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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ


INSTITUTO DE LETRAS E COMUNICAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS

BRAYNA CONCEIÇÃO DOS SANTOS CARDOSO

SÍNTESE DO LIVRO QUANDO DIZER É FAZER

PROFESSOR: JOSÉ CARLOS CHAVES DA CUNHA

BELÉM
2016

Data: 18/04/2016
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SÍNTESE

AUSTIN, J. L. Quando dizer é fazer. Tradução de Danilo Marcondes de Souza Filho. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1990.

A realização da obra de Austin é produto de doze conferências realizadas na


Universidade de Harvard, abordando as seguintes temáticas: Performativos e Constatativos;
Condições para Performativos Felizes; Infelicidades: Desacertos; Infelicidades: Maus usos;
Critérios Possíveis de Performativos; Performativos Explícitos; Atos Locucionários,
Ilocucionários e Perlocucionários; Distinção entre Atos Ilocucionários e Perlocucionários; “Ao
dizer...” versus “Por dizer...”; Declarações, Performativos e Força Ilocucionária; Classes de
Força Ilocucionária.
Austin revolucionou o campo de estudo da filosofia analítica, bem como questionou
postulados fundamentais da linguística enquanto ciência autônoma. Ao mesmo tempo em que
criticou a teoria da verificação de Rousseau e a teoria do uso da linguagem de Wittgenstein,
tomou-as como ponto de partida para o avanço de seus estudos no âmbito da filosofia da
linguagem.
Esse filósofo da linguagem tem como propósito estudar a linguagem ordinária em todas
as suas distinções encontradas pelos homens durante os séculos, a fim de ampliar as discussões
sobre a linguagem até então delineadas, rompendo barreiras com o que foi preconizado pela
filosofia tradicional e pela linguística puramente descritiva. A linguagem expressa para
caracterizar a realidade vivenciada pelos seres humanos, ou seja, a linguagem em uso constitui
o seu objeto imediato de pesquisa.
A linguagem é fonte esclarecedora da complexidade da vida, porém, segundo hipóteses
elencadas por Austin, a linguagem ordinária não é puramente fiável, visto que pode ser
aperfeiçoada ou substituída por outra linguagem mais formal.
No entanto, a escolha de analisar a linguagem ordinária deve-se as dificuldades que ela
coloca em pauta diante de certos procedimentos filosóficos tradicionais. O posicionamento de
muitos filósofos era que a linguagem humana criava impedimentos para a resolução de questões
filosóficas, após as reflexões de Austin entende-se que são os filósofos e os linguistas que criam
obstáculos para o entendimento dessa linguagem. Diante dessa inquietação Austin prefere
estudar a linguagem ordinária do que a linguagem ideal e formal, pois toma como interessante
as questões relacionadas ao sentido, significado e referência dos enunciados de maneira inédita.

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O método empreendido em sua análise consiste em trabalhar o real por intermédio da


linguagem imaginária; coletar os dados (até os mais insignificantes); imaginar situações novas,
inéditas, diferentes; redigir uma lista exaustiva de todas as expressões que nelas se empregam,
para as posteriores reflexões.
A argumentação de Austin é construída por meio da análise dos performativos e dos
atos de fala. A discussão inicial da teoria de Austin trata da relação dos performativos e dos
constatativos, por meio de distinções.
Os constatativos descrevem ou relatam um estado das coisas, são os enunciados
denominados de afirmações, descrições ou relatos. Tais enunciados são passíveis ao critério de
verificabilidade, podendo ser definidos como verdadeiros ou falsos.
Os performativos não descrevem, não relatam, nem constatam absolutamente nada, pois
não são submetidos ao critério de verificabilidade (não são falsos nem verdadeiros). São
enunciados que, quando proferidos na primeira pessoa do singular do presente do indicativo,
na forma afirmativa e na voz ativa, realizam uma ação. Tais enunciados, no exato momento em
que são proferidos, realizam a ação denotada pelo verbo; não servem para descrever nada, mas
sim para executar atos (por exemplo, o ato de batizar, condenar, perdoar, abrir uma sessão etc.).
Nesse sentido, dizer algo é fazer algo. Os enunciados performativos constituem o maior foco
de interesse de Austin.
Os performativos são passíveis as condições de felicidade e infelicidade, para a
enunciação ser considerada feliz faz-se necessário: (A.1) a existência de um procedimento
condicionalmente aceito, que apresente um determinado efeito condicional para a ação ser
realizada (com o proferimento de determinadas palavras que ratificam o ato); (A.2) as pessoas
e as circunstâncias particulares devem ser adequadas ao procedimento específico invocado;
(B.1) o procedimento deve ser executado por todos os participantes de modo correto e (B.2)
completo; (Γ.1) aquele que participa do procedimento, e o invoca deve de fato ter a intenção de
se conduzirem de maneira adequada, e, além disso, (Γ.2) devem realmente conduzir-se dessa
maneira subsequente. Quando todas essas regras são cumpridas, diz-se que, a ação pretendida
é realizada, logo será um ato feliz.
Há casos em que as regras de felicidade são transgredidas e a ação não é referendada,
são os casos de infelicidade, nesses tipos de casos a enunciação não faz o que estava destinada
a fazer. Os desacertos e os abusos são categorias que expressam os atos infelizes.
Os desacertos estão relacionados com o procedimento, a circunstância e a execução, ou
seja, com os mal-entendidos e enganos que ocasionam à não execução do ato. Dessa forma
ocorrerá um desacerto quando: (A.1) não existe procedimento aceito; (A.2) o proferimento é

