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FORTALEZA
2014
B
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FORTALEZA
2014
B
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BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________________________
Prof.ªMs. Priscila Nottingham de Lima
(Orientadora)
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
B
B
B
B
AGRADECIMENTOS
Agradeço em primeiro lugar a Deus, por está ao meu lado durante essa
caminhada me proporcionando momentos maravilhosos.
A minha mãe, mulher guerreira que esteve em todos os momentos ao
meu lado me transmitindo força e coragem.
Ao meu pai (in memoriam), pela força espiritual transmitida, sei que onde
estiver deve está orgulhoso.
Ao meu irmão, pela paciência e palavras de estímulo e incentivo.
Aos meus avós, por acreditarem em mim e estarem ao meu lado em
todos os momentos.
Ao meu namorado, amor da minha vida, obrigada por todo o incentivo e
palavras de estímulo e por sempre escutar minhas angústias e aceitar minhas
escolhas.
A minha madrinha, pelo apoio, força e carinho.
Às amigas de curso Ianne, Ianna, Bianca, Fernanda, Mazé, Jordânia
pelos momentos divertidos e pelas experiências trocadas.
Às amigas, em especial Aline Maria, Catiana Paiva e Suelen, obrigada
pela força transmitida nessa reta final.
Aos professores da Faculdade Cearense – FaC, pelo conhecimento
compartilhado.
Aos profissionais da Secretaria da Mulher, em especial a Jaíra e a Lilian,
pela colaboração e força.
À professora Priscila Nottinghan, pelas orientações, paciência e incentivo.
À banca examinadora, obrigada por estarem presente neste momento tão
especial.
A todos os colegas que não foram citados, obrigada pelo carinho.
B
6
RESUMO
BB
Este estudo propõe explicar a Perspectiva dos Profissionais da Secretaria da
Mulher, Cidadania e Direitos Humanos sobre a violência contra a mulher,
destacando a situação precária em que a Secretaria se encontra no momento. Este
trabalho é de natureza qualitativa, para o qual se utilizou para coleta de dados a
entrevista semiestruturada e a pesquisa de campo. Sua fundamentação teórica
ocorre pelas categorias Gênero, Violência e Família. Apresento, também, como
ocorreu a trajetória de conquistas das mulheres e as deficiências encontradas na
instituição pesquisada.
ABSTRACT
B
This study aims to explain the perspective of the Department of Professional Women,
Citizenship and Human Rights on violence against women, highlighting the
precarious situation that the Secretariat is at the moment. This study is qualitative in
nature, which was used for data collection semistructured interview and field
research. Its theoretical foundation is the categories Gender, Violence and the
Family. Present as the trajectory of women's achievements and deficiencies found in
the research institution occurred.
Keywords:Gender, Violence against Women, Ministry of Women, Citizenship and
Human Rights.
B
9
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 10
CAPÍTULO 1- PERCURSO TEÓRICO - METODOLÓGICO....................................................... 12
1.1 Considerações acerca do Método ........................................................................................ 15
1.2. Objeto de Estudo ................................................................................................................... 18
1.3. Secretaria da Mulher, Cidadania e Direitos Humanos do Município de Pacatuba ....... 23
CAPÍTULO 2 - VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER ....................................................................... 26
2.1 Tipos de Violência ................................................................................................................... 30
2.2. As Lutas Feministas .............................................................................................................. 33
2.2.2. As Lutas Feministas no Brasil ....................................................................................... 37
2.3. Política Nacional de Enfrentamento a Violência Contra a Mulher .................................. 40
2.3.1. A Lei “Maria Da Penha” – N° 11.340/06 ...................................................................... 43
2.3.2. Redes de Apoio .............................................................................................................. 46
CAPÍTULO 3 - UNIVERSO DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NO MUNICÍPIO DE
PACATUBA ........................................................................................................................................ 50
3.1. O Perfil dos Profissionais Entrevistados ............................................................................. 55
3.2. Entrevistas com os profissionais da Secretaria da mulher, Cidadania e Direitos
Humanos do município de Pacatuba .......................................................................................... 57
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................. 63
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................. 65
APÊNDICES ...................................................................................................................................... 68
ANEXOS ............................................................................................................................................. 71
10
INTRODUÇÃO
A violência existe em todo o mundo e se concretiza como um dos graves
problemas de nossa sociedade, podendo assumir várias formas e ocorrer por
motivos diversos. Neste trabalho, abordaremos a violência perpetrada contra a
mulher, em que, na maioria das vezes, o agressor é o homem, em geral seu
parceiro, namorado, noivo ou marido.
