvimento Científico e Tecno- os elementos químicos, que se combinam e
que dificuldades... no início do curso de gra- lógico) e Capes (Coordenação de Aperfei- formam moléculas. Esses três são gigantes.
duação, encontrei com o professor Gildásio çoamento de Pessoal de Nível Superior). Eles descreveram a vida e o universo.
que me convidou para dar aulas de mate- Desde muito jovem eu já desempenhava
mática no colégio de São Salvador. Enquanto atividades em sociedades de Pesquisa... PC - Que mensagem de estímulo deixaria aos
fazia o curso, eu dava aulas em instituições Fui professor titular da UFBA por meio de jovens que estão descobrindo as suas voca-
de ensino básico, angariando experiências... ções e querem ser profissionais e pesquisado-
concurso, ingressei na Academia Brasileira
A maior dificuldade era conciliar a docência
de Ciências. Fui condecorado com a Ordem res que farão a diferença para o nosso país?
no colegial e estudar na graduação. Mas as
Nacional Do Mérito Científico por Fernan-
duas coisas acabaram por auxiliar na minha
do Henrique Cardoso e também fui elevado JA - Comparando os seres vivos ao vege-
formação. No momento em que me formei,
Gran Cruz da Ordem no governo Lula. Fiz tal, a primeira coisa que surge no vegetal é
me tornei professor colaborador universitá-
uma trajetória grande. Há uns nove anos a raiz, depois o caule, depois os frutos, de
rio, deixando as aulas de matemática e física
do colegial. A partir daí ingressei na pesquisa ajudei na criação da Academia de Ciências modo que não há frutos sem raiz. Com isso,
para alcançar o mestrado e o doutorado... Em da Bahia e assumi a presidência após o a educação é a raiz que fixa. Sem Educação
seguida fiz concurso para professor auxiliar professor Roberto Santos. não há ciência, tecnologia, inovação e pro-
na UFBA e as coisas foram desencadeando dutos. Nessa fase, a educação é tudo para
para melhor, e assim fui construindo uma car- PC - Estamos no Ano Internacional da Tabe- alcançar o futuro. Onde eles quiserem che-
reira de professor pesquisador. la Periódica pela Organização das Nações gar, o caminho é a educação.

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Foto: Reprodução Câmara UFMS
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E NT R
IVO L E I T E

Q
uímico, doutor em educação e divulgador da ciência, Ivo Leite está disseminando o Método do Curio-
sismo-Exploratório como estratégia na Educação Científica para jovens. Desde 2001 ele coordena a
Feira de Tecnologias, Engenharias e Ciências de Mato Grosso do Sul e a Expociência Centro-Oeste.
Confira entrevista com mais um popularizador da ciência no Brasil!

