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PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA

KARINE CONCEIÇÃO DE OLIVEIRA

ARRANJO INSTITUCIONAL CONTRATO DE GESTÃO: A POLÍTICA


PÚBLICA DOS CENTROS PÚBLICOS DE ECONOMIA SOLIDÁRIA
NO TERRITÓRIO BACIA D JACUÍPE/BA

Salvador-BA

2018
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KARINE CONCEIÇÃO DE OLIVEIRA

A POLÍTICA PÚBLICA DOS CENTROS PÚBLICOS DE ECONOMIA


SOLIDÁRIA NO TERRITÓRIO BACIA DO JACUÍPE/BA

Trabalho de Conclusão de Curso, sob a forma de


Artigo Científico, apresentado a Universidade
Candido Mendes (UCAM), como requisito obrigatório
para a conclusão do curso de Pós-graduação Lato
Sensu em Gestão Pública

Salvador-BA

2018
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ARRANJO INSTITUCIONAL CONTRATO DE GESTÃO: A POLÍTICA


PÚBLICA DOS CENTROS PÚBLICOS DE ECONOMIA SOLIDÁRIA
NO TERRITÓRIO BACIA DO JACUÍPE/BA

1
Karine Conceição de Oliveira

RESUMO

Este artigo tem por objetivo contribuir para o debate sobre a avaliação das políticas públicas de
economia solidária no âmbito estadual, tendo como objeto de análise o arranjo institucional contrato
de gestão na implantação e manutenção dos Centros Púbicos de Economia Solidária. O estudo
proposto é do tipo estudo de caso, e para tanto foi realizada pesquisa documental e bibliográfica com
o fito de buscar elementos qualitativo e quantitativo que pudessem responder a questão norteadora
da investigação. Tem como principais referencias teóricos os autores e pesquisadores da economia
solidária e da gestão pública. No campo da política púbica a investigação se justifica, inicialmente,
pela ausência de literatura sobre avaliação da utilização do Instrumento Contrato de Gestão na área
do trabalho, e pela possibilidade de sistematização desta inovação tecnológica. Na arena da gestão
pública experiências inovadoras precisam de disseminação quando estas apresentam possibilidades
de êxito e de serem replicadas em outras iniciativas de semelhante necessidade e envergadura.

Palavras - chave: Política Pública; Contrato de Gestão; Economia Solidária; Território.

INTRODUÇÃO

O presente artigo tem por objetivo verificar a aplicação do modelo institucional


de Contrato de Gestão com Organizações Sociais na implantação e manutenção do
Centro Público de Economia Solidária no Território Bacia do Jacuípe.

A primeira publicização do serviço de assistência técnica socioprodutiva a


empreendimentos de economia solidária ocorreu em setembro de 2012 e teve por
objetivo a manutenção da ação dos Centros Públicos de Economia Solidária iniciada
em dezembro de 2008. O referido serviço foi apresentado no Programa Vida Melhor:
mais renda para quem mais precisa, do governo do Estado da Bahia, estando este
último alinhado com o programa Brasil Sem Miséria, do Governo Federal.

No contexto federal, assim como no estadual, surgiam Politicas Públicas- PP


de enfrentamento a pobreza e superação da miséria e a economia solidária se

1
Graduada em Secretariado Executivo pela Universidade Federal da Bahia em 2005. Atua como
coordenadora na Superintendência de Economia Solidária - Sesol da Secretaria do Trabalho,
Emprego, Rena e Esporte da Bahia - Setre desde 2007.
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apresentava como uma alternativa viável de promoção de PP com este objetivo,


muito em função dos seus princípios em práticas.

