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EMISSÕES

DO SETOR DE
AGROPECUÁRIA 2018
Documento
de Análise

PERÍODO 1970 - 2016

Coordenação Técnica
Imaflora

Equipe Técnica
Marina Piatto, Ciniro Costa Junior, Luis Fernando Guedes Pinto,
Marcelo de Medeiros e Natali Vilas Boas Silveira

Revisão
André Ramalho
Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS)
Jean Ometto
Centro de Ciências do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CCST/INPE)

R
RESUMO
EXECUTIVO

• Em 2016, a agropecuária foi responsável por aproximadamente 22% das emis-


sões brutas e 30% das emissões líquidas de gases de efeito estufa (GEE) do Bra-
sil. As emissões diretas do setor agropecuário totalizaram 499,3 milhões de tonela-
das de CO2 equivalente (CO2e), um aumento de 1,7% em relação ao ano anterior.

• Entre 1970 e 2016, as emissões do setor agropecuário aumentaram 165%. O


país é o terceiro maior emissor global por agropecuária, atrás apenas de China
e Índia. Se considerarmos os últimos dez anos, as emissões aumentaram cerca
de 40% enquanto a produção agrícola aumentou cerca de 130% e a produção de
carne bovina 180%.

• O perfil geográfico das emissões do setor mudou. Entre as décadas de 1970


e 1990 as emissões estavam concentradas nos Estados Sul e Sudeste do país.
Entretanto, essas emissões se deslocaram para os Estados do Centro-Oeste e,
mais recentemente, para o Norte, avançando rumo a Amazônia à medida que
a fronteira agropecuária se expande nessa direção.

• No Brasil, a bovinocultura de corte é uma das principais responsáveis pela


expansão da fronteira agropecuária e também a principal fonte de emissão
de GEE do setor, respondendo por 69% das suas emissões totais. Entretanto, a
bovinocultura também é o setor com a maior margem para a implementação de
melhorias em seu sistema produtivo.

• Há casos de sucesso de aumento de produção e redução de emissões nos cul-


tivos de cana-de-açúcar e arroz. Em São Paulo, as emissões pela queima de resí-
duos da cana-de-açúcar foram reduzidas em 70% com o Protocolo Agroambien-
tal, que determinou a eliminação da queima para colheita de forma gradativa até
2017. No Rio Grande do Sul, como resultado de pesquisas e assistência técnica,
novas práticas de cultivo do arroz irrigado conseguem manter a produtividade e
promover o uso eficiente da água reduzindo em 25% as emissões quando com-
paradas aos sistemas convencionais de cultivo.

• O lançamento do Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Plano ABC),


em 2010, destacou a importância de implementar e monitorar práticas de mitigação
das emissões pela agropecuária nacional. Incorporada ao Plano Safra, a linha de cré-
dito do Programa ABC financia a adoção de práticas de baixas emissões de carbono

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EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
RESUMO
EXECUTIVO

como a recuperação de pastagens degradadas e a integração lavoura-pecuária-flo-


resta. Contudo, o orçamento apertado do Plano Safra destinado ao Programa
ABC (cerca de 1,1%), a falta de monitoramento dos recursos disponibilizados, a
dinâmica reduzida de alocação em áreas prioritárias, o excesso de burocracia
e a falta de contabilização do balanço dos estoques de carbono nos solos agrope-
cuários (cerne das políticas climáticas para a agropecuária brasileira) mostram um
descompasso entre as metas brasileiras apresentadas no Acordo de Paris e o
real investimento e priorização de práticas de baixas emissões no setor.

• As ações de eficiência de produção e eliminação dos solos degradados são ur-


gentes e precisam ser implementadas em curto prazo e larga escala, contribuin-
do para que o aquecimento global seja freado. Para viabilizá-las, é fundamental
que as políticas agropecuárias ajudem o setor produtivo a melhorar sua renta-
bilidade e reduzir a pegada de carbono. Para que a transferência de tecnologia
aconteça de forma massiva e acessível a todos os perfis de produtores rurais, os
atributos de baixas emissões devem estar presentes em todo o Plano Safra.

Este documento integra a série anual de relatórios analíticos do SEEG, o Sistema de


Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa, uma iniciativa do
Observatório do Clima. O SEEG compreende a produção de estimativas anuais das
emissões de gases de efeito estufa (GEE) no Brasil, análises sobre a evolução das
emissões e um portal na internet para disponibilização, de forma simples e clara,
dos métodos e dados do sistema.

As estimativas de emissões e remoções de GEE são geradas segundo as diretrizes do


Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), com base nos dados
dos Inventários Brasileiros de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases do Efeito
Estufa, elaborados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunica-
ções (MCTIC), e em dados obtidos junto a relatórios governamentais, institutos, cen-
tros de pesquisa, entidades setoriais e organizações não governamentais.

São avaliados os cinco setores fontes de emissões: Mudança de Uso da Terra e


Florestas (MUT), Agropecuária, Resíduos, Energia e Processos Industriais e Uso de
Produtos. Os dados disponibilizados no SEEG constituem uma série que cobre o pe-
ríodo de 1970 até 2016, exceto para o setor MUT, que tem a série de 1990 a 2016.
Além disso, os dados de emissão são alocados nos 26 Estados e no Distrito Federal.

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EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
ÍNDICE

1. Introdução 9
1.1 As emissões de GEE na agropecuária brasileira entre 1970 e 2016 12
1.2 A contribuição dos Estados brasileiros nas emissões
de GEE no setor agropecuário 17
1.3 O rebanho bovino e as emissões: de Mato Grosso para a Amazônia 21
1.4 Fertilização nitrogenada, emissão de GEE e produtividade: como conciliar? 25
1.5 Cana-de-Açúcar: a proibição da queima reduziu as
emissões de GEE em São Paulo 30
1.6 Tratamento dos dejetos animais podem reduzir as emissões
do Sul e Sudeste do Brasil 32
1.7 A produção de arroz irrigado no Rio Grande do Sul
e as estratégias de mitigação 37
1.8 Variação nos estoques de carbono dos solos utilizados
pelo setor de Agropecuária 40
2. Trajetória, metas e compromissos de redução de emissões 44
2.1 Plano Nacional sobre Mudança do Clima (Plano Clima) 44
2.2 Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC) 45
2.3 Plano de Agricultura de Baixo Carbono (Plano ABC) 46
2.4 O Acordo de Paris e as metas de redução de emissões para
Agropecuária na NDC Brasileira 49
2.4.1 O Setor Agropecuário atingirá suas metas climáticas de 2020? 52
2.4.2 Lições do ABC para a implementação da NDC
no setor de Agropecuária 57
2.4.3 O real potencial da NDC brasileira para o setor de Agropecuária 58
3. O Financiamento agrícola no Brasil e seu impacto no aquecimento global 64
3.1 O Plano Safra e o volume de crédito destinado ao Programa ABC 64
3.2 Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF 66
3.3 Plano Mais Pecuária 68
3.4 Pagamentos por serviços ambientais 68
3.5 Plano Nacional de Defesa Agropecuária (PDA) 2015-2020 72

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EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
ÍNDICE

4. Recomendações 74
4.1 Recomendações para que os planos e as políticas se tornem mais
efetivos na redução das emissões pela agropecuária brasileira 74
5. Considerações finais 76
6. Limitações e futuras melhorias para as estimativas do SEEG 79
7. Referências 81
8. Anexos 90
Anexo 1. Emissões de GEE no setor de Agropecuária 1970-2016 (MtCO2e) 90
Anexo 2. Dados de atividade agropecuária e seus respetivos fatores
de emissão e remoção de GEE, utilizados para o exercício de
reproduzir a meta de emissões da NDC brasileira para o setor
em 2005, 2025 e 2030. 91
Anexo 3. Dados de atividade agropecuária e seus respetivos fatores de
emissão e remoção de GEE, utilizados para a construção da
proposta de NDC do Observatório do Clima para o setor em 2030 92

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EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
ÍNDICE

LISTA DE FIGURAS

Figura 1
Evolução das emissões brutas de CO2e pela Agropecuária no Brasil 12

Figura 2
Emissões diretas e indiretas provenientes da Agropecuária brasileira em 2016 13

Figura 3
Emissões de CO2e por subsetor da agropecuária brasileira 14

Figura 4
Emissões da agropecuária brasileira (499 MtCO2e) por subsetores e
fontes emissoras em 2016 15

Figura 5
Ranking das emissões de GEE mundiais pela agropecuária em 2013 15

Figura 6
Emissões totais na agropecuária (MtCO2e) e a evolução do rebanho bovino
(Mil cabeças) e das principais culturas agrícolas (Mil t) entre 1970 e 2016 16

Figura 7
Emissões históricas estaduais pela agropecuária brasileira (1970-2016)
e a participação da pecuária de corte 17

Figura 8
Ranking estadual das emissões de GEE pela agropecuária brasileira em
2016 (499 MtCO2e) 18

Figura 9
Participação dos Estados nas emissões diretas de GEE pela agropecuária
no Brasil em 2016 19

Figura 10
Participação Histórica Estadual na Emissão de GEE Total Brasileira 20

Figura 11
Participação Histórica das Emissões de GEE da Pecuária de Corte por Estado no Brasil 22

Figura 12
Crescimento do rebanho de bovino de corte nacional nos Estados do
Mato Grosso e da Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão,
Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins) de 1970 a 2016 23

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EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
ÍNDICE

Figura 13
Consumo e emissão de N2O de fertilizantes nitrogenados na
agricultura brasileira entre 1970 e 2016 25

Figura 14
Produção de milho, algodão e cana-de-açúcar e as emissões de GEE
históricas pela aplicação de fertilizantes nitrogenados nos principais
Estados produtores brasileiros. 28

Figura 15
Nódulos formados nas raízes das leguminosas 29

Figura 16
Emissões de GEE provenientes da queima de cana-de-açúcar e a produção
dessa cultura no Brasil e no Estado de São Paulo entre 1990 e 2016 31

Figura 17
Emissões de GEE (MtCO2e) provenientes de dejetos animais em 2016 33

Figura 18
Participação dos principais Estados produtores de suínos e aves nas emissões
totais de GEE (centro) pelo manejo de dejetos desses animais no Brasil em 2016 33

Figura 19
Sistema de manejo de dejetos das principais categorias animais no Brasil e
o número de animais com potencial de inclusão em projetos de mitigação de
GEE via manejo de dejetos 34

Figura 20
Emissões de GEE (Mt) do cultivo de arroz irrigado nas cindo regiões
brasileiras e no Estado do Rio Grande do Sul (RS) em 2016 37

Figura 21
Tipos de preparo do solo para cultivo do arroz irrigado e seus respectivos
fatores de emissão de CH4 para o Estado do Rio Grande do Sul 39

Figura 22
Emissões de remoções de gases de efeito estufa em sistemas agropecuários 43

Figura 23
Disponibilidade e desembolso acumulado do Programa ABC entre
as safras 2010/2011 e 2016/2017 55

Figura 24
Participação do Programa ABC no total dos recursos destinados ao
financiamento da agropecuária brasileira (Plano Safra – 188,3 R$ bilhões) 66

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EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
ÍNDICE

LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Estimativa da variação dos estoques de carbono do solo utilizado
pela agropecuária no Brasil 41

Tabela 2 - Ações de mitigação descritas no Decreto nº 7.390 da PNMC 46

Tabela 3 - Subprogramas do Plano ABC e potencial de mitigação por redução


de emissão de GEE (MAPA, 2010) 47

Tabela 4 - Detalhamento da meta da NDC Brasileira* 50

Tabela 5 - Crédito disponibilizado e desembolso do Programa ABC no


Plano Agrícola e Pecuário brasileiro 54

Tabela 6 - Estimativa das emissões de GEE para o setor de Agropecuária


em 2030, incluindo estimativas de emissão e remoção dos solos
agropecuários, utilizando valores GWP AR5 (IPCC, 2013) 60

Tabela 7 - Plano Safra 2017/2018: recursos programados para custeio e investimento 65

Tabela 8 - Resumo e dos principais planos e políticas para a agropecuária


nacional, suas relações e recomendações frente a iniciativas
ligadas as mudanças climáticas 75

BOXES
• O que é um tier? 10
• Emissões e sequestro: o balaço de carbono no sistema produtivo 11
• O potencial da pecuária de corte na redução de emissões 24
• É possível manter a produção agrícola e reduzir as emissões? 27
• A fixação biológica do nitrogênio e o potencial de mitigação das emissões 29
• Potencial de mitigação no uso de dejetos
animais – biodigestores e composteiras 35
• Cultivo de arroz irrigado: convencional ou antecipado? 39
• O Inventário Nacional e as estratégias de mitigação: o desafio da agropecuária 42
• A implementação da Contribuição Nacionalemnte Determinada do Brasil 51
• Potencial de aquecimento global (GWP) 61
• Desenvolvimento do mercado de carbono 62
• Energia, agricultura e emissões: sinergias e oportunidades 63
• O Pronaf não inclui redução de emissões em suas metas 67
• Código Florestal, incentivos econômicos e emissões de GEE 70
• Produzindo água e reduzindo carbono 71
• O caminho para a agropecuária brasileira:
maior produção com menos emissões 78

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EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
1. INTRODUÇÃO

Segundo a OMM (Organização Meteorológica Mundial), em 2016 – o ano mais quen-


te registrado – a temperatura média da superfície terrestre e dos oceanos foi 1,1°C
superior à média pré-industrial. Neste cenário alarmante, o Brasil sofre os impactos
das mudanças climáticas e está vulnerável a eventos naturais de maior intensidade.
Esta foi uma das conclusões do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáti-
cas (IPCC) e do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), que divulgaram seus
relatórios de avaliação em 2013 e 2015, respectivamente. De acordo com a Secretaria
de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, o Brasil é um dos países onde
houve maior aumento da temperatura na região costeira (cerca de 2,5oC) entre 1901
e 2012 (SAE, 2013).

Ainda de acordo com esse relatório, os efeitos do aquecimento global são um proble-
ma de agenda de desenvolvimento comum em decisões de investimento público e re-
querem uma estratégia de alocação de recursos em diferentes ações e compatível com
as necessidades do momento.

Em 2017 o Observatório do Clima (OC) lançou a quinta versão da Plataforma SEEG,


que disponibiliza o resultado das estimativas de emissões de Gases de Efeito Estufa
(GEE) brasileiras, com base na metodologia usada no Inventário Brasileiro de Emis-
sões e Remoções Antrópicas de Gases de Efeito Estufa e nas diretrizes do IPCC. Essas
estimativas apresentam as emissões de GEE calculadas a nível estadual, para o perío-
do entre 1970 e 2016, incluindo os cinco setores da economia: Agropecuária, Energia,
Mudança de Uso da Terra, Indústria e Resíduos.

A abordagem possibilita visualizar a contribuição de cada um desses setores nas emis-


sões de GEE brasileiras, suas tendências históricas e regionais e, assim, orientar a ela-
boração e revisão de políticas públicas.

A quinta versão da Plataforma SEEG mostra que o Brasil emitiu cerca de 2,3 bilhões
de toneladas de CO2 equivalente (GtCO2e) em 2016. Apenas a agropecuária contribuiu
diretamente com cerca de 30% desse total (499 MtCO2e) (SEEG, 2017). As emissões cau-
sadas diretamente pela agropecuária se referem à produção animal e vegetal, ao uso
de fertilizantes nitrogenados na agricultura, à disposição de dejetos animais, à decom-
posição de resíduos culturais e ao cultivo de organossolos.

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EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
1. INTRODUÇÃO

Entretanto, o setor de Agropecuária chega a ser responsável por quase 70% das emis-
sões brasileiras quando as emissões de outros setores relacionados com a produção
agropecuária são contabilizadas. São elas: emissões provenientes do desmatamento
para expansão agrícola e pecuária (setor Mudança de Uso da Terra), do uso de com-
bustíveis fósseis na agropecuária (setor de Energia) e do tratamento de efluentes da
agroindústria (setor de Resíduos) (SEEG, 2017).

Por outro lado, a agropecuária brasileira apresenta grande potencial em reduzir suas
emissões através de inúmeras opções de práticas de mitigação, principalmente aquelas
relacionadas ao aumento da eficiência de uso das pastagens no Brasil. Contudo, para
que as tecnologias de mitigação e aumento do sequestro de carbono cheguem ao produ-
tor, é necessário que políticas públicas promovam a implementação de boas práticas em
larga escala, conciliando a conservação dos recursos naturais e o aumento da eficiência
da produção agrícola, dentro de uma lógica de sustentabilidade socioambiental do siste-
ma, e contribuindo para suprir a crescente demanda global por alimentos.

Com o intuito de subsidiar a tomada de decisão e transformar problemas em opor-


tunidades, o Imaflora analisou as emissões de gases de efeito estufa (GEE) no setor
agropecuário brasileiro a partir das estimativas do SEEG e fez uma análise do impacto
das políticas públicas e dos planos setoriais nas emissões desse setor. Este trabalho
também traz recomendações de ações governamentais para uma agropecuária de bai-
xo carbono e de melhorias das estimativas de emissões de GEE.

O que é um tier?

Tier é uma palavra que expressa a complexidade metodológica para se esti-


mar as emissões de GEE, sendo representada por três níveis: 1, 2 e 3. A comple-
xidade e, consequentemente, a precisão do cálculo aumentam com o aumento
do Tier. A metodologia Tier 1 permite calcular as emissões de GEE utilizando-se
valores de fatores default (padrão) fornecidos pelo IPCC. Contudo, por serem
default, esses fatores possuem elevadas incertezas, o que diminui a precisão
dos resultados e dificulta o entendimento das emissões de GEE em planos de
mitigação, mas permite que qualquer país faça um inventário de emissão a

10
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
1. INTRODUÇÃO

partir de seus dados censitários (ex. número de cabeças de bovinos de cor-


te no país). À medida que o país avança em pesquisas e conhecimento dos
processos de emissões de GEE de seus próprios sistemas produtivos, ele não
depende mais de fatores default e, assim, adota-se níveis metodológicos Tier 2
e 3. Evidentemente, o desenvolvimento de Tiers mais elevados, demanda mais
recursos temporais e financeiros, mas permite que o país avalie e planeje com
maior clareza e precisão os meios de reduzir suas emissões de GEE sem com-
prometer o sistema de produção.

Emissões e sequestro: o balaço de carbono


no sistema produtivo

Os cálculos de emissões do SEEG seguem as metodologias do IPCC e dos in-


ventários brasileiros, utilizando fatores de emissão específicos no caso da pe-
cuária de corte e leite (Tier 2 para fermentação entérica e manejo de dejetos
no solo, por exemplo). Contudo, a pecuária trata de um sistema de produção
mais complexo, no qual muitos dos fatores envolvidos não são sensíveis à me-
todologia usada atualmente pelo governo como, por exemplo, o sequestro de
carbono pelo solo proporcionado por pastagens bem manejadas.

