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XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão.


Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

CONTRIBUIÇÕES DA GESTÃO DO
CONHECIMENTO PARA A EDUCAÇÃO
A DISTÂNCIA: UMA DISCUSSÃO
ACERCA DO E-LEARNING
Jaqueline Emília Silva (UFRN)
jaqueliline@yahoo.com.br
Anatalia Saraiva Martins Ramos (UFRN)
anatalia@pesquisador.cnpq.br
Elvia Florencio Torres (UFRN)
elviaftorres@gmail.com

O presente estudo se propôs a destacar aspectos ligados à gestão do


conhecimento (GC) capazes de auxiliar a aprendizagem na modalidade
de educação a distância (EAD) conhecida como e-learning, que
representa a atual geração de ensino-aprendiizagem da EAD. A
metodologia adotada no trabalho é de caráter exploratório,
apresentando como método a pesquisa bibliográfica, na qual foram
realizadas pesquisas em livros, artigos, periódicos, Internet e diversos
tipos de publicações relacionadas ao assunto, a fim de compor o
estudo. Os resultados da pesquisa indicam que no ambiente da
educação à distância, o e-learning representa a ferramenta que
viabiliza os ambientes virtuais de aprendizagem, onde o conhecimento
torna-se o processo de troca de significados e experiências diversas
entre os indivíduos que dele fazem parte. Nesse contexto, observou-se o
caráter colaborativo proporcionado pela ferramenta do e-learning,
onde se pode observar o conhecimento como um elemento socialmente
construído. Nesse contexto, observa-se que o e-learning funciona como
uma ferramenta da gestão do conhecimento, na medida em que
proporciona um ambiente de aprendizagem colaborativa para os seus
usuários, produzindo um aprendizado colaborativo por meio dos
processos de conversão de conhecimentos tácitos e explícitos dos
indivíduos que participam do ambiente. Diante disso, a pesquisa
conclui que a gestão do conhecimento tem suas contribuições
expressas na educação a distância por meio do esclarecimento acerca
do processo de criação do conhecimento, bem como através do seu
entendimento enquanto uma ferramenta de incentivo a aprendizagem.

Palavras-chaves: comhecimento, distância, e-learning


XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão
Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

1. INTRODUÇÃO
A gestão do conhecimento (GC) é percebida, por vezes, na literatura, como mais uma
ferramenta necessária para a diferenciação em relação à concorrência e sobrevivência
sustentável das organizações. Nessa linha de raciocínio, Liaw, Chen e Huang (2008) afirmam
que a gestão do conhecimento envolve a identificação, a coleta, a análise, a construção, o
compartilhamento e aplicação prática do conhecimento. Contudo, uma breve discussão acerca
do tema revela que a GC tem, além desses, o papel de proporcionar um contexto que viabilize
a criação do conhecimento, geralmente realizado por meio de ferramentas de TI.
No ambiente acadêmico, a revolução tecnológica iniciada na metade do século
passado trouxe mudanças significativas, onde se passou a conferir uma atenção especial ao
uso da Educação a Distância (EAD) associada às tecnologias da informação e da comunicação
(TIC). A disseminação da Internet e de ferramentas computacionais a ela vinculadas deu novo
fôlego ao conceito de Educação à Distância através de práticas de ensino permitidas pelo
conceito de e-learning. Assim, a educação contemporânea tem sinalizado para a religação dos
saberes de forma a tornar o conhecimento cada vez mais aplicável frente ao atual contexto
moderno. Nesse sentido, o e-learning desponta como um novo paradigma educacional e de
formação profissional nas diversas áreas do conhecimento, onde vários estudos e aplicações
têm contribuído positivamente para justificar melhor seu uso.
Diante disso, o presente estudo se propõe a destacar aspectos ligados à gestão do
conhecimento capazes de auxiliar a aprendizagem na modalidade de educação a distância
(EAD) conhecida como e-learning, que representa a atual geração de ensino-aprendizagem da
EAD.
Para tanto, a metodologia adotada no trabalho é de caráter exploratório, apresentando
como método a pesquisa bibliográfica, cujo tema foi pesquisado em livros, artigos,
periódicos, Internet e diversos tipos de publicações relacionadas ao assunto, a fim de compor
o estudo.
O artigo é composto além desta parte introdutória, por mais quatro partes. A primeira,
aborda os conceitos relacionados à gestão do conhecimento, a segunda parte exibe aspectos
relacionados a educação a distância e a ferramenta do e-learning, em seguida, faz-se uma
relação entre a GC e a educação a distância, com ênfase no e-learning. Por fim, são
apresentadas as conclusões do estudo.
2. ENTENDENDO A GESTÃO DO CONHECIMENTO
A literatura popular a respeito da gestão do conhecimento, oriunda especialmente do
campo da administração estratégica, freqüentemente descreve o conhecimento como uma
commodity e recurso organizacional que deve ser gerenciado ou explicitado, de modo que
possa ser transferido. Nessa linha de raciocínio, Cavalcanti (2007) afirma que o conceito de
gestão de conhecimento parte de uma abordagem baseada em recursos, cuja premissa básica é
que os recursos internos à organização comandam o desempenho da empresa. Assim, essa
linha de pensamento considera o conhecimento como um recurso interno à organização e,
portanto, todo o conhecimento existente na empresa, na cabeça das pessoas, nas veias dos
processos e no coração dos departamentos, pertence também à organização.
Rodrigues Filho (2003, p. 5) afirma que “[...] a gestão do conhecimento é um conceito
amplamente usado e discutido, mas que não há, ainda, nenhuma definição aceita

