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Universidade Eduardo Mondlane

Escola de Comunicação e Artes

Curso de Licenciatura em Jornalismo

Trabalho de Culminação do Curso

LIMITES DO EXERCÍCIO DO DIREITO DA LIBERDADE DE IMPRENSA


NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL EM MOÇAMBIQUE: JORNAL
SAVANA E CANAL DE MOÇAMBIQUE

Candidato: Binel Baptista Nhausse

Supervisor: Hélio Norberto

Maputo Julho de 2021


Escola de Comunicação e Artes

Curso de licenciatura em Jornalismo

Tema:

LIMITES DO EXERCÍCIO DO DIREITO DA LIBERDADE DE IMPRENSA


NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL EM MOÇAMBIQUE: JORNAL
SAVANA E CANAL DE MOÇAMBIQUE

Monografia apresentada no Curso de Jornalismo


da Escola de Comunicação e Artes, como requisito
parcial para a obtenção do grau de Licenciatura em
Jornalismo na Universidade Eduardo Mondlane.

Candidato: Binel Baptista Nhausse

Supervisor: Hélio Norberto

Maputo, Julho de 2021


Escola de Comunicação e Artes

Curso de licenciatura em Jornalismo

LIMITES DO EXERCÍCIO DO DIREITO DA LIBERDADE DE IMPRENSA


NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL EM MOÇAMBIQUE: JORNAL
SAVANA E CANAL DE MOÇAMBIQUE

Monografia apresentada no Curso de Jornalismo


da Escola de Comunicação e Artes, como requisito
parcial para a obtenção do grau de Licenciatura em
Jornalismo na Universidade Eduardo Mondlane.

Candidato: Binel Baptista Nhausse

JÚRI

______________________

Presidente:

Escola de Comunicação e Artes

_______________________

Supervisor:

Escola de Comunicação e Artes

_______________________

Oponente:

Escola de Comunicação e Artes

Maputo, Julho de 2021


DECLARAÇÃO DE HONRA

Eu, Binel Baptista Nhausse, estudante do Curso de Jornalismo na Escola de


Comunicação e Artes da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), declaro por minha
honra que esta monografia é da minha autoria, e nunca foi apresentada parcial ou
integralmente como requisito para obtenção de qualquer grau académico e que constitui
o resultado do aprendizado assimilado durante o curo e do esforço empenhado para a
sua elaboração, estando deste modo, indicadas no texto as referências bibliográficas,
métodos e as fontes utilizadas.

Maputo, Julho de 2021

_________________________________

Binel Baptista Nhausse

I
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha mãe, a melhor mãe do


mundo, dona Alice Judite, que mesmo diante das
dificuldades, não mediu esforços para investir nos meus
estudos. E a todos que contribuíram de forma significativa
para a minha formação.

II
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, pela minha vida, e por me ajudar a ultrapassar todos os obstáculos
encontrados ao longo do curso, assim como alcançar os meus objectivos académicos.

À minha família que me incentivou nos momentos difíceis e compreendeu a minha


ausência enquanto eu me dicava nos meus estudos. Também agradeço aos meus irmãos
(Alberto Baptista e Zelfa Baptista) pelo seu apoio. Aos meus tios (Juca Ilídio e Elina
Miambo) por todo apoio e pela ajuda, que muito contribuíram para a realização deste
trabalho.

Aos professores, pelas correcções e ensinamentos que me permitiram apresentar um


melhor desempenho no meu processo de formação profissional. Também agradeço em
particular ao professor Hélio Norberto pela orientação atenta e dedicada na elaboração
do trabalho em questão.

Aos meus amigos e colegas da faculdade (Elton Cléssio, Elisa Mucoma, Sabino João
entre outros) que estiveram ao meu lado, e pelo apoio e amizade incondicional que
demostraram ao longo de todo o período de tempo em que me dediquei a este trabalho e
à formação em geral. Também agradeço à RECAC – Rede de Comunicadores Amigos
da Criança, que quando certas instituições não me permitiram recolher dados devido às
restrições impostas pela Covid-19, a RECAC abriu-me as portas, dando-me acesso aos
Jornais do período em análise.

III
RESUMO

A presente pesquisa faz uma análise em torno dos limites da liberdade de imprensa nos
meios de comunicação social, procurando perceber as razões que influenciam os
mesmos na observação desses limites. Importa salientar que como forma de
materialização do estudo, recorreu-se à combinação do método qualitativo e do método
quantitativo. O estudo em questão contou com a formulação de quatro categorias de
análise (difamação, calúnia, injúria e as motivações). Através da técnica de análise de
dados, foi possível constatar-se que o Jornal Savana e o Canal de Moçambique não
observaram os limites da liberdade de imprensa na elaboração dos seus conteúdos
noticiosos, durante o primeiro semestre do ano de 2020. E também constatou-se através
da técnica de entrevista que o Savana não observou esses limites influenciado pela
Linha editorial do próprio órgão, que lhes permitem tomar um certo posicionamento
perante alguns assuntos. Assim como pelo facto do jornal tomar uma postura crítica, de
"watch dog" 1 . O Savana procurou vigiar pelos interesses da sociedade nas suas
publicações. Mas acontece que nesse processo de vigilância, o Jornal acabou se
posicionando de uma forma que de algum modo fere certos princípios (honra,
reputação, bom nome, dignidade...) protegidos pela Constituição da República de
Moçambique e pelos demais instrumentos normativos. O Canal de Moçambique não
aceitou conceder a entrevista para a obtenção de dados referentes às motivações. Mas as
suas publicações denunciam um carácter de vigilância ao poder político e às Instituições
ou individualidades com grande influência na sociedade. Uma vez que as suas
transgressões estão ligadas às pessoas com certa influencia sobre a sociedade.

Palavras-chave: liberdade de imprensa; Observação; limites; Dignidade; Imprensa.

1
Segundo Brun (2011), o jornalismo de Watchdog é aquele em que a imprensa se posiciona como uma
instituição vigilante da máquina pública, actuando na denúncia e na investigação dos escândalos e actos
de corrupção.

IV
ABSTRACT

This research analyzes the limits of press freedom in the media, trying to understand the
reasons that influence them in observing these limits. It should be noted that as a way of
materializing the study, we used the combination of the qualitative method and the
quantitative method. The study in question had the formulation of four categories of
analysis (defamation, slander, insult and motivations). Through the data analysis
technique, it was possible to verify that Jornal Savana and Canal de Moçambique did
not observe the limits of press freedom in the elaboration of their news contents, during
the first semester of the year 2020. If through the interview technique that the Savana
did not observe these limits, influenced by the editorial line of the agency itself, which
allow them to take a certain position on some issues. As well as the fact that the
newspaper takes a critical stance, of a “watch dog”. Savana sought to watch over
society’s interests in its publications. But it so happens that in this surveillance process,
the Journal ended up positioning itself in a way that somehow violates certain principles
(honor, reputation, good name, dignity…) protected by the Constitution of the Republic
of Mozambique and other normative instruments. The Mozambique Channel did not
accept to grant the interview to obtain data regarding the motivations. But his
publications denounce a character of surveillance to political power and institutions or
individuals with great influence in society. Since their transgressions are linked to
people with a certain influence on society.

Keywords: press freedom; Observation; Limits; Dignity; Press.

V
SIGLAS E ABREVIATURAS

CEDH – Convenção Europeia dos Direitos do Homem

CPM – Código Penal Moçambique

CRM – Constituição da República de Moçambique

CSCS - Conselho Superior da Comunicação Social

DUDH – Declaração Universal dos Direitos do Homem

LAM – Linhas Areias de Moçambique

PIDCP – Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos

PR – Presidente da República

PRM – Polícia da República de Moçambique

RECAC – Rede de Comunicadores Amigos da Criança

UIRD – Igreja Universal do Reino de Deus

VI
ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Apresentação dos resultados da análise dos artigos do Savana ................... 51


Tabela 2: Apresentação dos resultados da análise dos artigos do Canal de Moçambique
........................................................................................................................................ 51

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Canal de Moçambique, edição do dia 04 de Março de 2020 ........................ 65


Figura 2: Canal de Moçambique, edição do dia 23 Outubro de 2019 .......................... 65
Figura 3: Canal de Moçambique, edição do dia 08 de 2020 ......................................... 66
Figura 4: Canal de Moçambique, edição do dia 05 de Fevereiro de 2020 ................... 67
Figura 5: Canal de Moçambique, edição do dia 05 de Fevereiro de 2020 ................... 67
Figura 6: Canal de Moçambique, edição do dia 22 de Janeiro de 2020 ....................... 68
Figura 7: Jornal Savana, edição do dia 24 de Janeiro de 2020 .................................... 69
Figura 8: Jornal Savana, edição do dia 15 de Maio de 2020 ........................................ 70
Figura 9: Jornal Savana, edição do dia 15 de Maio de 2020 ........................................ 70
Figura 10: Jornal Savana, edição do dia 05 de Abril de 2020 ...................................... 71
Figura 11: Jornal Savana, edição do dia 05 Junho de 2020 ......................................... 71
Figura 12: Jornal Savana, edição do dia 05 de Junho de 2020 .................................... 72
Figura 13: Jornal Savana, edição do dia 17 de Abril de 2020 ...................................... 73
Figura 14: Correio electrónico enviado ao Canal de Moçambique para fazer entrevista
........................................................................................................................................ 74
Figura 15: Segundo correio electrónico enviado ao Canal de Moçambique para fazer
entrevista ........................................................................................................................ 74
Figura 16: Credencial submetido junto com a carta de pedido de entrevista no Canal
de Moçambique .............................................................................................................. 75
SUMÁRIO

DECLARAÇÃO DE HONRA .......................................................................................... I

DEDICATÓRIA ............................................................................................................... II

AGRADECIMENTOS ................................................................................................... III

RESUMO ....................................................................................................................... IV

ABSTRACT .....................................................................................................................V

SIGLAS E ABREVIATURAS ....................................................................................... VI

CAPÍTULO I .................................................................................................................... 1

1. Introdução.................................................................................................................. 1

1.1. Problemática .......................................................................................................... 3

1.2. Hipóteses ............................................................................................................... 6

1.3. Justificativa ............................................................................................................ 7

1.4. Objectivos .............................................................................................................. 9

1.4.1. Objectivo geral ............................................................................................... 9

1.4.2. Objectivos específicos .................................................................................... 9

II CAPÍTULO ................................................................................................................. 10

2.1. Liberdade de imprensa e de expressão ................................................................ 10

2.1.2. Liberdade de imprensa ................................................................................. 11

2.3. Direitos de personalidade ................................................................................. 13

2.3.1. Direito à honra .............................................................................................. 14

2.3.2. Direito à imagem .......................................................................................... 15

2.3.4. Direito à privacidade .................................................................................... 17

2.3.6. Direito à intimidade...................................................................................... 18

2.4. Colisão de direitos ........................................................................................... 18

2.5. Os limites legais da liberdade de imprensa ......................................................... 19

2.5.1. Limites do exercício do direito da liberdade de imprensa sobre ponto de


vista internacional ................................................................................................... 20
2.7. Crimes contra honra............................................................................................. 21

2.8.1. Responsabilidade civil e criminal ............................................................. 25

2.9. Breve descrição do Jornal Savana e canal de Moçambique ................................ 27

2.9.1. Jornal Savana................................................................................................ 27

2.9.2. Jornal Canal de Moçambique ....................................................................... 27

III CAPITULO ............................................................................................................... 28

3. Metodologia ............................................................................................................ 28

3.1. Categorias de análise............................................................................................ 30

3.1.1. Difamação ..................................................................................................... 31

3.1.2. Calunia .......................................................................................................... 31

3.1.3. Injuria ............................................................................................................ 31

3.1.4. Motivação ...................................................................................................... 31

IV CAPITULO: APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS ................................... 32

4. Apresentação, análise e interpretação de dados ...................................................... 32

4.1. Análise e interpretação das matérias do Jornal Savana ....................................... 32

4.1.2. Do ponto de vista da difamação .................................................................... 32

4.1.3. Do ponto de vista da injúria .......................................................................... 38

4.2. Análise e interpretação das matérias do Canal de Moçambique.......................... 39

4.2.1. Do ponto de vista da calúnia ......................................................................... 39

4.2.2. Do ponto de vista da difamação .................................................................... 41

4.2.3. Do ponto de vista injúria ............................................................................... 49

4.3 Comparação dos resultados obtidos no Jornal Savana e no Canal de Moçambique


.................................................................................................................................... 51

4.4. Entrevista para apuramento das motivações ........................................................ 53

4.4.1. Entrevista no Conselho Superior da Comunicação social ............................. 53

4.4.2. Entrevista no Jornal Savana .......................................................................... 54

4.5. Motivos que influenciam na observação dos limites da liberdade de imprensa nos
meios de comunicação sociais .................................................................................... 55
4.5.1. Jornal Savana................................................................................................. 55

4.5.2. Canal de Moçambique ................................................................................... 56

V CAPÍTULO ................................................................................................................ 57

5.1. CONCLUSÃO ................................................................................................. 57

5.2. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 60

ANEXOS ........................................................................................................................ 64
CAPÍTULO I

1. Introdução

O direito à liberdade de imprensa que compreende nomeadamente a liberdade de


expressão, permite as pessoas de forma individual, assim como à imprensa, transmitir as
informações de forma livre. Mas junto dessa liberdade, também foram estabelecidos
alguns limites de actuação da mesma.

A Constituição da República de Moçambique (CRM - Lei n.˚1/2018, de 12 de


Junho) estabelece que há limites no exercício da liberdade de imprensa, quando
estabelece no número 6 do artigo 48 que “o exercício dos direitos de liberdades
referidos neste artigo é regulado por lei com base nos imperativos do respeito pela
Constituição e pela dignidade da pessoa humana”. Assim sendo, verifica-se que por um
lado, existe um direito de liberdade de expressão e de imprensa e por outro, a lei
estabelece limites desse mesmo direito.

Os direitos de personalidade (dignidade da pessoa humana, honra, bom nome) e


o direito à liberdade de imprensa são dois direitos protegidos constitucionalmente, e
ambos não são absolutos. Deste modo, deve se ter em conta as suas limitações para não
se ferir o outro.

Importa salientar, que o estudo com o tema Limites do exercício do direito da


liberdade de imprensa nos meios de comunicação social em Moçambique (jornal
Savana e Canal de Moçambique) é um requisito para a obtenção do grau de
licenciatura em jornalismo na escola de comunicação e Artes da universidade Eduardo
Mondlane. Esta pesquisa foi desenvolvida com o intuito de perceber os motivos que
influenciam os órgãos de comunicação social na observação dos limites da liberdade de
imprensa, durante a cobertura dos seus conteúdos noticiosos.

Em termos de período de análise, a presente pesquisa cingiu-se no período de 1


de Janeiro a 30 de Junho de 2020. Sendo que para uma melhor percepção da postura
profissional do Jornal Savana e do Canal de Moçambique na elaboração de seus
conteúdos noticiosos, o estudo será composto por duas partes: a teórica (referente à
apresentação da pesquisa e ao levantamento teórico) e a prática (virada à apresentação,
analise e interpretação dos dados obtidos no campo).

1
Na parte teórica serão trazidas algumas normas legais sobre as liberdades de
expressão e imprensa, assim como a sua colisão com os direitos de personalidade. Pois,
para o efeito, vai se recorrer a diversos instrumentos, desde os artigos legais referentes à
imprensa na Constituição da República, Lei de imprensa, Código Civil/ Penal, até aos
manuais didácticos que versão a respeito do assunto. Quanto aos manuais didácticos, a
pesquisa usará como principais autores Matos, Meyer, Miranda e Rabelo, por serem
autores que tratam de aspectos ligados à liberdade de imprensa de forma mais profunda.

Importa salientar que, a parte prática vai fazer análise qualitativa e quantitativa
dos jornais, tendo como objecto as notícias e reportagens produzidas pelos jornais
Savana e Canal de Moçambique.
O trabalho em questão divide-se em cinco capítulos. O primeiro capítulo
antecede o próprio trabalho, e é referente à parte do projecto de pesquisa ou elementos
introdutórios da pesquisa. Sendo que o segundo capítulo faz levantamento teórico dos
conceitos que serão utilizados na análise dos artigos assim como o cruzamento de dados
referentes aos direitos de personalidade, liberdade de imprensa e às suas limitações. A
metodologia do trabalho está patente no terceiro capitula.

O quarto capítulo versa sobre apresentação análise e interpretação de dados.


Sendo que o último capítulo (quinto) é referente às conclusões e referências usadas na
elaboração da pesquisa.

2
1.1.Problemática

A liberdade de imprensa permite aos meios de comunicação e aos indivíduos em


geral publicar informações na sociedade. Bucci (2008), considera liberdade
de imprensa, como sendo a capacidade de um indivíduo publicar e dispor de acesso à
informação (usualmente na forma de noticia), através dos meios de comunicação social
sem interferência do Estado. A Constituição da República de Moçambique (Lei
n.˚1/2018) consolida isso no número 2 do artigo 48, quando refere que “o exercício da
liberdade de expressão, que compreende nomeadamente, a faculdade de divulgar o
próprio pensamento por todos meios legais, e o exercício do direito à informação não
podem ser limitados por censura”.

