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GeorgBossong

O ELEMENTO PORTUGUûS NO JAPONÊS


em viagem.
tQ24')in: M. Niendes(éd.)(2ucr3),a. linguaportuguesa
Frankfurl Teo Ferrerde Mesquita,213-2367

I * Os portuguesesno JaPâo

A 23 eleSetembrode 1543 uma caravelaportuguesafoi apanhadaa


caminho cleSiam, na costa sul da China, por um tufâo tropical, desviando-
se do seu curso. Foi dar a uma praia da Ilha Tanegashimano sudoestedo
Japâo. O primeiro que pôs pé em terra japonesa, segundo cr6nicas
japonesas,foi um tal Ant6nio da Mota. FernâoMendesPinto vangloria-se,
na sua Peregrinaçdo,de ter estadolâ nestaprimeira vez. Que importa se
isso é verdadeou nâo?O facto é que o famosoautorparticipoudesdemuito
cedo na aventurajaponesa.Os japonesesinauguraramhâ quarentaanosum
monumento no local do naufrâgio.Com este acontecimentodera-sepela
primeira vez o encontro de duas grandes culturas, que até ali s6 se
conheciamde ouvir falar: o Japâoe a Europa.
Marco Polo jâ tinha despertadoa curiosidadedos europeus'Ele refere
a ilha Cipangu do mar de Este,que, na pronrinciado tempo,correspondiaa
Fl,FEl ri bën guô, a Terra do Sol Nascente.Cipangu e as suasriquezas
lendâriastornaram-seum mito na Idade Média tardia. Em 1492 Crist6vâo
Colombo ainda estavaconvencidode ter chegadoa Cipangu' Baseadana
rlesma palavra chinesa, a variante fonética iapon ou a forma japdo,
assimiladapelo português,surge pela primeira vez em fontes portuguesas
de meados do século XVI, tendo depois penetradoem todas as lfnguas
europeiaspara designar o pafs a que os seus habitanteshoje chamam
Nippon, embora seja representadopelos mesmoscaractereschineses.(A
pronûnciareconstruida em chinêsmedievaldo nomedo Japâoeran!it pèn
(ver Karlgren e Pulleyblank).Isto deu, por um lado, o chinês modemo ri
bën, e, por outro, o japonêsnippon (com assimilaçâoda consoantefinal) ou
nihon (sem assimilaçâo).Ao mesmo tempo, explica a forma portuguesa
Japant,que correspondebastantebem à fonéticada época.)
A chegada dos homens grandes, vestidos de preto e com trajes
exdticos, impressionou os japonenes profundamente. Numa série de

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biombos, as figuras vigorosasdos portuguesescom as suascalçaspretase
largascontrastamcom os japonesesdelicadosnos seustrajes tradicionais.
Depois do primeiro espanto em relaçâo aos estrangeirosexdticos, os
japoneses em breve aprofundaram as observaçôesque deles fizeram.
Admiraram os portuguesespor terem empreendido uma viagem tâo
perigosa por mar, pela sua perseverança, coragem e pelos seus
conhecimentostécnicos de nâutica e de construçâonaval. Mas repararam
que os <bârbarosdo sul> (ffi*. nanbait),como lhes chamaram,nâo tinham
maneiras finas. Na crdnica Teppô-ki, escrita em 1606 por um monge
budista,onde o encontroentre portuguesese japonesesé descrito,pode-se
encontrara seguintedeclaraçâodo tradutor chinês, que se encontravana
primeira viagem dos portugueses:

<Esteshomens, bârbarosdo Sudeste,sâo comerciantes.


Compreendematé certo ponto a distinçâo entre superior e
inferior, mas nâo sei se existeentre eles um sistemapr6prio de
etiqueta.Bebem em copo sem o ofereceremaos outros;comem
com os dedos e nâo com pauzinhoscomo nds. Mostram os
seus sentimentossem nenhum rebuço. Nâo compreendemo
significadodos caracteresescritos.Sâo genteque passaa vida
errando desdeaqui para além, sem morada certa, e trocam as
coisasque possuempelasque nâo têm, mas no fundo sâo gente
que nâo faz mal> (apud laneira 1970:31-32).

Para os portugueses,pelo seu lado, o encontrocom os japonesesfoi


como que a revelaçâode um mundo superior. A naturezaexuberante,as
gentescultivadase amistosas,a belezae limpezadas cidadesé entusiastica-
mente exaltada. Dirigindo-se aos seus superiores em Roma, o jesufta
Cosmede Torres escreveude Yamaeuchiem 1561 :

"Sâo discretos quanto se pode cuidar: governâosepela


razâo tanto ou mais que os espanhois.Sâo curiosos de saber
mais que quantas gentes eu tenho conhecido....Em todo o
descoberto nâo ha homens da sua maneira: tem mui linda
conversaçâoque pareceque todos elles se criaram em paçosde
grandes senhores.Os comprimentosque têm hùs conl os
outros he impossivel poderse descrever... Se ouvera de
escrevertodasas boaspartesque ha nelles,antesfaltaria tinta e

2t4
papel que a matéria>(carta de 29 de Setembroapud Janeira,
1 9 7 0 :3 9 )

Em 1549 também Sâo Francisco Xavier se expressano mesmo


sentidoao escreverde Kaeoshima:

<A genteque ategoratemosconversado,he a melhor que


ategoraestâdescoberta,e me pareceque entre gente infiel nâo
se acharaoutra q[ue] ganheâosjapôes.He ge[n]te de mui boa
côversaçâo,geralmente boa, e nâo maliosa: gente de hôra
muito à maravilha,e estimâo mais a honra que nenhùaoutra
cousa; he gente pobre em geral e a pobrezaentre os fidalgos
nâo a tè por afronta. Estimam mais a honra que as riquezas"
(cartade I I de Outubroapud Janeira1970:.4O)

