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Editora responsável
Adélia Maria Mariano da S. Ferreira
Projeto de Capa
Mulungu
(Foto de Roberto Maxwell - Aviso bilíngüe japonês-português
na Estação Central da cidade de Hamamatsu, Japão.)
Diagramação
Selma Consoli - Mtb 28.839
CDU 801
CDD 469.8
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer processo eletrônico, mecânico ou
fotográfico, incluindo fotocópia, xerocópia ou gravação, sem a autorização prévia e escrita da Editora.
Apresentação ......................................................................... 7
Gabriel Antunes de ARAUJO / Pedro AIRES
Introdução
O objetivo deste texto é apresentar um levantamento e discutir
algumas questões concernentes à presença da língua portuguesa no Japão.
Em linhas gerais, a presença da língua portuguesa foi marcada por três
momentos distintos: o primeiro abarcaria o período da chegada dos
navegadores portugueses ao Japão em 1543 ou 1544 até sua expulsão
em 1639; o segundo inclui o restabelecimento, em 1860, das relações
diplomáticas entre Portugal e Japão no período Meiji e a abertura do
país aos japonistas portugueses; e o terceiro marco pode ser apontado
com a massiva imigração de trabalhadores nipo-brasileiros ao Japão nas
décadas de oitenta e noventa do século passado. Cada período levou a
língua portuguesa ao Japão e, ipso facto, o Japão a Portugal e ao Brasil.
Adiante, farei algumas reflexões sobre esse relacionamento.
1
Universidade de São Paulo, Programa de Pós-Graduação em Filologia e Língua Portuguesa.
E-mail: g.antunes@usp.br
Artes
É possível destacarmos, em dois momentos na vasta obra de João
de Barros (c. 1496-1570), duas menções diretas ao prestígio da língua
portuguesa no mundo. Na Cartinha para os meninos aprender a ler
(1539), Barros afirma que a língua portuguesa é aquela que em Európa
é estimada, em África e Ásia por amor, armas e leys tam amáda e espantósa.
Já no Diálogo em Louvor da Nóssa Linguágem (1540), Barros defende,
orgulhoso, que “Certo é [que] nam há i glória que se póssa comparár a
quando os mininos etíopas, persianos, indios, d’aquém e d’além do Gange,
em suas próprias térras, na força de seus templos e pagódes, onde nunca
10
2
João Rodriguez, comumente, é confundido com o também missionário Padre João Rodriguez
Giram (1558-1628). Por este motivo, adotou o sobrenome Tçuzu (forma arcaica de Tsuji,
intérprete em japonês) para evitar confusões com o seu contemporâneo (BOXER 1959:
340-1).
11
12
3
Coelho (1998: 36) no seu Dicionário de Japonês-Português atribui a origem do vocábulo
álcool (alcohol) à língua holandesa.
4
Coelho (1998: 77): A flauta [corneta] do vendedor ambulante de ‘soba’.
13
5
Cf. Dupoux, Kakehi, Hirose, Pallier e Mehler 1998.
6
Tojo (2000: 124) demonstra que os holandeses foram muito habilidosos ao destacar as diferenças
entre si e os ibéricos perante o xogunato. “Eles destacaram o fato de os portugueses eram
fisicamente subordinados ao rei de Portugal, mas espiritualmente dependentes do chefe da
Igreja de Roma. Ao permitir que seus súditos devotassem obediência ao Papa, o rei português
perdia sua jurisdição sobre seus súditos. Isto, de acordo com os holandeses, resultava em um
falta de poder que levava à fragilidade da autoridade civil. Os holandeses, por sua vez, ao não
respeitar a autoridade papal, devotavam sua obediência total aos poderes seculares. Este
argumento destacava a natureza subversiva da Igreja Católica e sua ameaça à manutenção da
ordem política”. Este estado de coisas, sem dúvida, contribuiu para a expulsão dos católicos.
Além disso, a empresa colonial holandesa era liderada pela Companhia das Índias Orientais
e os negócios eram mais importantes do que a fé (cf. ZANDVLIET 2004).
