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BANCA EXAMINADORA
INTRODUÇÃO ……………………………………………………………… 9
1. IMAGEM E DISCURSO ……………………………………………….. 14
1.1 Semiótica ………………………………………………………………… 14
1.1.1 Signo com relação a si mesmo ………………………………………… 15
1.1.2 Signo com relação ao objeto ………………………………………….. 15
1.1.3 Signo com relação ao interpretante ……………………………………. 16
1.1.4 Objeto dinâmico x objeto imediato …………………………………… 17
1.1.5 Interpretantes …………………………………………………………. 17
1.2 Celebridade midiática …………………………………………………… 18
1.3 Retórica de Aristóteles …………………………………………………. 20
2. IDENTIDADE CULTURAL E VIDEOCLIPE ……………………… . 22
2.1 Identidade cultural …………………………………………………….. 22
2.2 O videoclipe ……………………………………………………………. 24
2.3 Análise de um videoclipe ………………………………………………. 26
3. A GAROTA DO RIO …………………………………………………… 29
3.1 Anitta e o “Girl From Rio” ……………………………………………. 29
3.2 A estética “Girl From Rio” …………………………………………….. 31
3.3 “Girl From Rio” - Canção e videoclipe ………………………………… 37
CONSIDERAÇÕES FINAIS ……………………………………………… 59
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ……………………………………. 62
INTRODUÇÃO
Analisar a Semiótica do videoclipe “Girl From Rio”, de Anitta, foi uma escolha que
inicialmente partiu de uma experiência bastante pessoal e afetiva. Em 2021, segundo ano com
a pandemia de Covid-19, participei do projeto de extensão “EntreMídias” e tive a
oportunidade de ministrar oficinas sobre Leitura Crítica de Mídia no Audiovisual, debatendo
acerca de videoclipes variados e suas mensagens ao público. Esses encontros aconteceram de
forma online com outros estudantes da UFRRJ e serviram como uma válvula de escape para
um momento tão caótico e assustador em nível mundial.
Na ocasião, a primeira “aula” foi justamente sobre o clipe que é tema deste projeto e
gerou muitos comentários fervorosos, envolvendo críticas e apontamentos interessantes por
mais de uma hora. Grande parte dos oficineiros colocou este encontro em específico como um
dos favoritos. Nunca me esqueci deste momento, principalmente pelo fato de ser um grande
admirador da artista por trás do videoclipe, e por tamanha discussão que ela e sua obra
causaram em uma sala com mais ou menos 20 alunos. Senti que eu precisava amarrar esses
apontamentos e, com ainda mais embasamento e pesquisa, chegar a uma conclusão que, de
fato, pudesse contribuir para o campo da comunicação na academia. Assim, dois anos depois,
revisitei o videoclipe para observar novas questões.
Por conseguinte, optei pela Semiótica Peirceana como metodologia principal desta
monografia, tendo em vista a importância da área para o campo da comunicação social e para
o jornalismo em si. É através desse estudo que os comunicólogos conseguem analisar e
interpretar as diferentes formas de linguagem ao redor do mundo, não apenas em textos
acadêmicos ou jornalísticos, mas nos meios midiáticos. A Semiótica ajuda a desvelar como os
signos e símbolos são usados para construir narrativas e representações da realidade. Ela
permite identificar estratégias retóricas, escolhas linguísticas e visuais, bem como a influência
cultural e social presente no universo da comunicação. Isso é crucial para uma análise crítica
do discurso midiático, ajudando a revelar possíveis vieses, manipulações e estratégias
persuasivas presentes nas mais diversas áreas.
Tendo escolhido o meu objeto, percebi que há poucos trabalhos acadêmicos dentro do
campo da Semiótica a respeito dos videoclipes, fenômenos que há décadas estão em alta nas
redes sociais, principalmente entre os jovens. Fenômenos que surgiram nos anos de 1970
(HOLZBACH, NERCOLINI, 2009) e ainda reverberam em nossa sociedade. Por que não
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analisá-los? Por que não entender sobre algo que faz parte da cultura popular e conversa com
tantos jovens? A leitura crítica deve-se fazer presente não só em livros e artigos antigos, de
cunho puramente acadêmico, e sim, em lugares plurais para que mais pessoas consigam
entender essas mensagens e refletir sobre o que consomem.
