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28/01/2020 Damares demonstra força entre os mais pobres e acende alerta na esquerda | Brasil | EL PAÍS Brasil

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Damares demonstra força entre os mais pobres e


acende alerta na esquerda
Com discurso contraditório, pastora evangélica, popular até entre os
identificados com o PT, prepara campanha para pregar abstinência sexual
na pré-adolescência

Damares Alves participa de celebração pelo Dia Nacional de Valorização da Família, em 21 de outubro de
2019. MARCELO CAMARGO / AGÊNCIA BRASIL

FELIPE BETIM

São Paulo - 27 JAN 2020 - 20:53BRT

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Quarta-feira, dez horas da noite. Sob o olhar atento de seguranças, centenas de pessoas
deixam o faraônico Templo de Salomão após mais um culto. Marcos Paulo, de 26 anos, está
passando as férias com a família em São Paulo e não queria deixar de conhecer a sede
mundial da Igreja Universal do Reino de Deus. “Sou cristão há menos de seis meses. Entrei
na igreja através da minha família, porque percebi a mudança na vida dela. Eu estava num
caminho meio perdido, não estava feliz”, conta o rapaz, oriundo do Mato Grosso do Sul e
formado em Direito. “Ainda estou desempregado e estudando para concurso, mas Deus
tem agido na minha vida”, completa. Por causa de seu contato com a Igreja Evangélica,
conta que vem acompanhando o trabalho da pastora Damares Alves, atual ministra da
Mulher, da Família e dos Direitos Humanos do Governo Jair Bolsonaro. “Sou a favor de suas
declarações, até porque ela é uma pessoa cristã, uma mulher de Deus, com uma visão do
seio familiar. Ela tem tudo para fazer o país caminhar”, argumenta.

Na mesma linha opina Giovana Oliveira, de 27 anos. Ainda que ache que
Damares soa às vezes “um pouco brusca demais”, acredita que seu “Para muitas
mulheres o
trabalho tem tudo para dar certo, sobretudo se o Governo passe os processo de
recursos necessários para abrir “espaços de apoio” para as pessoas. Ela empoderamento
esclarece que não se trata de clínicas médicas, mas sim de lugares onde a está atrelado à
igreja”
pastores evangélicos possam oferecer algum tipo de apoio psicológico ou
acolhimento para aqueles que precisam. “Por exemplo, se uma mulher
“Os
está se separando, ela não vai poder se apoiar no marido. Se alguém está parlamentares
com depressão, com problemas com álcool ou drogas, ela precisa de religiosos
tendem a ser
ajuda... E quem dá esse apoio é a Igreja”, explica. mais
conservadores
do que a
Damares, “mãe, pastora evangélica, educadora e advogada”, como se
população
apresenta para seus mais de 680.000 seguidores do Twitter, assumiu seu evangélica”
cargo no ano passado dizendo que “o país é laico, mas esta ministra é
terrivelmente evangélica”. Desde então vem ocupando o noticiário com “Há cegueira da
esquerda para
declarações que atraem ultraje e aplausos e acenando com a aplicação de
entender a nova
políticas conservadoras. A mais recente está relacionada a uma campanha classe
voltada para jovens pregando a abstinência sexual. É com essa abordagem trabalhadora”
que ela pretende enfrentar problemas importantes, como a gravidez na
infância e o aumento das doenças sexualmente transmissíveis entre os “A esquerda
abriu espaço e
jovens. “O argumento que eu estou buscando é: uma menina de 12 anos legitimou os
não está pronta para ser possuída. Se vocês me provarem, evangélicos na
política”
cientificamente, que o canal de vagina de uma menina de 12 anos está
pronto para ser possuído todo dia por um homem, eu paro agora de falar”,
argumentou ao jornal Folha de S. Paulo neste domingo. Em entrevista ao
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jornal Correio Braziliense, publicada também neste domingo, voltou a defender a política
governamental: “Eu pergunto: que dano eu vou trazer para uma criança ao dizer para ela:
‘espera mais um ano’, ‘espera um pouquinho’?. Não vamos eliminar os outros métodos
preventivos. Vamos continuar falando da camisinha; vamos continuar falando da pílula;
vamos continuar falando dos outros métodos. O que a gente quer, aqui na lista de métodos
(contraceptivos), é apresentar mais um. O não ficar agora. Esperar um pouco mais.”

