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Escola Charles Spurgeon

Curso de Formação Ministerial

Disciplina: Teologia Sistemática 2

Professores: Antônio Neto/Joversi Ferreira

Aluno: Alexsander H.M.O. Brito

Resenha:

UM ESBOÇO DA DEFESA DA UNIDADE INTEGRAL DO HOMEM CRIADO POR DEUS

Em Seu manual de teologia sistemática Grudem sugere que antes de perguntarmos se


as Escrituras usam "alma" e "espírito" como partes distintas de seres humanos, deveríamos
deixar claro desde o início que a ênfase da Bíblia está na unidade geral do homem criado por
Deus.

Desde o início da criação vemos, em uma análise bem superficial e simplista, Deus
orquestrando dois tipos de processos: primeiramente a criação ex nihilo, na qual Ele trazia
céus e terra à existência a partir do nada. Em seguida, após fazer surgir da terra e das águas
plantas, aves e animais, Deus formou o ser humano a partir de uma matéria pré-existente (ex
matéria): “Então o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e soprou em suas narinas o
fôlego da vida, e o homem foi feito alma vivente" (Gn 2:7). Nesse maravilhoso ato, Deus (que é
Espírito) parece estar soprando e compartilhando da Sua própria essência espiritual para
dentro do corpo humano, transformando aquela massa inerte, aquele boneco de barro
vermelho, em uma criatura almada, viva que espelhava sua imagem e semelhança.

A partir desse evento miraculoso, o casal original pecou ao comer da árvore do


conhecimento ao invés da árvore da vida. Tal ato de desobediência fez cair sobre ambos o
salário do pecado que é a morte. A partir de então, a morte passou a atuar sobre a
humanidade (Rm 5:17). Antes de Cristo se manifestar como vida ao mundo, a humanidade não
apenas jazia sob a sombra da morte (Mt 4:16, Lc 1:79), mas estava morta em seus delitos e
pecados (Ef 2:1). O próprio Senhor Jesus parece testificar essa condição em Mt 8:22 e Lc 9:60,
dando a entender que, em um funeral, tanto o morto quanto os que o estão sepultando
compartilham da mesma funesta condição.

Aos olhos de Cristo todos que não O receberam estão em condição de morte, pois Ele
é a própria vida (Jo 14:6, 1Jo 5:12). Tudo indica que essa condição de morte alcança o ser
humano por inteiro. Todavia, em uma experiência existencial normal, o homem não se sente
morto, mas vivo com corpo e alma (e/ou espírito) funcionando aparentemente a contento.
Não apenas as funções vitais, mas também a própria capacidade de ser senciente comprovam,
empiricamente, essa condição. Além disso, manifestações espirituais de pessoas não
regeneradas (1Sm 10:11; 19:20-24) podem sugerir um funcionamento (mesmo que defeituoso)
do espírito humano. Mesmo sem regeneração o homem ainda traz a imagem e semelhança de
Deus, ainda que a mesma esteja corrompida pelo pecado, corrupção esta que afeta o ser
humano em sua totalidade, aprisionando-o em uma condição de morte.

A necessidade de, em Cristo, nascermos e sermos vivificados em espírito (Jo 3:6, 1Co
15:45, 1Pe 3:18), de ganharmos um novo e glorioso corpo (1Co 15:51) e da renovarmos nossa
mente (Rm 12:2, 1Co 2:16) são fortes indicativos de que Deus nos vê como um todo integrado
e que todas as partes desse todo são importantes aos Seus olhos e, por isso, merecem ser
completamente restauradas e vivificadas. Por isso, entendo que, independentemente do ser
humano ser formado por duas ou três porções, todas essas porções, intrinsecamente,
compõem o homem criado à imagem e semelhança de Deus, levando-O a, benigna e
misericordiosamente, restaurar a sua criatura de forma completa integral.

O melhor modelo que podemos ter da restauração do ser humano relatado pela Bíblia
é Jesus Cristo. O Senhor Jesus possui corpo físico (Jo 1:14, Lc 24:39), possui alma (Mt 26:39, Jo
12:27) e também possui espírito (Mc 2:8, Jo 11:33). Doravante, nas passagens citadas e em
inúmeras outras nas quais são expressas as manifestações e funções da alma e do espírito do
Senhor, é praticamente impossível distinguir alguma diferença que sustente o argumento de
que se tratam de duas partes distintas. Todavia, a falta de uma distinção funcional não implica,
necessariamente, em ausência de diferenciação. Esse argumento pode ser (fragilmente)
sustentado pelo simples e evidente fato de o texto inpirado usar duas palavras diferentes
(psuche e pneuma). Mesmo que se manifestem de forma correlata no ser humano, há
evidências que a Bíblia não as trata como sinônimas, por exemplo, Deus sempre ser
essencialmente chamado de Espírito (Jo 4:24) e nunca de alma. Além disso, os anjos de Deus
são rotulados de espíritos ministradores (Hb 1:13-14) e os demônios são chamados
exaustivamente de espíritos imundos (Mc 5:2, Lc 4:33).

Creio que apesar da intensa discussão que gira em torno da constituição do ser
humano, podemos concluir que nenhuma posição (monismo, dicotomia ou tricotomia) está
isenta de questões difíceis de serem respondidas. A que aparentemente trás menos
desconforto exegético é a dicotomia. Contudo, esse mesmo rigor exegético força a sinonímia
entre as palavras alma e espírito não apenas nas passagens relacionadas à constituição do
homem, mas em toda a escritura. Diante de uma análise panorâmica essa sinonímia parece
ceder lugar a uma tênue, mas presente, diferenciação. Ademais, tanto a tricotomia quanto a
dicotomia podem induzir ao pensamento filosófico dualista típico dos maniqueístas. Todas
essas dificuldades apontam para mais uma evidência de que a mente humana ainda é muito
limitada para sondar e compreender as profundezas da mente de Deus. Por isso, extremos
como a exposição superficial ou qualquer posição dogmática nesse campo pode ser visto como
falhas na compreensão das sagradas escrituras, devendo, portanto serem evitadas.

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