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universalmente”. Este posicionamento é também compartilhado por Alvarenga Neto (2005, p.


12) que afirma que para muitas organizações, a gestão de conhecimento “[...] é ainda
basicamente uma questão de recursos informacionais, com forte ênfase para o gerenciamento
estratégico da informação”, reduzindo o assunto à ferramentas de TI, e esquecendo-se de
perspectivas mais amplas e deveras relevantes, onde temos que o conhecimento é, antes de
qualquer coisa, socialmente construído, tanto em termos objetivos quanto subjetivos
(BERGER e LUCKMANN, 2003).
Nesse sentido, Berger e Luckmann (2003) esclarecem que o conhecimento consiste na
interpretação dada pelos indivíduos à realidade que, por sua vez, só é dotada de sentido a
partir de suas interações sociais que a legitimam como tal. De acordo com essa proposição
entende-se a importância da interação social, bem como da interpretação dada pelos
indivíduos a realidade percebida por eles no processo do conhecer, e, conseqüentemente,
percebe-se a importância do entendimento desses elementos para a gestão do conhecimento.
Diante disso, Albrecht (2002) aponta para o fato de que o termo “gestão de
conhecimento” sugere que as condições e as circunstâncias em que o conhecimento possa
prosperar numa organização sejam gerenciadas, direcionando o foco para a idéia de que se
deve então gerenciar culturas de conhecimento, pois para o autor o emprego do termo
„gestão‟, pressupõe impor algum tipo de ordem sobre o conhecimento, o que seria algo
nocivo, considerando que o conhecimento humano é algo organicamente diverso e
dinamicamente produtivo. Compartilha dessa visão Alvarenga Neto (2005, p. 14) ao concluir
que “não se gerencia conhecimento, apenas se promove ou se estimula o conhecimento
através da criação do contexto organizacional favorável”, ao mesmo tempo em que contribui
para o conhecimento científico acerca do tema acrescentando que “[...] a palavra gestão
quando associada à palavra conhecimento deve ser apreendida como promoção do
conhecimento ou estímulo ao conhecimento e a „gestão do conhecimento‟ assume o
significado de uma gestão para o conhecimento” (ALVARENGA NETO, 2005, p. 15).
Portanto, percebendo-se a gestão de conhecimento enquanto prática organizacional
internalizada, o fortalecimento da organização em termos competitivos se faz razoável, e não
a partir do ato de se enxergar a gestão de conhecimento como sendo meramente uma
ferramenta de gestão. Cabe a organização, portanto, atuar como agente organizador do
conhecimento existente, tornando-o aplicável e gerador de novos conhecimentos,
desempenhando essa tarefa de forma superior a concorrência.
Distingue-se na literatura disponível acerca do tema, os tipos de conhecimento. A
classificação deste por Nonaka e Takeuchi (1995) é alicerçada em Polanyi (1966) e se dá de
duas formas: conhecimento tácito e conhecimento explícito. O conhecimento explícito pode
ser expresso em palavras e números, ou seja, é formal e sistemático, e por isso é mais
facilmente comunicado e compartilhado sob a forma de dados brutos, fórmulas científicas,
procedimentos codificados ou princípios universais. Já o conhecimento tácito refere-se aquele
conhecimento que é dificilmente visível e exprimível, altamente pessoal e difícil de
formalizar, e, portanto, de transmitir e compartilhar com os indivíduos.
Se considerarmos que o conhecimento existe de uma ou outra forma, uma organização
pode favorecer um ou outro modo de lidar com o processo de criação de conhecimento.
Usando esta distinção e a suposição que conhecimento pode ser convertido em novo
conhecimento por uma interação formal entre conhecimento tácito e explícito, NONAKA e
TAKEUCHI (1995) propõem quatro modos de criação de conhecimento: socialização,
combinação, exteriorização e interiorização, mostrados na figura 01.