A política pública de economia solidária da Bahia teve início em 2007, com a


criação da Superintendência de Economia Solidária - Sesol, no âmbito da Secretaria
do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte – Setre, quando da reforma administrativa
feita pelo então governador eleito Jaques Wagner. O Programa Bahia Solidária,
ação integrante do Planejamento Plurianual - PPA 2008-2011, se constituiu como
uma das estratégias de desenvolvimento socioeconômico que tinha como objetivo a
promoção de ações de inclusão econômica através do apoio das iniciativas de
economia solidária, identificadas no mapeamento realizado pela Secretaria Nacional
de Economia Solidária - Senaes. Dentre as diversas ações do Programa, a
implantação e manutenção dos Centros Públicos de Economia Solidária - Cesol, se
tornaria posteriormente a principal frente de atuação da Sesol.

Os Centros Públicos de Economia Solidária - Cesol são estruturas


multifuncionais de atendimento a empreendimentos econômicos solidários,
concebidos inicialmente para atender pontualmente às demandas destes
empreendimentos, e para tanto dispunham de um quadro de funcionários
qualificados para prestar consultorias nas áreas: jurídica, administrativa/gestão,
contábil, melhoramento de produtos e formação e sensibilização em economia
solidária.

As primeiras experiências de implantação dos Cesols se deram de forma


direta, sendo o Estado responsável pela estrutura física (imóvel, móveis e
equipamentos), pessoal (contratação sob Regime Especial de Direito Administrativo
– REDA), veículo e diárias do corpo técnico, quando em viagens de atendimentos
aos grupos. Nesta modalidade foram implantados o Cesol estadual e 02 (dois)
Cesols territoriais.

Após quatro anos de execução da política, e, portanto, momento de avaliação


do PPA e elaboração do novo documento, e, tendo os limites para execução da
ação se evidenciando, sobretudo, na impossibilidade de verificar junto ao publico
beneficiário os impactos das consultorias prestadas pelos Cesols, na dificuldade de
mensuração destas ações pontuais de modo a perceber se estas cumpriam ou não
com os objetivos do programa e, somando-se a tudo isto, na descontinuidade da
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ação em função da conclusão dos contratos das equipes, visto que os contratos
REDA expiraram, a Superintendência de Economia Solidária optou por manter a
ação, mas utilizando – se do instrumento contrato de gestão.

O contrato de gestão, amparado pela Lei Estadual nº. 8.647, de 29 de julho de


2003, Decretos nº. 8.890, de 21 de janeiro de 2004, e nº. 9.588 de 11 de outubro de 2005 se
configura como a transferência da gestão de um serviço público para uma
organização da sociedade civil qualificada como Organização Social. Com este
instrumento jurídico a gestão pública mantem o controle do serviço, através de
indicadores de eficiência e efetividade, enquanto a Organização faz a gestão
financeira e dos serviços pactuados contratualmente.

Para esta nova modalidade de execução a Sesol desenvolveu nova


metodologia de atendimento, tendo como princípio básico de prática a Assistência
Técnica Rural – ATER, adaptando-a para os empreendimentos urbanos, criando
onze serviços e publicizando-os através do primeiro edital de prestação dos serviços
de assistência técnica socioprodutiva a empreendimentos de economia Solidária.
Foram assinados oito contratos para a gestão de oito Centros Públicos de Economia
Solidaria, distribuídos nos seguintes territórios:

Tabela 1 – Territórios de identidade

Fonte: SEPLAN 2007


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Por se tratar de uma modalidade nova de execução nunca experimentada na


área do trabalho, embora as ações de economia solidária já utilizassem a lei de
contratos e licitações do Estado, a utilização da lei de contratos de gestão para um
objeto de natureza subjetiva é inédita, não havendo até o momento muitos estudos
sobre a utilização do arranjo.

Partindo da constatação de que o Contrato de Gestão é um arranjo


institucional criado para possibilitar maior agilidade à efetivação das políticas
públicas da área da saúde, especialmente na gestão dos hospitais públicos, chegou-
se a questão impulsionadora deste estudo de caso: poderia o arranjo institucional
Contrato de Gestão ser utilizado para a efetivação das políticas públicas de
economia solidária? Assim, a pesquisa teve por objetivo avaliar a aplicação do
modelo institucional de Contrato de Gestão com Organizações Sociais na
implantação e manutenção dos Centros Públicos de Economia Solidária.