A violência contra a mulher se concretiza, atualmente, como um problema
de cunho público, pois toda mulher, independente de sua classe econômica, está
sujeita a ser vítima deste fenômeno que resulta em graves consequências físicas,
psicológicas, e sociais como adepressão, a incapacidade eo medo, podendo chegar
ao suicídio.
Durante anos, a mulher foi submetida a um tratamento desigual ao dos
homens,era tratada de forma machista e inferior, todas as conquistas, até agora,
foram resultados de muitas lutas e mortes.Muitas mulheres foram as ruas e lutaram
pelo voto feminino, por salários iguais aos dos homens, garantias de trabalho,
melhores condições de vida e pelo fim da violência.
Hoje,século XXI, temos varias políticas de proteção e combate à violência
contra a mulher no Brasil. Uma das iniciativas que ganhou maior notoriedade foi a lei
11.340/06, mais conhecida como lei Maria da Penha, pois foi uma grande vitória
diante do histórico de injustiças as quais as mulheres vinham sendo submetidas. Foi
necessário que uma mulher, após duas tentativas de assassinato perpetradas por
seu marido, deixando-a paraplégica, recorresse a Comissão Interamericana de
Direitos Humanos e condenasse o Brasil por negligência para que se conseguisse
justiça e a efetivação de uma lei que viessea amparar essas mulheres vítimas de
agressão.
Mesmo com a efetivação da lei, ainda existem dados que comprovam que
a violência contra a mulher não acabou, pelo contrario, algumas pesquisas mostram
que, mesmo com a lei, o nível de mulheres que sofrem violência ainda é bastante
relevante. Isso ocorre por vários fatores, como o medo de denunciar, a dependência
financeira, a cultura do machismo, a afetividade e a falta de equipamentos que
venham amparar essas mulheres.
Este estudo vem propor uma análise sobre as Perspectivas dos
Profissionais da Secretaria da Mulher, Cidadania e Direitos Humanos sobre a
11
1
Ana Janaína tinha 15 anos quando foi estuprada e assassinada quando saiu de casa para ir à
escola. O acusado sequestrou a garota e a levou para uma casa próxima à Rodoviária de Pacatuba.
Ali manteve a menina em cativeiro durante três dias e passou a estuprá-la, somente após uma
denúncia a Policia cercou o local. Iniciou-se, uma demorada negociação. Quando os policiais
entraram na residência, encontraram Ana Janaína morta no banheiro. O acusado a matou com 14
facadas, antes mesmo das negociações começarem. O caso teve grande repercussão no município e
nas cidades vizinhas.
13
A técnica de entrevista foi feita entre Abril e Maio de 2014, em uma sala
fechada, onde estavam presentes no momento somente o entrevistador e a pessoa
entrevistada. O procedimento durou cerca de quinze a vinte minutos, variando de
entrevistado para entrevistado, sendo que em todo o momento foi mantido um
ambiente de confiança e espontaneidade. Todos os nomes utilizados são fictícios, a
fim de preservar cada entrevistado.
Depois de feita toda a coleta de dados, busquei a compreensão de todo o
material com base no que afirma Gil (2011):
Classificamente, a interpretação dos dados é entendida como um processo
que sucede à sua análise. Mas estes dois processos estão intimamente
relacionados. Nas pesquisas qualitativas, especialmente, não há como
separar os dois processos. (p.177)
Para melhor clareza desta questão, temos aqui dados de uma pesquisa
(2014) do (IPEA) – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada feita com homens e
mulheres com a faixa etária entre 16 a 60 anos, onde 40,9% concordam com a frase
“os Homens devem ser a cabeça do lar”, já com a frase que afirma que “toda mulher
sonha em se casar”, o número de pessoas que concordaram é de 50,9%, ou seja,
mais da metade dos entrevistados concordam totalmente. No que diz respeito à
frase “uma mulher só se sente realizada com filhos”, 28,6% concordam, e em
relação a frase que afirma que “tem mulher que é pra casar, tem mulher que é pra
cama” a margem de concordantes foi de 34,6%.
Segundo dados da pesquisa do Mapa da Violência (2013), as mulheres
entre 15 e 24 anos foram as principais vítimas de homicídio da última década. Entre
2001 a 2011, o índice de homicídios de mulheres aumentou 17,2%, com a morte de
mais de 48 mil brasileiras nesse período. Só em 2011, mais de 4,5 mil mulheres
foram assassinadas no país.
