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Belo Horizonte – MG
2019
MATEUS RIBEIRO DE OLIVEIRA GONÇALVES
Belo Horizonte – MG
2019
MATEUS RIBEIRO DE OLIVEIRA GONÇALVES
BANCA EXAMINADORA
exercício constante e muitas vezes desgastante, olhar para trás com o sentimento de gratidão
tem me permitido seguir adiante sem dívidas com o passado e livre para descobrir o novo do
futuro. É dessa forma que olho para todo esse tempo de graduação em Ciências Sociais na
Sou grato “a” e sou grato “por”. Sou grato a todas as pessoas que estiveram por trás
me apoiando, sem as quais seria muito mais difícil concluir essa etapa.
Sou grato ao Ensino Público Superior que, mesmo sob constante ameaça, ainda é o
Sou grato aos meus pais que, à sua maneira, sempre em amor, investiram parte de si
na minha formação. Meu pai sempre valorizou a educação e me passou tal valor desde a tenra
infância. Penso que o conhecimento é uma arma emancipadora e sou grato por ele ter me
ensinado a valorizá-la. Minha mãe, com seu otimismo e entusiasmo, sempre me encorajou a
persistir no caminho. Ambos me deram um grande apoio sacrificial para que eu me dedicasse
alegrias compartilhadas e por terem dado um novo sentido a essa etapa da minha vida.
todas as coisas e sustentou-me pelos meios mais diversos. Ele deu e continua dando sentido,
O presente trabalho é uma revisão de literatura em estudos na área das Ciências Sociais
desse grupo social, sua inserção no meio urbano, o envolvimento dessas pessoas no mercado
em atividades produtivas, suas formas de reprodução da vida social, a legibilidade por parte
do Estado brasileiro e como têm sido as abordagens das políticas públicas direcionadas a tal
marcada por uma condição de extrema pobreza no meio urbano, abarcada por políticas
ampliação e conexão entre os pontos da rede de assistência a esse grupo nos municípios é
públicas.
SUMÁRIO
Metodologia: ................................................................................................................... 4
Periferia de Centro – Inserção social das pessoas em situação de rua no espaço urbano:
........................................................................................................................................ 10
Estado: ........................................................................................................................... 28
Referências: ................................................................................................................... 58
Introdução e objetivo:
resultados de maior relevância apresentados por alguns autores das Ciências Sociais no que,
em função da frequência com que são abordados nos estudos consultados, diz respeito a
Dentre esses aspectos, apresento primeiramente, como tem sido definida a categoria
bibliografia traz como seus principais aspectos definidores. Nessa perspectiva, busco
rua, que abrange as relações afetivas, familiares ou não, a relação com o mundo do trabalho,
com o uso abusivo de álcool e drogas, condições de saúde e outros mais. Além de
características próprias ao grupo, apresento também sobre qual tem sido o lugar atribuído a
essas pessoas pela sociedade, assim como a representação construída pelo imaginário social.
Mais adiante me proponho a discorrer sobre a realidade desse grupo quanto ao seu
surgimento e inserção no espaço urbano brasileiro. Passo pelo que os estudos têm apontado
sobre a forma como esse grupo se coloca e apropria do espaço e como desenvolvem suas
dinâmicas sociais próprias e interagem com o mundo urbano ao redor. Nesse tópico também
apresento a perspectiva de alguns autores sobre os espaços social e simbólico reservados pelo
A seguir, busco em Pereira (2009) uma proposta de olhar para esse grupo que
ultrapasse os limites da produção. Trago sua perspectiva para o debate, pois é uma das
capitalismo, a autora dirige um olhar atento às formas de reprodução da vida nas ruas.
bibliografia apresenta sobre o modo como as pessoas em situação de rua são percebidas pelo
Estado. Proponho-me, nesse tópico, abordar os estudos sobre a legibilidade dessa população
Por fim, procuro apresentar como tem sido vista a intervenção estatal sobre o
fenômeno da situação de rua. Discorro a visão de autores sobre o que consideram ser os
principais aspectos das políticas públicas direcionadas a esse setor da população e trago como
exemplos três estudos realizados em cidades distintas, sobre formas de atuação do setor
público e privado no escopo da assistência às pessoas em situação de rua: São Paulo (De
Lucca, 2007), Porto Alegre (Krieger, 2012) e Rio de Janeiro (Dantas, 2007).
Metodologia:
capítulos de livros e livros integrais. Esse material tem em comum a abordagem na área das
seleção dos trabalhos teve relação com a frequência em que a temática específica abordada
pelos estudos aparecia no conjunto da bibliografia pesquisada. Quanto mais uma temática
específica apareceu como alvo de diferentes estudos, mais os estudos sobre essa temática
foram considerados para este trabalho. Na medida em que esses assuntos relacionados ao
e o diálogo entre os autores. Também foram escolhidos trabalhos que traziam algum relato
consultas na plataforma Google Scholar, com a tag “População em situação de rua nas
Ciências Sociais”. Essa pesquisa foi realizada entre os dias 26 de agosto de 2019 à 22 de
novembro do mesmo ano e os estudos foram selecionados a partir da ordem pela qual a
e, por consequência, como afirma Costa (2005), carregam consigo uma falta de
urbanas. Pereira (2009) a partir de uma perspectiva marxista, enxerga esse fenômeno como
uma das formas de manifestação das contradições do sistema capitalista de produção, onde a
por parte de uma minoria. A população em situação de rua configura um grupo invisível aos
olhos da sociedade e das políticas públicas, porém, está constantemente presente como parte
que integra o cenário urbano, espalhada por locais públicos de várias cidades (Figueiredo;
Guerra, 2016). Segundo Valencio (2008), a população em situação de rua carrega vários
estigmas que alimentam o processo de desfiliação e marginalização social por não possuírem
relações de utilidade social e serem vistos, segundo Castel (1997), como inúteis, fracassados
em diante. Constituem os “sobrantes, pessoas que não têm lugar na sociedade, que não são
integrados, e talvez não sejam integráveis no sentido forte da palavra” (Castel, 1997, p. 254).
É um grupo que “não tem acesso à moeda legal” (Bauman, 1997, p. 56), no sentido
em que Bauman (1997) descreve, quando se refere à lógica de uma sociedade centrada no
consumo, as pessoas em situação de rua são como jogadores incapacitados, e por isso acabam
por adaptar seus recursos de forma reconhecida ou não pela lei para garantir sua
independentemente de sua legalidade, outra possibilidade para esses agentes seria a de saírem
do jogo do mercado. Esta alternativa, segundo o autor, geralmente não é acatada em função
da “força sedutora do mercado” (Bauman, 1997, 56). Dessa forma, o pensamento de Bauman
converge com o que Wacquant chama de “criminalização da miséria” (Wacquant, 2001, p.
63), na medida em que o limite que define o que é lícito e o que não é ilícito não é o mesmo
para todos os indivíduos, sendo cada vez mais restrito de acordo com seu avanço ao grupo
A partir dessa perspectiva, esse grupo não possuiria espaço nem utilidade econômica
capitalista, e por isso, enquanto o proletário teria o poder de se organizar, reivindicar e até
mesmo receber o que exige, o sobrante não possuiria essa capacidade (Castel, 1997).