Desse modo, o presente artigo busca trazer para o debate da gestão pública
a utilização do arranjo institucional Contrato de Gestão na execução da Política
Pública de Economia Solidária, estabelecendo como recorte desta ação pública os
Cesols e delimitando como espaço de campo o Cesol do Território Bacia do
Jacuípe/BA.

O artigo está dividido em cinco partes, que busca de forma sintética explicar o
contrato de gestão, seguindo para a apresentação teórica da economia solidária,
prosseguindo para a definição da política de territorialização e sua consequência na
ação territorial da politica pública de economia solidária já apresentando o Cesol
Bacia do Jacuípe, finalizando com os achados da pesquisa.

O CONTRATO DE GESTÃO

Modalidade de execução inaugurada no Brasil na Reforma do Estado, o


Contrato de Gestão - instrumento que regula a relação entre a organização social e
o Estado, com vistas à formalização de parceria - se caracteriza pelo repasse da
função pública de executor ou prestador direto de serviços para regulador, provedor
ou promotor destes, às organizações da sociedade civil qualificadas como
Organizações Sociais - OS.
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Este instrumento que parece um híbrido de contrato com convênio, tem como
principal beneficio a adoção de modelo gerencial flexível e autônomo de
administração em que a Organização Social obedece aos princípios e diretrizes do
Estado, observando as políticas públicas para o qual foi contratado.

De acordo com a lei que regula os contratos de gestão, entende-se como


Organização Social - OS qualquer entidade jurídica de direito privado, sem fins
lucrativos, que, mediante qualificação e contrato de gestão celebrado com o Poder
Público, passa a gerenciar atividades/serviços de interesse público no âmbito do
Programa Estadual de Organizações Sociais.

O modelo de organizações sociais, no Estado da Bahia, instituído em 1997,


através da Lei nº. 7.027, que foi alterada pela Lei nº. 8.647/2003 e pelo Decreto
Estadual nº 8.890/04 objetiva a publicização de serviços/atividades não exclusivos,
baseado no pressuposto de que esses serviços ganharão em qualidade, serão
otimizados mediante menor utilização de recursos, com ênfase nos resultados, de
forma mais flexível e orientados para o cliente-cidadão mediante controle social
(SAEB, 2004).

OUTRA ECONOMIA ACONTECE

Em uma simples consulta em sites de pesquisa é possível, a partir de um


conhecimento prévio sobre o sistema capitalista, perceber que este passa por mais
uma crise. Tal crise contribui efetivamente para o aumento das desigualdades
sociais e da pobreza sistêmica, não só nos países tidos como subdesenvolvidos,
mas também naqueles que figuram historicamente como os desenvolvidos. Partindo
dessa premissa, é possível dizer que o a economia mundial passa por um grave
período de refração e necessidade de readaptação (extinção ou substituição) do
modelo.

Somam-se à crise citada as grandes transformações tecnológicas ocorridas


neste inicio de milênio e as mudanças no padrão produtivo das empresas –
terceirização, fragmentação da produção, facção dos processos de produção -
sendo estes, portanto, fatores importantes a serem considerados na discussão do
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processo de falência da economia tradicional e as novas/antigas formas econômicas


que se apresentam como alternativas ao modelo dominante.

Ao apresentar propositadamente a dicotomia “novas/antigas” práticas sociais,


busca-se neste estudo o não comprometimento do surgimento da economia
solidária2 com o movimento operário europeu, sobretudo na passagem do século
XVIII para o século XIX, uma vez que é sabido que as práticas solidárias são
milenárias e seus relatos e achados históricos encontrados nas tradições dos povos
africanos, asiáticos e da América pré-colombiana. Dito isto, o fato é que nem o
mercado, nem o Estado vêm se mostrando eficientes em tratar das questões
relacionadas às desigualdades sociais repetidamente postas na agenda mundial
como questões urgentes a serem resolvidas.

