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ESTUDO DE CASO

Maquiavel e Aristóteles enquanto orientadores da prática política

Paulo Junior Batista Lauxen

A situação apresentada no Estudo de Caso em questão coloca-nos em uma


experiência de pensamento bastante delicada, principalmente na medida em que se
assume que o docente é agente também da formação da cidadania (entendida como a
prática de ser ator político na sociedade) e do caráter dos educandos. Em vista disso,
há que se considerar o caso com cuidado, precavendo-se, por exemplo, com a
possibilidade de inculcar valores determinados ao aluno (evitando direcionamentos
morais ou políticos neste) ao mesmo tempo em que deve-se orientá-lo à assumir a
atitude (visto tratar-se justamente da disciplina de Filosofia) mais crítica, justa e
esclarecida frente aos fatos.

Neste sentido, assumindo que anteriormente ao evento citado no Estudo de


Caso havia-se trabalhado e discutido em sala de aula a disciplina de Filosofia Política,
trazendo a baila especificamente as considerações filosóficas feitas, primeiro, por
Aristóteles (e sua noção de justa-medida) e, posteriormente, por Maquiavel
(especialmente em relação aos conceitos de virtù e fortuna), poder-se-ia, como
sugerido, embasar-se justamente nestes teóricos para fazer frente às angustias de teor
moral e político do aluno em questão.

Não cabe aqui, portanto, reconstruir o problema traçado no Estudo de Caso,


mas sim assumir de antemão a questão de maneira objetiva e oferecer, tanto quanto
possível, um posicionamento claro e fecundo ao mesmo.

Ora, em vista do fato de que exige-se ao professor uma resposta concreta


frente à um problema também real (o que, cabe observar, de certa forma escapa à sua
postura filosófica de observador distanciado e imparcial e o impõe, necessariamente,
um engajamento atuante para com os atritos reais do mundo político), um primeiro
movimento desejável ao educador seria o de fazer uma “avaliação” honesta e
desinteressada do caráter e personalidade do aluno (levando em consideração as
vivências em conjunto de ambos no ambiente escolar) para que assim se possam
tornar claros quais os interesses reais do mesmo para com o Grêmio Estudantil e,
diante disso, ofereça-se o melhor suporte ao educando.

Enquanto experiência de pensamento, assumir-se-á que, de modo bastante


geral, os principais objetivos do aluno em questão sejam o de promover o bem-estar
de todos os alunos no ambiente escolar, promover um diálogo mais democrático entre
estes e a direção, administração e grupo de professores da mesma, além de
estabelecer, na medida do possível, medidas que promovam um maior
aproveitamento por parte dos educandos em relação à vida colegial.

Nestes termos, o professor pode, já como andamento da resolução do


problema enfrentado, construir, por exemplo, um paralelo da formação política e
posturas de um “príncipe ideal”, segundo as considerações da obra O Príncipe, de
Maquiavel, com as do aluno. Dessa forma, por exemplo, sugerir-se-ia que seu colega
(que passou à agir de modo questionável) seria um desafio à ser conquistado e
superado em sua candidatura, enquanto expressão da fortuna. Para tanto, por outro
lado, lhe seriam exigidos esforços extras em seu agir político, afim de assumir a
postura de um sujeito plenamente “virtuoso” (segundo a noção de virtù de
Maquiavel).

É importante ter em mente que, assumindo, nesse sentido, as práticas políticas


sugeridas em O Príncipe, seria importante fazer claro ao aluno que possíveis atitudes
“não recomendáveis” (ou, em outros termos, “imorais” ou “anti-éticas” – deixando
margens bastante largas para discussão destes conceitos) só seriam cabíveis de serem
praticadas em situações de extrema necessidade e, muito mais importante, somente
para proteger e garantir aqueles valores democráticos e humanos previamente tidos
como assumidos (a saber, os direitos individuais e da comunidade, a integridade do
indivíduo humano, o bem-estar geral, etc.).

Neste mesmo sentido, tendo em vista a formação de um sujeito político que


age segundo preceitos éticos e morais, caberia também a incorporação das discussões
feitas por Aristóteles acerca do que significaria ser um “individuo virtuoso”
(enriquecendo, de certo modo, a noção acima destacada de virtuosidade oferecida por
Maquiavel). Para o filósofo antigo, o homem, enquanto ser social (que só “é” enquanto
“é em comunidade”), somente alcança sua plenitude na medida em que faz-se feliz na
pólis (cidade, comunidade) e com a pólis – o que significa dizer que um pré-requisito
para sua realização plena é uma comunidade também realizada. Para tanto, por sua
vez, seria preciso levar uma vida (concretamente, ou seja, no campo da ação) pautada
pela noção de “justo-meio”. Transferindo tais conceitos para a realidade do aluno,
portanto, dir-se-ia que este somente se realizaria enquanto sujeito de virtù na medida
em que, primeiro, assumisse também como propósito a plenitude do desenvolvimento
de sua comunidade (a escola como um todo), e, por outro lado, mediante a postura de
“justeza de caráter”, ou seja, enquanto procurasse, tanto quanto possível, assumir
uma conduta e hábitos que evitassem extremismos (distanciando-se igualmente dos
vícios e dos excessos), afim de alcançar o “justo-meio”, tal como aconselhado por
Aristóteles.

Feitas tais considerações, pensa-se que a orientação dada pelo educador ao seu
educando, sob o embasamento filosófico dos clássicos, seria, ao menos, iluminadora,
no sentido de possibilitar um alargamento dos horizontes de pensamento do aluno nos
âmbitos políticos, morais e éticos. Acredita-se, finalmente, que os conceitos acima
elencados possibilitariam ressignificações do agir político do aluno na situação
apresentada no Estudo de Caso, colocando-o novas perspectivas de pensamento e,
obviamente, de ação em seu meio.

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