<Em todo o descobertonâo hâ homensda sua maneira>>, <A gente he


a melhor que ategoraestâ descoberta>:expressôesdestegénero sâo muito
frequentes.Esta foi a primeira vez que os portuguesesencontraramuma
cultura do mesmonfvel, em muitos pontosaté superior.Aqui nâo se tratou
de levar a luz da civilizaçâo a bârbarosselvagens.Pelo contrârio, aqui os
portuguesestiveram de se afirmar perante uma sociedade altamente
requintadae diferenciada.
Os portugueseschegaramao Japâonum momento hist6rico crftico.
O impériojâ s6 existiacomo instituiçâoreligiosa,jâhâ muito que tinha
perdido o poder real. Senhoresfeudaislocais e generais,os tâ daimyô,
lutavam entre si em frentesalternantes.Os três grandessenhoresda guerra,
os criadoresdo Japâodos tSF shôgun,conseguirampor estaaltura unrr o
império num estado unitârio e estâvel. Estes três senhoreseram Oda
Nobunaga(1534- 1582),Toyotomi Hideyoshi(1536- 1598)e Tokugawa
Ieyasu (1542 - 1616). Os japonesescontam a seguinte anedota para
demonstraros carâcteresdiferentesnas diferentesfasesda unificaçâo: os
três senhoresda guerra estâo peranteuma gaiola com um pâssaroque se
recusaa cantar.Nobunagadiz: <eu mato-te!>;Hideyoshi diz: "eu obrigo-te
a cantar>;Ieyasudiz: <eu esperoaté que cantes>.O "século português>
coincide em grande medidacom esteperiodo central da Histôriajaponesa.
Apesar de os portuguesesnâo terem passadode um pequeno grupo de
homens, eles influenciaramo decurso da Histdria de forma decisiva:
atravésdos seusconselhose da sua influência sobre os poderosos,através

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da conversâode inûmerosdaimyôsao cristianismoe, sobretudo,atravésda
introduçâode armasde fogo.
A obra japonesadatadade 1606 que anteriormentecitei intitula-se
f,X.6ùiC, Teppô-ki, o que significa <A Crdnica da Espingarda>.Nada
impressionouos japonesestanto como a superioridadedas armasde fogo.
Aqueles que podiam fazer uso desta superioridade, ganhavam uma
vantagem decisiva perante o seu opositor. Os japoneses aprenderam
rapidamentea fabricar as armaseuropeias.Depois da unificaçâodo reino,
os cidadâosforam proibidos de transportararmas.O armamentoconduziu
paradoxalmenteà pacificaçâo, para séculos, do pais que anteriormente
tinha sido desvastadopela guerracivil.
Mas o objectivo dos portuguesesnâo era tanto a influência polftica e
muito menos a conquista militar. Mais do que noutras viagens de
descobrimentos,quem aqui agiu activamenteforam os missioniirios.Os
empreendimentosdos portuguesesno Japâo foram sobretudode natureza
religiosae o pai da missâojaponesafoi ninguém menosque Sâo Francisco
Xavier. Ele foi sucedidopor personalidadesjesuftas que consideravama
missâo também como uma forma de transmissâo cultural e que se
esforçaramseriamentepor penetrartâo profundamentequanto possfvelna
culturajaponesa.Nestecontexto gostariade referir dois nomes:Lufs Frôis
e Joào Rodrigues.
O padrejesufta Luis Frdis, nascidoem 1532, viveu desde 1563 até
à sua morte, em 1597, no Japâo.Ele mantinha relacôesamigâveiscom o
grande senhorda guerra Nobunagae estavapresentequando este morreu.
Da sua pena provém uma monumental Histdria do Japâo (Histôria do
Japam, 1549 - 1593 em cinco volumes), bem como o fascinanteTratado
em que se contam muito susinta e abreuiadamentealguas contraclisôes&
dffirenças de custumesantre a gente de Europa e estaprouincia de Japûo
do ano de 1585, onde os costumes de japoneses e europeus sâo
sistematicamente comparados.Aqui nâo se trata, como, por exemplo,mais
tarde nas lzttres persanesde Montesquieu,de um exercfcio literârio, mas
antesde um inventârio sério das diferençasentre duas culturas superiores
extremamentedivergentes,onde os detalhessâo cuidadosamente registados
com uma profundacompreensâodo outro.
Também pertencente à Ordem dos Jesuftas, o Padre Joâo
Rodrigues, nascidoem 1561, tinha quinze anos quando foi para o Japào.
Af permaneceu36 anos da sua vida, de 1516 a 1612, atéter sido obrigado
pelas perseguiçôesaos cristâos a ir viver para Macau, onde morreu em

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1634. Ele dominava o japonês tanto falado como escrito e serviu muito
tempo como intérpreteoficial dos senhoresda guerraToyotomi Hideyoshi
e TokugawaIeyasu,o que lhe deu direito ao t(tulo de tçuuu, intérprete(um
conceitoque é lido como tsùji rÉS na pronrinciamoderna,mas que hoje
estâdesactualizado;a palavrapara intérpreteé hoje tsûyakuiin iÉdn^). É
a Joâo Rodriguesque devemosa primeira gramâticado japonês.A sua obra
intitulada Arte da Ltngoa do Japam foi editadaem três grandesvolumes
entre 1604 e 1608 na imprensajesuita de Nagasaki(que, como sabemos,
foi uma cidade fundadapelos portugueses).Esta é a primeira descriçâode
uma lingua asiâtica numa lingua europeia. Esta gramâtica é muito
importante para a linguistica histdrica pois testemunhaa transmissâoda
lingua clâssicajaponesaem caractereslatinos como escritafonética.Ainda
hoje tem muito prestigio no Japâoe foi reimpressaem T6quio na versâo
portuguesae traduzidapara o japonês.Esta obra monumentalfoi seguida
pela Arte breve da lingoa Japoa, editada em Macau em 1620, uma obra
mais pequenae prâtica para aprendero japonês.Joâo Rodriguestambém
colaborou numa obra colectiva, Vocabulario da lingoa de lapam, cont a
declaraçdo em portugues,o primeiro dicionârio de japonês, editado nos
anos 1603 e 1604 em Nagasaki.Com mais de 30 000 palavras,este é até
hoje o dicionârio mais amplo e uma das fontes mais importantespara o
conhecimento do léxicodojaponêsclâssico.
Finalmente deve-se mencionar a descriçâo histdrica, em sentido
lato, da presençaportuguesacristâ no Japâo,a Historia da lgreja do Japâo,
dois volumes monumentaiseditadosem Macau em 1620 e 1633. Nesta
obra nâo se fala, no entanto,sd dos portugueses,mas principalmentedos
japonesese da sua cultura. Deve destacar-sesobretudoo excerto sobre a
cerim6nia do châ. A Historia da Igreja do Japdo, que ficou incompleta,
terminacom um tratadodetalhadosobrea Arte do chô.Esla cerimdnia,em
japonês simplesmentedesignadacomo ÆDlh cha-no-yu,portanto (âgua
quentepara o châ>,desenvolveu-se no Japâoduranteo séculoportuguês.A
figura dominanteda arte do châ, Sen no Rikyt, viveu de 1520 a 1591, foi
portanto contemporâneo dos primeiros portugueses e deve ter tido
contactoscom eles. Foi ele que marcou o ideal estéticoda simplicidadee
da naturalidadesem ornamentosque em japonês é designadopor itL)'
wabi, o ideal que mais influencioua filosofia de vida e a artejaponesas.As
descriçôes de Joâo Rodrigues sobre a arte do châ sâo um exemplo
especialmenteimpressionanteda mentalidade e da estética de vida
japonesas. Cito:

