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J A C Ó & E S A Ú

Athos Aramis
capítulo 1

Cena 1.a

A
cre, 24 de dezembro de 1999. 05h50min.

Brandão: — Você pensa que eu to de brincadeira com você?


Pensa que é mais esperta que eu?

Perguntou pressionando os músculos da face, e abrindo as


narinas em sinal de puro descontrole emocional. Ele circulou ao redor
dela segurando seu machado na mão esquerda, a lamina chegava a brilhar
na penumbra da cabana. Ajoelhou-se ao seu lado sutilmente e

Brandão: — HAHAHAHA, você é uma vadia burra! Burra!

Gargalhou com sangue nos olhos e uma expressão doentia.

Milena: — Brandão, se acalma pelo amor de Deus não faz isso homem, eu
estou grávida. Não precisa você me matar, por que eu não vou agüentar,
não faz besteira Brandão, não faz besteira!!

Brandão: — Eu não vou machucar sua barriga, você acha que eu sou burro
como você? Não Milena, eu tirei você da rua e te dei uma vida que com
tua família você nunca teria, por que você não tem ninguém.

Ele andava de um lado para o outro, fechava as mãos e rangia os


dentes, não conseguia falar baixo e nem gritar por muito tempo, suas
emoções oscilavam o tempo todo.

Brandão: — Tu me destruiu, destruiu minha honra sua maldita, agora eu


vou limpa-la, com o teu sangue e com o sangue daquele outro filho da
puta, fuleiro, que eu vou capar.

Milena: — Não Brandão, não faça nada. Por favor! — falou chorando e
soluçando muito.

Brandão: — Ah, então tu ainda intercede pelo teu amadozinho não é? Me


diz, olha bem pra minha cara, no fundo do meu olho e diz: Sabe por que
você vai morrer? Quero que você me responda, sabe por que você vai
morrer praga?

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E os olhos dele, demonstraram um nível de maldade que não lhe deixava
escapar nem uma sombra de humanidade. Seus olhos malvados enchiam-se
de veias e avermelhavam-se, como o demônio. Foi com esse olhar que ele
encarou Milena ao falar. O que ele ouviu foi o silencio da noite, e o
canto dos grilos. Naquele instante tudo fez sentido. Milena voltou a
um par de anos atrás, quando conheceu outra faceta dele.

Um homem caridoso que a tirou da rua no ano em que sua mãe havia morrido. Ele a
acalentou e não se conformou com estado em que a encontrou. Estendeu sua mão branca,
grande, bonita e perguntou.

Brandão: — Você não tem pra onde ir menina? Como é seu nome?

Ela o olhou por um instante, e o vento soprou seu cabelo em meio o castanho dos seus
olhos.

Milena: — Milena senhor. Minha mãe faleceu, e eu não tenho mais parentes por aqui.
Nós somos do interior, mas não temos mais parentes por lá pela minha terra.

Ela olhou com olhos marejados de dor:

Milena: — eu não tenho ninguém senhor!

Ele se compadeceu daquela dor e seu coração o pressionou, não hesitou nem um momento
em pensar para falar.

Brandão: — Venha comigo, tenho como cuidar de você, te dar comida, e um emprego,
você aceita?

Ela o olhou incrédula, com olhos de anjo.

Milena viu seus olhos tão sofridos, pensou o que poderia levar uma
pessoa ter reações como aquelas, que vivenciou nos últimos minutos.
Queria saber qual a procedência de tanto ódio, mas antes que pudesse
terminar seu pensamento, ele gritou estrondeante, assustando-a desta
vez por completo.

Brandão: — Responda sua galinha, você sabe por que vai morrer?

E seus olhos cheios de veias, vermelhos de ódio, cerraram-se em meio a


tanto furor, Milena não teve escolha, a não ser responder enquanto
chorava de medo como um bebe.

Milena: — Brandão, eu não fiz nada, você ta enganado, seja lá quem for
que disse isso pra você, está mentindo.

Nessa fala, Brandão, fez aparecer sua personalidade sensível. Foi aí


que ele se acalmou, os movimentos bruscos se controlaram e a voz
sumiu. Ficaram ali em silencio por um tempo, Milena chorando baixinho,
já quase sem forças e Brandão sentou-se no chão a chorar, chorando
como criança. Ele chorava e balbuciava algo baixinho que foi aos
poucos ficando cada vez mais alto, até que em um supetão de emoção,
ele gritou.

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Brandão: — Mentira Milena, mentira, sua puta, vagabunda!! É assim que
você gosta?

E esfregava as partes genitais na cara de Milena de forma invasiva e


nojenta, humilhou a mulher com seus atos de assédio. Esfregavava-se na
cara dela dizendo:

Brandão: — É assim que tu gosta, putinha? Vagabunda, aaaaah que


maldição aconteceu pra você fazer isso sua galinha, agora tu vai ter
que pedir pra viver e não vai adiantar nada, por que eu vou te matar
mesmo assim. Sua prostituta!!!

Ele começou a esbofetear com as duas mãos a cara de Milena que gritava
enlouquecida, não aguetava mais aquela situação.

Cena 2.a
06h13min.

Almeida: — Mãe, to ouvindo uns gritos, penso que algo está acontecendo
na mata, a senhora ta ouvindo também?

Dona Lora: — Meu filho eu to sim, mas achei que era coisa da minha
cabeça. Tá me dando uns arrepios, acredito que não seja boa coisa meu
filho, Deus nos defenda.

Almeida: — Mãe o que ta acontecendo será? Eu vou pegar a espingarda e


vou entrar pra ver.

Dona Lora: — De jeito nenhum Almeida, você ta doido? Não tem que se
meter nesses tipos de coisa. Pode ser coisa séria e você não vai
gostar de saber o que aconteceu com quem está gritando dentro da mata!
Não vá Almeida, eu proíbo você, ta me escutando?

Almeida: Sim, mãe. Não vou desobedecer você dona Lora.

Mas quando dona Lora se virou para levar os copos que usavam para
tomar café, Almeida se aproveitou da oportunidade, pegou a estoupa e a
espingarda e saiu rápido, para que dona Lora não o visse. Ele saiu em
direção a entrada da trilha que levava ao interior da mata. Almeida
conhecia bem a parte da mata onde costumava caçar e então se sentia
seguro e habituado ao local. Ele continuou ouvindo os gritos e seu
instinto o levou até a direção do barulho.

Dona lora voltou a sala e percebeu que Almeida havia se ausentado,


logo pensou que havia desobedecido suas ordens e entrou na mata, atrás
de fogo para se queimar. Ela teve uma intuição e saiu correndo em
direção ao quarto, chegando lá, ela abriu a gaveta da cômoda e tirou
uma arma pequena, olhou para arma, engatilhou, e conspirou, cerrando
seus olhos em um pensamento intenso.

