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4 DE DEZEMBRO DE 2019

JUROS DE 8% (CHEQUE ESPECIAL): OS BANCOS VÃO


LUCRAR COM ISSO?
Por Luiz Flávio Gomes

O Conselho Monetário Nacional (em 27/11/19) decretou o limite de 8% ao mês


no cheque especial. Hoje os bancos cobram 12% ou 13% ao mês. Nem os agiotas
no Brasil cobram 8% ao mês! Nem os milicianos, que andam muito empoderados,
cobram isso!

A taxa anual de juros no cheque especial é de 305%; a partir de janeiro/20, 151%;


Canadá, é de 19% a 22%; Portugal, 15,7%; França, 13,81%; Espanha, 7,5%, ao ano
(O Estado de S. Paulo 1/12/19). Com essa política extorsiva de juros (e de crédito)
é quase impossível imaginar crescimento econômico sustentável no Brasil.

Cada país tem sua realidade, claro. Mas a realidade de Portugal e Espanha não é
tão diferente do Brasil. Nós estamos sendo muito roubados! Pagamos juros dez
vezes mais que Portugal! Vinte vezes mais que Espanha! Não se trata de um
roubo?

Falou-se em corrigir falha do mercado (falta de concorrência, não contribuição


dos bancos para a redução dos juros etc.). Mas tudo isso vira blá-blá-blá quando
os bancos podem até lucrar (isso mesmo: “lucrar”) com a redução de juros.

Como assim? Na regulamentação do CNM há um pulo do gato: os bancos poderão


jogar essa conta nas costas de todos os que possuem cheque especial, mesmo
sem usá-lo!

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Socialização da “conta”: todo mundo que tem cheque especial (com limite acima
de $500 reais) vai pagar tarifa de 0,25% sobre esse limite (descontados os $500
reais. Quem tem $10 mil de limite, por exemplo, vai pagar $23,75 por mês ou
$285 reais no ano (mesmo não usando o cheque especial!). Nos EUA a taxa anual
de uso do cheque especial e de $35 dólares (O Estado de S. Paulo 1/12/19).

Coisa doida: só numa plutocracia como o Brasil isso acontece! Os bancos são
necessários em qualquer sociedade capitalista. Cumprem um papel social, mas
seus abusos são abomináveis.

Tarifa, como taxa, só pode ser cobrada quando um serviço é efetivamente


prestado. Disponibilizar crédito de cheque especial ao correntista, muitas vezes
sem ele pedir (frequentemente sem nenhuma solicitação!), é prestação de um
serviço ou uma oferta potencial de serviço? Disponibilizar um serviço já é
“prestar” o serviço? Vai haver questionamento judicial, certamente.

Os bancos, que são os líderes máximos da nossa plutocracia (elites que


concentram a riqueza da nação nas suas mãos), arrecadarão uma fortuna incrível
(repita-se: de quem não usou o cheque especial!). Não importa se você é de
direita ou de esquerda, você vai pagar a conta!

Você é controlado, tem limites, não abusa e, mesmo assim, vai pagar a conta
daqueles que usam o cheque especial (muitas vezes, por necessidade, sabemos).
Como é que podem ser “punidos” os que não são culpados?

O problema: os brasileiros estão lutando entre eles mesmos (esquerda-direita).


Uns contra os outros. É uma luta horizontal. O correto é olharmos para cima,
juntos. As plutocracias, com a ajuda dos governos (de esquerda ou de direita),
estão roubando todos nós! Nossa luta tem que ser vertical.
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O poeta chileno Nicanor Parra, em 1972, lançou para a história o seguinte slogan:
“Esquerda e direta unidas jamais serão vencidas!”. Continua atual mais que
nunca.

Dividir para governar: a divisão esquerda-direita (desde o final do século XVIII)


pode fazer sentido na campanha eleitoral. Passada essa fase, o que importa é o
país, o consenso, a nação, o bem-estar e a prosperidade de todos. Isso é que é
patriotismo. O resto é divisionismo para consumar a espoliação.

Com o “tabelamento enviesado” do governo você acha que os bancos vão perder
muito dinheiro? Você acha que um governo ultraliberal na economia, da Escola
de Chicago, faria uma “intervenção no mercado” para prejudicar os bancos?
(detalhe: 76 países limitam os juros – O Estado de S. Paulo 1/12/19; normalmente
por “leis de usura”, até mesmo criminalmente).

Você acha que um banqueiro (ministro da Economia) iria reduzir os lucros dos
bancos? Bem eles que gastam milhões para financiar campanhas eleitorais!

Teria o ministro cometido o deslize do populismo? (Estadão 29/11/19). Aliás, se


os banco vão faturar muito dinheiro com a tarifa de 0,25%, você acha que o
“tabelamento dos juros” foi mesmo “populismo” ou um jogo de cartas marcadas
ou de favorecimento?

