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Lugares Da Escrita - Performatus PDF
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2014
ISSN 2316-8102
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A leitura, sem lógica oriental ou ocidental, poderia ser iniciada por uma
sequência de vídeos a partir da esquerda, ou a partir de obras tangíveis à direita,
sendo que todas as obras convergiriam para a peça chave da exposição: o
registro da performance Coleção (2014), que é apresentada sob forma de vídeo
em três projetores no espaço expositivo e em três tamanhos e tempos distintos
para que o público possa perceber o começo, o meio e o fim da ação de uma só
vez e de variadas formas. Essa opção dispositiva enfatiza as escritas e leituras
distintas de um mesmo trabalho e traz à tona uma outra possibilidade de
iniciarmos uma leitura, recorrendo a uma solução literária comum em clássicos
como Eneida, de Virgílio ou Ilíada, de Homero, que é conhecida por In media res.
De Coleção rumo às duas possíveis entradas do(a) observador(a) no
espaço, temos as obras: D.N.A. – Reimpressões (2005), sendo um vídeo de Fábia
Fuzeti; o videodocumentário Geotomia (2000), de Marcelo Garcia; Cabelódromo
(2011), vídeo realizado em colaboração com Grasiele Sousa; a série de
somatogravura intitulada projeto D.N.A. (2002); algumas fotografias da ação
pour être plus belle et efficiente – pour être plus beau et efficient (2005); além
dos trabalhos inéditos de fotoperformance como Colaboração #1 e #3 – Ações
de Patylene & Paulette (2014); about the body (2014); e sem título (2014), que
foram realizados em parceria com outras(os) artistas.
Naturalmente, por se tratar de uma artista de body art com ênfase em
estratégias que submetem o corpo à dor, aflição, agonia ou o que quer que o tire
da zona de conforto, imediatamente pensamos em situações datadas como as
manifestações radicais dos acionistas vienenses, de Gina Pane, de Chris Burden,
entre outras(os). Mas a atualidade do trabalho de Priscilla Davanzo se dá à
medida que ela não está testando seus limites físicos ou psíquicos como fazia
grande parte desses(as) artistas aqui elencados(as) como representativos de um
período anterior ao nosso.
Talvez nem a própria Orlan seja um referencial mais próximo do trabalho
de Davanzo, até porque a artista francesa promovia a negação da dor através da
“arte carnal”, ao fazer ode ao uso da morfina e também à condenação da dor
como forma de autopenitência. Já a artista Priscilla Davanzo não aborda a dor no
seu trabalho, apesar de se furar com agulhas para fazer suturas e atravessar em
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pelo rio e aos próprios objetos que também foram obtidos em lojas da região.
A sua configuração final, com sacos pendurados na região do peito,
assemelhava-se à deusa Diana Efesina, porém mais precisamente a uma fonte
do século XVI existente nas proximidades de Roma, em Villa d’Este, onde essa
figura feminina é representada com diversos seios dos quais saem jorros de
água.
Coincidentemente, a possível imagem ali construída dessa deusa da
fertilidade, com seus vários seios fartos, vem confirmar o código extremamente
feminino da palavra “livmoder” (“útero” em sueco) tatuada no colo de Priscilla
Davanzo.
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