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Figura 1: Modelos de criação do conhecimento


Fonte: Riggins e Rhee (apud Francini, 2002).

O modelo dinâmico de criação de conhecimento de Nonaka e Takeuchi (1995) está


baseado em um processo por meio do qual todos os quatro modos de criação de conhecimento
são gerenciados, em um ciclo contínuo ou "processo em espiral", os modos de criação do
conhecimento, serão melhor explicados abaixo.
 Socialização. A socialização envolve o compartilhar de conhecimentos tácitos entre
indivíduos e está relacionado com a experiência. Na prática, isso envolve a captura de
conhecimento a partir da proximidade física (NONAKA; KONNO apud PEREIRA;
CARDOSO; SOUZA, 2006). O que está em jogo é a conversão de conhecimentos
tácitos em outros também tácitos. Esse movimento acontece, necessariamente, quando
dois ou mais agentes se envolvem em determinada prática, com suas histórias,
perspectivas e motivações, dentro de um campo social que (a) permita a interação
entre ambos e (b) conceda um grau satisfatório de confiança. (SCHEIN, apud
PEREIRA; CARDOSO; SOUZA, 2006).
 Combinação. Combinar significa sistematizar em forma de novos conhecimentos ou
conhecimentos mais complexos, determinados conceitos já explícitos. Os indivíduos
trocam conhecimentos em distintas situações de trabalho, as informações que são,
então depositadas nos sistemas em forma de documentos e manuais, por exemplo,
podem ser coletadas, transferidas e reconfiguradas e tornam-se novos conhecimentos a
partir da (a) construção de arquétipos ou de modelos representativos ou (b) da
proposição de tecnologias possíveis a sua implementação (Nonaka e Takeuchi, 1995).
 Externalização. Externalizar quer dizer articular o conhecimento tácito em conceitos
explícitos (Nonaka e Takeuchi, 1995). Isso acontece na forma de metáforas e
analogias, hipóteses ou modelos. O que existe é uma tentativa de traduzir algo abstrato
em uma forma que possa ser apreendida pelos outros.
 Internalização. De acordo com Nonaka e Takeuchi (1995), internalizar está
intimamente relacionado ao conceito de aprender-fazendo. Nesse caso, o indivíduo
acaba por apropriar-se de um conhecimento que, a partir de então, passa a fazer parte
de seu repertório e de seus esquemas de percepção e ação. Os indivíduos, nessas
situações ou (a) experimentam, ou (b) vivenciam determinado processo enquanto
exercem suas atividades rotineiras.