Consoante a isso, Pereira (2009) acredita que, aos olhos do mercado, a população em situação
de rua é um grupo que não possui qualificações para funcionar como exército industrial de
Por outro lado, diversos autores ressaltam que esse grupo possui e atua como força
produtiva no mercado, no que diz respeito à prestação de serviços, embora lhe seja negado
de ociosos e delinquentes, a maioria deles exerce atividade laboral autônoma, não podendo
ser classificados como pedintes ou mendigos por uma percepção superficial (Figueiredo;
Guerra, 2016). Ainda segundo esses autores, se trata de pessoas que afirmam ter uma
profissão, inclusive é frequentemente acionada como forma de marcar a identidade para além
populacional heterogêneo, composto por pessoas com diferentes realidades, mas que têm em
(Costa, 2005, p. 3). Dessa forma, são pessoas que podem ou não morar com pessoas da
própria família nas ruas e que geralmente possuíam alguma profissão, a qual tem bastante
relevância na constituição de suas identidades. Os motivos para seu estabelecimento nas ruas
podem variar desde rompimentos de laços afetivos, brigas familiares, fim de relacionamentos
conjugais, problemas com alcoolismo e drogas, até motivos econômicos, como perda de
emprego, de forma que tais perdas retiram do indivíduo uma perspectiva de vida. (Costa,
2005; Valencio, 2008; Figueiredo; Guerra, 2016). São diversos os motivos que levaram
pessoas em situação de rua a viverem dessa forma, variando de acordo com a história de vida
situação de rua. O primeiro grupo seria o das pessoas que ficam na rua, composto por pessoas
que, por exemplo, perderam o emprego há bastante tempo ou que migraram de cidades do
interior em busca de tratamento médico. O segundo grupo seria daqueles que estão na rua,
sendo pessoas que, por já estarem familiarizadas com o contexto de rua passaram a realizar
recicláveis, flanelinhas, lavadores de carro, etc. Por fim, o terceiro grupo seria das pessoas
que são da rua, composto por aqueles que já estão nesse ambiente há muito tempo, e por isso,
atingiram um estado de vulnerabilidade e degradação física e psicológica muito avançadas,
(Viana, 1992).
condições de vulnerabilidade social (Costa, 2005; Varanda; Adorno, 2004; Ferreira, 2007),
Varanda e Adorno (2004), os serviços públicos oficiais de assistência a essa população são
pouco utilizados, sendo que na maioria dos casos, essas pessoas buscam alternativas para
Dentro dessas alternativas, segundo os autores, estão formas de ocupação de vias e locais
públicos e até mesmo serviços de higiene pagos (Varanda; Adorno, 2004). Esse grupo acaba
sendo vitimizado em função desses problemas, que são frutos da constituição estrutural da
Costa (2005) percebe que dentro da grande propensão que esse grupo tem em
higiene e insalubridade as quais está exposto, a saúde mental dessas pessoas também tende a
transmissíveis, dependência química, entre outras (Ferreira, 2007; Gehlen, 2012; Dornelles,
2012).
Analisando o caso de Belo Horizonte – MG, tendo como base duas pesquisas de
caráter censitário, realizadas nos anos de 1998 e 2005 respectivamente, Ferreira (2007)
mental, causadas por doenças infectocontagiosas e até mesmo por violências. Segundo a
pesquisa do ano de 1998, analisada pelo autor, as pessoas em situação de rua que possuem
problemas psiquiátricos somavam mais de 18% do total, abrangendo aquelas que faziam uso
de drogas ilícitas e álcool e que são egressas de manicômios ou clínicas psiquiátricas. Porém
em 2005 percebe-se a mudança no quadro de distribuição dos problemas de saúde, sendo que
rua (Dornelles et al, 2012). Dornelles afirma isso após analisar o caso de Porto Alegre e
perceber que as categorias para medir os problemas de saúde, como “dores nos nervos” e
população dos cuidados de saúde básicos (Dornelles et al, 2012). Dessa forma, as expressões
dessas pessoas sobre seus problemas de saúde revelam a dimensão subjetiva da construção
desse problema através de suas experiências particulares (Dornelles et al, 2012) e também o
distanciamento dessa população dos cuidados básicos de saúde, o que a torna mais propensa
ao adoecimento.
Por sua vez, Gehlen e Schuch (2012) acreditam que, embora a situação de rua esteja
indivíduo, principalmente de saúde mental. Isso converge com o que afirma Valencio (2008),
sobre a ruptura afetiva com vizinhos, amigos e família serem mais um peso contra a pessoa
Periferia de Centro – Inserção social das pessoas em situação de rua no espaço urbano:
pessoas em situação de rua sempre teve relação com o processo de urbanização (Costa, 2005;
Figueiredo; Guerra, 2016; Pereira, 2009). Pereira (2009) observa que as alterações no modo
que levou ao agravamento das desigualdades sociais e dos conflitos, além de influenciarem
no papel do Estado quanto a alocação de seus recursos, na disputa por propriedade de terras,
situação de rua se faz necessário um resgate da história desses sujeitos e dos processos de
alteração dos espaços urbanos e rurais para a adequação ao modelo de produção capitalista,
além das consequências provocadas na estrutura das relações sociais nesse novo modelo
econômico, que, segundo Pereira (2009), tem perspectivas cada vez mais reduzidas de
integração social e no mercado de trabalho. Figueiredo e Guerra (2016) explicam que desde
vivendo nas ruas de forma conectada ao espaço urbano, embora não representassem uma
parcela tão significativa das populações dos municípios, como o é atualmente. Os autores
consideram que o processo de mudança para as formas de organização em cidades, as quais
econômicas e sociais. E passou a ser cada vez mais frequente a existência de pessoas
utilizando dos logradouros públicos como locais de habitação. Segundo os autores, esse
processo foi bastante intenso nos períodos das revoluções industriais (Figueiredo; Guerra,
2016). Segundo Magni e Günther, (2014), entre os séculos XIV ao XVI, os chamados
“mendigos” eram parte da população camponesa que migrava para as cidades por causa da
perda de suas terras. Essa população era regulamentada por leis de conduta nesse novo
contexto de organização social, e a barreira entre quem podia mendigar ou não passava pela
distinção entre o trabalhador e o vagabundo, demonstrando que, desde suas origens, existiu
população em situação de rua está diretamente ligada a aspectos que são característicos do
espaço urbano, que, segundo Caiado (1998), no caso brasileiro, em um contexto de sistema
capitalista periférico da segunda metade do século XX, foi formado com base em um modelo
metrópoles1. Como consequência, esse modelo gerou espaços urbanos segregados que
1
De acordo com Natalino (2016), um dos fatores mais importantes para se entender a existência de
população em situação de rua é o número de habitantes no município, que quanto mais elevado, maior a
tendência de o município possuir moradores de rua. Isso se relaciona ao contexto urbano, onde existem as
maiores concentrações populacionais.
1998). A autora também percebe que essa constituição do espaço urbano, fruto de um
processo segregacionista, cria uma ordem urbana legal e uma cidade real. A cidade real seria
o modelo como seguimentos da sociedade lançam mão dos recursos que possuem para
garantir a sua sobrevivência no espaço, e a esses recursos é atribuído pelo Estado e pela
sociedade um caráter de ilegalidade. Dessa forma, Caiado (1998) dialoga com Bauman
determinado grupo sobre outros, sendo que a integração social e econômica de outros grupos
“criminalização dos pobres” (Figueiredo; Guerra, 2016, p. 162), que é o desafio enfrentado
cabendo cinco (5) artigos aos mendigos e três (3) aos vadios” (Figueiredo; Guerra, 2016, p.
