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Negra Mãe Ou

O Céu Em Preto e
Branco.
Nelcy Moura
TEXTO EM OFF

ATOR:
(gargalhada com som de cacos) Vamos sair logo.
ATRIZ:
É seu filho?
ATOR:
Eu sempre deixo o Gabrielzinho com ela, ele já está acostumado.
Só ela que fica o tempo todo que ela tem disponível com ele.
(fala entrecortada por barulhos)
Ele é o meu amor verdadeiro.
Só estou com ela pelo possessivo amor que ela tem por mim.
Trata meu filho como se fosse dela.
Diga pra mim, que mulher em sã consciência cuidaria de uma criança que vive em
estado vegetativo;
Só amando mesmo.
ATRIZ:
Como você é mau, coitada.
ATOR:
Pegou tudo?
ATRIZ:
Sim!
ATOR:
Então vamos.
NO PALCO, UMA CADEIRA DE RODAS E UM BONECO DE CRIANÇA.


Para mim, bastava amor somente.
Errei todo discurso de minha vida.
Então era só por isso que você me olhava, sem me ver.
Me tornei desgraçadamente má!
Que Deus não o Livre.
- Cadê sua proteção senhora?
- Cadê sua proteção, senhora?
- Cadê sua proteção que não olhou para lá.
- Irá me pagar!
- Irá me pagar.


Teu sol tinha que brilhar somente por mim.
Lembrará de mim até seu último dia de vida.
Eu não sou só uma escrava!
Eu não sou só uma escrava.
Eu não sou só uma escrava...
(executa um malabarismo sensual com o chapéu)
Há anos! Há anos que cuido desse seu filho.
(caminha em direção ao boneco)


Você também me usou, retardado.
Não me alertou em nada.
Me afeiçoei a você somente pelo amor que seu pai tem por você.
Você roubou o amor que é meu, qual é o teu segredo desgraçado, fala!
Enquanto houver no mundo saudade, você será o pagamento do meu amor perdido.


Bem aventurados fingimentos...
(anda em círculos em volta ao chapéu)
A vida é mais injusta que erros.
O mundo todo abracei,
e nada apertei.
Do amor, não vi senão breves enganos.
Mudam- se os tempos, mudam -se as vontades, muda-se o ser
e também a confiança.
Todo mundo muda, tomando sempre novas qualidades.
Não é assim que tem que ser.
Te dei tudo quanto tenho, tudo.
(enlouquece)


Oh, mãe, eu queria ter a sua lei dentro das minhas entranhas.
Falei aos 4 cantos da tua fidelidade e da sua salvação.
Salva- me rainha, é muita dor!
Mãe, da misericórdia.
Eu sempre achei que a vida fosse ser uma doçura.
E que a esperança fosse a nossa salvação.


Que escura sorte a sua!
O céu tem me mostrado suas cores.
(senta na cadeira)
Suas cores diferentes em tudo da esperança.
Do mal, ficam as mágoas na lembrança.
E do bem, se houver, a saudade.
-Oh! Meu menino... meu menino.

7° Oratória
Desgraçada! Senhora, faça alguma coisa por mim.
Me arranca essa dor.
Filha da puta! eu vou tirar o seu melhor.
Te soco vela no rabo todos os dias.
Me ajoelho aos seus pés, e aquele que come do meu pão é o primeiro a me trair.
O que eu lhe fiz!
O que eu lhe fiz, senhora?
- Oh! Meu menino.

Eu te amo, eu te amo, eu te amava, você é só meu, eu te amo, te odeio!


Eu faço tudo, te dou tudo, até o cu te dei!
Devolve a minha juventude!
Devolve a minha lucidez!
(aos berros) Devolve a minha fé!
(arrastando-se até a cadeira)

- Oh! Gabriel...
- Oh! Gabrielzinho.
- Que nome lindo você tem!
- Igual ao do papai!
Gabriel, meu caro, meu pequeno...
Meu último traidor.

10°
Sua morte vai ser um lindo presente, e de minhas mãos deve recebê-lo!
Morre aleijado,
retardado,
traidor!!!!!!!
Pode ficar com o troco!!!!!!!!!!!
Gabriel!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

11°
- Oh! Senhora! Não te espante se este dia te deixar pasmo,
lágrima nos olhos, a cor perdida.
Veja, veja o que ficou no porão da minha mente.
Me mostraste o céu.
O céu em preto e branco!

(apaga a vela com um sopro)

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