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MESTRADO EM TURISMO - ATIVIDADE FÍSICA, QUALIDADE DE VIDA E

2012/13
PRÁTICAS TURÍSTICAS

FACULDADE DE LETRAS

UNIVERSIDADE DO PORTO

Atividade Física, Qualidade de Vida e Práticas

Turísticas

O desporto equestre para pessoas portadoras de deficiência do

espectro do autismo como fator de valorização das potencialidades

turísticas

Regente: Dr. Jorge Augusto Pinto Silva Mota

Docentes: Dr. Jorge Augusto Pinto Silva Mota

Dr.ª Maria Paula Maia dos Santos

ANTÓNIO PEDRO BARROS DE SEABRA FRAGOSO – 199704264

PORTO, 2013
António Pedro Barros de Seabra Fragoso 0
MESTRADO EM TURISMO - ATIVIDADE FÍSICA, QUALIDADE DE VIDA E
2012/13
PRÁTICAS TURÍSTICAS

ÍNDICE

Introdução………………………………………………………………………………. 2

O Autismo – Caracterização da patologia……………………………………………… 3

O Autismo em Portugal………………………………………………………………… 4

Atividade Física Adaptada……………………………………………………………… 5

Hipismo e Hipismo Adaptado ………………………………………….……………….7

Equoterapia ……………………………………………………………………………...7

Turismo de Natureza e Equestre em Portugal …………………………………………..9

Conclusão - A Equoterapia em Espaços Turísticos: uma Oportunidade……………….10

Bibliografia……………………………………………………………………………..12

Webgrafia……………………………...……………………………………………… 13

António Pedro Barros de Seabra Fragoso 1


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INTRODUÇÃO

No âmbito da unidade curricular de Atividade Física, Qualidade de Vida e


Práticas Turísticas foi proposto aos discentes a elaboração de um trabalho que incidisse
sobre as problemáticas abordadas nas aulas. Desta forma, a minha primeira preocupação
passou por encontrar um tema que englobasse estas três vertentes, que na maior parte
das vezes são encaradas isoladamente, mas que na minha perspetiva podem e devem
merecer uma abordagem em conjunto, tantos são os pontos de contacto. De facto, o
Turismo desde sempre olhou para as atividades físicas e sobretudo os eventos
desportivos com um grande interesse, mas quase sempre na perspetiva do espectador,
sendo que só mais recentemente o praticante desportivo e as suas movimentações em
função da prática desportiva começaram a entrar no radar do sector do Turismo. Neste
aspeto em particular, o golfe desempenha o papel de pioneiro e a atividade que hoje em
dia mais pessoas e dinheiro movimenta, estando tal facto bem patente em todo o
interesse e apoio que os sucessivos governos portugueses dispensaram à construção de
campos de golfe e respetivas unidades turísticas de apoio. Contudo, o golfe não pode ser
a exceção na procura de simbioses entre a atividade física e o turismo, pelo que entendo
que a atividade equestre poderá num futuro próximo desempenhar um papel igualmente
importante para o sector do turismo em Portugal. De facto, Portugal é um país com uma
longa tradição nos desportos hípicos, inclusivamente com um meritório passado
olímpico, com o mais antigo cavalo de sela do Mundo, o Puro-sangue Lusitano, e com
uma importante rede de infraestruturas turísticas de apoio às atividades equestres. Por
outro lado, o desporto equestre apresenta indiscutíveis benefícios para a população com
necessidades especiais, através da sua vertente de desporto adaptado. Neste aspeto em
particular, darei especial atenção aos benefícios que o desporto equestre apresenta para
os portadores de doenças do espectro do Autismo. Assim, neste trabalho procurarei
explicitar alguns conceitos relacionados com o autismo e a sua incidência em Portugal,
a atividade equestre e o turismo equestre, procurando realçar os benefícios de uma mais
profícua relação entre estes três elementos, na perspetiva de que a atividade física
relacionada com o desporto equestre poderá promover uma melhoria da qualidade de
vida dos cidadão portadores de deficiência, podendo igualmente ser um fator de
desenvolvimento turístico no nosso país, com especial relevo para as muitas

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infraestruturas turísticas já existentes que poderão potenciar o seu crescimento através


desta vertente.