A cantora começou sua carreira com apenas 17 anos na produtora carioca Furacão
2000, performando um funk que mesclava com a estética do pop norte-americano.
Inicialmente conhecida como MC Anitta, ganhou notoriedade por levar um “novo ar” aos
paredões dos subúrbios do Rio, priorizando dançarinas e figurinos diferentes de outros artistas
da mesma empresa. Depois de assinar com a empresária Kamilla Fialho e com a gravadora
Warner Music Brasil, ela conquistou outro patamar, fazendo bastante sucesso a nível nacional
com as canções “Show das Poderosas” e “Meiga e Abusada”. Desde então, tornou-se um dos
maiores nomes do funk/pop brasileiro, com fortes discursos priorizando o gênero que a abriu
portas para a música. Nos últimos anos, após ter gravado seu nome no mercado brasileiro, a
artista se empenhou em internacionalizar a carreira. A canção e o videoclipe “Girl From Rio”
foram algumas das tentativas da cantora em abraçar um novo mercado, sem perder o público
do Brasil.
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cresceu em Honório Gurgel, bairro na Zona Norte do Rio -, e é um produto, que também foi
feito para internacionalizar sua carreira.
As estratégias que Anitta, uma cantora da mídia hegemônica, usou para passar sua
mensagem ao público-alvo tiveram relação com referências sofisticadas e takes muito bem
estudados por uma equipe de marketing e comunicação. Meu intuito não é o de aplicar juízo
de valor, mas ressaltar a importância de perceber o contexto midiático por trás da mensagem,
analisar criticamente o que, como e porque está sendo passado. Anitta é uma celebridade
midiática (PIMENTEL, 2005) e construiu um discurso em torno de si e da narrativa do
videoclipe em questão para, além de transmitir uma crítica e fazer questionamentos
pertinentes, vender o seu nome e trabalho.
Neste sentido, a pesquisa visa solucionar a questão do consumo acrítico e passivo para
trabalhos audiovisuais de artistas, aqui sendo Anitta e o videoclipe “Girl From Rio” como
objetos de análise. É importante enxergar o clipe não apenas como um meio de
entretenimento, mas como uma mídia poderosa que detém uma mensagem, faz parte do
discurso de alguém, com algum objetivo. As imagens retratadas no videoclipe representam
uma realidade subjetiva e, portanto, oferecem uma visão seletiva de determinados temas.
Portanto, estereótipos podem ser criados e massificados. Cabe aos pesquisadores da
comunicação destrinchar esses elementos e destacar a importância da leitura crítica da mídia,
proporcionando uma compreensão mais aprofundada e contextualizada dos significados e das
implicações sociais presentes na obra.
O segundo capítulo segue com o embasamento teórico, trazendo Stuart Hall (1992) e a
ideia de identidade cultural, na qual o autor reflete sobre o sentimento de união e
pertencimento que existe entre ingleses (neste projeto, trazido para uma visão brasileira);
Holzbach e Nercolini (2009) com uma breve história sobre o videoclipe, trazendo
informações a respeito do surgimento e da importância do fenômeno; e Jeder Janotti Júnior e
Thiago Soares (2008) com uma visão mais mercadológica do clipe, explicando as estratégias
que um cantor utiliza para vender sua canção, além de uma análise sobre a relação entre a
letra e os visuais.
A terceira e última parte desta monografia envolve a análise de “Girl From Rio” em si,
destacando detalhes aprofundados do videoclipe, da letra, do marketing que antecedeu o
projeto e toda a estética que rodeia o trabalho. Para isso, realizei uma rápida pesquisa
biográfica sobre Anitta, para entender de onde ela vem, como sua imagem está atrelada ao
mercado fonográfico para o público (tanto brasileiro quanto internacional) e quais discursos
ela utiliza como figura pública. Depois, apliquei a Semiótica Peirceana na capa do single,
destacando os principais elementos, desde a escolha das cores, a posição corporal da cantora,
o ônibus utilizado como paisagem e as cadeiras de plástico - símbolos da periferia. Por fim, a
análise sobre a letra e o videoclipe, examinando takes específicos - comparando os dois
ambientes (Rio “falso” e Rio “real”) que Anitta usa na narrativa, além das diversas referências
12
que ela usa com relação a outras obras audiovisuais, instigando o interpretante dinâmico de
parte de seu público.
