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Resumo O objetivo deste estudo é ilustrar como um empreendedor que atua no ramo têxtil
buscou subsídios para alavancar seus negócios, por meio da percepção de oportunidade, pro-
curando independência da matéria-prima importada e a substituindo por material originado da
reciclagem de outro negócio. A pesquisa foi conduzida por metodologia qualitativa, explorató-
ria, por intermédio de entrevista, cujo roteiro é semiestruturado. Os resultados estão de acordo
com Hills e Shrader (1998), que argumentam que empreendedores de sucesso concordam que
novas oportunidades de negócios surgem fortemente relacionadas: a uma solução para um
problema específico; às mudanças do mercado e hábitos de consumo dos clientes; à escuta
dos clientes, sobre o que eles desejam e não desejam. Os resultados ilustram que efetivamente
ocorreu o que se pode designar por percepção e aproveitamento da oportunidade.
Palavras-chave: Empreendedorismo; Modelo; Caso; Oportunidade; Percepção.
Abstract The objective of this study is to illustrate how an entrepreneur who acts in the
textile branch sought to leverage their businesses, through the perception of opportunity,
seeking independence from imported raw material and replacing it with material originated
from the recycling of other business. The survey was conducted for exploratory, qualitative
methodology by means of interview whose script is semi-structured. The results are in line
with Hills and Shrader (1998), who argue that successful entrepreneurs agree that new busi-
ness opportunities appear strongly related: a solution to a specific problem; to market changes
and customer consumption habits; listening to the customers, what they want and don’t want.
The results illustrate that effectively took place what can designate for perception and utiliza-
tion of the opportunity.
Key-words: Entrepreneurship; Model; Case; Opportunity; Perception.
I
Faculdade de Paulínia (FACP), Paulínia/SP - Brasil
Revista de Ciência & Tecnologia • v. 19, n. 37, p. 69-81 • 2016 • ISSN Impresso: 0103-8575• ISSN Eletrônico: ISSN: 2238-1252 69
Introdução
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Figura 1: Processo de Identificação de Oportunidades de Lumpkin e Hillst (2001)
É neste contexto que esta pesquisa se insere: desvelar uma experiência de um empre-
endedor que, num primeiro momento, sentiu a necessidade da sobrevivência do seu negócio,
levando-o a buscar alternativas em diferentes ambientes de atuação, por meio de tecnologias
conhecidas e estabelecesse um plano de viabilidade econômica.
O empreendedor
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encontra motivação e sucesso no próprio trabalho. Existem algumas motivações que levam o
indivíduo a querer fazer algo diferente, que podem apresentar-se de distintas formas. Esse autor
diz ainda que há pessoas que apresentam características empreendedoras desde muito cedo. Ini-
cialmente dentro do contexto familiar, depois na escola ou na comunidade, vão assim desenvol-
vendo essa habilidade por meio de uma liderança que envolve e motiva os outros.
As motivações e características são sintetizadas por Santana (1993:14) em dez qualidades-
-chave, para que o empreendedor seja um empresário de sucesso: assumir riscos, aproveitar
oportunidades, conhecer o ramo, saber organizar; tomar decisões; ser líder; ter talento, ser
independente, manter o otimismo e ter tino empresarial.
Para Chagas & Freitas (2001), para ser um empreendedor não basta identificar opor-
tunidades de negócio. É preciso realizá-las. Longenecker et al. (1997:9) resumem as várias
qualidades apresentadas em três predisposições: uma enorme necessidade de realização, uma
disposição para assumir riscos moderados e uma forte autoconfiança.
O empreendedorismo caracteriza-se por uma capacidade de identificar oportunidades
e criar algo inovador sob condições de incerteza, assumindo riscos. Para Dolabela (2002), o
empreendedor é uma força positiva na economia e um agente de mudanças.
O Brasil apresenta um índice elevado de desigualdade social, que, embora tenha melhorado
nos últimos anos, ainda é uma das mais acentuadas do mundo. Após o choque abrupto em
2001 sobre a economia mundial, inclusive a brasileira, cresceu acentuadamente a atividade
empreendedora por necessidade em proporção à atividade empreendedora total. A partir
de 2003, o empreendedorismo por oportunidade retoma o crescimento, até atingir em 2007
o valor de 57% da população de empreendedores iniciais no Brasil (GLOBAL, 2008).
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As características dos Empreendedores de sucesso passam por diversos aspectos; primei-
ramente a identificação da oportunidade depende exclusivamente da sua capacidade cognitiva
aliada à sua experiência de vida, à sua criatividade e a uma visão analítica e realista do negócio.