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De acordo com os modelos de criação do conhecimento citados acima, verifica-se que


a etapa de criação do conhecimento é o momento em que as organizações criam ou adquirem,
organizam e processam a informação com o propósito de gerar novo conhecimento através da
aprendizagem organizacional. O novo conhecimento gerado, por sua vez, permite que a
organização desenvolva novas habilidades e capacidades, crie novos produtos e serviços,
aperfeiçoe os antigos e melhore seus processos organizacionais.
Contudo, observa-se que o conhecimento deve ser gerado em um ambiente propício ao
seu desenvolvimento, ou seja, deve-se criar o que Krogh, Ichijo e Nonaka (apud Pereira;
Cardoso; Souza, 2006) denominam “Contexto Capacitante”, onde a criação do conhecimento
organizacional é a ampliação do conhecimento criado pelos indivíduos, se satisfeitas as
condições contextuais que devem ser propiciadas pela organização. Nesse contexto, destaca-
se a importância das ferramentas de tecnologia de informação e comunicação que para a
gestão do conhecimento precisa estar acoplada a considerações mais detalhadas de problemas
associados com os processos de transformação do conhecimento, particularmente aqueles
inerentes ao compartilhamento do conhecimento através da interação social.
No campo educacional, sistemas baseados na web como o e-learning têm
revolucionado as atividades de aprendizagem por darem suporte a aprendizagem colaborativa,
promovendo a interação social entre professores e alunos que adquirem e compartilham
experiências e conhecimento (LIAW; CHEN; HUANG, 2008). Diante disso, torna-se
interessante entender como os pressupostos da gestão do conhecimento são utilizados no
ensino a distância por meio da ferramenta do e-learning, sendo este aspecto abordado no
tópico a seguir.
3. CONHECENDO A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
De forma breve, a educação a distância (EAD) pode ser definida como sendo um
método caracterizado pela separação entre professor e aluno no espaço e/ou tempo, em que o
controle do aprendizado é realizado mais intensamente pelo aluno do que propriamente pelo
instrutor distante, e a comunicação entre alunos e professores é mediada por documentos
impressos ou alguma forma de tecnologia (MORAN, 2002). No âmbito da legislação
brasileira, a EAD é definida de acordo com o Decreto Nº 5.622, de 19 de dezembro de 2005,
que regulamenta o Art. 80 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB,
[...] como modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos
processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias
de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo
atividades educativas em lugares ou tempos diversos (BRASIL, 2005, p.1).
Diante disso, entende-se que o conceito de educação a distância reflete,
essencialmente, o processo de ensino e aprendizagem onde professores e alunos estão
separados espacial e/ou temporariamente, sendo mediados por tecnologias, ou seja, é a
educação fundamentalmente realizada à distância, podendo ser mediada com encontros
presenciais ou não.
A EAD, apesar de amplamente discutida e pesquisada nas últimas duas décadas não se
trata de um fenômeno recente. Sua origem remete ao século XIX, com a implantação de
cursos por correspondência na Europa e nos Estados Unidos e com o surgimento, nesses dois
continentes, de algumas instituições de renome com atuação destacada (até os dias de hoje) no
ensino não presencial (RODRIGUES apud CARVALHO NETO; ZWICKER;
CAMPANHOL, 2006).

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O crescente interesse pela EAD nos últimos anos é explicado pelo aparecimento de
novas Tecnologias da Informação e Comunicação, que vieram fomentar essa modalidade de
ensino.
Moore; Kearsley (2007) apresentam cinco gerações de educação a distância, as quais
estão ilustradas na figura 02. A primeira geração ocorreu quando o meio de comunicação era
o texto e a instrução, por correspondência. A segunda geração foi o ensino por meio da
difusão pelo rádio e pela televisão. A terceira geração não foi muito caracterizada pela
tecnologia de comunicação mas, preferencialmente, pela invenção de uma nova modalidade
de organização da educação, as universidades abertas. A quarta geração é datada na década de
80, onde surgiram as primeiras experiências de interação de um grupo em tempo real à
distância, em cursos por áudio e videoconferência transmitidos por telefone, satélite, cabo e
rede de computadores. Finalmente, a geração mais recente de educação a distância envolve
ensino e aprendizado on-line, em classes e universidades virtuais baseadas em tecnologias da
internet.
Correspondência

Transmissão por rádio e


TV

Universidades abertas

Teleconferência

Internet / web

Figura 02: Cinco gerações de educação a distância.