14
Entreato
Embora a reabertura do Japão ao mundo tenha sido gradual,
sobretudo depois da Guerra do Ópio e do acordo comercial com os
holandeses em 1842, é a chegada hostil da esquadra norte-americana
comandada pelo Comodoro Matthew Perry em 1853 que torna a queda
do regime Tokugawa inevitável e abre caminho para a restauração Meiji
e a conseqüente abertura do Japão ao Ocidente.
Em 1860, Lisboa restabelece laços diplomáticos com Tóquio.
Em seguida, viajantes, diplomatas e escritores portugueses começam a
publicar seus estudos sobre o Japão (dentre os autores mais importantes,
podemos citar Pedro Gastão Mesnier, Gonçalves Pereira, Polidoro
Francisco da Silva, Ladislau Batalha e Wenceslau de Moraes. De fato,
Wenceslau de Moraes chega ao Japão, em 1888, e se torna, para o
público português, a grande fonte de informação sobre o Japão, em
particular, e sobre o Oriente, em geral (FONSECA JUNIOR 1993). Sua
extensa obra influencia outros tantos portugueses a seguirem o caminho
para o Oriente. No entanto, a presença da língua limita-se ao corpo
consular e alguns imigrados.
Contudo, a chegada do historiador e professor João Abranches
Pinto ao Japão, em 1918, e a abertura do primeiro curso universitário de
língua e cultura portuguesas na Universidade de Estudos Estrangeiros
de Tóquio (Tokyo Gaidai), em 1919, marcou o início da longa presença
do português nas universidades japonesas. Logo após a Segunda Grande
Guerra, universidades japonesas começam a estabelecer seus
departamentos de línguas e estudos estrangeiros. Em 1948, é fundada,
em Quioto, a Universidade de Estudos Estrangeiros, cujo Departamento
de Estudos Luso-Brasileiros foi estabelecido em 1968. Em 1964, a
Universidade Sophia de Tóquio inicia a sua pós-graduação em língua e
cultura portuguesa. Além delas, atualmente, outras três universidades
possuem departamentos de estudos luso-brasileiros ou lecionam português:
Universidade de Osaca, Universidade de Tenri e a Universidade Kanda
15
7
Sumida (2008) afirma que há cerca de dois mil alunos em todos os cursos universitários de
língua portuguesa.
8
Além do exame supletivo, o MEC aplica, por intermédio da Universidade de Estudos
Estrangeiros de Quioto, no Japão os exames para os Certificados de Proficiência em Língua
Portuguesa (do Brasil) para Estrangeiros (CELPE-BRAS).
9
Os dados sobre as universidades japonesas e sobre os autores traduzidos podem ser
encontrados no site da Embaixada de Portugal em Tóquio: www.embaixadadeportugal.jp/
16
10
Possivelmente, o mais amplo estudo sobre os imigrantes brasileiros no Japão é o trabalho de
Higuchi (2006), que pode ser encontrado em http://www.un.org/esa/population/meetings/
IttMigLAC/P11_Higuchi.pdf.
17
11
http://www.stat.go.jp/english/data/kokusei/2005/poj/pdf/2005ch11.pdf
12
Em 2007, a Divisão de Controle de Estrangeiros do Ministério da Justiça do Japão calculava
em 316.967 o número de brasileiros residentes no Japão, dos quais 49.446 tinham menos
de quatorze anos. Em 2007, havia 10.536 alunos matriculados em escolas brasileiras
(YOSHIMURA 2008).
13
http://www.migrationinformation.org/Profiles/display.cfm?ID=311
18
19
14
http://www.oecd.org/dataoecd/20/30/39297829.pdf?contentId=39297830
15
Em 2006, 628 candidatos prestaram o supletivo. Em 2007, este número subiu para 913,
sendo que 72 eram membros de populações carcerárias, segundo Cláudia Emi. Cf. http://
tudobem.uol.com.br/2007/10/26/mec-anuncia-novidades-para-escolas-e-alunos-brasileiros-
no-japao/
20
Conclusão
A presença da língua portuguesa no Japão está associada à
presença econômica e cultural de Portugal e do Brasil no mundo, bem
como à presença das comunidades luso-falantes no Japão. No entanto,
16
http://mecsrv04.mec.gov.br/acs/asp/noticias/noticiasId.asp?Id=4980
17
http://www.ipcdigital.com
21
Referências bibliográficas
Anchieta, José de. 1946 [1595]. Arte da Lingoa mais Vsada na Costa do Brasil. São
Paulo.