É necessário incluir nas metodologias oficiais todos os componentes que in-


fluenciam o sistema de produção, como por exemplo: o manejo da pastagem,
a lotação, a genética animal, a idade de abate, o tipo e a qualidade do pasto, o
carbono acumulado no solo, os sistemas de integração lavoura-pecuária-flo-
resta, entre outros. Isso permitiria calcular o balanço de carbono (sequestro/
emissões) e traria maior precisão para as estimativas e para elaboração de
estratégias de mitigação para as diferentes regiões brasileiras.

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EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
1. INTRODUÇÃO

1.1 AS EMISSÕES DE GEE NA AGROPECUÁRIA


BRASILEIRA ENTRE 1970 E 2016
Segundo as estimativas do SEEG, as emissões de GEE brasileiras vêm crescendo con-
tinuamente desde 1970 e totalizaram cerca de 2,277 GtCO2e no ano de 2016. A agro-
pecuária foi responsável por aproximadamente 30% das emissões líquidas no Brasil
(SEEG, 2017). Ao transformar as emissões desses GEE em uma unidade comum, o CO2
equivalente (CO2e), é possível notar que as emissões diretas do setor agropecuário
cresceram cerca de 165% desde 1970 e 1,7% em relação a 2015, alcançando 499,3
MtCO2e em 20161 (Figura 1). Contudo, a taxa média de crescimento da produtividade
agropecuária no Brasil foi de 3,6% ao ano entre 1975 e 2015 e 4,28% entre 2006 e 2010,
levando a um aumento total de 4,1% na década de 2000; e, entre 2006 e 2010, o rendi-
mento da agropecuária aumentou 4,28% ao ano no Brasil. O Valor Bruto da Produção
Agropecuária (VBP) de 2017 foi de R$ 540 bilhões, o maior dos últimos 30 anos (e que
representa quase um quarto do PIB nacional), sendo que, desse total, 67% é provenien-
te das lavouras (MAPA, 2017a).

Figura 1: Evolução das emissões brutas de CO2e pela Agropecuária no Brasil


Emissão de GEE (Mt CO2e)

525
450
375
300
225
150
75
0
1970

1972

1974

1976

1978

1980

1982

1984

1986

1988

1990

1992

1994

1996

1998

2000

2002

2004

2006

2008

2010

2012

2014

2016

1
Ver Anexo 1 para valores detalhados por fonte de emissão.

12
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
1. INTRODUÇÃO

Entretanto, existem emissões que são relacionadas indiretamente com a produção


agropecuária e que estão contabilizadas em outros setores devido à metodologia do
IPCC, sendo elas: emissões por desmatamento dos ecossistemas naturais para expan-
são agrícola e pecuária (setor de Mudança do Uso da Terra), emissões provenientes do
uso de combustíveis fósseis na agropecuária (setor de Energia) e emissões resultantes
do tratamento de efluentes industriais (setor de Resíduos) (Figura 2). Essas emissões
indiretas não estão computadas nestes 30%, mas ao serem adicionadas, a agropecuá-
ria chega a ser responsável por quase 70% das emissões brasileiras.

Figura 2: Emissões diretas e indiretas provenientes da agropecuária


brasileira em 2016

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EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
1. INTRODUÇÃO

Dentre os subsetores da agropecuária, a fermentação entérica do rebanho de rumi-


nantes (predominantemente bovinos de corte) é a causa da maior fatia de emissões
de GEE do setor. Em segundo lugar estão as emissões resultantes das atividades em
solos agrícolas (que inclui os fertilizantes sintéticos, o adubo de origem animal, os de-
jetos animais depositados em pastagem, os cultivos de solos orgânicos e os restos de
culturas agrícolas). Na sequência vêm as emissões do manejo de dejetos de animais, as
emissões provenientes do cultivo de arroz irrigado e da queima de resíduos agrícolas,
como a cana-de-açúcar (Figura 3).

Figura 3: Emissões de CO2e por subsetor da agropecuária brasileira


Emissão de GEE (Mt CO2e)

525
450
375
300
225
150
75
0
1970

1972

1974

1976

1978

1980

1982

1984

1986

1988

1990

1992

1994

1996

1998

2000

2002

2004

2006

2008

2010

2012

2014

2016
Solos Queima de Manejo de Fermentação Cultivo
Agrícolas Resíduos Agrícolas Dejetos Animais Entérica do Arroz

Se as emissões forem divididas por subsetores da agricultura e pecuária, nota-se que


86% das emissões do setor são provenientes da produção animal; deste valor, 79%
são provenientes da bovinocultura de corte e leite, aproximadamente 6% da produção
vegetal, 6% da aplicação de fertilizantes nitrogenados e os 7% restantes de outras fon-
tes (Figura 4). Segundo o World Resources Institute (WRI), o Brasil ocupa o 3° lugar no
ranking das emissões em atividades agropecuárias do mundo (Figura 5).

14
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
1. INTRODUÇÃO

Figura 4: Emissões da agropecuária brasileira (499 MtCO2e) por subsetores


e fontes emissoras em 2016

Figura 5: Ranking das emissões de GEE mundiais pela agropecuária em 2013


4o UE
7,9%

1o China
13,5%
5o EUA
6,8%

2o Índia
12,1%
3o Brasil
8,4%

15
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
1. INTRODUÇÃO

O crescimento das emissões na agropecuária nas últimas décadas, principalmente no


período entre 1990 e 2014, acompanha o aumento da produção agrícola, principalmen-
te das principais commodities brasileiras: soja, milho e carne (Figura 6). Até a safra de
2024/25, as projeções do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA,
2015a) mostram que o Brasil irá abastecer mais de 200 milhões de brasileiros e gerar
grandes excedentes para exportação. Se este avanço na produção não adotar técnicas
de baixas emissões de GEE e alto sequestro de carbono, a tendência será a de aumen-
tar as emissões nacionais, contribuindo ainda mais ao processo de mudanças no clima.

Figura 6: Emissões totais na agropecuária (MtCO2e) e a evolução do rebanho bovino (Mil


cabeças) e das principais culturas agrícolas (Mil t) entre 1970 e 2016

550000

400000

250000

100000

1000
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
2008
2010
2012
2014
2016

Emissões Totais (Mil t CO2e) Bovino Total (Mil Cabeças) Soja (Mil t) Milho (Mil t)

Mandioca (Mil t) Arroz (Mil t) Algodão (Mil t) Feijão (Mil t)

16
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
1. INTRODUÇÃO

1.2 A CONTRIBUIÇÃO DOS ESTADOS BRASILEIROS


NAS EMISSÕES DE GEE NO SETOR AGROPECUÁRIO

A agropecuária brasileira emitiu entre 1970 e 2016 cerca de 16.677 bilhões de tonela-
das de CO2e (emissão acumulada). Somente os Estados de Minas Gerais, Rio Grande
do Sul, Goiás, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso respondem por cerca de
60% destas emissões durante o período. As emissões foram e são predominantemente
derivadas da pecuária de corte (Figura 7).

Figura 7: Emissões históricas estaduais pela agropecuária brasileira (1970-2016)


e a participação da pecuária de corte

Participação de Pecuária de Corte (%)


16.667
bilhões de
toneladas de CO2e

Assim, nota-se que a região Sudeste, uma das primeiras regiões agrícolas brasileiras, é
o local do país que possui a maior emissão acumulada de gases de efeito estufa (soma
das emissões anuais de 1970 a 2016). Entretanto, é no Centro-Oeste que as emissões
desses gases vêm aumentando. Atualmente, o Mato Grosso lidera o ranking nacional
devido ao extenso rebanho e produção de grãos, seguido por Minas Gerais, com seu
rebanho leiteiro, e pelo Rio Grande do Sul, com o arroz irrigado; segundo e terceiro
lugares no ranking, respectivamente (Figura 8).

17
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
1. INTRODUÇÃO

Figura 8: Ranking estadual das emissões de GEE pela agropecuária


brasileira em 2016 (499 MtCO2e)

Em 2016, Mato Grosso, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Goiás, Mato Grosso do Sul,
Pará e São Paulo foram os Estados brasileiros que mais emitiram GEE pela produção
agropecuária de forma direta, somando quase 70% das emissões nacionais desse se-
tor. As principais fontes de emissão em quase todos os Estados são a pecuária de corte
e o uso de fertilizantes nitrogenados sintéticos. No entanto, a produção de soja em
Mato Grosso, o cultivo de arroz irrigado no Rio Grande do Sul, a pecuária de leite em
Minas Gerais e a produção de cana-de-açúcar em São Paulo também contribuem signi-
ficativamente em regiões específicas (Figura 9).

18
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
1. INTRODUÇÃO

Figura 9: Participação dos Estados nas emissões diretas de GEE pela


agropecuária no Brasil em 2016
Outras
Mato Grosso Minas Gerais
7%
Fertilizantes
Resíduos
Sintéticos Outras
da Soja
9% 11%
3%
Gado de
Corte
Fertilizantes
Gado de 57%
Sintéticos Gado de
Corte
7% Leite
83%
23%

61 Mt CO2e 54 Mt CO2e

Cana de São Paulo


Açucar
Rio Grande do Sul 8% Outros
16%
Gado de
Outras Corte
24% Gado de
Corte 53%
Gado de
48% Leite
Fertilizantes Arroz 8%
Sintéticos 20%
Fertilizantes
8%
Sintéticos 31 Mt CO2e
51 Mt CO2e 15%

% de emissão de GEE total em 2016 (499 Mt Co2e)

0-2 2,1-4 4,1-6 6,1-8 8,1-10 >10

Durante os últimos 40 anos, os focos de emissão de GEE ao longo do território brasilei-


ro acompanharam a expansão agrícola nacional. Nos anos 1970, por exemplo, 60% das
emissões brasileiras estavam concentradas nos Estados do Sul e Sudeste, dominados pe-
las produções de carne e leite no Rio Grande do Sul, em Minas Gerais e em São Paulo. À
medida que o Brasil expandiu sua fronteira agrícola, aproximadamente 30% das emissões
nacionais foram deslocadas para a região Centro-Oeste, especialmente para Mato Gros-
so, como mostram os mapas da Figura 10. Atualmente, esse Estado é uma das principais
fronteiras agrícolas do mundo, concentrando o maior rebanho bovino e a maior produ-
ção de soja nacional, produtos que são exportados principalmente para a Europa e Ásia.

Mais recentemente, a pressão por novas áreas agrícolas, além do Centro-Oeste, levou
a uma drástica mudança nos padrões de emissão nos Estados do Norte, principal-
mente Pará, Acre e Rondônia. Nas décadas de 1970, os Estados da Amazônia contri-
buíam com menos de 2% das emissões nacionais e atualmente participam com cerca
de 9% (Figura 10).

19
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
1. INTRODUÇÃO

Figura 10: Participação histórica estadual na emissão de GEE total brasileira

% de emissão de GEE total

0-2 2,1-4 4,1-6 6,1-8 8,1-10 >10

Adicionalmente, com o deslocamento da pecuária para os Estados do Centro-Oeste e


Norte, parte das pastagens do Sul e Sudeste deram lugar a culturas agrícolas, como a
cana-de-açúcar e milho. Estas culturas aumentaram significativamente a demanda por
fertilizantes sintéticos nitrogenados, outra importante fonte de emissão, que represen-
ta 7% das do total brasileiro. Os Estados do Sul e Sudeste emitiram 67% do total dos
GEE provenientes de fertilizantes no Brasil em 2016.

As culturas agrícolas, por sua vez, deram suporte ao aumento da criação de suínos e
aves, principalmente no Sul do país, o que elevou as emissões pelo manejo de dejetos
desses animais em aproximadamente 90% desde 1970. Atualmente, essa fonte repre-
senta cerca de 4% das emissões nacionais. Nesse sentido, destaca-se o impacto o cultivo
do arroz irrigado no Rio Grande do Sul, que gera 80% das emissões por essa atividade.

20
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
1. INTRODUÇÃO

1.3 O REBANHO BOVINO E AS EMISSÕES: DE MATO


GROSSO PARA A AMAZÔNIA

Os bovinos são ruminantes que, ao fazer a digestão, liberam CH4 na atmosfera por um
processo chamado fermentação entérica (MCTI, 2014). Esse processo, somado à eleva-
da população de animais ruminantes no país, especialmente bovinos de corte, respon-
de por 68,5% das emissões totais de GEE (CO2e) da agropecuária brasileira.

O rebanho de corte no Brasil cresceu de 69 milhões cabeças de 1970 para 198 milhões
em 2016 (IBGE, 2016), tornando o país o segundo maior produtor de carne bovina do
mundo e o maior exportador. Em 2016 o Valor Bruto da Produção (VBP) de carne foi de
R$ 74 bilhões (preços médios de novembro de 2015 e janeiro de 2016), atrás apenas da
soja (MAPA, 2015c). Adicionalmente, estimou-se que a cadeia produtiva da carne bovi-
na tenha movimentado cerca de R$ 480 bilhões em 2015, gerando aproximadamente
7 milhões de empregos (Neves, 2012; Agroconsult – reproduzido de Beef Point, 2015).

Com a crise econômica iniciada em 2015 caracterizada por uma queda no PIB brasilei-
ro de 3,8% naquele ano e de 3,6% em 2016 (IBGE, 2017a), a produção e o consumo de
carne no Brasil diminuíram. Essa crise, atrelada à não compensação da exportação, é
uma explicação para o aumento das emissões no setor da agropecuária: os abates de
bovinos recuaram pelo segundo ano consecutivo, devido principalmente a uma queda
na demanda por carne em função da crise e competitividade das demais carnes, como
a de porco (que tem tido abates recordes). Ou seja, menos gado bovino sendo abatido
significa mais bois no pasto e nos currais e, consequentemente, mais emissões.

Nos anos 1970, o rebanho era concentrado predominantemente nos Estados do Sul
e Sudeste, os quais compreendiam cerca de 60% das emissões de GEE por essa fonte
nesse período. Entretanto, a expansão da fronteira agrícola rumo aos Estados no bio-
ma amazônico deslocou completamente as emissões de GEE brasileiras (Figura 11).

21
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
1. INTRODUÇÃO

Figura 11: Participação Histórica das Emissões de GEE da Pecuária de


Corte por Estado no Brasil

% de emissão de GEE pela pecuária de corte

0-2 2,1-4 4,1-6 6,1-8 8,1-10 >10

Nos anos 1990, o rebanho bovino começou a se deslocar predominantemente para Mato
Grosso (acompanhado de elevadas taxas de desmatamento) e, consequentemente, as
emissões diretas de GEE por essa fonte atingiram 7% do total emitido pelo Brasil. Nos
anos 2000 a expansão da atividade atingiu outros Estados da Amazônia Legal, como:
Rondônia, Tocantins e, mais intensamente, o Pará, levando ao drástico aumento das
emissões de gases de efeito estufa na região (Figura 11). As regiões Norte e Nordeste
responderam juntas por 35% das emissões da pecuária de corte no Brasil em 2016.

As projeções do agronegócio apresentadas pelo MAPA mostram que nos anos de


2024/2025 a expectativa é de que a produção de carne bovina cresça em torno de
2% ao ano. Já as projeções do Outlook Fiesp preveem um aumento de 11% do reba-

22
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
1. INTRODUÇÃO

nho até 2023. Assim, caso não ocorra um aumento na eficiência e a intensificação da
produção em áreas já ocupadas pela pecuária, à tendência é que o rebanho adicional
seja alocado nos Estados do bioma Amazônia (Figura 12), o que pode acentuar o des-
matamento nessa região, agravando ainda mais a desestabilização do ecossistema
amazônico, o risco de escassez hídrica e o aumento na contribuição do setor para as
emissões brasileiras.

Figura 12: Crescimento do rebanho de bovino de corte nacional nos Estados do


Mato Grosso e da Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso,
Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins) de 1970 a 2016

45
% do Rebanho Bovino de Corte Nacional

40

35

30

25

20

15

10

0
1970

1972

1974

1976

1978

1980

1982

1984

1986

1988

1990

1992

1994

1996

1998

2000

2002

2004

2006

2008

2010

2012

2014

2016

Amazônia Legal Mato Grosso

* Queda nas emissões devido à divisão do Estado do Mato Grosso em dois Estados (Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul) – a criação do Estado do Mato Grosso do Sul ocorreu em 1977, mas dados de produção
começaram a ser reportados pelo IBGE em 1979.)

23
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
1. INTRODUÇÃO

Segundo relatórios do Observatório ABC (Observatório do Plano ABC, 2017c), para au-
mentar o rebanho brasileiro com uma perspectiva de baixas emissões de carbono é
fundamental buscar maior eficiência na produção, com boas práticas como genética,
eficiência digestiva e manejo adequado, entre outras. A pecuária atualmente praticada
no Brasil se dá de forma extensiva e com baixa adoção de tecnologias, o que leva em
muitos casos a sistemas ineficientes, que favorecem a degradação das pastagens e
conduzem ao abate dos animais tardiamente (cerca de quatro anos). Da mesma forma,
à medida que a produtividade da pastagem se reduz, há estímulo ao desmatamento
para abertura de novas áreas em busca de solos mais férteis e capazes de suportar o
rebanho e seu crescimento.

Estima-se que atualmente seja explorada apenas 33% da capacidade produtiva das
pastagens brasileiras, mas se essa taxa subisse para 50% haveria um aumento da pro-
dução de carne associado à liberação de áreas capazes de suportar a demanda de
crescimento de outros sistemas produtivos agrícolas previstos até 2040 e, ainda, a ma-
nutenção das atuais áreas de vegetação nativa (Strassburg et al., 2014).

O potencial da pecuária de corte na redução de emissões

O Imaflora calculou o balanço de emissões de GEE do Programa Novo Campo,


uma iniciativa que atuou em fazendas de pecuária de corte na região amazô-
nica do Estado do Mato Grosso, promovendo a gestão integrada da proprie-
dade rural, com a adoção progressiva das Boas Práticas Agropecuárias (BPA)
para Gado de Corte da Embrapa e do Guia de Indicadores de Pecuária Susten-
tável (GIPS) do Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS).

Após dois anos de melhorias nas práticas agropecuárias de propriedades com


elevada taxa de degradação de pastagens e baixa capacidade de gestão, o
Imaflora estima que esse programa proporcionou um aumento da produção
de carne em quase 2,5 vezes e reduziu as emissões de GEE em 20% por hectare
de pastagem e em 60% por kg de carcaça produzida nesses locais.

