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Rede2020 GESTÃO ▪ ESTRATÉGIA ▪ MARKETING

GESTÃO • ESTRATÉGIA • MARKETING


empreender.blogspot.com

V O L U M E 3 N Ú M E R O 3 M A I O — J U N H O 2 0 0 7

POLÍTICAS PÚBLICAS DE
CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Ana Paula Faria


Natália Barbosa
Vasco Eiriz

ARQUITECTURA PARA
CRIANÇAS
Auto-Retrato num Grupo

Daniel Carrapa Almada Negreiros


1925

SISTEMAS DE INFORMAÇÃO
GEOGRÁFICA E TURISMO

Paulo Rocha e Sousa E AINDA

Sílvia Brito Fernandes


COMPETÊNCIA PROFISSIONAL E BEM-ESTAR
Mário César Ferreira
A PROBLEMÁTICA DA FILA INDIANA
Pedro Chagas Freitas
EMPREENDER EM TRÊS ACTOS
Elisabete Sá
CRIAÇÃO DE EMPRESAS
Vasco Eiriz
Rede2020
GESTÃO ▪ ESTRATÉGIA ▪ MARKETING
e m p r e e n d e r . b l o g s p o t . c o m

Rede2020
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intitulado “Colabore com a Rede2020” na coluna do lado direito Todos precisamos de espaço. É sobre espaços para crian-
de www.empreender.blogspot.com. ças que trata o artigo de Daniel Carrapa, acompanhado das
fotos da autoria de Fernando Guerra a um jardim-de-infância.
Edição Os sistemas de informação geográfica são também úteis
Vasco Eiriz para gerir o espaço. A aplicação desta tecnologia no sector do
vasco.eiriz@gmail.com turismo merece a atenção de Paulo Rocha e Sousa e Sílvia Bri-
vasco.eiriz.googlepages.com to Fernandes.
A tecnologia, a ciência e a inovação parecem cada vez mais
Empreender presentes no nosso espaço mediático. Mostra-o, por exemplo,
www.empreender.blogspot.com a prioridade que lhes parece ser conferida no âmbito das políti-
Empreender é um projecto editorial associado à Rede2020. cas públicas, pelo menos em Portugal. Daí que Ana Paula Faria,
Natália Barbosa e Vasco Eiriz se proponham, num projecto que
Contribuíram para este número descrevem neste número da Rede2020, avaliar os seus efeitos.
A preservação da saúde e a promoção do bem-estar são
Ana Paula Faria realçadas por Mário César Ferreira no âmbito da competência
Professora Auxiliar da Universidade do Minho. Email:
profissional, enquanto Pedro Chagas Freitas, autor da coluna
apfaria@eeg.uminho.pt
Fábrica, nos dá a entender que há filas em que não se está bem.
Daniel Carrapa
E, claro, as empresas, sempre as empresas. Nem sempre
Arquitecto. Email: danielcarrapa@gmail.com
um espaço de bem-estar. A partir da sua própria experiência,
Fernando Guerra
Elisabete Sá identifica três fases no processo de amadurecimen-
Fotógrafo. Email: fs.guerra@netcabo.pt
to dos projectos de criação de novos negócios. E em pelo
Mário César Ferreira
menos numa dessas fases, a decepção não permite bem-estar.
Professor Adjunto da Universidade de Brasília. Email:
A terminar, na coluna Sociedade Anónima sintetizam-se alguns
mcesar@unb.br
resultados da formação numa disciplina de empreendedorismo
Natália Barbosa
no ensino superior.
Professora Auxiliar da Universidade do Minho. Email:
natbar@eeg.uminho.pt
Paulo Rocha e Sousa Vasco Eiriz
Analista Programador no Centro Distrital de Segurança Social de
Faro. Email: paulo.j.sousa@seg-social.pt
Pedro Chagas Freitas
Escritor, linguista, jornalista. Email: criativa.escrita@gmail.com
Sílvia Brito Fernandes
Professora Auxiliar da Universidade do Algarve. Email:
sfernan@ualg.pt
REDE2020 VOLUME 3 NÚMERO 3 3

EM REDE2020
ENSAIO

4 Aplicação dos sistemas de informação geográfica na ges-


tão turística
Paulo Rocha e Sousa, Sílvia Brito Fernandes
Os sistemas de informação geográfica podem ser considerados como um conjunto de ferramentas e
tecnologias com uma vasta aplicabilidade na prossecução dos objectivos de desenvolvimento susten-
tado do turismo

11 Avaliação das políticas públicas de ciência e tecnologia


Ana Paula Faria, Natália Barbosa, Vasco Eiriz
As políticas de ciência e tecnologia, tal como outras políticas públicas, necessitam de ser monitoriza-
das, avaliadas e, se necessário, ajustadas aos resultados que visam alcançar. A questão da avaliação
das políticas públicas surge assim como uma importante área de análise e investigação