Mas por outro lado, os meios de comunicação social são exortados pelas normas
éticas a noticiarem os factos de forma objectiva e imparcial. Pois, a propagação de
informação deve se pautar por essas normas de modo a noticiar os acontecimentos de
forma objectiva, sem qualquer inovação, incremento ou desvirtuação dos factos.

Segundo Christofoletti (2008), a ética jornalística rege a actividade


do jornalismo no que se refere à conduta desejável e esperada do profissional. A ética
também se preocupa com a questão da objectividade e imparcialidade do jornalista na
elaboração do seu discurso. O autor acrescenta ainda que, a objectividade é algo externo
à consciência, resultado de observação imparcial e independente das preferências
individuais, ou seja, é a descrição dos factos sem impressões ou comentários do sujeito.

A ética é considerada no ramo de jornalismo como um elemento que auxilia o


jornalista enquanto profissional, a distinguir o bem e o mal, o que é lícito e ilícito, para
deste modo buscar um comportamento que pauta pelo bem. Para que através da ética,
publique conteúdos verídicos e isentos de interesses pessoais que possam prejudicar ou
ferir os direitos dos outros. Fortes (2008), refere que os factos não devem ser viciados e
a opinião do jornalista não deve constar nas suas publicações.

No entanto, no exercício das suas actividades o jornalista deve respeitar a honra,


a imagem e os demais direitos da personalidade. A CRM\ (Lei n.˚1/2018) assegura esses
direitos na medida em que apregoa no artigo 41 que, “todo o cidadão tem direito à
honra, ao bom nome, à reputação, à defesa da sua imagem pública e a reserva da sua
vida privada”.

3
Mas por sua vez, Mendes (2017), diz que a media no anseio de publicar notícias,
procede de forma inconsequente, preocupando-se única e exclusivamente com a
publicação, sem qualquer avaliação do seu conteúdo, da veracidade ou mesmo dos
pormenores dos acontecimentos.

O Jornal Savana na edição do dia 05 de Abril de 2019 colocou como manchete


uma fotografia dos deputados da Assembleia-geral da República de Moçambique com o
seguinte antetítulo e título: "FRELIMO e oposição sacrificam o espírito da
descentralização em defesa do umbigo"; título: "Palhaços".

O Jornal ao colocar como antetítulo "FRELIMO e oposição sacrificam o espírito


da descentralização em defesa do umbigo", estaria de algum modo a macular a honra e
a reputação dos mesmos perante a sociedade. Por defender a ideia de que as suas acções
giram em torno da defesa do seu umbigo ou de interesses próprios. E Nucci (2014), diz
que a imputação de um facto que macula a honra de alguém desacreditando-o
publicamente, configura-se difamação.

Assim sendo, com esse antetítulo o Savana não agiu de acordo com a alínea c)
do artigo 28 da lei de imprensa (lei nº 18/91) que lista como um dos deveres dos
jornalista “exercer a sua actividade profissional com rigor e objectividade”. Pois o
Jornal não foi objectivo ao colocar a ideia de que a Frelimo e a oposição sacrificam a
descentralização em defesa de interesses pessoais.

A designação “palhaços” referido aos deputados da Assembleia-geral da


República fere de algum modo o artigo 41 da CRM (Lei n.˚1/2018), que estabelece que
todo cidadão tem direito à honra, ao bom nome e à reputação. O que não foi
considerado pelo Savana quando chama os deputados de “palhaços”, uma designação
que pode de certo modo ser visto como uma qualidade negativa aos deputados. Pois,
importa salientar que Nhuch (2015), diz que a imputação de uma qualidade negativa ou
atributos pejorativos a uma pessoa é considerada como injuria.

Por sua vez, o número 1 do artigo 237 do Código penal (lei n.˚ 24/2019 de 24 de
Dezembro) estabelece que os crimes de difamação e injuria quando cometidos contra os
titulares dos órgãos de soberania e membros de organismos de administração da justiça
são punidos com prisão até 2 anos.

4
Na edição do dia 23 de Outubro de 2019, o Canal de Moçambique colocou como
manchete uma imagem do Presidente Filipe Nuysi e um título que dizia: "Vocês votam.
Nós decidimos o vencedor!" Esse título, associado com a imagem do Presidente,
transmite um parecer de que a decisão do vencedor nas eleições não está nas mãos do
povo através do voto, mas sim na decisão do Presidente da República.

Em confronto com a Lei, essa publicação fere o número 6 do artigo 48 da CRM


(Lei n.˚1/2018), que estabelece que o exercício dos direitos e liberdades referidos nesse
artigo é regulado por Lei com base nos imperativos do respeito pela dignidade humana,
o que não foi observado pelo Savana ao imputar esse facto ao PR.

O jornal também não agiu de acordo com a alínea c) do artigo 28 da Lei de


Imprensa (Lei Nº 18/91) que lista como um dos deveres dos jornalista “exercer a sua
actividade profissional com rigor e objectividade”. Pois com esse título em questão o
Jornal foi subjectivo ao colocar seu parecer que pode desacreditar o presidente perante a
sociedade. No entanto, Nucci (2014), diz que desacreditar publicamente uma pessoa,
maculando-lhe a reputação configura-se em difamação.

Por sua vez, o número 1 do artigo 237 do Código Penal (Lei n.˚ 24/2019 de 24
de Dezembro) estabelece que o crime de difamação quando cometido contra os titulares
dos órgãos de soberania e membros dos organismos de administração da justiça é
punido com prisão até 2 anos.

Foi olhando para esta linha de abordagem tomada pelo Jornal Savana e pelo
canal de Moçambique que surge uma necessidade de fazer uma análise dos mesmos,
com vista a perceber:

1.1.1. Pergunta de Partida

Até que ponto o Jornal Savana e o Canal de Moçambique observam os limites


do exercício do direito da liberdade de imprensa (respeito pela informação referente à
vida e intimidade privada dos cidadãos)?

5
1.2. Hipóteses

Decorrente do problema de pesquisa: Até que ponto o Jornal Savana e o Canal de


Moçambique observam os limites do exercício do direito da liberdade de imprensa
(respeito pela informação referente à vida e intimidade privada dos cidadãos), foram
levantadas as seguintes hipóteses:

1) O Jornal Savana e o Canal de Moçambique extrapolaram os limites da liberdade


de imprensa influenciados pelas políticas editoriais dos próprios órgãos;
2) O Canal de Moçambique e o Savana extrapolaram os limites da liberdade de
imprensa com vista a adquirir mais leitores e audiência.
3) O Savana e Canal de Moçambique observaram os limites da liberdade de
imprensa, influenciados pelo Código de Ética e Deontologia Profissional dos
Jornalistas.

6
1.3.Justificativa

A seguinte pesquisa com o tema limites do exercício do direito da liberdade da


imprensa nos meios de comunicação social em Moçambique, é um tema que busca
compreender os motivos dos extrapolamentos dos limites da liberdade de imprensa no
Jornal Savana e no Canal de Moçambique no exercício das suas actividades.

O tema em questão foi escolhido tendo em conta que os meios de comunicação


social constituem uma ponte entre as entidades e a sociedade em geral. Assim como, são
os responsáveis pela formação da opinião pública através do enquadramento das
notícias. Pois, considerando de igual modo que a divulgação dos meios de comunicação
social pode fazer assim como denegrir a imagem de uma individualidade, surge um
grande interesse de fazer um estudo sobre os limites do exercício da liberdade de
imprensa nos Jornais Savana e Canal de Moçambique, com vista a identificar os
possíveis abusos de liberdade de imprensa cometidos por esses jornais e perceber as
suas reais motivações.

Pois, importa destacar que o respeito pelos valores éticos na divulgação das
notícias, a igualdade de tratamento entre as fontes e o respeito pelos valores supremos
do jornalismo como a objectividade e imparcialidade, constituem aspectos fundamentais
que permitem alcançar a veracidade jornalística, e consolidar ou fortificar a democracia
em Moçambique. Contudo, alguns meios de comunicação social tendem a transgredir
esses valores éticos na elaboração dos seus conteúdos, com objectivo de trazer mais
emoção aos seus textos e adquirir mais leitores.

De acordo com o número 1 do artigo 48 da Constituição da República de


Moçambique (Lei n.˚1/2018), "todos os cidadãos têm direito à liberdade de expressão, à
liberdade de imprensa, bem como o direito à informação". Mas por sua vez, a mesma
Constituição, frisa que o exercício desses direitos é regulado por lei com bases nos
imperativos do respeito pela constituição e pela dignidade da pessoa humana. Por isso,
esta pesquisa torna-se relevante para a compreensão da forma como os meios de
comunicação social (nacionais) lidam com a questão dos limites da liberdade de
imprensa estabelecidos na Constituição da República assim como na Lei de Imprensa.

A pesquisa trará na sua vertente académica, informação eficaz no que diz


respeito às pesquisas futuras no âmbito académico, sobre a comunicação social, assim
como sobre liberdade de imprensa para o contexto nacional e internacional. Esta
7
pesquisa pretende servir de motor de busca no ramo de jornalismo, bem como em outras
areias, e trazer um contributo melhor e seguro no aprimoramento da informação.

Na vertente profissional dos jornalistas, a pesquisa vai contribuir para o


aperfeiçoamento do jornalismo, no que diz respeito à elaboração de notícias
tendenciosas e parciais. Assim como vai despertar nos profissionais de jornalismo a
importância de se considerar o estabelecido na constituição da república e lei de
imprensa na cobertura dos factos sociais.
A questão da liberdade de imprensa constitui um tema da actualidade em
Moçambique, pois este versa sobre fenómenos sociais recentes. Assim sendo, a
pesquisa pretende contribuir para o desenvolvimento de debates na sociedade, no
jornalismo e na areia académica em geral.
A escolha de notícias e reportagens para análise neste estudo deveu-se ao facto
destes serem os géneros que mais pautam pela objectividade e pela imparcialidade no
meio jornalístico, diferentemente dos artigos de opinião. E a delimitação do período
(Janeiro a Junho de 2020) foi feita por acreditar-se, que este é um período suficiente
para se obter mais dados no que diz respeito à observação dos limites da liberdade de
imprensa no Jornal Savana e no Canal de Moçambique.

8
1.4. Objectivos

1.4.1. Objectivo geral

Compreender as motivações que influenciam os meios de comunicação social


(Jornal Savana e Canal de Moçambique) na observação dos limites da liberdade de
imprensa.

1.4.2. Objectivos específicos

1) Analisar a cobertura noticiosa dos Jornais Savana e Canal de Moçambique no


que concerne à observação dos limites da liberdade de imprensa;

2) Identificar os tipos de abuso de liberdade de imprensa possivelmente cometidos


no Jornal Savana e no Canal de Moçambique;
3) Comparar os resultados obtidos na observação dos limites da liberdade de
imprensa nos dois jornais em estudo;
4) Identificar os aspectos que ditam as formas de redacção de notícias usadas no
Savana e Canal de Moçambique;

9
II CAPÍTULO

2. Quadro teórico e conceptual

2.1. Liberdade de imprensa e de expressão

A liberdade de imprensa e de expressão são dois direitos fundamentais na


imprensa e na vida da humanidade em geral. Esses dois direitos surgem de um direito
considerado como base, que é a liberdade.

Para Carvalho, (2007) a liberdade consiste na remoção dos impedimentos


(económicos, sociais e políticos) que possam obstruir a auto-realização da personalidade
humana, ou seja, é a remoção dos impedimentos de usufruir dos seus direitos.

Por sua vez, Rabelo (2016), salienta que a liberdade é um dos bens mais
preciosos da vida humana, pois, é a partir dela que se desenvolvem os demais atributos
essenciais ao indivíduo. Sob esse prisma, o direito à liberdade apresenta-se como
protagonismo no rol dos direitos fundamentais.

Nessa abordagem das liberdades importa referir que para haver uma efectivação
de algumas liberdades como a liberdade de expressão e de imprensa, no seio dos meios
de comunicação social, é pertinente que haja um outro elemento que é a informação.
Para Bruno (2006), a palavra informação tem a sua origem no vocábulo latino
“informatio”, cujo significado varia em função do contexto em que a palavra é utilizada.
Em certos casos pode assim significar fabricar, dar forma, educar, ensinar instruir, ou
ainda, representar.

2.1.1. Liberdade de expressão

Uma das ramificações da liberdade é a liberdade de expressão, que é um direito


fundamental de relevância e constitui uma das características das sociedades
democráticas de direito, uma vez que ela garante a participação do cidadão na vida da
sociedade.

De acordo com o artigo 2 da Liberdade de Imprensa (Lei Nº 18/91 de 10 de


Agosto), "a liberdade de imprensa corresponde, nomeadamente, a liberdade de
expressão e de criação dos jornalistas, o acesso às fontes de informação, a protecção da
independência e do sigilo profissional e o direito de criar jornais e outras publicações".

10
Segundo Machado (2002), a liberdade de expressão é a possibilidade que o ser
humano possui de exteriorizar o seu pensamento e a sua criatividade intelectual.

Por sua vez Meyer (2009), conceitua liberdade de expressão como sendo o poder
conferido aos cidadãos para externar opiniões, ideias, convicções, juízos de valor, bem
como sensações e sentimentos, garantindo-se, também, os suportes por meio dos quais a
expressão é manifestada, tais como: a actividade intelectual, artística, científica e de
comunicação.

A liberdade de expressão é um direito através do qual, os indivíduos têm a


possibilidade de expor opiniões diversas à sociedade. Este é um direito que confere aos
indivíduos de forma individual o poder de se expressar. Na sociedade moçambicana, o
direito à liberdade de expressão e o direito à liberdade de imprensa se encontram
plasmados no mesmo artigo da Constituição da República, assim como no mesmo artigo
da Lei de imprensa.

2.1.2. Liberdade de imprensa

Falar da liberdade de imprensa é falar da associação de vários conceitos como a


liberdade, a imprensa e a própria informação que está em questão em toda imprensa.

Como forma de garantir legalmente a liberdade de expressão e de imprensa, a


Constituição da República de Moçambique (Lei n.˚ 1/2018, de 12 de Junho) estabelece
no artigo 48 que:

1. Todos os cidadãos têm direito à liberdade de expressão, à liberdade de imprensa,


bem como o direito à informação.
2. O exercício da liberdade de expressão e, que compreende nomeadamente, a
faculdade de divulgar o próprio pensamento por todos meios legais, e o exercício
do direito a informação não pode ser limitado por censura.
3. A liberdade de imprensa compreende, nomeadamente, a liberdade de expressão e a
criação dos jornalistas, o acesso às fontes de informação, a protecção da
independência e do sigilo profissional e o direito de criar jornais, publicações e
outros meios de difusão.
4. Nos meios de comunicação social do sector público são assegurados a expressão e
ao confronto de ideias das diversas correntes de opinião.

11
5. O estado garante a isenção dos meios de comunicação social do sector público.
Bem como a independência dos jornalistas perante o governo, a administração e os
demais poderes políticos.
6. O exercício dos direitos e liberdades referidos nesse artigo é regulado por lei com
bases nos imperativos do respeito pela constituição e pela dignidade da pessoa
humana.

Segundo Ramos (2007), a liberdade de imprensa é um dos princípios pelos quais


um estado democrático assegura a liberdade de expressão aos seus cidadãos e
respectivas associações, principalmente no que diz respeito a qualquer publicação que
estes possam pôr a circular.

Pois importa salientar que por um lado, existe o direito à liberdade de expressão
que confere às pessoas de forma singular ou individual, o direito de se expressarem. E
por outro, o direito à liberdade de imprensa, que confere às pessoas colectivas
(imprensa), o direito de publicar informações por todos meios legais sem censura.

2.2. Liberdade de informar (direito a ser informado e pluralismo de expressão)

De acordo com a Lei do Direito à Informação (Lei n.˚ 34/2014), o exercício do


direito à informação compreende a faculdade de solicitar, procurar, consultar, receber e
divulgar a informação de interesse público.

Por sua vez, o número 1 do artigo 3 da Lei de Imprensa (Lei Nº 18/91 de 10 de


Agosto) estabelece que, no âmbito da imprensa, o direito à informação significa a
faculdade de cada cidadão se informar e ser informado de factos e opiniões relevantes a
nível nacional e internacional bem como o direito de cada cidadão divulgar informação,
opiniões e ideias através da imprensa.

A deliberação de informar que as pessoas possuem, compreende duas formas


distintas que podem ser encaradas como estímulo e reacção. Onde encontramos a
liberdade de informar e de ser informado. Machado (2002), considera que essas
liberdades constituem expressões distintas, que tratam de objectos jurídicos distintos. O
direito à informação (de se informar) constitui um direito pessoal. Enquanto a liberdade
de informar em geral é um direito colectivo.

Neste sentido, assume-se como direito de informação, o direito de acesso,


recebimento e procura de informações, sem qualquer obstáculo ou interferência de

12
particulares. E a liberdade de informar como aquela que será responsável por
disponibilizar essa informação.

2.3. Direitos de personalidade

De acordo com a Constituição da República de Moçambique (Lei n.˚ 1/2018, de


12 de Junho), estabelece no artigo 41 que versa sobre “outros direitos pessoais”, que
todo cidadão tem direito à honra, ao bom nome, à reputação, à defesa da sua imagem
pública e reserva da sua vida privada.

Lotufo (2007), define os direitos de personalidade como sendo o mínimo


imprescindível para o ser humano desenvolver-se dignamente no seio da sociedade
inserida.

