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27/01/2020 Caldeirões populares | Opinião | EL PAÍS Brasil

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Caldeirões populares
Septênio 2014-2020 será o de menor crescimento na América Latina em
40 anos

Mulheres protestam contra as políticas econômicas do Governo equatoriano em Quito, em outubro. JONATAN ROSAS /
GETTY IMAGES

JOAQUÍN ESTEFANÍA

28 DEC 2019 - 20:00BRT

O papa Francisco, que muitos de seus inimigos chamam de peronista, se referiu várias vezes
à América Latina como um “continente em chamas”, com “governos fracos que não
conseguiram colocar ordem e paz em seu interior”. O Natal incluiu a região entre as que
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estão nas trevas do mundo. Declarações como essas e a extensão dos protestos nas ruas
em lugares tão diferentes como o Chile, Bolívia, Equador, Colômbia etc., fazem pensar que a
região está submersa em outra década perdida como a dos anos oitenta e que, da mesma
forma que outros locais do planeta, está retrocedendo.

E não é assim. A América Latina tem problemas estruturais que em muitos


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casos avançam sem trégua (a desigualdade, porque seus ricos são cada
Emprego tem
vez mais ricos e não porque seus pobres sejam os mais desfavorecidos do
leve melhora e
mundo; a violência cotidiana, a ponto de incluir alguns países dentro da mais vagas com
espantosa categoria de “Estados falidos”; a corrupção,...) e justificam as carteira
assinada, mas
críticas, mas em comparação com outras conjunturas tem muita força:
informais
níveis de inflação historicamente baixos, reservas internacionais superam e
relativamente elevadas, acesso aos mercados financeiros internacionais desafiam
recuperação
(com as exceções conhecidas), juros muito baixos, etc. Estas condições
favorecem sua capacidade para aplicar políticas econômicas que
Desaceleração
estimulem a demanda, cuja ausência é uma das causas dos movimentos das potências
de protesto. regionais agrava
estagnação da
América Latina
Acaba de ser publicado o tradicional Balanço preliminar das economias da
América Latina e o Caribe 2019, elaborado pela Comissão Econômica para Piñera acusa
a América Latina e o Caribe (CEPAL), um organismo das Nações Unidas governos e
instituições do
com sede em Santiago (Chile). Destacam nele dois vetores que se exterior de
desenvolvem paralelamente: uma intensa desaceleração econômica influenciarem
generalizada e sincronizada, que fez com que 18 dos 20 países estudados protestos no
Chile
apresentassem uma taxa de crescimento menor em relação a períodos
anteriores; e um contexto de crescentes demandas sociais, pressões para
reduzir as desigualdades e aumento da exclusão social, que explodiram “com uma
intensidade incomum”.

Essas características, entretanto, não correspondem somente ao ano das mobilizações,


começaram pelo menos desde 2014: queda da renda per capita, o investimento, o consumo
per capita, as exportações, e uma deterioração contínua da qualidade do emprego. O
septênio 2014-2020 (a não ser que no próximo ano ocorra um milagre que ninguém prevê)
será, de acordo com a CEPAL, o de menor crescimento econômico na região nos últimos 40
anos. Nesse período, o número de desempregados da região superou 25 milhões de
pessoas (um milhão a mais do que em 2018), em meio a um desgaste agudo das condições
do mercado de trabalho: aumenta muito mais o trabalho por conta própria (autônomos e
falsos autônomos) do que o emprego assalariado, aumentam o subemprego e o trabalho
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que se origina no interior da economia informal (submersa), e aumenta a diferença entre


homens e mulheres em relação ao desemprego (e aos salários). Este septênio parece
imerso no conceito de “paralisação secular” publicado pelo economista Larry Summers,
secretário do Tesouro com Bill Clinton.

Diante dessa dupla dimensão (desaceleração e aumento dos protestos) há quem tenha
ressuscitado o velho relatório sobre a governabilidade das democracias, que nos anos
setenta do século passado foi escruto por Michel Crozier, Samuel Huntington e Joji
Watanuki à Comissão Trilateral. Entre as principais ideias do mesmo, sobressaiam duas que
podem ser colocadas novamente em circulação: a possibilidade de limitar a participação das
pessoas na ação política, para evitar os excessos que podem colocar em perigo a extensão
da própria democracia; e a diminuição da “sobrecarga governamental” que se manifesta na
expansão dos gastos do Estado de Bem-estar como uma “fonte de crise”.

De acordo com os apologistas rejuvenescidos dessas ideias, a liberdade e a democracia


estão ameaçadas pelas intrusões das ruas que pressionam as instituições. Mas isso
dependerá do sucesso ou do fracasso dos caldeirões populares.

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A desigualdade mobiliza latinos a voltarem às ruas para protestar

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