Fonte: MOORE e KEARSLEY, 2007.

Diante dessa classificação, observa-se toda a evolução do conceito, bem como das mídias e
tecnologias utilizadas na EAD. Palloff e Pratt (apud Klering, Schroeder, 2006) destacam que
a EAD, através do uso da internet, representa um novo espaço para que os estudantes possam
explorar o conteúdo dos cursos de forma colaborativa. Na medida em que os estudantes
possam trabalhar cada um a seu tempo e no seu espaço, não existe mais a necessidade de uma
disponibilidade mútua de um grupo de estudantes para um estudo colaborativo, tampouco
existe a necessidade de uma centralização do conhecimento no professor, que passa a ser um
facilitador, e não mais um centralizador do conhecimento.
Entendendo que a internet está se tornando o meio dominante de se entregar
informação e conhecimento por causa de seu baixo custo e distribuição em tempo real
(ZHANG et al. apud KLERING; SCHROEDER, 2006), bem como ressaltando o seu caráter
colaborativo na aprendizagem a distância, este estudo optou por destacar o uso e-learning no
contexto do ensino a distância, abordando as contribuições da gestão do conhecimento nesse
ambiente de aprendizagem. O referido ambiente de aprendizagem é melhor abordado no item
a seguir.

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3.1 Aprendizagem por e-learning


De acordo com Carvalho Neto, Zwicker e Campanhol (2006), o e-learning equivale ao
uso da internet no processo ensino e aprendizado, e se apresenta como uma das mais recentes
técnicas na longa história do EAD. Segundo Rosenberg (2001) o conceito de e-learning está
baseado em três critérios fundamentais: (1) conexão em rede; (2) disponibilização de
conteúdos para o aluno via computador; e (3) adoção de soluções que vão além dos
paradigmas tradicionais de treinamento.
Volpato (1999) cita algumas vantagens propiciadas aos alunos com essa nova
abordagem: a democratização do saber; a determinação da própria rotina de estudos pelo
aluno; a determinação do ritmo de construção do conhecimento pelo aluno; a possibilidade de
atendimento personalizado; a possibilidade de evitar deslocamentos ao local de estudo; e a
possibilidade de aprendizagem na concepção de educação permanente. Teles (2009) afirma
que as salas de aula on-line têm um imenso potencial para os modelos pedagógicos
colaborativos, demonstrado por três características:
Características das salas de aula on-line
 Comunicação de grupo a grupo (e não só um a um), permitindo que cada participante
se comunique diretamente com outros colegas da sala de aula on-line;

 Independência de lugar e tempo, permitindo que os estudantes acessem a sala de aula


on-line de qualquer localidade com acesso a internet, a qualquer hora do dia;

 Interação via comunicação mediada por computadores que requer que os estudantes
organizem suas idéias e pensamentos através da palavra escrita e compartilhem esses
pensamentos e comentários em um formato que os outros colegas possam facilmente
ler, digerir, tecer comentários e exercitar tarefas intelectuais.
Quadro 01: Características das salas de aula on-line
Fonte: Adaptado de Teles (2009).

Essas características induzem a mudança de um ensino do tipo tradicional, centrado no


professor e suas palestras, para outro modelo, colaborativo, no qual os estudantes contribuem
com a maior parte das mensagens.
Diante do exposto, verifica-se que o e-learning sugere uma abordagem construtivista
do conhecimento, onde os alunos passam a colaborar com seus conhecimentos e experiências
em um ambiente virtual de aprendizagem. Dentro desse contexto, verifica-se a importância
dada a criação do conhecimento, uma vez que os alunos são responsáveis pela construção do
conhecimento que ocorre de forma colaborativa. Assim, torna-se importante discutir questões
referentes as contribuições da gestão do conhecimento neste ambiente, sendo este, assunto do
próximo tópico.
4. A GESTÃO DO CONHECIMENTO E O E-LEARNING
Com base no entendimento de gestão do conhecimento como “gestão para o
conhecimento”, conforme abordado no capítulo dois deste estudo verifica-se que essa forma
de gestão está relacionada ao cultivo de um ambiente propício à aprendizagem, onde o
processo de criação do conhecimento passa a ocorrer de forma natural. No ambiente da
educação a distância, o e-learning é a ferramenta que contribui para a viabilização de