ANÁLISE

7 Competência profissional do bem-estar Mário César Ferreira


TRAÇO

8 Arquitectura para crianças Daniel Carrapa


FÁBRICA

10 A problemática da fila indiana Pedro Chagas Freitas


EMPRESA

14 Empreender em três actos Elisabete Sá


SOCIEDADE ANÓNIMA

15 Criação de empresas Vasco Eiriz


REGULARES

6 Comunidades
13 Revistas
REDE2020 VOLUME 3 NÚMERO 3 4

ENSAIO

Aplicação dos sistemas de informação


geográfica na gestão turística
Na era da sociedade da informação, destino. Isso requer a educação Paulo Rocha e Sousa
as tecnologias têm assumido um papel necessária que pode ser enriquecida Centro Distrital de Segurança Social de Faro
determinante no desenvolvimento e pela informação digitalizada disponível
sucesso das organizações. Estas utili- "online". Os interessados podem ficar Sílvia Brito Fernandes
zam as novas tecnologias de forma a informados sobre destinos que não Universidade do Algarve
tornarem-se mais competitivas nas imaginavam antes que existissem. Por
suas actividades e serviços. Tais sua vez, um sistema de informação
recursos também lhes permitem esta- integrado fomentaria relações de par-
belecer novas formas de interagir tilha de conhecimento que desempe-
com os seus parceiros de negócio. O nham um papel fulcral na gestão das
acesso à internet tem permitido a relações com o cliente. Esta função,
estas organizações manter uma pre- junto com a definição de novos con-
sença no ciberespaço a preços com- ceitos, contribui para o desenvolvi-
petitivos. Contudo, em muitos casos, mento de bases de dados inteligentes
essa presença é insipiente apresentan- que vão "conhecendo" os comporta-
do apenas o seu portfólio de produ- mentos e perfis de preferência dos
tos e serviços e não uma activa plata- utilizadores.
forma de divulgação, entrega e distri- Estudos recentes sugerem uma
buição. Outras investiram mais em utilidade crescente da aplicação dos “O negócio turístico
sistemas e tecnologias de informação, sistemas de informação geográfica
apresentando "sites" assentes em ser- (SIG) no planeamento turístico e no é fortemente
viços de negócio electrónicos, na ten- levantamento dos melhores locais
influenciado pela
tativa de aumentar a sua penetração para o seu desenvolvimento (Elliot-
no mercado como é o caso do negó- White e Finn, 1998; Cowen e Shirley, difusão das
cio turístico. 1991). Gunn (1994) usava-os para
O turismo não é só uma das maio- identificar as áreas de maior potencial tecnologias de
res indústrias no mundo, como é tam- para o desenvolvimento turístico,
bém o primeiro segmento "online" a baseadas nos recursos naturais e/ou informação e
contribuir com 11 por cento do total culturais das mesmas. Os SIG serviam
comunicação, uma
de vendas que ocorrem na internet. como meio de consolidação da infor-
Em 2003, mais de 30 por cento das mação geográfica de forma a comple- vez que é uma
vendas "online" foram geradas no mentar a análise e o planeamento.
sector das viagens (Hadzic, 2004). O Boyd e Butler (1996) usavam estes actividade muito
negócio turístico é fortemente sistemas para inventariação, mapea-
influenciado pela difusão das tecnolo- mento e identificação de áreas de intensiva em
gias de informação e comunicação, intrusão humana.
informação”
uma vez que é uma actividade muito Muitas vezes, as infra-estruturas
intensiva em informação (Poon, são sobrepujadas pelo crescimento
1993). turístico exacerbado ficando este
Nas indústrias de serviços como o ameaçado por grupos de pressão
turismo, a produção aparece integra- locais e ambientais. Os SIG podem
da com o consumo o que reforça o ser uma ferramenta eficaz no desenho
papel activo dos clientes no processo e monitorização do desenvolvimento
de criação do serviço. A percepção da turístico sustentado (Holm-Pederson,
sua qualidade e valor são factores que 1994). Entre outros atributos, a infor-
afectam a motivação para visitar um (Continua na página 5)
REDE2020 VOLUME 3 NÚMERO 3 5

ENSAIO
(Continuação da página 4) Ontario. In Harrison, L. & Hus-
bands, W. (Eds.), Practising Re-
mação georeferenciada acrescenta sponsible Tourism: International
rigor à análise dos desenvolvimen- Case Studies in Tourism Planning,
tos que possam deteriorar o Policy & Development. New York:
ambiente ou os recursos turísticos J. Wiley & Sons.
e das áreas onde os desenvolvimen- Cowen, D. & Shirley, W. (1991).
tos propostos tenham uma maior Integrated Planning Information
visibilidade (Selman et al., 1991). Systems. In Maguire, D. et al.
Os SIG podem ser considerados (Eds.), Geographical Information
como um conjunto de ferramentas Systems: Volume 2 Applications.
e tecnologias com uma vasta aplica- Harlow: Longman.
bilidade na prossecução dos objecti- Elliot-White, M. & Finn, M. (1998).
vos de desenvolvimento sustentado Growing in Sophistication: The
do turismo. Uma das dificuldades Application of GIS in Post- “O levantamento
dos agentes turísticos é a de não Modern Marketing. Journal of
sistemático dos
disporem dos tipos de informação Travel and Tourism Marketing, 7
necessários à assertividade das suas (1), 65-84. recursos naturais e
decisões quanto ao planeamento do Gunn, C. (1994). The Emergence of
território. O levantamento sistemá- Effective Tourism Planning and culturais é
tico dos recursos naturais e cultu- Development. In Seaton, A. et al.
fundamental para a
rais é fundamental para a indústria (Eds.), Tourism The State of the
turística, pois ajuda os gestores a Art. Chichester: John Wiley & indústria turística,
identificar recursos disponíveis, Sons.
capacidades dos locais em criar Hadzic, O. (2004). Tourism and pois ajuda os gestores
novos produtos/serviços e recursos Digitization of Cultural Heritage.
em risco por falta de planeamento Review of the National Center for a identificar recursos
ou pela influência de outros secto- Digitization Publisher, Nº 5, Fac- disponíveis,
res. Os SIG permitem fazer o balan- ulty of Mathematics, Belgrade,
ço entre o tipo de acomodação 74-79. capacidades dos
turística e de acomodação residen- Holm-Pedersen, J. (1994). GIS - a
cial, a fim de examinar como a ocu- New Tool for Tourism, paper locais em criar novos
pação varia consoante áreas menos presented to GIS in Business, 94’ produtos/serviços e
ou mais dinâmicas e assim planear a European Conference, Amster-
oferta turística. E daí, possibilitam a dam. recursos em risco por
análise de impactos da ocupação Poon, A. (1993). Tourism, Technology
diferenciada do espaço, desde a and Competitive Strategies. Ox- falta de planeamento
sobrecarga/intrusão à conservação ford: CAB International. ou pela influência de
cuja tensão crescente sobre o cres- Selman, P., Davidson, D., Watson,
cimento turístico deve ser objecto A. & Winterbottom, S. (1991). outros sectores”
de discussão. GIS in Rural Environmental Plan-
Referências ning: Visual and Land-use Analy-
Boyd, S. & Butler, R. (1996). Seeing sis of major Development Pro-
the Forest through the Trees: posals. Town Planning Review, 62
Using GIS to Identify Potential (2), 215-223.
Ecotourism Sites in Northern

Paulo Rocha e Sílvia Brito Fernan-


Sousa é Analista des é Professora
Programador no Auxiliar na Faculdade
Núcleo de Sistemas de de Economia da Uni-
Informação do Centro versidade do Algarve
Distrital de Segurança onde lecciona Tecno-
Social de Faro. logias de Informação
na Empresa e Sistemas
de Informação Empre-
sariais.
REDE2020 VOLUME 3 NÚMERO 3 6