Para Sousa (1995), os direitos de personalidade constituem o real e potencial


físico e espiritual de cada pessoa em concreto.

Segundo Matos (2010), dentre os direitos inerentes à personalidade, podemos


destacar os seguintes, direito a preservação da vida, a integridade física, a honra, a
imagem, a privacidade e a liberdade. A categoria dos direitos de personalidade consiste
nos direitos próprios e essenciais à tutela da pessoa humana, e é uma construção recente
e decorre de construções doutrinárias germânicas.

O autor acrescenta ainda que os direitos de personalidade não são uniformes


quanto à denominação, pois, podem ser chamados de direitos essenciais, direitos
fundamentais ou individuais da pessoa e direitos sobre a própria pessoa. Esses direitos
protegem a todos os indivíduos contra qualquer ofensa ilícita ou ameaça de ofensa a sua
personalidade.

Segundo Cunha (2019), os direitos pessoais estão divididos em três grandes


grupos, a saber: direitos físicos, direitos psíquicos e direitos morais.

Direitos Físicos: São os que tutelam o corpo e suas partes (cadáver, sua integridade
física, imagem e a voz).

Direitos Psíquicos: São os que tutelam a privacidade da vida privada, publicações de


pensamentos e da integridade psíquica.

Direitos Morais: São aqueles que tutelam a honra, nome e as criações intelectuais do
indivíduo.

13
Os direitos de personalidades são delimitados por características próprias e
exclusivas que as diferenciam dos outros. Pontes (1956), considera como sendo
características dos direitos de personalidade o facto de serem objectivos,
intransmissíveis, irrenunciáveis e inextinguíveis.

1) Objectivos porque não são impostos por ordem sobrenatural, ou natural, aos
sistemas jurídicos, mas, decorrentes de fatos jurídicos, que se produziram
nos sistemas jurídicos, cuja relevância ao direito é consequência da tutela
pelo direito objectivo.
2) A intransmissibilidade deles resulta da infugibilidade da própria pessoa e da
irradiação de efeitos próprios (os direitos da personalidade).
3) São irrenunciáveis porque tal como a intransmissibilidade, decorrem da sua
ligação íntima como a personalidade e a eficácia irradiada por ela.

Esses direitos surgem como forma de garantir que as pessoas tenham uma
protecção das suas vidas perante a liberdade de imprensa. Assim como tenham seus
interesses pessoais protegidos e uma "total" liberdade de decidir como usar a sua
imagem, seu nome entre outros.

2.3.1. Direito à honra

A honra é um aspecto importante da personalidade humana, pois este é em parte,


o responsável em determinar como é que as pessoas serão tratadas na sociedade.

Rabelo (2016), define a honra como um direito fundamental que consiste na


garantia dada ao indivíduo de ter preservado a sua dignidade. A honra é um direito que
está ligado ao sentimento da dignidade pessoal, ou seja, à reputação que a pessoa
desfruta no meio social.

Para Matos (2010), o direito à honra é assegurado pela Declaração Universal dos
Direitos Humanos no seu artigo 12, onde dispõe que, ninguém será sujeito a
interferência na sua vida privada, na vida da sua família, no seu lar ou na sua
correspondência, nem a ataques. O direito a honra pode ser caracterizado como um
direito inato e universal da pessoa humana. Este é, portanto, um atributo inerente a
qualquer pessoa, independentemente de sua raça, religião, classe social, opção sexual
entre outros.

14
Para Conceição (2016), a doutrina faz a distinção entre a honra subjectiva e a
honra objectiva. A honra subjectiva é o sentimento de dignidade e de decoro que cada
pessoa possui a respeito de si própria. Ou seja, é a auto-estima. A honra objectiva é a
reputação, a boa fama que cada pessoa desfruta no meio social em que vive.

O direito à honra esta ligada a dignidade da pessoa humana, isto é, ele possibilidade
com que o ser humano viva de forma digna na sociedade e que nenhum outro direito
possa, ferir a sua auto-estima perante a si mesmo ou a sociedade.

2.3.2. Direito à imagem

De acordo com o número 1 do artigo 79 do Código Civil Moçambicano (2015/


2016), o retrato de uma pessoa não pode ser exposto, reproduzido ou lacando no
comércio sem o consentimento dela. Depois da morte da pessoa retratada a autorização
compete as pessoas designadas no n.˚ 2 do artigo 71. Segundo a ordem nele indicado.
O número 2 estabelece que não é necessário o consentimento da pessoa retratada
quando assim o justifiquem a sua notoriedade, o cargo que desempenhe, exigências de
polícia ou de judicia, finalidades científicas, didácticas ou culturais, ou quando a
reprodução da imagem vier enquadrada na de lugares públicos, ou na de factos de
interesse público ou que hajam decorrido publicamente.

E o número 3 do mesmo artigo estabelece que o retrato não pode, porém, ser
reproduzido, exposto ou laçado no comércio, se de facto resultar prejuízo para a honra,
reputação ou simples decoro da pessoa retratada.

Por sua vez Miranda (2000), diz que o direito à imagem é um direito de
personalidade, quando tem como conteúdo a reprodução das formas, da voz, ou dos
gestos identificáveis.

Para Matos (2010), a imagem significa a representação, reprodução ou a


imitação da forma de uma pessoa, de um objecto ou até mesmo um espectro particular
pelo qual um ser, um objecto é percebido.

O autor acrescenta ainda que na área de direito, a imagem é definida como


aquela que consiste na reprodução dos traços físicos da figura humana sobre um suporte
material qualquer. A imagem tutelada pelo ordenamento jurídico não é apenas a do
semblante da face da pessoa, mas também de qualquer parte do seu corpo. De forma que
a reprodução não autorizada de um pé, de um braço, de uma mão, do cabelo ou mesmo

15
de um sinal distintivo pessoal, como uma tatuagem da sua pele, configuram agressão a
esse direito subjectivo autónomo da personalidade.

Segundo Conceição (2016), convém atentar para o fato de que, enquanto o


direito à intimidade tutela o corpo nos seus aspectos íntimos, físicos e psicológicos
como sexo, casamento, família, procriação, vida e morte, corpo e alma. O direito
própria imagem tutela os aspectos externos e externados do corpo humano. E este
direito vai além da figura, protegendo também a voz, os gestos da pessoa e o modo de
ser.

A imagem é um elemento característico ligada à própria pessoa. Assim sendo o


seu uso deve permanecer sobre pleno domínio do individuo. Deste modo, cabe á pessoa
com exclusividade, definir quem pode usá-la, em que circunstância e como usá-la.

2.3.3. Direito ao bom Nome

O Código Civil Moçambicano (2015/ 2016) estabelece no seu artigo 72 o


seguinte:

1. Toda a pessoa tem direito a usar o seu nome, completo ou


abreviado, e a opor-se a que outrem o use ilicitamente para a sua
identificação ou para outros fins.
O número 2 do mesmo artigo estabelece que o titular do nome não
pode, todavia, especialmente no exercício de uma actividade
profissional, usá-lo de modo a prejudicar os interesses de quem tiver
nome total ou parcialmente idêntico; nestes casos, o tribunal decretara
as providencias que, segundo juízos de equidade, melhor conciliem os
interesses em conflito.

Versando sobre pseudónimo o artigo 74 do mesmo dispositivo refere que "o


pseudónimo, quando possui notoriedade, goza da protecção conferida ao próprio nome".

Por sua vez Farias (2012), afirma que o direito ao bom nome é um direito que
confere a um indivíduo a forma como uma pessoa é reconhecida em seu meio social.
Pois, este é um atributo da personalidade e o verdadeiro direito de identificação.

De acordo com Rabelo (2016), toda pessoa deve ser identificada socialmente,
possuindo direito ao nome, que deve ser protegido nas suas diversas formas.

Rabelo acrescenta ainda que a protecção ao nome inclui o “nome completo,


nome artístico, nome de palco, assinatura, alcunhas, pseudónimos, símbolos, bem como

16
as respectivas alterações.” Ou seja, qualquer nome ou símbolo pelo qual possa ser
imediatamente identificada. O direito ao nome protege a pessoa do uso do mesmo sem
seu consentimento para fins de publicidade e veiculação comercial, sendo assegurada
indemnização no caso.

De forma geral, o direito ao bom nome corresponde à protecção de todos os


nomes que identificam uma pessoa. Devendo deste modo, se respeitar todos os
substantivos que uma dada pessoa tiver escolhido para lhe identificarem.

2.3.4. Direito à privacidade

Rabelo (2016), considera privacidade como conjunto de informações acerca do


indivíduo que ele pode decidir manter sob seu exclusivo controlo, ou comunicar. Mas
contudo, decidindo a quem, quando onde e em que condições.

Para Matos (2010), a privacidade e a intimidade são dois elementos similares,


quase que confundíveis, mas os dois merecem uma atenção particular para evitar
conflitos. Esses termos se distinguem pelo facto de se considerar a privacidade como
género, por sua maior amplitude, enquanto a intimidade, dado o seu carácter mais
restritivo, reserva-se a qualidade de espécie daquele género.

Esses princípios podem se distinguir através da percepção de que uma pessoa


possui uma vida privada e dentro da sua vida privada encontramos a vida íntima. Esta
vida íntima seriam os elementos mais profundos da sua privacidade.

Importa salientar, que quando se trata de pessoas públicas, a observação e o


respeito desse pelos meios de comunicação social tem sido um grande desafio. Dado ao
facto das pessoas públicas possuírem uma esfera mais reduzida da privacidade em
relação às pessoas consideradas "comuns".

2.3.5. Direito à privacidade de pessoas públicas

No que se refere às pessoas públicas, famosas ou notórias, há que destacar que


elas, em comparação com as pessoas ditas comuns, possuem menor protecção dos
aspectos da sua privacidade. Contudo, isso não significa que a notoriedade, a fama ou a
dimensão pública de uma pessoa lhe retiram o direito à privacidade. A actuação da
privacidade se difere quando se trata de pessoas públicas e quando se trata de pessoas
privadas. A partir do momento que a pessoa cede a um cargo público ou se torna um

17
artista, o seu direito à privacidade diminui e obviamente não pode reclamar de nenhuma
descrição justa, Matos (2010).

O direito à privacidade tem sido motivo de vários debates, uma vez que chega a
constituir uma tarefa "complicada" resguardar a privacidade das pessoas públicas numa
dada publicação devido ao seu nível de notoriedade.

2.3.6. Direito à intimidade

De acordo com o número 1 e 2 do artigo 80 do Código Civil Moçambicano


(2015/ 2016): "Todos devem guardar reserva quanto à intimidade da vida privada de
outrem, e a extensão da reserva é definida conforme a natureza do caso e a condição das
pessoas".

Para Matos (2010), a intimidade diz respeito a uma reserva mais profunda, um
resguardo próprio que a pessoa guarda para si, não revelado sequer na sua vida privada,
o que se difere da privacidade que se relaciona com o viver comunitário, no qual existe
convivência, mas, não interferência em certos aspectos da individualidade humana.

Como já referido acima, os direitos de personalidade estão ligados aos interesses


individuais das pessoas. E como forma de salvaguardar esses interesses perante a
liberdade de expressão, a Constituição da República de Moçambique, o Código Civil
Moçambicano e outros instrumentos normativos estabelecem normas que garantem
estes direitos.

2.4.Colisão de direitos

De acordo com Machado (2002), a colisão entre o exercício da liberdade de


imprensa e expressão e o direito à honra, à imagem, à privacidade e à intimidade é
bastante frequente. Os estudos sobre direitos fundamentais afirmam não serem eles
detentores de um carácter absoluto, quando confortados com outros direitos
fundamentais, eis que actuam conjuntamente e, necessariamente acabam por se
limitarem reciprocamente, o que revela o seu carácter relativo.

Ao tratar dessa matéria importa referir que no exercício do direito da liberdade


de expressão e de imprensa, pode se deparar com situações de conflito ou colisão da
liberdade de imprensa e os direitos de personalidade.

18
2.5.Os limites legais da liberdade de imprensa

A Constituição da República de Moçambique (Lei n˚ 1/2018 de 12 de Junho) no


número 6 do artigo 48, após as deliberações da liberdade de expressão e de imprensa,
afirma que o exercício desses direitos é regulado por lei com bases nos imperativos do
respeito pela constituição e pela dignidade da pessoa humana.

Versando sobre o direito à informação, o número 2 do artigo 3 da Lei de


Imprensa (Lei n.º 18/91) estabelece que nenhum cidadão pode ser prejudicado na sua
relação de trabalho em virtude do exercício legítimo do direito à liberdade de expressão
do pensamento através da imprensa.

Assim como a alínea a) do número 2 do artigo 4 da Lei do Direito à Informação


(Lei n.˚ 34/2014) dispõe que o direito à informação também deve ter em conta no seu
exercício, o respeito pela dignidade da pessoa humana.

A Lei do Direito à Informação (lei n.˚/2014), acrescenta ainda que o exercício do


direito à informação deve salvaguardar outros direitos e interesses protegidos pela
Constituição, nomeadamente, o direito à honra, ao bom-nome, à reputação, à defesa da
imagem pública e à reserva da vida privada.

Segundo Fábio (2003), em certos casos, a liberdade de imprensa poderá estar


sujeita a certas restrições, que devem, entretanto, ser expressamente previstas em lei e
que se façam necessárias para assegurar o respeito dos direitos e da reputação das
demais pessoas; e proteger a segurança nacional, à ordem, à saúde ou a moral pública.

Autor acrescenta ainda que a liberdade de imprensa, nela contida a liberdade de


expressão impõe que a informação expressa de forma pública nos veículos de
comunicação atenda aos seguintes pressupostos:

1) Respeito à dignidade, imagem e honra das pessoas (físicas e jurídicas) que


forem objecto de notícia;
2) Precisão e imparcialidade da matéria jornalística, tendo em conta que o leitor
possui o direito de receber informações correctas e;
3) Atendimento sempre que solicitado do justo e correlato direito de resposta a
todos os envolvidos na matéria.

Deste modo pode se assumir que os direitos de personalidade que são aqueles
inerentes à personalidade, como o direito à preservação da vida, à integridade física, à

19
honra, à imagem, à privacidade entre outros, constituem limitações constitucionais do
exercício do direito da liberdade de imprensa.

Portanto, muito ao contrário do que se vêm expressando em alguns veículos de


comunicação de massa, limitar o exercício da liberdade de expressão não significa de
nenhum modo medi-la. Mesmo porque a própria Constituição da República de
Moçambique e as demais legislações, estabeleceram direitos fundamentais de mesma
importância, os quais devem ser protegidos e respeitados de forma harmónica e
equilibradamente.

2.5.1. Limites do exercício do direito da liberdade de imprensa sobre ponto de


vista internacional

A Convenção Europeia dos Direitos do Homem (CEDH 2013), define no seu


artigo 17º que os direitos humanos não podem ser exercidos de forma a infringir os
direitos dos outros. Por outro lado, o artigo 19º do Pacto Internacional dos Direitos
Civis e Políticos (PIDCP 1966) e o artigo 10º da CEDH sustentam esse enunciado ao
estabelecem algumas finalidades para as quais a liberdade de expressão pode ser
limitada.

De acordo com artigo 19 da PIDCP (1996) o exercício das liberdades previstas


no número 2 do mesmo artigo comporta deliberação de liberdade de imprensa aos
cidadãos. Mas o mesmo artigo comporta algumas, restrições, ao exercício do direito da
liberdade de imprensa que são necessárias e fundamentais. Essas limitações surgem
como forma de:

1. "Assegurar o respeito dos direitos e da reputação das demais pessoas";


2. "Proteger a segurança nacional, a ordem, a saúde ou a moral pública".

Por sua vez o número 2 do artigo 10 da Convenção Europeia dos Direitos do


Homem (CEDH 2013), afirma que:

O exercício desta liberdades, porquanto implica deveres e


responsabilidades, pode ser submetido a certas formalidades,
condições, restrições ou sanções, previstas pela lei, que constituam
providências necessárias, numa sociedade democrática, para a
segurança nacional, a integridade territorial ou a segurança pública, a
defesa da ordem e a prevenção do crime, a protecção da saúde ou da
moral, a protecção da honra ou dos direitos de outrem, para impedir a

20
divulgação de informações confidenciais, ou para garantir a autoridade
e a imparcialidade do poder judicial.

A CEDH (2013) acrescenta ainda no seu artigo 17, que:

1. Ninguém poderá ser objecto de ingerências arbitrárias ou ilegais em sua


vida privada, em sua família, em seu domicílio ou em sua
correspondência, nem de ofensas ilegais à sua honra e reputação.
2. Toda pessoa terá direito à protecção da lei contra essas ingerências ou
ofensas.

Deste modo percebe-se que nenhuma pessoa tem o direito de usar direito algum
(da liberdade de expressão e de imprensa) no sentido de destruir ou limitar os direitos e
liberdades reconhecidos na lei. Pois a constituição assim como os diversos dispositivos
legais, dispõem as leis com o mesmo valor, onde a actuação de uma termina no início
da actuação da outra.

As legislações internacionais assim como nacionais que versam sobre a


liberdade de imprensa e de expressão e sobre direito à informação têm salvaguardado os
direitos de personalidade, ao deixar bem claro que o exercício destes direitos deve
respeitar a dignidade da pessoa humana.

