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UBM - CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BARRA MANSA

PRÓ-REITORIA ACADÊMICA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM JORNALISMO

ANA JÚLIA MENDES POMPEU

O FASCÍNIO DO MAL: OS PROBLEMAS ÉTICOS NA


ESPETACULARIZAÇÃO DE CRIMES EM ABORDAGENS JORNALÍSTICAS

Barra Mansa
2022
UBM - CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BARRA MANSA
PRÓ-REITORIA ACADÊMICA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM JORNALISMO

ANA JÚLIA MENDES POMPEU

O FASCÍNIO DO MAL: OS PROBLEMAS ÉTICOS NA


ESPETACULARIZAÇÃO DE CRIMES EM ABORDAGENS JORNALÍSTICAS

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Jornalismo do
Centro Universitário de Barra Mansa,
como requisito parcial para obtenção do
título de Bacharel em Jornalismo.
Professor Orientador: Álvaro Britto

Barra Mansa
2022
FOLHA DE APROVAÇÃO

FASCÍNIO DO MAL: OS PROBLEMAS ÉTICOS NA ESPETACULARIZAÇÃO


DE CRIMES EM ABORDAGENS JORNALÍSTICAS

Relatório final apresentado ao UBM - Centro


Universitário de Barra Mansa, como parte das
exigências para obtenção do título de
Bacharel em Jornalismo.

Barra Mansa, _____ de ________________ de _______.

BANCA EXAMINADORA

_________________________
Orientador Prof. Álvaro Britto

_________________________
Avaliador

_________________________
Avaliador

Barra Mansa
2022
AGRADECIMENTOS

Ao longo dos últimos quatro anos, eu tive o prazer de adicionar pessoas


maravilhosas à lista “colocar nos agradecimentos do TCC” e finalmente posso
listar cada uma.

Começo por aqueles que estão comigo desde o primeiro instante: minha
família. Agradeço aos meus pais, Elisângela e Cremilson, por sempre lutarem
para me ajudar a alcançar meus sonhos, sem eles eu não conseguiria chegar
até aqui. Agradeço ao meu irmão, Adair, que mesmo do seu jeito de pré-
adolescente, torceu muito por mim.

Agradeço aos meus avós, Maria da Conceição, Maria das Graças e Adair, por
me incentivarem a ter fé em mim mesma. Em especial, agradeço à minha
bisavó, Therezinha, que, infelizmente, não acompanhou minha trajetória na
faculdade de perto, mas com certeza está muito feliz por mim, em algum lugar,
em outro plano.

Agora agradeço a uma segunda família, aquela que tive o prazer de escolher:
meus amigos. Nos últimos meses foram eles que escutaram incansavelmente
minhas lamúrias por achar que eu não conseguiria finalizar este trabalho.

Primeiramente o agradecimento vai para aquela que viveu o Jornalismo


comigo, minha dupla, Polliana. Desde o primeiro dia, esteve do meu lado
fazendo com que esses quatro anos fossem os melhores. Em cada desafio,
nós fomos a base uma da outra e, juntas, pudemos crescer e melhorar. E claro,
sempre com um sorriso no rosto e uma piada na ponta da língua. Durante esse
tempo, eu pude ver ela se tornando uma profissional admirável, que eu tenho
muito orgulho de chamar de amiga. Obrigada, Polli, por cada momento,
conselho e puxões de orelha. Se não fosse por você, na verdade, nem esse
TCC existiria.

Agradeço às queridas Giulia, Thereza, Raíla e Iasmin. Sou muito grata por ter
conhecido cada uma e agradeço por sempre me fazerem enxergar a vida da
forma mais linda e alegre possível.
Não poderia deixar de citar minha veterana Thamires, que além dos ótimos
conselhos sobre as matérias, me acolheu como amiga e agora faz parte de um
lugar especial no meu coração.

Obrigada também aos amigos que fiz ao longo do curso e que levarei para a
vida toda: Caio, Emanuelle e Letícia. Vocês fizeram desse último ano o melhor
e mais engraçado de todos. Foi um presente conhecer vocês.

Agradeço a todos os colegas dos estágios que fiz durante esse período: João
Pedro, Richard, Dayane, Hebert, André, Elisa, Daniel, Alice e Mirella. Aprendi
muito com cada um e sem vocês eu também não teria conseguido chegar até
aqui.

Por fim, não poderia deixar de agradecer aos meus professores, que fizeram
de tudo para que este dia chegasse: Álvaro, Suély, Bia, Marlene, Chagas e
Ibiti. Obrigada a todos por cada ensinamento e por me mostrarem como o
Jornalismo é lindo e cheio de camadas. Prometo seguir esta profissão de forma
ética e dar muito orgulho a cada um.

Aos que não citei, pois ficaria enorme, mas que estiveram comigo durante toda
trajetória, meu sincero obrigada!

Eu amo cada um de vocês.


Elas podem atrair homens para o mar, enquadrá-los por
assassinato ou sugar sua respiração em um poema; é quando
elas entram na vida real e começam a matar pessoas reais que
nossa imaginação falha. Não podemos imaginar que elas
fizeram, sabe como é, de propósito.

Tori Telfer, Lady Killers (2017).


RESUMO

POMPEU, Ana Júlia. Fascínio do mal: os problemas éticos na


espetacularização de crimes em abordagens jornalísticas. 56f. Barra
Mansa, 2022.

Este trabalho analisa os problemas éticos da espetacularização de crimes


em abordagens jornalísticas, ou seja, em reportagens e notícias. Ao longo da
monografia, foi observado que os discursos utilizados pelos veículos de
comunicação fomentam o desejo do público de consumir notícias criminais,
algo que, consequentemente, aumentam as vendas e a popularização das
empresas. Com isso, as notícias deixam de ser apenas informativas e se
transformam também em uma mercadoria. Para compreensão deste fato, foi
analisado as teses da Indústria Cultural e da Sociedade do Espetáculo. Além
disso, a monografia analisou os recursos utilizados pelos veículos de
comunicação para captar a atenção do público e instigar o consumo desse tipo
de conteúdo, assim como as consequências que a espetacularização traz para
a sociedade atual. A partir disso, pôde-se entender que o formato escolhido
pelos veículos de comunicação vai contra diversos artigos do Código de Ética
dos Jornalistas Brasileiro (2007), algo que gera diversas consequências para a
sociedade atual, entre elas, a transformação de criminosos em celebridades;
estimulo e instigação de crimes; linchamento; combate à impunidade e perda
de credibilidade jornalística. Através do estudo do caso Von Richthofen, foi
possível perceber que a imprensa agiu de forma espetacularizada em cima
deste acontecimento, do seu início até os dias atuais. Por fim, pôde-se
acrescentar a dificuldade de reinserir o detento na sociedade, uma vez que a
espetacularização dos veículos traz sempre novas matérias e dessa forma o
condenado não tem acesso à oportunidade de esquecimento.

