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1. INTRODUÇÃO
1
Graduando em Direito pela Universidade Federal de Campina Grande UFCG) – Campus Sousa-PB.
E-mail: anchietaalencar2@gmail.com
2
Graduando em Direito pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) – Campus Sousa-
PB;
Pesquisador do Núcleo de Estudos Jurídicos e Sociais em Direito de Família.
E-mail: arlindo.alfas123obemep@gmail.com
ser evidenciado na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 que no seu art. 1º
estabelece: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São
dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de
fraternidade”. (PARIS, 1948). É com base nesta premissa, que este trabalho propõe-se a realizar
um estudo de direito comparado sob uma perspectiva geográfica em dois países sul-americanos:
A República Federativa do Brasil e o Estado Plurinacional da Bolívia acerca da problemática
do trabalho infantil em ambos.
Dessarte, analisar-se-á, a priori, a definição conceitual da atividade laborativa infantil,
conceituação esta complexa, haja vista que depende da normatização trabalhista legal de cada
país. Por conseguinte, a propriedade terminológica ora apresentada buscará apresentar uma
explicação geral acerca desse assunto e, a posteriori, o objeto será delimitado conforme a análise
dos dispositivos legais dos Estados aqui estudados. Como forma de fundamentar a discussão,
serão vistas as principais normas de caráter internacional, nacional e convenções que protegem
os direitos desses cidadãos em formação e incentivam a disseminação de práticas de combate
a essa problemática, observando sempre os parâmetros culturais em complementação aos
normativos.
Adicionalmente a isto, será apresentada a Declaração Sociolaboral do Mercosul,
documento que estabeleceu algumas peculiaridades aos países integrantes do bloco, que
apresenta preceitos contrários à prática do trabalho infantil. A escolha pela análise deste
documento decorre do fato do Brasil ser membro integrantes deste Bloco Econômico e, por
efeito, deve ser observante aos seus preceitos. Já a Bolívia está em tramite processual para
ingressar neste aglomerado e, uma vez adentrando, deverá cumprir suas diretrizes.
Nesse viés, a relevância jurídico-acadêmica desta pesquisa está no fato de propiciar um
estudo da temática supracitada sob um viés crítico, de modo a sistematizar o conhecimento
científico e ofertar um estudo original, pautado na ética e na racionalização do saber. Para
atender a estes fins, fazer-se-á a utilização dos métodos dedutivo, comparativo, dialético e
hermenêutico e as técnicas de pesquisa bibliográfica, descritiva e documental que,
posteriormente, serão explicados. Deste modo, far-se-á, de forma predominante, do uso da
legislação como instrumento de fundamentação teórica, descrevendo-a e também de doutrinas,
artigos e entre outros, a fim de criar um repertório sociocultural para embasar a discussão. Com
o emprego de tais mecanismos, objetiva-se ainda: analisar se as normas dos Estados têm
possuído eficácia no que diz respeito a proteger os direitos destes hipossuficientes, verificar as
semelhanças e contrastes entre as disposições legais de ambos os países e as respectivas
influências culturais no Direito.
Com isso, a pesquisa irá se debruçar sobre a problemática de modo a sistematizar esse
conhecimento e contribuir de forma dinâmica sobre a questão abordada a comunidade
acadêmica.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1 CONCEITO DE TRABALHO INFANTIL SOB UMA PERSPECTIVA
NORMATIVA LEGAL SUPRANACIONAL
O labor humano é essencial para que o ser humano atenda às suas necessidades e, por
consequência, supra suas deficiências. Neste sentido, o Direito estabelece normas de resguardo
e proteção ao trabalhador e ao empregador bem como à atividade trabalhista desempenhada,
objetivando garantir a proteção à dignidade humana. Sob essa ótica, as ações laborais são
regulamentadas pelos dispositivos legislativos de cada Estado, visando a organização, a
cooperação e o estabelecimento de uma idade mínima para que o sujeito possa se inserir no
setor trabalhista.