Esses resultados são consequência de uma estratégia que recuperou cerca de


10% da área de pastagem das propriedades participantes. Essa proporção

24
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
1. INTRODUÇÃO

representa aproximadamente 500 dos 3.500 haectares de pastagens degra-


dadas cobertas pelo programa - dos quais 190  hectares foram reformados
com sistema de Integração Lavoura-Pecuária. Adicionalmente, essa estratégia
introduz e aperfeiçoa práticas como o pastejo rotacionado das pastagens, su-
plementação animal, técnicas de sanidade e reprodução animal e sistemas de
gestão para a sustentabilidade.

1.4 FERTILIZAÇÃO NITROGENADA, EMISSÃO DE GEE


E PRODUTIVIDADE: COMO CONCILIAR?

Responsável por 6,2% das emissões de GEE na agropecuária em 2016, a contribuição dos
fertilizantes nitrogenados sintéticos (como a ureia e o sulfato de amônio) para as mudan-
ças climáticas vem crescendo rapidamente. A figura 13 mostra o consumo desses ferti-
lizantes e as emissões resultantes de sua aplicação ao solo entre 1970 e 2016 no Brasil.

Figura 13: Consumo de fertilizantes nitrogenados e emissão de N2O


(em CO2 equivalente, AR5) na agricultura brasileira entre 1970 e 2016

40

35
Milhões de toneladas

30

25

20

15

10

0
1970

1972

1974

1976

1978

1980

1982

1984

1986

1988

1990

1992

1994

1996

1998

2000

2002

2004

2006

2008

2010

2012

2014

2016

Consumo de Fertilizante Nitrogenado Emissão de N2O (CO2e)

25
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
1. INTRODUÇÃO

Os relatórios da Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA, 1991; 2001; 2016)
indicam que o consumo em 1990 era de 780 mil toneladas de adubo nitrogenado, pas-
sando para quase 1,7 milhões em 2000 e chegando ao volume de 4,4 milhões de tone-
ladas em 2016, um salto inédito de aproximadamente 23% comparado a 2015, o que
levou a um aumento proporcional das emissões dessa fonte. Isto significa que a cada
dez anos a quantidade de nitrogênio utilizada na agricultura brasileira chega a dobrar,
assim como as emissões provocadas pela aplicação desse insumo. Entretanto, esse
consumo cai em tempos de crise, como em 2008 e 2015, com uma queda significativa
de cerca de 11% nesses anos, afetando negativamente a quantidade de uso pelo setor
devido à queda nos investimentos, incentivos financeiros, aumento de dívidas e baixa
na demanda do mercado consumidor.

O Brasil está em quarto lugar no ranking dos maiores consumidores de fertilizantes


sintéticos do mundo, de acordo com os dados mais recentes da FAO (para 2014), con-
sumindo cerca de 10% da produção mundial (atrás apenas de China, Índia e Estados
Unidos) (FAO-Stat). Esses números mostram que a demanda é tão elevada que a indús-
tria nacional não consegue suprir, precisando importar esses insumos.

As culturas que mais consomem adubo nitrogenado no Brasil são milho, cana, café,
arroz e trigo, sendo que a produtividade por hectare e as áreas de produção dessas
culturas não param de crescer. Em 1990, por exemplo, eram produzidas 21 milhões de
toneladas de milho, passando para 32 milhões em 2000 e para 64 milhões em 2016,
segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2016 - Produção
Agrícola Municipal). O estudo do MAPA mostra que a produção de milho projetada
para a safra de 2024/25 será de 93,6 milhões de toneladas, aumentando ainda mais a
demanda por fertilizantes sintéticos.

A figura 14 ilustra a estreita relação entre a produção de algumas das principais cultu-
ras agrícolas brasileiras e as emissões totais por fertilizantes nitrogenados tanto nos
Estados tradicionalmente produtores, como o Paraná, quanto em Estados localizados
em fronteiras agrícolas, como Mato Grosso, onde a cultura do milho, por exemplo, vem
sendo amplamente introduzida em sucessão com a soja.

26
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
1. INTRODUÇÃO

Apesar de grande parte das culturas agrícolas exigirem adubação nitrogenada, esta
análise não pode ser resumida apenas na produção agrícola versus o total de adubo
utilizado, pois o incremento em produtividade depende de tecnologias complementa-
res ao fertilizante nitrogenado. Práticas como o melhoramento genético dos cultivares,
preparo de solo, adubação com macro e micronutrientes, manejo integrado de pragas
e doenças entre outras técnicas agronômicas são amplamente utilizadas para aumen-
tar a produtividade agrícola no Brasil. No caso do milho, por exemplo, este conjunto
de tecnologias possibilitou passar de uma produtividade de 1.873 kg/ha em 1990 para
3.961 Kg/ ha em 2016, o que representa um aumento de aproximadamente 200%, se-
gundo dados do IBGE.

É possível manter a produção agrícola


e reduzir as emissões?

Pesquisas mostram que cerca da metade do adubo consumido é perdido desde


o transporte até a aplicação no campo (Muller et al., 2014). Desta forma, au-
mentando a eficiência do uso do adubo nitrogenado, é possível reduzir tanto os
volumes comprados quanto a aplicação do produto na lavoura, além de man-
ter a produtividade e reduzir as emissões. Algumas das práticas agrícolas que
colaboram com a eficiência de aplicação são: usar fertilizantes menos voláteis,
fertilizantes organominerais, aumentar a precisão no momento da aplicação,
realizar aplicações localizadas e parceladas e calcular o volume exato de fertili-
zante necessário para cada tipo de solo, cultura e produtividade esperada.

27
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
1. INTRODUÇÃO

Figura 14: Produção de milho, algodão e cana-de-açúcar e as emissões de


GEE históricas pela aplicação de fertilizantes nitrogenados nos principais
Estados produtores brasileiros

25 4
Emissões de GEE estadual via fertilizantes N (milhões de t CO2e)
20
Produção Agrícola

Produção de milho (milhões de t)

(milhões de CO2e)
Emissão de GEE
3
(milhões de t)

15
2
10

1
5

0 0

25 5
Emissões de GEE estadual via fertilizantes N (milhões de t CO2e)
20 4
Produção Agrícola

(milhões de CO2e)
Produção de milho (milhões de t)

Emissão de GEE
(milhões de t)

15
Produção de algodão (milhões de t) 3

10 2

5 1

0 0

500 6
Emissões de GEE estadual via fertilizantes N (milhões de t CO2e)
Produção de cana de açúcar (milhões de t) 5
(milhões de CO2e)

400
Produção Agrícola

Emissão de GEE
(milhões de t)

4
300
3
200
2

100 1

0 0
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
2008
2010
2012
2014
2016

28
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
1. INTRODUÇÃO

A fixação biológica do nitrogênio e o potencial


de mitigação das emissões

Outro método que reduz a aplicação de adubo nitrogenado sintético é a fixa-


ção biológica do nitrogênio (FBN). Nela a associação entre plantas e bactérias
permite que o nitrogênio da atmosfera seja disponibilizado para utilização
pelas plantas. Através de processos biológicos, a FBN é capaz de disponibilizar
o nitrogênio contido no ar (78% da composição atmosférica) em formas as-
similáveis pelas plantas leguminosas (soja e feijão, por exemplo) e gramíneas
(como milho, trigo e arroz). Nas leguminosas a FBN ocorre por meio da for-
mação de nódulos em suas raízes que, na maioria dos casos, fornecem todo
o nitrogênio necessário ao seu desenvolvimento (Figura 15). Já nas gramíneas,
esse processo se dá por bactérias que vivem próximas às suas raízes ou no
interior dos tecidos do vegetal, fornecendo parte do nitrogênio de que a plan-
ta precisa (MAPA, 2012). Estudos da Embrapa vêm sendo desenvolvidos sobre
FBN em gramíneas, principalmente nas culturas de milho e cana-de-açúcar, o
que poderá diminuir as aplicações de fertilizantes sintéticos nestas culturas ou
mesmo aumentar suas produtividades sem o aumento do uso deste insumo.

Figura 15: Nódulos formados nas raízes das leguminosas onde os rizóbios
produzem a enzima nitrogenase que incorpora o nitrogênio atmosférico em
compostos orgânicos que são utilizados pelas plantas

Fonte: Embrapa - http://www.cpac.embrapa.br/noticias/noticia_completa/357/

29
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
1. INTRODUÇÃO

O Plano ABC prevê viabilizar e aumentar a adesão do uso de inoculantes


para fixação biológica de nitrogênio (FBN) em 5,5 milhões de hectares com
culturas agrícolas até 2020. Com isso calcula-se uma potencial redução de
emissões de GEE de até 10 MtCO2e devido à diminuição do uso de adubos
nitrogenados sintéticos.

O Imaflora estima que, se a FBN suprisse a necessidade de nitrogênio das


plantações de milho no Brasil, poder-se-ia reduzir a emissão de 4,3 MtCO2e ao
ano, ou seja, 14% das emissões de GEE provenientes da aplicação de adubos
nitrogenados sintéticos no Brasil (considerando uma adubação conservadora
de apenas 50 kg desse fertilizante por hectare de milho plantado).

1.5 CANA-DE-AÇÚCAR: A PROIBIÇÃO DA QUEIMA


REDUZIU AS EMISSÕES DE GEE EM SÃO PAULO

O fogo tem sido tradicionalmente utilizado na pré-colheita da cana-de-açúcar para me-


lhorar o rendimento da colheita manual. A queima de resíduos agrícolas emite não
somente GEE (CH4 e N2O), mas também outros gases poluentes, como o monóxido de
carbono (CO) e outros óxidos de nitrogênio (NOx) e particulados.

Em 2016, essa prática contribuiu somente com 1% das emissões nacionais. Contudo, a
emissão de GEE para produzir uma tonelada de cana-de-açúcar era 80% maior 20 anos
atrás (Figura 16). Essa redução nas emissões se deve a proibição da prática de queima,
definida no Decreto Federal nº 2.661 de 08 de julho de 1998, que determina que a prá-
tica da queima da cana-de-açúcar seja eliminada em todo o Brasil até 2021 de forma
gradativa em áreas passíveis de mecanização da colheita (cuja declividade seja inferior
a 12%) e 2031 para áreas não mecanizáveis.

Entretanto, essa tendência tem sido liderada pelo Estado de São Paulo que, em 2007
firmou o Protocolo Agroambiental do Estado de São Paulo. Esse acordo antecipou os
prazos legais para a eliminação da prática da queima de 2021 para 2014 e de 2031 para
2017. O acordo é voluntário e mais de 170 unidades agroindustriais e 29 associações
de fornecedores (que juntos representam mais de 90% da produção paulista) aderiram
ao fim da queima.

30
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
1. INTRODUÇÃO

Figura 16: Emissões de GEE provenientes da queima de cana-de-açúcar e a produção


dessa cultura no Brasil e no Estado de São Paulo entre 1990 e 2016

1200 16

Emissão de GEE (mil t CO2e/milhões de t


14
Produção de cana-de-açúcar

1000
12

de cana-de-açúcar)
800
10
(milhões de t)

600 8

6
400
4
200
2

0 -
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
2008
2010
2012
2014
2016
Produção de Produção de cana-de-açúcar Emissão de GEE - Queima da
cana-de-açúcar - Brasil - Estado de São Paulo Palhada - Estado de São Paulo

Segundo dados da Secretaria de Estado do Meio Ambiente de São Paulo, com base
em estudo liderado pela Agrosatélite, mais de 80% da colheita de cana na safra de
2013/2014 no Estado foi feita sem queima. Essa mesma porcentagem foi aplicada a
safra 2014/2015. Como consequência, as emissões de GEE foram de aproximadamente
5.800 toneladas de CO2e por milhão de toneladas de cana-de-açúcar produzida, 62%
menor que a média nacional (Figura 16).

Recentemente, a legislação de controle e eliminação da queima de cana vem sendo


adotada por outros Estados, como por exemplo, Mato Grosso do Sul (Lei 3.367/2007),
Minas Gerais (Portaria 147/2007), Goiás (Lei n° 15.834/2006), e em fase de discussão no
Estado do Paraná e Rio de Janeiro.

As projeções do MAPA indicam que os maiores aumentos de produção de cana-de-açú-


car devem ocorrer em Goiás, embora este ainda seja um Estado com produção inferior
a São Paulo e Paraná. Entretanto, as emissões provenientes desta atividade tendem a
ser eliminadas até 2021, sendo assim, possível notar o progresso contínuo da mecani-

31
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
1. INTRODUÇÃO

zação da colheita de cana verde na maioria dos Estados do Brasil. O decreto que deter-
mina o fim da queima e as legislações e acordos estaduais, como o Protocolo Agroam-
biental, são exemplos de iniciativas que podem colaborar diretamente com a redução
de emissões na agricultura sem afetar o crescimento do agronegócio brasileiro.

Contudo, importantes regiões produtoras como o Nordeste, responsável por aproxi-


madamente 10% da produção brasileira, ainda não têm previsão de elaborar legisla-
ções estaduais para regularizar o fim da queima da cana. Nessa região, apenas 30% da
área produzida é plana o suficiente para adotar a colheita mecanizada e, assim, segun-
do a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a mecanização
aumentaria fortemente as taxas de desemprego nessa região, uma vez que a colheita
absorve cerca de 30% de toda mão de obra ocupada por essa produção no Brasil.

1.6 TRATAMENTO DOS DEJETOS ANIMAIS


PODE REDUZIR AS EMISSÕES DO SUL
E SUDESTE DO BRASIL

A produção animal gera grande quantidade de dejetos. Um bovino de leite, por exem-
plo, produz aproximadamente 3,5 kg de dejetos (matéria seca de estrume) por dia, ao
passo que um suíno, cerca de 1 kg diariamente. O Imaflora estima que no Brasil haja
geração de cerca de 850 kg de dejetos de animais por segundo, que podem ser recolhi-
dos para tratamento.

Animais criados de forma confinada têm seus dejetos acumulados em lagoas, charcos
e tanques de tratamento. Quando são decompostos por bactérias metanogênicas sob
condições anaeróbicas, esses dejetos produzem grandes quantidades de CH4. Adicio-
nalmente, por conter nitrogênio, os dejetos, ao ser depositados diretamente no solo,
liberam N2O para a atmosfera, também contribuindo para as mudanças climáticas.

Todas as emissões oriundas do manejo de dejetos animais no Brasil representam atual-


mente cerca de 4,5% das emissões do setor agropecuário. Entretanto, quando soma-
das às emissões de GEE pelos dejetos animais depositados diretamente em pastagens
e aplicados ao solo como adubo, a contribuição por essa fonte se eleva para 28%.

32
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
1. INTRODUÇÃO

Na Figura 17 é possível notar que apenas o manejo de dejetos de suínos, bovinos de


corte e aves foi responsável por quase 90% das emissões desse subsetor no ano de
2016, as quais estão concentradas nos Estados do Sul e Sudeste, os maiores produto-
res de aves e suínos do país (Figura 17 e 18).

Figura 17: Emissões de GEE (MtCO2e) provenientes de dejetos animais em 2016

Figura 18. Participação dos principais Estados produtores de suínos e aves nas emissões
totais de GEE (centro) pelo manejo de dejetos desses animais no Brasil em 2016

Dejetos Suínos Dejetos de Aves

33
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
1. INTRODUÇÃO

De acordo com dados do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação - MCTI (2014),


a maioria dos dejetos animais são manejados em esterqueiras e em currais "drylots",
sistemas que possuem um dos maiores potenciais em emitir GEE (IPCC, 2006). Sem
tratamento adequado, esta concentração de carga orgânica promove um ambiente
favorável para que microrganismos decompositores desencadeiem reações que levam
à emissão de GEE, principalmente N2O e CH4 em sistemas de manejo de dejetos sólidos
e líquidos, respectivamente (Li et al., 2012).

Apenas uma pequena parcela dos dejetos de animais no Brasil são manejados sob
sistemas capazes de mitigar essas emissões, como a compostagem, a separação de
sólidos e/ou a biodigestão anaeróbia (Figura 19). Estudos mostram que esses sistemas
emitem cerca de 40% a menos GEE que sistemas que apenas estocam os dejetos em
montes ou esterqueiras antes de serem adicionados ao campo (Amon et al., 2006; Hou
et al., 2014; Costa Junior et al., 2015).

Figura 19: Sistema de manejo de dejetos das principais categorias animais no


Brasil e o número de animais com potencial de inclusão em projetos de mitigação
de GEE via manejo de dejetos

Fonte: Costa Junior et al., 2013; Costa Junior, 2015; MCTI, 2015

34
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
1. INTRODUÇÃO

Além disso, vale lembrar que essas técnicas ainda agregam valor agronômico e eco-
nômico aos dejetos por torná-los materiais capazes de aumentar a disponibilidade de
nutrientes no solo para cultivos agrícolas e, ainda, gerar energia elétrica através do
biogás quando adotados biodigestores, colaborando assim com a minimização dos
efeitos da crise hídrica.

De acordo com dados do MCTI (2016a), é possível notar que pouco esforço tem sido
feito na adoção desses sistemas ao longo dos últimos anos. Estima-se que pelo me-
nos 40% dos animais confinados no Brasil poderiam ser incluídos em projetos de
manejos de dejetos que levem à mitigação das emissões de GEE (Figura 19), os quais
teriam potencial de reduzir pela metade as emissões atuais por esse subsetor da
agropecuária.

Potencial de mitigação no uso de dejetos animais –


biodigestores e composteiras

A produção de carne de frango, bovina e suína no Brasil tem um crescimento


projetado que varia de 1,9% a 3,9% ao ano, o que significa que a produção
total de carnes passará de mais de 26,5 milhões de toneladas em 2013 para
cerca de 40 milhões em 2025 (MAPA, 2015b). Isso pode levar ao aumento pro-
porcional de emissões se o metano e óxido nitroso emitido pelos dejetos des-
ses animais não for utilizado. Atualmente existem tecnologias acessíveis ao
produtor, como biodigestores e composteiras, por exemplo.

Os biodigestores são construídos junto à estrutura de confinamento dos ani-


mais para armazenar os dejetos e produzir biogás a partir da sua fermen-
tação. O biodigestor pode ser ligado a um gerador e/ou “queimador”, pro-
duzindo assim energia elétrica e calor. Assim, por impedir que os dejetos se
decomponham ao ar livre, as emissões de GEE são evitadas. Além disso, o
processo tem como subproduto o biofertilizante, que pode ser utilizado nas
pastagens e lavouras. Dependendo da quantidade de dejetos gerada, o em-
preendimento rural pode se tornar autossustentável em energia e adubo.

35
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
1. INTRODUÇÃO

No Brasil já foram desenvolvidos 38 projetos de MDL (Mecanismos de Desen-


volvimento Limpo) para suinocultura. Estes projetos promovem a redução de
emissões de GEE pela adoção de biodigestores e, assim, geram créditos de
carbono que podem ser vendidos.