Palavras-chave: espetacularização, código de ética, crimes, jornalismo,


notícias, reportagens.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Exemplo de metonímia usada na manchete para atrair atenção do
leitor.................................................................................................................. 21
Figura 2 - Notícia de mãe salvando seu filho em Franca, interior de São Paulo.
......................................................................................................................... 21
Figura 3 - Imagens usadas na notícia de mãe salvando seu filho em Franca,
interior de São Paulo. ....................................................................................... 22
Figura 4 - Print de notícia de crime em São Paulo, que aborda violência em sua
manchete.......................................................................................................... 23
Figura 5 - Print de notícia de crime no Rio Janeiro, que aborda violência em sua
manchete.......................................................................................................... 23
Figura 6 - Print de notícia de crime em Minas Gerais, que aborda violência em
sua manchete. .................................................................................................. 24
Figura 7 - Print de matéria sobre criminosos condenados que recebiam cartas
de fãs................................................................................................................ 26
Figura 8 - Imagem da notícia impressa do caso Escola Base. ......................... 27
Figura 9 - Imagem da pichação feita na residência dos suspeitos do caso
Escola Base. .................................................................................................... 27
Figura 10 - Notícia sobre aumento de ataques com arma de fogo em escolas
do Brasil. .......................................................................................................... 30
Figura 11 - Imagem da capa de revista que incrimina os suspeitos do caso
Nardoni. ............................................................................................................ 31
Figura 12 - Imagem da capa de revista que incrimina os suspeitos do caso
Nardoni ............................................................................................................. 31
Figura 13 - Notícia sobre a morte de Daniela Perez......................................... 32
Figura 14 - Imagem da família Von Richthofen. ............................................... 34
Figura 15 - Imagem de uma das primeiras matérias feitas sobre o crime ........ 37
Figura 16 - Imagem de capa de revista sobre Suzane. .................................... 38
Figura 17 - Imagem de capa de revista sobre Suzane. .................................... 38
Figura 18 - Imagem de capa de revista sobre Suzane. .................................... 39
Figura 19 - Imagem da gravação de entrevista com Suzane. .......................... 40
Figura 20 - Imagem do momento em que Barni dá orientações à Suzane....... 41
Figura 21 - Imagem da capa do jornal Meia Hora, com manchete sobre Suzane
e Elize............................................................................................................... 43
Figura 22 - Print de notícia sobre saída de Suzane. ........................................ 43
Figura 23 - Print de notícia sobre Suzane fazendo compras em Shopping. ..... 44
Figura 24 - Imagem retirada do vídeo de entrevistas entre Suzane e Gugu. ... 45
Figura 25 - Print de um recorte da gravação de entrevista com Suzane. ......... 46
Figura 26 - Print de um recorte da gravação de entrevista com Suzane, sobre
vaidade. ............................................................................................................ 46
Figura 27 - Imagem promocional dos filmes baseado no caso Von Richthofen.
......................................................................................................................... 47
Figura 28 - Print de notícia sobre Suzane ser autorizada a cursar faculdade. . 48
Figura 29 - Print retirado de notícia sobre Suzane iniciar as aulas na faculdade.
......................................................................................................................... 49
Figura 30 - Print retirado de vídeo reportagem sobre Suzane frequentar
faculdade. ......................................................................................................... 50
Figura 31 - Print de notícia sobre apresentação de trabalho de Suzane. ......... 51
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................... 11
2 INDÚSTRIA CULTURAL E A NOTÍCIA COMO MERCADORIA ............. 12
2.1 A NOTÍCIA E A INDÚSTRIA CULTURAL.........................................16

3 A SOCIEDADE DO ESPETÁCULO E SUAS ESTRATÉGIAS NO


JORNALISMO .............................................................................................. 18
3.1 A MÍDIA E O CRIME.........................................................................19

3.2 APREÇO POPULAR.........................................................................24

3.3 AS CONSEQUÊNCIAS DA ESPETACULARIZAÇÃO NA SOCIEDADE


ATUAL.........................................................................................................25

4 OS PROBLEMAS ÉTICOS NA ESPETACULARIZAÇÃO DE CRIMES NO


JORNALISMO BRASILEIRO..........................................................................28
4.1 PENALIZAÇÃO DO CÓDIGO DE ÉTICA..........................................32

5 CASO VON RICHTHOFEN.......................................................................34


5.1 COBERTURA DO CASO E SEUS PROBLEMAS ÉTICOS...............37

6
CONCLUSÃO............................................................................................Err
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BIBLIOGRAFIA................................................................................................53
11

1 INTRODUÇÃO

As notícias e reportagens com teor criminal sempre chamaram a


atenção da sociedade. Muitos se sentem atraídos pelo estilo sem até mesmo
conseguir entender o porquê. Neste contexto, o conteúdo jornalístico criminal
se popularizou mundo afora, ganhando até mesmo editorias especializadas
neste assunto. Entretanto, as produções, que deveriam apenas apresentar ao
público o ocorrido, passaram a elaborar com maestria a espetacularização dos
acontecimentos, através de abordagens extasiantes que impactam ainda mais
o receptor.

Os discursos utilizados pelos veículos de comunicação fomentam o


desejo do público de consumir notícias criminais, algo que, consequentemente,
aumentam as vendas e a popularização das empresas. Com isso, as notícias
deixam de ser apenas informativas e se transformam em uma mercadoria.

A espetacularização das produções jornalísticas vai contra o Código de


Ética dos Jornalistas Brasileiros (2007) e viola diversos artigos presente no
mesmo. Dessa forma, o presente trabalho buscou analisar os problemas éticos
existentes nesses casos.

O trabalho analisa também, através das teses da Indústria Cultural e da


Sociedade do Espetáculo, como, quando e porque os conteúdos jornalísticos
foram transformados em mercadoria e de que forma as grandes empresas têm
lucrado com isso. Além disso, a monografia analisa quais os recursos utilizados
pelos veículos de comunicação para captar a atenção do publico e instigar o
consumo desse tipo de conteúdo. Ademais, o trabalho buscou retratar as
consequências da espetacularização na sociedade atual.

Para ilustrar, o estudo de caso deste trabalho abordou o caso Von


Richthofen. Em 2002, a morte do casal Manfred Albert e Marísia Von
Richthofen em um bairro nobre de São Paulo deixou o Brasil estarrecido. Após
investigações, a polícia constatou que a filha mais velha do casal havia
planejado e executado o crime, em conjunto com seu namorado Daniel
Cravinhos e o cunhado Cristian Cravinhos. Desde sua confissão, os veículos
12

de comunicação retratam a jovem com manchetes escandalosas, entre elas,


“assassina fria e sedutora” e “a menina que matou os pais”.

2 INDÚSTRIA CULTURAL E A NOTÍCIA COMO MERCADORIA

Há muitas dúvidas sobre quando surgiu o primeiro jornal, porém, o mais


conhecido que podemos citar foi criado em Roma em 59 A.C. O chamado Acta
Diurna foi idealizado e criado pelo imperador romano, Júlio Cesar (100 – 44
A.C), que desejava transmitir aos seus súditos os principais acontecimentos
sociais e políticos do império, como conquistas militares e expansões.

Nesta fase, as informações eram publicadas em grandes placas e


expostas em locais de maior circulação de pessoas. Apenas após a criação da
prensa, inventada por Johann Gutenberg, em 1447, que os jornais passaram a
ser publicados de forma massiva e fácil, sem a necessidade de serem escritas
à mão. Isso porque a máquina possuía caracteres móveis que, quando
pressionados com tinta sob o papel, transferiram as palavras para o outro lado.
A tecnologia proporcionou a divulgação de uma grande quantidade de material
a baixo custo.

O estilo impresso se popularizou fortemente na Europa, durante o século


15. Straubahaar & La Rose (2004, p. 33- 34) afirmam que a Revolução
Industrial foi muito importante para a disseminação de produtos de massa,
incluindo, jornais e livros. No entanto, o nível de analfabetismo na época era
alto e isso limitava a leitura.

O primeiro jornal a abordar temáticas sobre o Brasil foi o Correio


Brasiliense, criado por Hipólito da Costa. O jornal era montado e impresso em
Londres, local onde seu criador estava exilado. Em 1808, no Rio de Janeiro,
nasceu a Imprensa Régia, primeira editora brasileira, responsável por dar início
à imprensa escrita no país, de fato.

Foi então que o primeiro jornal a ser criado em terras brasileiras foi o
Gazeta do Rio de Janeiro, que surgiu com a vinda da Família Real portuguesa
para o estado fluminense. O jornal, redigido por frei Tibúrcio da Rocha,
13

abordava artigos de jornais europeus, cartas militares e políticos de relevância


no período, além de informações burocráticas e o cotidiano da realeza.

Sodré (1998), explica sobre as diferenças entre os periódicos da época:

A Gazeta era embrião de jornal, com a periodicidade curta, intenção


informativa mais do que doutrinária, formato peculiar aos órgãos
impressos do tempo, poucas folhas, preço baixo; o Correio era
brochura de mais de cem páginas, geralmente 140, de capa azul
escuro, mensal, doutrinário muito mais do que informativo, preço muito
mais alto. (Sodré, História da Imprensa no Brasil, 1998).

Após essa época, mais especificamente a partir de 1811, outros jornais


começaram a surgir no país, em sua maioria no Rio de Janeiro. O jornal “Idade
d’Ouro do Brazil” (1811-1823) foi o primeiro feito fora do estado fluminense, em
Salvador, por Manoel Antônio da Silva Serva. Ele é visto como o pioneiro em
ser produzido a partir de uma iniciativa privada e de circulação regular no país.
Já em 1817, em Recife, surgiu o primeiro jornal radicalmente oposicionista e
que era a favor da República, “O Preciso”, porém, não passou de apenas um
único volume.