2t7
<He pois estemodo de banqueteconvidarensehuns aos outros a
beberem châ sômente, servindo o banquete, e manjares de
preparaçâopara o châ, o qual banquete nâo hé de excesso, e
demazia, mas sobriedade, e modestia, comendo cada hum, e
bebendosobriamentequanto quer sem haver persuadira ninguem,
nem os hospedesenquantocomem pratiçâo entre sy, mas em voz
baixa s6 fallâo o necessario,havendose em tudo com grande
modestiae socego.Donde este modo de agazalhadoe cortezia, he
em outra forma de trato, e conversaçâodefferenteda commum, e
ordinaria policia, antesem certo modo contrario por ser hum modo
sem fausto, e magniflcencia retirado, e solitario a imitaçâo dos
solitarios do hermo, que afastadosdo trato mundano, e politico,
metidos em choças de feno se dâo a contemplaçâodas couzas
naturaes.Donde este convite de châ, e conversaçâo,nâo he para
longaspraticasentre sy, mas para com grandequietaçâoe modestia,
comtemplarem dentro do animo as couzas que ali vem sem as
louvarem ao dono, e entenderempor sy os mysterios que em sy
enserrâo;e conforme a isto tudo o de que nestacerimonia se uza hé
rustico,e grosseirosem artificio algum, mas sd naturalmentecomo a
naturezao criou, congruentea hermo, solidâo,e rusticaria,pelo que
assim a caza,e caminho por onde a ella se vay, como as couzasde
seviço de que alli se uza sâo todas desta sorte. Donde para este
convite nâo se seryem de sallas, e camaras espaçozasricamente
ornadas como fazem no modo politico, e ordinario, nem de ricas
baixellas de louça fina, nem de outros vazos primos e ricos; mas
temperaeste effeito dentro da mesma cercajunto as cazasem que
morâo hûa cazinhapor sy cobertade palha,e canissosmuy pequena
feita de madeira tosca assim como veyo do matto, mas unicamente
encaixadahùa com parte de madeyravelha a imitaçâo de hùa salla,
ou hermida velha do hermo jâ gastada do tempo feita tosca, e
rusticamente com couzas do mesmo hermo assim naturalmente
como estâo, sem artificio nem galantaria alguma, antes com o
desdemnatural,e velhice. Os vazos,e louça de que nesteservico se
uza, nâo sâo de ouro nem prata, nem de outras materiaspreciozas.
rica, e polidamente feita, mas de barro, e ferro tal sem lustro, e
ornato algum, nem couza que naturalmenteconvide o apetite a
dezejalapor seu lustre,e beleza.... Tem pois por profissâoesta arte

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do châ a cortezia, bom ensino, modestia,e moderaçâonas açoens
exteriores,socego,e quietaçâodo corpo, e alma, com humildade
exterior, sem altiveza, e arrogancia,fugindo do fausto, pompa, e
aparato de fora, e magnificenciado trato forense, antes singeleza
sem dobres como he convenienteao solitario do hermo, vestido
honesto,e dessente,com certa ordem, limpeza, e chanezaem todas
as couzasde seu servico, e da convenientea sua profissâo,porque
todos poem os olhos nos que professâoestaarte,tendo fama no povo
de homensde bons costumes,estimados,e reverenciadospor taes.
Donde para exercitarem estas couzas tocantes ao hermo, e
apartamento,e contemplaçâoo que hâ na caza e serviço della para
os mover a saudades,e apartamentodo trafego forense em algum
modo, e a moderaçâodas acçoensexterioresse convida a beberchâ
na dita caza, servindoo convite, e as demaiscerimoniasque alli se
uzâo tosca,e grosseiramente de exercicio dessascouzas,e aparelho
para bebero châ, que hé a recreaçâodo hermo em lugar da do vinho
de que uzâo nos convites solemnesde trato politico> (apud Janeira
l9'70:254-256).

Missionârios portugueses como Joâo Rodrigues ficaram


profundamenteimpressionadoscom a dignidadesimples,despretensiosa e
sem superficialidadesda cerim6nia do châ. Por outro lado, nâo pareceser
de excluir a hip6tesede o desenvolvimentoda cerim6niado châ poder ter
sido influenciadopela missacristâ.Armando Martins Janeiraescreve:

"A celebraçâoda missa ... realiza-seno ambientede recolhi-


mento e meditaçâo,de paz de esp(rito,aquele misto de graça e de
serenidadeque inspira a cerim6niado châ. A semelhançade certos
gestosé tal que nâo pode deixar de notar-selogo à primeira vista. ...
Chegaramaté n6s noticias da conexâoentre as prâticascristâs e a
arte do châ. A oraçâo do domingo dos criptocristâosde Kioto cha-
mava-sechabi (7x tl ), dia do châ, e em Nagasak,t chagô (Æâ), reu-
niâo do châ. ... Por tudo isto se vê que a liturgia cristâ teve grande
influência na cerim6niado châ, hoje largamentecelebradano Japâo,
fazendoparte da educaçâoobrigat6riade todas as raparigas,consti-
tuindoum culto profundamente enraizadona almajaponesa>(Janer-
ra 1970 :258-259).