O Autismo – Caracterização da patologia

Identificado pela primeira vez em 1943 pelo psiquiatra norte-americano Leo


Kanner, o autismo pode ser definido, de acordo com a Associação Americana de
Autismo, como uma desadequação no desenvolvimento que se manifesta de maneira
grave por toda a vida. É incapacitante e aparece tipicamente nos três primeiros anos de
vida. Acomete cerca de 20 entre cada 10 mil nascidos e é quatro vezes mais comum no
sexo masculino do que no feminino. É encontrado em todo o mundo e em famílias de
qualquer configuração racial, étnica e social, não existindo qualquer causa psicológica
no meio ambiente dessas crianças que possa causar a doença. Os sintomas são causados
por disfunções físicas do cérebro e incluem distúrbios no ritmo de aparecimentos de
habilidades físicas, sociais e linguísticas, reações anormais às sensações, sendo as
funções ou áreas mais afetadas a visão, a audição, o tato, a dor, o equilíbrio, o olfato e o
paladar, com os pacientes a apresentarem fala e linguagem ausentes ou atrasadas,
ausência de certas áreas específicas do pensar, ritmo imaturo da fala, restrita
compreensão de ideias, uso de palavras sem associação com o significado,
relacionamento anormal com os objetivos, eventos e pessoas, respostas não apropriadas
a adultos e crianças e a utilização de forma indevida de objetos e brinquedos.
O transtorno Autista consiste na presença de um desenvolvimento comprometido
ou acentuadamente anormal da interação social e da comunicação e um repertório muito
restrito de atividades e interesses. As manifestações do transtorno variam imensamente,
dependendo do nível de desenvolvimento e da idade cronológica do indivíduo.
Tratando-se de um síndrome de difícil diagnóstico, o que se agrava pela
necessidade de ser efetuado durante os primeiros anos de infância, o espectro Autista
abrange indivíduos com uma multitude de sintomas e com diferentes espectros, que vão
desde uma incapacidade total de convivência social até sintomas muito ligeiros que
passam despercebidos na vida quotidiana.
Quase em simultâneo com Kanner, o psiquiatra austríaco Hans Asperger publicou
a sua tese de doutoramento sobre a psicopatia autista na infância, onde identifica as
mesmas dificuldades de interação e de compreensão das regras sociais, mas diagnostica

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igualmente nos seus pacientes um excecional desempenho em algumas áreas de


interesse e uma extraordinária capacidade de memorização.
Atualmente, e de acordo com a definição da psiquiatra inglesa Lorna Wing, o
conceito de “Espectro do Autismo” abrange todas as manifestações que estão
diagnosticadas com Autismo: Autismo clássico, Síndrome de Asperger, perturbação
desintegrativa da infância, Autismo atípico e traços de Autismo.
Sabendo que um correto diagnóstico da patologia é o primeiro passo para a uma
intervenção eficaz, qualquer tratamento concebido para um paciente portador de algum
tipo de manifestação do espectro de Autismo deve ter como objetivo principal tornar o
indivíduo o mais independente possível em todas as áreas de atuação. Para tal objetivo
ser alcançado é necessária a intervenção de uma equipa multidisciplinar e podem ser
seguidas diversas metodologias terapêuticas que melhor se adaptem ao paciente, entre
as quais se inclui a equoterapia, que apresenta resultados positivos em vários domínios
da patologia Autista.

O Autismo em Portugal

Tal como acontece no resto do mundo, tem-se verificado em Portugal um


aumento significativo da incidência do autismo, tendo os últimos estudos efetuados
sublinhado a existência de cerca de 65 mil autistas no nosso país. De acordo com a
investigadora Guiomar Oliveira, uma em cada mil crianças portuguesas sofre de alguma
perturbação do espectro do Autismo. De acordo com o estudo Epidemiologia do
autismo em Portugal : um estudo de prevalência da perturbação do espectro do
autismo e de caracterização de uma amostra populacional de idade escolar realizado
em 2005 e que abrange mais de 300 mil crianças do primeiro ciclo, a prevalência da
doença é maior nas regiões Centro, Sul e Açores (1,5 por cada mil crianças) em
comparação com a região Norte (0,92 por cada mil crianças), o que poderá estar
relacionado com fatores genéticos destas populações, nomeadamente a influência árabe.
Existe igualmente uma maior prevalência de indivíduos do sexo masculino, na razão de
1/5. Outro aspeto igualmente importante refere-se ao número crescente de portadores de
alguma perturbação do espectro do Autismo identificados em Portugal, sendo que tal
facto tanto poderá estar relacionado com o real aumento do número de pacientes como