EJC – O senhor tem uma vasta expe- foram essas dificuldades e como con- a química era algo parte de um mosai-
riência como divulgador da ciência. Em seguiu resolvê-las? co maior. Então ter este olhar sobre a
que momento da vida decidiu que esse divulgação científica que é um espectro
era o campo que queria seguir? IL – Ainda que tenhamos na ciência muito maior do que apenas uma ciên-
uma pérola inestimável da busca do cia, mas uma lente que nos permite en-
IL – Sempre que escuto esta afirmação conhecimento humano, falar sobre ela tender e traduzir os conhecimentos das
me faço a mesma pergunta: o quanto de fato é por vezes de muita dificul- diversas áreas das ciências, me deixa
ainda temos por fazer o papel de di- dade, porque a ciência ainda tem sua sempre entusiasmado. A possibilida-
vulgador da ciência? No momento em linguagem própria, seus próprios códi- de de conseguirmos avançar nos mais
pleno século XXI que estamos falando gos. Maior dificuldade quando se refe- distintos espaços do país para trocar
de viagens interplanetárias, me preo- re ao sentido acadêmico e profissional conhecimentos por meio da divulgação
cupa ainda escutarmos várias publica- também se refere ao trajeto que per- científica, já é por si mesmo o grande
ções sobre a terra plana. Assim como seguimos em nossas vidas. Certamen- privilégio de professor.
divulgador devo me perguntar se isto é te o dia após outros nos ensina muito,
falta da ciência no mundo das pessoas inclusive vencer as dificuldades. Mas EJC – Como profissional e pesquisador
ou simplesmente por que não existe o quando se trata da divulgação cientí- da educação em ciências, o que ainda
cultivo da ciência como propriedade fica este exercício é mais acentuado, gostaria de fazer? Aonde ainda gosta-
intelectual humana? Mas entendi des- porque precisamos olhar as ciências e ria de chegar?
de minha formação como professor sobre elas aprendermos a conhecer os
de química no ensino médio e ciências códigos para que consigamos traduzir a IL – Ainda temos muito por fazer, ape-
e matemática no ensino fundamen- complexidade, mas de forma simples o sar de termos nossa vida finita, nossos
tal que o meu papel como professor, que a ciência conversa. sonhos e nossas ideias devem ser infi-
desde 19 anos, também tinha como nitas, para permitir avançar na impor-
papel mais importante falar sobre as EJC – O que hoje mais lhe encanta na tância do que a educação e a ciência
ciências, sobre conhecimento, sobre o divulgação científica? Existe alguma permitiram levar a humanidade por
que a humanidade já havia estudado ação dentro dela que pessoalmente milhares de anos. O que tem por fazer?
e conhecido sobre determinado assun- considera mais gratificante de traba- enquanto tivermos perdendo jovens
to. E confesso que ter visto por muitos lhar/pesquisar? cheios de sonhos e com vontade de
anos o brilho dos olhos dos jovens para mudar o mundo das pessoas que pre-
compreenderem mais as ciências que IL – Desde que estive no curso de li- cisam do conhecimento que a ciência
estava falando, naturalmente me fez cenciatura plena Química me pergun- permite, para as drogas, para violência,
decidir por este caminho. tava sempre: como posso fazer que para o suicídio, ainda temos muito por
além de entender do que se trata esta fazer. Gostaria de chegar no máximo de
EJC – Enfrentou dificuldades para che- ciência também consiga partilhar? à jovens envolvidos para que possamos
gar onde está hoje em sentido aca- medida que o tempo de profissão foi ainda melhorar o nosso mundo.
dêmico e profissional? Se sim, quais me ensinando também ficou claro que

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GRANDE ANGULAR
Confira o que os nossos Jovens Cientistas trouxeram para a categoria
de fotografias da décima de Edição do Encontro de Jovens Cientistas!

AS VÁRIAS ÁFRICAS CACHOEIRENSES


Iasmin Jesus de Santana, Maria Santana Lordêlo Santos. Orientador: Filipe Arnaldo Cezarinho. Centro Educacional Maria Milza. Cruz das Almas, Bahia.

Orla do Rio Paraguaçu

“A partir do exposto, o objetivo deste trabalho é


explicitar memórias africanizadas de Cachoei-
ra, através de fotografas, relembrando histórias
Aleluia dos Santos e festejos que caracterizam o município mais Cemitério dos Pretos Igreja Rosarinho
antigo do recôncavo baiano.” dos Pretos

ROCHAS SEDIMENTARES:
DECLIVES E MONTANHAS
Autora: Renata Martins Lima. Orientador: Jordan Santos Mendes.
Escola Concept, Salvador, Bahia.

“Os declives e montanhas formados por rochas sedimentares


foram os elementos que escolhi para comporem a minha foto.
(...) Como a foto é inspirada em um elemento que compõe a
superfície da terra, decidi que a composição fotográfica deveria
ser realizada nessa superfície. As mãos que seguram a obra
artística enquadrada na foto buscam conscientizar-nos de que a
preservação da superfície terrestre está em nossas mãos.”

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DIFICULDADES ENCONTRADAS POR PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA
Alana Conceição de Jesus, Geiciane de Souza Sena. Orientador: Roque Sérgio Barbosa Oliveira. Centro Educacional Maria Milza. Cruz das Almas, Bahia.