COMUNIDADES

European Group for Organizational Studies


“What is EGOS? EGOS is a scholarly associa- discussing key issues in organizational theory
tion which aims to further the theoretical and/ and practice. Critical refection on the most
or empirical advancement of knowledge about recent ideas and theoretical approaches is at
organizations, organizing and the contexts in the core of the Association’s activities. EGOS,
which organizations operate. It has an associ- moreover, offers a stimulating intellectual envi-
ated journal, ‘Organization Studies’ and holds ronment for younger scholars, running well-
an annual conference in July. attended Doctoral and Post Doctoral Work-
Diversity and Plurality: EGOS has its shops at the beginning of the annual confer-
identity and its intellectual roots in the social ence.”
sciences. It encourages an analytical and theo-
European Group for Organizational Studies
retical approach toward organization. EGOS
www.egosnet.org
embraces diversity of all kinds including a plu-
ralistic approach to understanding organization
from the perspectives of the social sciences
(such as sociology, social history, political sci-
ence, psychology and anthropology) as well as
the humanities (such as philosophy, discourse
analysis, literary criticism and rhetoric).
Exploring Research at the Forefront
of Knowledge: EGOS emphasises broad
themes as well as topic-centred research. The
Association provides a forum for identifying and Logótipo do European Group for Organizational Studies

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As suas férias em

almansil.blogspot.com
Apartamento localizado no Algarve em aldeamento turístico de referência. Trata-se de T1 espaçoso com 2
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uma arrecadação e terraço individual. Está equipado com máquina de lavar roupa, frigorífico, fogão e forno
eléctrico, e termoacumulador. O apartamento é ainda servido por piscina colectiva e encontra-se à distân-
cia de 15 minutos a pé da praia. Mais detalhes em www.almansil.blogspot.com.
REDE2020 VOLUME 3 NÚMERO 3 7

ANÁLISE

Competência profissional do bem-estar


Competência profissional é uma noção nômade. organizacional em lugar de bem-estar no
Ela viaja por diferentes campos científicos e trabalho. Nesta ótica, a competência profissional
conceituais. Por onde passa, sua fachada vai tem que ser um ponto de confluência dos Mário César Ferreira
se metamorfoseando: ora mais obesa, ora interesses do indivíduo, da instituição e da Universidade de Brasília
mais sarada, ora com botox, ora sem. Estas sociedade. Neste enfoque, não se pode nomear
mil e uma faces resultam das diferentes de competência profissional um trabalhador que
escolas, abordagens e filiações filosóficas que atingiu as metas prescritas, mas que no dia
têm na competência profissional um foco de seguinte, em decorrência do trabalho, entrega
estudo e de produção do conhecimento. No no Departamento de Pessoal seu atestado de
mundo do trabalho, pós-crise do final dos licença saúde. Neste caso, bastante comum nas
anos sessenta do século passado, a organizações, constata-se um cenário em que
competência profissional se tornou um objeto todos perdem: indivíduo, instituição e
do desejo no cenário da competitividade sociedade. Logo a competência profissional no
empresarial. Atualmente dirigentes vêm enfoque da Ergonomia da Atividade transcende “Os efeitos da
adotando a educação profissional e/ou largamente o atributo de desempenho
continuada como um caminho para superar (performance), lugar-comum nas ciências do economia
problemas cada vez mais complexos e, trabalho, de vocação externa (resultado
sobretudo, modo de se obter mais ganhos. palpável, tangível) para um sentido interno de globalizada
Não faz muito tempo, a idéia de preservação da saúde e de promoção do bem-
competência no contexto de trabalho estava estar. desenham um novo
muito associada à capacidade do indivíduo de O segundo sentido reside no pressuposto
avaliar e construir uma solução para um de que ser competente no contexto profissional perfil do
determinado problema bem como realizar requer conciliar (rimar) produtividade com
algo no exercício do cargo/função. Neste felicidade pessoal e, em conseqüência, bem- trabalhador ideal:
cenário, a acepção corrente é a qualificação estar coletivo. Este viés se contrapõe a duas
profissional como decorrente de uma perspectivas polarizadas. De um lado, a visão capacidade de
educação profissionalizante centrada em dominante de coisificar o trabalhador como
modelo de gestão da produção e do trabalho peça de engrenagem, geradora exclusiva de aprender a
de feição taylor-fordista. Hoje, os efeitos da ganhos monetários, tão genialmente ilustrada
economia globalizada desenham um novo por Chaplin no filme “Tempos Modernos”. Aqui
apreender;
perfil do trabalhador ideal: capacidade de a produtividade, multiplicadora de lucros, é
flexibilidade;
aprender a apreender (restrita à ética da também produtora de doenças, acidentes,
produtividade); flexibilidade (resiliência aos alienação... enfim, de infelicidade. De outro, uma polivalência
agentes estressores); polivalência funcional visão bem-intencionada, no limite romântica, de
(prática dos vários bonés); autonomia forte ênfase na saúde e condições adequadas de funcional;
(relativa e vigiada); autodisciplina (prontidão trabalho que, sem pretender, termina por não
mental normativa); comprometimento dar a devida importância à produtividade como autonomia;
organizacional (foco nos objetivos); atributo ou requisito gerador de saúde.
criatividade (modulada na lucratividade)... A superação de tal polarização requer autodisciplina;
para ficar em alguns dos principais resgatar nos contextos de produção o sentido
ingredientes. do trabalho como produtor de bem-estar, comprometimento
Com a incorporação das contribuições forjador da história individual e coletiva, fonte
científicas recentes da Ergonomia da de felicidade e gerador de saúde. Requer, organizacional;
Atividade algumas instituições públicas e sobretudo, instaurar uma ética do trabalho
privadas já sabem que não bastam o “saber centrada em uma competência profissional do criatividade...”
fazer” e o “saber ser”. É crucial aos bem-estar e superar o enfoque reducionista de
trabalhadores o “poder fazer”, requerendo desempenho, delineando um cenário positivo
condições, organização e relações para todos.
socioprofissionais de trabalho adequadas para
atingir metas, mas, sobretudo, proporcionar
o bem-estar no trabalho. Nesta perspectiva, a Mário César Ferreira, psicólogo do trabalho, Doutor em
Ergonomia pela École Pratique des Hautes Etudes (Paris,
acepção de competência profissional é ainda França). Atualmente é professor-adjunto no Departamento
mais arejada, incorporando dois sentidos do de Psicologia Social e do Trabalho do Instituto de Psicologia
papel ontológico do trabalho. da Universidade Brasília UnB, Brasil. É co-autor do livro
"Trabalho e riscos de adoecimento: o caso dos auditores-
O primeiro sentido reside no fiscais da Previdência Social brasileira" (2003) Edições Ler,
pressuposto de que ser competente no Pensar, Agir – LPA e co-organizador dos livros "A regulação
contexto profissional requer igualmente social do trabalho" (2003), publicado pela Editora Paralelo 15
preservar a saúde e transformar o ambiente e "Trabalho em transição, saúde em risco" (2002) Editora da
UnB.
REDE2020 VOLUME 3 NÚMERO 3 8