Os primeiros dados aqui demonstrados (IPEA) revela que ainda vivemos
em um modelo de família patriarcal, mesmo com tantas mudanças na construção e
reconstrução da família em nossa sociedade, ainda existem traços arraigados, como
a questão do homem como o cabeça do lar, mulheres que só se realizam com filhos
e se submetem aos comportamentos que a sociedade e o parceiro impõem.
27
2
Dados retirados do site Tribuna do Ceará. Disponível em:http://tribunadoceara.uol.com.brAcesso em:
14/04/2014
28
A violência contra a mulher tem seu início com uma cenafavorável para
que o ato seja cometido, que pode se caracterizar como um confronto inicial entre o
homem e a mulher. Segundo Gregori (1989):
CONSTRUÇÃO A EXPLOSÃO
DA TENSÃO DA VIOLÊNCIA
LUA DE MEL
Fonte: Elaboração da Pesquisadora com base na “Cartilha Enfrentando a Violência Contra a Mulher”
– Orientações práticas para profissionais e voluntários.
II– a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça,
constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância
constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização,
exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;
Por violência sexual compreende-se todo ato ou jogo sexual, relação hetero
ou homossexual entre uma ou mais pessoas, praticada de maneira forçada,
com níveis gradativos de agressividade, com vista de obtenção de prazer
sexual por via de força. (p.134)
Bertha Lutz teve papel essencial nessa conquista, ela foi a criadora da
Liga pela Emancipação Intelectual da Mulher, que, logo depois, teve o nome
alterado para “Federação Brasileira pelo Progresso Feminino”, e foi justamente
através da federação que as mulheres fortaleceram suas atitudes em busca do
direito ao voto.
Alves; Pitanguy (1985) explicamque “As principais táticas utilizadas pela
federação são a do lobbying (pressão sobre os membros do congresso) e a
divulgação de suas atividades pela imprensa, para a mobilização de opinião
pública.” (p.47)
Somente em 1927, o Presidente do Rio Grande do Norte, Juvenal
Lamartine, permitiu no referido Estado o voto às mulheres, com esse acontecimento,
as reivindicações se intensificaram no País e o direito ao voto foi sendo conquistado
38
aos poucos nos Estados. Segundo Alves; Pitanguy (1985): “[...] em 1932, Getulio
Vargas promulga por decreto lei o direto de sufrágio as mulheres, este já era
exercido em 10 Estados do País.” (p.48)
Mas foi somente durante a Ditadura Militar (1964 a 1985)que o feminismo
ganhou força, várias mulheres foram torturadas e exiladas para fora do País devido
as suas atitudes contrárias as do governo. Segundo Bastos (2006):
[...] os primeiros exilados dirigiram-se principalmente para os países da
América Latina, como Cuba, Uruguai, Bolívia, México e Argentina, e alguns
para a Argélia e França. Mas Montividéu foi das capitais do exílio da
primeira fase, recebeu um grande contingente de exilados brasileiros. Num
segundo momento, o Chile tornou-se o principal destino dos brasileiros. A
proximidade geográfica com o Brasil, a euforia e a mobilização política
proporcionada pelo governo do então presidente socialista Salvador
Allende, levou os exilados brasileiros a acreditarem que o Chile seria o
espaço de rearticulação do movimento de oposição e enfrentamento ao
regime autoritário brasileiro e pelo fim da ordem capitalista. (p.1)
Por fim, podemos evidenciar que aos poucos o feminismo brasileiro vem
rompendo com a cultura do machismo,da qual muitas mulheres são vitimas há anos,
por meios de conscientização da mulher sobre seus direitos e com construção de
políticas públicas de enfrentamento a qualquer ato de violência ou discriminação.
Para dar continuidade, no próximo subtópico abordaremos a Política de
Enfrentamento à Violência Contra a Mulher que se caracteriza como uma das
grandes vitórias na luta pela emancipação feminina.
