KAHLOS – UM EXERCÍCIO CÊNICO

FRIDA – SEM LUA, SOL, DIAMANTE, MÃOS, PONTO, RAIO, MAR.

DIEGO – VERDE PINHO, VIDRO ROSA, OLHO, MINA, GOMA, LODO, MÃE,
VOU!

FRIDA – AMOR AMARELO, DEDOS, ÚTIL MENINO – FLOR, DESEJO,

ARDÊNCIA, RESINA.

(AINDA FRIDA) FRIDA – VERDADE É, A MAIOR, QUE EU NÃO QUIS NEM

FALAR, NEM DORMIR, NEM OUVIR, NEM QUERER
SENTIR-ME FECHADA, SEM MEDO AO SANGUE, SEM TEMPO NEM
MAGIA, DENTRO DE SEU PRÓPRIO MEDO E DENTRO DE SUA ANGÚSTIA
E NO MESMO RUÍDO DE SEU CORAÇÃO.

DIEGO – TODA ESTA LOUCURA, SE VOCÊ A PEDIU, EU SEI QUE SERIA

PARA TEU SILÊNCIO...SÓ TORMENTO

FRIDA – TE PEÇO VIOLÊNCIA, E NA FALTA DE RAZÃO, VOCÊ ME DÁ

LUZ, GRAÇA E CALOR.
QUIS TE PINTAR, MAS NÃO HÁ CORES, POR TER TANTAS EM MINHA
CONFUSÃO, QUE É A FORMA CONCRETA DE MEU GRANDE AMOR.
A CADA MOMENTO, ELE É MEU FILHO...MEU FILHO NASCIDO, A CADA
MOMENTO DIÁRIO...DE MIM MESMA

DIEGO – NÚMEROS, A ECONOMIA, A FARSA DA PALAVRA, OS NERVOS

SÃO AZUIS.
NÃO SEI PORQUE, TAMBÉM VERMELHOS, MAS CHEIOS DE CORES.
PELOS NÚMEROS REDONDOS E OS NERVOS COLORIDOS, AS
ESTRELAS ESTÃO FECHADAS E O MUNDO SEM SOM.

FRIDA – EU NÃO QUIS ABRIGAR, NEM A MENOR ESPERANÇA DE QUE

TUDO SE MOVE AO COMPASSO DE ONDE MINHA BARRIGA SE ACABA.

DIEGO – DESDE O DIA QUE ME ESCREVESTE, NAQUELE DIA TÃO

CLARO E DISTANTE... QUIS TE EXPLICAR, QUE NÃO POSSO IR-ME AOS
DIAS, NEM REGRESSAR A TEMPO AO OUTRO TEMPO. NÃO TE
ESQUECI, AS NOITES SÃO LONGAS E DIFÍCEIS.

FRIDA – HORAS, NAVALHAS, ARMÁRIOS. VEJO TUDO NO NADA. NÃO

CREIO NA ILUSÃO. FUMAS UM HORROR DE FUMO. MARX, A VIDA, O
GRANDE VACILÃO. NADA TEM NOME. NÃO VEJO FORMAS. O PAPEL,
AMOR, GUERRAS, JARRAS, GARRAS... ARANHAS SUMIDAS, VIDAS EM
ALCOOL. PEQUENOS SÃO OS DIAS E ATÉ AQUI ACABARAM.
DIEGO – A ÁGUA, O BARCO E A IDA, QUE FORAM TE FAZENDO BELA,
DESDE MEUS OLHOS QUE, ENCARCERADOS NAQUELAS PÁPEBRAS
REDONDAS, QUE ME OLHAVAM PARA GUARDAR-ME EM SEU
CORAÇÃO. TUDO ESTÁ INTACTO. DEPOIS VIRÃO OS DIAS NOVOS DE TI.

FRIDA – HOJE QUIS QUE MEU SOL TE TOCASSE. DIGO QUE VOCÊ É
MEU MENINO, OS PERSONAGENS TÍTERES ARRUMADOS EM SEU
GRANDE QUARTO DE VIDRO SÃO DE NÓS DOIS. MAS A COR DE SUA
PELE, DE SEUS OLHOS E CABELO MUDAM COM O VENTO DO MÉXICO.
TAMBÉM SABE QUE TUDO QUE MEUS OLHOS VÊEM E QUE TOCO,
COMIGO MESMA É VOCÊ.

