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Universidade de São Paulo

Departamento de Filosofia

Disciplina (Graduação): FLF0268. História da Filosofia medieval I


Tema do curso: O conhecimento científico entre Tomás de Aquino e
Guilherme de Ockham
Docente: José Carlos Estevão

Trabalho de conclusão de disciplina

Estudante: Alan Rizério da Silva Oliveira


NUSP:4940837

Dezembro/2018
Tema do trabalho:

Sobre a diferença entre a essência das substâncias compostas e a

essência das substâncias simples e suas consequências em Tomás

de Aquino.

Nesse pequeno texto chamado “O Ente e a Essência”, Tomás de Aquino trata da

relação ontológica do ser e sua existência com a sua essência.

“as primeiras coisas que se concebem na inteligência são o ente e a essência, por

isso, a fim de que o desconhecimento desses conceitos não conduza a erro, e para

remover as dificuldades que lhes são inerentes, cumpre explanar o que se entende pelos

termos essência e ente, e além disso de que maneira esses dois conceitos se concretizam

nas diversas coisas, e como se relacionam com as assim chamadas intenções lógicas, isto

é, o gênero, a espécie e a diferença” (AQUINO, O ente e a essência)

Tomás de Aquino pretende clarificar as relações entre a existências das coisas e

substâncias, o que poderíamos chamar de ente e suas relações com a essência.

Tomás precisa diferenciar o que é ente do que é essência, e fará uma análise das

substâncias para se chegar numa definição mais clara e de como se dá estas relações entre

o ente e a essência.

“2. Algumas das substâncias são simples, ao passo que outras são compostas,

sendo que em ambas existe uma essência. Todavia, nas substâncias simples a essência

reside em sentido mais verdadeiro e mais elevado, mesmo porque possuem um ser mais
nobre, e além disso constituem causas das substâncias compostas. Isto ocorre, pelo

menos, com aquela substância primeira e simples por excelência, que se denomina Deus.

3. Contudo, já que as essências daquelas substâncias simples estão para nós mais

ocultas, cumpre-nos partir das essências das substâncias compostas, a fim de que,

começando por aqui, a exposição se apresente mais lógica e mais fácil de ser seguida.”

(AQUINO, O ente e a essência)

Se utiliza da estratégia de que é a partir das coisas compostas que se chega nas

coisas simples, pois é no destrinchar o simples que está no composto que é possível

estabelecer a linha de conhecimento das substâncias. Partindo então do que é mais fácil

(as coisas compostas do mundo), pois são as coisas que são mais imediatas à percepção,

chegaríamos nas definições das substâncias mais simples.

Vê-se aqui que Tomás considera a priori a essência das substâncias simples como

sendo mais difíceis de se desvendar pois elas estariam como que compondo as substâncias

compostas de alguma maneira não pura. Para Tomás a relação com a matéria é o que faria

as substâncias compostas dificultarem a clara percepção da essência das substâncias

simples nas substâncias compostas.

As coisas compostas são os entes, pois são dotados tanto de matéria quanto de

forma, então Tomás começa sua análise a partir dos entes. A análise começando pela

essência das substâncias compostas iria trazer uma lógica argumentativa que no decorrer

da análise seria então possível estabelecer o que seria então a substância simples.

Tomás então continua sua explanação e confere à essência das substâncias

compostas tanto sua matéria quanto sua forma, pois é em ambas que se caracteriza uma

substância composta. Sem a forma não se poderia caracterizar nenhuma substância. Por

exemplo o homem: É a forma de homem um componente fundamental para que se


caracterize um homem como homem. Ao mesmo tempo a forma de homem sem matéria

para que se substancialize no mundo concreto não caracterizaria a realidade de homem,

portanto a matéria é componente essencial para a substância homem. Homem então seria

uma substância composta de matéria e forma.

“o termo essência significa, nas substâncias compostas, o que é composto de

matéria e forma.” (AQUINO, O ente e a essência).

Vimos então que na substância composta a sua essência é composta de matéria e

forma.

E na substância simples? O que caracterizaria sua essência?

“Resta-nos agora examinar de que maneira a essência se encontra nas

substâncias separadas, isto é, na alma, na inteligência e na causa primeira.” (AQUINO,

O ente e a essência).

