Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Márcia Machado
Organizadoras
Comissão Técnica
Biblioteca Central da PUC Goiás
Normalização
Revisão
Juliana Rézio
Editoração Eletrônica
Humberto Melo
Seleção de Imagens
Sarah Amado Ribeiro
ISBN 978-85-7103-963-6
CDU: 7.031.3(213.54)
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida,
annazenada em um sistema de recuperação ou transmitida de qualquer forma ou por
qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia, microfilmagem, gravação ou outro, sem
escrita permissão do editor.
Impresso no Brasil
SUMÁRIO
7 AGRADECIMENTOS
9 APRESENTAÇÃO
13 PREFÁCIO
19 CAPÍTULO I
A FIGURAÇÃO DO INVISÍVEL: O ENCOJ\!RO DE
WARBURG COM AS ARTES AMERÍNDIAS. O Q t;E
DELE PODEMOS APRENDER HOJE PARA A
ANTROPOLOGIA DA ARTE?
Els Lagrou
51 CAPÍTULO II
PINTURAS TERAPÊUTICAS: CORPOS E TD\TAS
EM ALGUNS GRUPOS JÊ
André Demarchi
83 CAPÍTULO III
A ARTE DE VESTIR-SE NO CERRADO BRASILEIRO:
O INDÍGENA EM TELA
Poliene Soares dos Santos Bicalho
Adriana Aparecida Silva
11 5 CAPfTULO 1V
TAl?UIOS DO CARRE'T'ÂO: HISTÓRIA, CULTURAS
E ARTES DAS MATRIZES t:TNICAS ORIGINARIAS
Márcia Machado
Denise Araújo Bringel
Fernanda A]ves da Silva Oliveira
145 CAPÍTULO V
PROCESSOS EDUCACIONAIS NA TERRA INDÍGENA
AVÁ-CANOEIRO DE GOIÁS: PANORAMA HISTÓRICO
E PERSPECTIVAS FUTURAS
Lorranne Gomes da Silva
Ariel Pheu]a do Couto e Silva
J 69 CAPÍTULO VI
AS ARTES INDÍGENAS NOS LIVROS DIDÁTICOS:
OS INDÍGENAS CERRATENSIS EM PERSPECTIVA
Keyde Taisa da Silva
Fernanda Alves da Silva Oliveira
145
146 1
3 Agradecemos aos membros do Grupo de Trabalho sobre a Edu " .._1 Es · Ltr lndt; 1J.
Avá-Canoeiro, pois algumas das questões apre entnda ne-ste- tmP..1 lh cn•n muit .~:
reuniões ocorridas entre 2015 e 2016: as professoras J\Iônü.-:a \"do$ B ~rgc.:: s.1ni L i-
tão; à servidora antropóloga da FUNAI, Ester Sih·eira; aos serYi rt>s Ja ..' E L' E
Va léria Cavalcante da Silva Souza, Francisco Alves Barb s:a. ...,inYul liY ir.t: E\i.me
Cristina Soares Leobas; Gloricia Santos Ramo Arruda e a superint n i nt d Et : iHl)
Fundamental de Goiás, Marcia Rocha de Souza Antune. · e. ~o n-tu j , ~ iw·.1thim.l t'
Trumak Avá-Canoeiro e Kaorewagi e Iranildo Tapirapé. G staríum d ·sr~ ., .tr
nosso pesar pelo falecimento de XiugtL'(awaga Av·ú-C,lnoeiro (hmi) na m t,td _tH;, d t>
deixa um legado de resiliência e re i tência tanto para os A,~.l- an ;:-iro - m r .tr.3 '
seus amigos mais próximos.
O p ltHll ' lll HI nq ui :q)t' ·~t nl n lo í( )i d ahm·( dt> pur ~ ílv, , ~ílvC:Í
t'n; <:uclks (.~01 '1), ' O ll \0 p 11'\ (' d'' UIJJ di:lf II ÓI tico ínicíf! l d~ Educ~~n
1
1
/\v;\ ( :ntHwlro, no. n1hilo dt li III Pdt11 ·Ít'O Cr ll p{> de 'l 'nl l>all (' ()<>l,rc a
l•:duCI\':Io 1\v:\ ( :ullotir< >.