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executado em circunstância não apropriada; (B.1) o procedimento possui falhas (defeituoso) e


(B2) é incompletamente executado.
Os abusos referem-se as vontades e aos desejos, as insinceridades e o não cumprimento
de uma determinada ação. Compreendem os abusos: (Γ.1) as dissimulações, insinceridades e
(Γ.2) as não realizações, deslealdades, infrações, indisciplinas e rupturas.
Os proferimentos performativos são infelizes quando ocorrem as seguintes situações: a
nulidade quando o enunciador não está em posição de efetuar tal ato, quando não consegue,
formulando seu enunciado, completar o ato pretendido; o abuso da fórmula (falta de
sinceridade) e a quebra de compromisso.
Austin constatou que nem todos os enunciados declarativos são constatativos, há
também a realização de declarativos performativos, que são de dois tipos: performativos
primários e performativos explícitos. Os performativos primários não tornam explícita a força
exata do proferimento, conservam uma certa ambiguidade, apenas o contexto retira a
ambiguidade e, os performativos explícitos comportam uma espécie de prefixo que ostenta, sem
ambiguidade, a performatividade do enunciado. Vale ressaltar, que o performativo explícito se
desenvolve a partir do performativo primário, o performativo primário é uma forma reduzida
do performativo explícito.
Para o estudioso, os performativos não são apenas os verbos formados na primeira
pessoa do singular no presente do indicativo, na forma afirmativa e na voz ativa, mas também
apresentam verbos na segunda e terceira pessoas, na voz ativa ou passiva, ou seja, a pessoa e a
voz, não são elementos essenciais para o proferimento performativo. Não há critérios de
identificação para que o verbo seja considerado um performativo, não existe um critério de
ordem gramatical ou vocabular que precise com exatidão a totalidade dos possíveis
performativos, logo, se comparado com os constatativos não existe um critério gramatical que
possa distingui-los de maneira precisa.
No que concerne a relação entre os atos de fala e os atos institucionais, o teórico concluiu
que, os atos podem ser realizados tanto formalmente no âmbito de uma instituição como
informalmente por meio de simples atos de fala.
A descoberta de que todos os enunciados são performativos conduziu Austin ao
abandono da oposição que lhe serviu de ponto de partida e a elaborar uma teoria geral da fala
como ação onde todos os enunciados encontram-se investidos de uma função pragmática, pois,
à medida que se diz algo automaticamente se faz algo, realizando uma ação.
A constituição dos atos de fala tomou como base três questionamentos a saber: em que
sentido dizer é fazer, em que sentido fazemos algo dizendo algo e em que sentido fazemos algo