Araujo, Gabriel Antunes de (org.) 2008. Cartinha para os meninos aprender a ler de João
de Barros, edição crítica, leitura modernizada e reprodução facsimilar. São Paulo:
Humanitas/Paulistana.
Boxer, Charles. 1950. Padre João Rodrigues Tçuzu S. J. and his Japanese Grammars of
1604 and 1620. Boletim de Filologia Tomo XI: 338-63.
Coelho, Jaime Nuno Cepeda. (org.). 1998. Dicionário de Japonês-Português. Porto: Por-
to Editora.
22
Emmanuel, Dupoux and Kazohiko, Kakehi and Yuki, Hirose and Christophe, Pallier e
Jacques, Mehler. 1998. Epenthetic vowels in Japanese: A perceptual illusion? Disponível
em http://cogprints.org/744/0/ebuzo5.pdf (consultado em 22 de junho de 2008).
Fonseca Junior, Jorge. 1993. Wenceslau de Moraes e outras evocações. São Paulo: Alian-
ça Cultural Brasil-Japão.
Gordon, Andrew. 2003. A modern history of Japan: from Tokugawa to the present. Oxford:
Oxford University Press.
Ikeda, Sumiko Nishitani; Leiko Matsubara Morales; Ivone Hirmoi Oda. 2006. Contactos
lingüísticos do português paulista com o japonês. In Oliveira, Marilza de (org.). Língua
Portuguesa em São Paulo, 63-77. São Paulo: Humanitas.
Rodrigues, João. 1620. Arte breve da Lingoa Iapoa. Macau: Collegio da Madre de Deos
da Companhia de IESV.
23
Smith, Jennifer. 2005. Loan Phonology is not all Perception: Evidence from Japanese
Loan Doublets. Disponível em http://www.unc.edu/~jlsmith/home/pdf/jk14.pdf (acessado
em 13 de agosto de 2008).
Tojo, Natália. 2000. The anxiety of the silent trades: dutch perception on the Portuguese
banishment from Japan. Bulletin of Portuguese/Japanese Studies 1: 111-28.
Zandvliet, Kees (ed). 2004. The Dutch Encounter with Asia 1600-1950. Amsterdam/
Zwolle: Rijksmuseum/Waanders Publishers.
24
Os termos femininos
(palauras de molheres)
no Vocabvlario da Lingoa de Iapam
Introdução
O Vocabulario da Lingoa de Iapam com a declaração
em Portugues é, actualmente, uma obra cada vez mais procurada pelos
estudiosos da língua japonesa do século XVI e inícios do século XVII. É
uma fonte de consulta obrigatória para conhecer a evolução da língua
japonesa.
Desde a chegada ao Japão de Francisco Xavier e dos seus
companheiros, em 1549, a língua japonesa constituiu um dos maiores
entraves à eficácia evangélica dos jesuítas. Perante a ausência total de
obras de referência, os missionários, baseados na experiência e ajudados
1
Departamento de Estudos Luso-Brasileiros, Universidade de Estudos Estrangeiros de Quioto.
E-mail: j_rodrig@kufs.ac.jp
25
pelos irmãos japoneses, desde cedo se lançaram nessa tarefa. O seu esforço
e investimento culminaram com a publicação de várias obras linguísticas
de alto nível, em que se destacam os dois manuais gramaticais do Pe.
João Rodrigues Tçuzu (a Arte da Lingoa de Iapam e a Arte Breve da
Lingoa Iapoa, publicadas em 1608 e 1620, respectivamente) e dois
dicionários, um trilíngue e outro bilíngue. o trilíngue intitula-se Dictionarium
Latino-Lusitanicum, ac Japonicum ex Ambrosii Calepini, publicado em
1595, em Amacusa. O bilíngue tem por título Vocabvlario da lingoa de
Iapam com a declaração em Portugues, feito por alguns Padres e Irmãos
da Companhia de Iesu, e foi publicado em Nagasaqui no ano de 1603,
e um ano depois, em 1604, foi publicado o Svpplemento deste Vocabulario,
bastante completo, com um número de entradas correspondente a cerca
de um quinto do Vocabvlario.