Apesar desse início parecer promissor para a imprensa brasileira, nesta


fase já começava o primeiro dos diversos cenários de censura que os veículos
de comunicação viriam a sofrer. Durante o império, a atividade editorial dos
periódicos passava por uma censura prévia, estabelecida pela Coroa. Somente
em 02 de março de 1821, momentos antes da Independência, dom João IV
decretou a suspensão temporária da censura prévia na imprensa. Porém, a
determinação só se estendia para os manuscritos e não para o conteúdo que
seria impresso.

De Luca (2008) explica que apesar do momento insinuar um período de


liberdade o controle ainda fazia parte do dia a dia:

A partir daí, poderia se afirmar que a liberdade de imprensa


estaria instalada no Brasil. Mas o que se verifica em seguida
não é uma linha progressiva e ascendente de crescimento
dessa liberdade. Houve um crescimento da imprensa, sim, mas
a questão do controle desta atividade seguiria uma linha
sinuosa, com recuos e expanses: os dilemas, vividos pelos
redatores de diversas correntes políticas, se cruzariam com as
14

preocupações governamentais e com as constantes alterações


dessa legislação pelos parlamentares. (Martins, de Luca.
História da Imprensa no Brasil, 2008).

Com essa sensação de liberdade novos jornais começaram a ser


criados. Em 1821, nasceram 20 novos periódicos, entre eles, “O Diário do Rio
de Janeiro”. O novo jornal foi o primeiro a aceitar publicidade paga, mas ficou
mais conhecido por conter um viés sensacionalista, já que relatava crimes,
movimentação portuária, fuga de escravos, espancamentos em praça pública,
entre outros assuntos do gênero.

Mesmo após a Independência do Brasil em 7 de setembro de 1822, a


imprensa da época não era bem quista e continuava a sofrer restrições do
Estado. Para Sodré (1998), o problema agora era a relação entre liberdade
concedida versus liberdade conquistada. Com isso, o autor busca explicar que
a liberdade de imprensa na época não era sólida, pois não foi obtida por
aqueles que a buscavam, então a qualquer momento poderia ser revogada. A
independência do país era favorável, mas não ajudava a solidificar a liberdade.

Todos os exemplos de jornais, folhetins e periódicos citados acima


traziam como elemento principal do seu material a notícia. O texto noticioso é
um dos diversos gêneros jornalísticos. É a informação apurada e registrada dos
fatos sem a presença de comentários, julgamentos e/ou interpretações. Para
Souza (2002), a notícia pode ser vista também como:

“Artefatos lingüísticos que procuram representar


determinados aspectos da realidade e que resultam de um
processo de construção e fabrico onde interagem, entre outros,
diversos fatores de natureza pessoal, social, ideológica,
cultural, histórica e do meio físico/ tecnológico, que são
difundidos pelos meios jornalísticos e aportam novidades com
sentido compreensível num determinado momento histórico e
num determinado meio sociocultural (ou seja, num determinado
contexto), embora a atribuição última de sentido dependa do
consumidor da notícia”.

Ademais, o caminho da imprensa continuou a ser trilhado, e durante os


seus mais de 200 anos, esteve sob o controle de uma elite. De acordo com
Damasceno (2021), as grandes empresas de comunicação têm sido lideradas
por poucos e poderosos grupos de pessoas, em sua maioria brancas e que
15

controlam os discursos midiáticos e que podem influenciar o imaginário social


sobre os mais variados temas.

Dentre os controles exercidos por esse grupo, encontra-se também o


domínio sob os critérios de noticiabilidade, ou seja, quais conteúdos tem mais
relevância e devem ser noticiados. Segundo Traquina (2005), os critérios de
noticiabilidade são o conjunto de valores-notícia que determinam se um
acontecimento, ou assunto, é suscetível a se tornar notícia. Portanto, esses tais
critérios definem se um fato é importante o suficiente, segundo seus padrões,
de ser noticiado e levado a conhecimento geral.

Para Wolf (2003) o valor-notícia pode ser definido em dois tipos. São
eles: valores-notícia de seleção e valores-notícia de construção. O primeiro
acredita na decisão do jornalista em escolher como notícia um entre dois
acontecimentos. O teórico ainda classifica os valores-noticia de seleção em
dois sub-grupos, sendo eles critérios substantivos, a avaliação direta do
acontecimento em termos da sua importância ou interesse como notícia, e os
critérios contextuais, o contexto de produção da notícia.

Já os valores-notícia de construção, segundo Wolf (2003), são as


qualidades da construção como notícia que guia a apresentação do material e
sugere o que deve ser destacado, o que deve ser deixado de lado e o que deve
ser priorizado durante a produção do acontecimento como notícia.

A seleção feita por Traquina (2005) com base na tese de Wolf (2003)
identifica nove valores-notícia de seleção, sendo eles: morte, notoriedade,
proximidade, relevância, novidade, tempo, notabilidade, inesperado, conflito,
infração e escândalo. Já a respeito dos valores-notícia de construção, Traquina
(2005) identifica seis aspectos. São eles: simplificação, amplificação,
relevância, personalização, dramatização e a consonância.

Durante a observação e produção da notícia, esses são os elementos a


serem identificados e levados em conta. Caso o acontecimento tenha alguns
desses aspectos, o fato será escolhido para publicação. No entanto, apesar
dos valores-notícia estarem intrínsecos no jornalismo, eles podem ser vistos
como algo negativo, uma vez que a notícia pode ser transmitida a partir dos
16

padrões de cada veículo de comunicação e, consequentemente, de quem o


comanda.

Traquina (2005) afirma que os donos diretores das organizações


jornalísticas podem influenciar na força e importância de cada valor-notícia de
acordo com a sua política editoria. Esse fato pode acontecer devido por razões
pessoais, dando prioridade a certos assuntos ou temas. Ou seja, os produtos
jornalísticos estariam subordinados aos interesses das pessoas inseridas
nessas organizações.

2.1 A NOTÍCIA E A INDÚSTRIA CULTURAL

O termo Indústria Cultural foi cunhado pelos filósofos, sociólogos e


teóricos alemães da Escola de Frankfurt1, Theodor Adorno e Max
Horkheimer no final do século XIX e início do século XX. Em seu
livro “Dialética do Esclarecimento”, os autores explicam a expressão como o
momento em que a cultura de determinado local é usada como um objeto
capitalista e se transforma em mercadoria, que logo será vendida para o
público, neste caso, chamado de massa.

O cinema e o rádio não precisam mais se apresentar como


arte. A verdade de
que não passam de um negócio, eles a utilizam como uma id
eologia destinada a legitimaro
lixo que propositalmente produzem. (ADORNO;
HORKHEIMER, 2006, p. 57).

A Indústria Cultural surge em função do fenômeno da industrialização,


que segue como critério o fator econômico. Costa et al. (2003) explicam que os
teóricos Horkheimer e Adorno utilizam o termo Indústria Cultural para
denominar a mercantilização das formas culturais que nascem a partir das

1
Escola de Frankfurt foi um coletivo de pensadores e cientistas sociais, associada ao Instituto para
Pesquisa Social da Universidade de Frankfurt na Alemanha. Era formada, sobretudo, por Theodor
Adorno, Max Horkheimer, Erich Fromm e Herbert Marcuse.
17

empresas de entretenimento na Europa e nos Estados Unidos ao final do


século XIX e início do século XX.

Além disso, segundo eles, os teóricos acreditam que o surgimento dos


conglomerados do entretenimento e seus conteúdos massificados fizeram com
que a população não conseguisse mais pensar e agir de forma crítica e
autônoma. Dessa forma, a cultura que antes possuía livre expressão, críticas e
conhecimento, passa a ser apenas um produto que qualquer pessoa pode ter
em troca do seu dinheiro.

Um dos resultados da Indústria Cultural é o conformismo social. A


sociedade deixa de questionar a ordem dominante e assume uma posição
passiva que favorece a manipulação. Além disso, segundo Teixeira (2002), a
cultura massificada possui um caráter alienante e coisificado.

Alienante porque o homem passa a não ter valor além do trabalho que
exerce, deixa de ter autonomia em relação a sua vida, seu trabalho e suas
próprias produções, e não possui nem mesmo instrumentos teóricos que
permitam a crítica de si mesmo ou da sociedade.

Coisificado porque passa a ser julgado apenas como algo insignificante


e que serve apenas para gerar lucros, visto que, as produções são
padronizadas e atendem às necessidades e gostos do público, que não
questiona o que consome e apenas aceita.

A partir deste contexto, além da transformação do homem, podemos


entender que a notícia também sofre mudanças. Ela deixa de ser um artefato
que representa determinados aspectos da realidade e expõe os
acontecimentos para também se tornar uma mercadoria.