Cena 1.b
Brandão: — Eu fiz de tudo por você Milena, você ficava com chatices,
não queria que eu olhasse pra mulher nenhuma, e era o que eu fazia por
você. Eu te amo Milena, você é o amor da minha vida. Naquele dia que

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eu te encontrei no velório da sua mãe, achei você tão linda, eu era
mais jovem, tinha 16 anos mas não tinha duvida que estava apaixonado,
você era a menina mais linda de todas na minha vista. Meu pai tinha
condições, eu sabia que ele não deixaria de fazer nada do que eu
pedisse. Por isso eu mudei tua vida, vivi pra você esses nove anos
achado que você sentia a mesma coisa que eu. Mas saiba você que as
pessoas têm dois lados, e o meu amor por você, não muda em nada,
apesar do que acontecer — ele falou tudo isso calmamente, como em uma
conversa de irmão, mas mexendo muito as mãos, apertando os dedos e
chorando lentamente, aquele era ele mesmo — sabe Milena, eu pensei que
era uma pessoa e confiei nessa tal pessoa por muito tempo, precisei
apenas de alguns segundos de realidade para cair na real e saber que
aquela pessoa não existia.

06h18min.

E aí deixou o machado cair de sua mão, o que atingiu o chão fazendo um


barulho. Milena levantou o olhar e o viu chorar mais uma vez.

Milena: — Brandão não acredite em quem te contou apenas mentiras, você


é um homem tão esperto, não se deixe enganar.

Brandão a olhou com desconfiança. Mas o tom da voz. Ele conhecia o tom
da voz dela, e aquele era de quem falava a verdade. Olhou-a atônito e
com os olhos marejados. Por um segundo, ele teve a impressão de que
ela realmente falava a verdade. Mas será?

Cena 2.b
Nesse momento, Almeida chegou com sua espingarda por trás dos arbustos
da mata e avistou o movimento dentro da cabana. Resolveu que iria
ficar vendo o que tava acontecendo, dependendo do caso ele apareceria
e colocaria um fim na situação, mas por precaução, agachou-se por trás
das folhas e ficou vendo o que acontecia, só não poderia escutar bem,
por que estava a uma distancia que não favorecia a escuta.

Cena 1.c
Brandão: — Eu sou esperto Milena, tu me fode com um cara feio, menos
rico do que eu, e pequeno, o que ele tem que eu não tenho? Um pauzão?
Meu pau não é grande do jeito que tu gosta?

Brandão enxugou os olhos, se virou e tocou o rosto de Milena, ele a


olhava com um semblante apaixonado. Milena ficava tentando virar o
rosto, ele chegou perto demais e ela pode sentir o cheiro de sua
respiração ofegante, ficaram ali por um tempo e do nada ele a tentou
beijá-la, queria roubar-lhe um beijo, mas Milena relutou e gritou,
gemeu, tentando afastar Brandão, que descontrolado, tentava a todo
custo beijar Milena e virar seu rosto ao encontro do dele, e foi cada
vez se tornando mais violento, começou a rasgar a roupa de Milena,
sempre evitando sua barriga, e Milena começou a gritar, e ele dizia
que era pra ela calar a boca que iria comer ela, e ela começou a
espernear, tentando com toda força tirar Brandão de cima dela, até que
conseguiu pegar uma garrafa de vodka que estava na cabana a muito

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tempo e arremessou contra cabeça de Brandão que imediatamente se
enfureceu e pegou seu machado em um piscar de olhos, golpeando-a de
forma avassaladora com um machado afiado que dilacerou o lado esquerdo
de sua cabeça, espirrando seu sangue por todas as direções.

06h58min.

E ele a atingiu várias vezes como seu machado, e gritava como louco,
estava com sua roupa branca toda vermelha de sangue, inteiro coberto
de sangue, uma visão macabra e infernal, como se não fosse humano,
como se não houvesse sentimentos por dentro, desfigurando-a por
completo e decepando sua cabeça de seu tronco, de forma que só se
podia saber que aquela era Milena, por conta da roupa que usava e da
barriga de grávida. Milena já estava no mês de ganhar. Ele soltou o
machado, ajoelhou-se e chorou como uma criança, seu coração também
morreu, junto de sua amada. Milena.

Cena 2.c
Almeida: — Meu Deus do céu acode minha nossa senhora!

Almeida gritou de susto, se atrapalhando por completo e


disparando sem querer com sua espingarda, enquanto os miolos de
Milena ferviam no chão da cabana, como ovos fritando em óleo quente.

Cena 1.d
Quando Brandão ouviu o barulho do tiro, sentiu uma ardência repentina
no braço, passou a mão e quando olhou, estava sangrando. Olhou para
trás, com cara de demônio, sabendo que agora alguém tinha visto o que
tinha feito, seus olhos de fúria voltaram, e ele pegou seu machado e
saiu na direção de trás, por onde sentiu o tiro que pegou de raspão.
Quem será que tinha bisbilhotado sua vida? Pois certamente irá morrer
também. Saiu furioso, entrou na mata no rumo de trás da cabana pra ver
quem estava lá, encontrou só uma bainha de terçado de madeira, que ele
colocou na cintura.

Cena 2.d
Almeida pegou suas coisas e todo atrapalhado levantou-se e começou a
correr, cortando as plantas com seu terçado para abrir caminho. Mas
que medo ele estava sentindo, nunca havia visto algo como aquilo. Quem
era aquele cara? A mulher ele já tinha visto, mas será de onde?

Cena 3.a
10h00min.

Marcos falando no telefone no meio da aglomeração de pessoas que


começava a se formar na gameleira.

Marcos: — Moço, a bolsa dela estourou, meu carro melou inteirou, mas
isso não importa, ela ta aqui na beira do meio fio deitada no chão se

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contorcendo de dor, eu não tenho muito tempo de falar, vocês têm que
chegar logo, por favor!

Atendente: — Tudo bem senhor, estamos enviando uma vitura do samu para
socorrê-los. Aguarde alguns minutos e mantenha a calma, tente deixar
sua esposa tranqüila também, pronto a viatura já foi encaminhada, eles
chegarão o mais breve possível.

Marcos: — Ok, ok.

A aglomeração de pessoas não parava de crescer, e a dor de Marisa


também não. Marcos estava igual uma barata tonta no meio das pessoas.

Bendito o dia que uma grávida entrou em trabalho de parto na


gameleira.

Marcos realmente parecia ser de outra dimensão, não sabia o que fazer,
como deveria agir. Só Deus na causa. Quando ele ouviu um barulho de
sirene, e pensou que era o socorro, mas era a policia, que parou no
local e imediatamente começaram os primeiros socorros a Marisa.

