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NR-17 Ergonomia: Fiscalização

autua empresas de
telemarketing
Por Redação | 24 de abril de 2015 in Notícias · 0 Comentários

A ação, que teve início após uma fiscalização realizada em Minas


Gerais, resultou em 900 autos de infração e R$ 300 milhões em
multas em sete estados.

No dia 11 de março a SRTE/MG (Superintendência Regional do


Trabalho e Emprego em Minas Gerais) promoveu uma audiência
para apresentar os dados da ação fiscal realizada pelo MTE
(Ministério do Trabalho e Emprego) simultaneamente em sete
estados do país (CE, PE, BA, RJ, SP, MG e RS), que teve início há
mais de um ano e resultou na autuação de quatro grandes bancos e
três empresas de telefonia.
Estiveram presentes na audiência representantes do MPT
(Ministério Público do Trabalho), MPF (Ministério Público Federal),
Sinait (Sindicato dos Auditores Fiscais do Trabalho), TRT (Tribunal
Regional do Trabalho), Sinttel-MG (Sindicato dos Trabalhadores em
Telecomunicações de Minas Gerais), Fitratelp, Chefia da Perícia
Médica do INSS em Minas, entre outros convidados.
O superintendente do Trabalho e Emprego em Minas Gerais, Heli
Siqueira de Azevedo, abriu o encontro. “É fundamental que todos
nós – sociedade civil, representações sindicais, Governo e iniciativa
privada – lutemos para garantir o respeito à qualidade de vida no
trabalho daqueles que tanto contribuem para a construção e para o
desenvolvimento da sociedade”, destacou.
As empresas (tomadoras de serviço), que contratavam os serviços
de uma empresa de telemarketing, foram autuadas por terceirização
ilícita e descumprimento do Anexo II da Norma Regulamentadora
NR 17, que regula vários aspectos da atividade, somando um total
de 900 autos de infração, somando um total de R$ 300 milhões em
multas. Entre as irregularidades encontradas estão diferenças
salariais que geraram débito de R$ 1,2 bilhão, valor devido aos
trabalhadores que deveriam ter sido contratados como bancários e
funcionários de teles.
A fiscalização foi desencadeada por uma ação fiscal realizada em
2013 pela SRTE/MG, por meio do projeto Prevenção de Acidentes e
Doenças do Trabalho, quando foram autuadas três unidades de
uma empresa de telemarketing localizadas em Belo Horizonte e
abrangeu cerca de 11 mil trabalhadores, resultando na lavratura de
246 Autos de Infração.
Auditora fiscal que participou da fiscalização em Minas Gerais e que
também fez parte da Comissão criada para fiscalizar a empresa a
nível nacional, Odete Cristina Pereira Reis, conta que quando a
ação foi iniciada no estado, ocorria, simultaneamente, a fiscalização
em outra unidade da mesma empresa, localizada em Pernambuco.
“E, devido à repetição das irregularidades na empresa em todo o
país, foi criado um grupo, subordinado à Secretaria e Inspeção do
Trabalho (SIT/MTE), para fiscalizar a instituição a nível nacional,
destaca. Em Pernambuco, o “Site”, como são chamadas essas
unidades, abrange cerca de 14 mil operadores.
Dados da Operação – A empresa fiscalizada possui mais de
100.000 empregados, sendo uma das maiores prestadoras de
serviço de call center do país e atuava como uma intermediária das
contratações para as outras empresas, que são as reais
empregadoras.
Principais irregularidades encontradas durante a ação fiscal:
1- Na unidade de Recife, onde foi feita a interdição das atividades
no mês de Janeiro, que conta com 15.000 trabalhadores, a principal
causa de afastamento do trabalho por motivo de doença são as
doenças osteomusculares. De janeiro a maio de 2014, foram
apresentados 8.687 atestados de afastamento do trabalho por esse
motivo, o que corresponde a uma média de 1.737 ao mês.

2- No ano de 2013 foram 23.554 atestados médicos de


afastamentos do trabalho devido a problemas osteomusculares
apresentados nessa mesma unidade, o que corresponde a uma
média de 1.962 atestados ao mês.