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com a existência de técnicas de diagnóstico mais apuradas e com um maior estado de


alerta das famílias e dos responsáveis de saúde e escolares em relação ao Autismo.
Perante uma patologia que pode ser deveras incapacitante e que afeta um
considerável número de cidadãos, muito naturalmente surgiu em Portugal no ano de
1971 a Associação Portuguesa para a Protecção aos Deficientes Autistas, atualmente
designada por Federação Portuguesa de Autismo, uma organização de âmbito nacional
composta por diversas associações regionais de todo o país, Organizações Não
Governamentais para o Desenvolvimento, sem fins lucrativos e Instituições Particulares
de Segurança Social, parcialmente financiadas pelo Ministério do Trabalho e da
Segurança Social e tem como principal objetivo prestar serviços às pessoas com
Perturbações do Desenvolvimento do Espectro do Autismo e às pessoas com elas
significativamente relacionadas, promovendo a defesa e o exercício dos respetivos
direitos e a aquisição e melhoria de qualidade de vida. Promove igualmente a
divulgação e a defesa dos direitos constantes da Carta dos Direitos das Pessoas com
Autismo, que tem por base a Declaração das Nações Unidas sobre os direitos do
Deficiente Mental (1971) e que no seu décimo segundo ponto defende “o direito de as
pessoas com autismo terem acesso à cultura, ao lazer, às atividades recreativas e
desportivas e de nelas participarem plenamente”.

Atividade Física Adaptada

A história da atividade física adaptada acompanha o enquadramento que os


cidadãos portadores de deficiência foram tendo ao longo dos tempos nas sociedades
ocidentais, onde, após períodos de separação do resto da sociedade, onde o deficiente
era visto com superstição e malignidade, e de proteção, com a criação de asilos e
hospitais onde os doentes eram recolhidos, assistimos mais recentemente a um período
de integração do cidadão portador de deficiência na sociedade, para desde o final do
século XX, no seguimento da Conferência Mundial sobre Educação para Todos (1990)
e das Normas das Nações Unidas sobre a Igualdade de Oportunidades para as Pessoas
com Deficiência, de 1993, vivermos um período de inclusão, em que as sociedades
contemporâneas distinguem-se, em grande parte das anteriores, pela afirmação do
respeito pela dignidade humana e pela garantia de que ao portador de qualquer

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necessidade especial lhe será permitido integrar-se nas diversas metas do


funcionamento social sem qualquer barreira psicológica ou física1.
A Constituição da Republica Portuguesa de 1976 consagra, no seu Artigo 79º, o
direito à cultura física e ao desporto a todos, aspeto este reforçado pelo Artigo 1.º da Lei
n.º 30/2004, de 21 de Julho – Lei de Bases do Desporto – que assume o desporto como
fator indispensável na formação da pessoa e no desenvolvimento da sociedade, não
deixando de se ocupar especialmente da prática desportiva do cidadão portador de
deficiência, como é visível nas determinações constantes nos artigos 5.º, 26.º, 32.º, 70.º
e 82º.
Nesta perspetiva, a atividade física adaptada expressa-se em três dimensões,
designadamente a competitiva, a recreativa e a terapêutica. A estas vertentes
acrescentou o Comité para o Desenvolvimento do Desporto, em 1981, a educativa. De
salientar que idêntica conceção nos apresenta a Federação Portuguesa de Desporto para
Deficientes. Esta federação multidesportiva prossegue a nível nacional o
desenvolvimento da prática cumulativa de diversas modalidades desportivas no âmbito
do desporto para as pessoas com deficiência, em articulação e no respeito pelas
Associações Nacionais por área de deficiência, nomeadamente visual, intelectual,
auditiva e motora, englobando trinta e oito modalidades, algumas exclusivas, como o
boccia.
Fundada em 1988, é a responsável pelas missões paralímpicas portuguesas, que
tão notáveis resultados têm alcançado, e tem como principais objetivos motivar o
desenvolvimento de atividades físicas para pessoas com deficiência, promover um
aprofundamento em termos de conhecimentos teóricos e práticos relativamente ao
desporto adaptado e a promoção das modalidades existentes e divulgação das novas
modalidades adaptadas, a captação e fidelização de novos praticantes, o fomento da
prática desportiva para cidadãos com deficiência, tornar a prática desportiva adaptada
parte dos programas de apoio à vida ativa, o combate à tendência para a obesidade e
sedentarismo, o combate à exclusão social e a integração social de cidadãos com
deficiência.