165). Os autores afirmam ainda que a distinção entre essas duas categorias não era
absolutamente clara, acreditando que o sentimento que está por trás desse processo de
trabalho, sendo que as políticas de segurança pública que criminalizam e reprimem esse
grupo são formas de proteger a sociedade daqueles que vão contra esses preceitos. Essa
59 confere pena de 15 dias a três meses às pessoas que são aptas para o trabalho, mas se
encontram em situação de ociosidade, e ainda é vigente hoje. O artigo 60, revogado apenas
há dez anos pela Lei nº 11.983, de julho de 2009, criminalizava a mendicância. O artigo 62,
ainda vigente, penaliza com prisão simples de 15 dias a 3 meses pessoas que forem abordadas
própria ou de outras pessoas. São então tidas como contravenções penais a ociosidade e a
embriaguez, ainda hoje na legislação penal brasileira, sedo que a mendicância deixou de ser
oficialmente criminalizada há pouco mais de dez anos. Como reflexo desse cenário
legislativo, a população em situação de rua continua sendo subjugada por práticas abusivas
estatal (Figueiredo; Guerra, 2016). Segundo Magni e Günther (2014), esse padrão de
legalidade reflete a forma com que o Estado exerce sua autoridade e seu controle social,
baseado em formas de repressão com atitudes truculentas e sustentadas por estigmas, tendo
pobreza, que está diretamente relacionada a essas situações de privação econômica e exclusão
aparecem de forma mais intensa (Villaça, 2011; Caiado, 1998), pois “a expansão urbana se
apoia numa sociedade com uma distribuição de renda bastante desigual” (Caiado, 1998, p.
458), tendo uma estrutura social urbana espacialmente fragmentada e segregada como uma
discorre que a condição de pobreza tem influência da trajetória individual de cada pessoa em
situação de rua, envolvendo migração, filhos, separações, prostituição, uso abusivo de drogas
etc.
A trajetória particular de cada um e a forma como a pessoa reage aos eventos aos
quais é exposta, antes ou depois de se instalar na rua, tem seu efeito no agravamento da
social do poder público e da sociedade civil” (Varanda; Adorno, 2004, p.61) é vista por vários
autores (Valencio, 2008; Varanda; Adorno, 2004; Costa, 2005; Natalino, 2016) como fruto
crescente desigualdade econômica, característica desse meio. Castel (1998) acredita que
desfiliação, assim como afirma Valencio (2008), sobre a situação de desamparo social e
para a existência de pessoas em situação de rua em diversos trabalhos (Broide; Broide, 2012;
Nectoux et al, 2012; Natalino, 2016; Valencio, 2008; Costa, 2007; Schuch, 2015). Também
Schuch (2015) percebe, além da pobreza, outras características que são usadas como
assistência.
A relação direta entre o surgimento de pessoas em situação de rua e a pobreza, como
afirma Pereira (2009), é evidenciada no debate teórico das duas temáticas, de forma que a
pobreza tem a situação de rua como uma das suas formas de manifestação e a população em
situação de rua é apontada como o segmento social que experimenta de forma mais intensa
A pobreza também, em grande parte da história do Brasil, foi tratada como questão
ocorre em função do contexto de escravidão, pelo qual o país se estruturou, e da forma como
pobreza carregam consigo traços raciais e étnicos. A população em situação de rua reflete
essa criminalização e esse estigma na medida em que são tidas como ameaça ao patrimônio
O livro “Somos um povo que quer viver livre”, da Organização do Auxílio Fraterno,
grupo religioso católico que atuava na cidade de São Paulo na segunda metade do século XX
com uma “prática missionária voltada aos mais destituídos” (Costa, 2007, p. 44), ajuda a
Para além da pobreza no contexto urbano, marcada pela segregação geográfica de grupos
mais pobres para as periferias das grandes metrópoles, a periferia a qual as pessoas em
situação de rua compõem se trata de uma periferia sociológica, e não geográfica (OAF, 1982).
Segundo o livro, a ideia da missão da OAF é para uma “periferia do centro” (OAF, 1982, p.
97), que no caso, considera que a população em situação de rua é constituída de pessoas que
não são notadas e têm sua presença escondida mesmo nas vias públicas (OAF, 1982),
perspectiva que converge com Costa (2007), na medida em que considera que são pessoas
peculiaridade quanto a grupo segregado no meio urbano, como parte de uma periferia do
centro, afetou os olhares de várias outras instituições e atores em diversos contextos, servindo
2005). Pereira (2009) adota a hipótese de que as pessoas em situação de rua seriam uma
oferta de mão de obra em uma proporção que não consegue acompanhar a demanda de
serviços. Esse cenário ainda é agravado pelo fato de que os moradores de rua geralmente não
possuem as habilidades requeridas para que possam ser absorvidos pelo mercado, em função
pessoas vêm se tornando ainda mais descartáveis ao mercado à medida que surgem novos
avanços tecnológicos, de modo que esses “sobrantes”, como citado anteriormente, já não
Desse modo, os moradores de rua deixam de ser funcionais ao mercado, não tendo
perspectiva de serem reinseridos em sua dinâmica, e passam a constituir uma espécie de
Porém, alguns autores focam suas análises no potencial produtivo que esse grupo
espaço urbano, para além dos estigmas e das atividades geralmente atribuídas à população
em situação de rua (Figueiredo; Guerra, 2016; Magni; Günther, 2004), embora não ignorem
seus resultados retrataram uma população predominantemente formada por homens (82%) e
negros (67%), sendo que nessa categoria de raça-cor a proporção de negros que compõe essa
população é bem maior que a proporção de negros no Brasil (50,74%), segundo o Censo de
20102. No que se refere à atividade remunerada, a pesquisa aponta que mais da metade da
população (52,6%) é composta por trabalhadores que ocupam o mercado informal, recebendo
entre R$20,00 e R$80,00 por semana. As ocupações são diversas, mas mais representadas
2
Em: <https://sidra.ibge.gov.br/tabela/3175>. Acesso em: 20 outubro 2019.
(3,1%). Segundo essa pesquisa, quase metade (47,7%) nunca teve vínculo formal de emprego
população em situação de rua quando, dentre outras informações, apresentam o dado de que
apenas 15% diz ter como principal fonte de renda para a sobrevivência a atividade de pedir
Outra questão que pode ser observada pelos resultados da pesquisa do MDS é a
sendo que 25% dos entrevistados não possuíam nenhuma documentação formal. Não apenas
em relação ao emprego formal, mas essa falta de documentação também dificulta o acesso a
baixo. De toda a população entrevistada, 75% sabia ler e escrever, metade tinha apenas o
sociais, e como isso pode promover inclusão e cidadania dentro da perspectiva da autogestão.