3- Dentre as doenças osteomusculares, as maiores causas de


afastamento são as sinovites, tenossinovites e as dorsalgias.
4- Não há emissão de CAT (Comunicação de Acidente do Trabalho)
para essas doenças (osteomusculares) e outras relacionadas ao
trabalho, tais como doenças do aparelhos de fonação, audição e
visão, e doenças psíquicas, tais como estresse, depressão,
ansiedade e síndrome do pânico. As sinovites e tenossinovites já
possuem, inclusive, nexo técnico epidemiológico estabelecido com
a atividade de teleatendimento pela Previdência Social (lista “C” do
anexo II do Decreto nº 3048/99, que trata da aplicação do NTEP –
Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário).
5- Trata-se de uma população extremamente jovem, a maioria no
primeiro emprego, e que rapidamente se afasta do trabalho devido
a doenças ou agravos à saúde, o que torna ainda mais alarmante a
situação.
Fatores de risco – A forma como o trabalho é organizado e a falta
de uma gestão adequada de SST (Saúde e Segurança no Trabalho)
se constituem nos principais fatores de risco de adoecimento, como
segue:
1- Organização do trabalho

A organização do trabalho é criteriosamente planejada e


implementada visando somente altos índices de produtividade. As
práticas de organização do trabalho encontradas, tais como
supervisão exagerada; nível de cobrança alto e constante; cobrança
de metas inalcançáveis de produtividade com o objetivo de obter
melhor desempenho; mais rapidez e eficiência (“gestão por
estresse”) e uso da ameaça, implícita ou explícita, como estímulo
principal para gerar adesão do trabalhador aos objetivos
organizacionais (“gestão por medo”), caracterizam a presença do
assédio moral organizacional. A situação é potencialmente geradora
de inúmeros adoecimentos de ordem física (sobretudo
osteomusculares) e psíquica.
As instalações físicas inadequadas e equipamentos deficientes
também configuram situações potenciais de adoecimento (aparelho
auditivo, gastrointestinal etc). Não por acaso são alarmantes os
índices de adoecimento verificados, de patologias diretamente
relacionadas às condições organizacionais constatadas.
2- Programas de SST (Saúde e Segurança do Trabalho)
Não há uma gestão adequada de SST, uma vez que os programas
não reconhecem os riscos presentes no ambiente de trabalho e, em
alguns casos, os programas – como é o caso do PCMSO
(Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional) – são
“corporativos”, sendo replicados em todo o país. A insistência em
negar a relação de adoecimento com a atividade desenvolvida
pelos trabalhadores é característica de todos os programas de SST
analisados durante a fiscalização. Logo, como os riscos não são
reconhecidos ou abordados, não são implementadas medidas para
seu controle e minimização e nem há medidas visando à
prevenção, ao rastreamento e ao diagnóstico precoce dos agravos
à saúde dos trabalhadores relacionados ao trabalho.
Irregularidades – Durante a ação fiscal realizada em Minas Gerais,
as principais irregularidades verificadas nas unidades da empresa
de telemarketing estavam relacionadas a assédio moral, a doenças
relativas à atividade funcional e à cobrança de metas inatingíveis.
“A grande maioria dos trabalhadores, em alguns setores chegando
a mais de 90%, não consegue atingir as metas estabelecidas pela
empresa. E isso influencia diretamente no valor da Remuneração
Variável paga a eles. Esse adicional salarial depende de vários
outros fatores e sofre redução inclusive se o trabalhador faltar ao
serviço, mesmo que essa falta seja devidamente justificada”,
elucida Odete.
A auditora ainda confirma o adoecimento e afastamento de muitos
trabalhadores das unidades fiscalizadas. “Os transtornos
mentais/comportamentais são a principal causa de afastamentos do
trabalho por período superior a 15 dias. Problemas
osteomusculares, na voz, nos olhos e nos ouvidos também são
bastante comuns”, elenca.
Odete ainda enfatiza que o trabalho na empresa é organizado com
o único objetivo de obter uma alta produtividade, sendo utilizadas
práticas abusivas de controle do tempo e do trabalho. “O tempo e
outros critérios exigidos no atendimento ao cliente são controlados
de várias formas, inclusive de forma online, pelos monitores,
supervisores, coordenadores e gerentes”, finalizou.
Fonte: Assessoria de Imprensa/MTE com informações da
SRTE/MG

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