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Relatório de Observação Participante

1. Primeiros momento - Planejamento

As preparações para a entrega de cestas básicas começou logo após a realização um


evento de atividades lúdicas e sorteios para crianças da região, realizado na Escola Prof
Dásio José de Souza. Estudantes de Pedagogia e Administração da Faculdade de Candeias
comunicavam os seus colegas e conhecidos para que esses os pudessem ajudar na
logística de subir com uma kombi lotada de cestas básicas por esse local de difícil
locomoção, repleto de ladeiras íngremes e conhecido por ser perigoso, este conhecido
como "Boca da Mata". Uma vez que todos os estudantes se organizaram no espaçoso
veículo, logo se tornou apertado e pesado, principalmente por conta das mercadorias que
traziam. Foi dada então a partida.

2. Segundo momento - Espanto e Admiração

Quando subimos aquelas ladeiras que davam acesso a locais que não tinham poste de luz,
pavimentação e saneamento básico, começamos a refletir sobre as condições de vida
dessas pessoas, que em suas moradias se encontravam muito afastadas de serviços como
escolas, hospitais ou mercados. Algumas das alunas tinham conhecidos no local e trocaram
algumas palavras sobre não terem permissão para acessar determinados locais, pois esses
eram basicamente controlados por pessoas que estavam envolvidas no crime. Víamos
poucas pessoas nas ruas, mas as que víamos, ficavam um tanto quanto desconfiadas, pelo
menos até perceberem do que se tratava. Muitos se emocionavam, pois estavam
precisando de um quilo de açúcar, ou não tinham o que preparar para o jantar. Alguns
praticamente não tinham nada para comer em casa.

3. Terceiro momento - As entregas

Iniciamos então as entregas. Uma parte dos alunos descia da kombi carregando as
mercadorias enquanto normalmente uma dupla chamava o morador ou moradora para
receber os produtos. Quando essas pessoas de vestes humildes saiam de suas casas, que
muitas vezes estavam rodeadas de plantas, se alegavam imensamente pela gratidão
daqueles estudantes. Nas primeiras casas, os questionamentos embora existissem, não
eram tão presentes, mas foram se intensificando à medida que fomos subindo a ladeira e
fazendo as entregas.
Chegaram então a um ponto em que se sentiram na necessidade de explicar que não se
tratava de algum "agrado de político", mas sim de uma simples ação social promovida por
uma faculdade. Isso aparentemente tranquilizava as pessoas e nas palavras dos alunos era
mas por uma simples desconfiança política do que por algo em específico.

4. Momentos finais, diálogos sensibilizados

Já no anoitecer, quando estávamos preocupados com nossa segurança e precisando ir


embora, entramos numa rua onde aparentemente todos já sabiam o que estávamos fazendo
pela região, então já nos esperavam alegremente. Assim como em todas as outras
entregas, pedimos para tirar uma foto e conversamos um pouco, mas naquele momento nos
permitimos não sermos tão breves. Conversamos sobre as dificuldades vistas e percebemos
que existe uma tamanha solidariedade e cooperação entre os moradores, que até pediam
para que seus conhecidos pegassem as cestas básicas deles. Apareceram muitas, muitas
crianças que festejavam tanto quanto ou mais que os adultos e obedeciam as orientações
de seus pais de não ficarem pela rua.
Embora fosse um lugar marcado pela criminalidade, é um local muito mais marcado pela
pobreza material, pelo descaso público, pelo distanciamento da outra parte da cidade. As
pessoas que encontramos se ajudavam e entendiam as suas situações, por isso não se
apresentavam como inimigas, mas sim aliadas.

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