A relevância deste trabalho está em ampliar a pouca pesquisa que existe quando o
tema diz respeito a relacionar o videoclipe com a importante questão da Semiótica. Além
disso, cumpre deixar aqui registrada a minha paixão por Anitta e pela cultura pop no geral.
Com a pesquisa em questão, acredito que um novo olhar sobre os estudos semióticos pode se
fazer presente, mesclando a cultura pop e as estratégias de marketing, publicidade e
comunicação que diversos artistas utilizam para vender seus produtos. A linguagem visual é
extremamente importante para esse caminho e a Semiótica, dentro deste contexto, pode
auxiliar na análise da recepção das mensagens, examinando como os leitores, telespectadores
e ouvintes interpretam e atribuem significados aos conteúdos midiáticos.
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CAPÍTULO 1 - IMAGEM E DISCURSO
1.1 Semiótica
A Semiótica, segundo Lúcia Santaella (1983) “é a ciência que tem por objeto de
investigação todas as linguagens possíveis” (SANTAELLA, 1983, p. 9). Nesse sentido, se
difere da linguística, que analisa apenas a linguagem oral, verbal ou escrita, e se propõe a
entender todos os fenômenos de produção de significação de sentido do nosso cotidiano. O
norte-americano Charles Sanders Peirce - considerado o “pai da Semiótica” - desenvolveu
diversos estudos sobre esses fenômenos, destacando sistemas de comunicação plurais,
envolvendo imagens, gráficos, sons, gestos, tato, cheiro e outras experiências.
Assim, Peirce criou três categorias para identificar todo e qualquer fenômeno presente
na vida humana: Primeiridade, Secundidade e Terceiridade. Para ele, o primeiro termo está
relacionado à primeira impressão que recebemos no tempo presente, é aquilo que é “genuíno”,
está relacionado ao abstrato e ao sentimento. Já o segundo está relacionado ao caráter factual,
o que está encarnado em uma matéria e traz consciência da existência da “coisa”. Por fim,
“Terceiridade” é a inter-relação entre os dois termos em uma síntese intelectual. É a partir dela
que iremos interpretar e entender, através do nosso contexto social, o objeto de análise.
É importante entender que esses três pilares vão permear e sustentar toda a teoria
semiótica peirceana, já que para o autor todo pensamento é um signo, tal como o próprio
homem. De acordo com Santaella (1983, p. 33), “Peirce leva a noção de signo tão longe a
ponto de que um signo não tenha necessariamente de ser uma representação mental, mas pode
ser uma ação ou experiência, ou mesmo uma mera qualidade de impressão”
“O signo é uma coisa que representa uma outra coisa: seu objeto. Ele só pode
funcionar como signo se carregar esse poder de representar, substituir uma
outra coisa diferente dele. Ora, o signo não é o objeto. Ele apenas está no
lugar do objeto. Portanto, ele só pode representar esse objeto de um certo
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modo e numa certa capacidade. Por exemplo: a palavra casa, a pintura de
uma casa, o desenho de uma casa, a fotografia de uma casa, o esboço de uma
casa, um filme de uma casa, a planta baixa de uma casa, a maquete de uma
casa, ou mesmo o seu olhar para uma casa, são todos signos do objeto casa.”
(SANTAELLA, 1983, p. 35)
A partir destas definições, Peirce classifica os signos em uma nova tríade: 1 - o signo
consigo mesmo, 2 - o signo com relação ao objeto e 3 - o signo com relação ao interpretante.
1
Disponível em: https://www.redalyc.org/journal/4955/495557631008/html/#B12. Acesso em: 12 de
julho de 2023.
