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CURSO DE JORNALISMO
Divinópolis – MG
2021
Vitor Alves Couto Correia
Divinópolis – MG
2021
CORREIA, Vitor. A construção da narrativa televisiva através
da trilha sonora: um estudo a partir de quadros e reportagens do
“Fantástico” [Monografia]. Trabalho de Conclusão de Curso –
Jornalismo ou Comunicação Social – Publicidade e
Propaganda. UEMG – unidade Divinópolis: 2021. 68 p.
Banca examinadora
A Deus, que sempre esteve comigo, seja em momentos difíceis como felizes. Por me fazer
questionar a maneira de olhar a realidade e propor um novo mundo de possibilidades. Mas
livrai-nos de todo mal, amém!
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer e dedicar esta monografia a todas as pessoas que estiveram comigo até
aqui. Apesar do processo de construção deste trabalho ter começado antes de uma pandemia,
grande parte dele precisou ser feito em meio a dias angustiantes. E é por isso que agradeço, em
primeiro lugar, a Deus, por ter me concedido discernimento, paciência e força de vontade. Nada
seria possível se não fosse Ele.
Logo em seguida, preciso registrar minha extrema gratidão aos meus familiares, especialmente,
aos meus pais e irmãos, que desde o início da graduação foram meu alicerce e nunca me
desmotivaram. Pelo contrário, acreditaram no meu sonho e sempre vibraram com cada
conquista. Quem sou hoje, diz muito da forma como fui criado e por isso, só tenho a agradecer.
Meus avós, primos, tios e madrinhas, deixo aqui todo o meu amor por vocês.
Aos meus amigos de faculdade, de forma singular, Isabelle, Vitória e Viviane, que chegaram
na minha vida para somar nesses 4 anos. E também, os companheiros de república, trabalho e
vida. Foi incrível poder trocar tantas experiências.
Aos meus professores e orientadores, que sempre tiravam um tempinho para me dar dicas,
esclarecer dúvidas e instruir da melhor forma. Apresento este trabalho de conclusão de curso,
com a certeza de um ensino público de qualidade.
Ao meu duo preferido, Anavitória, por estarem comigo ao longo de todo esse período. Foi uma
verdadeira musicoterapia.
Por fim, preciso destacar o apoio daqueles que passaram por meu caminho, mesmo que por
pouco tempo. No final, tudo foi necessário.
A todos aqueles que contribuíram de alguma forma, o meu mais sincero, muito obrigado!
“Uma sequência de sons pode nos lançar no infinito,
um simples ritmo pode levar-nos à atemporalidade,
um timbre pode nos fazer mergulhar nas profundezas,
uma forma pode nos fazer perder a forma. Através da
música podemos torna-nos uma totalidade e unos com
o nosso universo.”
Vera Maria Mendes Medeiros
A CONSTRUÇÃO DA NARRATIVA TELEVISIVA ATRAVÉS DA TRILHA
SONORA:
um estudo a partir de quadros e reportagens do “Fantástico”
RESUMO: A sonorização cumpre um importante papel nos meios de radiodifusão e seu emprego
proporciona melhor comunicabilidade. A pesquisa tem como principal objetivo analisar como se dá a
construção da narrativa televisiva através do uso da trilha sonora. Para isso, serão analisadas reportagens
dos quadros “Meu filho nunca faria isso” e “Mulheres Fantásticas”, da revista eletrônica “Fantástico”,
programa dominical da emissora Rede Globo. O trabalho traz uma abordagem histórica, desde o período
em que as produções midiáticas e culturais não eram acompanhadas por áudio no processo de interação
entre veículo e telespectadores. O estudo aborda a percepção de tempo e espaço, e desbrava a função do
som como imagem, influindo nas coordenadas do programa televisivo, nas experiências cognitivas e
sensoriais dos espectadores, no estimulo das emoções e entendimento da palavra. As produções visuais
escolhidas possuem estilos distintos, para que após o estudo, perspectivas possam ser ampliadas.
ABSTRACT: The sound plays an important role in the broadcasting media and its use provides better
communicability. The main objective of the research is to analyze how the construction of the television
narrative takes place through the use of the soundtrack. To this end, reports from “My son would never
do that” and “Fantastic Women”, from the electronic magazine Fantástico, a Sunday program from Rede
Globo, will be analyzed. The work brings a historical approach, since the period when media and cultural
productions were not accompanied by audio in the process of interaction between vehicle and viewers.
The study addresses the perception of time and space, and explores the function of sound as an image,
influencing the coordinates of the television program, the cognitive and sensory experiences of viewers,
stimulating emotions and understanding the word. The visual productions chosen have different genres,
so that after the study, perspectives can be expanded.
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 10
INTRODUÇÃO
Este trabalho discute a trilha sonora no telejornalismo, tendo como objeto de estudo,
a revista eletrônica semanal “Fantástico”, veiculada aos domingos na Rede Globo, e como
recorte, os quadros “Meu Filho Nunca Faria isso” e “Mulheres Fantásticas”. O interesse pelo
tema foi crescendo através da relação pessoal do autor deste projeto com a música e a televisão.
Inicialmente, uma das maiores dificuldades foi transformar duas paixões em um problema de
pesquisa, mas isso foi solucionado ao se pensar no conceito de sonoridade. Sob essa
perspectiva, surge a questão em torno da qual este trabalho se debruça: de que maneira a trilha
sonora eleva-se enquanto elemento narrativo audiovisual e deixa de ser um mero recurso
empregado nas reportagens jornalísticas?
É lugar comum a assertiva de que o radiodifusor adquiriu performances
imprevisíveis com o emprego da trilha sonora e aproximou ainda mais, o telespectador de sua
programação. Nesse sentido, a escolha do objeto de estudo é baseada no reconhecimento do
programa como um produto que permite testar novos formatos e linguagens em relação à
estrutura dos telejornais. Sua periodicidade também favorece o trabalho com reportagens
especiais, de maior tempo de produção. Estas, utilizam a música de maneira mais definida e é
um recurso que ressurge ao longo da narrativa, renovando a atenção do telespectador.
O Fantástico teve sua estreia em 5 de agosto de 1973 e foi criado por José Bonifácio
de Oliveira Sobrinho. Exibido aos domingos com duração de aproximadamente duas horas, é
marcado pelo dinamismo em relação ao que é produzido por uma emissora e trabalha diversos
temas envolvendo reportagens investigativas, humor, dramaturgia, ciência, denúncia e música.
As trilhas utilizadas na programação podem, por exemplo, provocar diferentes variações de
humor no telespectador. Além disso, percebe-se que tais ferramentas sonoras se tornam
indispensáveis na estruturação. As trilhas complementam as histórias que, talvez, não seriam tão
bem entendidas pelo público, se não houvesse presença de som. Para isso, é necessário entender a
lógica estratégica no emprego da sonorização e sua importância em meio a outros elementos que
integram o cenário.
Os produtos que são objetos deste estudo exploram as nuances das trilhas, cabíveis
de interpretação. São elementos que envolvem sensibilidade, intuição e as emanações
simbólicas da sonorização. Ao mesmo tempo, a ausência de uma operação crítica na concepção
da música no espaço televisivo pode resultar em uma definição geral sonora de caráter
meramente associativo. Outrossim, não estabelece uma amarração dos demais elementos
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1
Sonoplastia: é a comunicação pelo som. Abrangendo todas as formas sonoras - música, ruídos e fala, e recorrendo
à manipulação de registros de som, a sonoplastia estabelece uma linguagem através de signos e significados, que
se dividem em ruídos naturais e ruídos de efeito. Disponível em:
https://www.passeidireto.com/arquivo/4179882/sonoplastia. Acesso em: 03 de mar. 2021.