Marcos correu e segurou a mão de sua amada esposa, mas a policial o


empurrou, pediu para que se afastasse pois estava tentando ajudar, a
multidão começava a aglomerar cada vez mais e o nervosismo de Marcos
também. Pobre Marcos, é um cara de boa índole e está sempre de bom
humor, tem a cabeça no lugar, trabalha duro de professor de matemática
para cuidar de sua família. É um homem que serve de exemplo para
muitos outros, e apesar de já ter 40 anos, seu filho estava nascendo,
demorou, mas estava acontecendo. Marcos tinha muita vontade de ser pai
de uma menina, para por o nome de sua mãe, Eulália, que já é falecida
a 17 anos, será uma forma de preencher a saudade que aperta dentro
dele, ele afirma. Naquele instante o homem de pés no chão estava
entorpecido, sua visão ficou turva com o burburinho das pessoas, e o
carro que desacelerou para passar do lado, o motorista colocou a
cabeça para fora da porta e deu aquela olhada marota, o cachorro
coçando a costela, os policiais afastando as pessoas, Marisa se
contorcendo de dor, e Marcos rodando no meio de tudo aquilo ao mesmo
tempo. Mais um pouco de tempo e outra uma vez aquele barulho de sirene
que tirou Marcos de suas vertigens, meu senhor, era a ambulância,
Marcos novamente correu e segurou a mão de Marisa. Ela o Olhou com
dor.

Marcos: — Meu amor, eu vou com você pra maternidade, vou ficar com
você.

Marisa: — Marcos, eu to com medo, não sei se vou conseguir. Eu to


sangrando. Olha só.

Marcos olhou e viu a roupa dela manchada de sangue.

Marisa: — Amor, acho que vai acontecer uma coisa ruim, meu Deus do céu
Marcos, eu não to bem.

Marcos: — Marisa, não fala isso nem de brincadeira, já pensou se você


fica doen...

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Marisa não deixou marcos terminar de falar, deu uma profunda fungada
de choro e exaltou a voz.

Marisa: — Marcos é sério cara, você acha que eu vou ta de brincadeira


com a dor que eu to sentindo Marcos! Me escuta homem.

Marcos ficou paralizado com a reação de Marisa.

Marcos: — Marisa, o que você quer dizer?

Marisa: — Eu vou morrer Marcos, eu acho que não vou voltar da


maternidade amor, a minha gravidez é de alto risco, por causa da idade
e a gente sabe que essa minha anemia uma hora ia fazer isso comigo.

Marcos: — Marisa, para com isso meu amor, a gente vai ficar juntos por
muito tempo ainda, isso é coisa da sua cabeça. Para com isso.

Mas Marisa chorando de dor, exaltou a voz novamente.

Marisa: — Eu vou morrer marcos, eu to sentindo já.

E nesse momento os paramédicos chegaram afastando-o de perto da


mulher, um deles segurou Marcos e perguntou se ele era parente, mas
Marcos não respondeu, estava pálido e sem expressão, seus olhos
brilhavam e ele não voltou do transe das últimas palavras de Marisa,
marcos ficou ali parado como um bambu e o paramédico o chacoalhando,
sem sucesso, por que a dor seria demais se fosse verdade, mas tinha
que ser mentira, é uma mentira, pensou ele.

Cena 4.a
Marlenilda: — Menino sai de casa, fica só na frente dessa televisão.
Vai brincar lá fora, fazer algo que faça você movimentar esse seu
corpinho, sua mente, de forma saudável!

Alison fez que nem escutou sua mãe e se acomodou no sofá de forma
esparramada. Sua mãe que limpava os moveis, pegou o controle da
televisão e desligou.

Marlenilda: Bora Alison, eu não to brincando!

Alison: — Mãe não, eu estava assistindo Dragon Balls, você não fez
isso.

E cruzou os braços em modo indignado, sua mãe deu um risinho e espanou


um elefante de porcelana enquanto dizia:

Marlenilda: — Iiiih, garoto tu me respeita viu, bora, pode ir saindo


atrás do que fazer que a mamãe tem que limpar os móveis agora.

Alison: — Posso brincar na rua?

Levantou a sobrancelha esquerda enquanto falava, marlenilda olhou


pasma de tanta cara de pau de Alison, mas naquele dia era especial,
Amandio chegaria feliz com a promoção que recebeu no trabalho, e o
abono de final de ano, então ela queria deixar tudo organizado e

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harmônico. Só por isso ela pensou no caso de poder ficar sozinha na
sala para organizar as coisas.

Marlenilda: — Vai Alison, pode brincar, mas não vai pra muito longe,
ta bom?

Alison sorriu e saiu correndo imediatamente. Marlenilda voltou a fazer


suas obrigações, afinal de contas Amandio merecia cada esforçozinho
dela.

Alison, saiu correndo porta a fora e passou direto pelo corredor das
plantinhas do papai, mas ops, ele voltou em macha ré por que algo o
havia chamado atenção. E sua expressão era de suspense, por que está
tão triste?

Alison: — Por que você está tão triste plantinha?

As marantas de seus pai permaneceram jururuzinhas, olhando para nada,


Alison sentiu tanto ver ela daquele jeito, parecia estar tão viva
ontem e hoje está tão paradinha, virada para baixo. Coitadinha.

Alison: — plantinha, eu não sei o seu nome, mas meu pai vai chegar
feliz e você não pode ficar assim hoje. Eu vou dar água pra você. Me
espera, eu volto já!!

Alison voltou correndo como pé de vento dentro de casa. Marlenilda


ficou confusa.

Marlenilda: — Alison, que correria é essa menino, vai acabar correndo


e quebrando essa cara. Eu em, Alison eu to falando com você menino!

Mas ele correu e não deu a mínima para ela. Marlenilda, voltou a
limpar um elefante abajur que tinha sido de sua avó, e lustrava o
bibelô como um tesouro, mas quanto valor sentimental ele desperta
nela.

seus olhos inundam-se em lágrimas que não caem, quando lembra de sua vózinha linda,
dona de casa, mãe de 10 filhos, sete homens e três mulheres, esposa de seu Abílio de
Lemos, professora alfabetizadora que formou muitos profissionais, senhora dos
temperos que sabia cozinhar tão bem e tinha a melhor galinha caipira de todas. Mulher
integra e religiosa, tinha muitos precei... e alison, voltou correndo com o
regador transbordando, molhando todo o chão, Marlenilda voltou do seu
devaneio.

Marlenilda: — Mas pelo amor de Jeováaaaa, Alison, tu ta molhando tudo


filho de, de, enfim, menino volta aqui, para pra me ouvir, Alison
Volta aqui!

Mas alison, mais uma vez a ignorou e seguiu correndo. Chegando perto
da porta de entrada, que dava para o corredor das plantinhas do papai,
tinha um vaso inglês, em cima da estante. Cheio de coléus coloridos e
robustos. Aquele vaso sortudo, ficou em choque quando Alison esbarrou
na estante. O vaso, coitado, balançou de um lado para o outro,
Marlenilda, abriu a boca em total surpresa e Alison, ficou olhando
tudo acontecer com um ar de inocência. O vaso, balançou para esquerda,

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para direita e em câmera lenta, caiu lindamente naquele chão
brilhante, ficando todo espatifadinho, terra para todo lado e os
coléus, coitados. Marlenilda, não teve palavras, depois daquele
barulho que fez ela fechar os olhos e os cães latirem, seus olhos
pegaram fogo e quando ela abriu a boca para dizer a, Alison saiu
correndo e a deixou sozinha. Saiu correndo como um pé de vento e
encontrou novamente uma vidinha triste. Mas do que depressa, ele aguou
a plantinha com muita ambulância, viu que aquilo era bom e se sentiu
bem, seus olhos ficaram felizes, pois sabia que aquela água era
especial, e seu coração se encheu de alegria, mas

Marlenilda: — ALISON! — falou com sangue nos olhos, aparecendo por


trás do garoto. Alison, abriu os olhos de espanto e depois os fechou.