15
No signo com relação ao objeto (aquilo que é referido por ele), existem, segundo
Peirce, as seguintes classificações: Ícone, índice e símbolo. O ícone está associado à
semelhança física com a ideia que representa. Por exemplo, “a escultura de uma mulher, uma
fotografia de um carro, e, mais genericamente, um diagrama, um esquema” (COELHO
NETTO, 2007, p.58, apud AMARAL 2014, p. 472). Já o índice, como o próprio nome diz, é
um signo que indica uma outra coisa pela qual ele está ligado. Consiste em um vestígio ou
impressão direta de um objeto ou evento. relacionado ao objeto por semelhança ou
proximidade no lugar de representá-lo. Para Santaella (1983), o girassol, por exemplo, é um
exemplo de índice, já que indica a hora do dia a partir da movimentação na direção do Sol.
“Aponta para o lugar do sol no céu, porque se movimenta, gira na direção do sol. A posição
do sol no céu, por seu turno, indica a hora do dia” (SANTAELLA, 1983, p. 41). O símbolo,
por fim, depende de uma convenção social. Seu poder de representação está relacionado a um
pacto coletivo. “Um símbolo é um signo que se refere ao objeto que denota, em virtude de
uma lei, normalmente uma associação de ideias gerais” (PEIRCE, 1977, p.53 apud AMARAL
2014, p. 474). Desta forma, o símbolo é geral, não se tratando de algo singular. Tal como
aquilo que ele representa. Por exemplo, a palavra mulher que pode representar qualquer
mulher, independentemente de suas singularidades. “Assim, o símbolo se relaciona com seu
objeto devido a uma ideia presente na mente do usuário, um hábito associativo, uma lei,
chamada por Peirce de ‘interpretante lógico’” (RIBEIRO, 2010, p. 51).
16
justificativa. A frase “O amarelo é resultado da sobreposição das cores verde e vermelho” é
um exemplo, já que é uma constatação baseada em estudos específicos e comprovada.
Na capa do single “Girl From Rio”, de Anitta, pode-se considerar a própria cantora e o
ônibus por trás dela como objetos imediatos, já que ambos não estão ali de fato e são
representados através da fotografia. Todos os outros elementos na imagem também
configuram uma representação do real (o momento exato em que a foto foi tirada).2
1.1.5 Interpretantes
2
Nos próximos capítulos, o single e videoclipe de “Girl From Rio”, de Anitta, serão analisados com
mais detalhes e aprofundamentos
17
o interpretante final está relacionado à maneira como qualquer mente reagiria ao signo, de
acordo com certas condições específicas. Segundo Santaella, o interpretante final:
“Consiste não apenas no modo como sua mente reage ao signo, mas no
modo como qualquer mente reagiria, dadas certas condições. Assim, a
palavra casa produzirá como interpretante em si outros signos da mesma
espécie: habitação, moradia, lar, ‘lar doce-lar’ etc” (SANTAELLA, 1983, p.
38)
18
No caso de Anitta, seu próprio nome artístico já “escancara” a diferença entre a sua
persona midiática e Larissa de Macedo Machado, o nome que consta em sua certidão de
nascimento. Em entrevista ao podcast “Quem Pode, Pod”, transmitida em 16 de maio de 2023
pelo YouTube, a cantora ressaltou que existem dois lados de si mesma e que a Anitta aparece
em momentos estratégicos. A carioca ainda expressou, em terceira pessoa, que a Larissa é
tímida e a persona-midiática é um personagem. Anitta é uma imagem, um produto que
conversa com determinado público para fins específicos. Larissa é quem dá vida ao produto.
“As pessoas não acham que existe um personagem por trás, acham que você
é aquilo 24h. É diferente de um ator, que vai, faz um filme e quando vai pra
casa, as pessoas entendem que era um personagem. Quando você é um
cantor, as pessoas acham que você é aquilo ali o tempo inteiro. As pessoas
vêm me conhecer, elas já vêm achando que sabem que eu sou totalmente”
(ANITTA, 2023)3
Guilherme Terreri Lima Pereira, mais conhecido pelo nome artístico Rita von Hunty
(sua drag queen), também falou sobre a perspectiva de encarnar um personagem durante a
vida. Em entrevista ao podcast “Desculpa Alguma Coisa”, apresentado por Tati Bernardi, no
dia 10 de maio de 2023, o professor disse acreditar que todo mundo é drag queen, porque
todo mundo em algum momento está “montado” para viver determinado papel em sua vida.