TRAÇO

Arquitectura para
crianças
A arquitectura dá-nos muitas mensagens, se mesmas? Com o esforço da comunidade, a Daniel Carrapa
estivermos atentos e preparados para as arquitectura e o design podem ajudar. A Barriga de um Arquitecto
apreender. O mundo material do nosso A arquitectura para crianças deve começar
ambiente construído representa as preocupa- por ter um sentido de propósito. As necessi-
ções que temos para com ele, reflectindo o dades utilitárias devem ser valorizadas; a fun-
que somos e o que ensinamos também aos ção requerida pelos equipamentos de cariz
mais novos. A arquitectura pode ensinar. Algu- infantil e juvenil deve ser flexível, adaptando-se
mas crianças não sabem ler bem, mas sabem aos padrões sempre em mudança, à tecnologia
ler o espaço que as envolve: estudos mostram e às necessidades presentes e futuras. Ao con-
que a estimulação multi-sensorial aumenta a trário dos adultos, as crianças estão constante-
actividade cerebral e contribui para reduzir o mente a mudar de tamanho. A consideração
risco de disfunções psíquicas. Nos ambientes do ambiente ergonómico requer grande refle-
próprios para crianças, onde elas passam gran- xão, sensibilidade e flexibilidade. Não existe
de parte do seu tempo, criar espaços que as fórmula para dar escala às coisas; uma cons-
motivam e estimulam é uma forma de contri- ciência da interacção das crianças torna mais
buir para o seu crescimento futuro. fácil a capacidade do desenho responder apro-
As crianças do presente são atentas e inteli- priadamente às suas exigências. Ir de encontro
gentes, consumidores ávidos com necessidades a necessidades pragmáticas, questões como a
sofisticadas. Existem hoje muitas empresas idade, adequação, segurança, conforto e acessi-
especificamente orientadas para explorar o bilidade, torna-se o critério do desenho e da
espaço de consumo dos jovens. Incentivados arquitectura.
pela atenção pessoal da comunicação informá- Um espaço para crianças deve deliciar e
tica, da publicidade, de programas de televisão, estimular os seus sentidos, gerar o seu interes-
as crianças representam um mercado que se se e fazê-los interagir com algo exterior a si
alarga dos jogos de vídeo a electrónica, CDs, próprias. O bom desenho deve ser inspirador
equipamento desportivo, vestuário. Este ten- e as necessidades estéticas têm ser considera-
dencial consumismo representa um falso senti- das. Formas harmoniosas podem ser inspirado-
do de independência que contradiz uma reali- ras. Sentidos estimulados para a exploração ou
dade onde os nossos jovens gozam de menos interacção podem tornar-se parte da experiên-
liberdade e brincadeira do que os das anterio- cia estética. O desenho para crianças pode ser
res gerações. preenchido pela beleza e o maravilhamento.
Se o desenvolvimento social está intrinseca- O bom desenho deve respeitar e informar,
mente ligado à cultura, como poderão as crian- e no entanto reconhecer a inteligência particu-
ças de hoje ultrapassar esta cultura comercial lar das crianças e o seu sentimento individual
para desenvolver um sentido autêntico de si (Continua na página 9)
REDE2020 VOLUME 3 NÚMERO 3 9

TRAÇO
(Continuação da página 8)

em crescimento. Deveria ensinar aos nossos


jovens algo sobre o mundo exterior e sobre eles
próprios; não deve ser condescendente e, acima
de tudo, deve educar. O bom desenho deve ser,
afinal, democrático, ajudando as crianças a desen-
volver a ética, a estética e as suas múltiplas sensi-
bilidades.
Desenhar para as crianças deve ser ir além de
uma idealização pré-concebida, porque todas as
crianças são diferentes na forma e espírito e todas
merecem consideração pelas suas particularidades.
Desenhar para crianças é assim uma oportunidade
incrível para criar “lugares” de colaboração e parti-
cipação, indispensáveis ao crescimento de todos.
Desenhar espaços que digam aos mais novos: “este
lugar é para ti”; para que eles se sintam seguros e
confortáveis, bem-vindos e integrados. Se o conse-
guirmos fazer, as crianças talvez não se apercebam mudança e os novos equipamentos juvenis devem
do que é a boa arquitectura, mas esta falará para interiorizá-la nas suas actividades de apoio às acti-
elas e irá inspirá-las, ensinando-lhes que também vidades extra-curriculares, visando o desenvolvi-
fazem parte do ambiente colectivo. Ensinar às mento de competências desportivas, musicais,
crianças o valor do mundo que as envolve, desde artísticas, informáticas e outras. A cultura de hoje
pequena idade, irá certamente dar-lhes uma maior exige a penetração nas áreas da matemática, da
consciência de que melhorá-lo é um desafio para a pesquisa na internet enquanto ferramenta de
vida. E essa não é uma ambição “infantil”. conhecimento, de cidadania, de enquadramento
Escolas e centros de actividades começam a ser psicológico, de design, etc.
vistos como pequenas comunidades, espaços que Dando lugar à colaboração e às ideias, a arqui-
promovem a sua participação mas também o tectura para crianças pode tornar-se o suporte
envolvimento dos pais e professores. Mais do que destes importantes “tijolos” da comunidade,
equipamentos, trata-se de entender o seu valor ganhando mais significado para a vida das famílias e
cultural enquanto “farol”, fonte de orgulho para a de todas as pessoas.
comunidade e famílias e lugar inspirador para os
mais novos.
Um dos primeiros problemas que se colocam ao
projecto de um equipamento desta natureza é o
correcto equilíbrio com que se abordam os vários
níveis da sua concepção. Não importa apenas criar
um desenho de edifício visualmente atraente, mas
que não seja funcional ou prático. O edifício não
deve ser apenas um monumento de arquitectura,
exageradamente desenhado fazendo com que a
grande parte do investimento se perca no invólu-
Daniel Carrapa é arquitecto formado na Faculdade de Arqui-
cro exterior. Na verdade, tão importante como o tectura da Universidade Técnica de Lisboa em 1996. Tem obra
edifício físico são os conteúdos que nele se vão construída a título de co-autoria em Angra do Heroísmo, São
inscrever. A nossa época tem dramatizado a Miguel, Palmela, Loures e Sintra. Actualmente exerce as funções
de Técnico Superior na Câmara Municipal de Montemor-o-Novo
importância de reforçar o ensino experimental das onde se dedica às áreas de projecto e planeamento urbano. É
ciências, promovendo a cultura científica e tecno- autor do blogue A Barriga De Um Arquitecto que mantém desde
lógica. Esta preocupação reflecte o mundo em Dezembro de 2003 em abarrigadeumarquitecto.blogspot.com.