Prevenção: ações
educativas e
culturais que
interfiram nos
padrões sexistas
Enfrentamento e Assistência:
Combate: ações Politica de fortalecimento
punitivas e Enfrentamento a da rede de
comprimento da Violencia Contra atendimento e
Lei Maria da a Mulher capacitação de
Penha agentes públicos
Acesso e garantia
de direitos:
cumpromento da
legislação
nacional/
internacional e
empoderamento
das mulheres
A lei leva esse nome em homenagem a uma mulher também vítima dessa
violência: A Cearense e biofarmacêutica Maria da Penha passou por duas tentativas
deassassinato perpetradas por seu marido na época. O agressor, e marido,
professor universitário Marcos AntonioHerredia, atirou em sua mulher enquanto aela
dormia, ocasionando sequelas que Maria da Penha carrega até hoje, foi através
desse primeiro crime que a vítima ficou paraplégica. O marido, na época, afirmou ter
sido um assalto. Após alguns dias, o agressor não satisfeito tentou eletrocutá-la
durante o banho.
A luta de Maria da Penha por justiça foi um caminho árduo e trouxe
grande repercussão nacional e internacional. Em 7 de agosto de 2006 o presidente
da época sancionou a Lei n° 11.340/06.
Segundo Borelli (2013):
A biofarmacêutica iniciou uma luta de mais de 20 anos para que Marco
Antonio fosse punido por seu crime. Em 2001, a Comissão Interamericana
de Direitos Humanos condenou o Brasil por negligência em relação à
violência doméstica. Em 2003, o ex-marido de Maria da Penha finalmente
foi preso. (p.235)
Devido aos objetivos estabelecidos nessa pesquisa, este tópico terá como
foco as redes de apoio especializadas, aquelas que têm como público alvo as
mulheres que foram vítimas da violência.
A Secretaria de Política para as Mulheres (2011)as definem como:
Serviços que atendem exclusivamente a mulheres e que possuem
expertiseno tema da violência contra as mulheres. Inclui os seguintes
serviços: Centros Especializados de Atendimento à Mulher em situação de
violência (Centros de Referência de Atendimento à Mulher, Núcleos de
Atendimento à Mulher em situação de Violência,Centros Integrados da
Mulher), Serviços de Abrigamento (Casas Abrigo, Casas de Acolhimento
Provisório/Casas-de-Passagem), Delegacias Especializadas de
Atendimento à Mulher, Núcleos da Mulher nas Defensorias Públicas,
Promotorias Especializadas, Juizados Especiais de Violência Doméstica e
Familiar contra a Mulher. (p.27)
30
25
20
15
Número de Atendimento feito
10 pela Secretaria em 2012
0
Agosto
Dezembro
Maio
Fevereiro
Junho
Abril
Março
Setembro
Novembro
Janeiro
Julho
Outubro
Fonte: Elaboração da Pesquisadora com base nas informações fornecidas na Secretaria da Mulher
do município de Pacatuba, 2014.
52
100
80
40
20
0
Piscologica Fisica Sexual Moral Patrimonial
Fonte: Elaboração da Pesquisadora com base nas informações fornecidas na Secretaria da Mulher
do município de Pacatuba, 2014.
4,5
3,5
0,5
0
Agosto
Maio
Dezembro
Fevereiro
Abril
Junho
Março
Setembro
Janeiro
Novembro
Julho
Outubro
Fonte: Elaboração da Pesquisadora com base nas informações fornecidas na Secretaria da Mulher
do município de Pacatuba.
54
5
Atendimentos 2013
4
Atendimento 2014 Jan/
3 Maio
Fonte: Elaboração da Pesquisadora com base nas informações fornecidas na Secretaria da Mulher
do município de Pacatuba, 2014.
3
Preta Simoa: Foi uma negra liberta que liderou ao lado de seu marido a chamada “Guerra dos jangadeiros”
em 27, 30 e 31 de janeiro de 1881 em Fortaleza. O acontecimento decretou o fim do embarque de escravos no
porto já definindo os caminhos para uma futura abolição no Ceará.
Alzira Rufino: Enfermeira, seguidora das tradições do candomblé, feminista e ativista do movimento negro é a
primeira escritora negra a ter seu depoimento registrado pelo Museu de literatura Mário de Andrade em São
Paulo.
Dandara: Mulher de zumbi dos palmares, princesa de palmares. Guerreira ajudou em varias batalhas, suicidou-
se se jogando da pedreira mais alta em Palmares durante a queda do Quilombo para não ser presa e voltar à
escravidão.
Bertha Lutz: Pioneira do feminismo no Brasil fundou a Liga para Emancipação Intelectual da Mulher, e a
Federação Brasileira para o Progresso Feminino e representou o Brasil na Liga das Mulheres Eleitoras nos
Estados Unidos.