Os dois dicionários apresentam características diferentes. Segun-
do o Prof. Mitsunobu Ôtsuka2, o Vocabvlário da Lingoa de Iapam visava
principalmente ajudar os missionários estrangeiros no seu trabalho diário
com os cristãos, sobretudo no confessionário, onde o padre-confessor
devia estar habilitado a ouvir confissões em língua japonesa e a com-
preender também as variedades dialectais, o calão, a linguagem própria
das crianças e das mulheres. O dicionário trilíngue, latino-português-
japonês, tinha por objectivo ajudar os missionários na pregação, na
preparação dos sermões e homílias, em que era exigido um bom conheci-
mento da língua culta, formal, literária. Os missionários escreviam,
primeiro, o sermão em latim que era, em seguida, traduzido para o japo-
nês com a ajuda dos irmãos japoneses. Os missionários estavam bem
cientes destas diferenças linguísticas e, por isso, a capacidade de língua
japonesa dos missionários era classificada em três níveis: conseguir ouvir
confissões, conseguir pregar e conseguir escrever.
Este meu trabalho cinge-se ao estudo do Vocabvlario da Lingoa
de Japam e enfatiza a linguagem feminina.
2
Mitsunobu Ôtsuka, op. cit, p. 65.
26
Estrutura do Vocabvlario
Número de páginas: 804 (660 do Vocabvlario e 144 do Svpplemento).
Número de entradas: 32.871 (25.985 no Vocabvlario e 6.886 no
Svpplemento). (Se a este número subtrairmos os 561 registos que se
encontram repetidos no Vocabvlario e no Svpplemento, obteremos
32.310.)3
Termos regionais: 457 (378 no Vocabvlario e 59 no Svpplemento).
Destes, cerca de 90% pertencem ao dialecto do Sul do Japão, Kyushu,
assinalados com X. (abreviatura do vocábulo Ximo, que significa “Bai-
xo” em japonês, ou seja, Sul).
Termos literários e poéticos: 1539 (1498 no Vocabvlario e 41 no
Svpplemento).
Termos femininos (Palaura de molheres): cerca de 121 (57 no
Vocabvlario e 64 no Supplemento ).
3
Takeshi Morita, op. cit., p. 268.
27
Termos femininos
A tradução japonesa para “palaura de molheres” é fujingo ou nyou-
bou-kotoba. “Nyoubou” ainda se usa actualmente quando o marido se
refere à sua mulher ou esposa, em pessoas de mais idade. Palavra repre-
sentada por dois caracteres, nyou e bou, significando senhora e aposento,
respectivamente, no Período Heian, “nyoubou” 5 passou a referir-se à
dama de alta posição que na Corte Imperial e nos palácios da nobreza
tinha direito a usar esse aposento privado e o seu papel era tratar dos
seus senhores bem como da educação das crianças. Nyoubou-kotoba (ko-
toba significa língua) é, originariamente, uma espécie de linguagem secreta
que começou a ser utilizada nos inícios do Período Muromachi (1336-
1573) entre as damas que serviam na Corte Imperial.6 Considerada
como linguagem elegante, o seu uso generalizou-se gradualmente até
4
Vocabvlario da Lingoa de Iapam, p. 661.
5
Kouten Daijiten, p. 1265.
6
Idem, p. 1265.
28
Originalidade do Vocabvlario
Takeshi Morita, na obra referida9, faz um estudo comparativo
entre os termos femininos registados noVocabvlario e e os registados em
outros livros japoneses da época, nomeadamente em “Amanomokuzu”10,
escrito em 1420, “Oojourouonnanokoto”11, cerca de 100 anos depois, e
7
Vide Takeshi Morita, op. cit., p. 353. Aí encontrará um estudo detalhado.