Luiza Teixeira (2007, p. 2), em análise dos estudos da Superintendência de


Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (2004) afirmou em seu trabalho que “o
crescente desemprego e as transformações na qualidade do trabalho, marcas da era
global, têm deslocado, cada vez mais, parte dos indivíduo para formas alternativas
de ocupação”, acrescento, no entanto, que a retomada das práticas coletivas de
produção é, nesse sentido, uma alternativa de ocupação e geração de renda.

Definir economia solidária ainda é um ponto de tensionamento entre os


diversos pesquisadores que hoje se debruçam nos estudos deste fenômeno social.
E por não ser este um ponto de consenso, aqui busca-se dialogar com a
convergência, ou seja, a característica presente em todos os conceitos: a
solidariedade em substituto ao individualismo.

Singer (2000) França (1999), e Coraggio (2000), sintetizam a economia


solidária como o conjunto de práticas econômicas sociais baseadas na
solidariedade, coletividade e autogestão, que nas franjas do capitalismo, se
apresenta como uma alternativa de trabalho e renda para uma parcela significativa
da sociedade que se encontra excluída do emprego formal.

Semelhantemente, Sandroni (2005, p. 276), a define como “denominação


dada a um conjunto de atividades que representam uma reação contra a tendência

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A expressão economia solidária foi inventada somente na última década do século XX. In LAVILLE,
Jean-Louis; GAIGER, Luiz Inácio (2009). Economia Solidária. In. CATTANI, A.D. et al.
(coord.) Dicionário Internacional da Outra Economia. Coimbra: Almedina. p. 162-168.
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estrutural do capitalismo de desempregar, excluir, empobrecer, proporcionando aos


marginalizados a gerência democrática de seus próprios empreendimentos quando
eles se associam para produzir, comprar, vender ou consumir”. Para Sandroni, a
unidade da economia solidária é a cooperativa.

Como forma de esquivar o presente estudo do romantismo comumente


atribuído às diversas definições e princípios da economia solidária (utópico sim,
romântico não), é importante salientar que a solidariedade não é o único ponto de
união entre as pessoas constituintes dos grupos denominados empreendimentos de
economia solidária, e que não seja este o único ou isoladamente o fomentador
destes grupos. Como lembra Kraychete (2004) “convém insistir que não se trata de
idealizar os empreendimentos da economia solidária como se fossem regidos por
valores e práticas assentados exclusivamente em relações de solidariedade, e que
estas se constituiriam na motivação determinante dos seus integrantes para a
organização e gestão desses empreendimentos”, ele segue dizendo:

Os seres humanos não são movidos apenas por necessidades, mas


também por desejos. E podem encontrar motivos para a cooperação,
mesmo quando buscam o autointeresse. A suposição restrita e
simplificadora de que os empreendimentos da economia popular
solidária assentam-se num único princípio motivador e organizador
gera a ilusão sedutora de aparentes soluções perfeitas, mas
frustrantes, transformando paisagens socialmente vivas e factíveis
em miragens (KRAYCHETE, 2007, p. 3).

É importante pontuar que a economia solidária, além da dimensão


econômica, possui a dimensão social, sendo ela convergente com os direitos sociais
que precisam ser garantidos pelo Estado, coadunando com as dimensões utilizadas
para o pensar/fazer a política de desenvolvimento territorial. Fundamentada nas
relações de cooperação, colaboração e solidariedade, a economia solidária
dissemina valores culturais que colocam o ser humano como sujeito e razão das
atividades econômicas, estando, na contracultura hegemônica do consumo,
concentração/acumulação de renda e possui como diretrizes a divisão justa dos
frutos do trabalho, a ampla participação da sociedade civil e a sustentabilidade
social, econômica e ambiental (SINGER, 2000).
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TERRITÓRIOS DE IDENTIDADE BACIA DO JACUÍPE

A política de divisão do estado em Territórios de Identidade 3, com o nome


inicial de Territórios de Cidadania, teve inicio em 2003, na gestão do Presidente
Lula. Tinha por objetivo principal reunir atores públicos e da sociedade civil para
discutirem coletivamente ações e programas púbicos que pudessem contribuir para
o desenvolvimento local. Capitaneado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário,
através da Secretaria de Desenvolvimento Territorial.