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2
Vibrações sonoras: as ondas musicais trabalham em conjunto com as ondas vibratórias através de frequências,
que por onde passam exercem suas diversas ações, que ao entrarem em contato com o ser humano, proporcionam
o surgimento de inúmeras mudanças em todo o seu sistema vital orgânico. Deficientes auditivos não interpretam
ondas sonoras, muitas vezes, por problemas no nervo. Entretanto, sentem as vibrações da mesma forma que aquele
que escuta, por meio de graves. Disponível em: https://monografias.brasilescola.uol.com.br/arte-cultura/a-
influencia-da-musica-na-mente-e-no-corpo.htm. Acesso em: 03 de mar. 2021.
14
Como nossos nervos podem se excitar pela ação dos fenômenos físicos e psíquicos,
a emoção musical promove respostas tanto fisiológicas quanto psicológicas. O som,
fenômeno físico/acústico, matéria da música, afeta o sistema nervoso autônomo, base
da reação emocional, e as respostas fisiológicas que suscita são diretamente ligadas
às vibrações sonoras, ao passo que as reações psicológicas são diretamente ligadas às
relações sonoras, facultando associação, evocação e integração de experiências
(SEKEFF, 2007, p.61).
Para tanto, esta pesquisa será desenvolvida por meio de fontes secundárias,
notadamente, referências bibliográficas obtidas em livros e artigos científicos, para análise,
contextualização, diversidade de perspectivas e considerações sobre o tema. Tais
procedimentos envolvem significados, motivações, a fim de compreender fenômenos e
processos cabíveis de interpretação. Propõe a discussão a respeito da trilha sonora e seus
elementos constitutivos na narrativa telejornalística, tendo como objeto de estudo, a revista
eletrônica “Fantástico” que trabalha com diferentes formatos e linguagens em sua programação.
Baseado nas considerações de Milton José Pinto (2002), a seleção de conteúdo não
envolve uma simples escolha, mas sim, diz respeito a uma seleção entre as possíveis
alternativas, ou seja, envolve intenção e estratégia presentes no sistema comunicativo.
3
Globo Play. Disponível em: https://globoplay.globo.com/fantastico/t/S15HBdHBdn/
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performances em 3D4. Entre quatro a cinco blocos dividem o “Fantástico”, e ao final de cada
um deles acontece a chamada para o próximo bloco. Os quadros funcionam também como
editorias específicas, que selecionam e agrupam o material por hierarquização, seguindo a
ordem de importância das matérias. Dentre os mais famosos ao longo dos anos, estão: A vida
em 1 minuto; Agamenon; Choque Cultural; Corpo em Movimento; Detetive Virtual; E agora,
doutor?; Expedição Xingu; Medida Certa - O Fenômeno; Mundos Invisíveis; O Mago da
Cozinha; Os Cinco Sentidos; Profissão Repórter; Repórter por um dia; e Transplante, o dom da
vida.
Os valores-notícias se baseiam no compromisso com a informação e ao mesmo
tempo, com o entretenimento. Outrossim, destacam-se: a presença de quadros fixos, reforçando
a linha editorial; personagens característicos, ou seja, desde os entrevistados à figuras
marcantes, incluindo repórteres e especialistas; o caráter autorreflexivo, evidenciado na
estrutura da revista eletrônica; a preocupação com assuntos do cotidiano, propiciando maior
identificação por parte do público que assiste; e por último, a capacidade técnica e poder de
cobertura mundial.
A parte que mais interessa, a trilha sonora, é bastante vasta. Ao longo das narrativas,
os sons parecem semelhantes, mas são distintos. Inclusive, visualmente, as ondas sonoras se
alteram, conforme pode ser percebido nas faixas de áudio dos programas de edição. As vinhetas
de abertura, intervalo e encerramento, são padrões. Recursos que contribuem para a criação de
identidade e reconhecimento do produto pelo público, que mesmo sem estar na frente da TV,
consegue fazer assimilações. Apesar das adaptações do artificio visual e sonoro ao longo dos
47 anos de programa, percebe-se uma questão cultural, passada de geração para geração, que
estaria ligada ao caráter associativo. O critério de confiabilidade e seriedade evidenciado nas
reportagens levam a uma correlação por parte dos expectadores de que o conteúdo a ser exibido,
se baseie nesses parâmetros.
1.3 Recorte
O recorte será feito com quadros específicos que são “Meu Filho Nunca Faria isso”
e “Mulheres Fantásticas”. A partir desses objetos, serão observadas quatro reportagens que
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3D: O espaço tridimensional é aquele que pode ser definido como tendo três dimensões, sendo altura,
profundidade e largura. O efeito da tridimensionalidade de imagens e objetos é dado justamente pela junção das
três dimensões com luz e sombra, causando um relevo. Disponível em:
https://canaltech.com.br/software/tecnologia-3d-o-que-e-como-funciona/. Acesso em: 03 de mar. 2021.
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estão disponíveis na Globo Play5, plataforma digital com streaming6 de vídeos sob demanda
desenvolvida pelo Grupo Globo. Os conteúdos podem ser consumidos em smarthphones,
tablets e smartTVs. Os critérios para a seleção das reportagens que serão analisadas são:
quantidade de recursos sonoros utilizados, variedade de estilos musicais e aspectos culturais
presentes na sonoridade da narrativa.
O quadro “Meu Filho Nunca Faria Isso” foi exibido pela primeira vez em 20 de
outubro de 2019, dividido em seis episódios e duas temporadas: a primeira, nesse mesmo ano
e a segunda, em 2020. O objetivo da série era provocar um debate entre as famílias, colocando
os filhos em uma experiência comportamental. Os mesmos são monitorados pelos pais durante
simulações, enquanto lidam com um grupo de atores. A cada edição, os jovens encaram
situações envolvendo temas como, por exemplo, assédio, uso de bebida alcóolica e bullying. É
apresentado pela jornalista Renata Ceribelli, que trabalha no “Fantástico” desde janeiro de
1999, e já atuou como apresentadora, correspondente internacional e, atualmente, é repórter
especial. O formato foi inspirado em uma atração do canal americano NBC, ainda inédito no
Brasil.
Serão analisadas duas matérias dessa série. Os temas abordados, tempo de duração,
data de exibição e o porquê da escolha são os seguintes:
– “Seu filho aceitaria carona de uma pessoa que bebeu? Veja no 'Meu Filho Nunca
Faria Isso” 7 um teste com quatro adolescentes para descobrir o que os responsáveis imaginam
e o que acontece na prática; 14min.49s exibido em 20 de agosto de 2019. Este é o primeiro
episódio da série e há uma rica utilização de recursos sonoros, com ritmos propícios para
despertar diferentes emoções;
– “Meu Filho Nunca Faria Isso: seu filho tomaria alguma atitude diante de um
assédio sexual?” 8 , frente uma situação de provável assédio sexual contra uma menina
alcoolizada, os pais opinam se os filhos tomariam alguma atitude pra impedir o abuso;
16min.17s. exibido em 27 de agosto de 2019. A reportagem é composta em grande parte de
trilha sonora e torna a análise mais interessante.
5
GLOBO PLAY. Jornal Hoje: Globo Play leva programação da TV para celular, tablet e desktop. Disponível em:
https://globoplay.globo.com/v/4582985/. Acesso em: 03 de mar. 2021.