As declarações de Damares dizendo não se opor a métodos contraceptivos se contradizem


com a nota técnica preparada por sua pasta para orientar a campanha, a ser
operacionalizada em conjunto com o Ministério da Sáude. De acordo com reportagem do
jornal O Globo, a pasta sustenta em documento obtido pelo jornal que ensinar métodos
contraceptivos para esse público “normaliza o sexo adolescente”. O texto diz ainda que a
prática do sexo na pré-adolescência leva a “comportamentos antissociais ou delinquentes”
e “afastamento dos pais, escola e fé”.

Para Valéria Vilhena, fundadora do grupo Evangélicas pela Igualdade de Gênero, alguns dos
argumentos públicos de Damares ecoam e são de senso comum. Mas as soluções que
propõe estão, em sua visão, mas relacionadas com a agenda conservadora de setores
majoritários da Igreja Evangélica do que com as práticas recomendadas por especialistas na
matéria. “Olhando assim, quem é contrário a uma fala dessa? Ninguém. E é muito simples,
dialoga muito bem com pessoas pouco escolarizadas, exatamente porque está fora do
contexto”, explica. “Damares não leva em consideração dados e estudos que mostram que
a maioria dos estupros ocorrem em meninas de até 13 anos. Quando falamos de gravidez
precoce, não estamos falando de meninas que ainda são imaturas e que resolveram fazer
sexo de maneira irresponsável. Estamos falando de meninas vulneráveis que sofrem
abusos”, acrescenta. Vilhena opina que Damares é “uma figura perigosa” justamente
porque “trata com deboche temas sérios".

O resultado das declarações, ideias e políticas de Damares ainda não são mensuráveis, mas
vem agradando parte significativa do eleitorado. É o que diz a mais recente pesquisa
Datafolha, de dezembro, na qual Damares é aprovada por 54% do total de evangélicos do
país ―eles representam hoje pouco mais de 30% da população brasileira, atrás apenas dos
católicos, que ainda são 50% do total. A pesquisa vai além e mostra a pastora evangélica
como uma ministra bastante popular, atrás apenas do ex-juiz Sergio Moro, que ocupa da
pasta da Justiça, e à frente de Paulo Guedes, ministro da Economia. Conhecida por 55% da
população, ela marcou 43% de ótimo bom, 27% regular e 26% ruim/péssima. “Ela é muito
forte no Governo e dificilmente cairia. Mesmo que não seja um ícone, reconhecida por toda a
população, sua trajetória evangélica traz sensação de reconhecimento”, explica Jacqueline
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Teixeira, doutora em antropologia social e pesquisadora do Núcleo de Antropologia Urbana


da USP.

Mais: à diferença dos demais ministros, e guardadas as margens de erro diferenciadas de


cada recorte, sua popularidade se distribui mais equilibradamente. Também é forte nos
setores populares onde o lulismo é tradicionalmente mais relevante após a passagem do PT
pelo Governo. Damares possui o apoio de 39% daqueles que tem renda familiar mensal de
mais que dez salários mínimos, 43% de dois a dez salários e 42% entre aqueles com menos
de dois salários mínimos. Para efeito de comparação, Sergio Moro, que possui 53% de
aprovação na média geral, sobe a 73% na faixa de renda de mais de 10 salários mínimos e
desce a 46% na fatia mais pobre. A ministra também pontua bem entre todas as faixas
etárias e até entre aqueles que simpatizam com o Partido dos Trabalhadores (PT): 29% dos
eleitores petistas também aprovam a ministra.

“Nem todo mundo que vota no PT é do PT. São pessoas que gostam do PT, que reconhecem
e se identificam com o PT e o que foi feito, mas... A gente não pode dizer que é de direita,
mas essa coisa do costume é algo muito forte. As pessoas ficam cegas diante disso”, explica
a deputada federal Benedita da Silva, do PT carioca e frequentadora da Assembleia de Deus.
Para Benedita, que atua como coordenadora nacional do núcleo evangélico do partido,
Damares “se coloca no lugar da família ideal, da família perfeita, que o Governo fala que está
ameaçada pela esquerda”. Um tema sensível tendo em vista que a população brasileira é, de
forma geral, conservadora, ainda segundo a parlamentar.