Imagens
Jardim-de-infância Popular, Cacém, Portugal

Arquitectos
Nadir Bonaccorso e Sónia Silva

Fotografias
Fernando Guerra
www.ultimasreportagens.com
REDE2020 VOLUME 3 NÚMERO 3 10

FÁBRICA

A problemática da fila indiana


Por um mistério insondável com que o destino, racial latente à expressão “fila indiana”. Para tal,
aqui e ali, faz questão de nos presentear, encon- e uma vez que já esmiucei, com alguma profundi- Pedro Chagas Freitas
trei-me, esta semana, a assistir a um concerto dade, o significado e origem da vertente indiana Fábrica de Escrita
dos tão famigerados DZR’T. Ora, este facto, da fila, é de premente importância apresentar,
para além de comprovar indelevelmente o enor- em traços genéricos, os restantes géneros deste
me poder que as drogas ditas “leves” exercem acto tão próprio dos humanos – embora, por
sobre o cérebro humano – retirando-lhe, na sua vezes, e segundo me foi confidenciado por Sabu-
quase totalidade, o discernimento –, fez com té Caxabé (um velho amigo de infância), o pró-
que eu me debruçasse, durante alguns curtos prio Bonga também o faça. Eis, então, uma breve
mas proveitosos segundos, sobre a problemática súmula das características dos principais tipos de
– está-se mesmo a ver – da fila indiana. fila:
Uma fila indiana é, como o leitor – por um • Fila africana – bastante semelhante à indiana,
motivo ou por outro – com certeza saberá, um apresentando, somente, uma diferença: o
grupo de criaturas colocadas umas atrás das espaço entre os vários integrantes é – por
outras. Contudo, e no caso de todas essas cria- razões evidentes a corpo e (embora desta
turas serem homens, uma fila indiana é – regra forma possa ser extremamente doloroso) a
geral – uma festa organizada pelo Cláudio olho nu – bastante maior. Em alguns pontos
Ramos. Há, obviamente, excepções a esta última do planeta este tipo de fila é também deno- “Agora,
regra. Uma fila indiana pode, em situações espo- minado de “Fila Alexandre Frota”.
rádicas – sempre que a casa do Cláudio Ramos
está em obras –, ser uma festa organizada pelo • Fila Branca – fila em que não é perceptível a infelizmente, vou
Joaquim Monchique. Mas, convém não deixar organização e o posicionamento dos seus
dúvidas neste ponto, com a presença do Cláudio constituintes, uma vez que estes se amon- ser obrigado,
Ramos. toam num ritual em que as palavras de
ordem são, entre outras, “Despacha lá isso,
Depois deste complexo preâmbulo, o leitor
palhaço” ou “esta merda não anda nem por
apressadamente,
estará, certamente, a reflectir de forma profun-
da sobre duas questões fundamentais: 1) a pou- nada”. Os locais mais emblemáticos deste
ca ou nenhuma influência que a lei da gravidade tipo de fila são, no nosso país, as já lendárias a despedir-me. Já
parece exercer sobre os seios da Marisa Cruz; Repartições de Finanças.
2) a escolha, sempre intrincada, do isqueiro que • Fila única – como o próprio nome indica, há quem faça fila
melhor sirva o objectivo de queimar esta folha trata-se de uma fila em estado puro, isenta
de jornal. Mas regressemos à fila indiana. Ou de variações. Esta é uma espécie cujo habi- para,
melhor, regresse o nobre leitor, se assim o tat natural se situa na Quinta da Marinha.
pretender – e se for seu desejo um dia perten- Poder-se-á falar em fila única quando, por incompreensivel-
cer ao jet-set português –, à fila indiana. Eu não exemplo, José Castelo Branco se encontra
sou dado, perdoem-me o conservadorismo sozinho no seu quarto. Outra variante lin-
exacerbado, a essas modernices. guística para esta vertente é, simplesmente, mente, me
Uma problemática bastante relacionada com “bicha”.
a da fila indiana, e que não poderia deixar de Espero, caríssimo leitor, que esta minha agredir de forma
abordar, é a da distinção de raça que nela está exaustiva exposição lhe possa ter sido útil. Ago-
implícita. Para a estudarmos de forma mais ra, infelizmente, vou ser obrigado, apressada- selvática”
aprofundada, nada melhor do que pesquisar a mente, a despedir-me. Já há quem faça fila para,
sua origem, recorrendo, para tal, a historiadores incompreensivelmente, me agredir de forma
completamente credíveis – e, admito, também selvática. O que não é, necessariamente, mau.
ao José Hermano Saraiva. Assim, constatamos Desde que – como é óbvio – não façam fila úni-
que esta denominação provém do facto de os ca.
índios, nos seus rituais e danças ancestrais, se
agruparem dessa forma, o que – e não sei como
nunca ninguém teve a coragem, até hoje, de o
dizer ao mundo – potencia a emergência de Pedro Chagas Freitas acredita reunir características que
duas conclusões que revolucionarão, de ora em lhe permitam, um dia, vir a ser chamado de humano.
diante, todos os estudos sociológicos que se Entretanto, vai exercendo actividades perfeitamente irrele-
venham (os estudos) a efectuar: 1) a homosse- vantes, todas elas relacionadas com a escrita. Há quem diga
xualidade não é, ao contrário do que muitos que estudou Linguística durante quatro anos. Há quem jure
advogam, um fenómeno recente e cuja génese a pés juntos que um dia o viu ser jornalista. Há, ainda,
se centrou no mundo ocidental; 2) a origem dos boatos que o dão como capaz de exercer funções criativas
escuteiros fica, desta forma, completamente e redactoriais em agências de publicidade. Até ao momen-
explicada. to, contudo, nenhuma das possibilidades foi devidamente
Ultrapassado o breve excurso que acabei de comprovada. Fontes próximas dão como certo somente
apresentar, é tempo de regressar à distinção um facto: não gosta de conduzir.
REDE2020 VOLUME 3 NÚMERO 3 11