6
Streaming ou broadcast é o nome da transmissão de áudio e/ou vídeo pela internet. É uma tecnologia que permite
transmitir áudio e vídeo sem que o usuário realize o download de todo o conteúdo transmitido antes de ouvir ou
assistir como acontecia antigamente. Disponível em: https://www.sitehosting.com.br/streaming/. Acesso em: 03
de mar. 2021.
7
GLOBOPLAY. Seu filho aceitaria carona de uma pessoa que bebeu? Veja no 'Meu Filho Nunca Faria Isso.
Disponível em: https://globoplay.globo.com/v/8019740/. Acesso em: 03 de mar. 2021.
8
GLOBOPLAY. Meu Filho Nunca Faria Isso: seu filho tomaria alguma atitude diante de um assédio sexual?
Disponível em: https://globoplay.globo.com/v/8038877/ . Acesso em: 03 de mar. 2021.
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9
GLOBOPLAY. Mulheres Fantásticas: conheça a ativista ambiental que ajudou a mobilizar 2 mil jovens.
Disponível em: https://globoplay.globo.com/v/8213678/. Acesso em: 03 de mar. 2021.
10
GLOBOPLAY. Mulheres Fantásticas: a dança como ferramenta transformadora. Disponível em:
https://globoplay.globo.com/v/8230907/. Acesso em: 03 de mar. 2021.
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11
Adobe Premiere Pro 2020: o software de edição de vídeos é líder do setor para cinema, TV e a Web. Possui
ferramentas de criação, integração com outros aplicativos e serviços. Disponível em:
https://www.adobe.com/br/products/premiere.html. Acesso em: 04 de mar. 2021.
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questões da pesquisa com base em seus objetivos” (MINAYO apud DESLANDES, 2002, p.79).
Por conseguinte, nascem as relações entre concreto e abstrato, geral e particular, teoria e prática.
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12
Mixagem: soma das diferentes informações de áudio fixadas em algum meio. Do ponto de vista artístico e prático
da produção fonográfica, podemos pensar a mixagem como a arte de contribuir com o discurso emotivo da música
através desta soma. Disponível em: https://ossia.com.br/o-que-e-mixagem-como-funciona/. Acesso em: 04 de mar.
2021.
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É perceptível que o ser humano estabelece uma relação com o som e a imagem
desde muito cedo, através do contato com o meio exterior e isso, acaba sendo reforçado com os
processos de aprendizagem. No período do cinema mudo, em que os recursos permitiam apenas
a utilização de movimentos visuais, a música não deixou de estar presente nas salas de projeção.
A sonoplastia é de tal modo, expressiva, plástica e multifacetada.
A música atua como parte integrante do sistema audiovisual, entendido como uma
unidade que incorpora diferentes códigos que se harmonizam durante a execução. Tais recursos
estão ligados à percepção sensorial do homem, que consegue captar, entender e sentir,
identificando o ambiente sonoro que o rodeia. É o que diz Bravo apud Alves (2014).
O som faz uma ligação direta com a psique do indivíduo, podendo este, estar ciente
ou não. No cinema, as trilhas sonoras desempenham um papel indispensável na expressão de
sentimentos da história a ser retratada. Na televisão, o recurso permite uma comunicação em
tempo real, marcada pelo dinamismo e adaptação às pessoas, que desde seu nascimento,
carregam emoções.
O ser humano, ao nascer, traz consigo algumas emoções básicas como por exemplo o
medo, a alegria, a tristeza e o afeto. As outras ele vai desenvolvendo e descobrindo ao
passar dos anos através do convívio no trabalho, com amigos. As emoções estão
presentes em nosso dia a dia e afetam diretamente nos nossos relacionamentos
interpessoais e na produtividade. (OLIVEIRA et al 2016, p.1214).
A trilha sonora, advém dos primórdios da expressão artística humana que se inseriu
nas tradições do ocidente, e antes mesmo dos dramas gregos, tratava de temas retirados do
Antigo Testamento. A arte clássica grega continua sendo uma das grandes referências no
panorama entre som, palavra e imagem. Fazendo um comparativo da música empregada em
reportagens com a música utilizada em cena, Livio Tragtenberg (2008) afirma que o som é um
importante meio da narrativa, resultado de um repertório específico desenvolvido por meio do
diálogo entre o verbal, o sonoro e o gestual. Desse modo, cria-se uma associação dos espaços
de imaginação sensorial, caminhando para o entendimento do contexto, fazendo com que o
indivíduo se sinta presente na história contada e na potencialização de emoções, perante a
tragédia ou a comédia.
A música, sem se deixar limitar por outras linguagens, caminha junto à sociedade e
faz parte da subjetividade de cada um, uma vez que o ouvinte organiza as informações,
atribuindo uma ordem ou até mesmo, uma desordem, de acordo com sua acepção. Com base
em seu discernimento, as sensações podem ser estimuladas no indivíduo seguindo combinações
desencadeadas pelo cérebro e logo, a criatividade. A televisão dispõe de inúmeros recursos
sonoros em sua programação, enraizando uma cultura estética e que estabelece relações de
expressão com seus telespectadores, isso porque as traduções de signos envolvem uma
sensibilidade e intuição quanto às emanações simbólicas e materiais do fenômeno percebido. A
utilização de elementos acústicos envolve a capacidade de abrigar novos aspectos e sentidos.
13
Disponível em: https://abcine.org.br/site/o-som-no-cinema/. Acesso: 04 de mar. 2021.
14
LFE (Low Frequency Effects Channel): introduzido no codec AC-3 para efeitos sonoplásticos com sons de baixa
frequência, é um canal separado, que supõe a instalação de um subwoofer no sistema de reprodução. Disponível
em: https://outrolado.com.br/2018/07/22/lfe-o-canal-de-graves-este-ainda-ilustre-desconhecido. Acesso em: 04 de
mar. 2021.
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Disponível em: https://abcine.org.br/site/o-som-no-cinema/. Acesso: 04 de mar. 2021.
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16 DENTEL: era o órgão executivo do Ministério das Comunicações e que foi extinto com a criação do super
Ministério da Infra-Estrutura, em 1990, pelo Governo Collor. Disponível em:
https://www.agert.org.br/index.php/2-noticias/11181-DENTEL-%E2%80%93-DEPARTAMENTO-
NACIONAL-DE-TELECOMUNICA%C3%87%C3%95ES. Acesso em: 05 de mar. 2021.
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e montagem dos filmes a serem exibidos. A música era utilizada de maneira crua, com locuções
em off17 e acompanhamento de imagens.
O programa jornalístico amador inspirou outros jornais da época, como o
“Telenotícias Panair” e o telejornal mais importante da década, o “Repórter Esso”. Ambos,
fundados em 1952 e transmitidos na TV Tupi. Porém, com o passar do tempo, os conteúdos
precisaram adquirir novos formatos, como diz Aline Maia:
As mudanças são justificáveis pela forma com que os telejornais eram produzidos
na década de 1950. Desprovidos de recursos técnicos, isso implicava na qualidade e na dinâmica
dos noticiários. Dessa forma, haviam menos coberturas externas e os apresentadores se
dedicavam mais às informações dadas dentro do estúdio.
Como os primeiros programas jornalísticos televisivos tiveram grande influência
do rádio, a ancoragem dos telejornais ficava sob responsabilidade de profissionais advindos do
meio. Como consequência, devido à herança radiofônica, havia interferência de patrocinadores
nas coordenadas do programa em relação aos conteúdos da programação.