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O cristianismo cat6lico introduzido pelos portuguesesfoi, no seu
tempo auge,um facto muito importante.Avalia-seque os cristâoseram, no
mfnimo, 300 000 numa populaçâode talvez 15 milhôes de pessoas.Mais
importanteainda do que o nûmeroé o facto de membrosda alta nobrezae
princfpes se terem convertido ao cristianismo e de em deterrninadas
regiôes, nomeadamenteno sudoeste,na Ilha Kyûshu, este se ter tornado
dominante. O que é impressionante face ao pequeno nûmero de
missionâriosportugueses(ao todo nâo mais de cem homens no decorrer
das três geraçôes). Por outro lado, havia entre o cristianismo e a
mentalidadejaponesa um fosso intransponivel. Foram-nos transmitidas
discussôesteoldgico-filosôficas onde a ideia de um Deus em pessoa(em
japonês designado pelo termo 1 V 7 deusu transformado em nome
pr6prio) é radicalmente posta em causa. Os fildsofos japoneses
interrogavam-see interrogavam os missionârios portugueses:como é
possfvel que um Deus misericordioso concebido como pessoa permita
tantasatrocidadese injustiçasnesteMundo? A concepçâoasiâticade uma
lei universalimpessoal(o <Caminho>ou o <Céu>,em chinêsË dào ou X
tiùn) nâo é compativel com o Deus que pune e perdoa do Novo e Velho
Testamento.Sobretudoa ideia de que os seusantepassados poderiamassar
eternamenteno Inferno por nâo terem conhecido o cristanianismoera
insuportâvel para os japoneses. Pouco impressionado por este facto,
escreveSâo FranciscoXavier:

<Sentemeles este desconsolo,mas a mim nâo me pesa


para que nâo se descuidemde si mesmos,e para que nào vào a
penarcom os seusantepassados>> (apud Janeiral97O:47).

A ideia das penasque os antepassados


teriam de passarno Inferno foi,
porém, uma das principais razôes por que muitos japonesesrecusaram
radicalmenteo cristianismo.Nâo é por acasoque a <piedadedas crianças>
(em chinês 4 xiào), ou seja,o respeitodevido aos antepassados, àqueles
que jâ estavam no mundo antes de nds, é um dos mais importantes
fundamentosdo confucionismoe da ética do Extremo Orienteem geral.
Evidentementeque também havia razôes polfticas concretas que
acabaram por originar confrontos entre os dirigentes japoneses e os
missionârioscristâos. Aqueles receavamque a monarquia portuguesase
pudesse apossar do poder no pais, ficando o Japâo dominado por
estrangeiros.A accâo violenta dos espanhdisnas Filipinas serviram de

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advertência.A intolerância e estranhezada religiâo aliadas à crescente
influência polftica dos conselheirosportuguesesno sul do pafs levaramos
shogune a abandonara polftica de cooperaçâoanterior e a passar ao
confronto total. O entusiasmo inicial de Hideyoshi tornou-se primeiro
desconfiançae finalmente hostilidadeaberta.Em 1587 surgiu a primerra
proibiçâo e expulsâo da Ordem dos Jesuitas,que nâo foi, no entanto,
executadana prâtica.Em 1597 deu-seentâoum golpe violento: numerosos
cristâossofreramuma morte de mârtir em Nagasaki,cento e vinte igrejas
foram destruidas,onzejesuitasexpulsos.À morte de Hideyoshi no ano de
1598 seguiu-seum breve periodode acalmia.Decisivofoi depoiso edital
de proibiçâo de Ieyasu em 1614. O budismo foi elevado, para fazer
oposiçâoà influênciacrescentedo cristianismo,a igreja de estado:todos os
japonesestinham de pertencera uma seitabudista,devendoos àonzesvelar
pela filiaçâo a uma crença. Este decreto esteve em vigor até 1868. Foi
assimque uma religiâo de tolerânciase tornou,sob a influêncianegativado
cristianismo,num instrumentode controleestatale de repressâo.
O destino dos cristâos japoneses foi duro. Milhares deles foram
torturadose executados.Foram introduzidosos chamadosW4ïfrà fumi-e,
<imagenspara pisar>, imagensde Jesusou Maria que deviam ser pisados
pelos suspeitoscomo prova de renegaçâodo cristianismo.Os holandeses
entretantopresentesno Japâointervieram,aquandodo riltimo levantamento
de cristâosem Kyûshu, contra os portuguesescom 438 tiros de canhôes.
Ap6s a conquista do forte de Hara em 1637 foram executados37 fiXl
cristâos.Todos os portuguesesainda presentesno pais foram expulsospara
Macau ou Manila. A pequenacol6nia comercialdos holandeses na ilha
artificial de Deshimaem Hiroda passoua ser, até meadosdo séculoXIX, o
rjnico contactodo Japâocom o estrangeiro.O <séculoportuguês>teve um
final trâgico. Nas palavras do grande conhecedore amante do Japâo,
Wenceslaode Moraes:

<Os dirigentesjaponeses... nâo podiam admitir tamanha


influênciamoral, exercidapor estranhos,tendenteà desintegra-
çâo da familia japoneza,ao fanatismo,à opressâoreligiosa,à
inquisiçâoe certamente,como remate,ao domfniopoliticodos
brancosno solo dos Mikados> (Moraes 1925: 134\.

O tempo dos portugueses,


que no Japâotem a designaçâoparadoxade
ÉlA{'ft nanbanbunka,ou seja,<civilizaçâodos bârbarosdo sul>,tinha

221
chegadoao fim. Ciôncias e técnicasde origem europeiatornaram-senos
dois séculos seguintes ffi# rangaka, ciências holandesas (Hi ran,
.Lotos>, é o elementofonético que designa<Holanda>),até o pais se abrir
completamentena era Meiji à influência do Ocidente com todas as suas
consequências.A influência portuguesa foi curta, mas profunda. O
primeiro encontro entre o ocaso cristâo e o Reino do Sol Nascentefoi
decisivopara toda a posterioridade.