O trabalho das autoras enfatiza a importância das ações cooperativistas como alternativa a
pessoas excluídas socialmente e como uma forma de organização econômica eficaz em meio
instituições tem como modelo as cooperativas da Região Metropolitana de São Paulo, que
tiveram seus inícios por volta da década de 1990. Esse modelo é marcado pela parceria com
as prefeituras municipais, que oferecem recursos, espaços, entre outras ferramentas para o
por meio das cooperativas. Apesar do grande número de cooperativa que desenvolvem
parcerias com o poder público, o trabalho das autoras buscou relatar algumas experiências
de instituições que tiveram apoio de outros diversos atores, e como isso gerou uma
2004).
papel, Papelão e Material Reaproveitável de Belo Horizonte (ASMARE), que teve sua
contexto de grande luta por reconhecimento e inclusão, em face das políticas de repressão
das pessoas que transitavam ou moravam na região central da cidade (Magni; Günther, 2004).
de Belo Horizonte, juntamente com movimentos sociais diversos com uma organização da
própria população em situação de rua. Tal trabalho organizado foi visto pelas pessoas em
situação de rua como uma ferramenta para fornecer renda suficiente e se afastar das
cooperativa só foi possível em função da identificação dos próprios moradores de rua com o
projeto da Arquidiocese, sendo que refletia e incluía a diversidade das atividades já exercidas
de forma autônoma no contexto das ruas (Magni; Günther, 2004). A cooperativa começou a
ganhar reconhecimento e ser vista como relevante no que tange a questões ambientais no
município, em função da coleta de resíduos recicláveis. Segundo as autoras, a ASMARE
representou um modelo nacional de inclusão da população em situação de rua que tem como
Günther, 2004). Costa (2007) apresenta a importância da Igreja Católica e grupos religiosos
na origem dessas cooperativas, com o início de uma inquietação quanto à situação dos
moradores de rua nos anos 1970 por parte desses atores (organizações religiosas). Segundo
o mesmo autor, apenas por volta dos anos 90 é que esse grupo em situação de rua viria a ser
ações que visavam a inclusão social a partir do reconhecimento como grupo e da participação
cooperativa localizada na região central do município de São Paulo, tendo origem em 2004,
seus membros. Uma das ferramentas adotadas pela Cooper Glicério para conscientização dos
capacitação. Porém, em função do caráter de rotatividade de seus, esses cursos, que já são
esporádicos, acabam por abarcar um baixo número de pessoas, não sendo tão potentes quanto
parcerias com outras organizações que chegaram até mesmo a culminarem em um projeto de
observam que a COOPAMARE tem uma lógica bastante capitalista em sua autogestão, sendo
que os componentes desse grupo são vistos por si mesmos como donos da cooperativa.
benefícios que permitem ampliar o acesso dessas pessoas à cidadania (Magni; Günther,
2004).
Diante da análise das formas de organização de cada uma dessas três cooperativas e
de seus efeitos na vida das pessoas em situação de rua que têm como atividade laboral a
coleta de materiais recicláveis, Magni e Günther (2014) percebem um forte potencial dessas
organizações para inclusão social desse grupo. Além do aumento da renda e da estabilidade
de salubridade no trabalho. Também, para além de ser um meio que permite o acesso a
fenômeno da situação de rua que vai além da perspectiva da produção, que, segundo os
estudos realizados por ela, se trata da ótica predominante. Dessa forma, a autora passa a
abordar outras esferas que também foram afetadas pela dinâmica social do capitalismo e a
“o processo das contradições sociais não pode ser apreendido apenas através da esfera da
produção” (Pereira, 2009, p. 182). A autora percebe que há uma superposição das
precariedades e dos problemas sociais de diferentes naturezas, que podem ser tanto ligados à
produção (no que se refere às condições e relações de trabalho), quanto ligados à esfera da
reprodução da vida, abarcando o que ela chama de condições de moradia e urbanidade. Dessa
forma, a autora apresenta sua discussão sobre a população em situação de rua apontando
sociais precárias, tanto dentro quanto fora do âmbito do trabalho. Dentro, pois o sistema
restringe cada vez mais o núcleo de trabalhadores, substituindo mão de obra humana por
precária, sem acesso à moradia, lazer, saúde e outros direitos básicos (Pereira, 2009).
Seguindo essa lógica, a autora evidencia o fenômeno da população em situação de rua com
o conjunto das condições sociais de existência, que segundo ela, sofre influência de um
de rua não poderia ser compreendido de forma isolada, pois o morador de rua é precarizado
da lógica de produção capitalista (Pereira. 2009), que foi denominada por Marx como
sociais, os quais servem de força motriz para a crise no sistema. Ao analisar a Inglaterra
durante o processo de nascimento da indústria, Marx identifica que a crise social posterior,
manufatura não era capaz de absorver essas pessoas na mesma velocidade com que ocupavam
os centros urbanos, gerando uma ocupação urbana extremamente precária (Marx, 1984). De
acordo com Pereira (2009), desde o século dezenove a questão social tem sido colocada em
escravagista, sendo que grande parte dos segmentos da população não foi incluída nos setores
industrial ainda em seu começo, a questão social já se fazia presente pelas péssimas condições
primitiva de capital se tornou mais intensa e mais abrangente, fazendo aparecer ainda mais
de 70 e 80 (Pereira, 2009).
Depois de todo esse apanhado, fica evidente para Pereira que “a existência da
capitalismo” (Pereira, 2009, p. 191), que revela marcas um grande processo baseado na
desigualdade social. Pereira (2009) acredita que o fenômeno da situação de rua se relaciona
emprego nas cidades, que são destino desses migrantes, gerando um excedente de mão-de-
social e locacional. Outros fatores, como catástrofes naturais, guerras, epidemias, mudanças
políticas etc., são fatores que também podem explicar a situação de rua, porém, a migração
em função da expropriação de terras por parte das indústrias e a escassez de empregos são
Centro-Sul do país, mais especificamente no entorno da cidade de São Paulo, sendo que, em
um momento inicial, a maior parte dos migrantes eram originados do Nordeste. Futuramente,
A partir dessa perspectiva, o fenômeno de rua também é percebido pela autora como
uma expressão da desigualdade social e da extrema pobreza, sendo estas um produto histórico
autora, está vinculada à acumulação primitiva, que, por sua incapacidade de absorver o
exército industrial de reserva gera excedentes que jamais serão absorvidos. Por sua vez, esses
excedentes são excluídos do processo de produção e passam a reproduzir suas formas de vida
“Dessa forma, pensar os moradores de rua nos reporta a pensar como estes se
inserem nesta categoria” (Pereira, 2009, p. 200). E sua inserção no contexto de rua passa por,
particulares de mundo (Pereira 2009). A apropriação do espaço varia também de acordo com
uma diversidade na forma de ocupar o espaço e reproduzir a vida na rua (Pereira, 2009).
contextos e estarem presentes em vários segmentos, alguns deles citados pela autora, nos
quais: “trabalhadores, migrantes, mendigos, pessoas vítimas de maus tratos, portadores de
rua”. Pereira aposta em uma perspectiva ampla na análise desse grupo, com o foco nas
pessoas em seus respectivos estados de vulnerabilidade que a rua às expõe, gerando também
uma identificação por parte do grupo atendido com as políticas propostas. Essa seria uma das
2009).