1
Marques, URBANO MORENO et all – Actividade Física adaptada: Uma Visão Crítica. Revista Portuguesa de Ciências do
Desporto, 2001, vol. 1, nº 1, 73–79

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Hipismo e Hipismo Adaptado

O hipismo, atividade cuja história remonta à antiguidade, pode ser definido como
a arte de montar a cavalo, compreende todas as práticas desportivas que envolvam este
animal, como as provas de salto, dressage (ou ensino), corridas, polo, entre outras,
sendo que apenas as três primeiras fazem parte do calendário olímpico, enquanto no que
diz respeito ao programa paralímpico apenas é contemplada a prova de dressage.
Apesar da sua longa história, as suas regras e competições modernas surgiram no ano de
1883, nos Estados Unidos, entrando no programa olímpico moderno nos Jogos de Verão
de 1912 em Estocolmo, Suécia.
Prática desportiva desde sempre associada às classes privilegiadas, teve em 1911 a
criação da primeira associação de cavaleiros portugueses, com a criação da Sociedade
Hípica Portuguesa que tinha o objetivo de associar todos os que cultivam o desporto
hípico, ou que por ele se interessam, de modo a promover o seu desenvolvimento. Em
1927 foi fundada a Federação Equestre Portuguesa, que atualmente representa todo o
desporto equestre em Portugal, sendo constituída por diversas associações e clubes.
Ao longo da história olímpica portuguesa, o desporto equestre é uma das
modalidades que melhores resultados apresenta, com a conquista de medalhas nas
Olímpicas nos Jogos de Paris (1924), Berlim (1936) e Londres (1948, e que nos últimos
jogos realizados em Londres foi representada por sete atletas nacionais.
Relativamente ao desporto equestre adaptado, é umas das modalidades mais
inclusivas, já que é um desporto que inclui todos os tipos de deficiência e está aberto a
atletas com deficiências motoras, visuais e mental/intelectual. As provas são mistas e
agrupadas de acordo com os perfis das capacidades funcionais de cada atleta.

Equoterapia

Tal como anteriormente foi referido, uma das vertentes essenciais da atividade
física adaptada está relacionado com a questão terapêutica, aspeto que assume ainda
mais importância relativamente aos portadores de deficiência do espectro do Autismo,
já que o objetivo principal de qualquer terapia destes pacientes passa pela obtenção do
maior grau possível de autonomia. É neste contexto que a equoterapia (ou equinoterapia

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ou hipoterapia) tem ganho relevância nos últimos anos na terapêutica a aplicar em