Maia (2011) explica que no início da década de 1960, as transformações pelas quais
o telejornalismo brasileiro passou, tiveram relação com a criatividade, a expansão intelectual,
e também, a chegada de aparelhagem técnica, como o videoteipe. A fita de vídeo, permitiu a
gravação prévia de programas que seriam transmitidos posteriormente. A Rede Globo, foi a
primeira emissora a dispor do recurso. Na concorrência, a chegada da tecnologia levou mais
tempo. A autora, cita Rezende (2000) em seu artigo, que diz ser o Jornal de Vanguarda, na Tv
Excelsior, o “símbolo da mudança”. Segundo ele, a participação de jornalistas na produção e
apresentação do noticiário teve grande influência.
Mais tarde, o Golpe Militar de 1964, derrubou o programa devido à censura e
interferência política da época. Com isso, o formato jornalístico sofreu com os impactos
daquele período, incorporando novamente aos noticiários, os locutores. Isso porque, com a falta
17
Off: narração gravada da reportagem, usada para cobrir as imagens. É a informação que a sonora não deu, o
complemento para que todas as informações sejam passadas. Disponível em:
http://telejornalismouniube.blogspot.com/2010/03/termos-tecnicos. Acesso em: 05 de mar. 2021.
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de estilo próprio do telejornalismo frente às restrições, fez com que o entretenimento ganhasse
mais espaço, dispondo de vários recursos, como as novelas, os filmes e programas de auditório.
Os questionamentos quanto à eficiência do telejornalismo na época foram
respondidos em setembro 1969 com a criação do Jornal Nacional, pela Rede Globo, que
baseando-se em modelos estadunidenses (ricos em recursos musicais) marcou o início de uma
nova fase. A capacidade técnica e potencial da emissora, além da força empresarial da Família
Marinho 18
influenciaram na relação do canal com o governo. “O JN inaugurou a era do
telejornal em rede nacional, até aquela época, inédito no país, e consolidou um formato fixo,
apostando na agilidade da notícia curta, o que mudou o cenário telejornalístico brasileiro”
(MAIA, 2011, p.5).
Mesmo com sua cobertura nacional e dimensões continentais, o que garantia a
credibilidade do jornalismo, o programa foi alvo de perseguição durante o Regime Militar, no
sentido ideológico. Na época, o jornal foi questionado pela forma que abordava os conteúdos
em virtude da censura. Mas aos poucos, foi se moldando e despertando nas pessoas, o hábito
de assistir os telejornais.
18
Família Marinho: A família Marinho é fundadora e dona dos veículos que compõem o Grupo Globo, além de
diversos outros investimentos. Os três irmãos da família Marinho - Roberto Irineu, João Roberto e José Roberto,
filhos de Roberto Marinho - aparecem na lista da Forbes dos 10 maiores bilionários brasileiros, com um patrimônio
de cerca de US$ 4,3 bilhões cada. Disponível em:
<http://brazil.mom-rsf.org/br/proprietarios/pessoas/detail/owner//familia-marinho/>.
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Sonoridade é viver o tempo por meio de sons e silêncios nele contidos. Ela leva ao
redescobrimento e também, amplia as perspectivas do sujeito. Essa leitura audiovisual,
funciona como um processo profundo, de alinhar os pensamentos, ou seja, um exercício de
associação e organização de ideias. E é por isso que o som precisa de reflexões, interpretações
e ressignificações. Ao assistir um programa televisivo, nem sempre o conteúdo visual fala por
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si só. É necessário relacionar ruídos, falas e músicas, a fim de vivenciar mais intensamente a
mensagem transmitida.
Os elementos de cena, estes que partem de uma textualidade ou visualidade, são
integrados ao conteúdo sonoro, capazes de proporcionar ao expectador, sensações ainda
desconhecidas. Mais tarde, são os efeitos causados pela sonoridade, que aguçam a
sensorialidade do ouvinte. O som enuncia e cria um caminho de novas acepções, passando a
ser percebido como parte integrante da diegese. Tratar do recurso sonoro como um componente
isolado, substancia suas aplicabilidades, confirmando seu poder de influência sensorial e
narrativa.
De forma simultânea, o som é responsável por fazer as amarrações do conteúdo
reproduzido e pelo processo relacional do público. Esse movimento, trata-se da leitura sonora
e imagética do indivíduo. Para entender melhor essa ligação, Caesar (2012) se baseia na ideia
do som como imagem, considerando que o mesmo é capaz de causas impressões que podem
ser traduzidas no pensamento em forma de memórias.
Sob essa analogia, entende-se que o telespectador tem acesso a um material que vai
além do que lhe é apresentado. Por consequência, ouve imagens e enxerga sons. A repetição,
por exemplo, pode contribuir com o processo associativo, estimulando as concepções sobre
aquilo que se escuta. Evoca-se sons característicos como as vinhetas, que no decorrer do tempo,
tornam-se singulares. Na análise do audiovisual, é possível perceber que uma melodia
rememora outra. Não obstante, orientando-se pela capacidade sonora, no que diz respeito a sua
expansão, interessa o fato de recordar imagens, ideias, objetos e acontecimentos do passado.
Sob esse entendimento, Welisson Marques (2016) dedica-se ao conceito de
“intersonoridade”. O autor cita a vinculação da imagem do ex-piloto de corridas, Ayrton Senna,
ao tema de vitória expresso pela trilha sonora, que devido a sua reprodução constante, faz
relembrar elementos envoltos neste período da história, como seus triunfos no pódio e
competições. Nesse sentido, nota-se o poder da escuta de evocar imagens do imaginário social
e produzir subjetividades.
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[...] sobre a memória dos sons, não se trata apenas de criar um novo conceito para o
campo da Análise do Discurso, mas de trazer à disciplina um dispositivo que lhe falta,
que é, ao nosso entender, essencial, especialmente se se considerar tanto a ampla
dimensão de transmissões cujo suporte é audiovisual, bem como a relevância que a
junção de imagens e sons exerce atualmente na produção de subjetividades
(MARQUES, 2016, p.801).
Ressalta-se que a escolha da trilha a ser utilizada nas reportagens pode provocar
desvio de sentido, se definida incorretamente. Muitas produções audiovisuais utilizam do
próprio som ambiente ou fazem da sonorização, apenas um complemento. Quando o editor
provoca uma transposição de sentido, ao distorcer a realidade com o objetivo de aproximar os
fatos do entretenimento ou até mesmo, do sensacionalismo, tem-se um problema. A música nos
telejornais, assim como no cinema, mantém seu caráter emocional, ilustrativo e interativo. A
deturpação independe dessas caraterísticas, vai de acordo com os objetivos da produção do
noticiário, principalmente, quando o real, o fictício e o lúdico se misturam.
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Apesar dos novos meios tecnológicos envoltos nas aplicações dos sons, o olhar
apurado, a significação e o senso crítico, contribuem com o sucesso do produto final. “Um
realizador que realça os sons mais marginais e lhes dá significado é porque sabe aproveitar a
possibilidade de trabalhar tecnicamente esses sons, é porque nos garante que em primeiro lugar
estão as ideias e não as tecnologias” (GUTMANN, 2013, p. 7).
Ao fugir da semântica na reprodução dos fatos, o telespectador fará sua
compreensão de acordo com a concepção da equipe de edição. Depois de definir o recorte, a
produção precisa se atentar à sonoplastia para não prejudicar o conteúdo a ser transmitido. Em
concordância com os autores referenciados e a concepção de Braga (2011), o som atua como
uma ferramenta escolhida estrategicamente, mas que dialoga com a narrativa e evidencia a
mensagem.