Estado:
nos trabalhos sobre o tema é a barreira quanto à mensuração dessa população e à legibilidade
diante do Estado (Ferreira, 2007; Natalino, 2016; Schuch, 2015). Schuch (2015) apresenta a
dos sujeitos tornaria possíveis as intervenções do Estado, seja para a finalidade de controlar,
população e sua organização pelo território e atuar sobre ela, o Estado tem sua influência
enfraquecida diante de populações mais marginalizadas social, econômica e espacialmente,
por suas técnicas de mensuração e legibilidade não serem compatíveis com as realidades
subalternas. Dessa forma, esses grupos subjugados acabam, por um lado, sendo alcançados
de forma insuficiente ou até mesmo não alcançados pelas políticas públicas. Por outro,
organizarem socialmente para garantirem sua existência (Schuch, 2015). Isso, segundo a
Porém, a autora ressalta que ocorre um perigo de simplificação da realidade observada pelas
pesquisas censitárias, de forma que apenas aspectos relevantes aos olhos dos organismos
possibilidades do governo, segundo seus interesses (Schuch, 2015). Por outro lado, a autora
ressalta que no caso da população em situação de rua, a inscrição política (ainda que esse
grupo esteja ao olhar limitado do governo) possibilita que esse setor da população participe
Brasil, Schuch (2015) demonstra que esse processo não teve participação apenas das
teve como pano de fundo um cenário de redemocratização, o qual concentrou esforços para
a modificação da arena política e as narrativas no âmbito dos direitos humanos. Ela traz como
elas, um movimento que teve início em meados de 1991, denominado “Movimento dos
Direitos dos Moradores de Rua”, com o objetivo de debater problemas enfrentados por esse
juntamente com a organização não governamental Alice. Esse fórum deu abertura para o
cidade de Porto Alegre. Uma iniciativa dessa articulação que também deu bastante
visibilidade à população em situação de rua foi a criação do Jornal Boca de Rua, que
movimentos sociais muitas vezes são peças importantes na promoção dessa visibilidade ao
cuidado estatal, como é o caso, além dos movimentos citados anteriormente, do Movimento
Nacional da População em situação de rua (MNPR). Tal movimento foi criado como resposta
a um evento de extrema violência a pessoas em situação de rua, que ficou conhecido como
“Massacre da Sé”, ocorrido em São Paulo, no ano de 2004, onde mais de dez pessoas foram
assassinadas ou feridas por ocuparem os espaços públicos como locais de moradia. O MNPR,
(Schuch, 2015).
Uma das principais formas que esses movimentos utilizam para promover cidadania
a esse segmento da sociedade é incentivando que as pessoas se informem sobre seus direitos
reivindicação que elas possuem diante do poder público, nos caminhos de uma luta política.
Schuch (2015) exemplifica que, nos encontros do MNPR, era incentivado que as pessoas em
situação de rua pudessem “aprender não mais a ‘pedir’, mas ‘exigir’ direitos” (Schuch, 2015,
p.12). A autora percebe, por relatos de participantes do movimento, que também é enfatizado
assistência à população em situação de rua, para saberem como acessá-las quando necessário.
Nesse caminho de conscientização de direitos, parte dos esforços desses movimentos também
se concentra na divulgação dessas informações para a sociedade civil, tanto sobre os direitos,
O MNMR, tirado como exemplo de movimento social em prol dos direitos das
pessoas em situação de rua, traz uma nova perspectiva sobre a composição dessa população
e suas características definidoras. Ele diverge da definição proposta pelo Decreto nº 7.053,
que enfatiza o caráter dependente e despossuído desse público. Schuch (2015) percebe que a
perspectiva do MNMR apresenta uma autodefinição que não é marcada por faltas e perdas,
mas traz com maior evidência o potencial de agência política desse grupo, como pessoas
mais justa que garanta direitos e a dignidade humana para todos. Esses homens e
atores, ao mesmo tempo em que reivindicam assistência sobre as condições precárias às quais
são expostos, lutam também pelo direito à rua como parte da composição de suas cidadanias
(Schuch, 2015).
esse grupo é caracterizado aos olhos do poder público, pode expressar a maneira como as
políticas públicas encaram e lidam com as pessoas em situação de rua. Dessa forma, as
públicos limitam também as formas de assistência a essa população e podem acabar gerando
uma perspectiva muito homogênea da parte do Estado, que consequentemente irá dirigir suas
ações. Quando Schuch (2015) coloca em comparação as duas óticas de definição dessa
população (uma do Decreto n° 7.053 e outra do MNMR) ele ressalta que é importante
assinalar as diferenciações conceituais porque fica ainda mais evidente a luta política
que compõe o grupo das pessoas em situação de rua, em busca de práticas de governo que
desse público, existe uma luta do MNMR para a inserção desse grupo nos censos nacionais
da população brasileira (Schuch, 2015). Essa luta por visibilidade diante das pesquisas
movimento, mas de uma luta por reconhecimento, pois é uma forma de “registrar
oficialmente uma população flutuante e inscrevê-la como alvo de atenção das políticas
situação de rua, por não possuírem endereço fixo, ficam de fora das pesquisas oficiais que
partem do domicílio como unidade de análise. A condição habitacional peculiar desse grupo
informações sólidas para estudos e desenvolvimento de políticas públicas sobre esse grupo
conhecimento dos sujeitos, sua localização, métricas e padrões – lhes limita o acesso ao
logística de campo e de abordagem em pesquisas com populações sem domicílios fixos, pois
demandam um padrão bem diferente do usualmente utilizado por essa instituição (Natalino,
2016).
mensuração censitária dessa população, comparando dois relatórios finais de pesquisas com
o foco no município de Porto Alegre: a primeira, executada por uma equipe de profissionais
pela Fundação de Assistência Social e Cidadania (FASC), realizada em 2011. Esses desafios
demonstram um aspecto quanto à organização social desse grupo, que deve ser considerada
na hora de realizar esses estudos. Em comparação com a primeira pesquisa (UFRGS), na
pesquisa. Isso, em primeiro lugar, pode ser explicado pela diferença na composição da
organização política dos moradores de rua, que teria levado a um conflito quanto à questão
levantamentos censitários, sendo que os movimentos sociais que representavam esse grupo,
de rua na cidade de Porto Alegre, quando comparada com outros municípios de mesmo porte.
A autora também observa que há uma resistência quanto às pesquisas acadêmicas que, de
acordo com o que os representantes dos movimentos denunciavam nos fóruns, não
Ferreira (2007) aponta que os censos realizados no Rio de Janeiro (1999), em Porto
Alegre (1998-99), Belo Horizonte (1998 e 2005), São Paulo (2000) e Recife (2005) tiveram
maior destaque dentre várias tentativas de inserir um caráter censitário nos levantamentos
aprofundamento do entendimento sobre esse setor da sociedade, uma dificuldade que surgiu
comparação desses dados e sua utilização para observar uma realidade mais ampla, sendo
que o próprio conceito de população em situação de rua não teve um consenso claro entre as
assistência desse segmento para desenvolver melhor os conceitos e traçar políticas de âmbito
em situação de rua (Natalino, 2016). Esse trabalho apresenta algumas iniciativas de grande
Segundo Natalino (2016), essa pesquisa possui dados confiáveis, porém a cobertura é baixa
e esses dados são pouco atualizados. Um apontamento feito por esse estudo é sobre os
levantamento de dados sobre moradores de rua. Quase sempre são os governos municipais
quem ficam a cargo de desenvolver formas de assistir a esse grupo (Natalino, 2016). Nesse
órgãos municipais de assistência social ou por outras instituições municipais, como no caso
do Censo da População em Situação de Rua da cidade de São Paulo, realizado pela Fundação
Recife, Belo Horizonte e Brasília possuem algum tipo de estudo ou levantamento sobre o
grupo de pessoas moradoras de rua nos limites de suas cidades (Natalino 2016). No Brasil, a
maioria dos municípios não possui algum tipo de estudo sobre sua população em situação de
rua, mas aqueles que comportam o maior contingente populacional desse grupo geralmente
possuem, em função desse problema social ser mais latente nesses grandes centros urbanos
(Natalino 2016). Porém, o estudo do IPEA (2016) aponta um viés na utilização desses dados
até mesmo quanto à padronização de cada pesquisa para uma análise em âmbito nacional.
