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UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI FACULDADE

INTERDISCIPLINAR EM HUMANIDADES
LICENCIATURA EM HISTÓRIA

Psicologia da Educação
Bárbara Carvalho

Plano de Aula
_________

Proponente: Jean P. S. Gabriel


Área: Ciências Humanas e Sociais Aplicadas
Unidade curricular: História
Tema: ​Njinga, a construção das narrativas históricas e o protagonismo feminino em África
Publico: 1o ano do ensino médio Duração: 100 minutos / 1 bimestre

Introdução

Tendo em vista os desafios que a temática traz para ser trabalhada em sala, dada a
invisibilidade sofrida pelas mulheres no processo histórico e o silenciamento de outra narrativa sobre
África que não a do colonizador optou-se por dedicar ​duas aulas expositivas​, e, mantendo a
consonância com a BNCC, e no intento de pensar situações de trabalho mais colaborativas e coletivas,
o fomento de um ​núcleo de estudos ​ao longo do bimestre. Buscando fomento nas noções de Vygotsky
sobre os processo de conhecer, pretende-se de modo dialético, estabelecer pontes entre o mundo
sensível dos estudantes e conhecimentos mais abstratos, como noções geográficas, compreensão de
momentos e contextos históricos, e observar a própria realidade como construtora de História, e espaço
para desconstrução também, estando o professor no lugar de mediar caminhos possíveis entre a o
conhecimento prévio dos estudantes e às noções às quais se pretende chegar.
Abordar temáticas que envolvem a história do continente africano configura-se como um
desafio recorrente ao professor do ensino básico, tendo em vista a ausência de conteúdos e habilidades
para trato do tema proposto. Em 2003 o então presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, promulgou a Lei
10.639 que estabelecia as temáticas da cultura afro-brasileira como obrigatórias no interior das
instituições de ensino públicas do país, o que não sanou o déficit de pesquisas e trabalhos que versem
sobre, tornando o desafio do professor ainda maior.
O papel político de Njinga a Mbande, de Ndongo (e posteriormente Matamba), centra os
tratos propostos aqui, tendo em vista a singularidade do processo vivenciado, e as possibilidades de
ampliação da reflexão, que podem corroborar para um estudo mais sistematizado de outros pontos e
momentos de África, e sua relação com Portugal, e com o próprio interior. Prefere-se aqui fazer uso de
uma sequência didática adaptada, cujo público-alvo são estudantes do segundo ano do ensino médio,
com duração média de 100 minutos, além da elaboração de um núcleo de estudos ao longo do bimestre
letivo. Do ponto de vista da psicologia da educação, que auxilia na compreensão dos processos
cognitivos, a presente abordagem se aproxima das ponderações do trabalho de Vygotsky e seus
estudiosos, concebendo o professor como figura de mediação entre o acúmulo prévio do aluno e às
possibilidades de novos conhecimentos, proporcionados pelo espaço a ser, pelo estudante, acessado.
Além da Lei 10.639/03, citada anteriormente, outras mudanças fizeram o panorama
educacional brasileiro se modificar nas últimas décadas. A retomada democrática, após os anos de
chumbo, concerne à educação um papel de mui importância dentro do Estado brasileiro. Medidas
como o Plano Nacional do Livro Didático (PNLD), em 1985, A Lei de Diretrizes de Bases da
Educação (LDB), em 1996, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), em 1997, e a Lei
11.645/08 que modifica a Lei 10.639/03 e passa a incluir a temática indígena como obrigatória nos
currículos, e mais recentemente e Base Nacional Comum Curricular (BNCC), de 2017, corroboram
para a ampliação da dimensão ocupada pela educação no país.
A BNCC marca a trajetória educacional brasileira pois regulamenta os conteúdos e
competências que devem ser trabalhados no ensino público e privado, e que devem ser levados em
consideração na concepção dos currículos. A grande área Ciências Humanas e Sociais Aplicada, que
abarca a unidade curricular História, traz diversos conceitos e temas para aprofundar e aguçar a
formação critica e cidadã do corpo discente.
Compreendendo o estudo histórico como fundamental para emancipação da pessoa, e
necessário para sua compreensão/inserção crítica do/no mundo em que vivemos os conteúdos aqui
propostos pretendem-se alinhar às competências específicas que a base prevê para a área, como
“analisar processos políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais nos âmbitos local, regional,
nacional e mundial em diferentes tempos (...) de modo a compreender e posicionar-se criticamente
com relação a esses processos e às possíveis relações entre eles.” e “analisar a formação de territórios e
fronteiras em diferentes tempos e espaços, mediante a compreensão dos processos sociais, políticos,
econômicos e culturais geradores de conflito e negociação, desigualdade e igualdade, exclusão e
inclusão e de situações que envolvam o exercício arbitrário do poder.”, entre outras.

Objetivos

● Possibilitar o contato com “outra” história da África;


● Propiciar um espaço de reflexão sobre o protagonismo feminino na História;
● Conhecer aspectos históricos do Ndongo/Matamba, atual Angola.