DIEGO – OS DEDOS DÉBEIS DE ESPERANÇA EM FAZER CONSTRUÇÃO.

AS TELAS, OS REIS TÃO TONTOS... MINHAS UNHAS, OS CABELOS, OS
PELOS, O NERVO FLÁCIDO. JÁ VOU COMIGO EM UM MINUTO AUSENTE.
TENHO TE ROUBADO E ME VOU CHORANDO. SOU UM VACILÃO.

FRIDA – AQUELE QUE LEVA A COR. ELE QUEM VÊ A COR. DESDE O

ANO DE 1922... TODOS OS DIAS...AGORA EM 1944, DEPOIS DE TODAS
AS HORAS VIVIDAS... SEGUEM OS VETORES EM SUA PRIMEIRA
DIREÇÃO. NADA OS DETÉM. SEM MAIS CONHECIMENTOQUE A VIVA
EMOÇÃO, SEM MAIS DESEJO DE SEGUIR ATÉ SE ENCONTRAR...
LENTAMENTE... COM ENORME INQUIETUDE MAS COM A CERTEZA DE
QUE TUDO REGE A SEÇÃO DE OURO.

DIEGO – HÁ UMA ACOMODAÇÃO CELULAR. HÁ UM MOVIMENTO. HÁ

LUZ.

FRIDA – TODOS OS CENTROS SÃO OS MESMOS. A LOUCURA NÃO

EXISTE. SOMOS OS MESMO QUE JÁ FOMOS E SEREMOS. SEM CONTAR
COM O ESTÚPIDO DESTINO.

DIEGO – UM ESQUECIMENTO DE PALAVRAS FORMARÁ O IDIOMA

EXATO PARA ENTENDER OS OLHARES DE NOSSOS OLHOS
FECHADOS. ESTÁ PRESENTE, INTANGÍVEL E É TODO O UNIVERSO QUE
FORMO NO ESPAÇO DE MEU QUARTO.

FRIDA – TUA AUSÊNCIA BROTA TREMENDO O RUÍDO DO RELÓGIO, NO

PULSAR DA LUZ... RESPIRA ATRAVÉS DO ESPELHO. FANTASMAS.

DIEGO – TUA PALAVRA RECORRE TODO O ESPAÇO E CHEGA AS

MINHAS CÉLULAS, QUE SÃO MEUS ASTROS, E CHEGA AS TUAS QUE
SÃO MINHA LUZ

FRIDA – VOCÊ SE CHAMARÁ AUXOCROMO – O QUE CAPTA A LUZ E EU

CROMÓFORO – A QUE DÁ A COR
FOI SEDE DE MUITOS ANOS RETIDA EM NOSSOS CORPOS. PALAVRAS
ENCADEADAS QUE NÃO POÍAMOS DIZER MAIS NOS LABIOS DOS
SONHOS E TUDO O QUE ENVOLVE O MILAGRE DAS PLANTAS DA
PAISAGEM DE SEU CORPO, SOBRE O SEU CAMINHO, RESPONDEU AO
MEU TOQUE. TODOS OS FRUTOS APRESENTAM O SUCO DE TEUS
LÁBIOS QUE SÃO LÁBIOS DE HOMEM TEMPERADO PELOS
ACONTECIMENTOS

DIEGO – TE ESPREMI CONTRA MEU PEITO E O MILAGRE DE SUA

FORMA ENTROU EM TODO MEU SANGUE. HÁ UM CHEIRO DE ESSÊNCIA
DE CARVALHO E O VERDE ENCORAJAMENTO DO HORIZONTE
EU ANDAVA COM O BEIJO CARINHOSO...UM ESQUECIMENTO DE
PALAVRAS VAI SER A EXATA LINGUAGEM PARA COMPREENDER OS
OLHARES DE NOSSOS OLHOS FECHADOS.