Outra fonte de informações observada pelo estudo do IPEA é o Cadastro Único para
Programas Sociais do Governo Federal, que até 2016 possuía 48,351 pessoas em situação de
rua cadastradas (Natalino, 2016). Uma de suas vantagens é que sua base de dados cobre todos
os municípios brasileiros, porém, possui um claro viés de subestimação por apenas contar
pessoas em situação de rua que foram cadastradas (Natalino, 2016). Após a estimativa feita
pelo IPEA em 2016, notou-se que apenas 47,1% da população em situação de rua estimada
Apesar de todos esses esforços para tornar a população em situação de rua legível
ao Estado, a partir de formas de mensuração tradicionais, Schuch (2015) faz uma ressalva
que as informações levantadas ainda são “‘mapas abreviados’ que simplificam, padronizam
dessa forma geram uma realidade facilmente legível, seguindo uma lógica de objetividade e
receberem o olhar estatal. Dessa forma, a autora afirma que “o Estado também é
transformado e produzido nesse processo” (Schuch, 2015, p. 19). Ela afirma isso a partir do
práticas de mensuração e legibilidade fazem mais do que possibilitar o governo, por meio de
informações que permitem ao poder público conhecer seu foco de atuação, mas gera também
uma consciência cidadã, na medida em que abre espaço para questionamentos, críticas e
2014; Varanda; Adorno, 2004). Foram poucos os esforços em conhecer melhor esse grupo
para que se pudesse direcionar políticas públicas adequadas. (Magni; Günther, 2014). Como
demonstra a divisão feita por Viana (1992), a diversidade dessa população deve ser
considerada nas ações estatais que se dispõem a lidar com as pessoas em situação de rua,
visando a inclusão social e econômica desse grupo, para que a solução encontrada tenha
abrangência máxima (Magni; Günther, 2014). E essas soluções, segundo Varanda e Adorno
têm relação com a interação dessa população com processos institucionais, de forma
assistência social, os quais tornam a pessoa em situação de rua inapta para receber algum tipo
de benefício. Um exemplo disso é a falta de documentação necessária para poder ter acesso
não apenas este, mas vários outros problemas sociais como fatos isolados. E acabam por não
levar em consideração o fato de esses problemas estarem ligados a uma estrutura que
reproduz e perpetua desigualdades (Costa, 2005). Silva (2015) observa que a tendência é de
uma massificação de respostas que em sua essência deveriam ser encaradas como
emergenciais, mas são tidas como políticas permanentes de assistência, como no caso da
construção de albergues.
âmbito da segurança pública ou da saúde. No primeiro caso, essas políticas não são voltadas
para a proteção dessas pessoas, mas ao contrário, para sua criminalização, o que demonstra
determinado nível, na ala dos inimigos comuns da sociedade. No segundo caso, o aspecto da
saúde também aparece diretamente associado à população em situação de rua. Seja por uma
precarização da saúde, seja por um estigma, muitas vezes as políticas públicas de assistência
a essa população são executadas exclusivamente através de políticas de saúde pública. Nesses
dois casos, além do caráter reducionista dessas políticas, elas correm o risco de serem
encaradas de forma equivocada e aplicadas com repressão e isolamento. Silva (2015) dá dois
usuários. Outro exemplo no âmbito da segurança pública, trazido pelo autor, foi o Choque de
ação que atenda à população em questão, é a sua heterogeneidade e complexidade, que tende
a se ampliar à medida que a população em situação de rua cresce. O autor denuncia que ações
acredita que essa tem sido a forma com que os governos têm encarado as políticas para o
fenômeno da situação de rua (Silva, 2015). Ele exemplifica apresentando o argumento de que
o público de usuários de drogas pesadas (como o crack) tem sido identificado com a situação
de rua. Isso frequentemente leva o poder público e a sociedade a associar o uso abusivo de
crack e o tráfico com a situação de rua, vinculando de forma direta as pessoas em situação
Outra forma utilizada pelo poder público para mascarar o problema social da
populações que ocupam áreas que são alvo de políticas de “enobrecimento”, e que não
possuem condições financeiras para arcar com outras formas de habitação. Porém o que são
oferecidos a essas pessoas desalojadas são espaços para estadia provisória, no lugar da
garantia do direito à moradia (Silva, 2015). Para o autor, essas propostas não passam de
Valencio, 2008; Costa, 2007). Valencio (2008) exemplifica essas ações com um caso
ocorrido em São Paulo, no ano de 2008. A autora relata, segundo uma reportagem coletada
por ele no Jornal Folha de São Paulo (Sangiovanni, 2008 apud Valencio, 2008), que a
no período da noite para se aquecerem (Valencio, 2008). Acontece que o bairro onde esse
motivação principal para essa desapropriação (Valencio, 2008). Todas essas práticas de
social no espaço público presente em diversas partes do mundo. Dessa forma, a globalização
impacta o espaço público com adaptações locais de formas de segregação, que são
Valencio (2008) aponta para o fato de que toda essa situação é fruto de uma
confluência de aspectos da vida pública com aspectos da vida privada acaba por aumentar o
desamparo dessa população quanto a serviços básicos, pois estes (habitação, educação,
alimentação, saúde, água, energia etc.) são transformados em mercadorias (Valencio, 2008).
Silva (2015) considera que a situação de rua é uma violação aos direitos humanos, por ser
têm sido encaradas no país, segundo Valencio (2008), não são pautadas no direito da pessoa
humana, mas sim na lógica do mercado, que atribui boa parte da vulnerabilidade à escolha
individual.
territorialização precária (Valencio, 2008). Além disso, é uma população que sofre de um
negando-lhe direitos humanos básicos (Silva; Costa, 2015). Vistos muitas vezes como
ameaça à ordem pública, moradores de rua são alvo de políticas baseadas na força coercitiva
à ordem pública ao invés de ser visto como ameaçado por esta” (Valencio, 2008, p. 572).