Nesse sentido, as produções jornalísticas se tornam subordinadas a


ideia capitalista da Indústria Cultural. Para Souza (2006), a notícia se
transforma em produto de mercado a partir do momento que se torna atraente
para quem consome, seja ele leitor ou telespectador.

Dessa forma, a noticiabilidade é utilizada para acompanhar esse


processo e se moldar aos padrões capitalistas. O assunto que mais vende
18

sempre terá vantagem sobre qualquer outro. O editor age como “elemento
regulador da oferta e da demanda” Medina (1988).

3 A SOCIEDADE DO ESPETÁCULO E SUAS ESTRATÉGIAS NO


JORNALISMO

Guy Debord escreveu em 1967 um livro de teses chamado “Sociedade


do Espetáculo”. Ao longo de suas páginas, o escritor expõe uma crítica
profunda da sociedade mercantil, desenvolvida na segunda metade do século
XX. Segundo o autor, a Sociedade do Espetáculo é um ambiente em que as
relações sociais são mediadas pelas imagens, reforçando os processos da
cultura de massa.

“O espetáculo é ao mesmo tempo parte da sociedade, a


própria sociedade e seu instrumento de unificação. Enquanto
parte da sociedade, o espetáculo concentra todo o olhar e toda
consciência. Por ser algo separado, ele é o foco do olhar
iludido e da falsa consciência; a unificação que realiza não é
outra coisa senão a linguagem oficial da separação
generalizada”. (Debord, Guy. 1967, p. 14)

Neste contexto, entendemos que o ser humano é apenas um


espectador, sendo obrigado a consumir passivamente as imagens que são
apresentadas a ele em seu cotidiano. Essa ideia reflete como a vida humana é
minimizada existir apenas com base nas aparências e com muita passividade e
aceitação.

A Sociedade do Espetáculo se passa como uma irrealidade e não


necessariamente uma cópia fiel do mundo. Debord (1967) explica que a
sociedade do espetáculo nada mais é que uma fábrica de alienação, onde o
próprio produto faz suas regras. Dessa forma, quanto mais o homem
contempla o produto desta fábrica, menos ele vive no mundo real, já que tudo a
sua volta não passa de apenas um espetáculo.

No contexto atual, o pensamento debordiano pode ser visto em diversos


momentos, entre eles, livros, filmes, séries, vídeos no youtube, podcasts e nos
conteúdos noticiosos. Dessa forma, as notícias se tornam regidas pela
19

comunicação do espetáculo e seguem fórmulas que transformam o conteúdo


em entretenimento, pronto para ser consumido. Se na Indústria Cultural as
notícias se tornam mercadoria é na sociedade do espetáculo que elas são
moldadas para fascinarem o público e gerarem lucro.

Os pilares para a construção da espetacularização das notícias são os


critérios de noticiabilidade e a dramatização. Os valores-notícia influentes neste
contexto são: morte, conflito, infração, escândalo e dramatização. Esses
tópicos juntos estão presentes no que podemos chamar de temática
criminalista, ou seja, que abordam violência e crimes.

Já a dramatização pode ser entendida como o ato de transformar uma


pessoa ou uma narrativa negativa em algo digno de comoção. Nesse sentido, a
dramatização confere um apelo recorrente nas reportagens, que possuem
técnicas oriundas dos romances de folhetim e da dramaturgia, para envolver o
público.

Logo, as notícias, que deveriam ser apenas isentas e sóbrias para


apresentar ao público o ocorrido, passam a elaborar com maestria os papéis de
“vilão” e “vítima” e garantem a seus consumidores abordagens extasiantes e
cenas espetaculares. Barata (2003) afirma que após o consumo desse tipo de
narrativa, o público passa a valorizar os efeitos exagerados que são
apresentados a ele:

A fascinação pelos fatos sangrentos, violentos, ante os quais


sempre está unida uma justiça implacável, toma parte dessa
literatura que “[...] igual a seus consumidores, tende a valorizar
os efeitos exagerados, a exacerbação sentimental e lacrimal
em torno dos acontecimentos violentos” (BARATA, 2003, p.3,
tradução de Leite, 2008).

3.1 A MÍDIA E O CRIME

Cada país tem suas leis, muitas são baseadas nas próprias crenças e
culturas do lugar. Segundo Pontes (2011), o conceito de crime varia de acordo
com a época, lugar e fatores científicos.
20

O Código Penal Brasileiro (art 1º decreto-lei n. 2.848, de 1940) define


crime como a infração penal que resulta em reclusão ou detenção, quer
isoladamente, quer alternativamente ou cumulativamente com a pena de multa;
contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de
prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente.

Já a violência é considerada pela Organização Mundial da Saúde – OMS


(2002) o uso intencional da força ou poder como forma de ameaça contra si
mesmo, outra pessoa, um grupo ou comunidade, que pode ou tem grandes
chances de resultar em lesões, mortes, dano psíquico, alterações do
desenvolvimento ou privações.

O crime e a violência são temas que geram muita repercussão na mídia


jornalística, justamente por isso são considerados um dos principais valores-
notícia. Alinhada a tese do espetáculo, os crimes ganham visibilidade e
coberturas espetaculares, a partir de imagens inseridas nos telejornais e na
mídia impressa.

Pontes (2011) afirma que o delito é sempre visto como algo diferente do
normal, e como o ser humano é atraído pelo inusitado, acaba sendo seduzido
pelo “anormal”. As notícias e reportagens que abordam temas mais corriqueiros
e que não possuem tanto apelo acabam não chamando atenção.

Além dos valores-notícia, os veículos de comunicação utilizam recursos


de linguagem e imagem para criar a espetacularização dos casos. São eles:
figuras de linguagem, imagens, fait-divers, violência e dor, produção de
proximidade e hiper-realismo.

As figuras de linguagem são talvez o maior recurso na


espetacularização, isso porque são artifícios expressivos que vão além do
sentido literal e permitem uma plurissignificação do que é dito. Podemos citar
como principais utilizadas: comparação, metáfora, metonímia, antítese e
hipérbole. Como mostra na figura 1 abaixo:
21

Figura 1 – Exemplo de metonímia usada na manchete para atrair atenção do leitor

Fonte: Jornal O Globo (2007)

As imagens são parte ativa das reportagens jornalísticas e são peça


fundamental na criação da espetacularização. O ditado popular “uma imagem
vale mais que mil palavras” se encaixa neste contexto, pois podem ser tão
chamativas e provocar emoção quanto grandes manchetes. Podemos perceber
isso nas figuras 2 e 3, abaixo:

Figura 2 - Notícia de mãe salvando seu filho em Franca, interior de São Paulo.

Fonte: Portal de notícias G1 (2007)


22

Figura 3 - Imagens usadas na notícia de mãe salvando seu filho em Franca, interior de São
Paulo.

Fonte: Portal de Notícias Alagoas 24 Horas (2007)

O recurso Fait-divers, segundo Pedroso (2001, p. 47), pode ser


entendido como a dramatização ou humanização dos acontecimentos e que se
aproveitam dos conflitos pessoais do público para projetar uma identificação
entre eles e o conteúdo. Dessa forma, o consumidor se sentirá mais próximo
da temática e decidirá consumir mais vezes.

Similar ao último recurso, temos a produção de proximidade, que torna


as notícias e reportagens espetacularizadas um conteúdo que pode ser digno
de identificação. Estudantes, donas de casa, trabalhadores, ou seja, qualquer
cidadão, pode sentir uma conexão com a temática. E até mesmo se enxergado
no que está sendo mostrado.

A violência e a dor, mesmo sendo um assunto mórbido, captam a


atenção do público e fazem arder ainda mais a curiosidade popular. E é
exatamente por isso que este assunto é considerado um dos mais importantes
critérios de noticiabilidade utilizados, conforme apresentado nas figuras 4, 5 e
6, abaixo:
23

Figura 4 - Print de notícia de crime em São Paulo, que aborda violência em sua manchete.

Fonte: Portal de notícias G1 (2019).

Figura 5 - Print de notícia de crime no Rio Janeiro, que aborda violência em sua manchete.

Fonte: Portal de notícias G1 (2019).


24

Figura 6 - Print de notícia de crime em Minas Gerais, que aborda violência em sua manchete.

Fonte: Portal de notícias G1 (2022).

Por último, outro recurso da espetacularização é o hiper-realismo.