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ambientes virtuais de aprendizagem, onde o conhecimento torna-se o processo de troca de


significados e experiências diversas entre os indivíduos que dele fazem parte.
Nesse contexto, observa-se a presença constante dos diversos modos de criação do
conhecimento, conforme proposto por Nonaka e Takeuchi (1995) e abordados no item dois
deste estudo, sendo eles: socialização, externalização, internalizacão e combinação. Com base
na revisão da literatura, uma síntese entre os modos de criação do conhecimento e as
características das salas de aula on-line foi elaborada e é apresentada no quadro 02.

Criação do conhecimento Características das salas de aula on-line


(NONAKA; TAKEUCHI, 1995) (TELES, 2009)
Socialização Compartilhamento de pensamentos e
comentários em formato facilmente
compreensíveis.
Externalização Organização de idéias e pensamentos através
da palavra escrita.
Internalização Leitura, digestão e reflexão acerca dos
comentários.
Combinação Elaboração de réplicas aos comentários
tecidos e exercício de tarefas intelectuais.
Quadro 02: Criação do conhecimento em ambientes de aprendizagem e-learning.
Fonte: Elaborado pelas autoras.

O quadro 02 demonstra as diversas formas de criação do conhecimento em ambientes


de aprendizagem e-learning, com base nas características presentes nos mesmos. Assim,
observa-se que em uma ambiente e-learning o conhecimento é criado por meio da
socialização, onde verifica-se a existência do compartilhamento de experiências por parte dos
alunos envolvidos; por meio da externalização, onde os alunos expõem as suas idéias em
forma de comentários; da internalização, onde os alunos absorvem o conteúdo de idéias e
pensamentos expostos por outros participantes do curso; e, ainda, por meio da combinação,
onde os alunos constroem socialmente o conhecimento por meio da discussão das diversas
idéias expostas.
Diante do exposto, observa-se que o e-learning funciona como uma ferramenta da
gestão do conhecimento, na medida em que proporciona um ambiente de aprendizagem
colaborativa para os seus usuários, produzindo um aprendizado colaborativo por meio dos
processos de conversão de conhecimentos tácitos e explícitos dos indivíduos que participam
do ambiente.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo se propôs a destacar aspectos ligados à gestão do conhecimento
capazes de auxiliar a aprendizagem na modalidade de educação a distância conhecida como e-
learning. A revisão da literatura realizada levantou questões pertinentes a abordagem da
gestão do conhecimento como um todo, como a definição de seu verdadeiro propósito, bem
como do processo de criação do conhecimento nas organizações em geral. Além disso, foram
esclarecidos os conceitos de educação a distância, bem como sua evolução, de onde foi

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ressaltada a atual geração da EAD, o e-learning. Em relação a esta ferramenta, foram feitas
algumas considerações pertinentes e em seguida, relacionou-se a GC ao e-learning.
A partir do referencial teórico, observou-se que o e-learning pode ser considerado com
uma importante ferramenta de aprendizagem no contexto atual do educação a distância, uma
vez que proporciona um ambiente de aprendizagem colaborativo no qual os indivíduos
participam do processo de construção do conhecimento.
Nesse sentido, a gestão do conhecimento e suas contribuições acerca do processo de
criação do conhecimento, por meio da transformação dos conhecimentos explícitos e tácitos,
tornam-se clara no contexto da educação a distância baseada no e-learning. Além disso, a
visualização do e-learning como um ambiente de “gestão para o conhecimento” também pode
ser visualizado a partir do seu entendimento enquanto um ambiente de incentivo a
aprendizagem.
O estudo abre portas para que outras pesquisas aprofundem discussões acerca do vasto
campo de estudos que desponta na relação entre a gestão do conhecimento e o e-learning.
Assim, recomenda-se a realização de pesquisas empíricas que tragam que novas conclusões
acerca do tema.
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