Procurar os meios certos e buscar as informações necessárias e precisas para a abertura de um
novo empreendimento é essencial para o êxito inicial do seu negócio. Baron e Shane (2007)
Hisrich et al. (2009) definem que geralmente a ação empreendedora é proposital. Os empre-
endedores intencionam buscar as oportunidades, entrar em mercados novos e oferecer novos
produtos. Essas intenções são mais fortes na forma de agir quando a ação é percebida como
viável e desejável.
Embora haja uma infinidade de conceitos que procuram entender esse ator social, Julien
(2009) defende que Davidsson (2001) e Steyaert e Hjorth (2003) lembram com razão que nem
sempre há concordância sobre a definição de Empreendedorismo.
Por sua vez, Vankataraman (1997) apud Julien (2009) viu o Empreendedorismo como
uma nova produção de bens ou serviços, aproveitando-se uma oportunidade com todas as suas
consequências e, à sua frente, o empreendedor.
Cantillon (1755) apud Oliveira et al. (2008) viu o empresário como responsável por todas
as trocas e a circulação na economia. Ao contrário de trabalhadores assalariados e proprietários
de terra que ambos recebem certo valor em renda fixa ou renda, o empresário ganha um lucro
incerto a partir da diferença entre preço de compra de um conhecido e um preço de venda
incerto, assumindo, por conseguinte o risco dessa operação.
A partir de Schumpeter (1988) a figura do empresário inovador torna-se fundamental
para o desenvolvimento da economia, aparecendo assim, a figura do empreendedor.
Metodologia de pesquisa
Esta pesquisa é de natureza descritiva e qualitativa. Trata-se de um caso único, com ri-
queza de informações. A escolha deste caso deveu-se ao fato de ele ilustrar um exemplo de
percepção e aproveitamento de oportunidade.
A pesquisa fez uso do processo de identificação de oportunidades de Lumpkin e Hillst
(2001) basicamente centrado em cinco passos, como mostra a Figura 1 e entrevistou um dos
gestores de uma empresa criada para suprir as necessidades de outra já existente no mercado
do ramo têxtil, como fornecedora de matéria-prima. Esse participante da pesquisa abordou o
histórico de três empresas integradas e que são partes dessa experiência. Não foi autorizada
a identificação das empresas e, visando preservá-las, doravante as mesmas receberão nomes
fictícios e, ainda, alguns dados foram alterados para não correr o risco de identificação.
O gestor que participou da entrevista tem 15 anos de desempenho no Grupo. Atua como
um dos gestores de decisão, gerenciando atualmente a unidade industrial da Alvapet. Sua for-
mação é em Administração de Empresas e tem especializações em diferentes áreas.
Cresswell (2007) descreve a discussão do plano de análise de dados numa pesquisa nar-
rativa como a recriação das histórias dos participantes usando mecanismos estruturais como
plano, cenário, atividade, clímax e desenlace.
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Os resultados foram tratados por meio de narrativas de um caso de sucesso que Miles e Hu-
berman (1984) apud Creswell (2007) apontam como sendo propícios para pesquisas qualitativas.
Resultados
O Negócio
A origem da palavra plástico vem do grego plastikós, que significa adequado à moldagem.
Plásticos são materiais formados pela união de grandes cadeias moleculares chamadas po-
límeros que, por sua vez, são formadas por moléculas menores denominadas monômeros.
Os polímeros se dividem em: Termoplásticos e Termofixos. Os Termoplásticos são plásticos
que não sofrem alterações na sua estrutura química durante o aquecimento e, que podem ser
novamente aquecidos e, portanto, ser reciclados em novos produtos (PLASTIVIDA, 2009).
Além disso, as fibras de poliéster são empregadas na fabricação de brinquedos para o
enchimento de bichos de pelúcia e bonecas, e na produção de travesseiros, acolchoados e
edredons, também como enchimento.
No Brasil, o plástico reciclável é codificado por meio da norma NBR 13.230 da ABNT
(2008) e são classificados como: – PET (Polietileno Tereftalato); PEAD (Polietileno de Alta
Densidade); PEBD (Polietileno de Baixa Densidade); PP (Polipropileno); PVC (Cloreto de
Polivinil); e PS (Poliestireno).
Em relação à reciclagem do plástico, a fim de garantir a sustentação econômica deve-se
levar em consideração (PLASTIVIDA, 2009): – Custo da separação, coleta, transporte, arma-
zenagem e preparação do resíduo antes do processamento; – Quantidade de material dispo-
nível em todo o país; – Fontes geradoras de matéria-prima próximas ao local da reciclagem;
– Conhecimento tecnológico; – Demanda de mercado para o material reciclado.