II - O portuguêsna l(nguajaponesa

Gostariade iniciar o estudodo elementolingufstico com uma citaçào


de uma obra de consulta obrigatdria para o japonês, The Japanese
Innguage de Roy Andrew Miller. Ele assinala que, embora todas as
linguas possuampalavras de empréstimo,o seu grau de receptividadeé
muito variâvel. O chinês, por exemplo, é uma lfngua extremamente
conservadoraque semprepreferiu traduçôesdos empréstimos.O japonês,
pelo contrârio,é bem diferente:

<Japanese, for as much of its history as is known to us,


has always stood at precisely the opposite pole. It would be
difficult to find another language in the world - excepting
perhapsEnglish during the first few centuriesafter the Norman
invasion - which has been as hospitableto loanwords as has
Japanese.At all times in their history the Japanesehave
heavily introducednew vocabularyitems into their own lexical
stock, where great numbers of them have remained as
permanent evidence for many of Japan's contacts with the
always remote outsideworld> (Miller 1963:236).

Os estrangeirismossâo fundamentaispara o japonês. Hâ sobretudo


dois tipos de empréstimosimportantes:os empréstimosdo chinês e os das
lfnguas ocidentais. (Existem também empréstimos da lingua dos ainu,
lfnguado povo originaldo arquipélago,e do sânscritodevido à introduçâo
do budismo.)
É praticamenteimpossfvelcalcularo elementochinês,que atravessaa
lingua profundamenteem todos os campos. Pode-secomparar a relaçào
entre as componentes chinesa e japonesa com a relaçâo entre as

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componentesgermânica e românico-latinano inglês. Aqui prevalece o
principio que Miller designapor <total availability>(1963: 244): assim
como se pode dizer que cada palavra latina é potencialmenteuma palavra
inglesa,tambémse pode afirmar que cadapalavrachinesaé potencialmente
uma palavrajaponesa.Sâo numerososos empréstimoschinesesdesdeque
hâ transmissàohistdrica da lingua; e ainda hoje os novos termos nos
camposda ciência e da técnicasâo preferencialmenteformadosa partir de
elementos chineses, que representa para os neologismos um fundo
inesgotâvelsemelhanteao gregoe ao latim para as linguaseuropeias.Nesta
medida, a receptividadeem relaçâo a influências estrangeirasé desde
sempreconstitutivado japonês. Notavelmente,as palavrassino-japonesas
nâo sâo consideradascomo (estrangeirismos>,estandotâo profundamente
adaptadasque se sentemcomo um elementopr6prio.
A adopçâode inûmeros<estrangeirismos> em sentidoestrito (r+ )k;5
gairaigo) desdeo primeiro encontrocom os europeusnâo é, assim,nadade
novo, mas estâ determinadapela receptividadedo japonês que contrasta
profundamentecom o hermetismodo chinês ou também,por exemplo,do
coreano.Os estrangeirismosdas diferenteslinguas europeiasaparecemno
japonês com diferentespesos:os empréstimosmais importantessâo os do
português, holandês, alemâo e francês, enquanto os empréstimos do
espanhol, russo e italiano pouca importância têm. Na época
contemporânea,o inglês, mais do que qualqueroutra lingua, conquistoua
lingua japonesa.Depois da SegundaGuerra Mundial foi introduzidauma
grande quantidade de anglicismos que depois se desenvolveusegundo
regrasprdprias.Um recentedicionârio de estrangeirismosactualmenteem
uso tem mais de 3000 registos,dos quais mais de 90Vo derivamdo inglês
(Kamiya 1994). A percentagemdos anglicismos tem vindo a aumentar
consideravelmentenas riltimas décadas.É muito instrutivo comparar os
resultadosde duas investigaçôesrealizadaspor Ueno (1980) e o Kokuritsu
Kokugo Kenkyùjo (<lnstitutoNacionalda Lingua>)(1964, ver Shibatani
1990: 148s). Nos anos vinte do século XX a relaçâo entre as diferentes
capasetimoldgicasera ainda mais ou menosequilibrada;nos anossessenta,
a superioridadedo inglêsjâ era incomensurâvel:

223
Capa etimoldgica anos20 anos60 percentagem

Inglês 84 2395 5 1 , 9* 8 0 , 8
Holandês 45 40 2 7 , 8- 1,3
Português z3 2l -
14,2 0,7
Francês 6 t66 3,7- 5,6
Alemâo z 99 1 , 2- 3.3
Outros z z+J 1 , 2- 8,2

Uma particularidade especial dos estrangeirismosno japonês é


condicionadapelo sistemade caracteres.A estratificaçâoetimoldgica do
vocabulârio é evidenciada pelo aspecto da palavra escrita. Palavras
japonesas e sino-japonesassâo escritas com i4? kanji, ou seja com
caracteresideogrâficoschineses,havendono entanto uma clara distinçào,
de que todos os falantes têm consciência,entre uma leitura kun e uma
leitura on (âll kun: a leiturajaponesa;Ë o': a leitura sino-japonesa).Para
um leitor europeué fâcil comprenderestadiversidadede pronunciaçôesse
consideramosque, nas nossaslinguas,o algarismo/ll podeser lido ora por
<um,/un/eins/one>, ora por .uni-r, ora por (mono->; ou o algarismo /2/
pode ser pronunciadocomo <dois/deux/zweiltwo>,como <bi-> ou como
"di-"). Além disso,como se sabe,existemdois silabâriosisom6rficosem
japonês: o fluente-redondo L\ È>)J lt @ln lfl hiragana e o rigido-
geométrico )1 , rtT G'(nb katakana. O hiragana é urilizado piua
terminaçôes gramaticais, enquanto o katakana é hoje em dia
essencialmente reservadopara os estrangeirismos.Assim, atravésdo sinal
grâfico é logo evidentepara um falante se se trata de palavrastransmitidas
pela tradiçâo (palavras japonesas e sino-japonesascom kanji) ou de
empréstimosdas linguaseuropeias(katakana).
Entre os estrangeirismosde origem europeia,as palavrasde origem
portuguesasâo as mais antigas e as melhores integradas.Nâo sâo muito
numerosas:foram contados cerca de 300 empréstimosdo português, a
maior parte dos quais, no entanto, sd tem valor hist6rico. Na linguagem
actual regista-seo empregode cerca de 30, muitas das quais peftencentes
ao vocabulârio bâsico. Embora o elemento português nâo tenha grande
peso em termosquantitativos,a sua integraçâona linguagemdo dia-a-diaé
muito grande,de forma que o seu significado é bastantemaior do que a
quantidadefaria prever. O elevado grau de integraçâodos empréstimos

.,, A
portuguesesé comprovadopelo facto de muitos deles seremgrafadoscom
caracteresideogrâficoschineses,cemo se fossem palavras genuinament€
japonesas ou sino-japonesas. Isto seria impensâvel no caso dos
empréstimos mais recentes do francês ou do inglês. Estes têm de ser
escritoscom katakana.
Ainda se pode acrescentaraqui uma riltima observaçâoacerca dos
empréstimosdas linguas europeias.O japonês s6 tem silabas abertasou
silabas que terminam em nasal ou na primeira parte de uma consoante
longa.O sistemasilâbicogeralé entâo:

#(c)v#cv...
#(C)V+N#CV...
#(C)V+Ci#CiV...