Cena 5.a
13h30min.

Nina adorava brincar no quintal de casa, andava pra lá e pra cá com


seu cachorro, o pulguinha. Os dois eram unha e carne, carne e
cutícula, não se desgrudavam para nada. Naquele dia, nina estava feliz
por que era véspera do seu aniversário. A menina estava correndo ao
redor de casa com o amigo, foi brincando na inocência, pura como água
da fonte e seu sorriso era lindo. Nina era uma garotinha linda e
brilhante, como muitos pais sonham. Todos a amavam, por que era
diferente dos parentes, menina muito esperta, tinha um senso de
realidade incrível para uma criança, e isso fazia dela desde pequena,
uma grande pessoa. Seus sete anos seriam mais uma etapa na evolução da
menina prodígio que seus pais, Idelfonso e Rosimeire, imaginavam que
ela seria quando crescesse.

Foi correndo por ali com o pulguinha, que quando Nina ia chegando na
parte da frente de casa, viu um homem falando com sua mãe, e ela
colocou as mãos no rosto e balançou a cabeça, nina no mesmo instante
se escondeu encostando-se na parede, para que ninguém notasse sua
presença e segurou pulguinha para que ele não aparecesse também.
Olhava de canto de olho pela quina da parede e viu o homem falando
baixinho, e sua mãe parecia que estava chorando, colocando as mãos no
rosto e dizendo coisas que ela não podia escutar por conta da
distancia e seu coração começou a apertar, duvidas surgiram em sua
cabecinha. Mas o que poderia estar acontecendo para que a mamãe
começasse a chorar naquele dia, com aquele cheiro de bolo, era pra ela
ta feliz. E esse homem grande, quem será quem que é? O que será que
eles estão conversando? Nesse momento, pulguinha latiu e começou a
lamber nina, que imediatamente o segurou, ela viu quando o homem e sua
mãe olharam para o lado, querendo saber quem estava lá, viu que o
homem veio em direção aonde ela estava e depressa, correu. O homem
andou um pouco e quando chegou no corredor viu apenas o cachorro na
grama, se lambendo, e então deu as costas, saiu andando em direção a
sua mãe. Ele não viu nina por que a menina subiu no pé de manga e se
escondeu atrás dos arbustos bem quietinha, deixando pulguinha no chão
que começou a se lamber. Ficou ali em cima da arvore, em um lugar
estratégico, onde ela podia ver o homem e sua mãe até de um ângulo
melhor, e eles não podiam a ver.

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O homem voltou pra perto de Rosimeire e continuou a falar, balançava
os braços e ria, ao contrario de sua mãe que continuava de cabeça
baixa, e falando quase nada. De repente o homem pegou no braço de sua
mãe e a balançou pra lá e pra cá, assustando-a muito, mas por que esse
homem está judiando da mamãe? A mãe dela parecia chorar ainda mais e
com as mãos no rosto mais uma vez balançou a cabeça em sinal de não. O
homem passou a mão no terno, balbuciou algo que pelo gesto parecia um
boa tarde e saiu pelo portão, lá de cima da árvore, nina viu o carro e
quando o homem entrou nele. Quando ele começou a andar, nina esperou
virar a esquina para descer da arvore. Imediatamente, ela desceu e
saiu correndo em direção a sua mãe, que ainda estava parada chorando,
diminuiu o passo para não ser notada por Rosimeire.

Nina: — Você ta chorando mamãe? — E Rosimeire a olhou, sem palavras.

Cena 4.b
Marlenilda: — Alison, mas o que foi aquilo? Eu nem preciso dizer que
você ta de castigo, não é?

Alison olhou para baixo e já queria começar a chorar, poxa ele só


queria ajudar. Mas sua mãe estava irredutível.

Marlenilda: — Me fala, me fala o que foi que aconteceu que você passou
correndo molhando tudo, derrubou o vaso do seu pai, você está
encrencado rapazinho. Mas me fala, pra que essa água?

Alison, já chorando, levantou a vista e moveu-se do lugar, revelando a


plantinha toda triste, no meio das outras felizes, e imediatamente sua
mãe entendeu a intenção do filho. Mas precisava mesmo de toda aquela
energia? Marlenilda, pensou bem, suspirou, e diante da atitude do
filho, de molhar a plantinha do pai, foi vencida pelo cansaço.

Alison: — Mãe eu só queria molhar essa plantinha, por que ela estava
tão tristinha, eu achei que se o papai chegar feliz hoje, e visse a
plantinha assim, não iria mais ficar tão feliz assim.

Marlenilda: — Tá bom meu filho, você ta certo, mas não precisava de


tudo aquilo que aconteceu, já que era só uma das plantas do seu pai.
Pó você ter quebrado dele, o que é pior que a plantinha murcha, nada
de rua agora, só mais tarde Alison.

Alison: — Mas mãe, você disse que eu podia. E o vaso quebrado não é
pior que a plantinha murcha.

Marlenilda: — É sim Alison. A plantinha você deu água pra ela, mas e o
vaso, como é que você vai grudar?

Alison, viu que não tinha como vencer aquela e abaixou o olhar mais
uma vez, já chorando de novo.

Marlenilda: — Bora Alison vai pro teu quarto, pensar um pouco. Você
tem que me obedecer!

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E Alison, começou a chorar bem alto e saiu correndo, tropeçando no
regador e molhando o chão todo. Saiu correndo aos prantos, como se
alguém o tivesse batido. Sem dúvidas era um menino de muita
personalidade. Sua mãe ficou só olhando o jeito daquele menino. Meu
Deus.

Marlenilda: — Eu vou acabar doida de cuidar desse bacurizinho. Aff.

Cena 2.e
09h14min.

Almeida continuou correndo, cortando as plantas mais baixas com seu


terçado, ele abria caminho para sua fulga de volta para casa, bem que
sua mãe lhe disse para não se meter. Mas agora já tinha acontecido, e
Almeida corria para não saber mesmo quem era aquele cara, sabia que
ele havia percebido e que viria atrás dele. Seu coração acelerado
pulsava de arrependimento de ter saído de casa. Quando já estava bem
distante, avistou a trilha que dava com a rua, passou a mão na testa,
limpando o suor, e se sentiu melhor por nada de ruim ter acontecido,
mas não sabia como contaria aquilo a sua mãe. Almeida se sentou no pé
de um jambeiro na beira da trilha e começou a relembrar a cena que
viu.

