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João não exagerou quando disse que o perfume era muito caro.
Davi se recusou a oferecer a Deus, sacrifício que não lhe custasse nada
(2 Sm 24.24). O mesmo Davi dizia que o Senhor era para ele o seu maior valor
“... Tu és o meu Senhor; não tenho outro bem além de ti” (Sl 16.2). O que para
muitos é desperdício, para um adorador é ainda pouco para demonstrar todo o
seu amor pelo Mestre.
O CORAÇÃO DE UM ADORADOR
Maria foi aos pés de Jesus para ungi-los e secá-los com seus cabelos.
Uma atitude que certamente causou estranheza aos demais presentes. Há uma
certa extravagância aqui. Apesar de saber que seria julgada, Maria não se
importou, e prostrou-se aos pés do Senhor.
Encontramos no hebraico alguns sentidos para a palavra adoração. O
primeiro deles é pelah: “servir, adorar, reverenciar, ministrar”. Temos também a
palavra “abîdâ”: “serviço, trabalho, ritual, adoração”, e aindasãgad: “protrar-se
em adoração”[2].
A adoração desvincula-se da música. Enquanto que o louvor preserva
laços discretos com a música, a adoração nos desvia deste foco e nos leva para
uma atitude do coração, embora saibamos que é perfeitamente possível adorar
cantando – e este é o alvo do louvor congregacional.
O coração do homem, especialmente na concepção dos antigos
hebreus, fala de “todo o ser” na sua dimensão interior, e não apenas de seus
sentimentos. Um ato de adoração na verdade é um ato do coração. Um
adorador pode, perfeitamente, estar de pé enquanto adora a Deus, mas seu
coração deve estar prostrado diante do Senhor. Adoração é rendição, entrega
e consagração apaixonada e integral ao Senhor. Ela ultrapassa a dimensão das
atitudes e gestos e abraça toda a perspectiva de uma vida em sua plenitude.
A FALSA ADORAÇÃO
“Mas Judas Iscariotes, o discípulo que ia trair Jesus, disse:
_ Este perfume vale mais de trezentas moedas de prata. Por que não foi
vendido, e o dinheiro, dado aos pobres?” (Jo 12.4-5 - NTLH).
Quando Jesus afirmou que o Pai procura verdadeiros adoradores, ficou
evidentemente subentendido que existem os falsos adoradores.
O homem de Gadara, possuído por uma legião de demônios, ao ver de
longe Jesus adentrando na província dos gadarenos, “correu e adorou-o. E,
clamando com grande voz, disse: Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus
Altíssimo? Conjuro-te por Deus que não me atormentes” (Mc 5.6-7). Esta
narrativa suscita a seguinte pergunta: Quem adorou ao Senhor Jesus, o homem
ou os demônios que nele estavam?
Na minha forma de ler o texto, entendo que foram os próprios demônios
que adoraram a Jesus. Por quê? Encontramos a resposta quando observamos
que Jesus foi identificado muito rapidamente como “o Filho do Deus altíssimo”,
pois Ele ainda estava longe quando o gadareno pronunciou este
reconhecimento da divindade do nazareno. Acertadamente, alguém disse que
hoje é difícil reconhecer que Jesus era homem, e é bem verdade que para os
contemporâneos de Jesus o difícil era reconhecê-lo como Deus. Até mesmo os
discípulos mais próximos de Jesus tinham dificuldade de reconhecer quem
realmente era Jesus, freqüentemente vacilavam entre a fé e a incredulidade.
Os homens têm dificuldade de identificar Jesus, em contrapartida, como disse
Tiago, os demônios crêem e tremem (Tg 2.19). Por estas razões, creio que não
foi o homem quem adorou a Jesus, mas sim os demônios.
Porém, obviamente, esta não foi uma adoração agradável ao Senhor. O
interesse dos demônios era convencer Jesus a não expulsá-los. Toda e
qualquer forma de adoração que seja mal-intencionada e interesseira será
classificada como falsa adoração. A verdadeira adoração daquele homem
aconteceu somente depois de sua libertação, quando ele decidiu ficar aos pés
de Jesus, e posteriormente quis seguir a Jesus como um de seus discípulos.
Se alguém decide ficar na presença de Deus e consagrar-lhe a vida para servi-
lo, este alguém está demonstrando o caráter e as implicações da verdadeira
adoração.
Não pense o leitor que, dentro da igreja, no momento do culto, onde
sabemos que o Senhor se faz presente (Mt 18.20), não haverá falsa adoração.
Jesus estava presente em Betânia, na mesma casa onde também estavam
Judas e Maria. Se fizermos a leitura deste texto (Jo 12.1-8) olhando para Maria
identificaremos a verdadeira adoração. Mas se olharmos para Judas
encontraremos a falsa adoração. Sim, os verdadeiros e os falsos adoradores
podem perfeitamente dividir o mesmo espaço físico. É possível que alguém
cante os louvores congregacionais de mãos levantadas e até mesmo derrame
lágrimas, e mesmo assim estar apenas representando e, assim, oferecendo
uma falsa adoração ao Senhor – como se Deus pudesse ser enganado. Porém,
não nos esqueçamos que, em um caso como este, não temos o menor direito
de abordar a pessoa e acusá-la de falsa adoração. Basta que a deixemos
condenar a si mesma perante o Senhor que sonda os corações e sabe discernir
todas as mais profundas e secretas intenções (Sl 139; Hb 4.12). O juízo deve
permanecer exclusivamente nas mãos de Deus. O próprio Jesus fez assim.
Sabia quem realmente era Judas, mas o deixou livre para escolher seu próprio
destino. Jesus não lhe destituiu do cargo de tesoureiro do grupo, nem deixou
de lhe servir a ceia. Judas condenou a si mesmo.