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pelo fato de dizer algo. Tais questionamentos fazem referência aos três atos performativos, o
locucionário, o ilocucionário e o perlocucionário.
O ato locucionário está diretamente ligado ao primeiro questionamento, em que sentido
dizer é fazer, esse ato é relacionado a produção de signos vocais segundo o código interno de
uma língua, encontra-se dividido em três atos, o fonético, o fático e o rético. O fonético atrelado
a produção de determinados sons; o fático consistindo na produção de determinados vocábulos,
em uma determinada construção, com uma determinada entonação; o rético consistindo na
utilização de tais vocábulos, com sentido e referência.
O ato ilocucionário faz referência ao segundo questionamento, em que sentido fazemos
algo dizendo algo, esse ato consiste na realização de um proferimento, é pertinente salientar,
todos os enunciados apresentam uma certa força (ou valor) ilocutória que se acrescenta a seu
sentido.
O ato perlocucionário mantém relação com o terceiro questionamento, em que sentido
fazemos algo pelo fato de dizer algo, esse ato trata dos efeitos ou consequências causadas nos
ouvintes por meio do que foi dito, ou seja, os efeitos causados sobre seus sentimentos,
pensamentos ou ações. Essas consequências não são parte integrante do ato locucinário,
acontecem depois, contudo, pode-se falar com a intenção de suscitar esses efeitos.
A distinção entre os atos ilocucionários e perlocucinários ocorrem de três maneiras,
representam elementos para assegurar sua apreensão, apresentam um resultado e demandam
uma resposta. Das três formas citadas, a primeira é considerada a mais importante, visto que a
apreensão evidencia o fato da referência está diretamente ligada ao momento da enunciação, no
momento em que há o reconhecimento entre os interlocutores de que algo está assegurado, o
objetivo ilocucionário é realizado através de sua força. Nesse sentido, uma das características
marcantes da reflexão sobre a performatividade é construída por meio da questão eu-sujeito e
sua relação com a apreensão, estabelecendo uma nova concepção de referência e
intencionalidade.
No que tange o estudo das forças ilocucionárias, Austin, em suas análises, sustenta que
há diversos tipos de força implicados nesses atos, tais forças são de alcance e gênero muito
diversos e podem articular-se em grupos ou classes. Assim, os valores ilocucionários da
enunciação são apresentados em cinco classes, a saber: os vereditivos, os exercitivos, os
comissivos ou promissivos, os comportamentais e os expositivos.
Os vereditivos consistem em emitir um juízo, oficial ou extraoficial, sobre evidências
ou razões quanto ao valor ou ao fato, na medida em que são passíveis de distinção, concernem
a pronúncia de um veredito sobre determinado assunto, o seu conteúdo tem a possibilidade de

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ser verdadeiro ou falso, como exemplo, podemos citar os performativos absolvo, condeno,
analiso, determino, descrevo etc.
Os exercitivos são referentes ao exercício de poderes, direitos ou influências, há a
ocorrência de ordenação objetivando que algo seja realizado de determinada forma, e,
consequentemente, a autorização ou não de que certos atos aconteçam, a exemplo temos os
performativos ordeno, revogo, voto, anuncio, demito etc.
Os comissivos ou promissivos caracterizam-se por comprometer o falante a cumprir o
que prometeu ou assumiu. Nesse ato, podemos incluir a ação de “tomar partido”, que revela
certa indecisão no ato que está sendo praticado; apresenta ligação com os vereditivos e
exercitivos, no que concerne a realizar a ação e se comprometer com as consequências de um
ato. Como exemplo podemos encontrar os proferimentos do tipo prometo, pretendo, me
pronuncio por, tomo partido, sou a favor de etc.
Os comportamentais designam as atitudes e o comportamento social, adotados diante da
conduta e do destino de outros. A exemplo podemos citar os seguintes proferimentos: abençoo,
felicito, critico, peço desculpas, agradeço etc.
Os expositivos esclarecem como as palavras são utilizadas quando opiniões são
expressas e sua condição de fidelidade ao pensamento do falante. Compõem essa classe
proferimentos como afirmo, menciono, explico, formulo, exemplifico etc.
Em síntese, o vereditivo consiste em um exercício de julgamento, o exercitivo é uma
afirmação de influência ou exercício de poder, o comissivo ou promissivo é quando se assume
uma obrigação ou declara uma intenção, o comportamental é a adoção de uma atitude e o
expositivo é o esclarecimento de razões, argumentos e comunicações.
Austin na construção de seus estudos procurou esclarecer como os fatos da linguagem
ordinária ocorrem, sem fazer uma distinção entre os estudos filosóficos e linguísticos, visto que,
a abordagem da linguagem por meio de uma visão performativa não se preocupa em delimitar
fronteiras entre a filosofia e linguística. As contribuições tecidas pelo teórico foram de grande
valia para o avanço dos estudos no campo da Pragmática Linguística.

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