ENSAIO

Avaliação das políticas públicas


de ciência e tecnologia
As políticas de ciência e tecnologia eixos de actuação e estes, por sua vez, Ana Paula Faria
(C&T) são particularmente importan- se traduzem em várias medidas. Este Universidade do Minho
tes para promover a inovação e a encruzilhado de políticas, programas,
competitividade. Este facto, tem se eixos e medidas impede, muitas vezes, Natália Barbosa
traduzido num número crescente de a avaliação do impacto económico das Universidade do Minho
programas públicos de apoio à inova- políticas públicas. Talvez por esta
ção privada na generalidade dos países razão as avaliações quantitativas efec- Vasco Eiriz
da OCDE e à integração de trabalha- tuadas tendam a privilegiar critérios de Universidade do Minho
dores com elevada formação académi- execução física (por exemplo, o núme-
ca e científica em meio empresarial. ro de empresas que beneficiaram do
Portugal não é excepção e vários pro- programa) e/ou execução financeira
gramas foram desenhados com o (por exemplo, o montante de financia-
objectivo último de promoverem o mento atribuído relativamente à dispo-
desenvolvimento e consolidação de nibilidade de fundos monetários à dis-
actividades de investigação e desenvol- posição), em detrimento de critérios
vimento (I&D) em instituições e que afiram se o objectivo económico
empresas de forma a impulsionar o ou outro foi efectivamente alcançado.
investimento empresarial com carácter Desta forma, a questão central na
inovador. avaliação do impacto económico de “A questão central
A avaliação quantitativa do impacto apoios públicos é saber o que teria
económico dessas políticas é, no acontecido caso o incentivo público na avaliação do
entanto, escassa. Essa escassez é notó- não fosse concedido. Por exemplo, no
ria se consideramos o número de pro- caso dos apoios à C&T, o impacto impacto
gramas existentes e a importância que económico que importa aferir refere-
lhes é atribuída por parte dos deciso- se ao investimento em I&D e inovação económico de
res público e privados. As políticas de gerado para além daquele que as insti-
C&T, tal como outras políticas públi- tuições ou empresas beneficiárias dos apoios públicos é
cas, necessitam de ser monitorizadas, apoios públicos habitualmente realiza-
avaliadas e, se necessário, ajustadas riam. Mais, na avaliação do impacto saber o que teria
aos resultados que visam alcançar. A económico das políticas de C&T é
questão da avaliação das políticas fundamental também considerar o acontecido caso o
públicas surge assim como uma impor- impacto induzido pelos apoios públi-
tante área de análise e investigação. A cos em termos de fomentar a capaci- incentivo público
comprová-lo estão os vários estudos dade de aprendizagem organizacional e
surgidos recentemente e que procu- novos comportamentos empresariais não fosse
ram avaliar, em particular, a eficácia baseados no conhecimento que permi-
concedido”
das políticas de C&T (veja-se, por tam o reforço consistente e duradou-
exemplo, Busom, 2002; Blanes e ro do esforço de investimento em
Busom, 2004; Goel, 2003; ou Czarnitz- I&D.
ki e Licht, 2006). A alteração de comportamentos e
A dificuldade da avaliação está na capacidade de aprendizagem não deve-
maioria dos casos associada à forma rá ficar restrito às instituições e
como as políticas são implementadas. empresas beneficiárias. Pelo contrário,
Para alcançar um determinado objecti- tal deverá disseminar-se por um
vo são normalmente definidos vários número alargado de empresas e insti-
programas que se subdividem em (Continua na página 12)
REDE2020 VOLUME 3 NÚMERO 3 12

ENSAIO
(Continuação da página 11) obtidos em investigações similares
realizadas para outros países.
tuições, nomeadamente através de Segundo, fornecerá um importante
efeitos de demonstração induzidos instrumento de avaliação aos deci-
pelas entidades beneficiárias. Esta sores, contribuindo para uma
avaliação é, no entanto, difícil de melhor aplicação e gestão dos pro-
implementar sob o ponto de vista gramas públicos de C&T e, conse-
metodológico, ao ponto da evidên- quentemente, reduzindo a falha de
cia empírica existente sobre o tema mercado na produção de nova tec-
revelar resultados contraditórios. nologias. Terceiro, permitirá com-
Tal como referem Klette et al. parar a importância relativa do
(2000), a qualidade da avaliação das impacto dos programas públicos ao
políticas de C&T depende muito da nível do esforço de investimento e
metodologia utilizada assim como ao nível de mudanças organizacio-
das características e qualidade dos nais e de capacidade de aprendiza-
dados disponíveis. gem induzidas pelo programa.
Em Portugal este tipo de estudo
é praticamente inexistente e, dado
Referências
que a maior parte do esforço priva-
do em I&D realizado no país é
Blanes, V.; Busom, I. (2004). "Who
financiado por fundos públicos, tor-
Participates in R&D Subsidy
na-se pertinente avaliar o impacto
Programs? The Case of Spanish
dos programas públicos de C&T na
Manufacturing Firms", Research
capacidade de inovação e competiti-
Policy, 33(10): 1459-1476.
vidade dos agentes envolvidos na
Busom, I. (2002). "An Empirical
produção de novo conhecimento,
Evaluation of the Effects of
nomeadamente empresas e univer-
R&D Subsidies", Economics of
sidades. Esse é o objectivo primário Ana Paula Faria é
Innovation and New Technol- professora de econo-
que nos propomos a alcançar com
ogy, 9(2): 111-148. mia da inovação e
um projecto de investigação sobre
Czarnitzki, D; Licht, G. (2006). microeconomia na
o impacto das políticas de C&T em
"Additionality of Public R&D Universidade do
Portugal. Em particular, o projecto Minho.
Grants in a Transition Econ-
procura avaliar o impacto económi-
omy: The Case of Eastern Ger-
co e a eficácia das políticas de C&T
many", Economics of Transi-
em Portugal, dando resposta às
tion, 14(1): 101-131.
seguintes questões: Qual o efeito
Goel, R. (2003). "R&D Subsidies
das políticas de C&T no esforço de Natália Barbosa é
and Uncertain Innovation: Do
I&D privada? Deste efeito, resulta professora de econo-
Small and Large Firms Respond
um aumento do esforço privado ou mia da empresa e
Differently to Subsidy econometria na Uni-
verifica-se uma situação de substi-
Changes?", In Hasan, I.; Hunter, versidade do Minho.
tuição? Qual o impacto da política
W., eds., Research in Banking
de C&T na produtividade das
and Finance, Volume 3, Am-
empresas? Qual o impacto da políti-
sterdam; London and New
ca de C&T na produtividade científi-
York: Elsevier Science: 347-
ca das universidades? Existem varia-
358.
ções regionais ou de outros tipos Vasco Eiriz é profes-
nestes resultados? Em que medida Klette, T, Moen, J. and Griliches, Z. sor de gestão estraté-
as relações universidade-indústria (2000). "Do Subsidies to Com- gica e empreendedo-
rismo na Universidade
contribuem para o aumento da ino- mercial R&D Reduce Market Fail- do Minho.
vação e difusão tecnológica?
ures? Microeconometric Evalua-
A evidência empírica decorrente
deste projecto será da maior rele- tion Studies", Research Policy, 29:
vância. Primeiro, tornará possível a 471-495.
comparação com os resultados
REDE2020 VOLUME 3 NÚMERO 3 13