Aquele homem de branco, por que de branco? Todo ensangüentado, aquela moça que
morreu, ele pode ver bem o rosto dela, a mulher branca, mulher do dentista. E os
olhos dele se abriram de espanto, ao pensar que aquele homem, poderia
ser o Brandão. Dr. Atônio Brandão, o dentista de fora que morava na
cidade, mas o que? Não, não poderia ser possível. Almeida ainda
tremendo, levantou-se, e desembarcou de seus pensamentos, afim de ir
embora para casa. Ele iria pensar muito em como contar o acontecido
para a mãe, mas aquele susto não passava. Por mais que ele tentasse
tudo o que ele via era o dentista matando a própria mulher grávida.
Nunca tinha visto nada daquele jeito acontecer antes. Almeida pegou
suas coisas, e começou a andar, queria chegar logo em casa e se
deitar, tudo aquilo havia acabado em uma grande dor de cabeça. E foi
andando devagar, como se nada tivesse acontecido. Por um segundo,
andando com sua espingarda pendurada nas costas, o facão na mão
direita e um semblante abatido, Almeida pareceu ter esquecido tudo por
um momento, mas a todo segundo, seu pensamento só lembrava que não
tinha como contar o que viu nem para sua mãe, nem para o pessoal. Como
ele ia contar pros caras que deu tudo errado?

Foi nesse momento de distração, que Almeida tropessou em uma pedra e


deixou tudo cair, inclusive ele mesmo.

Almeida: — Mas que droga, só o que me faltava mesmo. Um homem desse


tamanho caindo que nem criança.

Mas quando foi se levantar, juntou seu facão que caiu ao lado dele,
mas uma vertigem escureceu seus olhos e Almeida pos as mãos nos olhos,
e sentou no chão da trilha. Ele chorou como uma criança com medo,
esfregando as mãos nos olhos. Quando fez que ia se levantar novamente,
um homem veio correndo, e esbarrou em Almeida, que quase sentou de

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novo, mas se equilibrou e continuou em pé, quando levantou o rosto, o
maior susto do dia, que fez Almeida levatar todo o seu corpo e
encarar, e olhar o assassino. Brandão apareceu correndo da trilha e
esbarrou em Almeida, que tentava o esquecer. Agora estavam armados
como pavões. Brandão, todo de branco, sujo de sangue até nos olhos,
segurando seu machado na mão esquerda e na sua frente, Almeida, de
espingarda nas costas e facão na mão direita. E os dois se olharam
assustados, estavam no pior presente juntos, cara a cara.

Cena 3.b
10h20min.

Paramédico: Não temos tempo de levar ela para maternidade Márcia!

Paramédica: O bebe está nascendo, mas temos que parar esse


sangramento, se não...

E eles se olharam, por que seria uma grande tragédia se aquela mulher
morresse ali. Toda a cidade ficaria sabendo, por que os repórteres já
estavam no local fazendo a cobertura, seria uma grande fraude para
todos. Marisa se espremia de dor, mas seu bebe queria nascer, e estava
com pressa. As pessoas tetavam a todo custo olhar mais de perto, mas
eram barradas pela polícia que também estava lá auxiliando. Marisa,
estava dando a luz na frente de todos e Marcos, estava sentado no meio
fio, algumas pessoas ao seu redor, e ele sem dizer uma palavra se
quer. Alguém perguntava se ele queria água, outro se ele estava bem,
mas marcos estava mergulhado no medo, se seu grande amor da faculdade
morrer, como ele cuidaria só daquela criança, ele pensava, mas um som
peculiar o trouxe de volta a si. A criança chorou. Marcos levantou a
cabeça repentinamente, e uma gota de suor escorreu na sua têmpora,
seus lábios mudaram de cor e sua mente voltou a realidade.

Marcos em seu pensamento disse: — Minha filha nasceu!

E levantou-se rapidamente, saiu correndo de onde estava, esbarrando


nas pessoas, e caiu de joelhos por trás da cabeça de Marisa. Ficou um
tempo em silencio por um tempo, olhando sua mulher e as pessoas
aplaudiram o acontecimento.

Marcos: — Marisa?

Marisa, levantou o olhar, olhando para trás, para Marcos. Seu olhar
estava desfalecido, como se fosse cega. Eles se olharam e ficaram em
silencio.

Cena 4.c
08h45min.

Alison entrou abruptamente no quarto, batendo a porta na parede, que


derrubou o quadro de família que estava na parede. O menino fechou a
porta, abaixou-se e pegou o quadro, uma lágrima escorreu no seu rosto
enquanto via seu pai, ele e sua mãe em uma viagem que fizeram ao Perú.

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Alison colocou o quadro de volta na parede e abaixou a cabeça. Estava
com muita raiva, e não podia controlar o choro.

Alison: — mamãe não pode me controlar! MAMÃE NÃO PODE ME CONTROLAR!

E os olhos do garotinho, tornaram-se perigosos, ele em um momento de


raiva, jogou tudo que estava na penteadeira no chão, fazendo um grande
barulho que Marlenilda pode escutar lá de fora. O menino abriu o
guarda-roupas e jogou todas as suas roupas no chão, procurando alguma
coisa. Mas que menininho geninoso. Desse tamanho já contracenando
suspense, com suas sobrancelhas arqueadas, e as veias de sua tempora
latejando, seus olhos de raiva encontraram a mochila no fundo do
armário, Alison pôs a mochila nas costas e enxugou uma lágrima de seu
rosto, seus olhos estavam vermelhos. O menino impetuoso, calçou as
meias e o tênis, pegou um dinossauro de binquedo que estava em um
banquinho perto da janela, e deu um soco de lado no brinquedo,
arremeçando-o longe, posicionou o banco e subiu na janela, pôs as
pernas para fora da casa, mas antes de mais nada olhou para trás, o
quarto todo revirado, suas temporas latejando.

Alison: — Mamãe não pode me controlar!

Permaneceu olhando para trás por um momento e finalmente, pulou.

Do lado de fora Alison sentiu que ainda estava com raiva, mas já podia
se acalmar, ele saiu andando de cara emburrada com sua mochila nas
costas e a mágoa de ter ficado de castigo apenas por querer ajudar.
Quando chegou perto do corredor das plantinhas, Alison, espionou para
ver se sua mãe estava lá ainda, e elas estava. Estava enxugando o chão
com o rodo, mas juntou o balde e saiu andando para dentro de casa.
Alison esperou ela entrar, e correu para ver a plaantinha murcha, mas
ela estava em pé, vivinha como as outras, cheia de força e feliz. Os
olhos de Alison brilharam e ele ficou feliz pela maranta ter se
recuperado tão rápido.

Alison: — Plantinha, que bom que você está bem!!! Papai vai ficar
feliz por você não está doente.

E o menino, ficou olhando como a aparência da plantinha havia mudado.


Como estava agora bonita e parecendo tão viva. Mas um movimento
retirou sua atenção, e ele virou a cabeça para olhar. Era mamãe que
estava voltando. Alison, levantou-se e se escondeu atrás da mureta.
Marlenilda veio, juntou a escova que estava no chão e notou que havia
uma plantinha fora do lugar. Mas até agora pouco ela não estava ali.

Marlenilda: — Isso é coisa do Alison! Alison? Menino cadê você?