Por isso os grupos consonânticosque fecham as silabastêm de ser


reduzidasatravésde vogais epentéticas.Porquea articulaçâoda vogal /u/ é
muito reduzida no japonês actual, quase nâo sendo audivel, é
frequentementeutilizada como vogal epentética,excepto depois de /t/,
onde é obrigatdrioo uso de lol paraesteefeito. A palavrainglesaabstract
apareceassimemjaponêsactualcomoabusulorakuto (7) 7 | 7 , l).
Os empréstimos do português, com quatrocentosanos de idade,
transmiteminformaçôesimportantessobre a fonéticahist6rica do japonês.
As vogais ainda nâo eram tâo reduzidas como hoje; em vez da vogal
epentéticaneutra/u/, encontrâvamostoda a amplitudedo sistemavocâlico
dependentedo contexto fonético como <eco>.A palavraportuguesagrdçd
foi reproduzidano século XVI como gara.sa@-7+T), enquanto que o
inglés g/a.l.rapareceno japonêsactualcomo gurasu (1 7 z). Os "antigos
cristâos> catdlicos sâo designados ainda hoje pela forma kirishitan
(+ U > // 2), derivadado portuguêscristdo. Os cristâosactuaischamam-
se kurisuchan(a/ t) 71I >), derivadodo inglêschristian.
Entre os empréstimosdo portuguêshâ que distinguir dois grupos:os
termos religiosos, relacionadoscom a actividade missionâriados jesuitas
portuguesese que voltaram a desaparecerda lfngua quandoo cristianismo
foi proibido (ao contrâriodas palavrasem sânscrito,que penetraramcom o
budismo e que ainda estâo em uso) e as palavrasda ârea da cultura
material,que sobreviveramaté hoje.
Analisemos agora uma série de exemplos concretos. Apresento
primeiro algunsempréstimosdo "século cristâo>,palavrasque, embora

225
desaparecidasda linguagem actual, podem surgir nas descriçôesdaquela
época.

natara port. Natal


A palavra foi substitufda pelo inglês Èurlsumasu (Christntas) na
lfngua moderna

iruman port. irmdo


A palavra ainda pode ser encontradaem relatos hist6ricos;duranteo
<século cristâo>, os innôos, os japoneses convertidos em catequistas
cristâos,tinham um papel muito importante.

bateren port. padre


Esta palavra também é frequente nas obras histdricas referentesà
épocaportuguesa.Na linguagemactual o padre catdlico chama-selà;a, do
inglèsfiither (àza go kôkai ni kimashita <o padre chegou à igreja>). A
origem do -n final nâo é explicada pela literatura. Pode tratar-se do
acusativo latino, tâo frequente na liturgia (patrem omnipotentenr,),
o que
também explicaria a consoantesurda interior. Miller (1963:.240) explica a
nasal final a partir da transcriçâochinesa, mas mesmo assim nâo pode
explicar a suapresençadentro do chinês.

Qnma port. alma


Também existea forma arurna (com outra vogal epentética)e a forma
latina anima.

deusu port. Deus


Para a noçâode <<Deus>>,Sâo FranciscoXavier usou primeiro o nome
de uma divindade budista,Dainichi. Depois deu-seconta de que isso nào
convinhaao Deus dos cristâose transcreveusimplesmentea palavralatino-
portuguesa.Em finais do seculo XVI difundiu-se um termo sino-japonês,
ainda usual nos nossosdias: XÈ lenshu, chinêstian zhù, literalmente(o
Senhordo Céu>.

tentasan port. tetuaçAo


Encontramoseste termo por exemplo numa traduçâodo PadreNosso
de l59l: warera wo tentasan ni hanashitamau koto nakare <<nâonos
deixeis cair em tentaçâo>.A sflaba -san é muito frequente em japonês,

226
significa <senhor> (Tanaka-san <Senhor Tanaka>). Por conseguinte,a
nossa palavra foi reinterpretadacomo nome de um diabo, o osenhor
Tenta>, tendo o significado da frase citada sido alterado para <nâo nos
entreguesao SenhorTenta>; este diabo ou espfrito maligno entrou depois
no panteâopopulardo Japâo.

misa port. nrissa


É interessantenotar que esta palavra,ainda usual nos nossosdias, é
sempre precedida do prefixo honorativo go-, normalmentereservadoàs
palavras sino-japonesas.Isso mostra que esteve bastante integrada no
vocabulâriojaponês. Um exemplo:.ôhei no hito ga go-misa ni sanrelsu
slimashita"Muita genteassistiuà SantaMissa.o

tnason port. maçd


Estapalavras6 aparecepara designara maçâdo paraiso,a que dava o
conhecimentodo bem e do mal. A palavracomum para estefruto é o sino-
. ^ 4 6

Japonest+IÈ nngo.

kurusu pofi. cruz


A palavra sobrevive hoje no sentido de ofazer o sinal da cruz, e
também no de <crucifixo>. Muitas expressôescompostasda linguagem
actual contêm o anglicismo mais recente kurosu (kurosu-wado
<<crossword>).De resto,a expressâomais usuale mais geral para expressar
este conceito é o sino-japonês*? juuji que simplesmentesignifica
(caracterchinêsem forma de cruzr,(-1- "dez>).