Em defesa da mulher e da família


A antropóloga Teixeira, que mergulhou em projetos relacionados com questões de gênero e
direitos reprodutivos dentro da Igreja Universal, e que agora vem se debruçando sobre a
gestão de Damares, destaca a trajetória de vida e política da atual ministra. Ao contrário de
outras membros do Governo, ela possui experiência no legislativo e na máquina pública. Foi
secretária de assistência social de São Carlos, no interior de São Paulo, e durante os últimos
20 anos foi assessora parlamentar de deputados da bancada evangélica. Fundou a Anajure,
associação de juristas cristãos com forte influência em Brasília, e envolveu-se diretamente
em discussões sobre violência contra a criança e contra mulher ―sobretudo após a
aprovação da lei Maria da Penha, a qual apoiou. Por outro lado, colocou-se como ferrenha
militante anti-aborto e ajudou a difundir a ideia de que a educação sob o PT ensinava a
chamada “ideologia de gênero”.

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Em suma, Damares, de 55 anos, sempre foi o canal direto entre projetos produzidos no seio
da Igreja e as pautas que circulavam no Parlamento. “Além de tudo, ela é mulher e filha de
um pastor da Igreja missionário. Viveu em oito Estados do Brasil, o que também ajuda a
produzir essa sensação de capilarização, de ressonância", explica Teixeira. “Tudo isso ajuda
a configurar essa aliança da atual gestão com os evangélicos e a conferir certa confiança
desses setores populares com relação ao Governo”, acrescenta. "Mas essa aliança ainda é
instável”.

Além de ser uma das duas mulheres a ocupar o primeiro escalão do Governo Bolsonaro,
Damares é um dos membros mais estridentes dessa gestão. “Muitas pessoas tem dito que
ela é louca, mas temos que tomar cuidado. Nesse exercício de transformar políticas de
igreja em políticas públicas, ela consegue se comunicar com segmentos da população”,
argumenta Teixeira. O EL PAÍS solicitou uma entrevista com a ministra, mas não obteve
resposta até o fechamento desta reportagem.

Damares é um ponto fora da curva, mesmo dentro da bancada evangélica na Câmara. O


grupo é formado majoritariamente por homens brancos conservadores e ricos, enquanto
que a população protestante no Brasil é formada majoritariamente por mulheres pobres e
negras. Pesquisadores vêm apontando que os evangélicos estão longe de ser um grupo
homogêneo, com pensamento único ―o fato de Damares ser cristã e possuir uma trajetória
política de décadas dificilmente explica por completo sua popularidade. De alguma forma, a
ministra reflete as contradições e anseios desse contingente. Além de ser mulher, como a
maior parte do país, foi vítima de violência sexual e doméstica quando criança. Não foge de
abordar temas caros para setores progressistas, como o racismo e a causa indígena. Ao
mesmo tempo que propõe a campanha pela abstinência sexual, irritando até pastores como
Silas Malafaia, cita dados da Unicef sobre gravidez precoce ou estatísticas que mostram
epidemias de doenças sexualmente transmissíveis, como a sífilis. E não diz ser contrária a
que a educação sexual seja abordada nas escolas ―ainda que, na prática, especialistas
digam que o atual governo vem freando avanços nessa área, quando, por exemplo, expõe
veto a material que trate de diversidade sexual e de gênero.

“Querendo ou não, ela sempre trabalhou em assessorias voltadas para determinados


direitos civis, diferentemente de outros membros do Governo. Então ela vai sempre ter uma
posição minimamente mais humanizada ou moderadamente mais progressista que os
demais, porque ela constituiu sua própria trajetória nessas discussões sobre direitos civis e
humanos”, explica Teixeira. Além disso, Damares não raro diz ser uma mulher
“empoderada”, passando a ideia de que enfrentou vários obstáculos e venceu todos eles
antes de ocupar um cargo no primeiro escalão do Governo. “Essa dinâmica do
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empoderamento não está só com o feminismo e a esquerda. As igrejas, mesmo tendo que
lidar com noção de submissão, precisa dar sentido, ressignificar essa palavra, mesmo você
sendo uma mulher evangélica”, acrescenta a antropóloga.