( :oni(H·nw r onsln n:1t-: dor utn ·nt n\:<"1 ·f le:vn nl adnh pdw1~ ulorch,
1\ prltl l l'il'tl 1)\l ' ll \' i.I O sohn· ·ducu , ( o c·scolnt· no Am hito da rfcrra
lnd lgl· n ~l Avi\ ( :i.ltHH.' iro S(' deu pot· m ·i<> de: ll tt pedido form al df,
Pnslo lnd lgctw ( PI N) 1\v(l c~III O C Í I'(l ~\' s<:de da PU NA r. cm Bra (.ílía, de
impkttl <.' nl n~· fiO de um progra nw de· (·dlt CH\'( o para doi H j(>VC:I1!1 Avá-
Ci\ not'iro. l ·: m 190H, os tntSt)lOHj(l possuíam ettl rc I() c 12 an on.
n llrnwdu l'tn I ( ()9 um;, parceria ·ntr·e a Fundação Nacional
do fndio (PUNA I)(' a Ur1ivr rsid adt' P<.:dcra l de noí{t ~ (U f .C~), para a
rc:ll i :t.n~; "o de um proj to d · ·ducaçfio <.:scola r para 0 !-1 /\vá Canocíro,
cotn<.\':1 ndo no ii no 2000, '' lo ando o <.: nsi n<> do port ugu é~ c rcgí"-
lrn da llngll í\ 1\ vi\· C ano ·iro: '' Projeto A v{\ Cn no ciro. Uma J>ropot-Jta
de l ·:du ca~ão: vi l tdi zn<r~o da língu a e cultu nt. Participam do projeto
lin guis l ~\ s c an t ropólogos da Un iv(.;rsid adc; Federal de Coi ás c de PUR
NAS Ct•nl rai s l ·:lét ricas S./\.
Dur;Hllc os ano~ de 2000 a 2003 f(-,rarn r<.:a l iza d a~ algumas da<.;
el npas e subprogra m ~1 do supracil ado proj<.:lo, b<.:m como cncam í nhados
~ l·'lJ N 1\ I os r ·latórios t ri mestra is dt ai i v id ades. No entanto, entre
os anos d · 2003 e 20011, o projeto de ed tcação é interrompido pelo
cheíe do PIN 1\v{\-Canociro/io'U NA I. No mcsmo período, foi também
interrompid a n pesquisa de doutorado cm linguística na Terra
I nd ígcna Av6 -Ca noci ro, que busca va descrever c rcgislrar a Iíngu a
1\ vá Cn no i ro.
Em 200!l,foi promul gada a Lei n 111.HI2 de0ódcjulhodc2004,pclo
governo do stado de Coiás, dispondo da "criação ele escolas indígenas,
<k 'ducação hósicn, i ntcgra nlcs do Sistema Estadual de Ensino de Coíás
c dó out ra s provid ê n cia~( Esta lei fornece as bases legais para a criação
de escola diferenciada c especí fica para os povos indígenas do estado de
Croiós, possibilíl·ando a criação na Terra fndigena Avá~ Canoci ro de uma
escola própria.
Jl.m abr il de 2006, foi aprovada lei pela \,ámara Mun icipal
de Mina çu, di spondo el a cr iação da Escola Muni cipal I ndígena, na
1
al i ia vá- ano iro no à1nbito da Educação Básica do "i ' LCill ' l
~Iuni ~ipal d :\ En ino d Mina LL a qual prevê a ot lrat·tção d
un1·1 pr f ..\.'Ora para o ensin de português I ara a aldeia. Ait d·1
n "'-.' ano, a -..'uperint ndencia de Ensino Fu1 dan1 nt·1l cl Minaçu
inf ri 1a a PI vá-Canoeiro da realização de curso de for1 t ' t
-ã d prl f ssot sJ con1 o filn d que a então prof sHora e 1 téc- 1
P edaoóoi:o
t:' ~
e aatencão'
esp~2.L~ ( :~:~xt ---- ·~ ~- c.2 -e?. _r .:..~o~-: ___ . :7'-·"
da comurudadc indígena. '-'
0"':n id.rr"Les d~ _-\.~i---C-2..::!') :.. A-.,á-S:_. "~-- (''
e Portugues· Tapirdpe e Porrugu~ c d~ .~v~-~-~-- ~-;:r. Á2: ·r2..--;-!:. ~
Portugues.