2.7.Crimes contra honra

O artigo 1 do Código Penal de Moçambique (Lei n.º 35/2014 de 31 de Dezembro),


considera como crime ou delito um facto voluntário declarado punível pela lei penal.

Sobre os crimes de liberdade de imprensa, os números 1 e 2 do Artigo 42 da lei


de imprensa (LEI Nº 18/91 de 10 de Agosto) estabelecem que:

1. São considerados crimes de abuso da liberdade de imprensa os factos ou


actos voluntários lesivos de interesse jurídico penalmente protegidos que se
consumam pela publicação de textos ou difusão de programas radiofónicos ou
televisivos ou imagens através da imprensa, nos termos do artigo 1 da presente
lei. 2. Aos crimes de imprensa é aplicável a legislação penal comum, com as
especialidades previstas no presente capítulo.

Segundo Araujo (2019), os crimes contra honra são aqueles nos quais o bem
jurídico tutelado é a honra do ofendido, seja em sua dimensão subjectiva ou objectiva:

 Honra subjectiva é o sentimento de apreço pessoal que a pessoa tem de si


mesma;
21
 Honra objectiva é o apreço que os outros têm pela pessoa. Esta está Ligada
à imagem da pessoa perante o corpo social.

Nos crimes contra a honra das pessoas enquadra-se a calúnia, difamação e injúria. E
estes estão previstos no código penal moçambicano, como sendo crimes que são
submetidos a sanções, quando cometidos.

2.7.1. Calunia

"A calúnia corresponde à acusação falsa que compromete a credibilidade do


indivíduo no seio social. Tal acusação falsa deve dizer respeito a um fato considerado
delituoso", Neto (2018).

Para Nhuch (2015), a calúnia é aduzida no momento em que alguém realiza uma
imputação falsa de um fato definido como crime praticado por outrem. Dessa forma,
para se caracterizar a calúnia, um fato deve ser imputado, deve ser considerado um
crime e o fato deve ser, obrigatoriamente, falso.

Na calúnia, o bem jurídico tutelado é a honra objectiva do ofendido, pois o que


está em questão é a sua imagem perante a sociedade, perante o grupo que o rodeia. O
crime consuma-se com a divulgação da calúnia a um terceiro. Não basta, portanto, que
somente o sujeito activo e o sujeito passivo tenha conhecimento da calúnia, pois, como
este crime tutela-se a honra objectiva, é necessário que alguém além dos sujeitos de
infracção chegue a ter conhecimento da calúnia, sob pena de termos um indiferente
penal, Araújo (2019).

O número 1 do artigo 402 do Código Penal (lei n.˚ 24/2019 de 24 de Dezembro)


estabelece que "quem, por qualquer meio, perante autoridade ou publicamente, com a
consciência da falsidade da imputação, denunciar ou lançar sobre determinada pessoa a
suspeita da prática de crime, este por sua vez, é punido com pena de prisão de 2 a 8 anos
e multa até 1 ano".

2.7.2. Difamação

O conceito de difamação tem sido muito tratado no ramo do direito penal e nos
debates referentes à liberdade de imprensa, razão pela qual vários autores versam sobre
este conceito.

22
Segundo Nucci (2014), a difamação "significa desacreditar publicamente uma
pessoa, maculando-lhe a reputação".

Para Nhuch (2015), a difamação é configurada quando fatos determinados sejam


falsos ou verdadeiros são imputados à outra pessoa com a finalidade de macular sua
honra objectiva, ou seja, sua reputação. Diferentemente do que ocorre com a calúnia,
não se exige que o fato imputado pela difamação seja falso. Na difamação se exige que
um terceiro tome conhecimento da ofensa.

Como uma forma de garantir ou manter o respeito pelos direitos de


personalidade, a legislação moçambicana criou normas legais com vista a garantir e
responsabilizar os infractores. Os números 1, 2, 3 e 4 do artigo 233 do código penal de
2019 (lei n.˚ 24/2019 de 24 de Dezembro), versando sobre difamação, estabelecem que:

1- Quem difamar outrem publicamente, de viva voz, por escrito ou desenho


publicado ou por qualquer outro meio de publicação, imputando-lhe um facto
ofensivo da sua honra e consideração, reencaminhando ou reproduzindo a
imputação, é punido com pena de prisão até 1 ano e multa correspondente.
2- A conduta não é punível quando:
a) A imputação for feita para realizar interesses legítimos; e
b) O agente provar a verdade da mesma imputação ou tiver tido
fundamento sério para, em boa-fé, a reputar verdadeira.

3. O disposto no número anterior não se aplica tratando-se da imputação de


facto relativo à intimidade da vida privada ou familiar.

4. A boa-fé referida na alínea b) do número 2 exclui-se quando o agente não


tiver cumprido o dever de informação que as circunstâncias do caso impunham
sobre a verdade da imputação.

2.8.3. Injuria

De acordo com Araújo (2019), a injúria é um crime que procura tutelar a honra
subjectiva do ofendido. Onde a pessoa é imputado um facto ofensivo à sua dignidade.

A injúria considerado o tipo penal menos grave dos crimes contra a honra, ao
contrário da calúnia e da difamação, visa proteger a honra subjectiva que o agente tem
de si mesmo. Imputa-se, dessa forma, uma qualidade negativa, atributos pejorativos à
pessoa do agente, Nhuch (2015).

23
O sujeito activo e passivo desse crime também pode ser qualquer pessoa, não se
exigindo nenhuma qualidade especial. Outro aspecto desse crime se refere ao objecto da
ofensa. Pois na injúria não se trata de um facto, mas da emissão de um conceito
depreciativo sobre o ofendido (palhaço entre outros). A injúria não se exige que um
terceiro tome conhecimento da ofensa, Araújo (2019).

Os números 1 e 2 do artigo 234 do Código Penal de 2019 (lei n.˚ 24/2019 de 24


de Dezembro), refere que: "1. A injúria, se for cometido contra qualquer pessoa
publicamente, por gestos, de viva voz, ou por desenho ou escrito publicado, ou por
qualquer meio de publicação, é punido com pena de prisão até 6 meses e multa
correspondente".

"2. Na acusação por injúria não se admite prova sobre a verdade de factos que
integrem a reserva da intimidade da vida privada".

A injúria se diferencia da difamação e da calúnia no sentido em que na primeira


se atribui uma qualidade negativa a uma pessoa, na segunda se imputa um fato negativo
com a finalidade macular a reputação da vítima e, por fim, na terceira há a imputação
falsa de um fato definido como crime praticado por outrem.

2.8.Algumas disposições legais de Sansão aos crimes contra


honra

A legislação moçambicana estabelece também através do Código Penal


Moçambicano (lei n.˚ 24/2019 de 24 de Dezembro), algumas linhas legais de Sanção
aos crimes contra honra dos cidadãos moçambicanos.

Quanto à ofensa corporal com intenção de injuriar, os números 1 e 2 do artigo


236 do Código Penal (2019) (lei n.˚ 24/2019 de 24 de Dezembro), estabelecem que:

Se alguma ofensa corporal for publicamente cometida contra qualquer pessoa


com a intenção de a injuriar, será punida com a pena de difamação, cometida
com circunstâncias agravantes, salvo se à ofensa corresponder pena mais grave,
que neste caso será aplicada como se no crime concorressem também
circunstâncias agravantes.

O artigo 237 versando sobre a Ofensa à honra do Presidente da República e de


outras entidades dispõe que:

24
1- Quem injuriar ou difamar o Presidente da República ou aquele que
constitucionalmente o substitua nessa qualidade, é punido com pena de prisão de 1
a 2 anos.
2- Os crimes de que trata o número anterior quando cometidos contra os titulares dos
órgãos de soberania e membros de organismos de administração da justiça são
punidos com prisão até 2 anos.

Acerca da difamação ou injúria contra ascendentes, os números 1 e 2 artigo 238 do


Código Penal de 2019 dispõem que:

1- Os crimes declarados no presente capítulo, cometidos contra o pai ou mãe, ou


algum dos ascendentes, são sempre punidos com o máximo da pena.
2- Se os mesmos crimes forem acompanhados de outras circunstâncias
agravantes, observar-se-ão as regras gerais.

As pessoas já falecidas também tem seus direitos de personalidades protegidos pelo


Código Penal, onde os números 1 e 2 artigo 239 referem que:

1. O crime de difamação ou injúria, cometido contra uma pessoa já falecida, é


punido com pena de prisão até 6 meses e multa correspondente, se houver
participação do ascendente ou descendente, ou cônjuge, ou irmão ou herdeiro
desta pessoa.
2. A ofensa não é punível quando tiverem decorrido mais de cinquenta anos sobre
o falecimento.

Quanto a ofensa ao organismo, serviço ou pessoa colectiva o artigo 240 do Código


Penal (2019) estabelece que:

Quem, sem ter fundamento para, em boa-fé, os reputar verdadeiros, afirmar ou


propalar factos inverídicos, capazes de ofender a credibilidade, o prestígio, a
confiança ou o bom nome que sejam devidos a organismo ou serviço que
exerçam autoridade pública ou não, instituição ou corporação, pessoa colectiva,
sociedade ou ente equiparado, é punido com pena de prisão até 6 meses e multa
correspondente.

Os crimes contra honra são frequentemente cometidos pelos meios de


comunicação social no exercício da liberdade de imprensa. Como forma de
responsabilização dos agentes que extrapolam a liberdade de imprensa, o código penal
moçambicano estabeleceu os mecanismos de sanção nos artigos acima.

2.8.1. Responsabilidade civil e criminal

O artigo 41 da Lei de Imprensa (Lei n.˚ 18/91) estabelece que:

25
1. Na efectivação da responsabilidade por factos ou actos lesivos de
interesses ou valores protegidos legalmente, praticados através da
imprensa, nos termos do artigo 1 da presente lei, observar-se-ão os
princípios gerais.

2. A empresa jornalística é solidariamente responsável com o autor do


escrito, programa radiofónico ou televisivo ou imagens assinaladas,
se houver sido difundido no respectivo órgão de informação com o
conhecimento e sem oposição do director ou seu substituto legal.

3. A decisão do tribunal deve ser publicada ou difundida


gratuitamente no próprio órgão de informação, devendo dela constar
os factos provados, a entidade dos ofendidos e dos condenados, as
sanções aplicadas e as indemnizações arbitradas.

Por sua vez, Artigo 43 abordando sobre os níveis de responsabilidade estabelece que:

1. Nas publicações gráficas periódicas são responsáveis pelos crimes


de imprensa, sucessivamente: a) O autor do escrito ou imagem, se for
susceptível de responsabilidade, salvo nos casos de reprodução não
consentida, nos quais responderá quem as tiver promovido, e o
director do periódico ou seu substituto legal, como cúmplice, se não
provar que não conhecia o escrito ou imagens publicadas ou que não
lhe foi possível impedir a publicação. b) O director do periódico ou
seu substituto legal, no caso de escrito ou imagem não assinados ou
de o autor não ser susceptível de responsabilidade, se não se exonerar
da responsabilidade na forma prevista na alínea anterior; c) O
responsável pela inserção, no caso de escritos ou imagens não
assinados publicados sem conhecimento do director ou seu substituto
legal ou quando a estes não foi possível impedir a publicação.

O número 2 do mesmo artigo da Lei de Imprensa apregoa que:

Nas publicações gráficas unitárias, nos programas da rádio e


televisão, são responsáveis pelos crimes de imprensa,
sucessivamente: a) O autor do escrito, imagem ou programa
radiofónico ou televisivo, se for susceptível de responsabilidade e
residir em Moçambique, salvo nos casos de reprodução não
consentida, nos quais responderá quem a tiver promovido; b) O editor
ou realizador do programa, na impossibilidade de determinar quem é
o autor ou se este não for susceptível de responsabilidade

26
2.9.Breve descrição do Jornal Savana e canal de Moçambique

2.9.1. Jornal Savana


Savana é um semanário moçambicano de língua portuguesa, publicado pela
Mediacoop, uma cooperativa livre de jornalistas em Maputo. O jornal foi fundado em
1993 pelo jornalista Carlos Cardoso, que saiu da equipa do jornal em 1999 para fundar
um novo jornal, o Metical.2 O Savana é um dos jornais mais conhecidos a nível nacional
e chega a produzir até 12 000 exemplares por semana. No panorama mediático de
Moçambique, o Savana tem um papel crítico em relação ao governo nacional, o que
valeu ameaças a vários dos seus jornalistas. 3

O actual director do jornal é Fernando Lima, que recebeu o prémio CNN Multichoice
African Journalist Award de 2008 na categoria de “média em Português”, pelo seu
trabalho como jornalista.

2.9.2. Jornal Canal de Moçambique

A primeira versão impressa do jornal canal de Moçambique surgiu em 2006. Na


altura, o periódico, que tinha como Director Fernando Veloso e como Editor João
Chamusse, ambos ex-“Zambeze”.

Canal de Moçambique é um semanário moçambicano, disponível em formato


digital, distribuído sob o nome de "Canalmoz".O jornal foi fundado por Fernando
Veloso em 2006. As instalações estão baseadas na Avenida Samora Machel no centro
da cidade de Maputo. A circulação semanal do Canal de Moçambique é estimada em
3.000 cópias e é vendido principalmente na capital Maputo. O jornal sai nas quartas-
feiras. Para além da edição impressa semanal aparece diariamente sob o nome
"Canalmoz" na plataforma digital. (Nelson 2016)

Canal de Moçambique foi criado com objectivo de ser um jornal sobretudo de


denúncia, trazendo à baila temas fortes ligados à corrupção. Olhando para o jornal,
pode-se verificar que o seu editorial, é composto por Dois jornais, mas com a mesma
causa: canal de Moçambique e CanalMoz”, numa referência à edição electrónica diária
que já existe desde Janeiro de 2006.

2
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Savana_(Mo%C3%A7ambique)

3
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Savana_(Mo%C3%A7ambique)

27
III CAPITULO

3. Metodologia

Como procedimento para se atingir ou alcançar o objectivo deste trabalho de


pesquisa, vai recorrer-se à pesquisa mista, na medida em que vai se utilizar o método
qualitativo e quantitativo.

A pesquisa quantitativa será relevante na quantificação dos tipos de abuso de


liberdade de imprensa cometidos em cada órgão de comunicação. Essa quantificação
será efectuada através do método estatístico de soma.
Fonseca (2002), considera como sendo pesquisa quantitativa aquela em que os
resultados podem ser quantificados, por ser uma pesquisa que recorre a linguagem
matemática para descrever as causas de um fenómeno, relações entre variáveis, entre
outras aplicações.

Após obter-se dados sobre os abusos cometidos em cada órgão de comunicação,


usará se o método comparativo para comparar os resultados obtidos com vista a
identificar o jornal que mais cometeu os crimes de abuso de liberdade de imprensa nos
dois órgãos em estudo. Para Gil (2013), o método comparativo procede pela
investigação de indivíduos, classes, fenómenos ou fatos, com vistas a ressaltar as
diferenças e similaridades entre eles.

A pesquisa qualitativa nos possibilitará fazer a recolha de dados ligados aos


limites do exercício do direito da liberdade de imprensa e a identificar os respectivos
abusos de liberdade de imprensa cometidos pelo Jornal Savana e Canal de Moçambique.
Assim como, nos possibilitará recolher dados referentes às motivações dos jornalistas
na cobertura e elaboração dos conteúdos noticiosos. Este método é importante porque
através da revisão da literatura nos fornecerá dados complexos e uma explicação clara
dos fenómenos.

Para (Gerhardt & Silveira, 2009), a pesquisa qualitativa é aquela que não se
preocupa com representatividade numérica, mas, sim, com o aprofundamento da
compreensão de um grupo social, tema, ou de uma organização com vista a obter mais
informações.

A colecta ou recolha de dados no terreno vai se pautar pela observação e pela


entrevista. A observação a ser usada vai permitir fazer a descrição precisa dos

28
fenómenos. Marconi & Lakatos (2003), Consideram observação como sendo uma
técnica de colecta de dados para conseguir informações e utilizar os sentidos na
obtenção de determinados aspectos da realidade. E como forma de satisfazer a eventuais
questionamentos que surgirem na observação e adquirir informação aprofundada para a
pesquisa, vai se recorrer à entrevista.

Quanto a obtenção de dados referentes às motivações dos jornalistas na


cobertura e elaboração de conteúdos noticiosos ligados ao tema em estudo, também vai
se recorrer a técnica de entrevista, concretamente a entrevista aberta. Caputo (2010),
considera entrevista como sendo uma conversa estabelecida entre duas ou mais pessoas
onde perguntas são feitas pelo entrevistador de modo a obter informação necessária por
parte do entrevistado. Marconi & Lakatos (2003), especificam dizendo que a entrevista
aberta é aquela em que o entrevistador tem liberdade para desenvolver cada situação em
qualquer direcção que considere adequada.

A presente pesquisa enquadra-se no método de abordagem indutiva, pois, a


pesquisa vai se centrar na análise de casos particular para a posterior generalização dos
resultados obtidos particularmente. Cervo (1978), considera método indutivo como
sendo um raciocínio que, após considerar um número suficiente de casos particulares,
conclui uma verdade geral. Ou seja, é aquele que parte de análises singulares e
indutivamente chega às conclusões plurais.