REVISTAS

INTERNATIONAL SMALL BUSI- JOURNAL OF SMALL BUSINESS


SMALL BUSINESS ECONOMICS
NESS JOURNAL MANAGEMENT

The International Small Business The primary purpose of the Journal Small and medium-sized firms have
Journal is a truly global, multi- of Small Business Management become increasingly important in the
disciplinary forum for the dissemina- (JSBM) is to publish scholarly re- economic activities of both devel-
tion and discussion of research on search articles in the fields of small oped and developing nations. Small
the small business. The emphasis of business management and entrepre- Business Economics provides the
the journal is on high quality, re- neurship. As the official journal of central forum for the economic
search based studies which contrib- the International Council for Small analysis of the role of small business.
ute to theory, critical understanding Business (ICSB), the JSBM is recog- In particular, articles are welcomed
and policy formulation on small nized as a primary instrument for that focus on the links between firm
firms. Papers published in the ISBJ projecting and supporting the goals size and performance, the distinct
cover theoretical, methodological and objectives of this organization, roles of differently sized firms, how
and empirical studies of small firms which include scholarly research and and why firm behavior and strategy
from a broad range of disciplines and the free exchange of ideas. The jour- vary with size, the determinants of
perspectives. The emphasis is on nal, which is circulated in 60 coun- the formation, growth, and dissolu-
research excellence in the field of tries around the world, is a leader in tion of firms and the relationship
enquiry, as the journal endeavours the field of small business research. between firm size and innovation.
to provide a critical forum for world Small Business Economics is cross-
class contributions on the analysis of disciplinary and cross-national in its
small firms. This refereed journal is approach. High quality research is
of relevance to academics, policy published employing theoretical or
makers and analysts, in government quantitative analyses, along with
and business, seeking to understand contributions focusing on institutions
the sector, trade and business insti- and public policies, within both a
tutions, small business representative national and international context.
bodies and those in support agen-
cies.
REDE2020 VOLUME 3 NÚMERO 3 14

EMPRESA

Empreender em três actos


A partir da minha experiência de cerca de decepcionante e implicar custos que são mais
dez anos como promotora de uma pequena do que apenas emocionais. Por isso uma avalia- Elisabete Sá
empresa e dos contactos e colaboração que ção realista da ideia na fase do entusiasmo pode Bragacom
tenho mantido com outros empreendedores, ser muito útil. Como é muito difícil ser bom
é possível delinear um padrão no processo juíz em causa própria, este poderia ser o mais
de amadurecimento dos projectos de criação louvável papel das instituições de apoio ao
de novos negócios. Com maior ou menor empreendedor que, ao contrário, muitas vezes
intensidade, este processo desenvolve-se em alimentam o entusiasmo com promessas pouco
três fases: entusiasmo, decepção e realismo. responsáveis de facilidades.
Entusiasmo "Mas, se a minha ideia é tão genial, como
A fase do entusiasmo traduz-se num posso fracassar?" Qualquer livro de gestão
pressentimento: "Tenho uma ideia Genial!". poderia apresentar uma lista extensa de respos-
Todos os projectos empresariais partem de tas a esta questão. Convém ter bem presente
uma ideia. Quase todos os promotores con- que o mercado não se compadece com amado- “É possível
sideram que a sua é a mais genial de todas. rismos. Quem já está no negócio tem mais
Essa é a principal razão do entusiasmo, nem informação, mais experiência e para competir delinear um
sempre solidamente sustentado. com isso é necessário oferecer algo verdadeira-
Nesta fase deve fazer-se um teste à mente inovador, que seja valorizado pelo mer- padrão no
robustez da ideia. Pense: "Se a sua ideia é tão cado. De contrário o que temos é apenas o
boa, porque é que ninguém a teve antes?". resultado de um exercício de criatividade e os
processo de
Resposta provável: "sou um génio!". Pense clientes não estão dispostos a pagar por isso,
outra vez, quantos génios, merecedores des- amadurecimento
apenas compram alguma coisa que lhes resolva
se nome, conhece? Partindo do princípio de um problema.
que a sua ideia é mesmo genial, como é que dos projectos de
Realismo
ela o fará ganhar dinheiro? Resposta provável: "Não era bem esta a minha ideia, mas se é o
"uma boa ideia é sempre recompensada".
criação de novos
que o mercado quer...". Com sorte e algumas
A poesia é uma arte maravilhosa, mas em adaptações, a ideia sobrevive. É altura de olhar negócios. Com
negócios, fazem-se contas. Quando estiver para aspectos práticos: repense as estrutura de
no mercado, como é que a sua ideia vai com- custos e o mercado. maior ou menor
petir com outras ideias igualmente "geniais"? Por mais "genial" que seja a ideia, dificilmen-
Qual a sua vantagem? Resposta provável: te dará lucros no curto prazo. Cortar as despe- intensidade, este
"quando eu partilhar a minha ideia com o sas desnecessárias é a palavra de ordem. O
mundo, todos vão querer o que tenho para escritório na baixa da cidade, os carros de ser- processo
oferecer, porque eu sei que é o melhor". Há viço, os telemóveis de última geração, são mes-
já algum tempo que se sabe que é a terra que mo necessários? Qual a dimensão do valor com desenvolve-se em
gira em volta do sol e não o contrário. que cada uma dessas coisas contribui para a
Refrear o entusiasmo, fazer o papel do oferta da empresa? Evitar compromissos finan- três fases:
advogado do diabo e encontrar respostas ceiros demasiado exigentes pode permitir uma
alternativas para estas questões pode evitar a maior tranquilidade para manter a execução da entusiasmo,
fase de decepção. Contudo, este é um exer- ideia dentro da linha estratégica definida. Evi-
cício desafiador. O "nosso filho" é sempre o tam-se, assim, acções desesperadas que, prova- decepção e
mais bonito e não é fácil olharmos para a velmente, vão comprometer a empresa no
nossa criação e dizermos: "que criança feia longo prazo. realismo”
aqui tenho". O mundo lá fora tem muito para nos ensi-
Decepção nar, e é preciso estar atento aos sinais que o
Na fase da decepção faz-se o teste da mercado emite e incorporar essa informação
realidade. "Porque é que ninguém me avisou nas acções da empresa. Ter estratégia, saber
antes?". E reafirma-se: "Não quero saber … quais os objectivos a cumprir e não perder de
digam o que disserem, tenho mesmo a certe- vista os concorrentes pode ser tão importante
za de que a minha ideia é genial e vou imple- como ter uma ideia genial.
mentá-la!". Há quem faça história porque
teve coragem de fazer uma afirmação com
esta. Mas sejamos realistas, são mais as vezes Elisabete Sá é sócia da empresa Bragacom com actividade
em que esta frase é dada como culpada em na área das tecnologias de informação e comunicação, é
casos de mortalidade infantil dos projectos Mestre em Gestão de Empresas e colabora com a Universi-
dade do Minho e Universidade Católica Portuguesa como
de criação de empresas. docente convidada na área do marketing e gestão estratégi-
Na verdade, este teste pode ser duro e ca.
15