“A pesquisa tem como objetivo mostrar as dificuldades de acessibilidade das pessoas com deficiência por meio de imagens, retratando
a precariedade dos locais com acesso público”.

A IMPORT NCIA DA FEIRA LIVRE EM CRUZ DAS REFLEXÕES SOBRE O ATUAL ESTADO DOS
ALMAS E SEUS ASPECTOS ECONÔMICOS RIOS IMBASSAY E JACUÍPE A PARTIR DA
Bruno Fabiano Santos, Natan Antônio Caldas Ribeiro. Orientador: Vanderlei Oliveira do
ANÁLISE DE FOTOS ANTIGAS E RECENTES
Nascimento. Instituições: Centro Educacional Maria Milza, Cruz das Almas, Bahia
DO MUNICÍPIO DE DIAS D’ÁVILA – BA
Maria Eduarda de Sousa Santa Rita, Wallacy Pereira dos Santos, Pedro de Jesus
Santos Neto. Orientadoras: Edilza Santana Bomfim, Flávia Luciana Oliveira da
Silva. Colégio Estadual Dr. Luís de Moura Bastos, Dias D’Ávila, Bahia.

“As feiras livres, assumiram um papel muito importante para a dinâmica econômica de
muitas cidades brasileira. O objetivo do trabalho é caracterizar as feiras livres e buscar
informações sobre a dinâmica da feira livre de Cruz das Almas.”

PODEMOS USAR A “A descrição das fotos relata e compara os rios Imbassay e Jacuípe nos mesmos
locais na outrora com a atualidade. A partir das fotos, podemos visualizar diver-
ÁGUA DA CHUVA sas situações de descuido com a saúde dos rios, o que pode ter impacto na saúde
humana e nas condições de saneamento ambiental da cidade.”

PARA FAZER TUDO?


Maria Luiza Sacramento Sanches. Orientadora: Mariana Rodrigues Se-
bastião. Agência Jovem de Notícias – Escola Estadual de Primeiro Grau São
Francisco do Paraguaçu, Cachoeira, Bahia.

“Moro em São Francisco do Paraguaçu, um distrito de Cachoeira, no Recôn-


cavo Baiano. Lá muitas pessoas costumar reutilizar a água da chuva. (...) A
fotografa mostra bem como a água da chuva é captada no quintal de uma
das casas para ser reutilizada mais tarde.”

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POR QUE A ÁGUA TRATADA ÀS VEZES
CHEGA AMARELADA OU ESBRANQUIÇA-
DA NA MINHA COMUNIDADE?
Camile Lima de Oliveira, Orientadora: Mariana Rodrigues Sebastião. Agência Jo-
vem de Notícias – Escola Estadual de Primeiro Grau São Francisco do Paraguaçu,
Cachoeira, Bahia.

“Técnicos da Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa), responsável


pela distribuição da água na comunidade, explicaram que o abastecimento é feito
por duas vias: pela barragem do Rio Catu e por um poço artesiano. Quando ela
chega amarelada é porque a água que está sendo usada para abastecer é a do Rio,
e naturalmente essa água é amarelada. Existe uma bomba que dosa os produtos
que tratam essa água. Mesmo assim, o filtro não consegue filtrá-la totalmente, e
por isso ela ainda continua um pouco amarelada.”

O QUE ESTÁ ESCURECENDO AS NOSSAS PANELAS?


Caio Carvalho de Jesus. Orientadora: Mariana Rodrigues Sebastião. Agência Jovem de Notícias –
Escola Estadual de Primeiro Grau São Francisco do Paraguaçu, Cachoeira, Bahia.

“Como mostra a fotografa, o que vemos preto nas panelas é o próprio alumínio, mas não na sua
forma metálica, e sim o óxido de alumínio. Quando guardamos as panelas no armário muito tempo
ou cozinhamos, o alumínio reage com o oxigênio, com a umidade, entre outras coisas. Tudo isso
forma esse óxido no metal que funciona como uma película protetora para evitar que ele continue
sofrendo oxidação, ou seja, que a panela continue se desgastando.”

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