Esta prerrogativa de normatizar uma idade mínima para o exercício de um ofício
laborativo por parte do indivíduo decorre da necessidade deste estar preparado fisicamente,
psicologicamente e tecnicamente para o pleno exercício do labor, tornando este qualitativo à
demanda. Tendo em vista esse posicionamento, Hillesheim e Silva destacam que:
À vista disso, busca-se aqui conceituar o trabalho infantil. Consoante Santos (2015, p.
21): “Apresentar um conceito de trabalho infantil pode parecer simples se não observado as
espécies, circunstâncias, questões culturais e essencialmente as sociais, o que, portanto,
transforma a questão em uma tarefa complexa e de difícil realização”. Dessa forma, sob um
olhar normativo, considerando que cada entidade nacional estabelece uma idade mínima para
o cidadão trabalhar, labor infantil é toda forma de trabalho executada por crianças ou
adolescentes em uma faixa etária abaixo da idade permitida por lei em cada país, deturpando,
em muitos casos, os direitos desta camada social. Conforme Custódio e Veronese:
“O conceito de trabalho infantil (precoce) é o que melhor expressa a proibição do
trabalho infanto-juvenil entendido como todo trabalho realizado por criança ou
adolescente com idades inferiores aos determinados pela legislação”. (2007, p. 125):
O labor infantil, desta forma, representa uma celeuma ilegal que priva, muitas vezes, as
crianças e os adolescente de uma infância normal com acesso a direitos mínimos como a
educação, o lazer e a saúde. Este entrave à efetivação dos direitos desses sujeitos decorre de
problemas estruturais que variam conforme o Estado e os parâmetros da organização social.
Neste sentido, a pobreza e a miséria são duas das principais causas desta atividade, posto
as condições subhumanas que muitos grupos familiares enfrentam. Assim, em meio à
vulnerabilidade da organização familiar, o Estado, enquanto agente detentor das atividades
governamental e política, deve construir políticas públicas de proteção aos sujeitos. Em
contraste a isso, hodiernamente, vislumbra-se, em diversos casos, uma ineficácia estatal frente
aos problemas sociais e no que diz respeito ao problema em questão, a situação agrava-se, pois
condena um sujeito em desenvolvimento a um quadro de violação de direitos. De acordo com
Souza e Goldschmidt:
Como se vê, o trabalho pode acarretar reflexos negativos para esse público, pois pode
expor as crianças e adolescentes a situações de negligência e ofensa ao bem-estar destes
indivíduos em formação para a cidadania. Com base nessas informações, analisar-se-á, a seguir,
a legislação de proteção que norteia essa questão na República Federativa do Brasil e no Estado
Plurinacional da Bolívia, levando em consideração a estrutura social, os aspectos culturais e as
políticas públicas de prevenção de ambos os Estados em face a uma reflexão crítica do assunto.
1. Todo membro deverá elaborar e implementar programas de ação para eliminar, como
medida prioritária, as piores formas de trabalho infantil.
2. Esses programas de ação deverão ser elaborados e implementados em consulta com as
instituições governamentais competentes e as organizações de empregadores e de
trabalhadores, levando em consideração as opiniões de outros grupos interessados, caso
apropriado. (BRASIL, 1999).
Precedente a este dispositivo normativo, no ano de 1973, a OIT aprovou a já citada
Convenção n° 138, que buscou convergir instrumentos que atua-se como pilar para o
desenvolvimento dos demais dispositivos dos Estados, no tocante a idade mínima de admissão
no trabalho, nos diferentes setores de atuação de fornecimento de bens e de prestação de
serviços, reiterando a tese de que a discussão de erradicar e o debate mundial sobre o trabalho
infantil não são contemporâneos.
Por fim, importante acrescentar que outros diversos dispositivos internacionais preveem
a necessidade de garantia dos direitos da criança, incluindo-se a questão do trabalho infantil,
como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, bem como Pacto de San José da Costa
Rica (Convenção Americana de Direitos Humanos).