Romão (2013) explica que este artifício nasceu inicialmente nas correntes
artísticas, mas que logo foi incorporado à comunicação de massa. Dessa
forma, o hiper-realismo transforma os aspectos da realidade em algo
exagerado, para torná-lo mais significativo e provocar fortes emoções nos
consumidores.

Todos os aspectos citados criam uma narrativa mais dramática que


chama a atenção do público e faz com que ele busque outras matérias
similares. Dessa forma, quanto mais o público busca esses conteúdos, mais a
espetacularização se transforma em algo comum e os cenários mostrados se
tornam acontecimentos banais, considerados apenas “mais um” entre tantos
que são noticiados a partir desses métodos. Além disso, levam os indivíduos,
que cometeram crimes, a se tornarem celebridades em face da sociedade.

3.2 APREÇO POPULAR

Com o avanço da tecnologia, reportagens criminais têm sido cada vez


mais compartilhadas. Muitos se sentem atraídos pelo estilo sem até mesmo
conseguir entender o porquê. Neste contexto, o conteúdo jornalístico criminal
se popularizou mundo afora.
25

Parte dessa popularização pode ser atribuída ao comercio do gênero


True Crime2. Muito conhecido e usado na literatura, o gênero tem sido enredo
de diversos livros, filmes, séries, vídeos no youtube e podcasts nos últimos
anos. No entanto, o sucesso não é recente.

No Brasil, já foram produzidos vários programas de TV relacionados à


temática, entre eles, o Linha Direta. O programa, exibido entre 1999 e 2007 na
Rede Globo, foi um marco na história das produções investigativas da TV
brasileira e apresentava crimes que aconteceram pelo país, cujos autores
estariam foragidos da Justiça. Sobre o programa, Teixeira (2002) explica:

É a própria união da “informação sobre os fatos” com a “criação


dos fatos” a fim de reconstituir histórias sobre crimes, o que é
feito por uma intensa utilização de técnicas de iluminação,
atuação, sonorização, entre outras no sentido de garantir o
apelo dramático das histórias, configurando-se, neste sentido
numa espetacularização do sofrimento de todos os envolvidos.

Sem dúvida o gênero combinado com a espetacularização trouxe muito


alcance para a emissora na época. Com isso, entendemos que a produção
fortaleceu a presença deste gênero na matriz do jornalismo, que mergulhou na
atmosfera de show e produziu um espetáculo.

Os produtores do espetáculo aprenderam que a atenção das pessoas é


a chave para o lucro. Os valores-notícia são o recurso nesse momento. Neste
sentido, as formas simbólicas marcam as representações dos crimes e as
práticas midiáticas presentes no processo de espetacularização da violência
realizada.

3.3 AS CONSEQUÊNCIAS DA ESPETACULARIZAÇÃO NA SOCIEDADE


ATUAL

São muitas as reações consequentes das espetacularizações em


reportagens jornalísticas. Entre muitos exemplos, podemos citar como o

2
True Crime, ou Crime Real traduzido para o português, é um gênero literal que aborda
histórias reais de crimes e violência. A intenção desse gênero é expor os detalhes dos
acontecimentos, passo a passo das investigações, dados sobre os criminosos, informações
sobre as vítimas e outros.
26

criminoso acaba se transformando em um personagem e consequentemente


em uma celebridade. Isso não significa que o infrator sempre terá o apreço do
público, mas sim que será conhecido por um público, expressivo ou não, de
pessoas, dependendo do acontecimento e de suas proporções.

Isso muitas vezes pode acabar até mesmo servindo de estimulo para
que criminosos cometam o ato. Muitos gostam da sensação de se tornar
conhecidos. Alguns inclusive recebem cartas de fãs na prisão e têm suas vidas
acompanhadas pelo público, inspirando histórias fictícias ou até mesmo outros
crimes, como mostra abaixo, na figura 7:

Figura 7 - Print de matéria sobre criminosos condenados que recebiam cartas de fãs.

Fonte: Site Aventuras na História do portal UOL.

Outra consequência notória é o julgamento e linchamento por parte de


pessoas leigas a respeito dos processos judiciais. Isso ainda pode até mesmo
sustentar um discurso de combate à impunidade, já que a sociedade pode se
sentir no direito de resolver o problema do jeito que bem entender. A
Declaração Universal dos Direitos Humanos direciona que toda pessoa
acusada é inocente até que se prove o contrário e tem direito a julgamento
público, imparcial e independente.

Nas figuras 8 e 9 pode-se notar esse comportamento. O casal


Icushiro e Maria Aparecida Shimada, donos da Escola de Educação Infantil
Base, e alguns funcionários, foram acusados injustamente de abusar
27

sexualmente de alunos, em 1994. O ato gerou muita revolta entre os populares


na época.

Figura 8 - Imagem da notícia impressa do caso Escola Base.

Fonte: site Aventuras na História do UOL.

Figura 9 - Imagem da pichação feita na residência dos suspeitos do caso Escola Base.

Fonte: site Aventuras na História do UOL.

A credibilidade e seriedade de jornalistas e veículos que não agem


dessa forma e são comprometidos com a verdade e plena execução dos
processos jornalísticos também é deturpada. Muitos profissionais da área e até
mesmo o jornalismo em si perdem a confiança do público e de quem busca
entender a respeito.
28

4 OS PROBLEMAS ÉTICOS NA ESPETACULARIZAÇÃO DE CRIMES NO


JORNALISMO BRASILEIRO

Existem inúmeras áreas de trabalho pelo mundo e para os mais diversos


setores existem profissionais empenhados em desenvolver seu trabalho. Neste
contexto, para que haja um bom resultado e convívio, é necessário que existam
regras que guiem os profissionais em sua jornada de trabalho. Christofoletti
(2006) explica que:

Códigos de ética são importantes. Se eles são eficientes ou


não, esta é uma outra questão. O fato é que esses
documentos, além de sinalizarem condutas adequadas, são
manifestações públicas dos valores que regem certas
atividades humanas. Neste sentido, quando um grupo
profissional elabora um conjunto de regras para orientar as
condutas de seus membros, não há ali tão somente um esforço
para normatizar atitudes, mas também mostrar à sociedade
que aquela categoria cultiva e se apóia em alguns valores. Que
se preocupa com isso e que torna público esse cuidado.

No campo jornalístico não é diferente. O Código de Ética Brasileiro está


em vigor desde 1987 e passou por atualizações 2 décadas depois, em 2007.
Ele é responsável para auxiliar os jornalistas a manterem condutas adequadas
durante seu trabalho, sem deixar que a informação seja passada ao público de
forma irresponsável, tendenciosa e espetacularizada.

Segundo Christofoletti (2006), a discussão sobre ética no jornalismo veio


após o período da Ditadura Militar no Brasil e de diversos episódios de deslizes
editoriais. Neste momento, a sociedade percebeu que poderia exigir mais
qualidade de tudo que era consumido e ficou clara a necessidade de pensar,
discutir e difundir a reflexão sobre condutas éticas nos processos de
comunicação.

Entender e cumprir o código de ética é muito importante, pois evita


impactos negativos na sociedade. A informação entregue de forma correta é
um dever dos veículos de comunicação com a população e ir contrário a isso
não faz parte dos preceitos impostos pelos artigos presentes no código de
ética.
29

A espetacularização não vai de acordo com o Código de Ética dos


Jornalistas Brasileiros (2007) porque descumpre inúmeros artigos presente no
regulamento. Entre eles, podemos citar:

Artigo 7º. O jornalista não pode:

II - submeter-se a diretrizes contrárias à precisa apuração dos acontecimentos


e à correta divulgação da informação;

Aqui, podemos entender que o jornalista não deve divulgar informações que
não sejam precisas e corretas. As matérias espetaculosas desviam desse
dever, pois publicam conteúdos que muitas vezes não são apurados da forma
devida e divulgam informações que não trazem a veracidade dos
acontecimentos.

V - usar o jornalismo para incitar a violência, a intolerância, o arbítrio e o


crime;

Podemos entender que o dever do jornalismo é atuar de forma pacifica e não


incitar nada que vá contra isso. Os conteúdos espetaculares destoam
principalmente desse código, pois a forma como são montados acaba expondo
casos de modo que pode instigar quem está lendo.

Na manchete da figura 10, publicada pelo portal de notícias Estadão


(2022), é questionado o porquê dos ataques armados em escolas estarem se
repetindo no Brasil, porém, ao lado, o jornal coloca a imagem do atirador
segurando a arma. Por mais que a foto não mostre o rosto do rapaz, mostrar
ele com a pistola em mira dentro da instituição de ensino pode instigar esse
comportamento em outros jovens.
30

Figura 10 - Notícia sobre aumento de ataques com arma de fogo em escolas do Brasil.