Apesar dos benefícios, cerca de 1% dos bovinos de corte (sob confinamento),


de leite e suínos e 6% das aves no Brasil possuem seus dejetos tratados por
biodigestores. A falta de assistência técnica, alto investimento de implemen-
tação e o baixo retorno financeiro (devido ao valor da eletricidade em pro-
priedades rurais ser baixo) apresentam-se como as principais barreiras para
adoção dessa tecnologia. Uma alternativa para minimização dos custos de
implementação seria a criação de grupos de produtores para formar “condo-
mínios de agroenergia”. Isto facilitaria a manutenção desses centros de trata-
mento de dejetos e promoveria a produção contínua de gás.

Uma alternativa ao biodigestor é a composteira mecanizada, onde o tratamento


do dejeto deixa de ser líquido e o espaço necessário para sua construção chega
a ser ¼ do necessário para a instalação do sistema de biodigestor. Esse proces-
so é uma vantagem para os produtores, por gerar um material organicamente
estabilizado e de alto valor agronômico, que pode reduzir em cerca de 40% as
emissões de GEE pelos dejetos (Hou et al., 2014; Amon et al., 2006).

Nesse sentido, o Plano ABC (MAPA, 2010) possui um subprograma que se re-
fere ao tratamento de dejetos animais, que estimula a adoção dessas tecno-
logias interligadas à produção animal. Entretanto, o crédito para este fim é o
mais baixo dentre as linhas contempladas pelo Programa ABC (Observatório
do ABC, 2013). Assim, com o atraso na implementação de tais tecnologias, o
Brasil tem perdido a chance de reduzir as emissões de GEE pelo uso dos deje-
tos de animais nos biodigestores, na substituição da adubação sintética pela
orgânica e na produção de energia através do biogás.

36
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
1. INTRODUÇÃO

1.7 A PRODUÇÃO DE ARROZ IRRIGADO


NO RIO GRANDE DO SUL E AS ESTRATÉGIAS
DE MITIGAÇÃO

No Brasil, o arroz é produzido em áreas inundadas (arroz irrigado) e em áreas secas


(arroz de sequeiro), sendo que a maior parte da produção ocorre no Rio Grande do Sul,
onde predomina o arroz irrigado e concentra cerca de 80% da produção atual. Outros
Estados com produção expressiva são Santa Catarina (11%), Tocantins (5%) e Paraná
(2%). O arroz cultivado em campos inundados ou em áreas de várzea emite CH4 devido
à decomposição anaeróbica de matéria orgânica presente, sobretudo, no sedimento
de fundo das lâminas dágua. Em 2016, esse cultivo correspondeu a 2,6% das emissões
de GEE nacionais da agropecuária (12,8 MtCO2e). A figura 20 mostra a concentração
das emissões pelo cultivo do arroz irrigado nas principais regiões brasileiras em 2016.

Figura 20: Emissões de GEE (Mt) do cultivo de arroz irrigado nas cindo regiões
brasileiras e no Estado do Rio Grande do Sul (RS) em 2016

37
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
1. INTRODUÇÃO

Apesar de ser o maior emissor, o Rio Grande do Sul tem mostrado esforços em en-
tender melhor o impacto de seus sistemas nessas emissões e já conta com fatores de
emissão (FE) específicos (MCTI, 2014). Os demais Estados ainda precisam utilizar fato-
res de emissão fornecidos pelo IPCC, obtidos a partir de pesquisas desenvolvidas em
outros países e que possivelmente não são adequados às condições nacionais.

Os FE desenvolvidos para o cultivo de arroz irrigado no Rio Grande do Sul dizem respei-
to aos sistemas de preparo do solo convencional e antecipado. Os FE para esses prepa-
ros do solo são 39% e 6% maiores que os fornecidos pelo IPCC (2006), respectivamente.
Com isso, tem-se maior precisão na definição das mudanças necessárias nos sistemas
de manejo para reduzir as emissões. Esses dados sugerem que os FE fornecidos pelo
IPCC (2006) podem estimar equivocadamente as emissões de CH4 por esse cultivo em
outros Estados no Brasil.

O preparo do solo antecipado é uma estratégia recomendada para evitar atrasos no


plantio e diminuir riscos de perda de produtividade. Dessa maneira, assim que se termi-
na de colher uma safra, os produtores iniciam a preparação do solo para a safra seguin-
te, sendo um exemplo importante de mudança de prática que combinou redução das
emissões com aumento de produtividade. Contudo, deve-se notar que esse cenário só
foi atingido devido ao trabalho e coordenação entre pesquisas e assistência técnica ao
produtor rural e que, portanto, serve de exemplo a ser replicado em todo o Brasil.

O preparo do solo convencional, que emite cerca de 30% mais CH4 por metro quadrado
de várzea que o preparo antecipado, compreendia mais da metade das áreas de pro-
dução entre as décadas de 1970 e 2016 (Figura 21). Entretanto, o sistema de preparo
antecipado vem sendo mais amplamente adotado e atualmente representa cerca de
70% das áreas de produção do Rio Grande do Sul.

Apesar da substituição gradativa, o Estado do Rio Grande do Sul ainda tem potencial
para reduzir as emissões nacionais por essa fonte em cerca de 20% caso venha a ado-
tar o sistema de preparo antecipado na área que ainda está sob preparo convencional
(Figura 21). Portanto, o estímulo à adoção de tal sistema deve favorecer não só os pro-
dutores no Rio Grande do Sul, mas todo o país.

38
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
1. INTRODUÇÃO

Figura 21: Tipos de preparo do solo para cultivo do arroz irrigado e seus respectivos
fatores de emissão de CH4 para o Estado do Rio Grande do Sul

Preparo
Convencional

Preparo
Antecipado

Outros

Emissão de CH4 por m2 de cultivo de arroz em várzea no RS

Cultivo de arroz irrigado: convencional ou antecipado?

A contribuição do arroz irrigado para as emissões na agropecuária brasileira


é de apenas 2%, porém o MAPA projeta um decréscimo na área dessa cultura.
Apesar de este volume representar menos de 1% do aumento das emissões
totais do setor agropecuário brasileiro em 2016, muita atenção deve ser dada
para as áreas de cultivo no Brasil para que respeitem áreas de Preservação
Permanente (APPs) como várzeas ou áreas alagadas naturalmente.

Quase todos os anos o arroz é um dos principais produtos agrícolas importados


pelo Brasil, principalmente do Paraguai, do Uruguai e da Argentina. As impor-
tações brasileiras são resultantes de um excesso de demanda doméstica pelo
cereal. Segundo o site da Embrapa Clima Temperado, o Brasil atualmente en-
contra-se entre os dez maiores importadores de arroz, absorvendo cerca de 5%
do volume das exportações mundiais. Para atender a esta demanda nacional
e ao mesmo tempo produzir dentro dos princípios da agricultura de baixo car-
bono, devem ser priorizadas áreas de sequeiro ou adotando boas práticas na
produção irrigada como o preparo antecipado praticado no Rio Grande do Sul.

39
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
1. INTRODUÇÃO

1.8 VARIAÇÃO NOS ESTOQUES DE CARBONO DOS


SOLOS UTILIZADOS PELO SETOR DE AGROPECUÁRIA

Os Inventários Nacionais de todos os países devem seguir as diretrizes do IPCC para


calcular suas emissões e posteriormente compará-las. Entretanto, os países não têm
obrigação de contabilizar as emissões e remoções de CO2 pelo solo, as quais ocorrem e
podem ser significativas (Lal, 2004). Com o cultivo agropecuário, o solo tem seus níveis
de matéria orgânica (onde se encontra o carbono no solo) alterados, de maneira geral,
emitindo carbono (na forma de CO2) quando está sob degradação e acumulando (se-
questrando) carbono quando manejados de forma conservacionista.

Nessa versão do SEEG, o Imaflora fez o exercício de calcular a variação dos estoques de
carbono dos solos utilizados pela agropecuária. Nesse exercício, foi considerado que
há sequestro (acúmulo) de carbono (CO2) no solo em áreas florestas plantadas, cultivos
agrícolas manejados sob a técnica de plantio direto (sem revolvimento do solo) e solos
de pastagens bem manejadas. As emissões de CO2 ocorrem em solos de pastagens
degradadas e em cultivos agrícolas manejados sob sistemas convencionais (com revol-
vimento periódico do solo) (Tabela 1).

Ao fazer esse cálculo, o Imaflora estima que aproximadamente 235 MtCO2e foram emi-
tidos e 223 MtCO2e foram sequestrados pelos solos utilizados pela agropecuária na-
cional em 2016. Isso resulta em um balanço de emissão de 12 MtCO2e, implicando que
as emissões pelo agropecuária são na verdade cerca de 3% maiores que as reportadas
atualmente – o que torna a agropecuária a segunda maior fonte de emissão no Brasil e
eleva as emissões de GEE nacionais em quase 1%.

Isso se deve, principalmente, à extensa área coberta com pastagens degradadas, es-
timada em aproximadamente 53 milhões de hectares – cerca de 45% da área agrope-
cuária brasileira, ou uma área equivalente à da Espanha – somada às emissões do solo
de aproximadamente 17 milhões de hectares de cultivos agrícolas anuais ainda mane-
jados de forma convencional. Essas emissões não são compensadas pelo sequestro
de carbono que potencialmente ocorre nos quase 8 milhões de hectares de florestas
plantadas, nos 44 milhões de hectares de cultivos anuais sob plantio direto e nos 23
milhões de hectares de pastagens em ótimas condições.

40
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
1. INTRODUÇÃO

Tabela 1. Estimativa da variação dos estoques de carbono do solo utilizado


pela agropecuária no Brasil.

Uso do Solo Área (milhões ha) Referência

Pastagens 171,0 Consulta Especialistas


Condição Estável 95,0 Consulta Especialistas
Degradada 53,0 Consulta Especialistas
Bem Manejado 23,0 Consulta Especialistas
Integração Lavoura/Pecuária-Floresta 11,5 Rede de Fomento ILPF, 2016
Florestas Plantadas 7,8 IBÁ, 2015; ABRAF, 2010
Lavouras 61,0 CONAB, 2016
Sistema Plantio Convencional (SPC) 17,0 Estimado pela diferença Lavouras e SPD
Sistema Plantio Direto (SPD) 44,0 FEBRAPDP, 2006

Fatores de Emissão
Uso do Solo e Remoção de GEE Referência
(tCO2e/ha/ano)*

Pastagens
Condição Estável 0
Degradada 4,00 Extração feita em Observatório ABC (2013)
Bem Manejado -5,51 Bustamante et al. (2006)
Integração Lavoura/Pecuária-Floresta -6,24 Carvalho et al. (2010)
Florestas Plantadas -0,81 Lima et al. (2006)
Lavouras (milhões de ha)
Sistema Plantio Convencional (SPC) 1,47 Costa Junior et al., 2013
Sistema Plantio Direto (SPD) -1,53 Corbeels, M. et al., 2016

Uso do Solo Variação do estoque de C no solo (MtCO2e)*

Pastagens (milhões de ha)


Condição Estável 0,0
Degradada 210,5
Bem Manejado -78,1
Integração Lavoura/Pecuária-Floresta -71,6
Florestas Plantadas -6,3
Lavouras
Sistema Plantio Convencional (SPC) 24,3
Sistema Plantio Direto (SPD) -67,3
Variação dos estoques de carbono 11,5

*valores positivos e negativos representam emissão e remoção de CO2, respectivamente.

41
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
1. INTRODUÇÃO

Essas emissões pelos solos degradados são similares aos níveis emitidos pela fer-
mentação entérica dos animais ruminantes. Dessa forma, caso fossem contabiliza-
das, as emissões pelos solos seriam a segunda maior fonte de emissão de GEE do
setor de Agropecuária do Brasil. Assim, nota-se que o solo utilizado pela agricultura
e pecuária no Brasil tende a se comportar como fonte de emissão de GEE sob as con-
dições atuais de manejo.

Esse exercício feito pelo Imaflora destaca a importância de analisar o balanço de car-
bono da agropecuária brasileira para que as políticas climáticas sejam melhor formu-
ladas, tornem-se mais robustas e, em última análise, mitiguem as emissões de GEE.
Além disso, recuperar áreas degradadas traz outros benefícios socioambientais, como
torná-las mais produtivas e melhorar índices de qualidade da água devido à melhor
conservação de rios e nascentes.

O Inventário Nacional e as estratégias de mitigação:


o desafio da agropecuária

O Plano ABC e a NDC brasileira propõem uma redução das emissões de quase
300 milhões de toneladas de CO2e até 2030. No entanto, a contabilização des-
sa redução ainda é desafiadora em função das ferramentas de não estarem
completamente desenvolvidas e o IPCC não obrigar os países a reportar essas
emissões totais. O Brasil, por exemplo, não reporta em seu inventário nacional
o balanço de emissões em solos na agricultura, mas ao mesmo tempo essa
quantificação das variações no estoque de carbono no solo é a base de suas
políticas climáticas agrícolas (Figura 22).

42
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
1. INTRODUÇÃO

Figura 22: Emissões de remoções de gases de efeito estufa


em sistemas agropecuários

Tal desalinhamento pode vir a ser um desafio para o Brasil ao reportar o


cumprimento das metas em negociações internacionais. Para equalizar o
problema, o IPCC deverá tornar obrigatório incluir o balanço de carbono na
agropecuária (sequestro-emissão), tornando o cálculo mais preciso e incor-
porando todo o potencial do setor em reduzir suas emissões de GEE. O Brasil
precisa iniciar essas análises explicitamente em seus inventários para dar
credibilidade e validar suas políticas climáticas desenvolvidas até o momen-
to (Plano ABC e NDC).

43
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
2. TRAJETÓRIA, METAS E
COMPROMISSOS DE REDUÇÃO
DE EMISSÕES

Através do SEEG é possível entender como as emissões de GEE da agropecuária se


comportaram no Brasil e em cada Unidade da Federação de 1970 até 2016. Essas infor-
mações históricas, somadas às análises feitas neste relatório, auxiliam na compreen-
são da trajetória de emissões futuras, ajudam a estimar o potencial de mitigação e sua
relação com as políticas agrícolas e mostram o alcance das metas e compromissos
assumidos pelo Brasil.

Para entender com maior precisão a trajetória das emissões brasileiras no setor agro-
pecuário, foram analisadas as principais políticas e planos agrícolas que impactam dire-
tamente no desenvolvimento do setor e consequentemente nas emissões, sendo elas:
• Plano Nacional sobre Mudança do Clima
• Política Nacional sobre Mudança do Clima
• Plano de Agricultura de Baixo Carbono
• Acordo de Paris e Contribuição Nacionalmente Determinada Brasileira (NDC)

2.1 PLANO NACIONAL SOBRE MUDANÇA


DO CLIMA (PLANO CLIMA)

O Plano Nacional sobre Mudança do Clima ou Plano Clima, foi adotado em 2008 e tem
por objetivo incentivar o desenvolvimento e aprimorar ações de mitigação no Brasil,
colaborando com o esforço mundial de redução das emissões de GEE, bem como pre-
parar o país para adaptar-se aos impactos das mudanças climáticas.

O Plano Clima é interministerial e conta com a contribuição dos Estados e municípios


para ser executado, sendo estruturado em quatro frentes de ação: oportunidades de
mitigação; impactos, vulnerabilidades e adaptação; pesquisa e desenvolvimento; e
educação, capacitação e comunicação (Brasil, 2008). Para alcançar suas metas, o Plano
Clima estabelece os seguintes objetivos:

1. Identificar, planejar e coordenar as ações para mitigar as emissões de gases de efei-


to estufa geradas no Brasil, bem como àquelas necessárias à adaptação da socieda-
de aos impactos que ocorram devido à mudança do clima;

44
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
2. TRAJETÓRIA, METAS E
COMPROMISSOS DE REDUÇÃO
DE EMISSÕES

2. Fomentar aumentos de eficiência no desempenho dos setores da economia na bus-


ca constante de melhores práticas;

3. Buscar manter elevada a participação de energia renovável na matriz elétrica, pre-


servando posição de destaque que o Brasil sempre ocupou no cenário internacional;

4. Fomentar o aumento sustentável da participação de biocombustíveis na matriz de


transportes nacional e, ainda, atuar com vistas à estruturação de um mercado inter-
nacional de biocombustíveis sustentáveis;

5. Buscar a redução sustentada das taxas de desmatamento, em sua média quinque-


nal, em todos os biomas brasileiros, até que se atinja o desmatamento ilegal zero;

6. Eliminar a perda líquida da área de cobertura florestal no Brasil, até 2015;

7. Fortalecer ações intersetoriais voltadas para a redução das vulnerabilidades das


populações;

8. Procurar identificar os impactos ambientais decorrentes da mudança do clima e


fomentar o desenvolvimento de pesquisas científicas para que se possa traçar uma
estratégia que minimize os custos socioeconômicos de adaptação do País.

2.2 POLÍTICA NACIONAL SOBRE MUDANÇA


DO CLIMA (PNMC)

Em 2009 foi instituída a Política Nacional sobre Mudança do Clima – PNMC, por meio
da Lei 12.187. Ela oficializa o compromisso voluntário assumido pelo Brasil na COP15,
a conferência do clima de Copenhague, de reduzir as emissões em 2020 em 36,1% a
38,9% em relação ao cenário tendencial. Em 2010 foi estabelecido o Decreto nº 7.390,
que a regulamenta. A tabela a seguir descreve as ações de mitigação relacionadas aos
setores da agropecuária e mudança de uso do solo e as metas de redução de emissões
definidas no decreto (Brasil, 2010).

45
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
2. TRAJETÓRIA, METAS E
COMPROMISSOS DE REDUÇÃO
DE EMISSÕES

Tabela 2. Ações de mitigação descritas no Decreto nº 7.390 da PNMC

Amplitude da redução de emissões


Ações de Mitigação relacionadas à agricultura e floresta de GEE para 2020 em tCO2e

Reduzir em 80% a taxa de desmatamento 669 milhões


na Amazônia Legal e em 40% no Cerrado
Adotar intensivamente práticas
Entre 133 e 166 milhões
sustentáveis na agricultura
Ampliar a eficiência energética Entre 174 e 217 milhões
Total de redução nacional previsto que envolve
Entre 976 e 1.052 milhões
direta ou indiretamente a Agropecuária

O Decreto nº 7.390/2010 também prevê a elaboração de planos setoriais com ações,


indicadores e metas de redução de emissões e mecanismos para a verificação do seu
cumprimento para guiar cada setor: Agropecuária, Energia, Processos Industriais, Tra-
tamento de Resíduos, Florestas e Uso da Terra. Esses planos setoriais foram definidos
para colocar em prática as metas de mitigação e adaptação de cada setor.

Para a agropecuária foi elaborado o Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mu-


danças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono
na Agricultura (Plano ABC).