pacientes do espectro do Autismo.
A utilização do cavalo para efeitos terapêuticos remonta à antiguidade,
nomeadamente desde a Grécia Antiga, onde a equitação era vista como um elemento
regenerador da saúde. Atualmente podemos definir equoterapia como um método
terapêutico que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar, nas áreas de
saúde, educação e equitação, onde o cavalo atua como agente cinesioterapêutico,
facilitador do processo ensino-aprendizagem e como agente de inserção ou reinserção
social. Esta terapia aproveita o facto de o cavalo permitir uma grande diversidade de
estímulos sensoriais, o que incrementa a consciencialização corporal, o aperfeiçoamento
da coordenação motora e o desenvolvimento muscular. O cavalo é um animal
extremamente adaptável, versátil, sensível e com uma razoável capacidade de submeter-
se ao cavaleiro, chegando mesmo a antecipar os desejos do cavaleiro, o que facilita a
interpretação da parte do ser humano.
Desta forma, facilmente percebemos que as pessoas portadoras de deficiência
possam beneficiar do trabalho com o cavalo, em função das suas limitações
biopsicossociais, como terapia auxiliar às terapias convencionais, independentemente
dos níveis de autonomia dos pacientes na sua relação com o animal e com a necessidade
de apoio da parte dos terapeutas (hipoterapia ou dependência, reabilitação-reeducação
ou semi-independência, e atividade pré-desportiva ou autonomia).
Relativamente à utilização da equoterapia com portadores de deficiência do
espectro do Autismo, tem-se verificado resultados satisfatórios, nomeadamente no
desenvolvimento da motricidade dos Autistas, que se podem repercutir de forma
imediata nos hábitos de independência, com especial ênfase quando se trata de um
trabalho intensivo e prolongado no tempo, e com benefícios notórios nos aspetos
afetivos, sociais e cognitivos, favorecendo uma melhor perceção do mundo externo e
adequações nos ajustes relativos à postura, que poderão auxiliar um autista a eliminar
medos e maneirismos.
A equoterapia, como método terapêutico aplicado por uma equipa formada por
vários profissionais (psicólogos, médicos, professores de equitação, etc) favorece
igualmente a sociabilização da criança autista, tanto no contacto com o cavalo como no
contacto com os diferentes elementos da equipa terapêutica. Por outro lado, e segundo
Roberts (2002), existem semelhanças entre o comportamento autista e atitudes do

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cavalo. Para ambos, ruídos mais altos, mudanças na rotina e ambientes desconhecidos
causam insegurança e grande parte da comunicação que estabelecem depende da
linguagem corporal. Toleram uma quantidade restrita de contato corporal, sendo que
este nunca ocorre através de imposição. Segundo o autor, a capacidade instintiva do
cavalo de perceber as intenções do cavaleiro leva o animal a acalmar-se quando
montado por um Autista. O contacto com animais pode gerar expectativas de troca e
representação de regras sociais, quando utilizados em terapias (WILSON & TURNER,
1998). A interação com o cavalo, desde o primeiro contato e cuidados preliminares até à
montaria, também desenvolve novas formas de comunicação, socialização,
autoconfiança e autoestima, onde o Autista pode olhar, tocar e este “objeto” não é
estático. Este conhecimento gera comparações entre as partes do corpo do cavalo e da
própria criança, além de suas utilidades e possibilidades.
Parecem pois, evidentes, os benefícios da equoterapia para os portadores de uma
doença do espectro do Autismo, com especial enfoque para as crianças, verificando-se
resultados positivos em diversas áreas do desenvolvimento biopsicossocial.

Turismo de Natureza e Turismo Equestre em Portugal


Em todos os organismos oficiais, o turismo equestre encontra-se enquadrado no
setor do turismo de natureza e geoturismo. Podemos definir este tipo de turismo como o
segmento do turismo que se desenvolve em áreas naturais conservadas, com o objetivo
específico de admirar e fruir, estudar, desfrutar da viagem, das plantas e animais, do
contacto com as populações, cultura e produtos locais, das marcas culturais do passado
e presente, relacionando-se desta forma, ócio, ambiente, turismo e desenvolvimento
sustentável das áreas turísticas de destino.
Atualmente, o turismo de natureza é responsável por 10% das viagens de lazer
realizadas pelos europeus e tem registado desde 1997 um crescimento anual de 7%.
No que diz respeito à região norte de Portugal, que é aquela a que diz respeito este
trabalho, existem cento e noventa e seis empresas de animação turística, trinta e nove
Operadores Marítimo Turísticos e trinta e quatro empresas que realizam atividades de
Turismo de Natureza em Áreas Protegidas, que correspondem a quatrocentos e noventa
postos de trabalho. O turismo de natureza, de acordo com o Plano Estratégico Nacional
de Turismo (PENT) como Produto Turístico Estratégico do Norte de Portugal, tendo