Marlenilda procurou ao redor, mas nada demais havia mudado, será mesmo
que foi coisa daquele menino abençoado? Ela resolveu olhar para
mureta, soltou a escova e caminhou até o lugar, mas quando foi olhar,
abaixou-se um pouco e...

Marlenilda: — Te peguei menino!

Mas ninguém estava lá. Alison não estava atrás da mureta.

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Marlenilda ficou confusa, algo não estava certo. Mas como tinha muitas
coisas para fazer, juntou novamente a escova do chão, olhou para trás
desconfiada e voltou para dentro de casa.

E atravessou correndo o quintal da sua casa emburrado, chegando até a


rua. O menino continuou andando e as lembranças daquela plantinha não
saíam da sua cabeça. Quanto mais ele andava, mais sua raiva passava.
Ainda havia uma vontade de jogar água na mamãe, mas estava passando,
só que não totalmente.

Alisson: — Quem a mamãe pensa que ela é? Fica brigando comigo por tudo
e eu não fiz nada demais, só quebrei um vaso velho. Mas que droga.

11h22min.

Aline: — Oi Alison!

Alison levantou a cabeça, e seu mundo parou. AAALLIINNEEE, soou seu


pensamento apaixonado, e seu olhar cintilou, sua pupila dilatou e sua
raiva passou instantaneamente. Aline segurava um sorvete de duas
bolas, uma azul e uma verde. Usava um vestido azul e lenço no rabo de
cavalo. Sorria com doçura e parecia uma miragem.

Aline: — Alison? Tudo bem com você? Alison?

Alison: — Ah, é, tudo bem sim, A-Aline.

Aline sorriu, serrando os olhos.

Aline: — Não vai me dizer oi Alison?

Alison? Quem? Eu? Ah, é, um, oi, oi Aline, eu estou bem, como vou eu?
É, quer dizer, como vai você?

Aline riu timidamente, mas achou a timidez de Alison muito engraçada.

Aline: — eu vou bem Aliso. — Falou a menina rindo, virando-se, saiu


andando com seu sorvete. Alison ficou paradinho, babando, admirando o
amor da sua vida meu Deus. Mas a frente, Aline olhou para trás, sorriu
e acenou tchau para alison. Virou-se e foi andando. Alison parou no
tempo, e pensou: — cara ela está tão na minha. — mas uma coisa
inusitada ao mesmo tempo aconteceu, tirando toda a atenção do moleque.
Do outro lado da rua, Alison, viu dona Ivonete, a dona do botequin,
colocando um vaso, repleto de flores e folhas coloridas na varanda,
depois, pegou um regador, e as começou a banhar, hidratando muito bem
seu vaso de plantas tão bonito.

Alison: — Mas que plantas era que são aquelas, nunca vi um vaso tão
bonito — e os olhos do garoto de apaixonados, tornaram-se perigosos
novamente, arqueando a sobrancelha — Ele precisa ser meu. Eu vou pegar
aquele vaso pra mim.

E alison viu quando Dona Ivonete, entrou com o regador em casa;


imediatamente o garoto correu, abriu o portão da casa alheia, correu
até o corredor, e mais fácil que comprar banana, pegou o vaso com as
belas flores amarelas e brancas daquele vaso preto. Alison o agarrou

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com as duas mãos e colocou-o na sua frente, e saiu. Saiu correndo de
volta para rua, deixando o portão da casa da senhorinha aberto e um
vazio no lugar onde ela havia deixado sua planta. Imagina quando ela
perceber.

11h59min.

Por sorte ninguém notou Alison, e nenhum cachorro latiu, os olhos de


Alison eram perigosos, mas felizes.

Alison: — Deu certo! A planta agora é minha!

Cena 3.c
12h00min.

Marisa: — Marcos, você tem que me escutar direitinho.

Marcos, já estava com as lágrimas escorrendo, sem ter uma palavra para
dizer. Apenas balançou a cabeça para sua esposa.

Marisa: — Cuida do nosso bebe Marcos, não vai ser possível eu ficar
perto dele como a gente queria, mas eu acredito que você será uma pai
maravilhoso! — Marcos fez como quem ia falar mas Marisa o interrompeu
— Eu não quero morrer marcos, mas eu vou. Promete pra mim que vai ser
o pai e a mãe desse bebe marcos, promete, como a última coisa que você
vai prometer pra mim.

Marcos chorava como o bebe, segurava a mão de Marisa com muita força,
já estava soluçando. Não vinha nenhuma palavra até sua boca, mas seus
pensamentos criaram vida, e se multiplicaram como bactérias.

Marisa: — RESPONDE MARCOS! PROMETE CUIDAR DO NOSSO BEBE?

Marcos: — EU PROMETO! EU PRPMETO MARISA, AGORA NÃO VEM COM ESSA DE


MORRER, POR QUE EU NÃO SEI COMO VAI SER A VIDA SE VOCÊ NÃO CRIAR
ESS...

Mas Marisa soltou um grande suspiro. Seus olhos tornaram-se apagados e


sua voz calou. Já estava ficando branca muito rápido. Seu espírito se
foi. Ela soltou a mão de Marcos, e se foi. Sem muitas palavras.
Marcos, gritou. Gritou descontroladamente, e as pessoas o seguraram, o
policial tentou dizer algo, mas ele estava descontrolado. Tentava
escapar das pessoas que o seguravam, mas ele não tinha forças.
Desmaiou ali mesmo, desmaiou de desgosto, nos braços de desconhecidos.
Os paramédicos, ainda faziam os primeiros atendimentos ao bebe, a
multidão estava inteira espantada, as mães tiraam seus filhos do local
e os repórteres estava afoitos. Marcos, ainda estava desacordado, e um
enfermeiro o estava atendendo. Já o bebe, ele estaa vivo, e nasceu
muito saldavel, os enfermeiros estavam felizes de segurar aquele lindo
garoto que nasceu tão gordinho. Marisa, estava no chão, branca, sem
uma gota de sangue, a não ser o que escorreu inteiro por entre suas
pernas. Foi uma longa jornada até ali, sua gravidez era de risco, mas
ela sabia que o risco de trazer uma vida ao mundo, valia a pena, e
lutou pela sua família, até o fim.

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12h32min.

Dois policiais trouxeram um lençol branco, e o estenderam em cima de


Marisa, enquanto o rabecão não chegava. E aquele era o cenário.

Cena 5.b
13h55min.

Rosimeire: — Não é nada minha filha, mamãe só não está se sentindo


bem! — falou pegando na mão de nina, que abruptamente a puxou para
trás, assustando rosimeire — Mas o que é isso minha filha?

Nina: — É mentira mamãe! — falou a menina apontando o dedo — eu vi


aquele homem pegando no seu braço, por que ele fez aquilo mamãe, fala
pra mim que eu vou pegar ele.

Rosimeire: — Não minha filha, não aconteceu nada você viu errado. Está
imaginando coisas.