Adicionalmente, de acordo com o decreto nº 7.390/2010, as revisões do Plano Clima


e dos planos setoriais deveriam ocorrer previamente à elaboração dos Planos Pluria-
nuais (instrumentos de planejamento governamental de médio prazo, previstos no ar-
tigo 165 da Constituição Federal) em períodos regulares não superiores a dois anos.

2.3 PLANO DE AGRICULTURA DE BAIXO


CARBONO (PLANO ABC)

O objetivo geral do Plano ABC é incentivar a melhor utilização de áreas já desmatadas


em bases sustentáveis, aumentando a produtividade e diminuindo as pressões sobre
florestas remanescentes (MAPA, 2012).

46
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
2. TRAJETÓRIA, METAS E
COMPROMISSOS DE REDUÇÃO
DE EMISSÕES

Esse plano contempla inovações tecnológicas no manejo de pastagens, em sistemas


agroflorestais, na recuperação de áreas degradadas e no aumento da fixação de carbo-
no no solo, entre outros. Sua abrangência é nacional e o período de vigência é de 2010
a 2020. Estima-se que quase R$ 200 bilhões seriam necessários para que suas ações
sejam implementadas.

Tabela 3. Subprogramas do Plano ABC e potencial de mitigação por redução


de emissão de GEE (MAPA, 2010)

Expansão entre Redução de emissão


Subprograma Área atual 2010
2010 e 2020 de GEE 2010/2020

Recuperação de pastagens degradadas


- Subsídios para manejo e adubação. 83 a 104 milhões
40 milhões de ha 15 milhões de ha
- Base de cálculo foi de 3,79 Mg de de t CO2 e
CO2 eq. ha-1ano-1.

Integração Lavoura-pecuária-
floresta (ILPF)
- Adoção de sistemas pecuários 18 a 22 milhões
integrados com agricultura e/ou floresta, 2 milhões de ha 4 milhões de ha de t CO2 e
incluindo sistemas agroflorestais (SAFs).
- Base de cálculo foi de 3,79 Mg
de CO2e ha-1ano-1.

Sistema Plantio Direto (SPD)


- Implementação de SPD 16 a 20 milhões
25 milhões de ha 8 milhões de ha
- Base de cálculo foi de 1,83 Mg de t CO2 e
de CO2e ha-1ano-1.

Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN)


- Adoção de sistemas com 10 milhões
plantio de leguminosas. 11 milhões de ha 5,5 milhões de ha de t CO2 e
- Base de cálculo foi de 1,83 Mg
de CO2e ha-1ano-1.

Florestas Plantadas
- Plantio comercial de árvores 10 milhões de
- Não está computado o compromisso 6 milhões de ha 3 milhões de ha t CO2 e (potencial de
brasileiro relativo ao setor da siderurgia; captura)
e, não foi contabilizado o potencial de
mitigação de emissão de GEE.

Tratamento de dejetos animais


- Produção de biogás e 4,4 milhões de m³ 6,9 milhões
fertilizante orgânico tratados de t CO2 e
- Base de cálculo foi de 1,56 Mg
de CO2 e m-3.

Adaptação às Mudanças Climáticas Ainda não foram estabelecidas as ações de adaptação

Total de redução prevista até 2020 144 a 173 milhões


de t CO2 e*

47
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
2. TRAJETÓRIA, METAS E
COMPROMISSOS DE REDUÇÃO
DE EMISSÕES

Segundo o decreto regulamentador da PNMC (Brasil, 2010), as projeções indicam que


as emissões de GEE do setor agropecuário seriam de aproximadamente 730 milhões
de tCO2e para o ano de 2020 sob um crescimento do PIB de 5% ao ano. Esse mesmo
decreto indica que apenas a agricultura e a pecuária teriam a capacidade de reduzir
suas emissões entre 144 e 173 milhões de tCO2e caso as metas estipuladas pelos sete
subprogramas do Plano ABC sejam seguidas (Tabela 2). A principal hipótese assumida
para montar esse plano é que a remoção de carbono no solo compensaria boa parte
das emissões de GEE originárias da criação animal e das áreas agrícolas necessárias
para suprir a demanda por produtos agropecuários. Apesar dessas projeções provavel-
mente não se concretizarem em razão de o PIB do país não ter seguido o ritmo assumi-
do (IBGE, 2017a), a magnitude de mitigação do Plano ABC ainda é relevante. Entretanto,
é evidente que, frente às atuais condições econômicas do Brasil, as projeções elabora-
das pelo governo brasileiro deveriam ser revistas e atualizadas.

Além dos subprogramas, o Plano ABC define uma série de estratégias de mitigação que
deverão ser realizadas para que as metas previstas sejam atingidas, são elas: assistên-
cia técnica; capacitação de produtores e técnicos; campanhas de divulgação, pesquisa
e desenvolvimento tecnológico; disponibilização de insumos básicos e inoculantes; fo-
mento a viveiros e redes de coletas de sementes; regularização fundiária e ambiental;
e ações junto aos segmentos de insumos, produtos e serviços. Além dessas estratégias,
o Plano ABC prevê ações de adaptação às mudanças climáticas que ainda estão em
aberto e deverão ser estabelecidas. Estão previstos também crédito agrícola específico
para essas tecnologias (Programa ABC), mecanismos para o monitoramento do plano,
ações transversais e fontes de financiamento.

Adicionalmente, o Plano ABC considera a interação com os demais planos setoriais para
otimizar os custos de implementação e evitar a dupla contabilização da redução das
emissões de GEE. Com relação à redução do desmatamento, o Plano ABC prevê ações
que contribuirão com a redução do desmatamento através da intensificação agropecuá-
ria, da recuperação de pastagens degradadas e da adoção de sistemas de ILPF e SAFs. O
aumento da produção agrícola proposto no Plano ABC não deverá comprometer o des-
matamento de ecossistemas naturais e, assim, se manter alinhado a Prevenção e Con-
trole do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm) e Plano de Ação para Prevenção e
Controle do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado (PPCerrado).

48
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
2. TRAJETÓRIA, METAS E
COMPROMISSOS DE REDUÇÃO
DE EMISSÕES

Além disso, o Plano ABC também prevê a interface com outras ações do governo fe-
deral como, por exemplo, o Programa Mais Ambiente, a Operação Arco Verde (OAV), o
Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), o Pro-
grama Terra Legal Amazônia, entre outros. Por outro lado, existe uma falta de sinergia
com outros componentes da agropecuária brasileira com elevado potencial de redu-
ção das emissões de GEE nacionais, como produção energética e biocombustíveis.

Entretanto, vale ressaltar que a implementação e a interação entre o Plano ABC e as


outras ações do governo federal estão além do escopo desse relatório e, portanto, não
foram analisadas. Contudo, acredita-se que as interações destacadas estejam realmen-
te acontecendo na prática, o que evidencia a necessidade de realização de estudos
específicos no futuro.

2.4 O ACORDO DE PARIS E AS METAS DE


REDUÇÃO DE EMISSÕES DA AGROPECUÁRIA
NA NDC BRASILEIRA

Outro marco histórico relevante dos compromissos climáticos ocorreu na 21a Confe-
rência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP21),
realizada em dezembro de 2015 em Paris, que reuniu 196 países (incluindo União Eu-
ropeia) e culminou na elaboração do Acordo de Paris. O tratado tem como objetivo
conter o aumento da temperatura média global em menos do que 2°C acima dos níveis
pré-industriais e envidar esforços para limitar esse o aumento a 1,5°C.

Essa meta deverá ser atingida por meio da soma de esforços dos países signatários, in-
cluindo o Brasil, através de suas NDCs ou Contribuições Nacionalmente Determinadas
(termo em português). A NDC é o documento apresentado pelos países ao Secretaria-
do da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC). Ele
contém as ações que cada governo adotará para que as metas de redução das suas
emissões de GEE sejam atingidas.

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EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
2. TRAJETÓRIA, METAS E
COMPROMISSOS DE REDUÇÃO
DE EMISSÕES

A NDC brasileira, anunciada em setembro de 2015 (Brasil, 2015 a,b), se compromete em


reduzir as emissões do país em 37% abaixo dos níveis de 2005 em 2025 e, subsequen-
temente, reduzir essas emissões em 43% abaixo dos níveis de 2005 em 2030 (Tabela 4).

Tabela 4. Detalhamento da meta da NDC Brasileira* em MtCO2e

Metas NDC* 2005 2025 2030

Energia 332 598 688


Agropecuária 484 470 489
Emissão 1398 392 143
Floresta e Mudança de Uso do Solo Remoção 211 274 274
Líquido 1187 118 -131
Processos Industriais 77 98 99
Tratamento de Resíduos 54 61 63
Total 2133 1346 1208
Redução em Relação a 2005 37% 43%

*Fonte: MMA, 2016.

No que se refere ao setor agropecuário, o documento anexo à NDC menciona o forta-


lecimento do Plano ABC por meio da:

• Restauração adicional de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas e;

• Incremento de 5 milhões de hectares de sistemas de integração lavoura-pecuária-


-florestas (ILPF) até 2030.

De acordo com o documento, essas ações permitirão que as emissões de GEE pela agro-
pecuária em 2030 cheguem ao mesmo patamar que as emissões desse setor em 2005
(Tabela 4), mesmo com um crescimento de produção estimado ao redor de 30% (MAPA,
2015). Novamente, a principal hipótese assumida é associada às remoções de carbono
pelo solo, que compensariam parte das emissões do aumento do rebanho e das áreas
agrícolas necessárias para suprir a demanda por produtos agropecuários em 2030.

50
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
2. TRAJETÓRIA, METAS E
COMPROMISSOS DE REDUÇÃO
DE EMISSÕES

A implementação da Contribuição Nacionalmente


Determinada do Brasil

No ano de 2017, um espaço foi retomado para conscientizar e mobilizar a so-


ciedade para a discussão e tomada de posição sobre os problemas decorren-
tes da mudança do clima: o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC).
Este havia sido criado no ano 2000, em 2009 foi reconhecido como um dos ins-
trumentos institucionais da PNMC, mas perdeu relevância entre 2011 e 2016.
Tendo como autoridade máxima o Presidente da República, é constituído por
representantes da sociedade civil e autoridades ministeriais, com o objetivo
de produzir deliberações e consultas públicas sobre a participação do país no
Acordo de Paris. O FBMC foi dividido em câmaras temáticas (CTs), sendo uma
delas a de Florestas, Biodiversidade, Agricultura e Pecuária. O objetivo das
CTs é contribuir para a definição de prioridades, níveis de ambição e sequen-
ciamento de ações relevantes de curtíssimo e de longo prazo para cumprimen-
to da NDC brasileira.

As medidas de implementação da NDC levantadas pela CT de Agricultura e


Pecuária foram:

Longo prazo:

• Ampliação e atualização do Programa ABC para o período 2020-2030;


• Intensificação da produtividade da pecuária;
• Introdução de critérios de descarbonização no Plano Safra.

Curto prazo:

• Melhorar o programa ABC a fim de torná-lo mais atrativo aos


agricultores;
• Criação do Centro Inteligência Climática da Agricultura;
• Difundir o uso das informações de embargo no mercado de
commodities agrícolas;

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EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
2. TRAJETÓRIA, METAS E
COMPROMISSOS DE REDUÇÃO
DE EMISSÕES

• Implementação do monitoramento das emissões GEE no setor


de uso da terra;
• Considerar o balanço das emissões no inventário brasileiro;
• Estabelecer um zoneamento nacional de aptidão do solo;
• Pressionar fóruns nacionais e internacionais a ampliarem os critérios am-
bientais de suas cadeias produtivas.

Após o esforço de levantar essas soluções para a NDC, finalizado em dezembro


de 2017, após consulta pública, a meta do fórum para o ano de 2018 é definir o
quanto cada solução proposta reduz em emissões, analisando o custo-benefício
e a realidade do país para que essas soluções sejam priorizadas e posteriormen-
te implementadas. Para saber mais, acesse: forumbrasilclima.org.

2.4.1 O setor agropecuário atingirá suas metas climáticas de 2020?

A meta numérica de limite de emissões no setor será atingida, entretanto, faltando


menos de três anos para a finalização do Plano ABC, não havendo nenhuma rede de
monitoramento consolidada, não será possível identificar a efetividade do plano na
redução das emissões.

O decreto regulamentador da PNMC (Brasil, 2010) indica que as emissões de GEE do


setor de Agropecuária em 2020 seria de aproximadamente 730 MtCO2e sob um cres-
cimento do PIB de 5% ao ano. Pela tendência de emissões avaliada pelo SEEG, é facil-
mente identificado que essa projeção perde o sentido porque o PIB do país não seguiu
o ritmo projetado (IBGE, 2017a). Estimativas realizadas pelo SEEG, considerando a nova
conjuntura econômica do país indicam que as emissões de GEE da agropecuária brasi-
leira no cenário business-as-usual (BAU) seriam de 450 MtCO2e em 2020 (40% menores
que o estimado pela PNMC).

Ou seja, tomando por base a projeção BAU do decreto de 2010, o Brasil atingiria a
meta, mas não é possível dizer, a partir dos dados disponíveis, se as metas especificas
em implementação de práticas de agricultura de baixo carbono foram cumpridas.

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EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
2. TRAJETÓRIA, METAS E
COMPROMISSOS DE REDUÇÃO
DE EMISSÕES

Isso mostra que as projeções deveriam ser revistas e atualizadas. Entretanto, o próprio
Plano Clima de 2008 nunca foi revisado, sofrendo apenas um processo de atualização
em 2013 (MMA, 2013). No que se refere à atualização do Plano ABC, o Fórum Brasileiro
de Mudanças Climáticas avançou no último ano na revisão das metas, nas práticas de
mitigação e nas questões de monitoramento.

Nota-se que o Programa ABC, como uma linha de crédito específica para a implemen-
tação do Plano ABC, sendo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) e o Banco do Brasil seus principais repassadores do recurso, nunca apresen-
tou 100% de desembolso. O balanço da safra 2015/16 para o Programa ABC mostrou
que os produtores rurais brasileiros usaram  apenas 68% do volume total  de crédito
disponibilizado pelo governo federal e 63% de todo o recurso disponibilizado até o mo-
mento (Observatório ABC, 2017b).

Essa falta de adesão foi analisada em estudo lançado em 2017 pelo Observatório: De-
safios e restrições dos produtores rurais na adoção de tecnologias de baixo carbono
ABC. Entrevistas com os produtores rurais da Alta Floresta (MT) levantaram 32 fatores
de impacto sobre o plano ABC. Dentre estes, os principais fatores são a taxa de juros
sem diferencial competitivo, a falta de acesso, conhecimento e capacitação do produ-
tor, o endividamento e a baixa lucratividade das propriedades, além do excesso de
burocracia e a falta de clareza do processo.

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EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
2. TRAJETÓRIA, METAS E
COMPROMISSOS DE REDUÇÃO
DE EMISSÕES

Tabela 5. Crédito disponibilizado e desembolso do Programa ABC no


Plano Agrícola e Pecuário brasileiro

Plano Agrícola Crédito disponibilizado ao Crédito disponibilizado Desembolso/repasse


e Pecuário Plano Agrícola e Pecuário ao Programa ABC do Programa ABC
(bilhões) (bilhões)

2010/2011 R$ 100,0 R$ 2 20% (0,42 bi R$)


2011/2012 R$ 107,2 R$ 3,2 50% (1,62 bi R$)
2012/2013 R$ 115,3 R$ 3,4 88% (3,05 bi R$)
2013/2014 R$ 136,0 R$ 4,5 67% (3,03 bi R$)
2014/2015 R$ 156,1 R$ 4,5 82% (3,66 bi R$)
2015/2016 R$ 187,7 R$ 4,5 68% (2,05 bi R$)
2016/2017 R$ 183,9 R$ 3,0 82% (3,03 bi R$)
2017/2018 R$ 200,25 R$ 2,1 Recém Lançado
Total R$ 1186,45 bilhões R$ 22,1 bilhões R$ 13,8 bilhões

Fonte: Observatório do ABC e Banco Central

Por outro lado, o Observatório ABC, que monitora as ações do plano e programa, pro-
pôs em 2015 uma revisão do plano para que esse cenário de lacunas mude, com pro-
postas para desenvolver metodologias e tecnologias para mensurar os resultados e a
redução comprovada da emissão de gases. Sem esse aprimoramento, não é possível
fazer a alocação total dos recursos do programa por linha de financiamento, como re-
gistrado pelo Observatório do ABC.

De acordo com a plataforma Sistema ABC (Observatório ABC, 2017c), 67% dos recursos
liberados pelo Programa ABC foram contratados (Tabela 5). Entretanto, não mais do
que 25% apresentam clara contratação para as seis principais linhas do programa (Fi-
gura 23). Ou seja, cerca de R$ 9 bilhões contratados não apresentam distinção da prá-
tica ABC de fato contratada – pois os bancos não fizeram essa comunicação ao Banco
Central. Entretanto, vale lembrar que esses números ainda não garantem que o crédito
foi realmente utilizado para a prática contratada e, muito menos, se houve a redução
de emissão de GEE estimada.

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EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
2. TRAJETÓRIA, METAS E
COMPROMISSOS DE REDUÇÃO
DE EMISSÕES

Assim, esses fatos evidenciam a falta que um sistema de monitoramento faz para di-
recionar e regular o nível requerido para atingir as metas climáticas e dimensionar
futuros investimentos nessa área, assim como valorizar os produtores ABC e eventual-
mente abrir nossos mercados para esses produtos.

Figura 23: Disponibilidade e desembolso acumulado do Programa ABC


entre as safras 2010/2011 e 2016/2017

Elaborado a partir do Sistema ABC (Observatório do Plano ABC, 2017c).

Além disso, nada impede que outras linhas de crédito possam promover práticas ABC,
ou seguir na direção contrária a essas práticas. Tais linhas, portanto, também devem
ser monitoradas e incluídas em uma estratégia nacional mais ampla com relação aos
compromissos climáticos nacionais. O Plano ABC estimou que as ações de monitora-
mento das reduções das emissões deveriam ser iniciadas a partir de 2013, o que não
ocorreu até o momento, prejudicando o monitoramento das emissões evitadas pelo
uso das técnicas do Plano ABC (Observatório ABC, 2015).

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EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
2. TRAJETÓRIA, METAS E
COMPROMISSOS DE REDUÇÃO
DE EMISSÕES

Outro recente estudo lançado sobre esse tema foi a Avaliação do uso estratégico das
áreas prioritárias do Programa ABC (Observatório ABC, 2017a). Seus autores apontam
que não há restrição de oferta, mas sim de demanda, como resultado do risco atrelado
à recuperação da área degradada. Ademais, as áreas consideradas prioritárias pelo
programa (Norte e Nordeste) são as de maiores riscos climáticos e menor estrutura
logística, fatores considerados de risco no plano de recuperação e que não estão sendo
levados em conta na projeção do crédito. O risco ainda está atrelado às particularida-
des de cada propriedade, que devem ser estudadas para a projeção deste.