Portanto, com base nos argumentos supracitados, compreende-se a importância dada
pelo cenário internacional a proteção aos direitos da criança e do adolescente, sendo
constantemente discutidos e acordados meios legais que inibam qualquer lesividade aos direitos
que estes possuem, sendo bastante recorrente a do trabalho infantil, buscando evidenciar o
desenvolvimento mental, motor e moral efetivo destes, impulsionando a melhoria de fatores
sociais e econômicos no cenário mundial.
Em qualquer discussão sobre trabalho infantil, é preciso entender como foi a formação
do país onde ele ocorre. Na Bolívia, a história da infância é a dos filhos do Sol, como
são conhecidos os povos andinos, e também a de sua exploração após a chegada dos
colonizadores espanhóis.
Como efeito disto, o ofício por parte das crianças é recorrente, pois está presente nas
relações de socialização do sujeito com a comunidade que aquele está inserido. Entretanto, este
valor cultural transforma-se em uma verdadeiro quadro de exploração, expondo esses
indivíduos a situações depreciáveis de vida, pois “vale lembrar que grande parte desses
trabalhos está enquadrada na lista de piores formas de trabalho infantil da Organização
Internacional do Trabalho (OIT).(GARCIA, 2016).
A conjuntura apresentada decorre, além de fatores culturais, da deficiência das políticas
públicas deficitárias por parte do Estado, tornando as crianças seres subordinados a trabalho
nefasto para auxiliarem no seu sustento, de suas próprias famílias e até mesmo arcarem com os
subsídios de sua formação acadêmica, pois “ainda que a situação econômica tenha melhorado,
estima-se que um em cada cinco bolivianos é analfabeto e mais de 38% das crianças está fora
do sistema educacional”. (GARCIA, 2016). A mesma autora menciona que:
O trabalho infantil na Bolívia é um problema que não pode ser erradicado de um dia
para o outro, sendo uma necessidade para muitas famílias. Para solucioná-lo, são
necessárias ações imediatas, flexíveis e soluções efetivas em curto prazo para a
proteção das crianças.
II. Proteção e garantias para adolescentes acima de catorze (14) anos de idade em o
trabalho é estendido a adolescentes menores de catorze (14) anos de idade, que
excepcionalmente ter autorização para executar qualquer atividade de trabalho em as
condições estabelecidas pelas Ouvidorias da Criança e do Adolescente.(BOLÍVIA,
2014).
Como visto, essa disposição consagra que existe a possibilidade de adolescentes com idade
inferior a 14 exerceram alguma atividade laborativa, por meio de autorização. O III deste
complementa dizendo: “III Atividade de trabalho ou trabalho autônomo desenvolvido pela
menina, menino ou adolescente de dez (dez) a dezoito (18) anos, deve considerar a validade
total de todos os seus direitos e garantias”. (BOLÍVIA, 2014).Estes, por sua vezes, são
desafiados pelas condições insalubres que, em muitos casos, esses indivíduos enfrentam para
garantir a própria subsistência.
Já no art. 131, I, afirma: “A menina, o menino e o adolescente de 10 (dez) a dezoito (18)
anos devem expressar e concordar livremente sua vontade de realizar qualquer trabalho ou
atividade profissional”.(BOLÍVIA, 2014). No entanto, embora o dispositivo trata de liberdade,
não se pode aferir que esse público possua outra escolha, pois como já supracitado, o quadro
boliviano é deficitário em termos de políticas protetivas, subordinando assim, estes menores a
este quadro de atividade laborativa.
Neste mesmo art. no II, este código destaca a criação de ouvidorias para resguardar os
direitos desses indivíduos e combater atitudes arbitrárias. Já nos seguintes, III e IV, fala a
respeito de que são feitas avaliações para conceder que este exerça algum ofício. Nos artigos
seguintes, o Código destaca uma regulamentação para a remuneração, proteção, vedação a
práticas exploratórios, chegando a vedar no art. 136: I. “São proibidas atividades trabalhistas e
trabalho proibido por sua natureza e condição perigoso, insalubre ou atento à dignidade da
criança e do adolescente, e aqueles que colocam em risco sua permanência no sistema
educacional”. Em oposição ao texto da lei, crianças e adolescentes, em diversos casos, vivem
na seara da informalidade e sem proteção, trabalhando em condições subumanas e
comprometendo seu futuro cidadão e sua profissionalização.