Fonte – Portal de notícias Estadão.

Capítulo III - Da responsabilidade profissional do jornalista

Art 9º A presunção de inocência é um dos fundamentos da atividade


jornalística

Aqui podemos entender o conceito já citado acima, que todos devem ser
considerados inocentes até que seja provado o contrário. Nas reportagens
espetacularizadas que envolvem crimes, os conteúdos são montados de uma
forma que acabam criminalizando os envolvidos antes mesmo que o caso seja
investigado e levado ao tribunal.

Nas figuras 11 e 12, podemos notar que as revistas incriminaram


Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, até então suspeitos do caso
Nardoni, antes mesmo do caso ser levado a tribunal. As capas utilizam os
termos “Culpados” (ÉPOCA, 2010, p. 1) e “Assassinos” (ISTOÉ, 2010, p. 1) nas
manchetes para chamar a atenção do público.
31

Figura 11 - Imagem da capa de revista que incrimina os suspeitos do caso Nardoni.

Fonte: Revista Época, 29 mar. 2010, n. 619, p. 1

Figura 12 - Imagem da capa de revista que incrimina os suspeitos do caso Nardoni

Fonte – Revista ISTOÉ, n. 2107, 31 mar. 2010, p. 1.

Art. 11. O jornalista não pode divulgar informações: I - visando o


interesse pessoal ou buscando vantagem econômica;

Uma das características da espetacularização é a comercialização das


notícias, ou seja, transformá-las em mercadoria e lucrar com seu conteúdo.
Esse ato vai contra este artigo do Código de Ética, já que o jornalista não deve
divulgar informações visando interesse pessoal ou vantagens econômicas.
32

II - de caráter mórbido, sensacionalista ou contrário aos valores


humanos, especialmente em cobertura de crimes e acidentes;

O caráter mórbido e sensacionalista encontrado especialmente em cobertura


de crimes, violência e acidentes é um exemplo claro de conduta antiética e de
espetacularização. Neste contexto, o interesse de captar o público para vender
o material é colocado à frente dos princípios éticos da profissão. Os conteúdos
sóbrios e honestos que deveriam ser publicados acabam se perdendo quando
o profissional não segue os padrões exigidos pelo código de ética, como visto
na figura 13, abaixo:

Figura 13 - Notícia sobre a morte de Daniela Perez.

Fonte – Portal de notícias A Gazeta (1997).

4.1 PENALIZAÇÃO DO CÓDIGO DE ÉTICA

É previsto pelo Capítulo V Art. 15 do Código de Ética dos Jornalistas


Brasileiros (2007) que as transgressões serão apuradas, apreciadas e julgadas
pelas comissões de ética dos sindicatos e, em segunda instância, pela
Comissão Nacional de Ética.

Como punição pelo ato, o jornalista pode ser desligado do sindicato ao


qual está inserido. No entanto, boa parte dos profissionais nem ao menos
33

fazem parte de um sindicato. Essa é uma lacuna do código, que acaba


interferindo no trabalho da ética profissional.

Além disso, o profissional, ao fazer uma publicação que não segue às


normas impostas pelo Código de Ética, pode também receber uma advertência.
Porém, não sofre penalidade mais rigorosa, como ter o registro cassado, por
exemplo, como acontecem com advogados, médicos e engenheiros, que
podem perder seu registro e não exercer mais sua profissão. Para o jornalista,
isso não existe.

Neste contexto, entendemos que há uma insuficiência no presente


Código Deontológico. A categoria não possui um órgão fiscalizador como, por
exemplo, o da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) ou Conselho Federal de
Engenharia e Agronomia (Confea) e o Conselho Federal de Medicina (CFM).
Aos jornalistas faltam um conselho que dê efetividade às infrações previstas
pelo Código de Ética da profissão.

Dessa forma, por não haver punições mais rigorosas ou fiscalizações


mais firmes, muitos profissionais deixam de se preocupar com a ética de seu
trabalho e, por consequência, publicam materiais antiéticos e que causam
grande impacto na sociedade.
34

5 CASO VON RICHTHOFEN

A família Von Ritchthofen é um claro exemplo de espetacularização de


reportagens jornalísticas. Desde o início do caso, notícias relacionadas à
Suzane são insistentemente veiculadas. Normalmente, os temas são a respeito
do cumprimento da pena de Suzane, condenada em 2006 pelo crime, além de
suas saídas em feriados, e sua vida pessoal. Esse não foi um caso noticiado
na época do acontecimento que, depois de algumas suítes, ficou esquecido e
nunca mais foi sequer citado pela mídia. Até hoje, 20 anos após o crime,
Suzane Louise Von Richthofen sempre é presentificada.

O caso aconteceu há vinte anos, em 31 de outubro de 2002, no bairro


Campo Belo, zona sul de São Paulo. Suzane Von Richthofen, orquestrou a
morte dos pais com a ajuda de seu namorado Daniel Cravinho, e seu cunhado,
Cristian Cravinho. Suzane tinha apenas 19 anos na época do ocorrido. Era filha
do engenheiro civil Manfred, de 50 anos, e da psiquiatra Marísia, de 49 anos.
Seu irmão caçula, Andreas, tinha 15 anos. A família fazia parte da classe
média alta de São Paulo.

Figura 14 - Imagem da família Von Richthofen.

Fonte: Reprodução.

O relacionamento de Suzane e Daniel começou ainda 1999, quando seu


irmão Andreas iniciou aulas de aeromodelismo, tendo Daniel como professor.
De início, seus pais não faziam objeções quanto ao namoro, porém, mais tarde
perceberam que a filha não frequentava mais às aulas tão assiduamente e
35

também estava gastando grande parte de sua mesada para presentear e


emprestar dinheiro ao namorado. Além disso, fontes próximas da família
afirmaram que Manfred e Marísia começaram a desaprovar o relacionamento
de Suzane e Daniel quando perceberam que o rapaz fazia parte de uma família
de baixa renda. Mais tarde foi descoberto também por eles que Daniel fornecia
drogas como maconha e ecstasy para Suzane.

Após inúmeras tentativas de separar o jovem casal, em 2001, Suzane e


Daniel passaram a se encontrar apenas a noite às escondidas. No entanto,
logo isso foi descoberto por Marísia. Com isso, os pais de Suzane optaram por
proibir definitivamente o namoro. Depois deste momento, o casal começa a
planejar o assassinato de Manfred e Marísia.

Na noite do crime, Suzane, Daniel e Cristian deixaram Andreas em uma


Lan House e disseram que o buscariam de madrugada. Saindo de lá, o trio
partiu para a casa da família. Suzane abriu a porta da casa para que o
namorado e cunhado pudessem entrar e os guiou para o quarto de Manfred e
Marísia, onde ambos estavam dormindo.

Dentro do quarto, os irmão Cravinhos iniciaram o crime atingido o casal


com diversos golpes, de marretas, na cabeça. A violência das batidas impediu
qualquer reação do casal. Após se certificarem de que as vítimas estavam
mortas, o trio tentou camuflar a cena do crime. Para forjar o latrocínio – roubo
seguido de morte – Suzane usou uma faca para abrir uma maleta e pegou as
quantias de R$ 8.000,00 (oito mil reais), €$ 6.000,00 (seis mil euros) e US$
5.000,00 (cinco mil dólares).

Após a execução, os envolvidos iniciaram a próxima fase do crime:


produzir um álibi. Suzane e Daniel foram para um motel, enquanto Cristian foi
levado pelo casal ao apartamento em que morava. Algumas horas depois,
cerca de 3 horas da madrugada, Suzane e Daniel deixaram o motel e foram
buscar Andreas. Por volta das 4 horas, os irmãos chegam em casa. Ao se
aproximarem da mansão, Suzane expressa suspeita de que havia algo de
errado no local e que as portas estavam abertas, decide ligar para Daniel, que
aciona a polícia.
36

Ao chegarem, os policiais iniciaram sua investigação e logo notaram


que a casa não apresentava bagunça ou peculiaridades de um assalto. Após
verificarem o quarto principal e se depararem com a cena do crime, os policiais
tomaram cuidados para contar aos filhos das vítimas o ocorrido. No entanto,
após relatar o acontecimento, o Policial Alexandre Boto estranhou o
comportamento de Suzane, que não pareceu chocada com a notícia e logo
questionou quais seriam os próximos passos.