Essa mesma mulher forte e empoderada é também a “mãe Damares” que reforça os valores
da família tradicional diante de um mundo em constante mudança. Um medo dos recentes
avanços que está relacionado, segundo Texeira, com as teologias “muito apocalípticas" que
circulam e que "de alguma maneira estão remetendo a uma ideia final e de pensar em
mecanismos de salvação, de políticas mais radicais”. Mas sua mensagem é também de
cuidado e de acolhimento diante das dores cotidianas. “Na última campanha para a
prefeitura do Rio, Marcelo Crivella [bispo licenciado da Igreja Universal e atual prefeito da
capital fluminense] falava que iria ‘cuidar das pessoas’, enquanto Marcelo Freixo dizia que
não iria cuidar, mas sim ‘trabalhar junto’. Mas as pessoas já trabalham demais, sofrem
demais. Elas querem cuidado mesmo”, explica o professor e historiador João Bigon,
evangélico da Igreja Batista e coordenador do Movimento Negro Evangélico no Rio de
Janeiro.

Morador de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, além de mestrando em relações


étnico-raciais, Bigon explica que a defesa dos valores familiares nem sempre está
relacionado com uma ideologia conservadora. “As pessoas que moram em favelas e
periferias muitas vezes só têm isso, a família. Para elas, a defesa da família muitas vezes não
é uma questão ideológica, mas sim uma lógica de proteção”, argumenta. Ele conta que
muitas mulheres buscam igrejas justamente em contexto de fragilidade familiar: por
exemplo, quando está sofrendo violência doméstica e teme denunciar para a polícia, quando
o marido está abusando do álcool, o filho está na vida do crime... “E a mulher busca no
sagrado um reforço para unir uma família. Ela luta o tempo todo pra trazer esse filho
‘desgarrado de valores cristãos’ e a igreja muitas vezes consegue resgatá-lo. Ela diz que é
pecado beber, usar droga, cria uma mentalidade que faz com que se afaste disso tudo”,
explica Bigon. A antropóloga Teixeira segue na mesma linha: “A defesa da família está
focada no único lugar possível existência. Ela simboliza uma espécie de segurança dentro de
territórios pós-coloniais como o nosso, permeados pela sensação de violência,
vulnerabilidade e instabilidade”.

Por sua vez, o antropólogo Lucas Bulgarelli usou o Twitter para lançar pistas dos motivos
pelos quais o discurso sobre abstinência pode se mostrar atrativo até para pais que não se
consideram conservadores. “A ideologia de gênero tem sido uma das ferramentas mais bem
sucedidas da direita no Brasil. Ao disputar o sexo e o gênero no campo da política, oferece
uma compreensão de mundo bastante útil para quem questiona se está sendo um bom pai
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ou mãe. Porque [isso] localiza as dificuldades sobre o sexo e a sexualidade como um


elemento externo ao núcleo familiar e contrário a seus valores. Um mal, portanto, que vem
de fora para dentro por contaminação, podendo, por consequência, ser combatido”,
escreveu Bulgarelli.

Vinculado também a movimentos sociais progressistas, Bigon lembra de alguns debates


que vivenciou com não-evangélicos. Como quando um vídeo que viralizou nas redes
mostrava uma Damares relatando ter visto Jesus em um pé de goiaba no momento em que
se pensava em se matar. “Aquilo virou meme, muitos riram e inclusive passaram a duvidar
de sua sanidade mental”, recorda. “E eu disse: não podemos tratar dessa forma uma
experiência que foi só dela, porque essa experiência, por mais absurdo que pareça, vai de
encontro ao coração de muitos brasileiros que vão dizer que já aconteceu algo parecido. É a
experiencia de fé do indivíduo e com o que ele acredita”, prossegue.