Em 2012, o MAPA, MMA, Embrapa e GTPS (Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável)


se comprometeram até 2022 a cooperar com o governo para atingir a meta de recupe-
rar as áreas de pastagens degradas. Foram redigidos manuais de práticas sustentáveis
e novas ações foram traçadas por este grupo com o ideal de disseminar e destacar as
iniciativas sustentáveis no país. Atualmente, 16 iniciativas sustentáveis estão registra-
das em sua base de dados, número alarmantemente baixo considerando a extensão
da agropecuária no país. Seguindo essa linha de incentivo, os bancos financiadores do
plano ABC através de créditos concedidos ao produtor têm como papel impulsionar o
interesse deste em aderir ao plano, mas ainda assim não se tem um monitoramento
do efeito desse crédito nas emissões ou até mesmo um apoio à gestão desse crédito.

Um exemplo disso é a pesquisa encomendada pela Rede de Fomento ILPF e realizada


pelo Kleffmann Group na safra 2015/2016, que estimou que o Brasil possui 11,5 mi ha
com sistemas integrados de produção agropecuária (combinações de lavoura, pecuá-
ria e floresta). De acordo com essa pesquisa, em dez anos (2005-2015), a área ocupa-
da por sistemas de ILPF aumentou em quase 10 milhões de hectares. Apenas entre
2010 e 2015, essa área saltou de 5,5 para 11,5 mi ha. Dessa maneira, considera-se
cumprida a meta estipulada pelo Plano ABC, de aumentar em 4 milhões de hectares
a área com ILPF em todo o país até 2020. Os resultados dessa pesquisa argumentam
que o incremento em área sob ILPF entre 2010 e 2015 foi responsável pelo sequestro
de 21,8 MtCO2e (Embrapa, 2016). Entretanto, essas estimativas podem estar equi-
vocadas e associadas a uma incerteza elevada, uma vez que essas áreas não estão
sendo monitoradas quanto à real quantidade de emissões de CO2e evitadas e reduzi-
das. Além disso, não se sabe quanto desse aumento de área de ILPF tomou créditos
do Programa ABC e, portanto, o poder de avaliação do dimensionamento e impacto
dessa política é muito reduzido.

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EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
2. TRAJETÓRIA, METAS E
COMPROMISSOS DE REDUÇÃO
DE EMISSÕES

2.4.2 Lições do ABC para a implementação da NDC no Setor de Agropecuária

O plano ABC é um precursor da NDC Brasileira para o setor de Agropecuária. Entretan-


to, o cenário preocupante do plano indica que o Brasil precisa se preparar melhor para
iniciar a implementação da NDC em 2020. Com o atual ritmo insuficiente de desembol-
so do Programa ABC, associado à falta de monitoramento da mitigação de GEE pelos
investimentos já feitos, mesmo por outras linhas de crédito, algumas lições podem ser
tomadas para que se estruture a implementação da NDC de forma efetiva. Juntamente
com os estudos citados no item anterior, algumas ações podem ser consideradas:

• A aproximação com o agricultor, com o fortalecimento da assistência técnica sen-


do o ponto mais importante, por meio de disseminação, capacitação e disponibilida-
de de técnicos para dimensionamento e implementação de práticas agropecuárias
ABC e até mesmo a troca de experiências entre os produtores rurais. Atualmente,
a inexistência de um sistema de assistência técnica estruturado e operante para os
pequenos e médios produtores limita o sucesso do plano, o que acaba promovendo
indiretamente a utilização de práticas danosas ao meio-ambiente (Reis et al., 2017).

• Redução das taxas de juros, para fortalecer o apelo econômico do plano frente as
demais linhas de financiamento.

• Reavaliação das áreas consideradas prioritárias para recuperação de pasta-


gens: muitas localidades estão praticamente bloqueadas para tomar crédito devido
ao alto risco de endividamento, pois carecem de infraestrutura de oferta de insu-
mos agropecuários e escoamento e processamento da produção, os quais ainda
estão associados a fatores climáticos mais sensíveis (Observatório ABC, 2017a).

• Inclusão de uma avaliação de risco na tomada de crédito para facilitar a aná-


lise de melhorias no projeto ABC e adequá-lo, por exemplo, a seguros específicos
e dando subsídios para os planos de ações em zonas de maior risco, proteção aos
agentes financeiros e, consequente, queda nos juros do programa.

• Implantação e sistema de monitoramento do plano. Hoje não se sabe quanto


do crédito tomado foi realmente utilizado para práticas ABC e se as mesmas têm
surtido o efeito desejado. O monitoramento é fundamental para dimensionar os
recursos necessários para cumprimento de metas e direcioná-los a áreas prioritá-

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EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
2. TRAJETÓRIA, METAS E
COMPROMISSOS DE REDUÇÃO
DE EMISSÕES

rias. Assim, o monitoramento é a inteligência do programa. Isso possibilitaria


englobar a agropecuária nacional sob um escopo ABC, trazer credibilidade para as
políticas nacionais e eventualmente abrir novos mercados para esses produtores e
produtos ABC. Dessa forma, a implementação da Plataforma Multi-institucional de
Monitoramento das Reduções de Emissões de Gases de Efeito Estufa, finalmente
implementada no começo de 2018 pelo governo federal, representa um avanço.
Espera-se que até o final deste ano o país possa garantir, contabilizar e comprovar
o potencial de redução de emissões, bem como as metas assumidas no Plano ABC
– e corrigir erros e distorções desse programa do período 2010-2018, bem como
apresentar estratégias de MRV (Monitoramento, Reporte e Verificação), de forma a
assegurar a integridade das reduções, do atingimento das metas e possibilitar futu-
ras verificações internacionais.

• Uma maior apropriação do tema pelo governo federal poderia melhorar aspec-
tos de governança no sentido de valorizar o desenvolvimento de uma agropecuária
ABC. A redução do valor disponibilizado para crédito ao longo dos anos e a falta
de monitoramento dos impactos são fortes indicativos de falta de interesse do go-
verno federal com relação aos temas climáticos. O maior interesse do governo por
esse tipo de agropecuária facilitaria o engajamento do sistema produtivo junto aos
bancos e a estruturação de mercados orientados a produtos e produtores ABC.

Mostrar proposta de valor ao plano ABC é o grande e atual desafio do programa, já


que o nível de adesão está baixo e o monitoramento inexistente. Hoje a decisão de
aderir ao plano é meramente feita por fatores econômicos, e não pelo seu impacto
positivo ao meio ambiente e à produção. Caso este apelo ao plano ABC seja feito,
portas serão abertas à NDC.

2.4.3 O real potencial da NDC Brasileira para o setor de Agropecuária

Apesar de a NDC brasileira ser relevante no setor de Agropecuária, existem aspectos


estruturais dela que podem ser melhorados para facilitar que toda sua potencialidade
de produção e mitigação das emissões de GEE seja explorada.

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EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
2. TRAJETÓRIA, METAS E
COMPROMISSOS DE REDUÇÃO
DE EMISSÕES

Em 2016 a equipe do SEEG fez o exercício de avaliar se as ações propostas na NDC – re-
cuperação de 15 milhões de ha de pastagens degradadas e expansão de 5 milhões de
ha de sistemas de produção integrados – poderiam levar as emissões aos patamares
sugeridos em 2030 para o setor.

Apesar de algumas divergências, devido ao baixo nível de esclarecimento do cálculo


das projeções feitas pelo governo (Tabela 4; Anexo 2), os resultados desse exercício
indicam que, com a implantação das metas da NDC para o setor agropecuário, torna-se
possível alcançar a meta assumida na NDC a partir das ações propostas em um contex-
to de produção agropecuária projetado pelo MAPA para as próximas décadas.

Contudo, a proposta de NDC do Observatório do Clima, publicada em junho de 2015,


aponta que o país tem condições de chegar em 2030 emitindo 1.000 MtCO2e, limitando
a contribuição agropecuária a 270 MtCO2e. Essa proposta apresenta emissões de GEE
menores que a meta do governo para esse setor em 2030 por incluir estratégias adi-
cionais a NDC nacional. Para o Imaflora e o Observatório do Clima, além das ações de
recuperar pastagens e expandir o uso de sistemas integrados, é possível utilizar toda
área excedente de pastagens degradadas para expansão agropecuária, eliminando as-
sim as emissões por solos degradados em toda extensão do território brasileiro (tabela
6 - mais detalhes são encontrados no Anexo 3).

Assim, os resultados dessa proposta sugerem que a NDC brasileira pode ser mais ambi-
ciosa para o setor agropecuário. Com planejamento do uso do solo que vise à utilização
das áreas de pastagem degradadas para expansão agrícola e intensificação sustentável
da pecuária, pode-se atender à demanda por produtos agropecuários e, ao mesmo
tempo, reduzir aproximadamente 50% das emissões do setor em 2030 em relação a
2005, sem a necessidade de novos desmatamentos.

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EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
2. TRAJETÓRIA, METAS E
COMPROMISSOS DE REDUÇÃO
DE EMISSÕES

Tabela 6. Estimativa das emissões de GEE para o setor de Agropecuária em 2030,


incluindo estimativas de emissão e remoção dos solos agropecuários, utilizando
valores GWP AR5 (IPCC, 2013)

Emissões de GEE Emissões de GEE Sequestro de Carbono


em 2030 em 2030 pelo solo no Solo em 2030
fermentação entérica
= 370 Mt CO2e pastagens Agricultura de Baixas
Emissões
Líquidas manejo de dejetos degradadas Emissões e Alto Sequestro
do Setor = 30 Mt CO2e = zero
Agropecuário = queima de resíduos + e - de C: pastagens melhoradas,
sistemas integrados
em 2030 = 10 Mt CO2e áreas agrícolas sob de produção, florestas
(NDC) cultivo de arroz sistemas de plantio plantadas e agricultura
= 10 Mt CO2e convencional utilizando sistema plantio
solos agrícolas (~25 mi ha) direto (~110 mi ha)
= 160 Mt CO2e = 40 Mt CO2e =350 Mt CO2e

270 Mt CO2e 580 Mt CO2e 40 Mt CO2e 350 Mt CO2e

§Projeções para 2030 baseadas pela correlação entre os dados de produção e área agrícola publicadas
no SIDRA-IBGE com as projeções de produção agropecuária 2015/25 feitas pelo MAPA (2015) aplicadas
a década de 2020/30;

* Fatores de emissão de GEE deduzidos das emissões publicadas no 3o Inventário Nacional (MCTI, 2016a)
dividindo-se o dado de atividade pela emissão de GEE total correspondente e, ainda, convertidos para
GWP-AR5 (IPCC, 2014);

** Fatores de sequestro de carbono no solo de pastagens bem manejadas, sistemas integrados de pro-
dução, solos de florestas plantadas, sistemas de plantio convencional (baseados na aração e grada-
gem do solo) e sistema plantio direto foram baseados em Bustamante et al.(2006), Carvalho et al.
(2010), Lima et al. (2006), Costa Junior et al. (2013) e Bayer et al. (2006), respectivamente.§§Estimativas
feitas com consultas a especialistas.

60
EMISSÕES DO SETOR
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COMPROMISSOS DE REDUÇÃO
DE EMISSÕES

Potencial de aquecimento global (GWP)

O Potencial de Aquecimento Global (Global Warming Potential em inglês ou


GWP) é uma estimativa que uniformiza a contribuição dos diferentes gases de
efeito estufa (GEE) em relação ao volume de CO2. Essa estimativa é necessá-
ria uma vez que diferentes GEE têm diferentes potenciais de aquecer a Terra
quando na atmosfera.

Potencial de Aquecimento Global (GWP)

Relatório do IPCC (Assessment Reports)


Gas
AR2 AR4 AR5
CO2 1 1 1
CH4 21 25 28
N2O 310 298 265

O IPCC determina os valores GWP a serem utilizados e os atualiza de acordo


com o avanço das pesquisas científicas nessa área. Até o momento três dife-
rentes valores GWP já foram publicados nos relatórios de avaliação (Assess-
ment Report) do IPCC: AR2, AR4 e AR5 (IPCC, 1995; 2007; 2013).

A tendência é que os valores mais recentes sejam utilizados globalmente. Contu-


do, o 3º Inventário Nacional Brasileiro ainda foi publicado utilizando os valores
GWP reportados no AR2. O SEEG disponibiliza seus resultados utilizando o AR2 e
o AR5. Enquanto a NDC foi construída utilizando os valores GWP do AR5. Assim,
antes de serem comparados com segurança, é preciso checar se estudos e pro-
jeções de emissão de GEE assumem as mesmas unidades e conversões.

61
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
2. TRAJETÓRIA, METAS E
COMPROMISSOS DE REDUÇÃO
DE EMISSÕES

Desenvolvimento do mercado de carbono

O mercado de carbono surgiu durante a ECO-92, no Rio de Janeiro, mas sua


aderência foi potencializada após a adoção do Protocolo de Kyoto, em 1997,
devido ao Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que prevê a redução
certificada das emissões, gerando a créditos de carbono mediante um Cer-
tificado de Emissões Reduzidas (CER). Conceitualmente, 1 tonelada de CO2e
não emitida ou retirada da atmosfera equivale a um crédito de carbono, que
poderá ser comercializado em todo mercado internacional com os países que
possuem metas de redução a cumprir.

No Brasil, em teoria, a compra e venda desses créditos seriam realizadas por


meio de leilões promovidos pela BM&F-BOVESPA, e os mecanismos seriam si-
milares a uma ação financeira. Países como os EUA possuem diversas institui-
ções que se propuseram à compra e à venda, o que aumenta o mercado, que
não fica limitado à bolsa de valores. Desde Kyoto, esse mercado está ganhan-
do corpo, mas ainda não está completamente consolidado. É necessário in-
centivo de políticas públicas e criação de um sistema regulatório que contem-
ple os mais de 190 países envolvidos. O Brasil ocupa a terceira posição entre
os países que participam desse mercado, com cerca de 5% do total mundial e
268 projetos (Portal Brasil, 2014). É um desempenho baixo para o potencial do
país, que se deve à falta de estímulo por meio de benefícios para quem produz
e consome produtos de baixo carbono e também à falta de taxas e monito-
ramento para aqueles que não cumprem suas metas de redução. Ademais,
este mercado ainda está sendo implantado, pois não possui um mecanismo
unificado de precificação das emissões.

Entretanto, desde 2017 a precificação vem sendo estudada no país, para que
possa ser implementada entre 2020 e 2025. Até lá muitas oportunidades de
vendas de créditos serão desperdiçadas pela falta de modelo de mercado. O
Banco Mundial, juntamente com o governo federal, em um projeto denomi-
nado PMR Brasil (Parternship for Market Readiness), tem como intuito por
meio de discussões implementar a Política Nacional sobre Mudança do Clima
(PNMC) no pós-2020, e encontrar mecanismo para esta precificação sobre a
economia, a sociedade e o meio ambiente, ainda em 2017.

62
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
2. TRAJETÓRIA, METAS E
COMPROMISSOS DE REDUÇÃO
DE EMISSÕES

Energia, agricultura e emissões: sinergias e oportunidades

A agricultura possui um papel importante para a produção de energia reno-


vável e de baixa emissão de GEE na matriz energética brasileira, tanto para
combustíveis como para eletricidade (mais informações no relatório SEEG do
setor de energia). A contribuição de biocombustíveis se dá na produção de bio-
diesel, álcool hidratado (etanol) e álcool anidro (com teor entre 25% e 27% na
gasolina), substituindo integral ou parcialmente o uso de combustíveis fósseis,
que são altamente emissores de GEE.

Como já discutido nesse relatório, os resíduos da produção de animais tam-


bém podem ser convertidos em eletricidade pelo uso de biodigestores, mitigan-
do as emissões de GEE. O mesmo pode ser feito com a conversão de biomassa
para a produção de eletricidade. O principal exemplo é a queima do bagaço
da cana-de-açúcar em caldeiras para a produção de eletricidade. Segundo a
UNICA (2015), de 2010 a 2014 a energia gerada a partir da biomassa da cana-
-de-açúcar dobrou em volume, tendo chegado a 20.815 GWh, o equivalente a
4% da energia produzida no país no ano de 2014 e 52% da energia a ser pro-
duzida pela Usina de Belo Monte a partir de 2019. A produção de 2014 teria
resultado na economia de 14% da água dos reservatórios da região Sudeste.
Ainda segundo a UNICA, o potencial de produção de eletricidade somente pelo
setor canavieiro pode chegar a 20 mil MW médios até 2023, o que correspon-
deria à energia produzida por duas Usinas de Itaipu (Itaipu Binacional, 2009).

Atualmente as políticas agrícola, energética, climática e ambiental não se in-


tegram, nem se complementam. O país deixa, assim, de aproveitar um movi-
mento virtuoso que resulte em uma sinergia agricultura-energia-água-emis-
sões que pode ser altamente positiva para todos os setores. O Brasil é um
dos poucos países com a possibilidade de aumentar a produção energética e
agropecuária e ainda reduzir as emissões de GEE e não tem articulado políti-
cas que aproveitem esta oportunidade.

63
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
3. O FINANCIAMENTO
AGRÍCOLA NO BRASIL E SEU IMPACTO
NO AQUECIMENTO GLOBAL

Apesar de o Programa ABC ser uma importante linha de crédito para a promoção de
uma agricultura de baixo carbono, não podemos esquecer que o mesmo teve queda
de investimento em 30% em 2017/2018 em relação à safra anterior e tem representado
1,1% dos recursos investidos na agricultura (Observatório do Plano ABC, 2017c).

Dessa maneira, avaliar as políticas e os recursos investidos na agropecuária e sua in-


fluência para a promoção de uma economia agropecuária ABC é fundamental – pois
as mesmas podem tanto auxiliar a acelerar a implementação de tal economia e atin-
gimento de metas climáticas, como estar indo desastrosamente na direção contrária.

3.1 O PLANO SAFRA E O VOLUME DE CRÉDITO


DESTINADO AO PROGRAMA ABC

O Plano Safra (Plano Agrícola e Pecuário) é desenvolvido pelo MAPA e é composto por
políticas de apoio financeiro e técnico ao setor agropecuário brasileiro. É um instru-
mento que assegura recursos para o custeio da produção, comercialização e investi-
mento agropecuário. Todos os anos, por volta dos meses de abril/junho é lançado o
Plano do ano agrícola seguinte.