Ainda no inicio das investigações foi possível constatar que a teoria de


latrocínio era falha, já que apenas o quarto das vítimas estava bagunçado, o
restante dos cômodos pareciam intocáveis; várias joias foram deixadas no
local; a arma da vítima não foi levada. Neste contexto, os policiais iniciaram
uma investigação a respeito dos parentes próximos do casal e logo começaram
a suspeitar do envolvimento da filha mais velha no crime.

As autoridades seguiram a investigação conversando com parentes e


amigos íntimos do casal. Logo foram descobertas controvérsias entre os
relatos desses com a de Suzane, Daniel e Cristian. Neste contexto, a polícia
decidiu continuar investigando o trio e analisar de perto como estava sendo o
dia a dia de cada um.

O dinheiro coletado pelo trio foi distribuído entre eles. Apenas alguns
dias após o crime, Cristian decidiu comprar uma moto e, ao finalizar a compra,
realizou o pagamento à vista, totalizando 3.600 dólares (Casoy, 2009). Isso
despertou a desconfiança do vendedor, que logo acionou a polícia. Ao ser
interrogado sobre onde havia conseguido a quantia em dinheiro em moeda
estrangeira, Cristian começou a ceder e logo confessou o crime e contou às
autoridades como tudo aconteceu.

Com a confissão de Cristian, a polícia decidiu interrogar mais


incisivamente Suzane e Daniel, que logo contaram às autoridades que haviam
participado do assassinato de Manfred e Marísia. O trio foi ouvido pelo Tribunal
do Júri e condenados no dia 22 de julho de 2006. Suzane e Daniel receberam
trinta e nove anos de reclusão e seis meses de detenção, enquanto Cristian foi
condenado a trinta e oito anos de reclusão e seis meses de detenção.
37

5.1 COBERTURA DO CASO E SEUS PROBLEMAS ÉTICOS

Segundo o Memória Globo, as primeiras notícias sobre o crime foram ao


ar no telejornal local de São Paulo, o SPTV. No dia seguinte, 1º de novembro,
o caso ganhou destaque nos telejornais da Rede Globo, tendo reportagem
exibida no Jornal Nacional. Já no material impresso, o jornal Folha de São
Paulo publicou o acontecimento na editoria “Cotidiano”, conforme figura 15:

Figura 15 - Imagem de uma das primeiras matérias feitas sobre o crime

Fonte – Portal de Notícias da Folha de São Paulo.

Com a confissão do trio na participação no crime, toda a mídia e


imprensa voltou sua atenção para Suzane. O fato foi tão chocante que logo de
início já foram publicadas dezenas de matérias a respeito do caso, onde
grande parte, espetacularizava o acontecimento. Abaixo, as figuras 16, 17 e
18 ilustram o uso de alguns dos recursos de espetacularização, como: critérios
de noticiabilidade (morte, violência e proximidade) e Fait-divers. Além disso, as
escritas em caixa alta na cor vermelha ajudam a captar a atenção do leitor, que
depois será envolvido pelo restante dos recursos.
38

Figura 16 - Imagem de capa de revista sobre Suzane.

Fonte – ISTOÉ, 2002. P. 1

Figura 17 - Imagem de capa de revista sobre Suzane.

Fonte – ÉPOCA, 2002. P. 1


39

Figura 18 - Imagem de capa de revista sobre Suzane.

Fonte – VEJA, 2006. P. 1

As figuras acima, como entendido na análise anterior do Código de Ética


dos Jornalistas Brasileiro (2007), mostram o descumprimento de alguns artigos
do código, como: o fundamento da presunção de inocência; não divulgar
informações visando o interesse pessoal ou buscando vantagem econômica ou
que sejam de caráter mórbido, sensacionalista e contrário aos valores
humanos.

Leite (2006) afirma que a cobertura do caso foi tão grande que, em
2006, durante o julgamento, diversas emissoras de TV foram autorizadas a
captar e divulgar sons e imagens de alguns momentos do tribunal. No entanto,
foram negadas mais tarde. Além disso, cinco mil pessoas se inscreveram para
ocupar os lugares disponíveis na plateia. Sobre a possível motivação de
tamanha repercussão, Leite (2006), explica:

Este crime foi insistentemente mediatizado,


provavelmente considerando os seus quadros sociais: laços
familiares, cujas afeições, em geral, suscitam um vínculo de
amor, a proteção dos pais para com os filhos, o carinho,
respeito e confiança destes para com seus pais, as motivações
de uma postura rebelde na juventude, quando se tem tudo, etc.
valores aos quais a sociedade atribui a um ambiente de
40

equilíbrio e harmonia familiar. A partir do momento em que há


uma ruptura, que no caso de Suzane se pode dizer muito
abrupta, com esses valores que estão bastante firmados nas
famílias, como um marco social, como diz Durkheim (1999), há,
também, uma ofensa aos sentimentos coletivos que derivam
deste marco.

Com isso, também conseguimos entender o lado popular, o motivo pelo


qual uma parcela da sociedade se interessou, e ainda se importa, com o caso e
toda a trajetória de Suzane. Já o lado dos veículos, como antes já citado, pode
ter motivações econômicas, visto que, por repercutir tanto entre a população,
acaba gerando cada vez mais lucro.

Dias antes do julgamento, Suzane, que estava em liberdade condicional,


concedeu ao Fantástico, na Rede Globo, uma entrevista. A primeira parte foi
gravada em um apartamento no Morumbi, em São Paulo, conforme ilustra a
figura 19 abaixo. Na ocasião, Suzane dizia estar arrependida pelo que fez e
gostaria de voltar no tempo.

Figura 19 - Imagem da gravação de entrevista com Suzane.

Fonte: Memória Globo.

Imagens captadas pela câmera do repórter cinematográfico Alberto dos Santos


registraram uma conversa ao particular entre Suzane e seu advogado-tutor,
Denivaldo Barni, em que ele a instruía a chorar na entrevista, conforme figura
41

20. Em pouco mais de meia hora, Suzane chorou 11 vezes e sempre olhava
para o advogado.

Figura 20 - Imagem do momento em que Barni dá orientações à Suzane.

Fonte: Print retirado do site Aventura na História, do UOL.

A entrevista gerou muita repercurssão e refletiu até mesmo na escolha


do Ministério Público, em revogar a liberdade condicional de Suzane,
suspeitando que os advogados da acusada vendesse à opinião pública a
imagem de “uma moça infantilizada e influenciável, capaz de ser levada pelo
namorado a participar do assassinato dos pais” (Memória Globo, 2022).

Neste contexto, entendemos que a espetacularização vai além das


manchetes e também podem ser encontradas em reportagens televisionadas.
Porém, quando transmitidas pela TV, podem causar uma repercussão ainda
maior do conteúdo, visto que, alcançam mais locais e, consequentemente, um
número maior de pessoas.

No entanto, este também é um exemplo do não cumprimento do Código


de Ética, visto que, as informações publicadas foram obtidas de maneira
inadequada, através de câmeras escondidas, conforme o Artigo 11. Todavia,
este mesmo artigo, o código expõe que o conteúdo obtido por este meio tem
42

como exceção “casos de incontestável interesse público e quando esgotadas


todas as outras possibilidades de apuração”. Porém, o profissional contratado
tem o direito de aconselhar como seu contratante deve se portar e falar. Além
disso, a relação advogado-cliente é sigilosa e não cabe à imprensa quebrar o
sigilo.

Após o julgamento e penalização dos envolvidos, o esperado era que


houvessem suítes ocasionais, como qualquer outro acontecimento, após a
descoberta de algo novo no caso ou relacionada à pena dos acusados. Porém,
o caso ganhou tanto foco da mídia e apreço da população, que o
acontecimento se tornou algo pertencente à Cultura Pop3 do Brasil. Dessa
forma, o caso continua sendo muito falado e noticiado, diversas vezes até
mesmo com assuntos retóricos.

Na figura 21, abaixo, podemos ver uma notícia publicada pelo jornal
Meia Hora, conhecido por ser um veículo sensacionalista. Na publicação, é
abordado o relacionamento entre Suzane e a ex namorada de Elize Matsunaga
– apenada após o assassinato do marido, Marcos Matsunaga, em maio de
2012. Novamente, uma publicação que descumpre o Artigo 11 do Código de
Ética.