Pela regulamentação divulgada, os bancos, afinal, vão perder de um lado e


ganhar do outro. Não dão ponto sem nó! O povo diz que é mais fácil um camelo
passar pelo buraco da agulha que banco perder dinheiro em circunstâncias
governamentais tão favoráveis a ele.

Veja outro detalhe: o anúncio do Conselho Monetário Nacional, de 8% nos juros


do cheque especial, ocorreu justo quando o dólar batia o maior valor da história.
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O dólar chegou a $ 4,25 reais. Aliás, em breve, vai poder andar de metrô em São
Paulo, cuja passagem custa $ 4,30 (v. Painel, Folha).

Com base em várias fontes (UOL, Gazeta do Povo, Metrópole, Estadão, Valor e O
Globo) podemos extrair ainda o seguinte:

(i) Mesmo 8% ao mês é uma exorbitância sem paralelo no mundo (seguramente).


Só numa plutocracia de quinto mundo (baixo controle do Estado e da sociedade)
isso é possível. No Reino Unido paga-se $1 real por dia quando há uso do cheque
especial. Um! E só quando usa! Quem não usa, claro, não paga nada (O Estado de
S. Paulo 1/12/19).

(ii) Se os limites (do cheque especial) oferecidos pelos bancos aos clientes têm
custos, que se eliminem a oferta. Quando um produto não dá lucro, o melhor é
eliminá-lo da prateleira. Pior é que os próprios bancos aumentam os limites sem
autorização do interessado. E agora vão cobrar 0,25% sobre esse limite, ainda que
aumento por eles unilateralmente! É muita espoliação!

(iii) São $320 bilhões de reais não utilizados do cheque especial. Tirando a parte
isenta (limite até $ 500 reais), faça as contas de quanto os bancos vão faturar com
essa “tarifa bancária extra”? Aguardamos a ajuda dos economistas e
matemáticos para fazerem os cálculos para nós.

(iv) Os juros de 8% valem a partir de 6/1/20. A tarifa de 0,25% vale a partir dessa
data para contratos novos; nos contratos antigos, só vale a partir de 1/6/20. Se o
banco mudar o limite do crédito, já pode fazer cobrança a partir de 6/1/20. Pode
haver uma enxurrada de limites alterados a partir de 6/1/20.

(v) Juros de 8% ao mês num país com taxa de juros (Selic) de 5% ao ano, como
assim? Os bancos falam em inadimplência. No caso do cheque especial não passa
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de 15% (segundo o Banco Central). De outro lado, que tal fazer um seguro para
isso?

(vi) Os lucros dos bancos no Brasil fogem completamente da realidade mundial


(veja acima números de Portugal, Espanha etc.). Ninguém é contra banco ou
qualquer empresário ganhar dinheiro, com o seu trabalho. Fui empresário
durante 12 anos. A questão não é o lucro, é a falta de pudor, de ética! E,
sobretudo, falta de concorrência (5 bancos detêm 80% do mercado: oligopólio
abominável, verdadeiro cartel); aliás, falar em concorrência entre bancos no
Brasil é uma heresia.

(vii) Quem usar $ 1 mil reais de cheque especial, mesmo com juros de 8%, no final
de 12 meses é devedor de $2.518 reais! Como é que se pode esperar crescimento
econômico no Brasil com essas travas medonhas no crédito?

(viii) Cerca de 80 milhões de brasileiros têm cheque especial; 19 milhões (limite


até $500 reais) estão isentos da tarifa nova, mas 61 milhões vão pagá-la. Quanto
os bancos vão faturar com isso?

(ix) A dívida atual do cheque especial é de $ 26,5 bilhões. Quase 15% não têm
condições de pagá-la e não pagam. Não é possível fazer um seguro para isso?

(x) Falou-se que o limite de 8% foi uma imposição de alguns políticos. Nós, os
políticos, sem a força conjunta da sociedade mobilizada, ainda não temos essa
potência anunciada contra os bancos (que são financiadores de algumas
campanhas eleitorais; as pesquisas mostram isso – v. Bruno Carazza, Direito,
eleições e poder).

(xi) Nossa luta pela redução dos juros escorchantes cobrados no Brasil não pode
parar. Também no caso do cartão de crédito os juros são ainda uma aberração!
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Temos que amadurecer nossa revolução sem violência (“O dia em que a Terra
parou”) contra todas essas injustiças. A decência nos impõe esse dever! De
bancos precisamos, mas não de seus abusos e excessos. Se você não precisa do
cheque especial, fale com seu gerente e cancele-o.

LUIZ FLÁVIO GOMES, professor, jurista e Deputado Federal.

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