esse grupo, que geralmente têm caráter assistencialista, tais ações aparecem como um
“espaço de travessia para o acesso às demais políticas públicas” (Costa, 2005, p. 8), e muitas
vezes são fontes únicas de acesso a alguns itens de necessidade básica para a pessoa que mora
constantemente, em boa parte dos casos, pela insuficiência das ações do Estado (Costa,
confessionais diversas, atuam com ações de assistência social, que formam uma rede de
a partir de uma rede composta frequentemente por instituições ligadas ao poder público e,
instituições filantrópicas (Costa, 2007; Ferreira, 2007; Krieger, 2012). Costa (2007) analisa
o caso da cidade de São Paulo que, segundo ele, é a principal referência nacional sobre o
lidar com esse grupo vem de um diálogo com diversas instituições que formam uma ampla
rede de assistência a esse público, diálogo esse que acarretou o aprimoramento das técnicas
de abordagem, dos olhares e dos serviços (Costa, 2007). Toda essa interação culminou na
Lei 12.316/97, que segundo as Supervisões de Assistência Social do estado de São Paulo,
sociais” (SAS, 2001, p. 7). Dentro desse objetivo está incluída a construção de abrigos para
do sujeito em situação de rua para cumprimento do objetivo da lei (Costa, 2007). Uma das
coisas que o autor observa de relevante nessa lei é que ela incentiva a atuação em rede das
políticas públicas de assistência à pessoa em situação de rua, na medida em que aciona vários
tipos de serviços que são prestados por diversas instituições que constituem essa rede, além
respeito da lei, avança na medida em que o usuário se afasta das ruas (Costa, 2007).
apontadas na lei, apenas uma parcela delas é executada. Porém, outros serviços e assistências
que não estão especificados são executados, e frequentemente por organizações e instituições
que não possuem vínculo com o poder público municipal. Dessa forma, a rede oficial é
Embora essas outras formas de apoio sejam vistas complementam a rede oficial, os principais
um sistema de transporte que era acionado para recolher e encaminhar moradores de rua e
praticamente todas as instituições da rede, onde dados eram armazenados e difundidos sobre
os usuários dos serviços da rede, e também onde era registrado o histórico dos procedimentos
que os principais pontos da rede da cidade de São Paulo se localizam nas regiões mais centrais
da cidade, reforçando a afirmação de que esse segmento se trata de uma periferia de centro
moradias provisórias, que funcionavam como residências coletivas e são conveniadas com o
poder público municipal, porém tiveram suas origens em instituições religiosas. Dentre esses
serviços durante o dia e os usuários da rede tinham acesso a banheiros, refeitórios, chuveiros,
situação de rua, e no caso da cidade de São Paulo, todos possuíam vínculo com o poder
público, sendo apenas um com o estado e os demais com o município. Nesse contexto, os
albergues têm um papel essencial na proteção contra o frio em períodos de inverno, que é
frequentemente causa de morte entre esse grupo, porém ainda não eram suficientes para
abrigar toda a população em situação de rua vulnerável às temperaturas baixas dessa época
população em situação de rua constituída por uma rede de serviços diversos, prestados por
integração e expansão dessa rede e de criação de novos convênios, na medida em que surgem
organizações que prestam serviços aos usuários cadastrados nesse sistema. De acordo com o
autor, a forma como esses serviços de assistência foram estruturados contribuiu para a
situação de rua em São Paulo, até a época em que o estudo foi realizado a principal referência
para políticas dessa natureza no Brasil, a partir de grandes instituições impessoais que oferece
a cidade de Porto Alegre. O órgão responsável pela gestão da Assistência Social no município
MDS. Seus esforços são baseados no objetivo de detectar os problemas sociais e produzir
ações reparadoras para inclusão socioeconômica de toda a população do município. Desde
Socioassistenciais. Dessa forma, seus serviços foram distribuídos em três níveis: básico,
Social (CRAS) do município, que são distribuídos pelas regiões da cidade. A proteção social
no nível especial é dirigida a pessoas e grupos em situação de risco pessoal ou social, por
estão aqueles de atendimento diurno à população em situação de rua e idosos. Esses serviços
são materializados através de uma Casa de Convivência, um Centro POP, um centro do idoso,
semelhança à cidade de São Paulo (Costa, 2007). Os serviços de proteção de média e alta
Assistência Social. Porém, o autor observa que o município de Porto Alegre já demonstra
uma preocupação com o fenômeno da situação de rua há algum tempo, e destaca que foram
Assistência Social em Porto Alegre, que são direcionados a pessoas em situação de rua, se
população com o objetivo de qualificar a sua rede de atendimento. Seguindo esse objetivo,
foi realizado um Censo no município em 2011, como parte das ações previstas no Plano
Municipal de Enfrentamento à Situação de Rua. Por esse trabalho, observa-se também que
as ações da Prefeitura de Porto Alegre tiveram a intenção de “propiciar condições para que
as pessoas consigam sair das ruas e viver com autonomia e dignidade”. Um aspecto
interessante é que a gestão abre espaço para que representantes desse grupo participem na
construção dessas políticas. Além disso, as ações foram executadas de forma conjunta,
diversas secretarias e órgãos públicos nos serviços de assistência e proteção. Por exemplo, a
aos abrigos e proporcionar formação para abordagem dos educadores a esse público. Da
situação de rua.
Políticas públicas voltadas para População em Situação de Rua no município do Rio
Dantas (2007), como um outro exemplo de aplicações de políticas públicas para população
em situação de rua no contexto brasileiro. A autora descreve a população da cidade com base
em uma pesquisa realizada pela Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS), no ano
população em situação de rua do município do Rio de Janeiro no ano de 2006 era composta
trabalho” (Dantas, 2007, p. 67). Dantas (2007) acredita que, segundo os dados da pesquisa
Mas o que foi observado nas ações do Poder Público do município direcionadas a
essa população se diferencia do município de São Paulo e de Porto Alegre, onde se observa
filantrópicas. Dantas (2007) destaca que as políticas no Rio de Janeiro eram caracterizadas
pela descontinuidade de seus programas, assim como por não possuir uma integração
suficiente entre os diferentes setores envolvidos e por estabelecer uma relação conflituosa
entre organizações da sociedade civil. A autora também aponta que as ações do governo
2007).
Como exemplo de políticas repressivas e violentas, está o projeto Zona Sul Legal,
criado em 2003 por uma parceria entre a Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro com a
população em situação de rua da Zona Sul, local onde se apresentava de maneira mais visível
(Dantas, 2007). Dentre essas medidas, também estava a Operação de Controle Urbano,
Municipal e a Companhia Municipal de Limpeza Urbana do Rio. Essa operação teve suas
ações consideradas violentas pelas ONG’s que trabalham com pessoas em situação de rua, e
eram justificadas com a prerrogativa de limpar os lixos das ruas através do recolhimento de
pertences e documentos pessoais, e até mesmo medicamentos de uso dos moradores de rua
(Dantas, 2007).
tentativa de reverter esse quadro. De acordo com o que é apresentado no trabalho de Dantas
(2007), o órgão da Prefeitura do Rio que era responsável por se atentar a questões de
assistência social era a SMAS. O órgão tinha o foco de assistir pessoas em situação de
vulnerabilidade pessoal e social, tendo como público alvo um grupo constituído por crianças,
adolescentes, jovens famílias e idosos (Dantas, 2007). A função da SMAS era garantir que
essas pessoas tivessem acesso pleno às políticas públicas focadas nas áreas de assistência
básica em saúde, educação, habitação e lazer, esporte e cultura, como forma de promover a
inclusão social de pessoas expostas em situação de pobreza. Em 2005 a SMAS passou a ter
longo prazo para execução. Dentro das metas de curto prazo estabelecidas, com maior
os serviços ofertados” (Dantas, 2007, p. 68). A terceira tem a ver com uma responsabilização
Com essas metas de atuação, Dantas (2007) observa que a Secretaria de Assistência
Social do município tinha como foco inicial o mapeamento da população em situação de rua
atuação do poder público integrada com os demais serviços disponíveis na cidade, o que se
relaciona profundamente com as metas de médio prazo com previsão para cumprimento até
2010. Tais metas estabeleciam suas ações com vista a promover uma intersetorialidade e a
2007).