Nina: — Não estou não mamãe, eu subi na árvore e fiquei vendo tudo
acontecer. Eu vi quando aquele homem foi até onde o pulguinha estava,
olhou e voltou pra balançar a senhora pelo braço, depois ele foi
embora e entrou num carro preto. Eu vi tudo mamãe. POR QUE? POR QUE
ELE TE MACHUCOU?

Rosimeire ficou sem saber o que dizer, nina era realmente uma
garotinha além do seu tempo, esperta mais do que precisava, chegava a
ser intrometida, mas e agora? O que ela poderia dizer a filha?

Rosimeire: — Minha filha, para com isso, você está muito alterada — e
agachou-se para abraçar a filha, que começou a chorar — não é nada meu
amor, são coisas de adulto você não tem que se preocupar com isso,

Nina: — Tenho sim mamãe, eu vi ele pegando no seu braço e te


empurrando, me diz mamãe, me diz por que?

Rosimeire agarrou a filha, passou a mão na sua testa e fez uma cara de
quem queria mudar de assunto.

Rosimeire: — Nina, não é nada, para com isso menina.

Nina se soltou dos braços da mãe violentamente e chorou alto.

Nina: — Não mamãe você ta mentindo pra mim, eu vi tudo. Tudo mamãe, se
você não me falar eu vou contar pro papai.

Rosimeire, agarrou a filha e falou sério com ela: — Nina, você tem que
prometer pra mamãe que não vai falar nada pro eu pai, deixa que eu
falo com ele.

Nina: — Não! Você não vai me contar, então eu vou descobrir sozinha
mamãe — nina suspirou fundo — Vou contar mamãe!

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E saiu correndo. Pulguinha levatou as orehas e correu atrás da dona.
Rosineire, colocou as mãos no rosto, e voltou a chorar, vendo nina
correr.

Rosimeire: — Volta aqui menina! — falou chorando muito — volta nina,


não fala nada pro seu pai. Ninaaa!!

Cena 1.e
09h46min.

Almeida: — PELO AMOR DE DEUS SEU BRANDÃO O QUE ACONTECEU COM O SENHOR
DOUTOR?

Brandão: — Nada que te interessa, só não vou te matar, por que você me
ajudar fugir! VOCÊ VAI ME AJUDAR A FUGIR OU EU VOU TE PIPINAR IGUAL
PEIXE!

Almeida: — Tá bom seu Brandão, o senhor é meu amigo, eu te ajudo a


fugir, mas pra onde o senhor quer ir?

Bandão: — EU NÃO SEI SEU VERME, VOCÊ TEM QUE ACHAR UM JEITO DE ME
TIRAR DA VISTA DE TODO MUNDO. EU NÃO POSSO SER PÊGO PELA POLICIA,
MATEI MINHA MULHER, MATEI MINHA MULHER!

Nesse momento, ele pegou no braço de Almeida e os dois soltaram suas


armas e bolaram no chão da trilha, entraram em uma luta braçal e suas
roupas se encheram de pó. Eles rolaram de um lado para o outro. Mas
depois Almeida segurou nos braços de Brandão, os dois se olharam
dentro dos olhos.

Almeida: — Tá bom seu Brandão. Eu ajudo o senhor!

Brandão olhou desconfiado para Almeida e o soltou. Os dois levantaram-


se e limparam o pó da roupa.

Almeida: — O senhor precisa tirar essa roupa, não pode sair por aí
assim. Eu vou dar minha roupa pro senhor, e vou dizer que fui
assaltado, que os ladrões levaram minhas roupas. Vamos tire essa roupa
cheia de sangue seu Brandão.

Cena 6.a
24h00min.

— Vai Elisa, força minha filha!

Disse a parteira espremendo a toalha de compressa na panela. Elisa


sentiu uma dor descomunal, seu coração estava explodindo e seu bebe,
lindamente começava a colocar a cabeça para o mundo de fora, onde os
homens são maus, mas as crianças são o futuro das gerações que
começam. Naquela noite de natal, nem tudo estava perdido. Estava
nascendo uma criança que mudará a vida de muitos. Elisa tinha a força
de um leão, era uma moça jovem, casada, e estava dando a luz ao seu
primeiro filho. Mas as coisas nem sempre foram assim. Elisa orou
muito, menina criada em berço evangélico, fazia tratamento para poder

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ter filho há dois anos, mas os médicos diziam que era impossível, que
ela era estérea. Ela passou por um vale sombrio, mas não deixou de
acreditar. Há mais ou menos um ano ela fez um voto com Deus, e disse
que se ele desse a ela um filho homem, ela daria um nome bíblico a ele
e cuidaria para que ele nunca se desviasse dos caminhos do Senhor. Ela
fez isso e não disse nada a ninguém. Nove meses atrás, ela descobriu
que estava grávida, esperando um bebe e como ninguém acreditava, Deus
acreditou e Elisa realizou seu sonho. Quando os médicos terminaram o
balanço de exames e coprovaram que ela estava mesmo gestante, Elisa
pulou de alegria e abraçou todos que estavam naquela sala, ela gritava
de felicidade e agradecia ao Senhor. Todos ficaram maravilhados com a
descoberta, Deus havia feito um milagre, nos dias de hoje, quase 2019
anos d.c. Hoje, é o grande dia da vida de Elisa. No dia do nascimento
do Filho de Deus, para a maioria das culturas, era também o dia do
nascimento do seu filho amado, tão desejado e esperado. Feita a
promessa de dar um nome bíblico para o bebe, ela não conseguia nem
pensar de tanta dor. Mas era uma dor que ela desejou sentir, e a
parteira estava fazendo seu trabalho, a cabeça do bebe já havia
passado, faltava somente o corpo, e Elisa fazia força, e chorava e
também sorria, todas as emoções juntas para o grande final daquele
espetáculo. E o som que ela tanto desejou ouvir, soou.

O bebe estava nas mãos da parteira, brilhante como uma jóia, chorando
lindamente, para anunciar ao mundo sua chegada. Os olhos de Elisa
cintilaram e ela suspirou de alivio, por que com todo aquele tempo se
tratando e os médicos a desenganando, o milagre aconteceu, e Deus
providenciou o melhor, nada de ruim aconteceu durante seu período de
gestação e ela foi mimada por todos ao seu redor, uma gestante
saudável. Agora, com o choro do bebe nos seus ouvidos, ela poderia
quase ver o final da história, mas não, era apenas o começo.

Parteira: — Nasceu Elisa! Minha filha, seu bebe nasceu lindo e é um


menino! Parabéns minha filha! Glória a Deus!

Elisa, sorriu o melhor sorriso de sua vida e a parteira levou o bebe


para perto da mãe.

Parteira: — Me diga Elisa, qual será o nome do seu menino.

Os olhos de Elisa brilharam, e diante da prova do milagre, no dia do


aniversário de Jesus, depois de dois milênios, Deus ainda dava prova
aos homens de sua grande bondade e fidelidade. O coração de Elisa
estava cheio de alegria, e no meio de todos aqueles pensamentos
misturados, Elisa, obteve a resposta.

