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MANIFESTAÇÃO AOS EPISÓDIOS DE

DISCRIMINAÇÃO RACIAL - CASO DANILO GOÍS


O MNU ​em sua secção territorial do Recôncavo da Bahia (MNU Recôncavo), vem expressar
publicamente em primeiro momento ​nossa solidariedade e apoio público às militantes negras e
professoras doutoras Isabel Cristina Ferreira dos Reis e Luciana da Cruz Brito e estudantes vítimas dos
atos discriminatórios e desrespeitosos ocorridos dentro e fora da sala de aula, ​tanto na terça do dia
26/11 quanto o mais recente, nesta segunda-feira, dia 09/12.

Em segundo momento, manifestamos ​nosso repúdio aos diversos episódios de racismo,


machismo, homofobia e maus tratos a animais perpetrados pelo AINDA estudante universitário de
ciências sociais do Centro de Artes Humanidades e Letras - CAHL/UFRB, ​Danilo Araújo de Góis​.
Enfatizamos o ‘AINDA’ porque acreditamos veementemente que em breve este deixará de ter qualquer
vínculo com nossa Federal do Recôncavo, não somente pelos atos praticados, já que tantos outros
racistas, machistas, LGBTfóbicos ainda convivem em nosso meio mesmo que existam contundentes
provas de seus crimes, mas pela dimensão que esse episódio ganhou nas redes sociais e na imprensa
nacional, construindo um ambiente de cobrança pública e de revolta coletiva, inclusive razão para a
manifestação da nota pública por parte da reitoria, para que assim ocorra a justa expulsão definitiva
(jubilamento) por parte da administração central da UFRB contra o sujeito em questão.

Danilo Góis, um estudante branco, já possui em sua curta vivência em nossa universidade (entrando
no semestre de 2018.2, inclusive, havia tentado acessar as cotas raciais...), diversos crimes cometidos,
com diversas testemunhas oculares e vítimas, o que inclui discursos como ​“negros são fedidos”,
elogios ao regime nazista, “não vou dividir quarto com um viado” e o assassinato de um animal
(gato)​, estes dois últimos fatos ocorreram em residência universitário (Casa de Estudantes Ademir
Fernando de Senna Gonçalves, localizado no município de São Félix) onde até recentemente ele
residia quanto estudante de baixa-renda assistido pela Pró-reitoria de Políticas Afirmativas e Assuntos
Estudantis - PROPAAE/UFRB. Seu discurso em vários dos relatos coletados, cortejam o nazifascismo,
o supremacismo branco (superioridade branca e inferioridade negra), que não somente se expressam
nas palavras, mas na postura de linguagem corporal arrogante e confiante, em dizer e agir em plena
tranquilidade e auto-controle, inclusive, assemelhando-se ao que poderíamos denominar por um
sociopata.

A UFRB ainda encontra dificuldades para combater as mais variadas formas de racismo e proteção de
direito de minorias, poderíamos facilmente destinar nossa nota pública unicamente ao escracho contra
o racista Danilo Goís, mas isso não seria suficiente. Entendemos que o mais recente ato dele contou
com uma já tradicional negligência por parte da universidade, pois o criminoso em questão vem
praticando tais crimes a vários meses, inclusive razão para sua expulsão da residência. Expulso não
pelo orgão responsável, a PROPAAE, mas uma expulsão colocada a cabo pelos próprios estudantes
residentes revoltados, estudantes esses que vêm relatando constantemente os crimes, mas que tem
obtido um vergonhoso silêncio por parte da pró-reitoria, que em vez de expulsá-lo por justa causa
(inclusive, em respeito ao artigo II do Estatuto da UFRB, que descreve como princípio ‘respeito à
liberdade de pensamento e de expressão, sem discriminação de qualquer natureza’, ou pelo próprio
Regimento das Casas, Art. 29 - Constituem faltas graves, passíveis de exclusão do Programa de
Permanência Qualificada… I - Discriminação racial, sexual, religiosa, política e social...), simplesmente
o realocou em outra residência (Casa de Estudantes Maria do Paraguaçu, também localizada em São
Félix), remanejando uma ameaça iminente à integridade e saúde mental para que outros estudantes
tenham que lidar com Danilo Goís.