8
Eliza A. Tashiro, art. cit., p. 220.
9
Takeshi Morita, op. cit., p. 358-363.
10
Kokusho Somokuroku, vol. I, p. 88.
11
Idem, vol. I, p. 587.
29
12
Idem, vol. 2, p. 623.
13
Não nos sendo possível o acesso a estes documentos, baseei-me na descrição de Takeshi
Morita.
14
“Por que necessariamente ham de faltar alguns vocabulos, pois não he possivel esgotar a
multidão, & variedade delles de maneira que não fiquem muitos, & alguns ainda no tresladar,
ou no compor na emprenssa se deixarão, por isso se fará hum suplemento no cabo pella
mesma ordem do Alphabeto Latino pera suprir o que faltou no corpo do Vocabulario”.
(Vocabvlario da Lingoa de Iapam, IV).
30
16
Ver a lista que apresentamos no final acompanhada de um Inquérito.
*
A escrita actual seria hiyashi.
**
Actualmente, o vocábulo ofukuro é usado principalmente pelos homens.
31
Inquérito e Resultados
O Inquérito sobre os vocábulos anotados como palavras de molheres
no Vocabvlario da Lingoa de Iapam (e seu Svpplemento) foi realizado no
mês de Junho de 2008, a 13 estudantes universitários pertencentes à
32
Conclusão
Não foi nosso objectivo fazer uma análise completa nem do
Vocabvlario nem das palavras de senhoras aí registadas. Foi, no entanto,
suficiente para provar que estamos perante uma obra de grande valor
histórico-linguístico, fruto de uma pesquisa conjunta de pessoas de várias
nacionalidades, com realce para japoneses, portugueses, espanhóis e
italianos. No Vocabvulario não aparece o nome de nenhum autor nem
mesmo redactor. A todos os pioneiros das relações luso-japonesas do
chamado século cristão o meu respeito pelo trabalho desenvolvido, e a
minha gratidão pela herança que nos legaram e que tanto nos dignifica.
33
Bibliografia
Vocabulario da Lingoa de Iapam com a declaração em Portugues, feito por alguns padres e
irmãoes da Companhia de Iesu, Nagasaqui, 1603; Edição facsimilada do exemplar da
Biblioteca Nacional de Évora. Osaka: Editora Seibundô, 1998.
Rodrigues, João. Arte da Lingoa de Iapam. Nangasaqui, 1976. Ed. Facsimilada com
notas e comentários de Tadao Doi e Ken Mihashi. Benseisha, Tóquio, 1976.
Tashiro, Eliza Atsuko. As variedades do japonês nas Artes do Pe. João Rodrigues Tçuzu.
Centro de Documentação em Historiografia da Linguística. São Paulo: UNESP.
Buescu, Maria Leonor Carvalhão. “O Dicionário das três línguas”. In: O Século Cristão
do Japão, Actas do Colóquio Internacional Comemorativo dos 450 anos de Amizade
Portugal-Japão (1543-1993), Lisboa, 1994.
Portugal e o Japão, Séculos XVI e XVII, O Retrato do Encontro, Revista de Cultura, Edição
do Instituto Cultural de Macau, No. 17, Outubro/Dezembro de 1993 ICM.
Tôru Maruyama. Xavier e Rodrigues. Bulletin of the Nanzan centre for European Studies,
vol. 6 p. 15-27, Nagoya, 2000.
*
Manual do Vocabvlario de Iapam.
**
Pesquisa sobre a língua japonesa nos documentos cristãos da época de Azuchi-Momoyama.
***
Índice Geral dos Livros Nacionais (Japão).
34
INQUÉRITO
SOBRE AS “PALAURAS DE MOLHERES” NO VOCABULARIO DA
LINGOA DE IAPAM E SEU RESULTADO
(Quioto, Junho de 2008)
35
36
37
38
*
As quatro palavras assinaladas com asterisco *, no Vocabvlario, não estão anotadas como
Palauras de molheres.
(1)
Usado na ementa de alguns restaurantes como kachin-udon (kachin-soba), udon ou soba
com mochi frito.
(2)
Linguagem masculina.