3
Cultura Pop pode ser entendida como todo conteúdo que se torna popular, ou seja, que cai
nas graças do público, e está presente nos mais diversos âmbitos, principalmente no
entretenimento, na tecnologia e na moda.
43

Figura 21 - Imagem da capa do jornal Meia Hora, com manchete sobre Suzane e Elize.

Fonte – Reprodução.

Outro assunto noticiado com frequência, até mesmo em veículos de


comunicação considerados mais sérios, como o Correio Braziliense, é a saída
temporária de Suzane em feriados, conforme figura 22, abaixo. A chamada
“saidinha” é algo previsto pela Lei de Execuções Penais (LEP) e que garante
aos presos do regime semiaberto, que cumprem os requisitos exigidos na lei, a
oportunidade de visitar a família durante feriados e frequentar cursos.

Figura 22 - Print de notícia sobre saída de Suzane.

Fonte – Portal de notícias Correio Braziliense.


44

Durante as saídas, que são noticiadas todos os anos desde o início do


cumprimento da pena, Suzane é muito exposta pela imprensa, conforme
mostra na figura 23, abaixo. Esse é um dos interesses da imprensa
espetacularizada, que busca expandir o interesse da população, aumentando a
exposição de pessoas condenadas. Isso além de desrespeitar, novamente o
Código de Ética, torna impossível a reinserir o detento na sociedade, conforme
previsto no artigo 10 da LEP.

Figura 23 - Print de notícia sobre Suzane fazendo compras em Shopping.

Fonte – Portal de notícias G1.

Durante os nove anos presa, Suzane não deu entrevista a qualquer


veículo de comunicação, nem mesmo durante as saídas. Foi somente em 2015
que a acusada aceitou ser entrevistada por Gugu Liberato para o programa do
mesmo na emissora Record. O ato, no entanto, gerou muita polêmica após
Ulisses Campbell, em matéria do jornal O Globo, afirmar que Suzane havia
sido paga para aceitar entrevista. A acusada negou ter lucrado com a
participação.
45

Além de Suzane, sua namorada e também presidiaria da Penitência de


Tremembé, Sandra Regina Ruiz, mais conhecida como Sandrão, participou da
entrevista.

Figura 24 - Imagem retirada do vídeo de entrevistas entre Suzane e Gugu.

Fonte – Reprodução.

A entrevista teve um andamento espetacularizado. Gugu liderou a


entrevista de forma mais emocional, fazendo perguntas apelativas e até
mesmo de cunho íntimo. À Suzane, podemos listar algumas mais controversas:
“Você falou da herança, você tem ideia do valor disso?”, “Você tem saudade
dele [Andreas]?”, “Você acha que ele [Andreas] te ama?”, “Se ele [Andreas]
estiver nos assistindo agora, o que você diria pra ele?”, “Sua cabeça foi
colocada à prêmio por 500 mil reais, conta pra gente sobre isso”. Já para
Sandra: “Você não tem receio que a Suzane se apaixone por um homem outra
vez?”, “O que a Suzane, nessas conversas que vocês naturalmente tiveram
durante todos esses anos, sobre o ocorrido com ela, o que ela te contou?”.

Entre os intervalos de perguntas, a narração de Gugu em voz off –


registro sonoro que não faz parte visual da cena – trouxe imagens de Suzane,
porém, sempre com zoom em seus olhos e expressões, efeitos sonoros, como
de trovão, por exemplo. Essa combinação de recursos foi utilizada para criar
um cenário e transformar a entrevista em um conteúdo cinematográfico, algo
46

que reforça a tese da Sociedade do Espetáculo, ilustrado abaixo nas figuras


25 e 26.

Figura 25 - Print de um recorte da gravação de entrevista com Suzane.

Figura 18 – Canal Direito Free do Youtube.

Figura 26 - Print de um recorte da gravação de entrevista com Suzane, sobre vaidade.

Figura 18 – Canal Direito Free do Youtube.

Em 2019, foi anunciado que o caso Von Richthofen ganharia dois filmes.
Dirigidos por Maurício Eça, os dois longas retratam do inicio do namoro de
47

Suzane e Daniel, em 1999, até o julgamento do crime, em 2006. Cada filme


aborda a perspectiva de cada um. “A Menina que Matou os Pais” traz o ponto
de vista de Daniel, enquanto “O Menino que Matou Meus Pais” aborda a visão
de Suzane. Os nomes dos filmes fazem menção às manchetes de jornais que
saíram na época do crime, conforme apresenta a figura 27, abaixo:

Figura 27 - Imagem promocional dos filmes baseado no caso Von Richthofen.

Fonte – Prime Video, editado e compartilhado pelo site Arroba Nerd.

Apesar de nenhum dos envolvidos terem lucrado com os filmes, esse é


também um ótimo exemplo de consequência da espetacularização. Sem toda
atenção e espetáculo em cima do caso, não haveria a oportunidade de criar
conteúdos desse tipo. Neste contexto, o cinema, que também é um veículo da
indústria cultural, irá disseminar ainda mais o fato, como explica Matos, D.
(2013):

“Um filme não é entendido da mesma forma por


todos, mas constrói sentidos diversos, de acordo
com a bagagem cultural de cada espectador. De
todo o modo, o cinema enquanto representação
do real, expõe questões de um imaginário social,
bem como os dissemina”.
48

Já em 2021, Suzane novamente foi pauta nos veículos de


comunicação, após a Justiça autorizar a condenada a cursar faculdade de
farmácia em Taubaté, São Paulo, após ela obter nota no Exame Nacional do
Ensino Médio (Enem) para conseguir cursar o ensino superior, como mostra a
figura 28, abaixo:

Figura 28 - Print de notícia sobre Suzane ser autorizada a cursar faculdade.

Fonte – Portal de notícias G1.

Semanas depois, Suzane decidiu trocar o curso para Biomedicina e logo


iniciou as aulas, de forma presencial. Esse foi um “prato cheio” para a
imprensa, que não só noticiou esse momento em plataformas on-line, mas
também na TV, e ainda publicou um vídeo gravado por alguém que estava no
local, como podemos ver nas figuras 29 e 30, abaixo:
49

Figura 29 - Print retirado de notícia sobre Suzane iniciar as aulas na faculdade.

Fonte – Portal de notícias G1.


50

Figura 30 - Print retirado de vídeo reportagem sobre Suzane frequentar faculdade.

Fonte – Plataforma digital da Rede Globo, Globoplay.

Atualmente, Suzane tem aparecido constantemente nas notícias ao


apresentar trabalhos que tenham relação com família, como podemos ver
abaixo, na figura 31:
51

Figura 31 - Print de notícia sobre apresentação de trabalho de Suzane.

Fonte – Portal de notícias Metrópoles.

Todos os exemplos reforçam o quanto a espetacularização transforma


seus objetos, neste caso Suzane Von Richthofen, em personagens. A acusada
recebe tanta notoriedade e visibilidade por parte da mídia e da população que o
assunto continua a ser abordado, até mesmo que o tema publicado não seja de
grande relevância social.
52

6 CONCLUSÃO

A partir do estudo deste trabalho, foi possível concluir que de fato há


problemas éticos na espetacularização de crimes em reportagens jornalísticas.
Com base nas teorias da Indústria Cultural e da Sociedade do Espetáculo,
entendemos que o ser humano é apenas um espectador, sendo obrigado a
consumir passivamente as imagens que são apresentadas a ele em seu
cotidiano. Essa ideia reflete como a vida humana é minimizada a viver apenas
com base nas aparências e com muita passividade e aceitação.

Ademais, entendemos que os veículos de comunicação utilizam recursos de


linguagem e imagem para criar a espetacularização dos casos e,
consequentemente, chamar a atenção do receptor e lucrar com os valores
obtidos a partir disso.

Com base na análise ao longo deste trabalho, foi possível concluir também
que esse formato escolhido pelos veículos de comunicação vai contra diversos
artigos do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiro (2007). Esse ato traz
inúmeras consequências para a sociedade atual, entre elas, a transformação
de criminosos em celebridades; estimulo e instigação de crimes; linchamento;
combate à impunidade e perda de credibilidade jornalística.

A partir da análise do caso Von Richthofen, entendemos que todas as


consequências citadas acima foram ilustradas no decorrer dos eventos deste
acontecimento. Além disso, pudemos acrescentar a dificuldade de reinserir o
detento na sociedade, uma vez que a espetacularização dos veículos traz
sempre novas matérias e dessa forma o condenado não tem acesso à
oportunidade de esquecimento.
53

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