Também vai se utilizar a pesquisa bibliográfica, na qual se obterá várias


vertentes de diversos teóricos que versam a respeito da ética jornalística e dos limites da
liberdade de imprensa na cobertura noticiosa dos meios de comunicação social. Gil
(2008), afirma que a pesquisa Bibliográfica é desenvolvida com base em material já
elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos.

Como forma de analisar ou identificar os abusos nos jornais em estudo, vai se


recorrer à técnica de Análise de conteúdos, que segundo Vergara (2005), constitui uma
técnica que trabalha os dados colectados, objectivando a identificação do que está sendo
dito a respeito de determinado tema. Bardin (2006), acrescenta ainda, referindo que a
análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações,
objectivando fazer a descrição do conteúdo das mensagens, com a intenção de fazer a
inferência de conhecimentos relativos às condições de produção ou recepção.

29
Essa técnica geralmente é aplicada a conteúdos escritos de uma comunicação.
Essa técnica vai se aplicar a artigos como notícias e reportagens por serem géneros que
exigem objectividade na sua elaboração.

Na presente pesquisa, para análise de conteúdos vai se recorrer à técnica de


amostragem onde a amostra será um conjunto de artigos seleccionados sobre os quais
será feita a análise da observação dos limites do exercício da liberdade de imprensa nos
órgãos em estudo. Em estatística, amostragem é o processo de obtenção de amostras,
que são uma pequena parte de uma população, Murray (2004).

A delimitação do período (Janeiro a Junho de 2020) na análise dos Jornais


Savana e Canal de Moçambique foi feita por acreditar-se, que este é um período
suficiente para se obter mais dados no que diz respeito a observação dos limites da
liberdade de imprensa no Jornal Savana e Canal de Moçambique. Nos jornais em
questão, o estudo vai se cingir na análise de notícias e reportagens pelo facto de estes
serem os géneros que mais pautam pela objectividade e pela imparcialidade no meio
jornalístico diferentemente de outros géneros como editoriais, artigos de opinião entre
outros. O Jornal Savana e o Canal de Moçambique são dois jornais semanários. Durante
o período de Janeiro a Junho de 2020 que é o período em análise na pesquisa, foram
publicados 24 jornais em cada órgão, o que totaliza 48 jornais analisados nesta pesquisa.
3.1. Categorias de análise
O sistema de categorias de análise serve para classificar e ordenar os
procedimentos de análise em grupos ou classes distintos que facilitam o alcance das
conclusões da pesquisa. Para Bardin (1977), A categorização consiste em classificar os
elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, posteriormente por
reagrupamento segundo o género (analogia, com os critérios previamente definidos).

Nesta sequência, importa destacar que para se obter mais dados acerca da
observância dos limites da liberdade de imprensa nos Jornais Savana e Canal de
Moçambique através da técnica de análise de conteúdo, e para posteriormente se
perceber os motivos que estão por detrás da observação dada pelos jornais em estudo,
foram estabelecidas as seguintes categorias de análise: calunia, difamação, injúria e
motivações.

30
3.1.1. Difamação
Nesta categoria serão identificadas e analisadas as publicações do Savana e
Canal de Moçambique que não observaram o respeito pela honra objectiva das pessoas,
imputando deste modo, factos ofensivos à honra e à reputação das pessoas diante da
sociedade. Nhuch (2015), abordando sobre a difamação, diz que esta é a imputação de
determinados fatos sejam falsos ou verdadeiros à outra pessoa com a finalidade de
macular sua honra objectiva.

3.1.2. Calunia
A calúnia será usada para identificar nos dois jornais em estudo as publicações
que ferem a honra ou desacredita o individuo na sociedade, através da imputação de
factos considerado como crime na legislação moçambicana. Pois, de acordo com Neto
(2018), a calúnia corresponde à acusação falsa que compromete a credibilidade do
indivíduo no seio social, contudo, tal acusação falsa deve dizer respeito a um fato
considerado delituoso.

3.1.3. Injuria
Nessa categoria serão apresentadas e analisadas todas as publicações do Savana
e Canal de Moçambique que não observaram o respeito pela dignidade dos cidadãos,
imputando deste modo, atributos e qualidades negativas aos sujeitos das suas
publicações. De acordo com Nhuch (2015), a injúria é a imputação de uma qualidade
negativa, atributos pejorativos à honra subjectiva da pessoa do agente.

3.1.4. Motivação
Nessa categoria, serão apresentadas as motivações que estão por detrás da
observação dos limites da liberdade de imprensa pelos meios de comunicação social
durante a produção e disseminação dos seus conteúdos noticiosos. Gonçalves (2017),
considera motivação, como sendo um impulso para se atingir um determinado fim. Pois
para o apuramento das motivações que influenciaram os dois Jornais em estudo, vai se
usar a técnica da entrevista aberta conforme avançando na metodologia. Essa categoria
foi elaborada como forma de perceber os aspectos/ motivos que ditam a forma de
redacção de notícias usadas no Savana e no Canal de Moçambique.

31
IV CAPITULO

4. Apresentação, análise e interpretação de dados

Nesse capítulo serão feitas as análises das peças dos dois Jornais em estudo para
se alcançar os objectivos propostos no trabalho e satisfazer a problemática. (Trujillo,
1974 apud Marconi e Lakatos 2003), considera a análise (ou explicação), como sendo
uma tentativa de evidenciar as relações existentes entre o fenómeno estudado e outros
factores.

No entanto, após a análise, vai se fazer a interpretação, com vista a expor o


verdadeiro significado da matéria em estudo. Para Marconi e Lakatos (2003):

Interpretação é a actividade intelectual que procura dar um significado mais amplo às


respostas, vinculando-as a outros conhecimentos. Em geral, a interpretação significa a
exposição do verdadeiro significado do material apresentado, em relação aos objectivos
propostos e ao tema.

Assim sendo, esse capítulo vai se basear essencialmente na análise e interpretação


das matérias dos Jornais Savana e Canal de Moçambique. Sendo que para o efeito de
análise e interpretação das peças noticiosas, vai se explorar as categorias de análise
traçadas na pesquisa, através da técnica de análise de conteúdo.

4.1. Análise e interpretação das matérias do Jornal Savana


4.1.2. Do ponto de vista da difamação
 Primeira análise

Na edição do dia 24 de Janeiro de 2020, o Jornal Savana publicou uma reportagem


com o título: "Nyusi anuncia Governo a conta-gotas"

Onde num dos parágrafos da reportagem o Jornal escreveu o seguinte: "…Filipe


Nyusi apercebeu-se de que tem em Carlos Agostinho do Rosário um mordomo
obediente, que sabe 'exercer' a falta de poderes relevantes,…" e no parágrafo seguinte o
jornal escreveu ainda o seguinte: "É essa consciência que fez com que Nyusi não se
importasse com a recolocação de Carlos Agostinho de Rosário no posto".

O Jornal ao escrever que a recolocação do Carlos Agostinho do Rosário no cargo de


primeiro-ministro deveu-se ao facto dele ser um mordomo obediente ao Presidente,
assim como pelo facto dele saber exercer a falta de poderes relevantes para o seu cargo,

32
estaria de certa forma, a ferir o número 6 do artigo 48 da Constituição da República (Lei
n.˚ 1/2018, de 12 de Junho), que apregoa que "o exercício dos direitos e liberdades
referidos neste artigo é regulado por lei com base nos imperativos do respeito pela
Constituição e pela dignidade da pessoa humana". Porque nessa publicação, o Jornal
imputou um facto que de algum modo pode macular socialmente a honra do Primeiro-
ministro. Por sua vez, Nucci (2014), diz que quando uma pessoa é desacreditada
publicamente, através da maculação à sua reputação, isso se configura em difamação.

O Jornal também não agiu de acordo com o estabelecido no número 2 do artigo 10


da Convenção Europeia dos Direitos do Homem (2013), que destaca que o exercício
destas liberdades, porquanto implica deveres e responsabilidades, para a protecção da
honra ou dos direitos de outrem. Uma vez que o jornal não protegeu a honra do ministro
ao dizer que ele é um mordomo fiel e sabe exercer a falta de poderes relevantes.

Esse trecho de publicação, que de igual modo denota a subjectividade do jornal,


também contraria a alínea b) do artigo 28 da Lei de Imprensa (lei nº 18/91 de 10 de
Agosto) que dispõe que o jornalista tem o dever de Ter como objectivo produzir uma
informação completa e objectiva. Sendo que a objectividade não foi observada nessa
publicação

Por sua vez, o número 2 do artigo 237 do Código Penal Moçambicano (lei n.˚
24/2019 de 24 de Dezembro) estabelece que os crimes de injúria e difamação quando
cometidos contra os titulares dos órgãos de soberania e membros de organismos de
administração da justiça são punidos com prisão até 2 anos.

 Segunda análise

Ainda na edição do dia 24 de Janeiro de 2020, na mesma reportagem com o título:


"Nyusi anuncia Governo a conta-gotas"

Jornal Savana escreveu num dos parágrafos da reportagem o seguinte: "…mas


algumas caras no governo nomeadamente Margarida Talapa, Carmelita Namashulua e
Verónica Macamo, sugere tratar-se de um governo de acomodação".

Os pronunciamentos do Jornal Savana que dizem que as individualidades como


Margarida Talapa, Carmelita Namashulua e Verónica Macamo sugerem tratar-se de um
governo de acomodação, que também pode ser entendida como um governo que não vai
trazer resultados devido a presença dessas individualidades, o Jornal estaria de certa

33
forma a ferir a alínea c) da Lei de Imprensa (lei nº 18/91 de 10 de Agosto) que
estabelece que os jornalistas devem "exercer a sua actividade profissional com rigor e
objectividade". O que não foi observado pelo Jornal quando opina dizendo que as caras
de Margarida, Carmelita e Verónica sugerem tratar-se de um governo de acomodação.

Assim como fere artigo 41 da Constituição da República que estabelece que todo
cidadão tem direito à honra e reputação, visto que nesse excerto subjectivo da
reportagem, as ministras em questão foram imputadas factos que podem macular a sua
honra subjectiva perante a sociedade. Nhuch (2015), considera que a imputação de um
facto verdadeiro ou falso que macula a honra subjectiva de alguém configura-se em
difamação.

O jornal também não agiu conforme a alínea a) do número 2 do artigo 19 do Pacto


Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos de 1966 que estabelece que os
Jornalistas devem "Assegurar o respeita pelos direitos e a reputação de outrem". Pois o
Jornal ao dizer que a governação destas ministras será de acomodação desaprecia a
reputação das mesmas perante a sociedade e gera um descrédito.

O número 1 do artigo 233 do Código Penal Moçambicano (lei n.˚ 24/2019 de 24


de Dezembro), versando sobre difamação, estabelece que:

Quem difamar outrem publicamente, de viva voz, por escrito ou desenho publicado ou
por qualquer outro meio de publicação, imputando-lhe um facto ofensivo da sua honra e
consideração, reencaminhando ou reproduzindo a imputação, é punido com pena de
prisão até 1 ano e multa correspondente.

 Terceira análise

Continuando com a edição do dia 24 de Janeiro de 2020, o Jornal Savana publicou


como manchete o seguinte: Antetítulo: "Nyusi anuncia 'seu' governo".

Titulo: "Decepção!" Onde abaixo do título foi colocada uma fotografia do presidente
Nyusi e os novos ministros.

Com esse título o Jornal deixa um parecer de que o governo de ministros


nomeados pelo Presidente da República de Moçambique é uma decepção. O que pode
de algum modo ofender a honra e a reputação dos ministros. Nucci (2014), diz que
quando uma pessoa é desacreditada publicamente, através da maculação à sua reputação
e honra, isso se configura em difamação.

34
Assim sendo, o Jornal feriu de certa forma com essa publicação, o artigo 41 da
Constituição da República de Moçambique (Lei n.˚1/2018, de 12 de Junho) que
estabelece que todo cidadão tem direito à honra e à reputação.

O título "decepção" se referindo ao governo anunciado pelo Nyusi, que segundo


a fotografia abaixo do título são os ministros, fere também as alíneas a) e c) da Lei de
Imprensa (Lei nº 18/91 de 10 de Agosto) que estabelece que os jornalistas têm o dever
de "a) Respeitar os direitos e liberdades dos cidadãos" e "c) Exercer a sua actividade
profissional com rigor e objectividade".

Por sua vez, o número 2 do artigo 237 do Código Penal Moçambicano (lei n.˚
24/2019 de 24 de Dezembro) estabelece que os crimes de injúria e difamação quando
cometidos contra os titulares dos órgãos de soberania e membros de organismos de
administração da justiça são punidos com prisão até 2 anos.

 Quarta análise

Na edição do dia 17 de Abril de 2020, o Jornal Savana publicou a seguinte


reportagem: Antetítulo: "Os 'profetas' e 'médicos tradicionais' em tempos da Covid-19".

Título: "Cadê vocês e os vossos milagres!"

Onde após ter colocado no centro da reportagem a fotografia do cenáculo maior da


UIRD, no primeiro parágrafo rescreveu o seguinte: "Quando o mundo segue o seu curso
normal, eles se alvoram os solucionadores de todos os problemas. Prometem milagres e
cura até para doenças incuráveis". Tendo finalizado o parágrafo dizendo que "esses são
os nossos 'profetas' e 'médicos tradicionais', não os verdadeiros mais os mafiosos que
tem no desespero dos outros a sua fonte de sobrevivência".

O jornal avançou ainda nos parágrafos seguinte que "Para além da UIRD e da
igreja mundial de poder de Deus algumas das mais populares que também apregoam
'milagres de salvação' incluem igreja ministerial nações para Cristo,.."

O jornal ao considerar os pregadores da UIRD, da Igreja Mundial, médicos


traccionais, profetas entre outras como não verdadeiros e mafiosos que têm no
desespero dos outros a sua fonte de sobrevivência, fere de certa forma o artigo 41 da
CRM (Lei n.˚1/2018, de 12 de Junho) que estabelece que todo cidadão tem direito à
honra e à reputação. Pois, essa imputação pode ferir a honra e a reputação dos mesmos,
assim como desacreditar as suas acções socialmente. Nhuch (2015), diz que quando
35
determinados fatos sejam falsos ou verdadeiros são imputados à outra pessoa com a
finalidade de macular sua honra objectiva e reputação isso configura-se em difamação.

Com essa publicação, o jornal também fere a alínea c) do artigo 28 da Lei de


Imprensa (lei nº 18/91 de 10 de Agosto) que estabelece como um dos deveres dos
jornalistas "Exercer a sua actividade profissional com rigor e objectividade".

O número 1 do artigo 233 do Código Penal Moçambicano (Lei n.˚ 24/2019 de 24 de


Dezembro) estabelece que:

Quem difamar outrem publicamente, de viva voz, por escrito ou desenho


publicado ou por qualquer outro meio de publicação, imputando-lhe um facto
ofensivo da sua honra e consideração, reencaminhando ou reproduzindo a
imputação, é punido com pena de prisão até 1 ano e multa correspondente.

Mas importa referir que quanto a palavra "mafiosos" que o Jornal escreveu
referindo a esse grupo de igrejas, profetas e médicos tradicionais, pode de algum modo
ser visto como uma qualidade negativa e pejorativo para os mesmos. Sendo que Nhuch
(2015), diz que a imputação de uma qualidade negativa e ou atributo pejorativo que
ofende a honra subjectiva de alguém configura-se em injuria.

De acordo com o número 1 do artigo 234 do Código Penal Moçambicano (lei n.˚
24/2019 de 24 de Dezembro), "a injúria, se for cometido contra qualquer pessoa
publicamente, por gestos, de viva voz, ou por desenho ou escrito publicado, ou por
qualquer meio de publicação, é punido com pena de prisão até 6 meses e multa
correspondente".

 Quinta análise

Na edição do dia 15 de Maio de 2020, o Jornal Savana publicou como manchete o


seguinte: Antetítulo: "Julgamento do homicídio de Anastácio Matavel em Xai-xai".

Titulo: "Grande farsa".

Debaixo do título foi colocada uma fotografia dos supostos assassinos de


Matavel sendo levados pela polícia ao tribunal onde seriam julgados pela juíza Ana
Liquidão.

Com o título, o jornal transmite claramente o parecer de que o julgamento do


homicídio de Anastácio Matavel em Xai-xai pela juíza Ana Liquidão é uma grande

36
farsa, induzindo o leitor a pensar que este não é um julgamento justo que tem como
objectivo promover a justiça à família de Matavel. E assim sendo, o Jornal estaria em
primeira instancia a contrariar de alguma forma o artigo 41 da Constituição da
República de Moçambique (Lei n.˚1/2018, de 12 de Junho), que estabelece que todo
cidadão tem direito à honra e à reputação. Pois, de algum modo o jornal desacreditou o
julgamento do homicídio de anastácio Matavel conduzido juíza Ana Liquidão, o que
possivelmente pode macular a sua reputação. Nucci (2014) diz que quando uma pessoa
é desacreditada publicamente, através da maculação à sua reputação, isso se configura
em difamação.

Ao considerar o julgamento uma farsa, o Jornal também fere as alíneas c) e f) da


Lei de Imprensa (lei nº 18/91 de 10 de Agosto) que estabelecem que os jornalistas
devem: c) "Exercer a sua actividade profissional com rigor e objectividade" e a alínea f)
que dispõe que o jornalista deve repudiar a difamação. Pois, neste título o jornal foi
muito subjectivo e deixou suas impressões pessoais.