Elisa: — Dona Mundica, meu filho lindo nos meus braços, depois de toda
dificuldade, no dia do natal nasceu como um presente. Por esse motivo,
vou dar o nome mais bendito de todos. Emanuel.

E seus olhos voltaram-se para o alto, como se Elisa pudesse ver a


Deus.

Cena Final
04h08min.

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No final da madrugada, uma pessoa com o rosto coberto chegou na casa
onde o cadáver de Milena estava e viu o tamanho de sua barriga,
parecia se remexer, como se estivesse acontecendo uma luta nas
entranhas da morta. Aquela era a cena macabra, um cadáver de uma
grávida, esfolado pelo avesso e que os bebe ainda estava vivo brigando
na sua barriga, louco para nascer. Dento do útero sem vida de uma
pessoa, havia um bebe pronto ainda dentro da bolsa, naquele lugar
escuro e vazio, com aspecto de sepulcro, sem batimentos de um coração.
Aquele que um dia foi um ovócito, passou por uma meiose e se formou
vida. A mulher se abaixou colocando o lenço ainda mais no rosto para
não ver tão de perto como estava aquele corpo. Ela puxou de debaixo da
saia um canivete. Ela disse: — meu senhor me ajude! — começou a cortar
a roupa da morta, tirou a parte debaixo das roupas de Milena. Quando
terminou de cortar as roupas, cobriu o rosto com seu lenço, fechou os
olhos e começou a apertar a barriga da morta, aquela foi a coisa mais
horrível que ela já teria feito na vida, mas continuava a pressionar a
barriga om as duas mãos, parecia que a criança estava anseiando sair
logo dali, e então a bolsa estourou, inacreditável, aquilo era uma
obra de vida e de morte, Deus existe, não é brincadeira. Logo, sua
cabeça já estava aparecendo, e os olhos da mulher com o rosto coberto
se abriram de espanto, ela apertou mais um pouco, e o mais
inacreditável ainda, aconteceu.

04h30min.

Um expasmo muscular, fez o corpo de Milena levantar o braço direito, o


que fez a mulher cair de costas no chão, gritando imensamente alto, de
total horror. Ela gritou — PELO AMOR DE DEUS — enquanto tremia sem
parar, mas que diabos teria acontecido que a morta levantou o braço
quando a mulher de rosto coberto abaixou a vista mais uma cena que a
deixou muito indignada e em um estado de medo, as sombras do local,
transmultaram –se todas na forma de pássaros negros, que voavam em
circulo ao redor das duas, da viva e da morta, e a maldição ali
começou. Os pássaros se comportavam como corvos voando ao redor de uma
presa ou agorando um corpo, e grasnavam de forma sobrenatural, quando
a mulher percebeu, boa parte da cabeça do bebe estava para fora,
então, ela entrou em um transe e levantou-se e caminhou até o corpo,
agachando-se ainda com o rosto coberto e começou a pressionar a
barriga de Milena, ela viu que não iria conseguir fazer aquilo, então,
mudou de posição e puxou a cabeça do bebe, Foi aí que a maravilha
começou a acontecer, a cabeça passou muito fácil e o corpinho da
criança já estava aparecendo, ela nunca imaginaria que aquilo poderia
ser possível, mas estava acontecendo. Quando o tronco do corpo passou
e seus bracinhos apareceram, liberando o restante do corpo, a mulher
pôde ver as perninhas do bebe, ele estava quase todo de fora. Parecia
coisa de novela, mas o bebe estava mesmo decidido a nascer.

05h49min.

Ela puxou mais um pouco e a perna do bebe passou. Mais um grande


suspense, de um grande sustou a mulher tomou, o bebe que nasceu,
nasceu com uma terceira mãozinha que também vinha de dentro da barriga
da morta, segurando no seu pé esquerdo. Meus Deus do céu, mas não é
possível jamais aquilo poderia acontecer de verdade, realmente para

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Deus nada era impossível, e milagres existiam. Eram dois bebes,
gêmeos, e um estava nascendo segurando no pé do outro, como se
estivessem em uma luta antes do parto normal. Os pássaros ao redor
ficaram mais ferozes e voavam cada vez mais forte, parecia que
esperavam o segundo bebe, era ele que eles queriam, a mulher tirou o
primeiro bebe, colocou em cima das folhas e imediatamente tentou puxar
o outro bebe, que vinha de um milagre impossível de acontecer, dois
bebes que decidiram de verdade que queriam vir ao mundo, e o segundo
corpinho começou a aparecer na vista da mulher de rosto coberto que já
havia esquecido o espasmo que o corpo sofreu, por que o parto estava
realmente acontecendo, não tinha tempo de pensar, quem não esqueceu
fora eles, os pássaros, que circulavam ao redor do parto de forma
sobrenatural e assombrosa, sombras de pássaros negros rodopiando ao
redor do parto, se movendo no mundo espiritual, a mulher não podia
ver, — só você — mas podia sentir.

05h50min.

Quando o corpo do bebe passou, a mulher ficou apavorada e em um


momento de fraqueza, deixou o segundo bebe, escapar, e ele esparramou-
se sozinho para fora de sua mão cadáver, e os pássaros grasnaram bem
alto e fugiram, foram todos embora, voando de volta para de onde eles
vieram, como se alguém os tivesse espantado. O bebe esparramou no
sangue de seu nascimento, por entre as pernas de Milena. Quando viu o
que tinha deixado acontecer, logo levantou o segundo bebe, e o pôs do
lado esquerdo do primeiro bebe, como se ele tivesse nascido primeiro,
e lembrou-se de quando era pequena, quando sua avó a sentava em seu colo e
com a bíblia em mãos, começava a contar lindas histórias de reis, rainhas e também de
amor, mas naquele momento, ela acreditou nas palavras de sua avó, quando lembrou que
entre as historias, havia uma que falava de dois irmãos que brigaram na barriga da
mãe e um nasceu segurando no pé do outro, só que quando eles cresceram, um se tornou
peludo, e o outro era liso. Aqueles dois bebes, homens, lindos que nas
nasceram de uma mulher morta, eram a prova de que a terra abre a sua
boca para testificar das coisas de Deus. A mulher cortou os cordões
umbilicais e os separou para sempre de sua pobre mãe, e por conta da
história que ouviu de sua avó, decidiu que na sua lembrança, um se
chamaria Esaú e o outro Jacó. Só que quem decidiria isso não era ela.
Depois de acomodar os bebes, ao lado do corpo da mulher morta, em cima
de um tapete de folhas que ela fez, a mulher ficou olhando por um
tempo como eles eram lindos. Tornar-se-iam homens lindos e idênticos
quando crescerem, e aquela era uma obra que ela tinha certeza que era
de Deus. Por isso ela levantou o olhar. E aqueles bebes, estavam
vivos, seus rostos estavam saudáveis, bebes lindos que nasceram de um
milagre, e que lutaram para viver sua história encarnada e para
conhecer o mundo. Nasceram para o mundo, unidos,como luz e escuridão,
como yin e yang,como esaú e Jacó.

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