Localizado na região do sertão baiano, o Território Bacia Do Jacuípe - BA é


composto por 14 municípios: Baixa Grande 8; Capela do Alto Alegre Gavião 10, Ipirá
1, Mairi, Nova Fátima, Pé de Serra, Pintadas 7, Quixabeira, Riachão do Jacuípe,
São José do Jacuípe, Serra Preta, Várzea da Roça e Várzea do Poço. Cidades que
apresentam características dominantemente rurais.

Segundo dados do IBGE (2010) 55% da população vive no campo tendo


predominância das atividades agrícolas na cultura do feijão, farinha, carne, leite,
sendo a produção destinada, quase que em sua totalidade, ao auto consumo.

O Centro Público de Economia Solidária Bacia do Jacuípe é executado pela


Organização Social Rede Pintadas, vencedora do primeiro certame realizado em
2012, tendo atendido até o final do contrato 188 empreendimentos econômicos
solidários.

CESOL BACIA DO JACUÍPE

Longe de querer apresentar os resultados dos serviços prestados pelo Cesol


em análise, visto que para tal seria necessário à elaboração de indicadores que
pudessem abarcar os resultados quantitativos e qualitativos da ação. A pesquisa
tentou, a partir das leituras dos relatórios de prestação de contas do Contrato de
Gestão do Cesol Bacia do Jacuípe, apresentados à Setre pela executora, levantar
informações sobre o cumprimento das metas pactuadas e o alcance dos serviços.

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Território de Identidade é conceituado como um espaço físico, geograficamente definido, geralmente
contínuo, caracterizado por critérios multidimensionais, tais como o ambiente, a economia, a
sociedade, acultura, a política e as instituições, e uma população com grupos sociais relativamente
distintos, que se relacionam interna e externamente por meio de processos específicos, onde se pode
distinguir um ou mais elementos que indicam identidade, coesão social, cultural e territorial.
(SEPLAN-BA/2011)
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A partir desse levantamento de informações foi possível perceber o


comportamento da contratada ao executar o contrato de gestão e quais as
dificuldades encontradas no período. É necessário pontuar que o pagamento das
parcelas do contrato foram liberadas trimestralmente, obedecendo aos critérios
definidos pela lei de Organizações Sociais e pelo Termo de Referência da licitação.
De acordo com o contrato o pagamento integral da parcela subsequente à prestação
de contas trimestral está vinculado ao cumprimento de pelo menos 90% dos pontos
disponíveis, com descontos progressivos quando abaixo de 89% de alcance, com o
limite de até 50% de desconto.

O contrato do CESOL Bacia do Jacuípe foi publicado em 2012, passando por


processo de renovação e consequente revisão de metas em 2015. Para maior
compreensão, os serviços estão apresentados em tópicos com os respectivos
achados.

 Diagnósticos de contexto realizados – contemplou levantamento de dados


primários e secundários, coleta empírica de informações, estudo de
informações relevantes do território e dos fenômeno associativo encontrados.
Para tanto, foram utilizadas fontes oficiais de dados secundários e visitas aos
empreendimentos encontrados.
O serviço prescrito em edital era a entrega de uma diagnostico socioprodutivo
da região com as informações dos empreendimentos mapeados. Desse
modo, a executora cumpriu com a referida meta. conseguiu alcançar a
totalidade da meta estabelecida nos anos relacionados, 2013 a 2016,
conformando 4 diagnósticos.