(3)
Usado na forma polida oishii.
(4)
O uso normal é muzukaru.
(5)
Usado em restaurantes, bares, etc. com a forma ohiya.
(6)
Normalmente usado como omiotsuke.
39
40
41
42
*
O vocábulo está registado duas vezes, mas como palaura de molheres só na acepção a).
Noutros livros da época, aparece registado como termo feminino.
(1)
Mais usado na forma polida okaka. Bonito (peixe).
(2)
Actualmente ainda se usa a forma ohiya.
(3)
Mais utilizado na forma polida Oman.
(4)
Mais usado na forma polida Omeshimono.
(5)
Utilizado actualmente em frases como “o Mar do Japão no inverno está bravo”.
(6)
Como termo de crianças geralmente usa-se a forma polida ototo.
(7)
Dinheiro.
(8)
Usado no sentido normal de catana (espada).
44
Aceitação da Literatura
Brasileira no Japão
Kiyokatsu TADOKORO1
1
Departamento de Estudos Luso-Brasileiros, Universidade de Estudos Estrangeiros de Quioto.
E-mail: tadokorobrasil@iris.eonet.ne.jp
45
46
47
48
49
50
1. Introdução
Este trabalho avalia, a partir dos conceitos de história (cf. HELLER,
O quotidiano e a história) e dos intelectuais orgânicos (cf. GRAMSCI, Os
intelectuais e a organização da cultura), o conteúdo da revista Made in
JAPAN, que circula simultaneamente no Brasil e no Japão desde setembro
de1997, e que teve o seu número 131 publicado em agosto de 2008.
Nesses 10 anos, mostrou a comunidade nikkei e expôs uma identidade
nikkei específica neste momento de globalização da economia. A
comunidade organiza-se em torno dos interesses dos que se identificam
1
Departamento de Jornalismo e Editoração. Escola de Comunicações e Artes, Universidade
de São Paulo. E-mail: alicemitika@yahoo.com
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6. Conclusões
Made in JAPAN é uma experiência inovadora na história do
jornalismo nipo-brasileiro.
63
64
7. Bibliografia
Livros:
Braudel, Fernand. (1978). Escritos sobre a História. Trad. J. Guinsburg e T. C. S. da
Mota. São Paulo: Perspectiva.
Sodré, Nelson Werneck. (1977).História da Imprensa no Brasil, 2a. ed., Rio, Graal.
Periódicos:
Made in JAPAN, volumes 1-131, setembro de 1997 a agosto de 2008, revista mensal,
J.B.Communication, São Paulo.
Site:
http://www.japanbrazil.com
65
Ikunori SUMIDA1
Ponto de Situação
Após a abertura ao exterior preconizada com a Restauração Meiji
em 1868, os japoneses tentaram traduzir os conhecimentos acadêmicos
de outros países estrangeiros por duas vias: por um lado, convidando
professores europeus para lecionarem nas escolas e nas universidades
japonesas; por outro, estudando as línguas estrangeiras para, através delas,
conhecer a estrutura política e administração desses países, sua cultura e
seus conhecimentos científicos e tecnológicos. No entanto, não houve na
altura convite para algum acadêmico português ou brasileiro participar
neste processo. Conseqüentemente não se estudava a língua portuguesa,
nem a cultura e História do Brasil e de Portugal nas universidades
1
Departamento de Estudos Luso-Brasileiros. Universidade de Estudos Estrangeiros de
Quioto. E-mail: i_sumida@kufs.ac.jp
68
69
70
Primeiro ano:
Matérias obrigatórias do DELB
Português Básico Prático I
CALL (Aprendizagem de Línguas Assistida pelo Computador)
Português I
Introdução à Conversação em Português
Leitura de Textos em Português I
Redação em Português I
Introdução à Cultura dos Países Lusófonos
Introdução à Sociedade dos Países Lusófonos
Introdução à Língua dos Países Lusófonos
Introdução à Literatura dos Países Lusófonos
Segundo ano:
Matérias obrigatórias do DELB:
Português Básico Prático II
71
Terceiro ano:
Matérias obrigatórias do DELB:
Português Básico Prático III
CALL (Aprendizagem de Línguas Assistida pelo Computador)
Português III
Conversação em Português de Nível Superior
Leitura de Textos em Português III
Redação em Português III
Seminário Preliminar: Língua Portuguesa
Seminário Preliminar: Literatura dos Países Lusófonos
Seminário Preliminar: História e Cultura dos Países Lusófonos
Quarto ano:
Matérias obrigatórias do DELB:
Português Básico Prático IV
CALL (Aprendizagem de Línguas Assistida pelo Computador)
Português IV
Conversação em Português de Nível Superior
72
Convênios
A partir de 1973, o intercâmbio acadêmico com a Universidade
Federal Fluminese foi intensificado com o estabelecimento de um convênio.