A trilha sonora pode ser composta de vozes, ruídos e música, isto é, tudo aquilo que
é audível. Até mesmo o silêncio, é importante para a construção da cena, pois a especificidade
de cada sonoridade define a qualidade e a sapiência do contexto (ALVES, 2012). Envolve
muitas peculiaridades, a começar pela palavra falada.
A voz, o texto descrito verbalmente, está presente nos diálogos, na narração ou de
um conjunto de vozes ao fundo da reportagem. A mesma desempenha um papel na estrutura da
narrativa, um elemento de relevância assim como o repórter e os entrevistados desempenham
na imagem.
Se o ser humano ouvir vozes no meio de outros sons que o rodeiam (sopro do vento,
música, veículos), são essas vozes que captam e concentram logo a sua atenção.
Depois, em rigor, se as conhecer e souber quem está a falar e o que dizem, poderá
então interessar-se pelo resto. Se essas vozes falarem numa língua que lhe seja
acessível, vai começar por procurar o sentido das palavras, e só passará à interpretação
dos outros elementos quando o seu interesse sobre o sentido estiver saturado (CHION
apud ALVES, 2011, p.92).
da paisagem sonora, criados pela geografia ou clima e que dificilmente são ouvidos claramente
pelas pessoas; 2) ruídos de efeito: são sons advindos de algum objeto ou fonte sonora específica,
como o barulho de carros, aviões, tiros e explosões; 3) ruído de sala: relativo aos sons especiais
criados em estúdio, como passos e palmas. Sendo assim, o misto entre imagens e sons, podem
definir ou não a expressão da realidade, considerando que os ruídos podem funcionar como
elemento criativo na construção do contexto e também, unicamente, ilustrar as ações
imagéticas.
A música, simboliza um poderoso elemento na produção audiovisual; ela exprime
os sentidos na reportagem, com seu tom, ritmo e nuance. Nos telejornais, esse recurso costuma
ser utilizado em seu formato instrumental, não sobressaindo ao fato e a fala do repórter. Mesmo
se acompanhado de letra, não perde seu sentido essencial, como afirma Calegari (2012, p.53):
A música, tanto a instrumental quanto a com letra, pode trazer informações e sentidos
adicionais ao que já está sendo mostrado ou dito pelo repórter. Ainda que a
compreensão total da informação construída pela música algumas vezes dependa do
conhecimento cultural prévio do público, dificilmente haverá prejuízo para a notícia
caso o telespectador não conheça a trilha sonora, já que o sentido essencial está sendo
construído na fala do jornalista; a função da música é acrescentar informação.
19
Interprogramas: produção audiovisual que propõe unir conteúdo e qualidade em vídeos de menor duração.
20
Breaks: Intervalos comerciais entre blocos.
36
programas. Segundo Cruz (2014, p.15) dentro do jornal, a vinheta “assume diferentes funções,
abrindo e fechando quadros, além de passagens de bloco e no encerramento e, geralmente,
funciona como um signo de identificação, vindo acompanhada de uma marca, som ou slogan
característico”. Além de organizar o fluxo informacional da programação, fica responsável pela
imagem organizacional, simbólica e estética.
Por último, o silêncio, segundo Shun (2008), é capaz de possuir no universo
audiovisual, valor sintático, podendo ser empregado como elemento separador entre dois
eventos sonoros ou indicar que em sequência, dará início a algo totalmente diferente. Há
presença de música e sonoridade nas reportagens televisivas tanto com o uso de sons ambientes
gravados in loco na captação das imagens, quanto por músicas introduzidas no processo de
edição, normalmente chamadas de backgrounds (BG), conhecidas também como músicas de
fundo.
Nas palavras de Calegari (2012), a música está ligada diretamente à memória, por
suas linhas melódicas e harmônicas possuírem a capacidade de instigar níveis distintos de
sentimento. Isso é explicado pelo atributo do cérebro humano em receber diferentes estímulos
de acordo com as notas, tons e ritmos emitidos. O som, com suas propriedades, alinhado às
imagens, contribui com uma sequência lógica dos planos nas matérias jornalísticas, que
adquirindo características homogêneas, dão sentido para os sentimentos expressos na narrativa.
Cruz (2014) afirma que o som é transmitido por meio de ondas que estimulam o
nervo auditivo e são percebidas pelo córtex cerebral. Porém, muitos autores discutem a ideia de
que a sonoridade se dirige ao cérebro e ao coração, logo, fazendo com que todo o corpo seja
invadido pela musicalidade, através de percepções e sentimentos. De modo específico, Calegari
apud Cruz (2014) explica os desdobramentos do som no corpo humano, desde a recepção até a
interpretação e construção de sentido.
Para as análises que se seguem, serão utilizadas reflexões de autores como Calegari
(2012) que discute a utilização do som no audiovisual para além do texto e da imagem;
Monteiro (2016) e sua interpretação da música sob uma perspectiva cultural e simbólica;
Camara (2013) que avalia a sonorização como um instrumento de dinamização e de informação;
Braga (2011) e os dispositivos de interação; Ernst (2019) que vai dizer sobre a mensagem
subliminar por trás do conteúdo reproduzido e seu potencial de atingir o imaginário social; e a
relação do som com quem o escuta ou o percebe é tratada por Wisnik (1999), explicando os
efeitos da sonoridade no corpo humano, dentre outros autores.
Todo esforço de pesquisa é necessário tendo em vista as propriedades do som e seu
potencial, considerando as revisões bibliográficas e observações feitas ao longo do estudo. Não
obstante, destaca-se as questões ainda não levantadas, que foram surgindo ao longo das análises,
como a materialidade da música através da tecnologia, tópicos considerados fundamentais para
os objetivos que se pretende alcançar.
4.1 Vinhetas
Entende-se que as vinhetas atuam como formas de expressão que ocupam funções
específicas. Mesmo que de forma curta, conseguem transmitir uma mensagem, devido a
linguagem trabalhada e a maneira como os editores amarram o recurso a programação. De
acordo com Petrini (2004, p,131) “seus principais elementos constitutivos, a imagem e o som,
são formas desenvolvidas graças ao fato de o homem percebê-los como entidades culturais
comunicativas”. É uma ferramenta que está ligada ao imaginário da sociedade.
No “Fantástico”, as vinhetas possuem intencionalidades, estas que dizem respeito
ao fato de criar identidade, contextualizar e fazer a ambientação do conteúdo ser trabalhado
posteriormente. Tais funcionalidades resultam de pesquisas, experiências culturais e utilização
de uma linguagem da intrínseca e também extrínseca. Não obstante, a manipulação dos
significados também se faz presente. Isso porque, é algo estético e estrutural, mas que busca
um retorno do espectador.
A primeira reportagem a ser analisada pertence ao quadro “Meu filho nunca faria
isso”, cujo tema é: “Seu filho aceitaria carona de uma pessoa que bebeu?” (FIG.3).
O início da narrativa é marcado por uma trilha descontraída, que passa uma ideia
de juventude, público abordado no quadro. É possível perceber que para além da sonoridade, a
entonação da repórter, Renata Ceribelli, opera como um elemento acústico carregado de
significado, capaz de alterar, inclusive, a forma como o contexto é trabalhado. A mensagem
tem um objetivo e a fala, quando misturada aos elementos acústicos, ganha mais ênfase. Como
exemplo, no momento em que a profissional diz: “Só que agora, tudo o que os amigos pensam,
fazem e falam, ganhou uma importância enorme [com destaque] na vida deles”.