Numerosassâo as palavras deste campo semânticoque tiveram no


japonês uma vida efémerae que despareceram sem deixar rasto; às vezes,
ainda sâo usadasem romanceshist6ricos.Cito, entre muitasoutras:

anJo anjo
virgem biruzen
purificaçdo furihikasan
infinito + inhinito
castidade + kasutedade
mârtir maruchiri
purgatôrio purugatoriyo
rosério rozariyo

227
psalmo + sarumo
jejum + zejun

Nos parâgrafos seguintes citarei e comentarei brevemente alguns


exemplosde palavrasque ainda sâo usuaisna linguagemactual, deixando
de parte os numerosostermosque cairam em desusono séculopassado(na
era Meiji). Combinandoas vâriaslistasexistentesna literaturalinguistica,o
nûmero dos termos ainda vivos nos nossosdias eleva-se a cinquenta e
cinco. Isso nâo parecemuito, mas deve ter-seem conta que algumasdestas
palavras fazem parte do vocabulâriobâsico de todos os dias e que estâo
integradas mais profundamenteque os empréstimos de outras lfnguas
europeias,como se vê pelo facto de muitas delas serem escritas com
caractereschinesese nâo com katakana. Os campos semânticosmelhor
representados sâo os objectosda vida diâria, os têxteis(tecidose roupas)e
a gastronomia,como é frequenteobservar-seno casode contactosculturais
prolongados entre duas linguas. Além destes campos dominantes,
encontramosalguns outros dominios, como, por exemplo, instrumentos
musicais,jogos de cartase vârios materiaisintroduzidospelosportugueses.

Entre os objectosda vida diâria podemoscitar os seguintesexemplos:

bii-dama C-.= port. vidro + jap. tama <esfera>,


O significado actual desta palavra composta é <missanga,bola de
vidro, berlinde>.O vidro foi levado para o Japâo pelos portuguesese foi
inicialmente designado por C* i.-[r biidoro derivado da palavra
portuguesavidro. O termo portuguêscedo teve um concorrente,no entanto,
no termo holandêsglas > garasn, tendo sido finalmentesuplantadono final
do século XIX, possivelmentecom o reforço do termo inglês. O termo
composto citado é ainda hoje testemunhada antiga vitalidade da palavra
portuguesa.Deve ter-se em atençâoa grafia que reflete a etimologia: a
parte europeia com katakana,a palavragenuinamentejaponesa com kanji
("j6ia, pérola").

furasukoT r T= port.frasco
O significadoactual é <alambiquede vidro para experiêncras
quimicas" (kagaku no jikken ni furasuko o tsukaima.su'.
<<usam-se

228
alambiques de vidro para experiências qu(micas>). Dantes o termo
designavatodo o tipo de garrafas.

iaro lutlit{E porl. jorro


O significado é <regador>.A palavra estâ totalmente integrada.É
consideradacomo termo sino-japonêse, consequentemente, escrita com
jo + u + ro
kanji. O significadodas três componentescondiz perfeitamente:
- (como chuva e orvalho>.Esteé o casode um arabismodo portuguêsque
se transformounum termo sino-japonêsno Japâol

karuta 'H'h4 pofi. carta


Os portugueses introduziramojogo de cartasna era de Tensho(1575
- 1592). A palavra karuta designa hoje jogos de cartas tradicionars
japoneses,como o lZ,'â'tr'l hana-garuta <cartasde flores> ou o if ii'hIl
utu-garutd(cartasde poesia).Houveaindaumjogo de cartasdesignadolrr-
sun-garuta,que deriva sem drivida do portuguêsunt sumo. A grafia com
kanji comprovaa integraçâoda palavra;o significadodo composto,que em
sino-japonêsse lê koppai (kotsu + pai), é (osso-tâbua= pequenastâbuas
6sseasno jogo Mah-jong>. Ainda se deve ter duas coisasem atençâo:no
Japâo existem actualmente muitos jogos de cartas de tipo europeu
designadospelo anglicismo l- 7 77 toranpu (< trump), que é grafado
com katakanc. O termo europeu carta exisle no Japâo de hoje em
diferentes variantesconforme a lingua de que origina: além do lusismo
karuta existe o galicismo a ra karuto <à la carte>;o alemâokarute com o
signifrcado.dossiermédico>(a linguagemmédicaestârepletade termos
técnicosalemâes);e o anglicismokado, que abrangemuitos significados,
desdeo cartâode crédito à ficha dum ficheiro.

Koppu ) y / port. copo


O significado actual é "copo (de vidro ou de outros materiais)>.Um
exemplo: pikunikku de wa kami koppu o tsukaimosu:(<numpiquenique
usam-secopos de papel>.A palavrafoi introduzidapelos portuguesespara
designara nova forma de beber por copos de vidro. Foi depois reforçado
pelo termo holandêskop, enquantoo inglêscup (kappu) significatroféu.

shabon ,,/ I il: > port. sabdo


A palavra usual é hoje o termo sino-japonês.reftften;além disso,
também ocorre o inglês sôprr. Shabon surge sobretudo no composto

229
lf iT>E shabon-dama,que é estruturadode forma semelhanteao
termo acima referido bii-dama. Deve-se ainda ter em atençâo que esta
palavra é registadaem todo o lado como empréstimo do português.Eu
acho,contudo,que a terminaçâoapontaantespara uma origem espanhola.

tabako tÉË , [_..,\ = poft. tabaco


A palavra tanto significa (tabaco> como, mais frequentemente,
.cigarro>>e faz parte integrante da linguagem coloquial. A grafia é
puramente chinesa e ambos os Çomponentes significam (erva de
fumar/ervafumante>;estessâo empreguesefectivamenteno chinês com a
sua pronrincia normal tgancdo) com o significado de <tabaco>.Lido à
maneira sino-japonesa,seria pronunciado*ensô. Em vez disso, a ligaçào
kanji é pronunciada tabako como em português. Também este é um caso
em que um arabismoportuguêsresultanum empréstimochinêsdo japonês.