A reciclagem tem-se mostrado excelente oportunidade de alavancagem de novos empreen-
dimentos, traduzindo-se em geração de emprego e renda para diversos níveis da pirâmide social.
Um aspecto que merece destaque é o fato de o mercado de materiais recicláveis estar ao
alcance de pequenas e microempresas. Com um pequeno investimento, é possível iniciar-se um
negócio no mercado de PET recicláveis, como garrafas de refrigerantes e que se tem mostrado
promissor (CEMPRE, 2009).
O aumento no volume de reciclagem de PET, no Brasil, pode ser observado pelos se-
guintes dados da ABIPET (2009): 167 Ktons/ano em 2004 para 231 ktons/ano em 2007, o
que significa um incremento de 38,32%.
A Empresa
Na caracterização da empresa, os dados reais foram alterados para preservar a identidade
da mesma. A AlvaPet começou suas atividades no final do ano de 1995, tendo início a produ-
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ção de PET reciclado em flocos (estágio intermediário à produção de fibras). No ano seguinte,
o projeto tornou-se efetivamente realidade, com o início da produção da linha de extrusão, que
tem como produto final a fibra de poliéster (PES).
A indústria está instalada numa cidade do interior do Estado de São Paulo, local estraté-
gico, e de fácil acesso à cidade de São Paulo. Na época, era um polo industrial em construção,
mas atualmente está bem definido e estruturado. Outro motivo foi estar no mesmo polo in-
dustrial de uma das mais importantes fábricas de refrigerantes e que utilizam garrafas PET em
seu processo e, portanto, fornecedor de matéria-prima para a reciclagem.
AlvaPet é uma empresa pertencente ao Grupo Majoritário, que compreende empresas
atuantes nos setores de agronegócio, indústria têxtil (Tecnoliner) e de serviços, com projeção e
reconhecimento em âmbito nacional, tradicional por seus investimentos em novas tecnologias
industriais, procurando sempre contribuir para o desenvolvimento do país.
Essa indústria tem atualmente como seus principais clientes empresas do próprio Grupo
(Tecnoliner) e outras que fabricam tapetes e carpetes para os setores automobilísticos e domés-
ticos, e que fabricam não-tecidos (produtos utilizados pelos setores de calçados, construção
civil, higiene e limpeza e de móveis).
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Figura 2: identificação de oportunidades via Lumpkin e Hillst (2001)
Fonte: Autores
E o entrevistado continua:
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tadas para o Grupo e 60% para o mercado, desta forma este empreendimento se tornou
autossuficiente e responde por boa parcela do faturamento do Grupo Majoritário.
O presente processo pode ser descrito utilizando-se, portanto, o modelo que descreve o
processo identificação de oportunidades de acordo com Lumpkin e Hillst (2001), ilustrado na
Figura 2. Há uma aderência perfeita do caso aqui relatado às etapas propostas por esses autores.
Conclusões
Este estudo se propôs a identificar como a visão do empreendedor nas oportunidades, ori-
ginada na necessidade, e na inovação por transformação, gera resultados positivos para o negócio.
Os resultados estão de acordo com Hills e Shrader (1998), que argumentam que empre-
endedores de sucesso entrevistados nos Estados Unidos concordam que novas oportunidades
de negócios surgem fortemente relacionadas: a uma solução para um problema específico; às
mudanças do mercado e hábitos de consumo dos clientes; à escuta dos clientes, sobre o que
eles desejam e não desejam.
Ainda, foi possível compreender a visão estratégica e o comprometimento da alta admi-
nistração, estrutura de logística reversa adequada e estrutura de negócio que garante resultados
econômicos e sua adequada distribuição.
A inovação tecnológica identificada pelo empreendedor na oportunidade da reciclagem
do plástico, além da visão e da crença do seu empreendimento em valor econômico, possibilita
a criação de empregos indiretos e uma cadeia de logística, o assunto tem revelado preocupa-
ções não apenas nos órgãos governamentais, mas, também, nos centros de estudos e de pes-
quisas. Pensar questões ambientais, possibilidade de degradações, mau uso do solo, ausência
da educação de cidadãos em diferentes níveis da pirâmide social, tem se mostrado recorrente
em estudos de diferentes áreas especialmente no campo do Empreendedorismo Sustentável.
Neste estudo, ficou demonstrado que os Empreendedores que identificaram a oportu-
nidade na inovação veem seus empreendimentos baseados no princípio de atender aos inte-
resses de seus stakeholders. Mais pesquisas poderão sinalizar como outros empreendedores
têm se comportado frente ao assunto abordado visando trazer contribuições que possam
ampliar esse conhecimento.
Referências
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