Nísia Floresta: Feminista, Abolicionista e republicana, autora do livro Direitos das Mulheres e Injustiça dos
homens em 1832. Criou uma escola de matemática e historia para ensinar as meninas.
Maria Quitéria: Maria Quitéria de Jesus era militar contra a vontade de seu pai, é considerada a heroína da
guerra da independência ganhando o titulo de patrona do quadro complementar de oficiais do exército
brasileiro.
Cida KopCak: Feminista e líder de movimentos sociais, lutou pelo direito da mulher no período da ditadura
militar e teve grande influência na segunda onda de feminismo no Brasil.
57
Eu acredito que exista a questão educacional né, no nosso país existe muito
a questão do machismo, existe a possessão do cara achar que a mulher é
posse dele. Quando a relação não dá certo essa mulher tem que
permanecer com ele porque é algo que faz parte dele ela não pode se
desvincular mais. [...] muitas vezeshomens que atendemos aqui tem baixa
escolaridade, então acredito que por isso a falta de compreensão da
questão dos direitos, de saber que hoje a mulher é protegida. [...] fora outras
coisas que a gente percebe... a violência que é acometida pelo uso de
droga e álcool pelo companheiro. (CIDA KOPCAK)
Sobre essa posse que o homem exerce sobre a mulher, Saffioti (1987)
afirma que:
O poder do macho, embora apresentado várias nuanças, está presente nas
classes dominantes e nas subalternas, nos contingentes populacionais
brancos e não brancos. Uma mulher que, em decorrência de sua riqueza,
domina muitos homens e mulheres, sujeita-se ao jugo de um homem, seja
seu pai ou seu companheiro. Assim, via de regra, a mulher é subordinada
ao homem [...] (p.16)
desvendar essas questões, muitas vezes veladas, e que trabalhe em parceria com
as instituições e projetos do município, podendo,juntamente com um trabalho em
rede, favorecer aquela mulher em todos os sentidos.
Entre as causas da violência, destaca-se nas respostas dos profissionais
o uso do álcool.Conforme os relatos demonstrados a seguir:
Muitas vezes a embriagues né, a maioria dos casos aqui se dá na segunda
feira o índice aqui é muito grande (DANDARA)
Aqui a maioria dos casos é a bebida, quando elas chegam aqui é mais
quando eles estão bêbados, quando estão bom, não estão alcoolizados né
elas comentam que são outras pessoas. (ALZIRA RUFINO)
Castro e Soares (2012) afirmam que existem vários mitos que cercam o
fenômeno da violência contra a mulher, sendo um deles o alcoolismo, os autores
ressaltam que: “De fato, os episódios mais graves, em geral, parecem acontecer
quando o agressor está sob influencia do álcool, mas este não pode ser considerado
como elemento causal da violência.” (p.10)
Antes da agressão física, a vítima já vem sofrendo, na maioria das vezes,
agressões constantes por meio de palavras de baixo calão, humilhações, calúnias e
ameaças e isso ocorre quando o agressor se encontra em total controle de seus
atos, sem nenhuma influência de bebida ou de drogas.
Ao perguntar aos profissionais se eles tiveram alguma capacitação ou
curso sobre a violência contra a mulher, obtive respostas contraditórias. Conforme
podemos ver a seguir:
No começo, assim como tinha muita coisa pra organizar dentro da
secretaria não tive não. Mas agora em Fevereiro a gente foi a uma
capacitação até do conselho que eu faço parte em Taíba com trinta
mulheres, eu fiz essa capacitação, com o tema políticas públicas para as
mulheres e englobava muito a secretaria da mulher especificando o que era
pra que utilizava a secretaria. (ALZIRA RUFINO)
das que mais estabelece contato com a mulher vítima de violência que chega a
Secretaria. Essa ausência de capacitação acarreta em uma fragilização do
trabalho,muitas mulheres não se sentem seguras em procurar a instituição para o
devido acompanhamento durante o processo dedenuncia.
A Política Nacional de Enfrentamento a Violência Contra a Mulher (2011)
tem como uma de suas diretrizes “Incentivar a formação e capacitação de
profissionais para o enfrentamento a violência contra as mulheres, em especial no
que tange a assistência.” (p.33)
E ainda em seus objetivos específicos destaca-se o que diz respeito a
“proporcionar às mulheres em situação de violência um atendimento humanizado e
qualificado nos serviços especializados e na rede de atendimento.” (p.35) Ou seja, é
essencial que esses profissionais obtenham conhecimento sobre seu trabalho e
mantenham-se informados sobre as políticas de atendimento a mulher, leis e
campanhas a âmbito nacional.