 Oficinas temáticas realizadas – eventos de caráter formativo com temáticas


variadas detectadas quando do mapeamento. A oficinas eram também, uma
forma de aproximação da equipe do Cesol com o público beneficiário.
A meta prevista era a realização de 4 oficinas temáticas por ano, totalizando
16 oficinas para os quatro anos de contrato. Entre 2013 e 2016, foram
realizadas 27 oficinas, com a presença de mais de 800 participantes. Muito
mais do que o pactuado.
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 Estudos de Viabilidade Econômica (EVE) – Estudo realizado junto aos


empreendimentos atendidos, com o objetivo de nortear as ações da equipe
para encontra o ponto de sustentabilidade do grupo e construção posterior de
um plano de ação para atingir tal intento. A metodologia utilizada foi a da
Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares - ITCP da Universidade
Católica de Salvador – Ucsal, desenvolvida pelo Prof. Gabriel Kraychete.
A meta a ser alcançada era da elaboração de 18 EVEs por trimestres (exceto
o primeiro), de forma cumulativa, chegando ao final do primeiro biênio a 126,
na renovação a meta sofreu o incremento de 31 empreendimentos, chegando
ao final do contrato ao quantitativo de 196, ultrapassando a, alcançando
125% de estudos realizados.

 Empreendimentos associativos com assistência gerencial e sócio – a


partir dos EVEs foram elaborados os planos de ação, estes foram
sistematizados e organizados de modo a fornecer a equipe do Cesol os
elementos necessários para a definição das assistências realizadas. Tratam-
se os serviços da essência da publicização, sendo esta a “pedra de toque” da
atuação do Cesol. A meta prevista era o atendimento de 36 empreendimentos
no ano 1 e 108, no ano 2. Com a renovação do contrato foram adicionados 31
empreendimentos a carteira ativa do Cesol o que totalizaria 175, entretanto, a
contratada apesentou, conforme relatórios observados, o atendimento a 188
grupos.

 Empreendimentos capacitados – serviço destinado a oferta de consultorias


específicas aos empreendimentos, mais uma vez tendo por base os planos
de ação elaborados a partir dos EVEs. A meta prevista em edital foi da oferta
do serviço a 36 empreendimentos por trimestre, com a capacidade de atender
até o final do contrato a totalidade da carteira ativa. Para esta ação a
contratada buscou parcerias importantes e que desoneraram, a princípio, o
contrato, demonstrando, assim, eficiência na gestão do recurso. O Cesol
capacitou 188 empreendimentos, alcançando mais de 100% da meta
estabelecida.
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 Empreendimentos orientados para acesso ao crédito – meta destinada a


orientação de linhas de crédito adequadas às necessidades do
empreendimento identificadas no plano de ação. O Cesol deveria prestar o
serviço a totalidade da carteira ativa, distribuindo-o trimestralmente ao longo
do contrato. Relatou a contratada que apresentou as linhas de créditos
disponíveis a 188 empreendimentos. Meta superada.

 Empreendimentos encaminhados para as agências de microcrédito e


Empreendimentos que acessaram microcrédito – Trata-se de uma meta
condicionada, visto que a tomada do credito era uma decisão exclusiva do
empreendimento. Ainda que tenham sido orientados, relatou a contratada que
os grupos não quiseram o comprometimento do crédito.
 Empreendimentos assistidos pela assistência em comercialização –
Trata-se esta da ultima etapa da assistência do Cesol, visto que é na
comercialização que o empreendimento pode chegar a sustentabilidade
financeira almejada. Para esta finalidade, deviria a contratada dispor de um
espaço de formação em comercialização, denominado “espaço solidário”,
nele os empreendimentos atendidos experimentariam as práticas da
comercialização e sairia do Cesol preparado para enfrentar o mercado. Para
o cumprimento da meta a contratada organizou um espaço de
comercialização na sede do Cesol, entretanto, por se tratar de um bairro
residencial e com pouca circulação de pessoal, a OS buscou parcerias nos
municípios do território, chegando a disponibilizar 3 lojas, participar de feiras
livres e por fim, realizou a caravana solidária que percorreu todos os
municípios do território. Mais uma vez foram atendidos 188 empreendimentos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das análises dos documentos disponibilizados pela Superintendência