Posteriormente, quando chega o momento de mostrar os que as mães comentam nos
bastidores enquanto observam o que os filhos estão fazendo através de câmeras, a trilha
descontraída é substituída por um tom que causa um pouco de desconfiança e tensão. Em alguns
momentos, essa mesma trilha parece ficar mais acentuada e isso sempre acontece quando
algumas falas dos pais demonstram preocupação, durante o diálogo com Renata Ceribelli. “Os
timbres e impulsos gerados eletronicamente não são simplesmente uma gradação dos sons
tradicionais, mas deflagram uma ruptura epistêmica - do som para o sônico” (ERNST, 2019,
p.18). A gradação trabalha com a lógica da ênfase. Ou seja, é como se fosse um corte na
experiência do conhecimento que já temos e a partir do que o autor chama de ruptura, a
velocidade do som e os estrondos nele existentes, passam a se fazer presentes. Isso porque a
ideia de sequência é descontruída na medida em que o som é reconhecido como uma construção
feita de diferenças. E epistêmica se refere às reflexões sobre a natureza, o conhecimento e suas
relações entre sujeito e objeto.
Ernst (2019, p.18) ainda completa que “estes sons diferentes, baseados em elétrons,
compreendem um espectro muito mais amplo do que aquele que os ouvidos humanos podem
perceber acusticamente”. Assim dizendo, há muito mais nuances do que aquilo que podemos
perceber. Tanto é que quando capturamos o som através de um aparelho técnico, podemos
perceber a visualidade plástica dos elementos que o compõe. Uma forma de comunicação
mediada eletronicamente que será exemplificada logo a seguir.
A sonorização ganha maior tom de apreensão. Instante em que o som acompanha a
imagem nos momentos em que os jovens trocam ofensas. É introduzido um barulho semelhante
a uma explosão, que deixa o clima mais tenso ainda para os telespectadores. A imagem pode
evocar o som na medida em que desperta nossa memória discursiva, inclusive, tratando-se de
onomatopeias21. Ainda que esses sons sejam recursos usados durante a edição, eles amplificam
21
Onomatopeias: figuras de linguagem que reproduzem fonemas ou palavras que imitam os sons naturais, quer
sejam de objetos, de pessoas ou de animais. Recurso que aumenta a expressividade do discurso. Processo de
42
Fonte: Seleção do autor via Adobe Premiere Pro 2020. Disponível em: https://globoplay.globo.com/v/8019740/
A linha guia marca o instante que antecede a mudança no áudio junto à cena de
tensão e percebe-se que há uma diferença nas ondas, que torna mais grave o momento
reproduzido. A forma visual do som é atrelada à questão da percepção que o mesmo traz
acusticamente. É também um elemento que amarra os demais pontos que compõem a narrativa.
Há um padrão de repetição. Uma forma de demarcar o ápice da narrativa, demonstrando a noção
de espaço e tempo.
Isso demonstra a discussão de Braga (2011), que amparado no conceito de
“dispositivos de interação”, estuda as relações entre contexto e sociedade e enxerga esses
espaços e modos de uso como estratégias. Compreende-se que a trilha sonora opera como um
sistema tático, que amarra os pontos da narrativa e evidencia a mensagem. Concomitantemente,
possui uma linguagem própria. É o que diz Monteiro (2016, p.155):
Fonte: Seleção do autor via Adobe Premiere Pro 2020. Disponível em: https://globoplay.globo.com/v/8019740/
tom de tensão. Nota-se que a repetição desse som é estratégica e leva o expectador a criar
imagens sonoras de que a trilha é ligada a coisas negativas e que algo ruim pode vir a acontecer.
Caesar (2012) se baseia na ideia do som como imagem. Isso porque tal recurso
estimula a capacidade de associação e as impressões perpassam o imaginário. Essa idealização
pode ser comprovada ao observar o método da repetição. O espectador pode ter a sensação de
que algo inesperado pode acontecer porque o som reproduzido já é de seu conhecimento e a
mensagem que ele transmite, foi construída em seu pensamento. Logo, o indivíduo busca
reflexões que vão além do que lhe é apresentado, o que remete ao termo “sonicidade” que “não
se refere prioritariamente à qualidade fenomenológica aparente do som, mas antes à sua
natureza temporal essencial, que é a mensagem subliminar por trás do conteúdo musical
aparente” (ERNST, 2019, p.9). Ou seja, o som só existe no momento em que ele acontece e
quando se repete, ele aciona a memória cultural, de maneira que vai associar o sentimento a ele
relacionado, atualizando ou ressignificando de acordo com o contexto.
Os jovens entram no carro, fazem o percurso e quando chegam no lugar onde seria
realizada a pesquisa, encontram com as mães que os observavam. Primeiro, a trilha de tensão
continua, mas quando os filhos descobrem que caíram em um teste, a sonorização é quebrada,
com um ritmo de descontração.
Uma pesquisa é apresentada mostrando o número de jovens que morreram em
acidentes causados por excesso de bebida alcoólica. A trilha de apreensão e drama, instigam a
capacidade de associação dos telespectadores.
Segundo Calegari (2012) a música tem relação direta com a memória, uma vez que
o cérebro humano é capaz de receber diferentes estímulos baseados nas propriedades do som.
Isso inclui um processo de decodificação das informações processadas em imagens mentais. O
autor também reforça que tanto a música instrumental, como a com letra, podem oferecer
informações e sentidos que vão além do que está sendo mostrado ou dito pelo repórter.
O primeiro teste termina e a experiência é repetida com outras duas jovens, Sarah e
Bia, enquanto as mães delas as observam. A forma como a sonoplastia é empregada é idêntica
à da primeira situação. A partir daí, verifica-se que os editores Juliano Cugat e Marcílio Gabriel
mantiveram o padrão de inserção das trilhas sonoras, de modo que é possível perceber que a
intenção de construção do contexto foi a mesma. E que as estratégias em torno da narrativa
consistem em um envolvimento do fato apresentado com os telespectadores, no sentido de que,
a produção espera que os pais que assistem, se identifiquem e imaginem como os filhos
reagiriam ao tipo de situação exposta. Ernst (2019) chama de “sônico” a relação entre tempo e
tecnologia dentro do âmbito sonoro.
46
Fonte: Seleção do autor via Adobe Premiere Pro 2020. Disponível em: https://globoplay.globo.com/v/8019740/
Nesta imagem é perceptível que a onda sonora é mais grave antes de atingir a parte
mais aguda. Isso porque, o choro da mãe antecede a trilha dramática que está por vir, atingido
a sensibilidade do telespectador. Calegari (2012) considera que o som é capaz de despertar
impressões no receptor e isso fica evidente ao observar que nesse momento, a trilha sonora
47
acentua o significado da mensagem que se pretende passar, em um ritmo mais dramático e que
leva a reflexão. Interpreta-se que o discurso possui um tom de alerta.
A segunda reportagem da série “Meu filho não faria isso”, intitulada de “Seu
filho tomaria alguma atitude diante de um assédio sexual?” (FIG. 7), trata a questão do abuso
sexual e como o tema é tratado entre os jovens.
A narrativa começa com uma trilha sonora mais animada pois está relacionada ao
ambiente exibido (um bar, cheio de jovens conversando e interagindo). Em meio a isso, são
inseridos alguns takes de bebidas sendo servidas e o ritmo passa a ficar mais alegre.
As adolescentes Maria Clara e Ana Luíza acreditam estar participando de uma
pesquisa sobre bebidas energéticas e esperam junto a atores, em um sofá. Esses jovens são
apresentados na matéria e logo em seguida, Renata Ceribelli, instiga o público de casa a
imaginar como os participantes do teste vão reagir a situação armada. Novamente, a entonação
age como um elemento acústico: “A gente convida a você aí de casa a participar dessa
48
discussão. Nós colocamos esses jovens diante de uma situação de provável assédio sexual. Qual
será a reação deles? Alguém vai se meter?”.