Mais tarde, com a Universidade de Brasília (UnB), a Universidade de
Coimbra e a Universidade de São Paulo (USP) foram assinados novos
convênios acadêmicos. No âmbito destes acordos, todos os anos cerca de
40 alunos do DELB prosseguem estudos mensais ou anuais em países
lusófonos.
Eventos
Concurso de Eloquência de Língua Portuguesa para os Estudantes
Universitários Japoneses
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Conclusão
Um dos aspectos mais atraentes do DELB é a possibilidade de se
conhecer o mundo lusófono através de estudos no estrangeiro, consagrando
assim um esforço de aproximação ao resto do mundo por intermédio da
língua portuguesa. Estes estudos abrangem um vasto território, pois
incluem todo o mundo lusófono. Esta área, que se estende aos quatro
continentes, envolve Portugal, o Brasil, os países africanos de língua oficial
74
Referência
Bem vindos à página do DELB: http://www.kufs.ac.jp/Brazil/delb/index.html
CELPE-Bras: http://www.mec.gov.br/CELPEBRAS
CAPLE: http://www.fl.ul.pt/unidades/centros/caple/index.htm
Globo internacional.
75
Introdução
Em 2003, um projecto-piloto da Universidade de Estudos
Estrangeiros de Quioto (UEEQ), apoiado financeiramente pelo Ministério
da Educação japonês, propôs a utilização das novas tecnologias no ensino
de línguas estrangeiras. No mesmo ano, tinha início o chamado “Ensino
Bilíngue Simultâneo” (inglês/francês), posteriormente estendido ao
espanhol, ao alemão, ao chinês, ao português e ao italiano. O novo
grupo disciplinar criado passou a ter a denominação de CALL: Computer
Assisted Language Learning.
Foi neste contexto, e aproveitando a reforma curricular do
Departamento de Estudos Luso-Brasileiros (DELB), que em 2006
1
Departamento de Estudos Luso-Brasileiros Universidade de Estudos Estrangeiros de
Quioto. E-mail: p_aires@kufs.ac.jp, s_iyanag@kufs.ac.jp, ieaou117@ybb.ne.jp
2
15 alunos afirmaram preferir o PB (27% da turma) e 18 o PE (33%); 21 alunos responderam
que queriam dominar ambas as variantes (38%) e apenas 1 aluno respondeu por outra
variante da língua portuguesa.
78
Sala de CALL, com alunos do primeiro ano do Curso de Estudos Portugueses a utilizar o
Portufone.
79
Exemplo 1
Um caso interessante é a distribuição complementar do fonema /
h/ em japonês, o que provoca alguma confusão quando os alunos tentam
pronunciar o /x/ de PB4:
??? ??? [? ? ??? ???