Como exemplosde roupase têxteis,cito os seguintesempréstimos:

birôdo B'E - l-:, X.H,Xlik porl. veludo


O veludo foi introduzido pelos portugueses.A palavra continua até
hoje bem viva e nunca foi substituidapor um anglicismo. A grafia com
kanji é puramentechinesa;ela é constituidapelos simboloslian <<cév>>
+ é
bem como por rông (penugem, tecido macio,
(ganso> = juntos <<cisne>>,
penas>.O termo composto(penugemde cisnené o conceitochinês normal
para veludo. A grafia chinesa foi adoptada no japonês, mas com a
pronûnciaportuguesa(a pronrinciasino-japonesaseria* tengajù).

juban fîâf+ port.jubdo


O termo designa a (roupa interiorjaponesa,roupa que é vestidasob o
kimono>. Roupa interior de tipo europeué hoje designadapelo anglicismo
shatsu (< shirt). Mais uma vez. temos aqui uma constelaçâotipica, pela
qual empréstimosportuguesesdesignamrealidadestradicionaisjaponesas,
enquantoo anglicismo designaobjectos de tipo ocidental. A palavra estâ
tâo perfeitamente integrada que nâo surge em qualquer dicioniirio de
estrangeirismos;pareceuma palavra sino-japonesae é, consequentemente,
escritacomkanji. A primeira parte do termo compostosignifica sd por si jâ
(roupa interior>, a segunda<<roupa leve de Verâo>. Esta ligaçâo nâo existe
em chinês,surgiu no japonêspor influênciaportuguesa.Trata-se,mais uma

230
vez, de um arabismoque se tornou num (pseudo-)compostosino-japonês
atravésdo português.

kappa âr, pon. capa


O termo designavainicialmentea (capa) espanhola.Passoudepois a
designaruma capaimpermeâvelsem mangastipicamente japonesa( I,l,iâJ,
ame-gappa"capa de chuva"). Para uma capa impermeâvelde tipo europeu
utiliza-se hoje o anglicismo rênkôto (<raincoat). A grafia com kunji
comprovaa integraçâoda palavra.Aqui a ligaçâoé unicamentefonética.O
significado, (penas ligadas>, s6 com muita fantasia conduz a uma
associaçâosemântica.Trata-se de uma invençâo japonesa para a
representaçâo da palavraportuguesa.

rasha 7 tL Wfr, port. raxa


A palavra nâo é frequente no português moderno. Designava um
<tecido de lâ>, que é exactamenteo significado da palavra japonesa.A
grafia com caractereschineses é em primeiro lugar fonética, mas as
associaçôessemânticastambém se adequam neste caso: a primeira
componentesignifica <rede, gaza>, o segundo <gaza, tecido finoo. Em
chinês, a combinaçâo contrâria ft]''T# shalttô é o termo habitual para
<<gaza>>.

Refiro finalmentealgunstermosdo camposemânticoda alimentaçio.

Em primeiro lugar, têm origem portuguesaos termos que designam


especiariase frutas exdticas introduzidaspelos navegadoresportugueses,
como por exemplo (estaspalavrasescrevem-sehoje com katakana)'.

an6 anisu
coentros + koendoro
manjerona + nulyorana
marmelo marumero
zamboa + zabon

Os portuguesestambém introduziram determinadosdoces, o que se


reflecte nos seguintesempréstimos:

231
karumera )r 7 / v, fHù#5 port. caramelo
A palavra portuguesa designa hoje a substância(<caramelo>).O
termo duplo inglês lcyarameru, pelo contrârio, é empregue para designar o
bombom de caramelo. O significado do composto chinês é <açûcar de
cristal queimado>; a grafia é, portanto, puramente semântica, sem
ressonânciasfonéticas.

kasutera fi 77 7 porl. fbolo de) Ca.stela


Trata-sede um tipo de bolo que era consideradouma especialidadede
Castela.O termo ainda hoje é empreguee muito vital na linguagem de
todos os dias.

konpeitô à'XHE porl. co,tfcito


Neste caso é usual a grafia kanji. Existe um correspondentefonético
exacto,em que o compostoé efectivamentepronunciadokonpeitôem sino-
japonês (a pronrinciachinesa seria *jlnmîtûrg; a pronûncia sino-japonesa
determinaa pronûnciaprolongadada riltima vogal (-rô em lugar de -ro). As
associaçôes semânticastambém sâo adequadas:o composto(que nâo existe
naturalmentenestaforma no chinês)significa <<arroz de açricardourado>.

Finalmenteapresentoos dois lusismosmais frequentesno japonês:

pan ,t<> port. pdo


O pâo era para os japonesesum alimento completamenteexdtico,com
o qual contactarampela primeira vez atravésdos portugueses.O termo é
hoje um componente bâsico do léxico fundamental. A grafia
exclusivamentecom katakanamostraque os japonesestêm consciênciada
sua origem portuguesa.

tenpuraX.Ë ffi port. temp(e)ra


(tambemescritoXi- b, (À-5'à)
O prato nacional japonês conhecido em todo o mundo é descrito
assim num dicionârio: <legumes e mariscos frescos, delicadamente
envoltos em ovo, douradosem 6leo leve>. A grafia alternativa com ktnji,
com uma mistura de kanji e hiragana, ou somente com hiragana
demonstraque a palavra é consideradagenuinamentejaponesa. Nâo se
escrevecom katakana,como os demaisestrangeirismos. O compostocria a
associaçâo"ghlten do céu>.Nunca existiu nestaforma no chinês.Continua

zJz
a discutir-se sobre o étimo português. Uma explicaçâo comum é que
tenpur(lera uma comida de jejum, porqueduranteestenâo se podia comer
carne.Neste caso seria derivado do latim tempora.Eu acho, contudo, que
no Japâo nâo era de qualquer forma comum comer-secarne, pelo que o
prescindir dela nada tinha de especial.O termo deve antes relacionar-se
com o verbo temperar. Esta tese é corroborada pelo facto de a forma
tempra existir no indo-portuguêscom o significadode tempero.

III - Os portuguesese a outra metadedo mundo

Depois de Marco Polo foram os portugueses os primeiros a


contactaremcom o Extremo Oriente, que às vezes foi chamadoa <outra
metadedo Mundo". Um impulso irresistivellevou-osa atravessaro oceano
como Vasco da Gama e
e a procuraro pais atrâsdo horizonte.Portugueses
Fernâode Magalhâesforam os primeirosa mostrarà Humanidadeque tudo
se relacionaentre si e que todos os povos vivem no mesmo planeta. Ao
chegarem ao Japâo, alcançaramo Oriente mais distante, o pais do sol
nascente.O encontro de Portugal com o Japâo foi curto, trâgico, com
graves consequências.No pequeno sector do vocabulârio que os
portuguesesdeixaram no Japâo reflete-se um pedaço da Hist6ria do
Mundo: o primeiro encontrodo Ocidentecom o Oriente mais afastado,o
choque de duas civilizaçôes altamentedesenvolvidas,o inicio da ligaçào
das partes separadaspara pertazeruma Humanidade.

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