São indagações importantes para a elaboração do conceito de estratégia de
antecipação22, por trata-se de uma técnica que combina entonação, no que diz respeito à forma
como um profissional expressa suas emoções; ritmo, pois a voz é combinada a trilha sonora,
através de sons de tensão, suspense, comédia e drama; e presságio, visto que a sonorização
adianta situações que serão apresentadas.
Em seguida, há uma cena onde a repórter conversa com as mães para saber quais
são os primeiros palpites em relação ao que vai acontecer dali pra frente: trabalha-se com o
universo das possibilidades. Não é utilizado trilha sonora nesse momento e apenas o som
ambiente se faz presente. Em uma tentativa de neutralidade das perspectivas ali apresentadas.
Logo depois, os atores começam a conversar com as jovens que estão sendo testadas e oferecem
bebida. Elas recusam, mas uma trilha de tensão começa a tocar gradativamente (FIG. 8).
Fonte: Seleção do autor via Adobe Premiere Pro 2020. Disponível em: https://globoplay.globo.com/v/8038877/
22
O conceito foi elaborado durante o desenvolvimento desta pesquisa, considerando as análises realizadas. A
síntese dessas propostas pode ser verificada no Quadro 1 – Conceitos para a análise da interação trilha/imagem,
mais à frente.
49
Essa ideia é inspirada na gramática, com base na figura de estilo que trabalha a
questão da sequência e da intensidade, durante a apresentação de informações. Os personagens
começam a interagir e a cena ganha um tom de adrenalina, exprimido por um novo som. É
perceptível que a tecnologia, através dos suportes de geração e reprodução sonora, constituem
um novo modo de ouvir, podendo até mesmo, operar como um órgão de escuta, conforme Ernst
(2019, p.19), explica:
A arqueologia das mídias não é apenas uma forma humana de entender a tecnologia.
É também uma forma de percepção técnica, através da qual o próprio dispositivo
tecnológico torna-se um órgão de escuta. O conceito de sonicidade põe em suspensão
a perspectiva antropocêntrica, favorecendo a possibilidade de abertura a sondagens de
sonosferas implícitas. Os meios técnicos fornecem um modo de ouvir (hören) anterior
à compreensão cognitiva (verstehen).
É algo que vai além do que o ser humano escuta. Refere-se à maneira como as
ondas se constituem no espaço e nos dispositivos, em forma de universos sonoros que estão
implícitos no contexto.
Um dos atores insiste que outra atriz beba várias doses. Ela consome um líquido
falso e depois de um tempo, finge estar passando mal. É nessa hora que a trilha de tensão
retorna, em ritmo acelerado. A menina vai ao banheiro duas vezes acompanhada de um dos
atores e na segunda vez, demora a voltar. Fica perceptível a preocupação das adolescentes
testadas e essa sensação é transmitida ao público através da sonorização (FIG.9). Isso porque,
na ausência de falas, a sonorização unida as expressões fisionômicas, constituem uma forma de
linguagem.
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Fonte: Seleção do autor via Adobe Premiere Pro 2020. Disponível em: https://globoplay.globo.com/v/8038877/
Logo após esta cena, os jovens retornam do banheiro e o rapaz que acompanhava a
adolescente, começa a dar sinais de que está assediando a garota. Os abusos começam a
acontecer com frequência. Maria Clara e Ana Luíza ficam preocupadas. Como elas não falam
nada e os sentimentos são expressos somente, através da troca de expressões entre elas, a trilha
de apreensão dá o toque especial para que o público de casa perceba como elas estão
desconfortáveis.
51
Fonte: Seleção do autor via Adobe Premiere Pro 2020. Disponível em: https://globoplay.globo.com/v/8038877/
O som apenas não fala por si, mas se torna discurso na medida em que explica o
que as palavras não alcançam (FIG.10). Mesmo que o telespectador não tenha conhecimento
das estratégias e processos de construção e edição da narrativa, cria-se um diálogo entre o
mesmo e a sonoridade. E vai além, ativa a subjetividade e através do que o cérebro interpreta,
são atribuídos configuração e sentido, ideia trabalhada por Wisnik (1999).
O casal de atores retorna ao banheiro e as jovens se levantam para perguntar o que
está acontecendo. O som de tensão volta a se repetir. Sem respostas, elas voltam para o sofá
onde estavam sentadas e os dois jovens chegam logo em seguida. Nesse momento, Renata
Ceribelli chega e conta que elas estão participando de um teste de comportamento. As mães
aparecem logo em seguida e comentam o que acharam das reações das filhas. Agora, a trilha é
mais descontraída e abre espaço para as falas em alguns momentos, para não perder o sentido
das observações feitas pelas avaliadoras.
A reportagem é complementada por manchetes que mostram situações envolvendo
assédio sexual nos ambientes acadêmicos, em vários lugares do país. A trilha, novamente,
estimula os telespectadores, pois se dá em tom de preocupação.
52
A situação então se repete com outros dois jovens, Eduardo e Renata, que também
serão observados pelas mães. A mesma trilha de tensão é usada para mostrar a interação entre
os jovens. Seguindo o roteiro dado aos atores, eles começam a fazer uso de um líquido que seria
bebida alcoólica e dizem que a bebida está forte. Renata, demonstra ser contra a atitude dos
adolescentes e na sequência, a atriz vai até o banheiro, queixando estar passando mal. Mas desta
vez, sozinha.
Quando a atriz retorna, o assediador começa a ter atitudes abusivas com ela e os
jovens testados ficam surpresos. Nesse momento, a trilha de tensão retorna e a sonorização
começa a se dar gradativamente
O ator assediador insiste em acompanhar a atriz até o banheiro, mesmo ela não
querendo. Os jovens testados demonstram revolta e falam que ela pode ir sozinha. Porém, o
casal vai ao banheiro. Eduardo se levanta, chega até a porta e pergunta se está tudo bem. Depois,
Renata faz a mesma coisa. O clima de apreensão é instalado e a trilha sonora cumpre o papel
de potencializadora de emoções. Entretanto, a conexão do telespectador com o fato narrado
poderá depender de sua predisposição em compreender o que vê e escuta.
Aqui há uma ressalva: não podemos atribuir a essas mensagens passadas pela
parafernália de objetos, cores, jogos e formas das artes a responsabilidade pelas ações
humanas que levam um ou outro indivíduo a agir conforme a mensagem que passam.
Há a predisposição. Na música parece-me ser a mesma exigência, assim como na fala
e no cinema. O receptor tem de acionar dispositivos neurológicos para decodificar, de
uma forma ou outra, esses signos. Só escutamos e entendemos visualmente uma
palavra, uma cena ou frase se estamos atentos e só ouvimos uma música e a
relacionamos como triste, alegre ou manipuladora, por exemplo, se nos deixamos
levar pela sonoridade que ela nos emite (MONTEIRO, 2016, p.156).
suas conclusões diante das cenas. Não tem sonoplastia, apenas som ambiente que nesse
contexto atua com a função de neutralizar a situação, proporcionando um ar mais cotidiano.
Outra estratégia é identificada, a de identidade visual padronizada. O modelo
estético e sonoro se repete e segue uma estrutura narrativa audiovisual, composta de introdução,
desenvolvimento, clímax e desfecho.