Em maio de _016 a Extensá E -ro:a.. " ri:~eT ; ~iot~ :m
criada na Terra Indígena Avá-Canoeiro3 • Do:.= doc..:l"i.e-L,., ~ !'ffiarr~
importantes norteadore em relação à educação :o;ma: cr._re o.· ir!-
dias Avá-Canoeiro quais se_iam a Lei n 4.8:1 .e CS d.e juJ k!J de
2004 e o Ofício de no. 015/2005 da SED'CCE. O !irr~~:Io ~ra:a dE! Ji.
4 Ikatuté significa, na língua indígena Avá-Canoeiro, algo que é bonito, bom. O nome da
escola foi escolhido por Niwatxima.
5 Uma extensão escolar funciona de acordo com a Unidade Escolar que a rege, no caso
da extensão da Escola Indígena Avá-Ca noeiro é a Escola Estadual Ministro Santiago
Dantas, sediada na cidade de Minaçu a aproximadamente 30km da aldeia. Porta nto, a
extensão tem Projeto Político Pedagógico, bem como uma proposta de Educação Escolar
especifica para o povo indígena; só que quem rege os elementos financeiros, presta con-
tas, redi reciona os valores, emite documentação de secretaria, como, por exemplo, trans-
ferência, matrícula, entre outros, é a unidade escolar n a qual a extensão está vinculada.
J, I• li '' rt rr' (, f Hf t, uu ( I:Jfl' AliO <;/, HFRES. FDUCAÇÃO E MV~EUS llSl
~ ~· ia~~â la ~J
tensão Escolar Ikato-
ac tnpanhamento dos
1 á- anoeiro, buscando
ta á-Canoeiro e elabo-
,- l r llll Projeto Político Pe-
l rir 'pi s de u1na educação
ltural e transdisciplinar.
~, "' \ r ini ia la 111 201 partiu d di-
o Tapirapé
la da ald ia,
ríod s da ma-
mai ', lkatoté
iad , buscando
t âmbit da aldeia
ular n iní io e
\ i
::.:1~:i:-:::l :~.:-:-
i rrt':cntt , , .. n1 ) ~1 Vl..l Al, F RNA , as Secretarias de
:- Tcl.:trl. Sl '- ci~1l dt- "\ ni i I 'ES.. L
_ · n ~r.1n . ~' l T\':1-,'c: que nru it do 'u sso de Ikatoté se deu
-='elo ".!~""'
-
c-:trJtC'gi· : l1 l dn ---~l(~l{) tr~1 ii ~i nal no cotidiano escolar.
....
0i~ -ure- ~t\ · ~C'.~uir, ,' hrc: t_ ~ t. Sf a . . ) S d~ apr 'ndizag 111, os quais cons-
:::i~;:>n1-Se .:jen1~t fund:1n1 nt~1l d ~ 1 rotuoçao e n1anutenção da edu-
~a :ão :_:'adi-·onal_\Ya- a nociro.
_-\: ti'id· de: e_-xc- - ut·1d~1s n~l cs -ola, elaboradas pelos professo-
res, reí"l,r-aJn · in1J or tún ~i a t"k s espaços d aprendizagetn, os quais
contemplan1 o cotid i~1no da 'ida indíg ~n a, seus n1últiplos saberes e
Íormas d e aprender.