Nosso compromisso não é somente atuar pontualmente no denuncismo e enfrentamento contra este ou
aquele racista. Danilo Goís agiu até recentemente na confiança do hiato institucional em atuar de forma
organizada e contundente, instituição que ao mesmo tempo diz orgulhar-se de ter uma comunidade
estudantil de maioria negra e pobre. Nós estamos cansados de discursos burocráticos, numa lentidão
processual que somente beneficia a quem destes crimes cometem, tendo inclusive tempo suficiente
para se formarem e saírem com seus diplomas (fraudadores de cotas). Isso quando nós denunciamos
crimes de racismo institucional e recebemos como retorno a defesa das partes denunciadas.

Nós reivindicamos não somente a expulsão permanente (jubilamento) do racista Danilo Goís, mas que
seja estabelecida uma atuação real do conselho de Ética e outras instâncias para tratar com agilidade
em casos como esse, pois a morosidade de meses coloca em cheque a integridade de potenciais alvos
de violência racial, não somente sendo vítimas de discursos de ódio, mas de violência física ou mesmo
os tantos relatos que nos chegam de racistas que vão às vias de fato, assassinando pessoas negras.

É fácil apelar para o inimigo externo “o governo promove isso”, e colocar exclusivamente na conta do
bolsonarismo e da conjuntura pró-conservadorismo pró-direita pró-reacionarismo, mas ​a UFRB precisa
deixar de se declarar não racista, e, de fato, transformar-se numa instituição ANTIRRACISTA​, o
que implica em receber e investigar com agilidade e seriedade quaisquer denúncias dessa natureza. Da
mesma forma, a construção de mecanismos permanentes que sobreponham “comissões súbitas” de
apuração que somente são constituídas quando ocorre o incêndio da imagem pública instituição para
fins de “ser bombeiro”, e não menos importante, construir espaços permanentes de formação para seus
funcionários e estudantes sobre tais temas (ex.: racismo, machismo, LGBTfobia…). A UFRB tem uma
maioria de negros e negras em seu corpo de estudantes e funcionários terceirizados, e admitimos que
não nos sentimos seguros dentro dessa instituição, e não sentimos acolhidos e nem atendidos às
nossas reivindicações quando denunciamos, o racismo não pode somente ser combatido quando se
torna escancarado, explícito, midializado, como este caso se tornou. Danilo Goís deveria ter sido já
observado e investigado desde que se chegasse a qualquer funcionário da instituição informações de
seus atos, e não foram poucas as tentativas que foram ignoradas.

Finalizamos, precisamos falar diretamente aos nossos. ​As trincheiras da luta negra em nossa UFRB
estão com poucos combatentes. A existência de muitos críticos e cobranças sem atuação cotidiana
pouco serve à nossa causa! Já existiram simultaneamente vários coletivos negros, focados no direto
combate ao racismo e na auto-organização negra, com dezenas de militantes espalhados em todos os
campi, uma verdadeira frente negra, e hoje somos muito poucos numa época que mais nos exige
presença e união! Convidamos os irmãos e irmãs à colarem junto na luta negra para além de momentos
muito pontuais como esse, pois a autoproteção se alcança na coletividade e compromisso. Sem
agirmos com disciplina e seriedade, daremos brecha para gente como Danilo Goís cresça e se
multiplique, porque o primeiro passo para alcançarmos um ambiente antirracista é a construção coletiva
de combate inteligente direto aos racistas, e votemos a impor respeito a nossos inimigos declarados ou
não! “Não defendo a violência, mas não sou totalmente contra usá-la como auto-defesa. Nem
chamo de violência quando é em auto-defesa. Chamo de inteligência.” Malcolm X.

Recôncavo da Bahia, 10 de Dezembro de 2019

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