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A RELIGIÃO E O CRESCIMENTO

ECONÓMICO
A nível macroeconómico tem havido um
interesse em perceber a relação entre a
religião e o crescimento económico,
medido pelo Produto Interno Bruto
(PIB), e há estudos que indicam, com
dados para vários países, que existe
uma correlação negativa entre a prática
religiosa, medida pelas vezes que se vai a
cerimónias religiosas, e o crescimento do
PIB. Por outro lado, parece existir uma
correlação positiva entre o acreditar na
vida além da morte e o PIB. Outros
estudos apontam ainda que países
cristãos têm em média um PIB per capita
superior a países islâmicos. Há também
indicação que a similaridade das crenças
religiosas entre países favorece o
comércio entre eles.
No entanto, é difícil estudar o impacto da
religião nas variáveis macroeconómicas
dado que é complicado saber o que causa
o quê, isto é, se é o crescimento que altera
a religiosidade ou se são as práticas
religiosas que têm um efeito no
crescimento económico. Mais, a relação
entre crescimento e religião pode ser
espúria e causada por outras variáveis
que influenciam tanto a religião quanto o
crescimento económico, como por
exemplo fatores geográficos e
geopolíticos.

A RELIGIÃO E O COMPORTAMENTO
INDIVIDUAL
Alternativamente, podemos tentar
compreender o impacto da religião na
economia em termos microeconómicos,
estudando o efeito, quer das crenças
religiosas, quer da pertença a grupos
religiosos no comportamento pró-
social dos indivíduos. Por exemplo, na
sua capacidade de perdoar, nos níveis de
confiança nos outros, nos níveis de
reciprocidade e altruísmo, na honestidade
e no oportunismo. Estas dimensões pró-
sociais têm efeitos económicos, por
exemplo, nos níveis de corrupção, evasão
fiscal, trabalho voluntário, nas doações a
instituições, na produtividade no trabalho
como resposta a um aumento salarial. É
verdade que outras ciências socias, como
a sociologia e a psicologia, já estudam o
impacto da religião em comportamentos
sociais, mas usam sobretudo
questionários, mas o seu uso, quando em
causa está medir comportamentos pró-
sociais e morais, não é o mais indicado.
Está demonstrado que as pessoas
embelezam e enviesam as respostas,
sobretudo porque têm vergonha em
admitir comportamentos mais egoístas
quando pregam o contrário. Usando
questionários podemos erradamente
inferir que ser religioso implica uma
maior preocupação com o bem-estar
alheio.
Em vez do uso de questionários é melhor
observar o comportamento e as escolhas
dos indivíduos. A economia
experimental permite isso, ou seja, criar
situações nas quais os indivíduos têm
incentivo em revelar as suas preferências
reais, por exemplo, recebendo um
pagamento q experiências em ambiente
controlado permitem estabelecer relações
de casualidade, ue depende das escolhas
que fazem. Mais, as pois isolam as
variáveis a estudar. Dadas estas
vantagens, existem já alguns estudos
experimentais que exploram o efeito das
crenças religiosas e da pertença a grupos
religiosos em comportamentos
económico-sociais.
Nesta dimensão concreta, os resultados
não abonam muito a favor da religião. Em
variadas experiências, quando
comparamos o comportamento de
indivíduos católicos, protestantes, ou que
professam outras crenças, com o
comportamento de participantes ateus,
não existem grandes diferenças, por
exemplo, no que respeita à contribuição
para bens públicos e em outros jogos de
cooperação. O mesmo ocorre nas
experiências que medem níveis de
confiança entre os indivíduos. Os
católicos parecem confiar ligeiramente
mais do que ateus, mas as diferenças não
são significativas e parece não haver
diferenças entre protestantes e ateus. No
que respeita à capacidade de doar
montantes monetários a outros
participantes e a instituições, uma vez
mais não existem diferenças entre
religiosos e ateus. Mas, se analisarmos o
nível de religiosidade medido pela
frequência de práticas religiosas, é
interessante verificar que quanto maior o
fervor religioso, menores as
demonstrações de altruísmo e
reciprocidade, o que é de certa forma
inconsistente com o que apregoam, sem
necessariamente criar a estes indivíduos
um conflito moral porquanto acreditem
na absolvição incondicional. E no que
respeita ao favoritismo entre membros de
um determinado grupo, este parece
existir: os participantes cooperam e
confiam mais quando os parceiros
professam a mesma crença.
Nos dias que correm, é natural que as
igrejas se preocupem com a perda de fiéis.
Menos fiéis, menos doações, deixando as
instituições numa situação financeira
difícil. No entanto, pelo que foi exposto, a
perda de fiéis não implica uma crise de
valores na sociedade que levaria a uma
alteração de comportamentos económico-
sociais. Assim, não é então claro qual o
impacto da crescente secularização na
economia, excetuando talvez uma quebra
nas vendas de velas.
Sociologia

Nome: Maria Laura Limeira Custodio


N° 23 2° C

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