Específicos
● Priorizar os conhecimentos já tidos entre os estudantes e as narrativas de África por eles
acessadas (através da mídia, escola, família, costumes, ritos, e afins). Concebendo o conhecimento real
deles como todo o mundo sensível por eles vivenciados.
● Problematizar a cartografia tradicional no trato com o continente africano;
● Corroborar para uma análise crítica das relações estabelecidas entre Ndongo e Portugal nos
séculos XVI e XVII;
● Conhecer e discutir o papel de Njinga nos processos políticos do Ndongo/Matamba.

Materiais didáticos

● Lousa;
● Pincel;
● Data show;
● Cartolinas;
● Canetas;
● Folhas de atividades previamente elaboradas pelo proponente.

Procedimentos metodológicos
A fim de introduzir a complexidade dos conteúdos a serem trabalhados a sala de aula pretende
tornar-se espaço de discussão e investigação. Para tal o proponente irá conduzir uma reflexão sobre a
presença ou não das mulheres na História (do mundo e enquanto unidade curricular), com base no
conhecimento prévio dos estudantes, solicitando que anotem nas cartolinas nomes, momentos,
processos históricos cujo protagonismo é legado às mulheres. Aqui concebemos às contribuições de
Vygotsky, onde o professor emerge como mediador, utilizando-se do conhecimento já internalizado
pelos estudantes. Buscando na realidade vivida de cada um, emprestando um termo dos estudos da
Paisagem, buscando no mundo sensível de cada estudante, processos que ecoem a invisibilização do
sujeito Mulher durante muitos processos de narrativas, históricas ou não. Noutro momento a mesma
tarefa será solicitada, mas em relação aos nomes, momentos e processos históricos ligados ao
continente africano e sua relação com o restante do globo. As cartolinas serão recolhidas e guardadas
para que ao fim do bimestre possa fornecer um parâmetro de comparação em que os estudantes
consigam vislumbrar os conhecimentos obtidos ao longo da intervenção, e terem um ​feedback do que
acúmulo obtido, ou não.
Passada a parte introdutória proposta, com o uso do data-show, mapas e figuras do continente
africano serão exibidas, para corroborar com a reflexão de como se configurou e se configura a divisão
política e espacial de África e nosso desconhecimento sobre, levando a cabo a discussão proposta por
Waldmann (2013) sobre as representações cartográficas no âmbito escolar e fora dele, de maneira
breve e sucinta, partindo para o escopo da questão, o Ndongo, que posteriormente , onde fica hoje
parte da Angola. É tarefa do proponente neste momento situar cronologicamente o período que se trata
e como se davam as relações do Ndongo com Portugal em meados do Séc. XVI; como essa relação se
modificou ao longo dos anos; as relações que os regimes de escravidão desenharam; até o nascimento
de Njinga a Mbande, em 1581/82.
Pretende-se explorar então o papel exercido pela família Mbande/Mbandi, como a ascensão do
patriarca ao poder, sua morte, a tomada do poder pelo irmão de Njinga, e as relações diplomáticas de
Njinga com Portugal quando condecorada embaixadora, sua conversão ao catolicismo, seu reinado
após a morte do irmão, e as relações estabelecidas a partir de então, até sua morte, em 1663. Dando
enfoque aos espaços ocupados por ela, e os espaços designados socialmente a homens e mulheres em
função dos papéis de gênero estabelecidos.
Podemos conceber a atividade em três momentos distintos, sendo eles: 1. a compreensão em
torno da complexidade dos conteúdos a serem tratados, e nosso acúmulo sobre elas; 2. a fragilidade da
temática dentro dos campos de pesquisa; 3. a relação de Njinga e sua família com a história do
Ndongo, Portugal e do mundo, priorizando a discussão em torno da presença da mulher nos setores por
ela ocupados. O uso de mapas, ilustrações e documentos oficiais se farão necessários. Nessa atividade
é importante ressaltar que pretende-se dar visibilidade a outras narrativas acerca das questões que serão
levantadas, e problematizar a perpetuação de uma narrativa restrita que não dá conta de todas as
especificidades de determinado fato, no intento de possibilitar entre os jovens a construção de um
imaginário com outros e novos pontos de vista. Como pontua Chimamanda:
A única história cria estereótipos. E o problema com estereótipos não é que eles sejam
mentira, mas que eles sejam incompletos. Eles fazem um história tornar-se a única
história. Então, é assim que se cria uma única história: mostre um povo como uma coisa,
como somente uma coisa, repetidamente, e será o que eles se tornarão. É impossível falar
sobre única história sem falar sobre poder. Há uma palavra, uma palavra da tribo Igbo, que
eu lembro sempre que penso sobre as estruturas de poder do mundo, e a palavra é "nkali".
É um substantivo que livremente se traduz: "ser maior do que o outro." Como nossos
mundos econômico e político, histórias também são definidas pelo princípio do "nkali".
Como são contadas, quem as conta, quando e quantas histórias são contadas, tudo
realmente depende do poder. Poder é a habilidade de não só contar a história de uma outra
pessoa, mas de fazê-la a história definitiva daquela pessoa. (Trecho de sua conferência,
transcrito)
As duas aulas expositivas se organizem, de modo geral da seguinte maneira:
1. Levantamento das temáticas com o repertório dos estudantes, convidados a refletir
sobre o mundo por eles já vivido e sentido, as construções midiáticas, o imaginário, os
espaços de poder, a organização social. Construindo uma espécie de corpus da temática
com o que “já se tem”.
2. A partir do levantamento anterior colocar para os estudantes situações que questionem e
contraponham o que foi construído, observando a construção de narrativas ligadas às
noções de poder e dominação. Apoiando na história de Njinga possibilitar o acesso a
outras narrativas de um espaço permeado de conceitos prévios estigmatizados.
Abordada a questão central os estudantes serão convidados a realizar uma atividade a fim de
complementar todo o trabalho realizado expositivamente, e que será descrita a seguir.