Para Jar,-i;:- (.... 007) a aprendizac:r 111 é un1 processo que ocorre ao
longo da vida o indh íduos nos difc rentes espaços da sua existên-
cia. Des:e n1odo o diferentes spaços ten1pos educativos, para os
.~-\.vá - Canoeiro e~ tão alén1 do paço/t n1po escolar disciplinar, com-
põem tambén1 espaço d apr ndizagens o caçar na mata, pescar, co-
letar, preparar a roça onfe cionar ·utesa natos, fazer a pintura corpo-
ral participar de pale tras, oficinas e eventos dentro e fora da aldeia,
brincar desenhar, rea 1izar passeios na casa. dos 1noradores vizinhos,
realizar viagens, na rodas de conversa e reuniões, entre outros.
Na língu a Avá-Canoeiro, diferentemente do Português, não
há um verbo para aprender/ensina r. Na língua portuguesa, há a
ênfase tanto no processo do 'aprendizado', como no protagonismo
do 'aprend iz' para con1 o conteúdo 'aprendido'. Há ainda o proces-
so do 'ensino', pautado pelo ensinado' e o 'ensinador', ou professor,
que trad icionaln1ente vê o estudante de forn1a passiva no processo
de aprendizagem.
Na língua Avá-Canoeiro, o conhecünento de alguém é expres-
so pela palavra -kway, enquanto que -momae 'fazer ver' é o principal
verbo para a aprendizagetn. É por 1neio da prática de um conhecimen-
to que, na interação, ele é repassado, mostrado aos demais, e então
atualizado, individualn1ente ou coletivamente. Desta forma se dá o
l l ,.J l< ( ''l P ,nt c interagen e6;
Hl;)t:~, 1~~ 1 lã xp 'rim )nta ao poste--
l'
' L <'hn< nt ( <) pr t\ li Z'l lo, d sta mancjra,
, 11 i ' ~' < l"~\d ":) lc) J 1 t óri a.
: l ~ 1' . nh<<'ln) Hto sol rc o rnundo se dá
' '1 ' ~·'-'' " i.' :\~, l"là 'i<n·uldo . . se o tempo de
, l :' ' ''llninhar, .. áta, onsUtui-se
. lr< ~' ' r< tin·ls d ·u1irnais, por meio
n ll :H)l tll< s l pl·1ntas e relação entre
. ~ ·.,. · ,' · 'r' .' :\.' <\ ' t:) . ) s h ' a agypykáto e chuva
·' ' áta tra lu7 tanto o conceito
rt·1n ia lo atn inhar para a
·1 s1 '\ o d o upação é também
,' • 1 f .. ) \1~~ r~HlÍ) • mo no caso dos Avá-
ventos e coisas
novas geraçoes
us pais, tios e
nh i mento sobre o
1541
Figura 1: Da esquerda para direita: Parazinho confeccionando uma lança - Fonte: Lorranne
Gomes da Silva, 2015; Parazinho ensinando Paxe'ó a flechar - Fonte: Lorranne Gomes da Sil-
Ya, 20 15; Nak'""\vaxta olhando Parazinho preparar a tinta de jenipapo para fazer a pintura cor-
poral - Fonte: Lorranne Gomes da Silva, 2015; Nakwaxta preparando sua comida- Fonte:
Lorranne Gomes da Silva, 2009; Iawi confeccionando cabo de enxada - Fonte: Ariel Pheula
do Couto e Sil\·a, 2012; Iawi reciclando velas- Fonte: Ariel Pheula do Couto e Silva, 2014.
Segundo Silva (2005, p 150-- 152), para o povo /\vá- "ano 'iro:
PLANTIO E ROÇA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊ CIAS
G /-. r r~JA, C. Kaã •Natá, "andar na flo resta": caça e território em um gr upo
Tupi d4 f. m27J)nia.ltfedíaçôes, Londrina, v. 17, n . 1, p. 172-190,201 2.
J!.P l JCJ, P. Globalísatíon, Lifelong Learning and the Learníng Society. Socio-
kJgícal Perf;pectives. London & New York.: Ro utledge, 2007.
publicad(J J. 2014.
'iTJ, vA, A. E C. Relatórío Anual (20 12/20 13) do projeto Assessoria Linguísti-
ca Junto aos Avá-Canoeíro. BrasíHa~ 2014.