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VINÍCIUS PIRES DE CAMPOS DOS SANTOS

FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS – CIÊNCIAS SOCIAIS


PIBID - E.E. MARIA IZABEL SAMPAIO VIDAL

CADERNO DE CAMPO – 18/03/2023


Essa data constitui minha primeira ida à escola, devido à ausência na semana inicial,
por questões de saúde. Lia e eu chegamos exatamente no início da aula, por volta de 21:30
quando os estudantes voltam do intervalo. De cara, foi bem perceptível que a arquitetura da
escola é de ensino infantil e fundamental e não para ensino médio, ainda mais ensino médio
noturno. Diferentemente da escola anterior que frequentamos, o Antônio Reginato, onde
éramos recebidos sempre com algum tom de desconfiança, na escola Maria Izabel Sampaio
Vidal fomos rapidamente autorizados a entrar após nossa identificação e bem acolhidos pelas
pessoas que trabalhavam na gestão da instituição. Assim que entramos no pátio percebemos
todos os alunos ainda presentes fora das sala. Fomos informados que houve uma extensão do
intervalo, com objetivo de propiciar alguns minutos a mais de sociabilidade e tempo
significativo entre os estudantes. Dados os números expressivos de evasão escolar que o
Brasil detém, acredito que estratégias como essas deveriam ser mais frequentes, inclusive
sendo pensada como parte da experiência escolar dos jovens. Muitos anos de aulas
expositivas maçantes podem deturpar a experiência de aprendizagem, tão diversa e criativa.
Pelos olhares e movimentações, percebi que minha presença como “estrangeiro” foi
notada. Como tenho uma idade mais próxima dos estudantes do que dos professores da
escola, normalmente sou visto como mais um deles, o que confesso, me parece bastante
curioso. Desde de que entrei até antes de irmos para a sala de aula, ficamos Lia e eu
próximos a quadra de vôlei observando a movimentação dos estudantes. Havia música e
jogos coletivos acontecendo simultaneamente. Vi casais e grupinhos de amigos também. O
contingente de estudantes no geral era pequeno, abaixo da capacidade da escola (que já é
pequena). Percebi que isso influenciou significativamente no andamento da aula, pois com
menos pessoas em sala, os estudantes acabam prestando mais atenção nas aulas e interagindo
com o professor, sendo bem menos as interferência que atrapalham e mais comum interações
interessadas. Claro, há evidentemente a capacidade do professor Breno de expor o conteúdo
a partir de uma lógica de jogo de RPG, com uma narrativa sobre a história das invasões
germânicas na europa, o declínio de roma, início do feudalismo e transição do mesmo para o
mercantilismo/capitalismo. Notadamente o itinerário, que é sobre “Diálogos acerca dos
direitos humanos” abre espaço para discussão da Teoria do Estado e seus desdobramentos
em direitos humanos, civis, políticos, etc. por via dos filósofos contratualistas, exatamente
como o professor responsável têm abordado. Sobre a sala de aula: de forma geral achei os
estudantes bem participativos, com exceção de 2 alunos que estavam interagindo com o
celular. Eu havia iniciado o conteúdo na lousa pra ir adiantando, já que havíamos chegado
faltando 1 hora pro fim, porém a tinta de canetão acabou e ficou faltando um dos autores.
Decidimos, por isso, levar impresso um esquema com resumo dos autores, bem como o
desdobramento para sua concepção de Estado, até chegar nos movimentos sociais e depois
utilizarmos os materiais do “PreparaSP” para os estudantes se prepararem para o vestibular.
Estando lá em campo, tentei observar uma questão que venho refletindo sobre, inclusive em
âmbito pessoal, que um é a relação estudante-celular, bem como o nível de foco e atenção
que eles conseguem desprender para o conteúdo científico que está sendo apresentado na
aula. Surpreendentemente essa turma tinha muito menos hábito de usar o celular, com
exceção dos 2 estudantes que já havia mencionado, quase ninguém esteve “pendurado no
telefone”. Claro que isso não isenta os alunos de dispersar ou conversar paralelamente, às
vezes sobre outras coisas, às vezes sobre o conteúdo da aula. Não sei se há uma relação, no
comparativo com o Reginato, com disponibilidade de internet ou alguma falta de estrutura
física para isso, só sei que nessa aula houve uma nível alto de atenção para com a explanação
do conteúdo. Lia e Eu não fizemos falas, porém me apresentei antes de passar o material na
lousa e ao fim da aula os estudantes pediram para que eu me apresentasse, falasse de mim, de
onde eu era, o que eu fazia etc. etc. Achei genuína a curiosidade, já que era primeira vez que
eu aparecia naquele contexto. Falei brevemente de mim e depois interagi com os estudantes
mostrando uma das tatuagens que eles haviam perguntado sobre.
Talvez por se localizar em um distrito de Marília, os moradores de Padre Nóbrega,
especialmente a juventude, que anseia conhecer as possibilidades do mundo, devem sentir
consideravelmente uma carência, bem como necessidade de diversos acessos, tanto
materiais, quanto simbólicos, culturais, educacionais e artísticos. Acredito que a atuação do
PIBID nessa escola em particular tem bastante a acrescentar na realidade dos que estudam e
trabalham ali. Nossa interação propicia caminhos para uma melhora da compreensão dos
conteúdos, da necessidade de dominar os conceitos sociológicos com viés metodológico
histórico-crítico, para aqueles que se encontram em situação de vulnerabilidade e abandono,
por parte do poder público e das políticas provenientes da concepção neoliberal atualmente
vigente no Estado brasileiro.

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