Tomás de Aquino começa o capítulo V da obra em questão com o trecho acima,

já afirmando quais são as substâncias separadas. As substâncias separadas seriam a alma,

a inteligência e a causa primeira.

Mas essas substâncias separadas seriam simples?

“Embora todos os filósofos admitam que a causa primeira é simples, não

admitindo, portanto, composição, todavia alguns pretendem afirmar que as inteligências

e as almas são compostas de matéria e forma.” (AQUINO, O ente e a essência).

Tomás afirma que há um consenso entre os filósofos de que a causa primeira seja

simples, ou seja, que ela seria pura forma, mas que não seria o caso para a alma e a

inteligência.
“Tais posições, todavia, contrariam o ensinamento dos filósofos, pois denominam

tais substâncias separadas da matéria e demonstram ser as mesmas totalmente

destituídas de matéria, sendo que a prova disto está na capacidade que tais substâncias

possuem de compreender. Com efeito, observamos que as formas não são inteligíveis em

ato, a não ser enquanto estão separadas da matéria e das condições desta, nem se tornam

inteligíveis em ato senão pela virtude da substância inteligente, enquanto são recebidas

nela e enquanto são feitas por ela. Em consequência, é necessário que em toda substância

dotada de intelecção haja imunidade total da matéria, de maneira que a matéria não seja

sua parte integrante, nem seja como uma forma impressa à matéria, como acontece nas

formas materiais.” (AQUINO, O ente e a essência).

Argumenta então que as substâncias dotadas do ato de compreender precisam ser

completamente independentes da matéria. A possibilidade de manifestação de

inteligência seria um atributo inerente à separação da matéria, portanto seriam substâncias

simples de pura forma

Com isso temos que tanto a causa primeira, como a alma e a inteligência seriam

substâncias simples.

Assim ratificamos a diferença de essência entre a substância simples e a substância

composta:

“... a essência da substância composta se diferencia da essência da substância

simples pelo fato de que a essência da substância composta compreende não só forma

nem só matéria, mas forma e matéria, ao passo que a essência da substância simples

consta exclusivamente de forma.” (AQUINO, O ente e a essência).

Vamos então destrinchar algumas consequências desta definição de substância

simples e substância composta em Tomás de Aquino.


“Ora, existem três modos segundo os quais a essência pode encontrar-se nas

substâncias.”(AQUINO, O ente e a essência)

O primeiro modo é em relação à substância simples que seria a causa primeira.

Daremos o nome de Deus, é a causa de todas as outras substâncias. Sua essência é o seu

próprio ser. Todas as perfeições estariam em sua essência. Haveria em si uma única

qualidade que realizasse todas as qualidades. Poderia se pensar que deveria haver a

composição de todas as qualidades existentes para caracterizar Deus, mas se assim o

fosse, Ele não seria a causa primeira, o que justifica que sua qualidade única e simples

seja o produtor e englobe todas as qualidades existentes. Ele é exclusivamente ser.

“De um segundo modo. a essência se encontra concretizada nas substâncias

criadas intelectuais, nas quais o ser ou existência difere da essência, embora a essência

nelas exista sem a matéria. Daí que o ser dessas substâncias não é absoluto, mas

recebido, e por conseguinte limitado e finito.” (AQUINO, O ente e a essência)

Neste segundo modo a existência difere da essência, mas não há constituição

material desta substância, sendo ela ainda pura forma, porém o ser desta substância não é

absoluto, mas, como dito acima, recebido do ser absoluto, portanto é uma substância de

pura forma porém limitada e finita. É a alma e a inteligência.

“De um terceiro modo a essência se encontra concretizada nas substâncias

compostas de matéria e forma, nas quais o ser é recebido e também finito, pelo fato de

terem o ser de outros, sendo que a natureza ou qüididade delas é recebida na matéria

signada, razão pela qual são imitas, tanto se comparadas com os seres superiores como

se comparadas com os seres inferiores. Nessas substâncias a multiplicidade de indivíduos

dentro de uma espécie é possível já em força da divisão da matéria signada...”(AQUINO,

O ente e a essência)
A essência nas substâncias deste modo é composta de matéria e forma. São as

substâncias compostas. São as substâncias concretas no mundo e que compõe o mundo

da percepção sensível. São finitas e são manifestações limitadas das essências que as

compõem.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS:

AQUINO, Tomás de. O ser e a essência. Pensadores. Editora nova cultural, 1988.

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