Por sua vez, o número 2 do artigo 237 do Código Penal Moçambicano (Lei n.˚
24/2019 de 24 de Dezembro) estabelece que os crimes de injúria e difamação quando
cometidos contra os titulares dos órgãos de soberania e membros de organismos de
administração da justiça são punidos com prisão até 2 anos.

 Sexta análise

Na edição de 5 de Junho de 2020, o Jornal Savana publicou uma reportagem com o


seguinte título: " 'As minhas desculpas a família Machava' " E após o título, o Jornal
Savana escreveu o seguinte: "Lamento patético do professor Ricardo em genuflexão ao
chefe".

Essa publicação de certa forma choca o número 6 do artigo 48 da Constituição da


República de Moçambique (Lei n.˚1/2018, de 12 de Junho) que estabelece que "o
exercício dos direitos e liberdades referidos neste artigo é regulado por lei com base nos
imperativos do respeito pela Constituição e pela dignidade da pessoa humana". Visto
que o jornal não respeitou a dignidade do professor Ricardo ao dizer que as desculpas/
lamento dele eram patéticas em genuflexão ao chefe. E estes pronunciamentos também
podem macular de certa forma a sua honra e reputação perante a sociedade. Nucci
(2014), diz que quando uma pessoa é desacreditada publicamente, através da maculação
à sua reputação, isso se configura em difamação.

37
O Jornal também feriu a alínea c) da Lei de Imprensa (Lei nº 18/91 de 10 de
Agosto) que lista como um dos deveres dos jornalistas "Exercer a sua actividade
profissional com rigor e objectividade". Pois, a opinião do Jornal (lamento patético)
perante as desculpas do professor, denunciam uma subjectividade do Jornal.

Como forma de sanção, o número 1 do artigo 233 do Código Penal Moçambicano


(Lei n.˚ 24/2019 de 24 de Dezembro) estabelece que:

Quem difamar outrem publicamente, de viva voz, por escrito ou desenho


publicado ou por qualquer outro meio de publicação, imputando-lhe um facto
ofensivo da sua honra e consideração, reencaminhando ou reproduzindo a
imputação, é punido com pena de prisão até 1 ano e multa correspondente.

4.1.3. Do ponto de vista da injúria


 Primeira análise

Na edição do dia 5 de Junho de 2020, o Jornal Savana publicou a seguinte


reportagem: Antetítulo: "Ataques Cabo Delgado"

Titulo: "Uns 'acossados' a passear a classe"

Onde num dos parágrafos da reportagem o jornal escreveu o seguinte: "…pelo


meio, é o mafioso sindicado de transportadores que vai inflacionar os preços,…"

O Jornal ao referir o sindicado de transportadores de mafiosos estaria a agir fora


dos parâmetros do número 1 do artigo 38 da Constituição da República (Lei n.˚1/2018,
de 12 de Junho), que estabelece que "todos os cidadãos tem o dever de respeitar a ordem
constitucional", visto que nesse ponto o Savana não respeitou o artigo 41 do mesmo
instrumento legal ao estabelecer que todo cidadão tem direito à honra ao bom nome e à
reputação. Pois, a designação "mafioso", fere o direito ao bom nome podendo até
ofender a dignidade do sindicato de transportadores. Araújo (2019), diz que a imputação
de um facto ofensivo à dignidade subjectiva de alguém configura-se em injúria.

Nessa publicação o Savana também feriu a alínea f) do artigo 28 da Lei de


Imprensa (Lei nº 18/91 de 10 de Agosto) que considera como um dos deveres dos
jornalistas repudiar a injúria.

De acordo com o número 1 do artigo 234 do Código Penal Moçambicano (Lei


n.˚ 24/2019 de 24 de Dezembro), "a injúria, se for cometido contra qualquer pessoa
publicamente, por gestos, de viva voz, ou por desenho ou escrito publicado, ou por

38
qualquer meio de publicação, é punido com pena de prisão até 6 meses e multa
correspondente".

4.2. Análise e interpretação das matérias do Canal de Moçambique


4.2.1. Do ponto de vista da calúnia
 Primeira análise

Na edição do dia 8 de Janeiro de 2020, o Canal de Moçambique publicou uma


notícia com o título: "Matias Guente, os esquadrões da morte e a garantia da
impunidade do estado". Na qual num dos parágrafos da notícia, retratando sobre a visita
do comandante geral da PRM ao jornalista Matias Guente na clinica onde estava
hospitalizado, o jornal escreveu o seguinte:

"Bernardino Rafael, que se fazia acompanhar de outros dirigentes da polícia, disse


que a corporação está a trabalhar para esclarecer o caso e acrescentou que não tem
dúvidas de que se trata de 'aproveitadores'." E numa das frases do parágrafo seguinte o
jornal escreveu o seguinte: "É que é difícil esclarecer crimes que são praticados pela
própria polícia".

Estes trechos remetem ao leitor o facto de que será complicado a polícia esclarecer o
caso de agressão de Matias Guente porque a própria polícia está envolvida nesses casos.
E não tendo se provado que a polícia está envolvida na agressão do Matias Guente, a
qual o comandante da PRM se referia quando disse que estava a trabalhar para resolver
o caso, essa acusação do Jornal, fere de algum modo a alínea f) do artigo 28 da Lei de
Imprensa (Lei nº 18/91 de 10 de Agosto) que estabelece como um dos deveres dos
jornalistas, repudiar a calúnia a e acusação sem provas, conforme avançado pelo Jornal.

O Jornal também feriu de igual modo o número 6 do artigo 48 da CRM (Lei


n.˚1/2018 de 12 de Junho) que estabelece que o exercício dos direitos e liberdades
referidos neste artigo é regulado por lei com base nos imperativos do respeito pela
dignidade humana. Pois, o Jornal ao escrever que é difícil esclarecer crimes que são
praticados pela própria polícia, depois do Bernardino Rafael ter dito que estava a
trabalhar para esclarecer o caso de agressão de Matias Guente, estaria de algum modo a
comprometer a dignidade e credibilidade da PRM perante a sociedade. E Neto (2018),
diz que a imputação ou acusação falsa que compromete a credibilidade do indivíduo no
seio social é considerado como calunia.

39
Como sanção o número 1 do artigo 402 do Código Penal Moçambicano (lei n.˚
24/2019 de 24 de Dezembro), estabelece que quem, por qualquer meio, perante
autoridade ou publicamente, com a consciência da falsidade da imputação, denunciar ou
lançar sobre determinada pessoa a suspeita da prática de crime, este por sua vez, é
punido com pena de prisão de 2 a 8 anos e multa até 1 ano.

 Segunda análise

Na edição do dia 29 de Janeiro de 2020, o Jornal Canal de Moçambique publicou


uma peça com o seguinte título: "Governadores provinciais eleitos prestaram
juramento errado no dia em que a presidência errou duas vezes"

Onde num dos parágrafos o Jornal escreveu o seguinte: "A Renamo acreditava que
ia ganhar nas províncias de sua influência… Mas isso não aconteceu, devido à fraude
refinada e à desorganização da própria Renamo."

Quando o Jornal lista que um dos motivos que contou para a derrota da Renamo, foi
a frade refinada, leva ao reitor a pensar que o vitorioso foi quem cometeu a dita frade.
Denegrido deste modo a reputação do vitorioso (a Frelimo) ao imputar-lhe um facto
ofensivo e delituoso. Neto (2018), diz que a imputação de um facto considerado
delituoso que compromete a credibilidade do individuo perante a sociedade é
considerada como calúnia.

Nessa publicação o Jornal não agiu de acordo com as alíneas c) e d) artigo 28 da Lei
de Imprensa (Lei nº 18/91 de 10 de Agosto) que listam como alguns dos deveres dos
jornalistas, "c) Exercer a sua actividade profissional com rigor e objectividade" e d)
Repudiar a acusação sem provas.

De igual modo o jornal feriu o número 6 do artigo 48 da Constituição da República


de Moçambique (Lei n.˚ 1/2018, de 12 de Junho) que dispõe que o exercício dos direitos
e liberdades referidos no mesmo artigo é regulado por lei com base nos imperativos do
respeito pela dignidade da pessoa humana.

O número 1 do artigo 402 do Código Penal (lei n.˚ 24/2019 de 24 de Dezembro),


estabelece que quem, por qualquer meio, perante autoridade ou publicamente, com a
consciência de falsidade da imputação, denunciar ou lançar sobre determinada pessoa a
suspeita da prática de crime, este por sua vez, é punido com pena de prisão de 2 a 8 anos
e multa até 1 ano.

40
 Terceira análise

Na edição do dia 19 de Fevereiro de 2020, o Jornal Canal de Moçambique publicou


a seguinte reportagem: Titulo: "…só não quiseram usar a palavra fraude eleitoral".

Subtítulo: "Presidente da República usou meios do Estado para sua reeleição".

O Jornal Canal de Moçambique, ao escrever que o "Presidente da República


usou meios do Estado para sua reeleição". Estaria em primeira instância a não agir de
acordo com a alínea f) do artigo 28 da Lei de Imprensa (Lei nº 18/91 de 10 de Agosto)
que considera como um dos deveres dos jornalistas repudiar a calúnia e a acusação sem
provas. Pois, o Jornal acusou o Presidente de usar meios de Estado para a sua reeleição
sem no entanto mostrar as provas da utilização dos meios de Estado para a sua
reeleição.

O Jornal feriu de igual modo a alínea b) do mesmo dispositivo legal, no que diz
respeito ao aspecto de "Ter como objectivo produzir uma informação completa e
objectiva".

O Canal imputou ao Presidente sem mostrar provas, um facto considerado


delituoso, e de acordo com Neto (2018), a imputação de um facto considerado delituoso
que compromete a credibilidade do individuo perante a sociedade é considerado como
calúnia.

Como sanção o número 1 do artigo 402 do Código Penal (Lei n.˚ 24/2019 de 24
de Dezembro), estabelece que quem, por qualquer meio, perante autoridade ou
publicamente, com a consciência da falsidade da imputação, denunciar ou lançar sobre
determinada pessoa a suspeita da prática de crime, este por sua vez, é punido com pena
de prisão de 2 a 8 anos e multa até 1 ano.

4.2.2. Do ponto de vista da difamação


 Primeira análise

Na edição do dia 8 de Janeiro de 2020, o Jornal Canal de Moçambique publicou


uma notícia com o título: "Matias Guente, os esquadrões da morte e a garantia da
impunidade do estado".

Na qual num dos parágrafos da notícia, retratando sobre a visita do comandante


geral da PRM ao jornalista Matias Guente na clinica onde estava hospitalizado, o jornal

41
escreveu o seguinte: "Bernardino Rafael, que se fazia acompanhar de outros dirigentes
da polícia, disse que a corporação está a trabalhar para esclarecer o caso e
acrescentou que não tem dúvidas de que se trata de 'aproveitadores'."

O jornal avançou ainda escrevendo que "O discurso da polícia segundo o qual está
a investigar é antigo. Não se conhece nenhum caso que a polícia tem esclarecido."

Sendo que no dia 20 de Dezembro de 2014, a Voa Português publicou na sua página
electrónica, uma notícia na qual dizia o seguinte: "a polícia moçambicana libertou o
empresário Mohamed Bashir Sulemane, … numa operação desencadeada… no distrito
de Bilene na província meridional de Gaza. Na ocasião foram detidos alguns
envolvidos no crime…"4

No entanto, este facto contraria a publicação do Jornal Canal de Moçambique


quando diz que "não se conhece nenhum caso que a polícia tem esclarecido". E essa
publicação, mostra que o Jornal não agiu de acordo com a alínea f) do artigo 28 da Lei
de Imprensa (Lei nº 18/91 de 10 de Agosto) que considera como um dos deveres dos
jornalistas "Repudiar … a difamação, a mentira, a acusação sem provas,…" pois, nessa
publicação o Jornal fez uma afirmação não verdadeira em relação à PRM.

E essa afirmação de algum modo pode descredibilizar o corpo da polícia da


república de Moçambique (PRM) perante a sociedade, ofendendo a sua reputação ao
transmitir um parecer falso de que eles não esclarecem nenhum caso e nunca
esclareceram. Nucci (2014), diz que desacreditar publicamente a uma determinada
pessoa, maculando-lhe a reputação constitui difamação.

Com essa publicação o Canal também fere o artigo 41 da CRM (Lei n.˚1/2018,
de 12 de Junho), que estabelece que todo cidadão tem direito à honra, ao bom nome e à
reputação. Sendo que o Jornal não observou a reputação da PRM.

O número 2 do artigo 237 do Código Penal Moçambicano (Lei n.˚ 24/2019 de


24 de Dezembro), estabelece que os crimes de injúria e difamação quando são
cometidos contra os titulares dos órgãos de soberania e membros de organismos de
administração da justiça são punidos com prisão até 2 anos.

 Segunda análise

4
https://www.google.com/amp/s/www.voaportugues.com/amp/bachir-suleman-libertado/256451.html

42
Na edição do dia 22 de Janeiro de 2020, o Jornal Canal de Moçambique publicou
uma reportagem com o seguinte título: "Presidente do Conselho Constitucional deixou
o gabinete para ir aplaudir Filipe Nyusi a jogar golfe".

Onde na entrada da reportagem o Jornal escreveu o seguinte: "vinte e quatro horas


antes, Lúcia Ribeiro deu posse a Nyusi como Presidente da República depois de o
declarar vencedor numas eleições com enchimento de urnas. No dia seguinte, foram
juntos jogar golfe, e a presidente do Conselho Constitucional 'gostou muito'."

Em conforto com a lei, verifica-se que a publicação do Jornal Canal entra em


choque com as alíneas b) e e) do artigo 28 da Lei de Imprensa (Lei nº 18/91 de 10 de
Agosto) que lista como alguns dos deveres dos Jornalista "b) Ter como objectivo
produzir uma informação completa e objectiva" e "e) Abster-se de fazer apologia directa
ou indirecta do adio…", pois o Jornal demostra claramente que está a defender uma
dada posição, ao escrever que Nyusi foi em empossado como presidente por meio de
enchimento de urnas. Facto que possivelmente desperte no leitor a ideia de que houve
um enchimento de urnas por um dado individuo para a vitória da Frelimo e não no
entanto por meio da votação.

Quanto a alínea b), que estabelece que o jornalista deve ter como objectivo produzir
uma informação objectiva, o Jornal feriu este dever, justamente por ter produzido uma
informação cuja compreensão e interpretação é subjectiva.

A entrada dessa reportagem, também entra em choque com o número 6 do artigo 48


da Constituição da República de Moçambique (Lei n.˚ 1/2018, de 12 de Junho) que
estabelece que o exercício dos direitos e liberdades referidos no mesmo artigo é
regulado por lei com base nos imperativos do respeito pela dignidade da pessoa
humana. Pois com essa entrada, o Jornal terá publicado um facto que possivelmente
macule a honra e a reputação do presidente, justamente por afirmar que a sua vitória foi
por meio de enchimento das urnas. Nhuch (2015), diz que quando fatos determinados
sejam falsos ou verdadeiros são imputados à outra pessoa com a finalidade de macular
sua honra objectiva, ou seja, sua reputação, é considerado como difamação.

O número 2 do artigo 237 do Código Penal Moçambicano (Lei n.˚ 24/2019 de


24 de Dezembro), estabelece que os crimes de injúria e difamação quando são
cometidos contra os titulares dos órgãos de soberania e membros de organismos de
administração da justiça são punidos com prisão até 2 anos.

43
 Terceira análise

Na edição do dia 22 de Janeiro de 2020, o Jornal Canal de Moçambique publicou


uma reportagem com o seguinte título: "Nyusi apela aos novos ministros para lutarem
contra a corrupção"

Onde num dos parágrafos da reportagem (não entrevista), o jornal escrever o


seguinte: "Filipe Nyusi que também é conhecido como 'New Man' no suborno dos
subornos, foi referido como tendo recebido dois milhões de dólares das dívidas
ocultas." E avançou ainda escrevendo que "… O Governo de um partido corrupto
dirigido por um presidente que é mencionado como tendo recebido subornos, pode
combater a corrupção?"

Mas cerca de três meses depois, concretamente na edição do dia 22 de Maio de


2020, o Jornal Savana numa reportagem com o titulo: "Quem é New Man?" O Jornal
escrever no decorrer da reportagem o seguinte: "Nessa lista, surge uma figura nova que
o FBI diz não ter conseguido identificar quem é mas tratado pelas alcunhas como Nuy,
New Guy, Nys ou New Man. A referida figura terá recebido dois milhões de dólares,
mas o FBI conseguiu apenas rastrear um milhão de dólares." O que nos leva a uma
reflexão sobre as declarações feitas sem evidências pelo jornal Canal.

O Jornal Canal de Moçambique mostra claramente na sua publicação, a posição que


está a defender, e mostra que tem a intenção de desacreditar o presidente da república
perante a sociedade ao indagar de forma clara se um presidente de um partido corrupto,
a qual é mencionado nas dívidas pode combater a corrupção? Quando o Jornal se outo
questiona numa reportagem (não entrevista) se o presidente pode combater a corrupção,
levanta o sentimento de incapacidade por parte do mesmo.

Nhuch (2015), diz que quando determinados fatos sejam falsos ou verdadeiros são
imputados à outra pessoa com a finalidade de macular sua honra objectiva,
descredibilizando o mesmo publicamente, isso é considerado como difamação.