FIGURA 11 - Conheça a ativista ambiental que ajudou a mobilizar duas mil jovens
Fonte: Seleção do autor via Adobe Premiere Pro 2020. Disponível em: https://globoplay.globo.com/v/8213678/
23
Maracas: chocalhos típicos de alguns povos ameríndios.
55
Através desta imagem é possível ver uma tela preta para a introdução de um fade
in24. Esse é um momento de transição entre a fala de Camila Pitanga e a trilha sonora que
representa a musicalidade da região Norte. A partir disso, tem-se a ideia de preenchimento,
onde a cena a ser reproduzida na sequência é antecipada pelo silêncio ou por um som em tom
mais baixo que, aos poucos, vai ganhando forma até preencher o contexto. Como consequência,
a música convida o público a se envolver com a narrativa e traz referências que os indivíduos
dentro e fora daquela cultura, poderão ativar em seu imaginário.
Raquel Rosenberg criou em 2012 o “Engajamundo” junto com quatro amigas de
faculdade. O “Engaja” é uma rede que já mobilizou mais de 2 mil jovens nas mais diferentes
causas. A repórter é Poliana Abritta. A música segue sendo empregada na reportagem e durante
a apresentação da entrevistada (Raquel), são introduzidos sons de instrumentos particulares da
região amazônica (viola, cavaquinho, cuíca, dentre outros), especificamente, o choro paraense.
O estilo teve origem no Rio Janeiro, mas ganhou destaque no estado através da rádio e se
espalhou.
A entrevista acontece em uma praia e durante a conversa de Poliana e Raquel, o
som ambiente é preservado, para maior ambientação. Enquanto acontece o diálogo, são
projetadas algumas imagens de paisagens da Amazônia e a trilha que reforça a cultura, volta a
ser empregada, com sons de instrumentos característicos da região. “A etimologia do sonus
varia da materialidade física e concreta do som até sua definição epistemológica à qual o
retroneologismo sonitas se aplica” (ERNST apud HENTSCHEL, 2019, p.9). Retro (prefixo) +
neologismo, significa algo novo a partir de coisas antigas, relação do som com as suas formas
de ser propagado, seja por tambor, batidas nas mesas e afins. Além da relação com as ondas
sonoras, que se propagam através do ar.
No desenrolar da narrativa, é citado a prisão de quatro brigadistas, acusados de botar
fogo na Floresta Amazônica. A sonorização ganha um tom de tensão, alinhado aos efeitos
sonoros de instrumentos característicos daquela cultura, como os tambores.
Ao final da matéria, a sonoplastia abre espaço para o som dos bichos. É criado um
clima harmônico, que traz leveza aos telespectadores. Também porque a personagem conta das
suas raízes e revela que não tem uma morada fixa, chegando a dormir em redes no meio da
24
Fade in: normalmente é aplicado no início onde o som começa relativamente baixo até atingir o seu volume
original. Disponível em:
http://www.usp.br/nce/midiasnaeducacao/oficina_radio/edicaosom_fadeinfadeout.htm.Acesso em: 06 de mar.
2021.
56
25
Carimbó: sonoridade de procedência indígena, aos poucos mesclada à cultura africana, com a assimilação das
percussões dos negros; e a elementos de Portugal, como o estalar dos dedos e as palmas, que intervêm em alguns
momentos da coreografia. Originalmente, em tupi, esta expressão significa tambor, ou seja, curimbó, como
inicialmente era conhecido este ritmo. Gradualmente o termo foi evoluindo para carimbó. Disponível em:
https://www.infoescola.com/danca/carimbo/. Acesso: 06 de mar. 2021.
26
Lundu: uma dança/canção trazida pelos africanos escravizados vindos de Angola e do Congo no final do Século
XVII. Disponível em: https://musicabrasilis.org.br/temas/lundu-origem-da-musica-popular-brasileira. Acesso em:
07 de mar. 2021.
57
Fonte: Seleção do autor via Adobe Premiere Pro 2020. Disponível em: https://globoplay.globo.com/v/8230907/
Fonte: Seleção do autor via Adobe Premiere Pro 2020. Disponível em: https://globoplay.globo.com/v/8230907/
Em seguida, a bailaria fala sobre a fome e nesse momento não há trilha sonora. Fica
evidente que a intenção da edição é reforçar o drama presente na voz de Dora enquanto conta.
A voz fica embargada e esse tipo de som remete a uma emoção muito forte que ainda marca a
pessoa. A personagem também criou um plano de segurança alimentar. Para ilustrar, são usadas
imagens de crianças se alimentando e da preparação da merenda. E são os efeitos acústicos que
59
que constroem a narrativa nesse momento. Exemplo: barulho do fogão acendendo, talheres
batendo no prato, som de panelas (sobe-som).
A reportagem também faz um recorte sobre a vida de algumas crianças que moram
em periferias da cidade e frequentam a escola de dança, que fica em uma área nobre. Começa
a tocar funk e, nesse momento, é notório a questão dos arquétipos e do processo cultural em
torno da musicalidade (FIG.16).
Fonte: Seleção do autor via Adobe Premiere Pro 2020. Disponível em: https://globoplay.globo.com/v/8230907/
4.5 Epílogo
Conceito Definição
CONSIDERAÇÕES FINAIS
27
Backgrounds (BG): Toda espécie de ruídos, músicas, vozes existentes por trás da gravação de áudio, que
acompanham a fala do apresentador ou do repórter.
28
Vocais: Relativo à voz ou aos órgãos da voz: cordas vocais. Música vocal, a que é escrita para ser cantada (por
opos. a música instrumental). Disponível em: https://www.dicio.com.br/vocais/. Acesso em: 08 de mar. 2021.
29
Ecad: Conecta compositores, intérpretes, músicos, editores e produtores fonográficos. Administrado por sete
associações de música, o Ecad centraliza a arrecadação e distribuição dos direitos autorais de execução pública
musical e é referência mundial na área em que atua. Disponível em: https://www3.ecad.org.br/ Acesso em: 08 de
mar. 2021.
63
si canções que determinam suas características. Através das análises apresentadas, constata-se
que a participação do som reforça a questão das identidades presentes nas narrativas. Muito tem
a ver com a abordagem do som como imagem, que diz respeito a materialização daquilo que se
escuta. E vai além, o ato de concretizar o abstrato, pode ficar mais evidente, utilizando-se da
tecnologia. Esta, que dá plasticidade aos efeitos sonoros e cria ao mesmo tempo, uma forma de
comunicação.
Conclui-se que que há uma manipulação semântica e afetiva por trás das
coordenadas televisivas. É a própria sociedade que cria o signo, mas aqui, me refiro a forma
como ele é construído, ressaltando as influências externas.
As frequências sonoras vibram no ar, quebram moléculas e atuam sob a estrutura
mental e corpórea humana. O som é um recurso de conectividade que engloba muito mais do
que uma simples nota executada, vai do ouvido ao coração. E mesmo aquele que não escuta,
consegue sentir as vibrações presentes na música. Isso porque o som está presente em todo lugar
e em todo momento.
65
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v. 1, n. 2, p.90-95, 2012. USP. Disponível em:
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66
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GLOBOPLAY. Seu filho aceitaria carona de uma pessoa que bebeu? Veja no 'Meu Filho
Nunca Faria Isso. Disponível em: https://globoplay.globo.com/v/8019740/. Acesso em: 03
de mar. 2021.
_____________. Meu Filho Nunca Faria Isso: seu filho tomaria alguma atitude diante de
um assédio sexual? Disponível em: https://globoplay.globo.com/v/8038877/. Acesso em: 03
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