Lucas Bulgarelli
@lucasbulgar

(1) A campanha de abstinência proposta por Damares Alves


dialoga diretamente com uma das maiores preocupações de
pais e mães brasileiros que não leem Intercept e não conhecem
Stalin: a sexualização dos filhos na infância.
946 14:52 - 27 de jan de 2020

304 pessoas estão falando sobre isso

Incômodo progressista
Nas eleições de 2006 e 2010, a maior parte da população protestante votou nos candidatos
do PT ―que mantinha uma aliança pragmática com lideranças evangélicas― nas eleições
presidenciais. Algo que mudou sensivelmente nas eleições de 2014, quando a maioria
apoiou o tucano Aécio Neves. Mas a distância aumentou radicalmente em 2018, quando
cerca de 70% dos eleitores evangélicos apoiaram Bolsonaro. Em entrevistas recentes, o ex-
presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem defendendo que seu partido se empenhe em
reconquistar essa importante fatia do eleitorado.

“Eu assisti, na cadeia, a muito culto, muita gente rezando. E eles estão entrando na periferia,
porque o povo, quando está desempregado e necessitado, a fé dele aumenta”, afirmou o
petista ao portal UOL neste domingo. “Acho que o papel do Estado é ser laico, não ter uma
posição religiosa. Mas o que o PT tem que entender é que essas pessoas estão na periferia,
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p ç g q q q p p ,
oferecendo às pessoas pobres uma saída espiritual, uma saída que mistura a fé, com o
desemprego, com a economia”, complementou. “As pessoas estão ilhadas na periferia, sem
receber a figura do Estado. E recebem quem? De um lado, o traficante que está na periferia.
De outro lado, a Igreja Evangélica, a Igreja Católica, que também tem uma atuação forte
ainda”.

A deputada petista Benedita da Silva faz uma autocrítica ao admitir que em determinados
aspectos o PT deixou de dialogar diretamente com os evangélicos. Ela argumenta, no
entanto, que o caminho para reverter isso não passa por usar o púlpito para fazer política.
“O PT tem um projeto de inclusão social. Temos que falar sobre emprego, violência, políticas
públicas", opina. Também destaca que a disputa não deve se dar com a religião em si, mas
com instituições religiosas que possuem um projeto de poder. “Temos que deixar claro que
a fé é algo de cada um e que será sempre respeitada". Questionada sobre como a esquerda
vai abraçar as pautas feminista e LGBT ao mesmo tempo que dialoga com evangélicos
conservadores, insiste em dizer que “a base da discussão e da formação política não deve
estar voltada para a questão da fé, mas para os direitos individuais e coletivos, para a prática
do dia a dia e não para a teoria”.

Isso significa, por exemplo, deixar claro que “ninguém vai obrigar um pastor a realizar em
sua igreja um casamento homoafetivo”, um tema que "deve ser tratado no âmbito civil, não
da fé”, segundo explica Valéria Vilhena, do Evangélicas pela Igualdade de Gênero. “Não
podemos deixar toda essa comunidade fora do diálogo, nos fechar e achar que são todos
ignorantes, desprezando a capacidade de pensarem e também de saírem do senso
comum”, opina.

Em outras palavras, explica a antropóloga Teixeira, “é preciso não demonizar a pessoa


evangélica". “Precisamos dar nome aos problemas, e o problema é o Silas Malafaia, é
Bolsonaro... Mas uma pessoa que decide professar uma fé evangélica não é alguém que
podemos necessariamente colocar 100% na direita conservadora ou como apoiadora do
nazismo, porque elas são permeadas por muitas outras camadas e pertencimentos
religiosos e políticos”, explica. “E se a maioria é formada por mulheres negras, a quem é que
estamos nominando quando dizemos que evangélico é isso ou aquilo?”, questiona. E
conclui: “Precisamos ter uma postura que dê espaço para entender um pouco como essas
pessoas estão pensando em relação à política sem necessariamente elegê-las como
inimigos. Elas existem, mas existe um contingente imenso que está vivenciando isso sem
necessariamente optar por um lado ou outro. Essas pessoas fazem uma leitura da política
que não necessariamente é a do pastor. Elas também têm discernimento, e a partir disso
precisamos pensar em pedagogias de diálogo e de troca de conhecimento”.
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