Com esse tipo de indagação, o Jornal fere em primeira instância as alíneas e) e f) do


artigo 28 da Lei de Imprensa (Lei nº 18/91 de 10 de Agosto) que lista como alguns dos
deveres dos Jornalistas "e) Abster-se de fazer apologia directa ou indirecta …" e f) que
refere que o jornalista deve de igual modo repudiar a difamação assim como acusações
sem provas.

44
Ao auto indagar-se sobre as capacidades do presidente em combater a corrupção,
após um discurso que alia o mesmo às dívidas ocultas, o Canal estaria a atacar a
reputação do presidente. O que fere o artigo 41 da CRM (Lei n.˚ 1/2018, de 12 de
Junho) que estabelece que todo cidadão tem direito à honra e à reputação.

Por sua vez, o número 2 do artigo 237 do Código Penal Moçambicano (Lei n.˚
24/2019 de 24 de Dezembro) estabelece que os crimes de injúria e difamação quando
são cometidos contra os titulares dos órgãos de soberania e membros de organismos de
administração da justiça são punidos com prisão até 2 anos.

 Quarta análise

Na edição do dia 29 de Janeiro de 2020, o Jornal Canal de Moçambique publicou o


seguinte: Titulo: "Aprova da garantia de impunidade"

Subtítulo: "Polícia criou comissão do inquérito mas resultados estão na gaveta"

Onde no decorrer da peça escreveu o seguinte: "Para confundir a opinião


pública e mostrar que estava a trabalhar para esclarecer o caso, no dia 8 de Outubro
de 2019, o comandante-geral da polícia, Bernardino Rafael, ordenou a criação de uma
comissão de inquérito para investigar as causas do assassinato de Anastácio
Matavele."

Com essa publicação jornal estaria de algum modo a desacreditar o comandante


Bernardino Rafael perante a sociedade quando o mesmo afirma na sua publicação que a
criação da comissão de inquérito para investigar as causas do assassino de Anastácio
Matavele pelo Bernardino era para confundir a opinião pública e mostrar que estava a
trabalhar para esclarecer o caso.

Segundo Nhuch (2015), quando fatos determinados sejam falsos ou verdadeiros


são imputados à outra pessoa com a finalidade de macular sua honra objectiva,
descredibilizando o mesmo publicamente, isso é considerado como difamação.

Nessa publicação o Jornal não agiu de acordo com a alínea c) do artigo 28 da Lei
de Imprensa (Lei nº 18/91 de 10 de Agosto) que consideram como um dos deveres dos
jornalistas, "Exercer a sua actividade profissional com rigor e objectividade". Pois para
a produção dessa informação o Jornalista não usou o princípio da objectividade e
produziu a notícia colocando o seu parecer que desaprecia acção do comandante geral
de criar a comissão de inquérito.
45
O Canal de Moçambique também feriu o artigo 41 da CRM (Lei n.˚ 1/2018, de
12 de Junho) que dentre outros elementos, estabelece que todo cidadão tem direito à
honra e à reputação.

Em forma de sanção o número 2 do artigo 237 do Código Penal de 2019 (Lei n.˚
24/2019 de 24 de Dezembro) estabelece que os crimes de injúria e difamação quando
são cometidos contra os titulares dos órgãos de soberania e membros de organismos de
administração da justiça são punidos com prisão até 2 anos.

 Quinta análise

Na edição do dia 5 de Fevereiro de 2020, o Jornal Canal de Moçambique publicou


como manchete o seguinte: Antetítulo: "O veneno que era para os governadores da
Renamo"

Titulo: "Os secretários da vergonha"

Sendo que debaixo do título o jornal colocou uma fotografia do Presidente da


República junto com os novos secretários, onde escreveu como legenda: "Afonso
Dlhakama tinha aceitado a proposta de secretário de Estado de província num cenário
em que o governado continuaria a mandar. Com a morte de Dlhakama e com a Frelimo
ciente de que ia perder as eleições, armadilhou toda a legislação para anular os
governadores que seriam da Renamo. Os governadores são agora vasos decorativos
nas províncias. E o veneno que era para a Renamo. Está a ser servido dentro da
própria Frelimo".

A designação "secretários da vergonha" referida aos secretários das províncias


conforme denuncia a imagem dos secretários colocada na manchete abaixo do título,
fere de certa forma o artigo 41 da constituição da república que estabelece que todo
cidadão tem direito à honra e à reputação.

Com essa designação o Jornal também não agiu de acordo com a alínea b) artigo
28 da Lei de Imprensa (Lei nº 18/91 de 10 de Agosto) que lista como um dos deveres
dos jornalista "Ter como objectivo produzir uma informação completa e objectiva".
Visto que nessa publicação o jornal não produziu um título completo e objectivo que
hipoteticamente seria secretários das províncias e não "secretários da vergonha" como
foi avançado pelo Jornal.

46
O Canal de Moçambique ao escrever que "os governadores são agora vasos
decorativos nas províncias", estaria de algum modo a ferir a alínea c) do mesmo
dispositivo referenciado acima que estabelece como um dos deveres dos jornalistas
"Exercer a sua actividade profissional com rigor e objectividade". Pois esse excerto não
é objectivo e traz consigo comparações que nos remetem a subjectividade do jornal.

Quando o Jornal escreve: "…a Frelimo… armadilhou toda a legislação para


anular os governadores que seria da Renamo". Estaria de certa forma a macular a
reputação da Frelimo perante a sociedade. Para Nhuch (2015), a imputação de
determinados fatos sejam eles falsos ou verdadeiros com a intenção de macular à honra
objectiva de alguém configura se em difamação

Em suma, na manchete o Jornal desonra a reputação dos secretários das


províncias quando coloca sobre a fotografia deles o titula "secretários da vergonha". E
também desonra a reputação dos governadores quando escreve que "os governadores
são agora vasos decorativos nas províncias".

Em jeito de sanção, o número 1 do artigo 233 do Código Penal Moçambicano


(lei n.˚ 24/2019 de 24 de Dezembro), estabelece que:

Quem difamar outrem publicamente, de viva voz, por escrito ou


desenho publicado ou por qualquer outro meio de publicação,
imputando-lhe um facto ofensivo da sua honra e consideração,
reencaminhando ou reproduzindo a imputação, é punido com pena de
prisão até 1 ano e multa correspondente.

Mas ainda de acordo com o número 2 do artigo 237 do mesmo dispositivo legal
citado acima, os crimes de difamação quando são cometidos contra os titulares dos
órgãos de soberania e membros de organismos de administração da justiça são punidos
com prisão até 2 anos.

 Sexta análise

Ainda na edição do dia 5 de Fevereiro de 2020, o Jornal Canal de Moçambique


publicou uma reportagem com o seguinte título: "Secretário de Estado: um veneno que
era para sabotar os governadores da Renamo"

Em confronto com a lei, verifica-se que o título do Jornal em questão, não observou
o estabelecido no número 6 do artigo 48 da Constituição da República Moçambique

47
(Lei n.˚ 1/2018, de 12 de Junho) que estabelece que o exercício dos direitos e liberdades
referidos no mesmo artigo é regulado por lei com base nos imperativos do respeito pela
Constituição e pela dignidade da pessoa humana. Pois, nessa publicação, o Jornal não
teve em consideração a honra e a reputação dos secretários provinciais ao considerar os
mesmos como veneno para sabotar os governadores da Renamo. Esse facto de que o
secretário é um veneno para sabotar os governadores pode de algum modo desacreditar
a sua reputação perante a sociedade. Nucci (2014), diz que quando uma pessoa é
desacreditada publicamente, através da maculação à sua reputação, isso se configura em
difamação.

Assim como não agiu conforme a alínea e) do artigo 28 da Lei de Imprensa (Lei nº
18/91 de 10 de Agosto) que lista como um dos deveres dos jornalista abster-se de fazer
apologia directa ou indirecta do adio. Pois com o título, o jornal defende uma posição
que considera o secretário como um veneno sabotador para o governador.

O número 1 do artigo 233 do Código Penal de Moçambique (Lei n.˚ 24/2019 de 24 de


Dezembro), estabelece que:

Quem difamar outrem publicamente, de viva voz, por escrito ou desenho


publicado ou por qualquer outro meio de publicação, imputando-lhe um facto
ofensivo da sua honra e consideração, reencaminhando ou reproduzindo a
imputação, é punido com pena de prisão até 1 ano e multa correspondente.

 Sétima análise

Na edição do dia 04 de Março de 2020, o Jornal Canal de Moçambique publicou a


seguinte reportagem: título: "Não há estudo de viabilidade e João Pó assinou sozinho
contrato com a 'HI FLY'"

Onde num dos parágrafos o jornal escreveu o seguinte: "Tudo indica que a
operação é uma cena de mafia". Se referindo ao relançamento do voo Maputo Lisboa
pelo director geral da LAM, João Pó. Este excerto do Jornal choca a alínea e) do artigo
28 da Lei de Imprensa (Lei nº 18/91 de 10 de Agosto) que lista como um dos deveres
dos jornalista "Abster-se de fazer apologia directa ou indirecta …" visto que o jornal
defendeu directamente que a operação de João Pó é uma mafia.

Essa publicação também feriu a alínea f) do mesmo instrumento legal que estabelece
que os jornalistas também têm o dever de repudiar a acusação sem provas, visto que no

48
excerto, o Canal disse que a operação relançada de João Pó era uma mafia sem trazer
em concreto as devidas provas.

Esta publicação do Canal de Moçambique, de certa forma pode contribuir de forma


significativa para a desacreditação do director geral da LAM perante a sociedade. E
Nucci (2014), diz que desacreditar publicamente uma pessoa, maculando-lhe a
reputação constitui difamação.

Em forma de sanção o número 1 do artigo 233 do Código Penal Moçambicano (lei


n.˚ 24/2019 de 24 de Dezembro), estabelece que:

Quem difamar outrem publicamente, de viva voz, por escrito ou desenho publicado ou
por qualquer outro meio de publicação, imputando-lhe um facto ofensivo da sua honra
e consideração, reencaminhando ou reproduzindo a imputação, é punido com pena de
prisão até 1 ano e multa correspondente.

4.2.3. Do ponto de vista injúria


 Primeira análise

Na edição do dia 22 de Janeiro de 2020, o Jornal Canal de Moçambique publicou


uma reportagem com o seguinte título: "Presidente do Conselho Constitucional deixou
o gabinete para ir aplaudir Filipe Nyusi a jogar golfe".

Onde num dos parágrafos o Jornal escreveu o seguinte: "Mas a imagem de uma
presidente de um Conselho Constitucional a aplaudir o Presidente de um partido a
jogar golfe não só revela bem a imoralidade que grossa nos órgãos de soberania…"

Em confronto com a lei, verifica-se que o Jornal ao escrever que os aplausos da


presidente do Conselho Constitucional revelam a imoralidade nos órgãos de soberania,
estaria de algum modo a ferir o artigo 41 da CRM (Lei n.˚ 1/2018, de 12 de Junho) que
estabelecer que todo cidadão tem direito à honra, ao bom nome à reputação, à defesa da
sua imagem pública e à reserva da sua vida privada. Pois o jornal ao chamar os órgãos
de soberania em concreto a presidente do conselho Constitucional de imoral estaria de
algum modo a ofender a honra da mesma. O que fere também o número 6 do artigo 48
do mesmo instrumento legal, que dispõe que o exercício dos direitos e liberdades deve
pautar-se pelo respeito pela dignidade humana. O que não foi observado nesse excerto.

O Jornal não observou de igual modo a alínea c) do artigo 28 da Lei de Imprensa


(Lei nº 18/91 de 10 de Agosto) que lista como um dos deveres dos jornalistas "c)

49
Exercer a sua actividade profissional com rigor e objectividade". Porque referir a
presidente do Conselho Constitucional de imoral, o Jornal não estaria a ser objectivo,
nem tão pouco exercendo seu trabalho com rigor. Para Nhuch (2015), a imputação de
uma qualidade negative, atributos pejorativos a determinadas pessoas, ofendendo deste
modo a sua honra, configura-se em injúria.

Sobre a injúria o número 1 do artigo 234 do Código Penal Moçambicano (Lei n.˚
24/2019 de 24 de Dezembro), refere que "a injúria, se for cometido contra qualquer
pessoa publicamente, por gestos, de viva voz, ou por desenho ou escrito publicado, ou
por qualquer meio de publicação, é punido com pena de prisão até 6 meses e multa
correspondente".

 Segunda análise

Na edição do dia 04 de Março de 2020, o Jornal Canal de Moçambique publicou


como manchete o seguinte antetítulo: "Aquisições imobiliárias na mira do regulador
Sul-Africano"

Titulo: "Furacão Ndambi"

O jornal ao chamar Ndambi Guebuza de furacão fere em primeira instância o


artigo 41 da Constituição da República de Moçambique que estabelece que "todo
cidadão tem direito à honra, ao bom nome, à reputação, à defesa da sua imagem pública
e à reserva da sua vida privada". Pois, nessa publicação o Jornal imputa um atributo que
pode ser visto como negativa e pejorativo ao Ndambi. Para Nhuch (2015), a imputação
de uma qualidade negativa e ou atributo pejorativo que ofende a honra subjectiva de
alguém configura-se em injúria.

O título do Canal fere de igual modo as alíneas b) e c) do artigo 28 da Lei de


Imprensa (Lei nº 18/91 de 10 de Agosto) que lista como alguns dos deveres dos
jornalistas: "b) Ter como objectivo produzir uma informação completa e objectiva"
assim como "c) Exercer a sua actividade profissional com rigor e objectividade". Pois, o
título "furacão Ndambi" não demostra objectividade nem rigor.

Do ponto de vista internacional, verifica-se que o jornal também não agiu de


acordo com a alínea a) do artigo 19 do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e
Políticos 1966 que após estabelecer as liberdades de expressão e de imprensa, na alínea

50
a) do mesmo artigo dispõe que essas liberdades devem assegurar o respeito pelos
direitos e a reputação de outrem.

Sobre a injúria o número 1 do artigo 234 do Código Penal Moçambicano (lei n.˚
24/2019 de 24 de Dezembro), estabelece que "a injúria, se for cometido contra qualquer
pessoa publicamente, por gestos, de viva voz, ou por desenho ou escrito publicado, ou
por qualquer meio de publicação, é punido com pena de prisão até 6 meses e multa
correspondente".

4.3 Comparação dos resultados obtidos no Jornal Savana e no Canal de


Moçambique

As tabelas abaixo, mostram de forma resumida os resultados obtidos na análise e


interpretação de dados (noticias e reportagens) dos Jornais Savana e Canal de
Moçambique, durante o período de Janeiro a Junho de 2020.

Apresentação dos resultados da análise dos artigos do Savana

Publicações do Jornal Savana


Do ponto de vista da calúnia O Jornal não publicou nenhum artigo que
se configura em calúnia
Do ponto de vista da difamação O Savana publicou 6 artigos cujos alguns
excertos se configuram em difamação
Do ponto de vista da injúria O Savana publicou 2 artigo cujos alguns
excertos se configuram em injúria
Tabela 1: Apresentação dos resultados da análise dos artigos do Savana

Apresentação dos resultados da análise e interpretação dos artigos do Canal

Publicações do Canal de Moçambique


Do ponto de vista da calúnia O Canal publicou 3 artigos cujos alguns
excertos se configuram em calúnia
Do ponto de vista da difamação O Canal publicou 7 artigos cujos alguns
excertos se configuram em difamação
Do ponto de vista injúria O Canal publicou 2 artigos cujos alguns
excertos se configuram em injúria
Tabela 2: Apresentação dos resultados da análise dos artigos do Canal de Moçambique

51
As tabelas acima mostram que em comparação com o Savana, o Canal de
Moçambique publicou mais artigos cujas algumas passagens se configuram em abusos
de liberdades de imprensa. Pois, do ponto de vista da calúnia, o Savana não teve
nenhum caso, sendo que o Canal de Moçambique teve 3 (três) casos que se
configuraram em calúnia. Do ponto de vista da difamação o Savana teve 6 (seis) casos,
sendo que o Canal de Moçambique teve 7 (sete) casos que se configuraram em
difamação. Mas do ponto de vista da injúria os dois Jornais tiveram o mesmo número de
casos, uma vez que tanto o Savana assim como o Canal de Moçambique tiveram 2
(dois) casos que se configuram em injúria. Num universo total, o Jornal Savana cometeu
8 casos que se configuram em agressões aos limites da liberdade de imprensa. E o Canal
de Moçambique cometeu um total de 12 casos.

No Jornal Savana, dos 8 casos de desacreditação à honra, reputação e dignidade,


7 são feitas contra pessoas filiadas ao governo ou instituições públicas. Sendo apenas
um, o caso de desacreditação feita contra pessoas de instituições privadas.

Na mesma sequência, nota-se que os 12 casos de agressão aos limites da


liberdade de imprensa pelo Canal de Moçambique são referentes a desacreditação ou
agressão às pessoas filiadas ao governo ou instituições públicas. Essas agressões atacam
a honra e dignidade das instituições do estado e ou indivíduos que exercem poder em
instituições publicas, cujas suas acções tem repercussão social.