Castro e Silva (2012) ressaltam que “Quando pedem ajuda, as vitimas de
violência se defrontam com pessoas despreparadas e desinformadas sobre o
problema que elas estão vivendo.” (p.14)Esse despreparo profissional faz com que
as vítimas se sintam desamparadas e desacreditadas nas políticas de combate a
violência e na Lei 11.340/06, além de acarretar na diminuição da denuncia.
Ao abordar como os profissionais compreendem a Política Nacional de
Enfrentamento a Violência Contra a Mulher, todos enfatizaram queixas a respeito
dessa pergunta, pois os mesmos afirmavam que a pergunta era de cunho difícil,
sendo que durante as respostas foram constatadas algumas tentativas de fugir do
foco doquestionamento, como mostramos a seguir:
[...] não conheço, não conheço. Se tem, não conheço [...] pode até ser uma
falha minha né, eu desconhecer isso aí. (BHERTA LUTZ)
Bom, é o seguinte, a gente mudou de gestão né, lutamos por uma causa
justa, há 20 anos estávamos com gestores que não eram nada bom para o
nosso município. Lutamos pela primeira vez e não conseguimos eleger
quem a gente quis na segunda vez graças a deus a gente conseguiu né. Fui
convidada a exercer e estou aqui, aceitei o desafio, gostei e ainda estou por
aqui. (DANDARA)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante a construção deste trabalho monográfico, foram apresentados
gráficos com dados sobre a violência contra a mulher em nossa sociedade e sobre a
instituição estudada, também abordamos conceitos teóricos de fundamental
importância para o entendimento da violência e da realidade na qual a instituição se
encontrava.
O ato da violência contra a mulher não é algo recente e são de suma
importância estudos que mostrem, além do lado da vítima, as instituições que estão
lidando com esses casos de agressão. O atendimento a mulher vítima deste
fenômeno é diferencial, pois precisa ser humanizado, para que a vítima possa
estabelecer uma relação de confiança com os profissionais, e esses, por sua vez,
precisam respeitar os limites dessas usuárias fazendo uso da escuta ativa.
Nesse contexto, os sujeitos desta pesquisa são os profissionais que
atuam na Secretaria da Mulher em Pacatuba. O município foi um dos pioneiros ao
implantar a Secretaria como instrumento de combate a violência, a instituição teve
um papel ativo durante os primeiros anos (2009, 2010, 2011,2012) de sua vigência
chegando a atender mulheres de outros municípios.
Todos os objetivos específicos foram de fato alcançados no decorrer da
construção deste trabalho, principalmente durante as entrevistas colhidas em campo
e o uso da observação simples, possibilitandorelacionar o real com a teoria
64
REFERÊNCIAS
MINAYO, M Cecília. (org) Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 26. Ed.
Rio de Janeiro: Vozes, 2007.
MARTINELLI, Maria Lucia. Pesquisa qualitativa: um instigante desafio. São Paulo:
Veras, 1999.
OSTERNE, Maria do Socorro. A violência contra a mulher na dimensão cultural da
prevalência do masculino. Revista O público e o privado, Ceará, n°.18, p. 129-45,
julho/dez. 2011.
APÊNDICES
69
ROTEIRO DE ENTREVISTA
DADOS PESSOAIS
NOME:________________________________________________________
FILHOS:SIM NÃO
RELIGIÃO________________________RAÇA/ETNIA__________________
FORMAÇÃO:_____________________________________
ÁREA _________________________________________________
ÁREA_________________________________________________
ÁREA_________________________________________________
INSTITUIÇÃO
VINCULO EMPREGATÍCIO_________________________________________
CARGO__________________________________CARGA HORARIA_______
70
02- De acordo com o que você vivencia dentro da instituição, quais as principais
causas dessa violência?
03-De acordo com o que você vivencia, quais são os maiores desafios para
prevenção e punição dessa violência ?
ANEXO
72
___________________________________________________________________
Nome e assinatura do estudante
___________________________________________________________________
Nome e assinatura da professora/orientadora.
Consisto em participar deste estudo e declaro ter recebido uma cópia deste
termo de consentimento.
___________________________________________________________________
Nome e assinatura do participante/ Local e data