SOCIEDADE ANÓNIMA

Por Vasco Eiriz

Criação de empresas
O empreendedorismo está na moda. É Mesmo assim, as taxas de insucesso na excelência num deles não permite deficiên-
provavelmente o chavão de gestão que é criação de empresas são elevadas, funda- cia noutro qualquer.
actualmente mais utilizado. Uma das razões mentalmente devido a opções estratégicas Os resultados obtidos mostram clara-
porque isso acontece reside no seu amplo frágeis e a limitações na gestão operacional mente que os potenciais empreendedores
significado. Na verdade, o termo empreen- do negócio. Não é raro, por exemplo, que na fase final dos seus cursos universitários
dedorismo é utilizado com diferentes pro- muitos indivíduos que criam empresas não são excelentes em termos da originalidade
pósitos para significar coisas aparentemente equacionem devidamente a posição que e qualidade das suas ideias de negócio. É
tão distintas como, por exemplo, criar o querem alcançar no longo-prazo, definam certo que por vezes o excesso de originali-
próprio emprego ou criar algo através objectivos irrealistas, criem negócios em dade esconde utopias sem aderência à dura
duma inovação e mudança, frequentemente que a oferta não vai de encontro ao merca- realidade do mercado mas, em média, é
mas não necessariamente de natureza tec- do escolhido, ou descurem o planeamento este o critério em que existe melhor
nológica. Noutras circunstâncias, o financeiro e de recursos humanos. desempenho. Sem surpresa, onde existem
empreendedorismo refere-se a uma qual- Na disciplina de Empreendedorismo de maiores fragilidades é ao nível da gestão
quer actividade que possui determinadas que sou responsável na Universidade do dos recursos e do potencial de crescimento
características (por exemplo, o crescimen- Minho, ao longo dos últimos anos tenho do negócio. Gerir recursos é algo que
to das vendas) e resultados (por exemplo, avaliado largas dezenas de projectos de requer experiência, algo que o ensino tem
criar riqueza), ao lançamento de novos criação de empresas. Nessa avaliação aplico dificuldades em transmitir. Quanto ao
negócios ou à revitalização de empresas já seis critérios: probabilidade de sobrevivên- potencial de crescimento de um negócio,
existentes. Em todo o caso, o significado cia do negócio; seu potencial de resultados; cada vez mais os jovens empreendedores
que talvez seja mais popular refere-se à qualidade, originalidade e execução da ideia têm que ter os horizontes abertos. Já não é
criação de empresas. de negócio; mecanismos de protecção da possível nem desejável que o seu mercado
Porque é que muitos indivíduos sentem concorrência; gestão dos recursos; e se limite à sua rua, à sua cidade ou ao seu
necessidade de empreender, criando potencial de crescimento do negócio. Estes país.
empresas? Há, grosso modo, dois grandes critérios são todos eles importantes; a
tipos de incentivos à actividade empreende-
dora. Um deles é de natureza económica e
o outro é de natureza sócio-psicológica.
Entre os incentivos de natureza económica
encontramos factores como, por exemplo,
a propensão para criar riqueza, criar o
próprio emprego ou satisfazer uma necessi-
dade de mercado. Os factores de ordem
sócio-psicológica que incentivam os
empreendedores resultam geralmente da
sua vontade em serem autónomos, realiza-
rem-se pessoalmente associando a activida-
de empreendedora ao seu estilo de vida e,
não raras vezes, desenvolverem actividades
altruístas. Quais destes factores são mais
importantes? Todos eles são importantes e
tudo leva a crer que os empreendedores
melhor sucedidos são incentivados simulta-
neamente por factores económicos e
sócio-psicológicos. Estes incentivos comple-
mentam-se e permitem criar a energia
necessária para os empreendedores vence-
rem os desafios que se colocam a si pró-
prios.
Os empreendedores são geralmente
ambiciosos e procuram atingir os seus fins
com método e determinação, pensam no
longo prazo, questionam constantemente
formas de pensar e agir, têm uma profunda
orientação para o mercado, dão importân-
cia aos detalhes da implementação dos
projectos, e querem melhorar continua-
mente. São, em síntese, espíritos inquietos.
Rede2020 GESTÃO ▪ ESTRATÉGIA ▪ MARKETING
empreender.blogspot.com

Próximo número

Volume 3, Número 4, Julho-Agosto 2007


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