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como ex-libris da região o Parque Nacional da Peneda-Gerês. Estamos pois, perante um


setor turístico que representa um volume de negócios que não pode ser negligenciado.
Dentro do turismo de natureza, o turismo equestre desempenha um papel
importante, especialmente na zona sul do país, com saliência para a planície ribatejana e
para a cidade da Golegã.
Tendo surgido na França em 1985, o turismo equestre visa proporcionar o
desenvolvimento do ensino do cavalo e dotar os praticantes de uma maior autonomia e
segurança nos passeios equestres. Enquadrado pelas regras da Federação Internacional
de Turismo Equestre, fundada em 1975, no turismo equestre podemos ter duas
modalidades de utilização do cavalo: o turismo do cavalo e o turismo a cavalo. Assim,
a primeira modalidade engloba todos os turistas que se deslocam por um motivo
relacionado especificamente com o cavalo, tais como a participação em eventos
equestres, como feiras, a comercialização de cavalos e a realização de tratamentos
veterinários, entre outros. No âmbito deste trabalho, interessa-nos sobretudo os viajantes
que efetuam o turismo a cavalo, ou seja, quando os turistas se deslocam de um
determinado local para outro utilizando o cavalo como principal meio de locomoção e
enquanto atividade turística de lazer e entretenimento.
O turismo equestre tem merecido especial atenção no nosso país e ainda
recentemente foi publicado pelo Turismo de Portugal o guia Itinerários de Turismo
Equestre Metodologia de implementação - O caso do Minho Lima, o que demonstra o
interesse que as entidades estatais dedicam ao turismo equestre. Contudo, continua
ainda a haver um grande distanciamento entre as empresas que oferecem atividades de
turismo a cavalo e aquelas em que a atividade é encarada na sua vertente competitiva,
englobando estas a equoterapia. Estaremos portanto, perante um nicho de mercado que
urge preencher?

Conclusão - A Equoterapia em Espaços Turísticos: uma Oportunidade


Atualmente em Portugal, apresenta-se como tarefa praticamente impossível para
uma família disfrutar de uma atividade relacionada com o turismo equestre e ao mesmo
tempo propiciar a um dos membros da família, a participação numa sessão de
equoterapia, tendo em conta a distinção de oferta evidenciada no ponto anterior.
Tendo em conta que na região norte de Portugal existem cerca de trinta e dois mil
portadores de uma doença do espectro do autismo, e a que a estes números devemos

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acrescentar cerca de mais noventa mil pessoas que integram agregados familiares com
um membro da família autista, estamos perante um mercado potencial de cento e vinte
mil pessoas.
Temos na região do norte de Portugal um elevado número de empresas do setor
do turismo equestre com capacidade instalada para fornecer programas integrados que
englobem a equoterapia, sendo apenas necessários alguns ajustes relativamente às
equipas de trabalho, que como vimos anteriormente, devem abranger profissionais
especializados em diferentes áreas.
Esperamos que, com este trabalho, tenha ficado claramente demonstrada a íntima
relação entre desporto (equestre) e turismo, assim como as sinergias que ainda podem
ser estabelecidas entre ambos, perspetivando, por um lado, a melhoria da qualidade de
vida da população com necessidades especiais, e por outro, o desenvolvimento e
crescimento económico das empresas do setor do turismo de natureza e do turismo
equestre.

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BIBLIOGRAFIA
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WEBGRAFIA

http://hdl.handle.net/10316/848 - Acedido a 25/01/2013


http://www.appda-lisboa.org.pt/federacao/federacao.php - Acedido a 23/01/2013
http://www.appda-lisboa.org.pt/federacao/files/carta-dos-direitos-para-pessoas-com-
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http://www.fpdd.org/pt - Acedido a 23/01/2013
http://www.turismodeportugal.pt/Portugu%C3%AAs/Noticias/Documents/Itiner%C3%
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http://www.equisport.pt/pt/noticias/turismo-equestre-portugal-um-dos-destinos-mais-
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24/01/2013
www.publituris.pt- Acedido a 24/01/2013
www.turismodeportugal.pt/Turismo_de_ Portugal_aposta_no_Turismo_Equestre.pdf -
Acedido a 25/01/2013

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