É de referir, que uma parte desses casos de abusos de liberdade de imprensa


cometidos pelos dois Jornais em estudo foi identificada em notícias ou reportagens que
versam sobre denúncias de supostos actos de corrupção. E outros casos foram
identificados de matérias relacionadas à obtenção de valores monetários da sociedade,
por um determinado grupo. Como é o caso da matéria que refere à IURD e os médicos
tradicionais, como mafiosos que tem no desespero dos outros a sua fonte de
sobrevivência; O caso em que o Jornal escreveu "Furacão Ndambi" no âmbito da
noticias que versava sobre a Aquisições imobiliárias na mira do regulador Sul-Africano;
A matéria que versa sobre o relançamento do voo Maputo Lisboa pelo director geral da
LAM, João Pó; Assim como a matéria em o Jornal auto questionou se "o Governo de
um partido corrupto dirigido por um presidente que é mencionado como tendo recebido
subornos, pode combater a corrupção?"; A matéria que versa sobre a inflação dos
preços pelo sindicado de transportadores.

52
4.4. Entrevista para apuramento das motivações

4.4.1. Entrevista no Conselho Superior da Comunicação social


Em entrevista, o Conselho Superior da Comunicação Social destacou que
consegue define a calúnia injúria e difamação na base da significação dada a esses
conceitos pelos instrumentos legais e didácticos. Instrumento que devem ser obedecidos
para que se alcance um jornalismo mais profissional. Pois, a desobediência desses
instrumentos, e o incumprimento das regras deontológicas e éticas leva os jornalistas a
cometerem crimes como calúnia, injúria e difamação.

Levado a fazer um analise sobre a observância dos limites da liberdade de


imprensa nos meios de comunicação social, o CSCS avançou que os órgãos privados,
têm sido os que mais Ignoram os limites da liberdade de imprensa no exercício das suas
actividades.

Para o CSCS as publicações do Jornal Savana e do Canal de Moçambique com


dizeres como (palhaços, furacão Mdambi, Entre outras destacadas no trabalho),
demonstram um exemplo claro do incumprimento das regras deontológicas e agressão
aos direitos de personalidade (direito ao bom nome, honra, imagem e reputação).

O Conselho Superior da Comunicação Social apontou como uma das causas do


incumprimento das regras éticas e deontológicas nos meios de comunicação social, a
falta de confrontação das fontes. Pois para o Conselho, este aspecto tem levado muitos
jornalistas a extrapolarem os limites da liberdade de imprensa.

Alertou também para a fraca confrontação das fontes e um uso abusivo das
fontes anónimas na media, onde ela já não é usada para a protecção das fontes, mas para
colocar um parecer pessoal.

Fazendo uma análise comparativa do incumprimento dos limites do exercício da


liberdade de imprensa entre os meios de comunicação social públicos e privados, o
CSCS avançou que os órgãos privados fazem um jornalismo mais crítico e no meio
desse jornalismo crítico, acabam cometendo certos erros de natureza deontológico em
relação aos públicos.

Para o CSCS, em parte, o criticismo jornalístico tem a ver com as linhas


editoriais. E o jornalismo crítico é mais propício de cometer atropelos aos limites da
liberdade de imprensa em relação ao jornalismo padrão "cinzento". Por isso que o

53
jornalismo crítico precisa de mais profissionalismo e de profissionais mais qualificados.
Também salientou que o espírito para crítica e para um jornalismo de "watch dog" faz
com que os órgãos privados cometam mais atropelos éticos.

Enquanto o jornalismo público é afectado pelos problemas de imparcialidade,


balanceamento das fontes devido ao seu alinhamento que é mais político. O jornalismo
privado é mais afectado pelos problemas de capitais, devido à necessidade de arcar com
as despesas financeiras. Pois, as reportagens nos meios de comunicação privados
precisam vender, destacou o CSCS.

O Conselho Superior de Comunicação Social destacou a necessidade de haver


uma instituição sancionatória para os casos de incumprimento das regras deontológicas
e de agressão excessiva aos Limites da liberdade de imprensa.

4.4.2. Entrevista no Jornal Savana


Em entrevista com o Savana, o jornal destacou que os indivíduos famosos têm a
esfera dos direitos de personalidade (privacidade e intimidade) menos ampla em relação
aos outros indivíduos menos conhecidos. O Savana avançou também que para um
jornalismo sério, o Jornal na elaboração das suas notícias é guiado pela verdade
integridade e independência.

Para o Savana os meios de comunicação social violam os limites do exercício da


liberdade de imprensa numa peça jornalistas, quando publicam um acontecimento que
fere à honra, ao bom nome e à reputação das pessoas.

Questionado sobre os possíveis motivos que levam os meios de comunicação


social a extrapolar os limites da liberdade de imprensa, o Jornal citou como uma das
causas a falta de questionamento, acreditar rápido nos assuntos e não fazer o
cruzamento de fontes.

Questionado de igual modo sobre a intenção comunicativa do Jornal Savana em


relação a algumas publicações tais como: "vocês votam e nós decidimos o vencedor!",
"Palhaços" entre outros. O Savana avançou que estas publicações não constituem
nenhuma agressão aos direitos de personalidade e nem tem relação com o bom nome,
honra e reputação. Pois, para o Jornal, algumas acções dos nossos dirigentes não fazem
sentido. E nessas circunstâncias, o jornal tem tomado posicionamento.

54
O Savana alega ter tomado esses posicionamentos, porque uma coisa é o que
está escrito (as teorias de jornalismo) e outra é o que a realidade nos impõe a fazer.
Tendo citação os limites do exercício do direito da liberdade de imprensa (direito ao
bom nome, à imagem, à hora e à reputação), o Jornal disse que quando o governo não
age de acordo com as expectativas da sociedade, há uma necessidade de se deixar as
teorias do lado e abordar os assuntos. O Savana acredita que alguns assuntos das
notícias precisam de um comentário.

4.5. Motivos que influenciam na observação dos limites da liberdade


de imprensa nos meios de comunicação sociais

4.5.1. Jornal Savana


O Jornal tem uma tendência de colocar uma opinião em determinados assuntos.
A linha editorial do Savana permite aos jornalistas fazer um julgamento e tomar um
posicionamento perante alguns assuntos. Isso se verifica através da subjectividade
patente em algumas matérias evidenciadas no trabalho, assim como na entrevista com o
Savana, onde o Jornal avançou que "quando os políticos não agem de acordo com as
expectativas da sociedade, nós tomamos um posicionamento, o Jornal toma um
posicionamento". Isso quando questionado sobre alguns títulos como "palhaços",
"Vocês foram e nos decidimos o vencedor!" entre outros.

De acordo com o CSCS os meios de comunicação social privados cometem mais


erros de natureza deontológico em relação aos públicos, porque eles fazem um
jornalismo crítico, de "wacht dog". Foi nessa vertente crítica de "watch dog", numa
tentativa de fazer um Jornalismo que zela pela sociedade, que o Savana publicou
algumas matérias que se configuraram em abusos de liberdade de imprensa.

Isso é notável através de publicações que criticam de forma desonrosa as


decisões políticas por meio de conteúdos como "Nyusi anuncia o se governo",
"Decepção" sobre a fotografia do novo governo. E através de alguns trechos da
entrevista com o Savana onde o mesmo avançou que fez essas publicações porque
algumas acções que o governo faz é só para tentar tampar a vista da sociedade (falando
sobre a figura do secretário do estado nas províncias). E esse impulso de tomar um
posicionamento crítico perante alguns assuntoss que julga que as instituições ou as
individualidades (exercem influencia sobre a sociedade), não estão a agir de forma

55
adequada para com a sociedade, mostra que o Jornal tem uma tendência de se
posicionar como uma instituição vigilante da máquina pública.

Nesta sequência, importa salientar, que de acordo com Brun (2011), o


jornalismo de Watchdog é aquele em que a imprensa se posiciona como uma instituição
vigilante da máquina pública, actuando na denúncia e na investigação dos escândalos e
actos de corrupção. Nesse jornalismo, a imprensa reveste-se da função protectora social.

No entanto, acontece que nesse processo de vigilância, o Jornal Savana acabou


se posicionando de uma forma que de algum modo fere certos princípios (honra,
reputação, bom nome, dignidade...) traçados na constituição da república de
Moçambique e nos demais instrumentos normativos.

4.5.2. Canal de Moçambique


O Canal de Moçambique não aceitou conceder a entrevista para o apuramento
das motivações. Mas de acordo com a entrevista feita no CSCS, assim como as
publicações do Jornal que se configuraram em abusos de liberdade de imprensa, onde
todas elas estavam relacionadas com pessoas do poder político e com instituições ou
individualidades que exercem influencia sobre a sociedade, percebe-se que o Jornal
também tenha transgredido esses limites na tentativa de tomar uma postura de vigilante
da máquina pública e zelar pelos interesses sociais. E nessa tentativa de se posicionar
em alguns pontos, cujas acções recaem sobre a sociedade, acabou extrapolando os
limites de liberdade de imprensa.

É de referir, que uma parte desses casos de abusos de liberdade de imprensa


cometidos pelos dois Jornais em estudo foi identificada em notícias ou reportagens que
versam sobre denúncias de supostos actos de corrupção. E outros casos foram
identificados de matérias relacionadas à obtenção de valores monetários da sociedade,
por um determinado grupo.

Pois, importa salientar, que de acordo com Brun (2011), o jornalismo de


Watchdog é aquele em que a imprensa se posiciona como uma instituição vigilante da
máquina pública, actuando na denúncia e na investigação dos escândalos e actos de
corrupção. Nesse jornalismo, a imprensa reveste-se da função protectora.

56
V CAPÍTULO
5.1. CONCLUSÃO

A liberdade de expressão e de imprensa constituem a base para todo Estado


Democrático. Através dela, a sociedade exerce seu direito de ser informado e participar
da cidadania com consciência sobre a realidade pública. Por outro lado, por mais
importante que a liberdade de imprensa seja, no seu exercício deve respeitar alguns
limites constitucionais (a dignidade humana, honra, reputação e bom nome).

Foi nesse contexto que a pesquisa se propôs a analisar a observância dos limites
da liberdade de imprensa nos Jornais Savana e Canal de Moçambique, com vista a
perceber os motivos que influenciam os mesmos na observação desses limites. Para o
efeito, o estudo fez o levantamento dos Jornais do primeiro semestre de 2020, e se
dispôs da técnica de entrevista para apurar as motivações da observação dada pelos
jornais em estudo.

Importa salientar que esta é uma pesquisa mista (qualitativa e quantitativa), onde
através da técnica de análise de conteúdo foi possível constatar que do ponto de vista da
difamação, calúnia e injúria, o Canal de Moçambique não observou os limites do
exercício do direito da liberdade de imprensa na elaboração dos seus conteúdos
noticiosos. E também constatou-se que o Jornal Savana não observou os limites do
exercício do direito da liberdade de imprensa do ponto de vista da difamação e injúria.

O Jornal Savana e o Canal de Moçambique publicaram em algumas edições do


primeiro semestre do ano passado (2020), certas matérias que se configuraram em
abusos de liberdade de imprensa, por não terem observado o respeito pela dignidade
humana (honra, reputação, bom nome) nessas publicações.

No Jornal Savana, dos 8 casos de desacreditação à honra, reputação e dignidade,


7 são feitas contra pessoas filiadas ao governo ou instituições públicas. Sendo apenas
um, o caso de desacreditação feitas contra pessoas de instituições privadas. Na mesma
sequência, nota-se que os 12 casos de agressão aos limites da liberdade de imprensa
pelo Canal de Moçambique são referentes à desacreditação ou agressão às pessoas
filiadas ao governo ou instituições públicas. Essas agressões atacam à honra e à
dignidade das instituições do estado e ou indivíduos que exercem poder em instituições
publicas.

57
De acordo com os dados referentes ao número de agressões aos limites de
liberdade de imprensa nos meios de comunicação social (Savana e Canal de
Moçambique) percebe-se que o Canal de Moçambique observou menos os limites da
liberdade de imprensa em comparação com o Jornal Savana. Uma vez que o Canal
publicou mais conteúdos que se configuraram em abusos de liberdade de imprensa em
relação ao Jornal Savana.

Relativamente à pergunta de partida "Até que ponto os meios de comunicação


social (Jornal Savana e Canal de Moçambique) observam os limites da liberdade de
imprensa", o presente estudo concluiu que o Jornal Savana e o Canal de Moçambique
não observaram os limites do exercício do direito da liberdade de imprensa no exercício
das suas actividades. Tendo se constatado de igual modo que o Jornal Savana não
observou esses limites da liberdade de imprensa influenciado pela política editorial do
próprio órgão, que lhes permite tomar um posicionamento perante alguns assuntos que o
Jornal considera conveniente intervir. Também constatou-se que o criticismo e o
jornalismo de “Watch dog” feito pelo jornal, contribuiu de igual modo para o
desrespeito dos limites da liberdade de imprensa. Importa salientar que se alia o
criticismo e o “watch dog” como Alguns dos motivos que influenciaram nesse
desrespeito, tendo em conta que as transgressões foram feitas contra o governo, pessoas
e ou instituições cuja acções se reflectem na vida da sociedade. O Savana tentando
exercer o papel de vigilante dos interesses sociais, acabou ferindo alguns princípios
constitucionais (honra, reputação, bom nome entre outros).

O Canal de Moçambique não aceitou conceder a entrevista para a obtenção de


dados referentes às motivações. Mas de acordo com a entrevista feita no CSCS, assim
como as publicações que se configuraram em abusos de liberdade de imprensa, onde
todas elas estavam relacionadas com pessoas do poder político e com instituições ou
individualidades que exercem influencia sobre a sociedade, percebe-se que o Jornal
também tenha transgredido esses limites na tentativa de tomar uma postura de vigilante
da máquina pública e vigiar pelos interesses sociais.

No entanto, tomando em consideração os aspectos acima mencionados, pode se


validar parcialmente a primeira hipótese segundo a qual “O Jornal Savana e o canal de
Moçambique extrapolaram os limites da liberdade de imprensa influenciados pelas
políticas editoriais dos próprios órgãos”. Essa hipótese fica aprovada parcialmente
porque devido às dificuldades em fazer entrevista no Canal de Moçambique, não pode
58
se avançar que a política editorial constitui um dos motivos que influenciaram o Canal
de Moçambique a extrapolar os limites da liberdade de imprensa. Mas se valida de igual
modo parcialmente a segunda hipótese segundo a qual "O Canal de Moçambique e o
Savana extrapolaram os limites da liberdade de imprensa com vista a adquirir mais
leitores e audiência". A validação parcial dessa hipótese deve-se ao facto de os dois
jornais em estudo não terem observado os limites da liberdade de imprensa. E
desvalida-se por completo a terceira hipótese que estabelece que "o Savana e o Canal
de Moçambique observaram os limites da liberdade de imprensa, influenciados pelo
Código de Ética e Deontologia Profissional dos Jornalistas". Uma vez que certas
publicações dos dois jornais em estudo feriram alguns direitos constitucionais (honra,
reputação, bom nome entre outros).

Assim sendo, conclui-se de forma geral, que foram cumpridos parcialmente os


objectivos traçados para a pesquisa na medida em que constatou-se na pesquisa que o
Jornal Savana e o Canal de Moçambique, não observaram os limites da liberdade de
imprensa, onde o para o efeito, o Savana foi condicionado pela política editorial do
próprio órgão e pelo facto de tomar uma posição de vigilante da esfera publica. Os
objectivos são dados como cumpridos parcialmente, porque devido a inacessibilidade de
uma das fontes previstas para serem entrevistadas (Canal de Moçambique), não foi
possível satisfazer na totalidade um dos objectivos que era identificar os aspectos que
ditam as formas de redacção jornalística usadas no Canal de Moçambique (Jornal que
dificultou a entrevista).

59
5.2. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Savana_(Mo%C3%A7ambique): acesso em: 16/
04 /2021.

63
ANEXOS

Nas páginas a seguir é apresentado um conjunto de alguns dos documentos (imagens


entre outros) usados na elaboração do presente trabalho.

64
Figura 1: Canal de Moçambique, edição do dia 04 de Março de 2020

Figura 2: Canal de Moçambique, edição do dia 23 Outubro de 2019

65
Figura 3: Canal de Moçambique, edição do dia 08 de 2020

66
Figura 4: Canal de Moçambique, edição do dia 05 de Fevereiro de 2020

Figura 5: Canal de Moçambique, edição do dia 05 de Fevereiro de 2020

67
Figura 6: Canal de Moçambique, edição do dia 22 de Janeiro de 2020

68
Figura 7: Jornal Savana, edição do dia 24 de Janeiro de 2020

69
Figura 8: Jornal Savana, edição do dia 15 de Maio de 2020

Figura 9: Jornal Savana, edição do dia 15 de Maio de 2020

70
Figura 10: Jornal Savana, edição do dia 05 de Abril de 2020

Figura 11: Jornal Savana, edição do dia 05 Junho de 2020

71
Figura 12: Jornal Savana, edição do dia 05 de Junho de 2020

72
Figura 13: Jornal Savana, edição do dia 17 de Abril de 2020

73
Figura 14: Correio electrónico enviado ao Canal de Moçambique para fazer entrevista

Figura 15: Segundo correio electrónico enviado ao Canal de Moçambique para fazer entrevista

74
Figura 16: Credencial submetido junto com a carta de pedido de entrevista no Canal de Moçambique

75

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