O financiamento total proposto para a safra 2017/2018 é de R$ 200,25 bilhões, o que


corresponde um aumento de 8% em relação à safra 2016/2017. A tabela 7 apresenta
os recursos do Plano Safra distribuídos entre as diferentes linhas de crédito disponi-
bilizadas aos produtores rurais. Dentre essas linhas nota-se que apenas o Programa
ABC, comentado acima, se refere a questões de mitigação de emissões GEE e de
adaptação às mudanças climáticas. Mesmo com tal relevância, esse programa cor-
responde a apenas 1,1% do valor de todo o financiamento do setor agropecuário (R$
2,13 bilhões) (Figura 24). Apesar da queda no volume de recurso destinado à agricul-
tura de baixo carbono em relação ao ano anterior, suas taxas de juros continuaram
altas: 7,5% neste último plano.

64
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
3. O FINANCIAMENTO AGRÍCOLA
NO BRASIL E SEU IMPACTO NO
AQUECIMENTO GLOBAL

Tabela 7. Plano Safra 2017/2018: recursos programados para custeio e investimento

Recursos Limite de Crédito / Prazo Carência Taxa de


Programa Programados Beneficiário Máximo (Anos) Juros
(R$ Bilhões) (R$ Milhões) (Anos) (%)

Custeio
Pronamp 18,0 1,5 2 Não tem 7,5
Estocagem de álcool 2,0 Não tem 270 dias Não tem TJLP + 3,7
Outros 130,25
Investimento
Moderfrota 9,2 90% 7 Não tem 7,5 e 10,5
ABC 2,13 2,2 12 8 7,5
Moderagro 0,64 0,880 10 3 7,5
Moderinfra 0,6 2,2 10 3 7,5
PCA 1,6 Livre 15 3 6,5
Inovagro 1,26 1,1 10 3 6,5
Pronamp 3,71 0,430 8 3 7,5
Prodecoop 1,0 150 10 3 8,5
Prodecoop Aquis.Ativos 0,7 150 10 3 TJLP+3,7%
Procap-Agro 2,2 65 2 6 meses TJLP+3,7%
Fundos Constitucionais 5,884 Não tem 12 3 Taxas por porte
Bancos Coop. 0,6 0,43 12 3 8,5
(Bancoob e Sicred)
Prorenova Rural 1,5 Não tem 6 18 meses TJLP+3,7%
BNDES - Agro 2,0 Não tem Não tem Não tem TJLP+3,7%
Outros juros livres 5,125 Não tem Não tem Não tem Não tem
Demais recursos* 11,85
Total 200,25

* Incluindo subvenção ao prêmio do seguro rural e apoio à comercialização.

Fonte: MAPA, 2017b.

65
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
3. O FINANCIAMENTO AGRÍCOLA
NO BRASIL E SEU IMPACTO NO
AQUECIMENTO GLOBAL

Figura 24: Participação do Programa ABC no total dos recursos destinados


ao financiamento da agropecuária brasileira para a Safra 2017/2018
(Plano Safra – 200,25 R$ bilhões)

Fonte: MAPA, 2017b

3.2 PROGRAMA NACIONAL DE FORTALECIMENTO


DA AGRICULTURA FAMILIAR - PRONAF

Anualmente, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) lança o Programa Nacio-


nal de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), com vigência de julho a junho
do ano seguinte. Os recursos são liberados pelo MDA e, em 14 anos, o crédito ofertado
por esse plano cresceu mais de dez vezes, de R$ 2,3 bilhões (Safra 2002/2003) para R$
26 bilhões (Safra 2016/2017). Nesse período, a renda da agricultura familiar cresceu
mais de 50%, o que permitiu que cerca de 4 milhões de pessoas ascendessem para a
classe média (Ziger, 2013).

Do montante liberado na safra 2016/2017, R$ 13 bilhões, ou 50%, já haviam sido finan-


ciados até dezembro 2016, número 4,5 % maior que no mesmo período da safra an-
terior. Desses recursos, mais de R$ 5 bilhões foram aplicados na produção no campo,
que compreende a compra de insumos e fertilizantes, produção de mudas, aquisição

66
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
3. O FINANCIAMENTO AGRÍCOLA
NO BRASIL E SEU IMPACTO NO
AQUECIMENTO GLOBAL

de sementes e beneficiamento e/ou industrialização do produto gerado pelo financia-


mento contratado. O restante foi para operações de investimento, como aquisição de
maquinário, sistema de irrigação e recuperação de pastagens.

Assim como outras linhas de crédito contempladas no Plano Safra, é evidente que as
ações do Pronaf poderiam ser somadas aos esforços de redução das emissões de GEE
ou de sequestro de carbono. Contudo, não há menção nesses planos de assessora-
mento da agricultura familiar à implementação de tais práticas, principalmente no que
se refere à utilização de fertilizantes nitrogenados, recuperação de pastagens e manejo
conservacionista do solo.

O Pronaf não inclui redução de emissões em suas metas

O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar tem o objetivo


de aumentar a renda do agricultor familiar, promover inovação e tecnologia e
estimular à produção de alimentos. Porém, o plano não demostra esforços re-
lacionados a ações de mitigação de emissões de GEE ou de processos de adap-
tação dos produtores familiares às mudanças climáticas, deixando assim uma
lacuna de oportunidade de mobilizar grande fatia da sociedade na transição
para uma nova agricultura de baixas emissões. O Pronaf-Floresta possui uma
sinergia com a agricultura de baixo carbono, no entanto, os impactos não são
computados nos resultados do ABC.

Segundo o Censo Agropecuário de 2006, o Brasil possui mais de 4,5 milhões


de propriedades familiares, o que representa 84% dos estabelecimentos rurais
do país, ocupando cerca de 105 milhões de hectares. Esses produtores são
responsáveis por 33% do Produto Interno Bruto (PIB) da agropecuária e em-
pregam 74% da mão de obra no campo.

67
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
3. O FINANCIAMENTO AGRÍCOLA
NO BRASIL E SEU IMPACTO NO
AQUECIMENTO GLOBAL

3.3 PLANO MAIS PECUÁRIA

O MAPA lançou em fevereiro de 2014 o Plano Mais Pecuária com o objetivo de aumen-
tar de forma sustentável a produtividade e a competitividade da pecuária bovina de
leite e de corte (MAPA, 2014). O plano está sendo executado por meio de dois progra-
mas: o Mais Leite e o Mais Carne, sendo que cada programa está organizado em quatro
eixos: melhoramento genético, ampliação de mercados, incorporação de tecnologias e
segurança e qualidade dos produtos. A proposta tem prazo de até dez anos, portanto,
suas metas deverão ser atingidas até 2024. A principal delas é aumentar a produção
brasileira de leite em 40% nos próximos dez anos e a produção e a produtividade de
carne em 40% e 100% respectivamente. De acordo com a proposta, a taxa de lotação
passaria dos atuais 1,3 animais por hectare para 2,6 animais por hectare sem a neces-
sidade de expansão da fronteira agrícola. intensificação poderá liberar 46,2 milhões de
hectares para outras atividades, segundo o MAPA.

O Plano Mais Pecuária não menciona metas ou objetivos explicitamente relacionados


à redução de emissões de GEE, porém, a proposta de intensificação da produção ten-
derá a um aumento de produtividade e possivelmente a redução de emissões de GEE
por kg de carne produzido por hectare. O aumento da produção afetará diretamente o
aumento de emissões de GEE, porém se a eficiência do rebanho aumentar, as emissões
por animal/hectare ou por quilo de carne ou leite tenderão a diminuir. Assim, seria
importante que as propriedades contempladas pelo Mais Carne fossem assistidas com
sistemas de monitoramento das emissões de GEE.

3.4 PAGAMENTOS POR SERVIÇOS AMBIENTAIS

Outra política que pode estimular práticas de mitigação das emissões de GEE pelo se-
tor agropecuário são os Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA). Os PSA são meca-
nismos voluntários que atribuem valor e remuneram quem gera benefícios ambientais
adicionais. Esses benefícios podem estar relacionados, por exemplo, a sistemas que,

68
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
3. O FINANCIAMENTO AGRÍCOLA
NO BRASIL E SEU IMPACTO NO
AQUECIMENTO GLOBAL

além de produzir alimento ou materiais de consumo, reduzam suas emissões de GEE,


promovam a conservação do solo, da água e/ou da biodiversidade, dando escala à sus-
tentabilidade em paisagens antropizadas.

A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO-O-


NU), em um relatório publicado em 2015, indica que o PSA é uma das princi-
pais maneiras de evitar a perda da vegetação nativa pela expansão da agro-
pecuária. Nesta mesma lógica, o sequestro de carbono no solo e a redução
das emissões de GEE são serviços ambientais com grande potencial a ser
desenvolvido no Brasil.

Todas as propostas de PSA vinculadas ao recebimento de recursos públicos no Brasil


são avaliadas pelo governo. Assim, as iniciativas privadas que não se enquadram nos
modelos públicos preestabelecidos não são elegíveis para o PSA. Segundo a publica-
ção “Sistemas Estaduais de Pagamento por Serviços Ambientais – Relatórios Estaduais”
(Instituto O Direito por um Planeta Verde, 2014), seis Estados brasileiros já possuíam
legislação sobre PSA aprovada no ano de 2010 e que, desde então, vem trabalhando
em suas implementações, são eles: Amazonas, Acre, São Paulo, Espírito Santo, Minas
Gerais e Paraná.

As políticas de PSA desenvolvidas por esses Estados tem focado, de maneira geral, na
conservação e recuperação da cobertura florestal e dos recursos hídricos, principal-
mente em Áreas de Preservação Permanente (APPs). Essa preferência é explicada pelo
fato de a recomposição da APP ser exigência legal ao mesmo tempo em que promo-
ve inúmeros benefícios para a sociedade, dentre os quais destacam-se: a preservação
dos recursos hídricos, da paisagem, da estabilidade geológica e da biodiversidade, a
reconstituição de habitat para a vida selvagem, a facilitação do fluxo gênico de fauna e
flora, a proteção do solo e o sequestro de carbono.

No Estado de São Paulo, por exemplo, o Programa Remanescentes Florestais contem-


pla atividades específicas, como: sistemas agroflorestais e silvopastoris e processos
que contribuem para a redução de assoreamento de rios e erosão de solos.

A nível nacional, a Agência Nacional de Águas (ANA), vinculada ao Ministério do Meio


Ambiente, tem desde 2014 apoiado o Programa Produtor de Água (PPA). Esse progra-
ma consiste basicamente na apresentação de propostas para a proteção de manan-

69
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
3. O FINANCIAMENTO AGRÍCOLA
NO BRASIL E SEU IMPACTO NO
AQUECIMENTO GLOBAL

ciais  e a implantação de PSAs em todo o país. Até 2015, 38 projetos foram aprova-
dos pelo programa e veem sendo executados desde então, abrangendo uma área de
400 mil hectares, dos quais mais de 45 mil hectares já foram recuperados. Estima-se
que 1,2 mil produtores são remunerados financeiramente pela geração de serviços
ambientais pelo Programa Produtor de Águas, impactando positivamente a vida de 35
milhões de pessoas (ANA, 2015).

Código Florestal, incentivos econômicos e emissões de GEE

O novo Código Florestal, publicado em maio de 2012 (Lei Federal 12.651), trata
explicitamente de incentivos para o balanço de carbono na agropecuária. O
Artigo 41 define que o Poder Executivo Federal deveria instituir um “programa
de apoio e incentivo à conservação do meio ambiente, bem como para adoção
de tecnologias e boas práticas que conciliem a produtividade agropecuária e
florestal, com redução dos impactos ambientais, como forma de promoção
do desenvolvimento ecologicamente sustentável [...]”. O Inciso I desse Artigo
especifica o “pagamento ou incentivo a serviços ambientais como retribuição,
monetária ou não, às atividades de conservação e melhoria dos ecossistemas
e que gerem serviços ambientais”; incluindo o “sequestro, a conservação, a
manutenção e o aumento do estoque e a diminuição do fluxo de carbono”;
entre outros serviços ambientais possíveis de reconhecimento pela Lei.

Entretanto, até o momento os incentivos econômicos não foram definidos, nem


regulamentados pelo governo federal e pelos governos estaduais, uma lacuna
muito importante para a implementação do Código Florestal, que continua con-
tando somente com a abordagem de comando e controle para o seu cumpri-
mento. Os incentivos econômicos são fundamentais para os avanços no Código
Florestal, que se inicia pelo registro de todos os imóveis rurais do país no CAR (Ca-
dastro Ambiental Rural) até dezembro de 2018 (o prazo inicial de maio de 2014
foi prorrogado por quatro vezes consecutivas), devendo ser seguido da adesão
das propriedades irregulares ao PRA (Programa de Regularização Ambiental).

70
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
3. O FINANCIAMENTO AGRÍCOLA
NO BRASIL E SEU IMPACTO NO
AQUECIMENTO GLOBAL

Somente após a implementação dos PRAs é que o Código Florestal irá de fato
promover o sequestro de carbono por ações de restauração florestal, apre-
sentando consequências diretas para o balanço de emissões de uso da terra
e da agropecuária. Adicionalmente, a proteção da vegetação nativa existente
em áreas legalmente protegidas pelo Código Florestal (APPs, Reservas Legais,
Unidades de Conservação, Terras Indígenas etc.) também possui consequên-
cias importantes para a redução das emissões nacionais. Portanto, o cumpri-
mento do Código Florestal pode ser considerado uma ação fundamental para
o atendimento das metas brasileiras de redução das emissões de GEE, sendo
que o desenvolvimento e a regulamentação de incentivos econômicos consti-
tuem-se em peças-chave nesse processo.

Contudo, pouco enfoque ainda tem sido dado à redução das emissões na produção
agropecuária especificamente. Assim, devido ao enorme potencial de redução de GEE
pela agropecuária brasileira (Tabela 2), o PSA pode ser um importante mecanismo de
estímulo à adoção de práticas que reduzam as emissões desse setor, conjuntamente
a conservação do solo, da água e de áreas de vegetação nativa. Para isso, é evidente
que projetos de PSA ligados à produção agropecuária deveriam ter maior inserção nas
pautas de gestão estaduais e ser conectados aos programas federais de financiamento
agropecuário, como o ABC.

Produzindo água e removendo carbono

Os projetos aprovados pelo Programa Produtor de Água abrangem uma área


de 400 mil hectares de mananciais em todo o país, dos quais mais de 10% já
foram recuperados (ANA, 2015). Utilizando a ferramenta EX-ACT da FAO (Ber-
noux et al., 2010), o Imaflora estima que essa área recuperada (45 milhões
de ha) sequestre por volta de 3 milhões de toneladas de CO2e até 2020, o que
representa aproximadamente 2% da meta do Plano ABC.

71
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
3. O FINANCIAMENTO AGRÍCOLA
NO BRASIL E SEU IMPACTO NO
AQUECIMENTO GLOBAL

Entretanto, caso toda a área abrangida por esse programa fosse recuperada
(400.000 ha), o sequestro de carbono seria de aproximadamente 30 milhões
de toneladas de CO2e até 2020, ou seja, aproximadamente 3% da atual meta
brasileira de redução das emissões de GEE pela PNMC ( cerca de 1,2 bilhão
de toneladas de CO2e até 2020). Dessa forma, fica evidente que esse projeto
tem gerado uma significativa situação de ganha-ganha entre sociedade e meio
ambiente, produzindo água e removendo carbono da atmosfera e, portanto,
deve não somente ser apoiado, mas replicado e expandido nacionalmente.

3.5 PLANO NACIONAL DE DEFESA AGROPECUÁRIA


(PDA) 2015-2020

Em junho de 2015 o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento entregou à


Presidência o Plano de Defesa Agropecuária (PDA) para o período de 2015-2020.

O PDA é o plano que define as estratégias para evitar e combater pragas e doenças nas
lavouras e nos rebanhos brasileiros e tem por objetivo promover o desenvolvimento
sustentável do agronegócio, no sentido de garantir a preservação da vida e da saúde
da população, além de promover a segurança alimentar e o acesso a novos mercados.

De acordo com o MAPA, o PDA fortalecerá ações conjuntas em nível federal, estadual e
municipal, focando na atualização de normas sanitárias, adaptação de procedimentos
e capacitação de técnicos para tomarem decisões na área sanitária.

Para isso o PDA apresenta seis pontos estruturantes:

1.     Modernização e desburocratização: informatizar e simplificar processos a fim de


agilizar a tomada de decisões e reduzir em 70% o tempo entre a solicitação de um
registro e sua análise final.

72
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
3. O FINANCIAMENTO AGRÍCOLA
NO BRASIL E SEU IMPACTO NO
AQUECIMENTO GLOBAL

2.     Marco regulatório: atualizar a legislação vigente e padronizar diretrizes que atual-
mente estão contrapostas nas diversas esferas federativas. Criar condições neces-
sárias para a instituição de um Código de Defesa Agropecuário.

3.     Suporte estratégico: com apoio das universidades, desenvolver uma técnica de
análise de risco para pragas e doenças. Assim, reduzir em 30% os custos da defesa
agropecuária.

4.     Sustentabilidade econômica: levantar o custo da defesa agropecuária a fim de proje-


tar os valores reais necessários para a área. Disponibilizar recursos para convênios
com as 27 unidades da federação e regulamentar o Fundo Federal Agropecuário.

5.     Metas de qualidade: modernizar o parque de equipamentos tecnológicos e am-


pliar programas de controle e erradicação de pragas e doenças, como febre aftosa,
influenza aviária, peste suína clássica, mosca das frutas, brucelose e tuberculose,
entre outras.

6.     Avaliação e monitoramento do PDA: secretarias estaduais e municipais, órgãos


da agricultura e o Mapa acompanharão o cumprimento das cinco metas. Para
isso, serão criados comitês regionais e canais de comunicação com Fiscais de
Defesa Agropecuária.

O PDA sem dúvida apresentará grande capilaridade nacional, uma vez que estrutura os
eixos federal, estadual e municipal. Contudo, nenhum enfoque tem sido dado à mitiga-
ção das emissões de GEE na produção agropecuária, principalmente no que se refere
à produção pecuária.

Esta estrutura que está sendo desenvolvida no PDA para ampliar as práticas sanitárias
e treinar os técnicos extensionistas poderia ser aproveitada para disseminar práticas
agropecuárias de baixas emissões e alto sequestro de carbono e assim ajudar nos es-
forços para o cumprimento das metas climáticas e no combate ao aquecimento global.

73
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
4. RECOMENDAÇÕES

4.1 RECOMENDAÇÕES PARA QUE OS PLANOS


E AS POLÍTICAS SE TORNEM MAIS EFETIVOS
NA REDUÇÃO DAS EMISSÕES PELA
AGROPECUÁRIA BRASILEIRA
A Tabela 8 sintetiza as principais políticas e linhas de crédito agropecuário existentes
atualmente no Brasil. Dessas, nota-se que nenhuma além do Programa ABC traz men-
ção a práticas que reduzam as emissões de GEE e aumentem estoques de carbono
nos sistemas agrícolas, além de não possuírem meios de monitoramento de impactos
ambientais. Essa análise reforça a importância da implantação do sistema de monito-
ramento das emissões de GEE para a agropecuária brasileira, independentemente de
linha de crédito ou política a ser implementada.