de Economia Solidária – Sesol, foi possível constatar que os instrumentos de
acompanhamento e monitoramento demonstram fragilidades para mensuração
efetiva dos serviços publicizados pela Setre, visto que estes não conseguem
capturar e traduzir nos relatórios os ganhos subjetivos e imateriais da ação, sendo
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estes fundamentais para a completude da observação dos impactos provenientes


das ações norteadas pelos princípios da economia solidária. Entretanto, entende-se
que são os únicos instrumentos ofertados pela Secretaria de Administração da Bahia
– SAEB, gestora do programa de Gestão.

O acompanhamento da ação se dá através das visitas realizadas pela


Comissão de Monitoramento e Avaliação, da análise de relatórios de execução
físico-financeira encaminhados pelas Organizações Sociais. Sendo as reuniões do
Conselho de Organizações Sociais a instância deliberativa do Estado. Há, ainda, o
controle e a auditoria realizadas pelo Tribunal de Contas do Estado e o Conselho
Estadual de Economia Solidária, este último, informado sobre as ações quando
solicitado.

Quanto à gestão financeira, a partir da análise dos relatórios financeiros, foi


possível constatar que a contratada demonstrou capacidade de gestão. Neste item,
é importante ressaltar que a contratante não cumpriu com os prazos de pagamento
contratualmente estabelecidos, chegando a acumular atrasos da ordem de 11
meses. Relatou a contratada que conseguiu manter os serviços em funcionamento
em função das parcerias estabelecidas ao longo da execução do contrato, o que
possibilitou um saldo que foi consumido durante os meses de atraso.

É importante retomar mais uma vez aos instrumentos de monitoramento e


acompanhamento, quais sejam: relatórios de prestação de contas e relatórios
técnicos, não sendo estes passíveis de absorverem dados e informações
qualitativas. Desse modo, não foi possível verificar a qualidade dos serviços
prestados quando dos atrasos dos repasses dos recursos.

Por força contratual, a contratada é obrigada e realizar pesquisa de satisfação


junto aos beneficiários, e disponibilizar o numero da ouvidoria geral do estado. Nas
sínteses das pesquisas de satisfação não foi possível observar a qualidade dos
serviços prestados, apenas mediu-se o grau de satisfação, sendo este excelente,
não havendo intercorrências justo a ouvidoria.

Assim, foi possível verificar que a utilização do instrumento contrato de gestão


na implantação e manutenção do Cesol Bacia do Jacuípe se mostrou exequível,
considerando a complexidade das metas pactuadas, o ineditismo da ação e os
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sucessivos atrasos no repasse das parcelas, constatados nos extratos bancários


examinados. No entanto, por ser esta uma experiência sem precedentes no campo
da gestão pública, a avaliação da qualidade dos serviços prestados, bem como a
mensuração efetiva dos impactos gerados pela política carece de mais tempo e
investigação, não sendo, portanto, em tão curto prazo verificar suas potencialidades.

Por fim, a análise documental realizada possibilitou chegar à conclusão que:


o Cesol desenvolve ações importantes, do ponto de vista da formação gerencial
continuada dos empreendimentos; que o mesmo assume o papel de interlocutor e
articulador de ações públicas dentro do território; que se tornou referência na
interlocução da sociedade civil com os demais agentes e atores local; que
possibilitou a disseminação das práticas da economia solidária; que representa um
importante fomentador da comercialização dos produtos dos empreendimentos, seja
no mercado convencional o nas compras institucionais; e que assumiu o
protagonismo na representação dos empreendimentos de economia solidária nos
municípios da sua área de abrangência.

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