seguem o mesmo caminho das outras duas classes. Possuíam uma forte ênfase na
consolidação e na continuidade dos projetos, propondo o estabelecimento de uma rede de
questões referentes aos Direitos Humanos. Outro aspecto que demonstra uma progressão das
metas anteriores é o foco no monitoramento demográfico dessa população, como uma forma
de estabelecer referências para atuação do poder público. Dentre as metas de longo prazo,
com o objetivo de subsidiar os programas de assistência social, podendo servir também como
Assistência Social (CRAS). As CAS atuavam como o primeiro contato dos usuários com os
serviços de assistência prestados pela SMAS. Até a época do estudo realizado pela autora,
havia um total de dez unidades das CAS espalhados pela cidade do Rio de Janeiro. Essas
projetos que se pretendem realizar dentro da área de abrangência de cada unidade. Além
(CRAS). Os CRAS estavam distribuídos pelas dez unidades das CAS, e atuavam como centro
de articulação da rede social, tendo como principal função o atendimento à política de
Social (SIMAS), que permite monitorar a forma como as políticas estão sendo aplicadas, para
que não houvesse sobreposição das ações efetivas de combate à pobreza e à exclusão social
ou a ausência delas. Esse sistema possuía abrangência ampla, cobrindo toda a rede e todos
os serviços das secretarias setoriais que prestavam atendimento social nas áreas de
Química” (Dantas, 2007, p. 69). O SIMAS colabora com o objetivo de criar uma rede ampla
de serviços de assistência social de forma que haja complementariedade nas relações das
e ao controle das ações relativas à Assistência Social no Município do Rio de Janeiro (Dantas,
2007).
(2007) aponta que o programa tinha como objetivo a reinserção do indivíduo na sociedade,
equipamentos para atender e abrigar a população, e possuía espaços que serviam como
abrigamento para públicos alvo distintos, como centros de acolhimento, centrais de recepção,
casas de acolhida, casas lares, repúblicas de jovens, hotéis acolhedores, entre outros. O
A SMAS possuía seis centrais de recepção distribuídas por toda a cidade. Essas
centrais teriam a função de portas de entrada para as pessoas que buscam por assistência e
teriam como função recepcionar, identificar, acolher e encaminhar a população para a rede
em situação de rua: dentre as seis centrais de recepção, cinco eram voltadas a esse público.
Já as casas lares eram direcionadas às pessoas que já estavam, como apresenta a autora, na
“porta de saída” (Dantas, 2007, p. 71). A autora atribui esse termo às pessoas que já estão
quase totalmente recuperadas e prontas para inclusão social. As pessoas abrigadas nas casas
lares passavam por um acompanhamento de assistentes sociais, que trabalhavam para auxiliar
cidadania (Dantas, 2007). Os hotéis acolhedores possuíam um público parecido com o das
casas lares, porém abrigava famílias e adultos que já estavam prontos para o retorno à
social e por educadores, sempre visando a integração social desses sujeitos (Dantas, 2007).
Apesar das tensões existentes entre o poder público e a sociedade, algumas parcerias
de extrema importância para ampliar a frente de atuação da SMAS foram viáveis. Uma dessas
parcerias resultou no projeto “Ônibus Acolhedor”, realizada com o Rio Convention Bureau,
uma instituição ligada à rede de hotéis do município. Esse projeto tinha o objetivo de acolher
e a sociedade civil o projeto “Boa Noite”, fruto da parceria entre a AMAS e a Central de
Oportunidade, fornecendo pernoites a trabalhadores informais que não tinham como voltar
para suas casas no mesmo dia, revelando assim outro subgrupo entre os moradores de rua; o
projeto “Agora só falta você”, com o objetivo de incluir no mercado de trabalho a população
Dantas (2007) chegou à conclusão de que algumas áreas básicas ainda eram
atendidas de forma precária - ou nem mesmo isso -, como é o caso da saúde, da educação e
do trabalho. A autora observou que ainda prevalecia a cultura dos albergues e das políticas
assistencialistas, e que existiam poucas propostas que visavam capacitar e inserir o indivíduo
atividades organizadas pelas ONG’s, exemplificando com o evento realizado pelo Fórum
Permanente Sobre População Adulta em Situação de Rua do Rio de Janeiro, chamado “4º
Seminário sobre População Adulta em Situação de Rua – Propostas para uma política pública
de saúde”. Esse evento contou com a aprovação e o apoio do Instituto de Psiquiatria da UFRJ
programa Rede Acolhedora. Esse evento demonstrou que, de alguma forma, as unidades de
saúde do estado e do município se interessam pela interação com essas ONG’s e reconhecem
a experiência acumulada dessas instituições em meio ao trabalho com pessoas em situação
Considerações Finais:
composta por uma diversidade de pessoas com trajetórias particulares e vindas de contextos
que, para além de trajetórias marcadas por situações de perda e abandono nos mais diversos
âmbitos: família, trabalho, relacionamento conjugal etc., manifestam uma condição social.
Muito mais que trajetórias individuais, não descartando a importância delas para a
manifestam vinculadas à coletividade das pessoas em situação de rua, o que faz desse grupo
condição de desfiliação social e estatal, com garantias básicas para a sobrevivência e direitos
iniciado juntamente com a história do país. O fato de a população em situação de rua ser
desigualdades estruturais presentes no Brasil, não sendo por acaso que está presente
principalmente nos centros urbanos. O fato de ser um grupo difundido nas grandes
metrópoles, sendo estas referências de modernidade e desenvolvimento econômico,
fenômeno da situação de rua aparece como uma expressão da extrema pobreza no meio
formação do Brasil.
perpetuar a exclusão social e econômica pela qual essas pessoas passam. O aspecto higienista
Porém essas pessoas são muito mais que meros produtos do sistema, tomando um lugar de
repressão que sofrem. Dessa forma, esse grupo passa ser visto para além da falta.
Estado falha na legibilidade desse grupo. Com a urbanização sendo cada vez mais
intensificada, a realidade da situação de rua tende ser cada vez mais presente no contexto
rua precisam ser adaptadas a essa nova realidade, pois se trata de uma necessidade urgente.
consideradas.
Diante da condição de desamparo ao qual a população em situação de rua se
em lidar com a pobreza e a desigualdade. O que se observa também através dos estudos
consultados nesse trabalho é uma tendência de atuação em rede dessas iniciativas, sendo que
o poder público consegue desempenhar melhor seu papel de garantir acesso a direitos básicos
de redes sobre a atuação dessas instituições, suas articulações com o poder público e entre
elas próprias, o lugar delas no cotidiano das pessoas em situação de rua e como se dá suas
interações com os serviços prestados por essas organizações. Para isso é importante conhecer
o grupo nas suas subdivisões e na sua diversidade, considerando suas formas de reprodução
da vida cotidiana, o que exige um olhar para além do ciclo de produção capitalista. Também
é importante buscar entender de que forma a dinâmica de interação entre o poder público e
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