Sem monitoramento do recurso investido, pouco se pode fazer para fortalecer e pro-
mover a agropecuária, produtores e produtos ABC, abrir novos mercados e reportar e
tirar proveito de compromissos globais.

74
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
Tabela 8. Resumo e dos principais planos e políticas para a agropecuária nacional, suas
relações e recomendações frente a iniciativas ligadas as mudanças climáticas.
4. RECOMENDAÇÕES

75
5. CONSIDERAÇÕES
FINAIS

Pela análise dos resultados do SEEG é possível verificar que o Brasil é atualmente um
dos principais emissores de GEE do mundo, ocupando a terceira posição quando se
trata das emissões pelo setor da agropecuária.

No Brasil, o setor agropecuário ocupa a segunda colocação entre as fontes de emis-


sões, atrás do setor de Mudança de Uso da Terra e Floresta. Entretanto, essas emis-
sões têm crescido significativamente nos últimos 46 anos, passando de 190 MtCO2e em
1970 para 499 MtCO2e em 2016, um aumento de aproximadamente 165%.

As principais fontes de emissão pela agropecuária brasileira são a fermentação enté-


rica (majoritariamente pelos bovinos de corte – aproximadamente 70% das emissões
totais), seguida dos solos agrícolas, do cultivo do arroz irrigado e da queima de resí-
duos agrícolas.

Geograficamente, essas emissões eram concentradas nos Estados do Sudeste e Sul do


país, entretanto, foram avançando rumo a Amazônia à medida que a fronteira agrícola
migra nessa direção. Esse fato pode ser evidenciado pelo perfil das emissões estaduais:
no começo dos anos 1970, o Rio Grande do Sul era o principal emissor agropecuário;
atualmente o Mato Grosso ocupa essa posição, emitindo aproximadamente 12% do
total. E Estados como Pará e Rondônia, que antes ocupavam as últimas posições, hoje
contribuem conjuntamente com mais de 10% das emissões nacionais.

Entre 2008 e 2010 o governo brasileiro estabeleceu políticas nacionais relevantes para
tratar a questão climática nacional, como o Plano Clima e a Política Nacional de Mudan-
ças Climáticas. Essas ações políticas culminaram na elaboração de metas de redução a
serem cumpridas até 2020 e de planos setoriais como meios para atingir esse objetivo.

No caso da agropecuária foi elaborado o Plano ABC, que conta com práticas de mane-
jo que vão desde a recuperação de pastagem, passando pelo uso de inoculantes em
culturas agrícolas para fixar nitrogênio no solo, integração lavoura, pecuária e floresta,
florestas plantadas e a adoção de sistema de plantio direto para cultivo do solo e de
tecnologias para tratamento de dejetos animais.

76
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
5. CONSIDERAÇÕES
FINAIS

O Plano ABC é apoiado pelo Programa ABC como meio de financiamento de suas prá-
ticas. Contudo, cerca de 1,1% do orçamento do Plano Safra 2017/2018 foi destinado ao
Programa ABC, dificultando o cumprimento das metas brasileiras de redução de emis-
sões. O programa também sofre com baixo conhecimento dos agentes bancários, alta
burocracia para obtenção do crédito e juros pouco atrativos. Estes fatores têm com-
prometido a aderência desse plano entre os produtores e sua adoção em larga escala.

Além disso, com o Acordo de Paris, o Brasil indicou que reduzirá suas emissões em 43%
em 2030, pelo fortalecimento do Plano ABC, dobrando a área de pastagens degradadas
a recuperar e expandindo as áreas de integração lavoura-pecuária-floresta.

Contudo, poucos esforços têm sido feitos para monitorar o efeito dos recursos inves-
tidos na redução das emissões nacionais de GEE, com lançamento do laboratório de
monitoramento apenas em abril de 2016, seis anos após o lançamento do plano.

Avançar na coordenação entre os setores produtivos e alinhar todas as políticas públicas


agropecuárias às metas de redução de emissões de GEE permitiriam que o Brasil não
apenas cumprisse os compromissos climáticos firmados, mas também incorporasse um
modelo de crescimento e gestão baseado em baixas emissões de gases de efeito estufa.

77
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
5. CONSIDERAÇÕES
FINAIS

O caminho para a agropecuária brasileira:


maior produção com menos emissões

Para atender à demanda por produtos agropecuários até 2030, estima-se


que o Brasil precisará aumentar sua produção ao redor de 30% (MAPA,
2015b). Com planejamento do uso do solo e a adoção de práticas de baixas
emissões e alto sequestro de carbono será possível mitigar 50% das emissões
do setor agropecuário nos próximos 15 anos sem a necessidade de novos
desmatamentos. Atualmente existem mais de 60 milhões de hectares de pas-
tagens degradadas que se utilizadas para expansão agrícola e intensificação
sustentável da pecuária, podem atender à demanda produtiva e ao mesmo
tempo reduzir as emissões. As recomendações para maior produção com
menos emissões são:

• A expansão agropecuária deve ocorrer em áreas de pastagens degradadas,


evitando a perda de carbono do solo e a conversão de ecossistemas naturais;

• As práticas de baixas emissões de carbono deverão ser adotadas em gran-


de escala, as medidas prioritárias são: a intensificação moderada da bovi-
nocultura de corte, a ampliação de sistemas de integração lavoura-pecuá-
ria-floresta, a adoção sistemas de plantio direto e o uso de cultivares que
realizam a fixação biológica do nitrogênio;

• É necessário que o Plano Safra e o Pronaf (Programa Nacional de Forta-


lecimento da Agricultura Familiar) adotem critérios de baixas emissões e
alto sequestro de carbono para que o impacto positivo da agropecuária na
mitigação das mudanças climáticas ganhe escala;

• Parcerias público-privadas devem fortalecer a extensão rural e a capaci-


tação de produtores para que as tecnologias de baixas emissões de GEE
cheguem ao campo.

78
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
6. LIMITAÇÕES E FUTURAS
MELHORIAS PARA AS
ESTIMATIVAS DO SEEG

O cálculo das emissões pela agropecuária, desenvolvido pelo SEEG, tem como base o
3º Inventário Nacional de Emissões e Remoções de GEE, o qual, por sua vez, é baseado
na metodologia do IPCC (IPCC, 1996;2000;2006). Para efetuar esse cálculo, necessita-se
basicamente de dois tipos de informação: dados de atividade (ex. área produzida e
número de cabeças de animais) e fatores de emissão (quantidade de GEE emitida pela
atividade agropecuária). Entretanto, como o SEEG utiliza apenas dados públicos para
efetuar sua estimativa, a ausência de algumas informações detalhadas no Inventário
Brasileiro e de alguns dados de atividade, certas estimativas foram relativamente difí-
ceis de serem replicadas. São elas:

• Emissões decorrentes do uso de fertilizantes nitrogenados, por Unidade da Fe-


deração, foram calculadas com base em dados da Associação Nacional para a Di-
fusão de Adubos (ANDA). Como esses dados não são públicos e os relatórios são
comercializados, eles foram obtidos na biblioteca da Escola Superior de Agricultura
Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP) e no site do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

• Emissões por solos sob cultivo orgânico ainda não levam em conta a área efetiva-
mente cultivada desses solos, assumindo-se um percentual fixo, não importando a
Unidade da Federação ou região onde esses solos estão localizados. Esses aspectos
podem estar levando superestimativas das emissões desse subsetor.

Recomendações para melhorar as informações:

• Apesar de o 3o Inventário já contar com fatores de emissão (FE) específicos para o


Brasil, necessita-se ampliar a o desenvolvimento de FE para os demais subsetores da
agropecuária como os relacionados às emissões pela fertilização nitrogenada, uma
vez que os fatores fornecidos pelo IPCC não são adequados às condições nacionais.
Como consequência, esses valores podem não estar resultando em estimativas pre-
cisas e atrasando a elaboração de meios capazes de reduzir essas emissões.

• Pesquisas deverão ser ampliadas para elaborar metodologias mais robustas para
que as práticas de baixo carbono possam ser consideradas na estimativa, como é o

79
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
6. LIMITAÇÕES E FUTURAS
MELHORIAS PARA AS
ESTIMATIVAS DO SEEG

caso da remoção de CO2 da atmosfera e acúmulo de carbono no solo causado pela


prática do sistema plantio direto e manejo de pastagens, ainda não contabilizado.

• Os relatórios de referência do Inventário Nacional devem ser disponibilizados de


forma integral e detalhados para facilitar a replicação da metodologia utilizada.

• Avaliar meios de colaboração entre a sociedade civil, o governo e as instituições


que possuem dados fundamentais para o cálculo das emissões do setor, tornando
assim a estimativa mais precisa e transparente.

80
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
7. REFERÊNCIAS

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89
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
8. ANEXOS

Anexo 1 – Emissões de GEE no Setor de Agropecuária 1970-2016 (MtCO2e)

Fonte de Emissão 1970 1980 1990 2000 2010 2015 2016

Cultivo do Arroz 10,9 14,8 12,1 12,5 13,0 13,4 12,8


Arroz 10,9 14,8 12,1 12,5 13,0 13,4 12,8
Fermentação Entérica 124,5 186,3 230,3 261,8 312,4 319,9 323,7
Asinino 0,4 0,4 0,4 0,3 0,3 0,2 0,2
Bubalino 0,2 0,8 2,2 1,7 1,8 2,1 2,1
Caprino 0,8 1,2 1,7 1,3 1,3 1,3 1,4
Equino 2,4 2,5 3,1 2,9 2,8 2,8 2,8
Gado de Corte 100,7 148,5 185,1 219,2 262,5 272,5 278,6
Gado de Leite 16,1 29,0 33,5 33,0 39,9 37,0 34,6
Muar 0,5 0,4 0,6 0,4 0,4 0,3 0,3
Ovino 2,5 2,6 2,8 2,1 2,4 2,6 2,6
Suínos 0,9 1,0 0,9 0,9 1,1 1,1 1,1
Manejo de Dejetos Animais 10,1 13,2 14,5 16,4 21,0 22,7 22,7
Asinino 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Aves 1,0 2,1 2,5 3,8 5,6 6,8 6,8
Bubalino 0,0 0,0 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1
Caprino 0,0 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1
Equino 0,3 0,3 0,3 0,3 0,3 0,3 0,3
Gado de Corte 2,6 3,8 4,8 5,6 6,6 6,8 7,0
Gado de Leite 0,6 1,1 1,3 1,2 1,6 1,5 1,4
Muar 0,1 0,1 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0
Ovino 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1
Suínos 5,3 5,6 5,1 5,1 6,6 6,9 6,9
Queima de Resíduos Agrícolas 1,1 2,2 3,7 3,7 6,5 5,3 5,3
Algodão 0,2 0,2 0,1 - - - -
Cana de Açúcar 0,9 2,0 3,6 3,7 6,5 5,3 5,3
Solos Agrícolas 43,0 65,6 77,0 90,2 119,4 129,6 134,9
Arroz 0,2 0,3 0,2 0,3 0,3 0,4 0,3
Asinino 0,7 0,6 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3
Aves 0,7 1,3 1,6 2,3 3,2 3,9 3,9
Bubalino 0,1 0,2 0,7 0,5 0,6 0,7 0,7
Cana de Açúcar 0,1 0,2 0,3 0,5 1,4 1,9 1,9
Caprino 0,6 0,9 1,3 1,0 1,0 1,0 1,1
Equino 2,3 2,4 2,9 2,8 2,6 2,7 2,7
Feijão 0,1 0,2 0,2 0,3 0,3 0,3 0,2
Fertilizantes Sintéticos 2,0 6,4 5,5 11,7 20,2 25,0 30,9
Gado de Corte 19,3 28,7 36,2 43,3 53,3 55,4 56,7
Gado de Leite 6,4 11,6 13,4 12,5 16,0 14,6 13,6
Mandioca 0,4 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7 0,6
Milho 0,5 1,0 0,9 1,4 2,4 3,7 2,8
Muar 0,8 0,8 1,0 0,7 0,6 0,6 0,6
Outras Culturas 0,4 0,4 0,4 0,5 0,8 1,0 1,0
Ovino 1,9 2,0 2,2 1,6 1,9 2,0 2,0
Soja 0,1 1,0 1,3 2,1 4,4 6,3 6,2
Solos orgânicos 3,5 3,6 3,8 4,0 4,1 4,2 4,2
Suínos 2,9 3,1 3,1 2,9 3,6 3,6 3,7
Vinhaça 0,0 0,1 0,6 0,7 1,3 1,5 1,6
Total 189,5 282,2 337,6 384,6 472,2 490,9 499,3

90
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
8. ANEXOS

Anexo 2 – Dados de atividade agropecuária e seus respetivos fatores de emissão e


remoção de GEE, utilizados para o exercício de reproduzir a meta de emissões da NDC
brasileira para o setor em 2005, 2025 e 2030

Dados de Fatores de Emissão* Emissão


Atividade e Remoção** de GEE de GEE
Fonte de Emissão e
Remoção de GEE
2005 2025 2030 § tCO2e / millhões de 2005 2025 2030
cabeças, ha, t e m3

Emissões Diretas e Indiretas (CH4 e N2O)


Animais (Milhões de cabeças)
Bovinos de Corte 187 211 220 1,7 325 367 383
Bovinos de Leite 21 27 29 2,6 54 71 75
Suínos 34 46 50 0,3 10 13 14
Aves 1006 2284 2604 0,0 7 16 18
Outros 36 32 29 0,4 16 14 13
Uso de Fertilizantes nitrogenados (Mi t) 2 5 6 7,2 16 39 43
Arroz Irrigado (Mi ha) 1,4 1,1 0,9 9,1 13 10 8
Queima de Resíduos Agrícolas 85 41 37 - 5 6 6
(% da área de cana com queima)
Outras Emissões - - 16 18 21
Emissões Totais (Mt CO2e) 460 553 582
Remoções de CO2 - via Carbono no Solo
Pastagens Recuperadas (Mi ha) 9 15 -5,5 -50,8 -82,5
Sistemas Integrados
Lavoura-Pecuária-Floresta (Mi ha) 3,1 5 -6,2 -19,2 -31,2
Remoções Totais (Mt CO2e) -70,0
Emissão Líquida de GEE (MtCO2e) 460 483 468

§ Projeções para 2030 baseadas pela correlação entre os dados de produção e área agrícola publicadas
no SIDRA-IBGE com as projeções de produção agropecuária 2015/25 feitas pelo MAPA (2015) aplicadas
a década de 2020/30;

*Fatores de emissão de GEE deduzidos das emissões publicadas no 3o Inventário Nacional (MCTI, 2016b)
dividindo-se o dado de atividade pela emissão de GEE total correspondente e, ainda, convertidos para
GWP-AR5 (IPCC, 2014);

**Fatores de sequestro de carbono no solo de pastagens bem manejadas e sistemas integrados de pro-
dução baseados em Bustamante et al.(2006) e Carvalho et al. (2010), respectivamente. Considerou-se
que a recuperação de 15 mi ha de pastagens e a adoção de 5 mi ha de sistemas integrados ILPF são
linearmente adotados de 2017 a 2030 (ver anexo).

91
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
8. ANEXOS

Anexo 3 – Dados de atividade agropecuária e seus respetivos fatores de emissão


e remoção de GEE, utilizados para a construção da proposta de NDC do Observatório
do Clima para o setor em 2030

Dado de Fatores de Emissão* Emissão


Atividade e Remoção** de GEE e Remoções
Fonte de Emissão e
Remoção de GEE
2030 § tCO2e / millhões de 2030
cabeças, ha, t e m3

Emissões Diretas e Indiretas (CH4 e N2O)


Animais (Milhões de cabeças)
Bovinos de Corte 220 1,7 383
Bovinos de Leite 29 2,6 75
Suínos 50 0,3 14
Aves 2604 0 18
Outros 29 0,4 13
Uso de Fertilizantes nitrogenados (Mi t) 6 7,2 43
Arroz Irrigado (Mi ha) 0,9 9,1 8
Queima de Resíduos Agrícolas 37 - 6
(% da área de cana com queima)
Outras Emissões - - 21
Emissões Totais (Mt CO2e) 582
Emissões e Remoções de CO2 -
via Carbono no Solo § §
Pastagens (Milhões de ha) 145
Condição estável 111 0 0
Degradada 0 4 0
Ótimas condições 34 -5,5 -187
Integração Lavoura/Pecuária-Floresta 6,5 -6,2 -41
Florestas plantadas 15 -0,8 -12
Lavouras (Milhões de ha) 84 0
Sistema Plantio Convencional 25 1,5 37
Sistema Plantio Direto 59 -1,8 -108
Florestas e Outros Ecossistemas 14
Naturais (Milhões de ha)#
Remoções Totais (Mt CO2e) -311
Emissão Líquida de GEE (Mt CO2e) 271

§ Projeções para 2030 baseadas pela correlação entre os dados de produção e área agrícola publicadas
no SIDRA-IBGE com as projeções de produção agropecuária 2015/25 feitas pelo MAPA (2015) aplicadas
a década de 2020/30 e consulta a especialistas;

92
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA
8. ANEXOS

*Fatores de emissão de GEE deduzidos das emissões publicadas no 3o Inventário Nacional (MCTI, 2016b)
dividindo-se o dado de atividade pela emissão de GEE total correspondente e, ainda, convertidos para
GWP-AR5 (IPCC, 2014);

** Fatores de sequestro de carbono no solo de pastagens bem manejadas, sistemas integrados de pro-
dução (ILPF), solos de florestas plantadas, sistemas de plantio convencional (baseados na aração e
gradagem do solo) e sistema plantio direto foram baseados em Bustamante et al.(2006), Carvalho et
al. (2010), Lima et al. (2006), Costa Junior et al. (2013) e Bayer et al. (2006), respectivamente.

§§ Assume que em 2015 havia 19 mi ha de pastagens em ótimas condições, 60 mi ha de pastagens de-


gradadas, 1,5 mi ha de sistemas integrados de produção (ILPF), 8 mi ha de florestas plantadas e 65 mi
ha de áreas agrícolas (32,5 mi ha cultivados sob sistema plantio direto e convencional cada). Toda a
expansão de área priorizou o uso de pastagens degradadas. #Sobra de área de pastagem degradada
devido ao atendimento da demanda por produtos agropecuários com as ações propostas nessa NDC,
a qual poderia ser adotada para restauração florestal

93
EMISSÕES DO SETOR
DE AGROPECUÁRIA

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