3. METODOLOGIA
Este, por consequência, exerceu uma função crucial ao fomentar a interpretação de leis
em vigência em sociedades distintas, fomentando o enriquecimento de informações ora
apresentadas neste estudo. Em conformidade a isso, o uso do método dialético decorre da
necessidade de demonstrar a contradição existente entre o texto da lei e a realidade degradante,
em ambos os Estados, a qual crianças estão inseridas no setor laborativo de forma, muitas vezes,
degradante ao seu bem-estar físico, mental e social. Desta forma, Richardson (2014, p. 45)
dispõe que: “Embora hoje se de a este termo um sentido mais amplo, o núcleo da dialética, sua
essência, continua a ser a investigação das contradições da realidade, pois são essas a força
propulsora do desenvolvimento da natureza”. Em adição, o método hermenêutico propiciou
uma interpretação mais detalhista dos documentos e da legislação consultada como destaque as
convenções, leis constitucionais, infraconstitucionais, normas de caráter supranacional e,
especialmente, a Declaração Sociolaboral do Mercosul. No tocante às técnicas de bibliográfica,
foram usadas as técnicas bibliográfica, descritiva e documental. A primeira em decorrência do
uso de fontes secundárias de informação como doutrinas, monografias, artigos e dentre outros
que fomentaram a construção de um repertório amplo para fundamentar a problematização, uma
vez que seguindo o pensamento de Marconi e Lakatos:
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Toda investigação científica se inicia com uma inquietação, uma problematização, uma
dúvida por parte do pesquisador. Sob tal ótica, mediante a análise da lei de cada país, infere-se
que o Direito recebe fortes influências sociais, o que auxilia na sua dinamização. Infere-se, desta
forma, que a definição de trabalho infantil depende da normatização de cada país que, sob
influência dos parâmetros sociais, estabelece uma idade mínima para o exercício laborativo.
Depreende-se também que, no âmbito dos dois países analisados, a legislação protege
as crianças e os adolescentes da exploração trabalhista e do labor infantil.Contudo, a execução
de políticas públicas por parte dos Estados ainda é deficitária fazendo que o trabalho infantil
continue sendo uma chaga que condena o desenvolvimento saudável desses indivíduos. Por
isso, chega-se a tese de que a lei como mero instrumento positivado sem efetividade não exerce
seu papel e, assim, torna-se ineficiente em face à problemática. Igualmente a isto, é perceptível
que o cenário de exploração e deturpação de direitos agrava-se na Bolívia quando a lei permite
o labor na idade de 10 anos. Embora haja toda uma influência cultural, esta não pode, em
momento algum, expor estes seres a uma panorama de violação de direitos humanos por causa
de um setor público ineficaz. É visível a necessidade deste país rever essa questão. O mesmo
vale para o Brasil que, embora possua uma grande protetividade a esta faixa etária, mas, em
diversos momentos, apresenta-se com uma atuação falha.
Por fim, o Brasil enquanto membro efetivo e a Bolívia ingressante do Mercosul devem
ser observantes à Declaração Sociolaboral do Mercosul e criar ações de minimização,
eliminação e erradicação do trabalho infantil sob a pena de desrespeitar o documento e sofrer
as sanções cabíveis. Encerradas as discussões, espera-se uma reflexão crítica da sociedade e
dos governos sob a questão de forma a combater esta grave intempérie que é o labor infantil,
como forma de efetivar os direitos e garantias da criança e do adolescente.
5. REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei n. 10.406, 10 de janeiro de 2002. Código Civil Brasileiro. Brasília, DF:
Senado, 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm
Acesso em: 6 set. 2019.
NADER, Paulo. Introdução ao estudo do direito. 40. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro:
Forense, 2017.
PARIS. Declaração Universal dos Direitos do Homem. Assembleia Geral das Nações
Unidas em Paris, 10 de dezembro de 1948. Disponivel em: https://nacoesunidas.org/wp-
content/uploads/2018/10/DUDH.pdf Acesso em: 6 set. 2019.