[a] [i] [u] [e] [o]
[h] ◯ ◯ ◯
/h/ [ç] ◯
?[ ?Φ
ƒ ?] ◯
PB rato /«xatu/ rio /«xiu/ rua /«xua/ reto /«xEtu/ rota /«xçta/
80
Exemplo 2
Outro caso de interferência está relacionado com a distribuição
complementar do /s/ em japonês. Apesar de o estudo da língua inglesa
ser oferecido no ensino pré-universitário, os falantes japoneses têm uma
grande dificuldade com a articulação de /s/:
/s/ [s] ◯ ◯ ◯ ◯
[ʃ ] ◯
81
Portufone – O Manual
Juntamente com a bibliografia da disciplina CALL – Português I,
os alunos adquirem um CD-Rom que permite o acesso ao manual
“Portufone”, embora a sua informação esteja alojada num servidor. O
programa informático em si é muito “leve”: apenas 20 Mb de informação,
com mais de 1400 sons em flash e um manual texto em ficheiro PDF (77
páginas com a explicação de todas as lições; o texto permite ampliação
até 6400%, para que os alunos possam ver com clareza o recém-aprendido
Alfabeto Fonético Internacional). Caso não ocorram problemas na rede
ou no servidor, qualquer computador com uma configuração média de
processador e memória pode executar este software sem qualquer
problema. A própria localização num servidor torna possível correcções
de pequenas gralhas ou acrescentos ao manual, para além de permitir o
acesso em qualquer computador com ligação à internet.
1. Ortografia e pronúncia
2. Vogais
3. Acentos
4. Vogais anteriores e centrais
5. Vogais posteriores
6. Pronúncias de I/i e E/e
7. Pronúncias de 2. A/a, O/o e U/u
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8. Ditongos
9. Hiatos
10. Vogais nasais
11. Ditongos nasais – 1
12. Ditongos nasais – 2
13. Interferência do japonês – Vogais
14. Consoantes e suas articulações
15. Oclusivas
16. Fricativas – 1
17. Fricativas – 2
18. Interferência do japonês - Consoantes
19. Aproximantes
20. Pronúncias do «r»
21. Consoantes nasais
22. Alguns casos de assimilação
23. Entoação
Exemplo 1
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Exemplo 2
A lição 18 pretende ajudar os alunos a superar a interferência dos fonemas
/h/ e /s/ da língua japonesa:
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Exemplo 3
O exercício 4 testa os alunos para o conteúdo da lição 10 (vogais na-
sais). Ao premir no botão, os alunos ouvem a pronúncia da palavra (em
PE e PB), tendo de seguida de identificar a correcta descrição em Alfabe-
to Fonético Internacional.
Papel do professor
Numa sala de aula em que o computador parece ocupar o lugar
central, poderíamos questionarmo-nos acerca do papel do professor numa
aula de CALL, em que o manual de estudo é o programa “Portufone”.
Apesar de se reconhecer a importância das novas tecnologias no ensino
de L2, neste caso o português, a disciplina de CALL – Português I requer
a participação activa de um docente na orientação da aquisição de fonemas,
bem como na prática e aperfeiçoamento da pronúncia. É preciso também
não menosprezar a importância do contacto humano da relação professor/
aluno na orientação do ensino de L2, no esclarecimento de dúvidas e
orientação dos alunos no uso deste programa informático.
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Projectos futuros
“Portufone” foi utilizado pela primeira vez na aula de CALL –
Português I durante o ano lectivo 2007/08, no que se pode considerar
um período experimental. Os seus autores pretendem agora realizar uma
reformulação completa do portal de acesso e trabalham no sentido de
encontrar um método que permita a criação automática de contas de
acesso, pois durante o período experimental a sua atribuição era manual.
Tal poderá ficar concluído a tempo de ser parte integrante do previsto
“Portufone – Edição 2009”, complementado com uma nova edição de
exercícios.
Referência bibliográfica
Delgado-Martins, Maria Raquel (1988). Ouvir Falar. Introdução à Fonética do Português.
Lisboa: Editorial Caminho.
Mateus, Maria Helena Mira et al. (2003). Gramática da Língua Portuguesa. Lisboa:
Editorial Caminho.
Mateus, Maria Helena and d’Andrade Ernesto (2002): The Phonology of Portuguese.
Oxford : Oxford University Press.
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Silva, Thaïs Cristófaro (1999). Fonética e Fonologia do Português. São Paulo: Editora
Contexto.
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Ficha técnica
Mancha 10,5 x 19 cm
Formato 14 x 21 cm
Tipologia Chelternhm Bt 12 e Poor Richard 26
Papel miolo: off-set 75 g/m2
capa: cartão supremo 250 g/m2
Número de páginas 90
Tiragem 1.000 exemplares
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