Atividade
Com o objetivo de sintetizar as reflexões realizadas, proporcionar aos estudantes um espaço de
criação, reflexão autônoma, de pesquisa contínua o fomento de um ​núcleo de estudos ​ao longo do
bimestre deverá ser elaborado, priorizando os temas debatidos e derivados. A BNCC aponta que
compete a um núcleo de estudos “desenvolve[r] estudos e pesquisas, promove[r] fóruns de debates
sobre um determinado tema de interesse e dissemina[r] conhecimentos por meio de eventos –
seminários, palestras, encontros, colóquios –, publicações, campanhas etc.”, entendendo esse espaço
como uma situação de trabalho cuja principal intenção é a autonomia e protagonismo estudantil as
atividades a serem realizadas além da pesquisa e estudos serão definidos pelos jovens em contato com
a ação, e mediadas e apoiadas pelo proponente. Culminando ao fim do bimestre em uma mostra dos
resultados obtidos. Para tal feito os estudantes farão uso de outros espaços, além da sala de aula, como
espaços externos, biblioteca, sala de informática, e outros, que julgarem necessários e pertinentes. O
quesito avaliado será a participação dos estudantes ao longo das atividades, de modo a buscar integrar
todos os tipos de inteligência em torno da atividade, alargando aqui a ideia de “sucesso” ao fim da
mesma, já que durante a construção diversos caminhos podem ser tomados, almejando valorizar os
conhecimentos prévios e adquiridos ao longo do processo de toda a turma, conforme seja possível.
Não hierarquizando nenhuma forma de contribuição na tarefa.

Referências

ADICHIE, Chimamanda. Chimamanda Adichie: The danger of a single story. [Online] TED, October
2009. BENJAMIN, R., Neto, J.B., Alves, A. 2008. A Rainha Ginga. A Africa está em nós. Collection
Baobá. 2008 BRASIL. Base Nacional Comum Curricular: Educação Infantil e Ensino Fundamental.
Brasília:

MEC/Secretaria de Educação Básica, 2017. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular: Ensino
Médio. Brasília: MEC/Secretaria de Educação Básica, 2018. MUSSA, A. O Trono da Rainha Jinga .
Record, Rio de Janeiro, São Paulo. 2007. UNESCO. História Geral da África, Volume V, Paris:
UNESCO Publications. 1998.

WALDMAN, Maurício. O mapa da África em sala de aula: a persistência do imaginário da


desqualificação na cartografia escolar de África. XVIII Curso de Difusão Cultural Introdução aos
Estudos da África, São Paulo, Centro de Estudos Africanos da USP (CEA), 2013.
Anexo 1 - Atividade
Proponente: Jean P. S. Gabriel
Área: Ciencias Humanas e Sociais Aplicadas Unidade curricular: História
Tema: ​Outras Histórias: Mulheres e África
Público: 1o ano do ensino médio
Duração: Um bimestre letivo

Diretrizes

Tomando como base as discussões realizadas em sala de aula sobre a temática do protagonismo das
mulheres na história africana o seguinte percurso de investigação deverá ser realizado:

1. Criação de um núcleo de estudos


i. A sala deverá se dividir em até 4 grupos;
ii. Cada grupo deverá empenhar uma pesquisa ao longo do bimestre que aborde os conteúdos
discutidos (protagonismo feminino, história e representação da áfrica e escravidão)

2. Fontes
i. As fontes de investigação serão estudadas e selecionadas pelo grupo (considerem utilizar
livros, revistas, documentários, filmes, fotografias, mapas, estudos e textos mais aprofundados dos
temas que possam ser acessados pela internet) e avaliadas pelo proponente.

3. Ao fim da atividade, nas últimas semanas do bimestre letivo, uma mostra com os resultados obtidos
deverá ser elaborada
i. cada grupo será responsável pela modalidade como quer apresentar seus resultados
(considerem utilizar a fabricação de materiais multimídia, ilustrações, cartazes, exposições orais,
mostras culturais, painéis interativos, atividades artísticas, visitas guiadas, entre outros.)

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