Ele usa o exemplo do médico, que usa um jaleco com “doutor” antes do nome, mesmo “sem
ter feito doutorado”. “O nome não é o dele… É doutor. Mas tem doutorado? Então o que esse
doutor está fazendo no seu crachá?” (2023), questionou o artista.4
3
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=99-LFAC4KHM. Acesso em: 29 de junho de 2023.
4
Disponível em: https://open.spotify.com/episode/2jvtUNM9a5ctW3uOyhShy5?si=e5a63a1a1899483f.
Acesso em: 29 de junho de 2023.
19
construído para confundir-se com o da sua pessoa, para que um e outro
pareçam ser uma totalidade só?” (PIMENTEL, 2005, p. 197)
Aristóteles foi um filósofo grego que viveu no século IV a.C. e contribuiu para
diversas áreas do conhecimento, incluindo a retórica. Essa, de acordo com o pensador, é a arte
de persuadir e influenciar através do uso da linguagem. Ele acreditava que ela desempenhava
um papel crucial na vida pública, na política e no discurso jurídico.
O sofista escreveu uma obra chamada "Arte Retórica" (ou simplesmente "Retórica"),
na qual ele explorou em detalhes os princípios e técnicas do discurso persuasivo. Seu objetivo
era desenvolver um sistema que permitisse aos oradores convincentes e eficazes utilizarem a
linguagem de forma eloquente.
Aristóteles dividiu a retórica em três pilares: ethos, pathos e logos. Para o autor, um
discurso convincente partia desses princípios da persuasão. O primeiro estaria relacionado ao
sentido de caráter, à credibilidade de quem está discursando. Por exemplo, políticos que citam
cargos em que estiveram anteriormente para, de certa forma, “legitimar” a atual posição.
“Persuade-se pelo caráter [= ethos] quando o discurso tem uma natureza que
confere ao orador a condição de digno de fé; pois as pessoas honestas nos
inspiram uma grande e pronta confiança sobre as questões em geral, e inteira
confiança sobre as que não comportam de nenhum modo certeza, deixando
lugar à dúvida. Mas é preciso que essa confiança seja efeito do discurso, não
uma previsão sobre o caráter do orador” (ARISTÓTELES apud
MAINGUENEAU, 2015, p. 13)
20
Já o pathos teria conexão com uma carga emocional, o conteúdo emotivo que pertence
a determinado discurso. É uma fala carregada de vulnerabilidade, que gera empatia (ou o
contrário, mas sempre ligada ao sentimento de quem está ouvindo).
Por fim, o logos estaria relacionado ao campo da razão, sendo tudo aquilo que
comprova que o que está sendo dito é verdade. Exemplos: pesquisas, fontes, gráficos e
números.
No próximo capítulo, vamos abordar o conceito de identidade cultural de Stuart Hall
(1992) e verificar como essas questões ajudam no entendimento do videoclipe, aqui lido a
partir das percepções de Holzbach e Nercolini (2009) e Jeder Janotti Júnior e Thiago Soares
(2008).
21
CAPÍTULO 2 - IDENTIDADE CULTURAL E
VIDEOCLIPE
“As identidades nacionais não são coisas com as quais nós nascemos, mas
são formadas e transformadas no interior da representação. Nós só sabemos
o que significa ser ‘inglês’ devido ao modo como a ‘inglesidade’
(Englishness) veio a ser representada - como um conjunto de significados -
pela cultura nacional inglesa. Segue-se que a nação não é apenas uma
entidade pública mas algo que produz sentidos - um sistema de representação
cultural. Uma nação é uma comunidade simbólica…” (HALL, 1992, p. 48 e
49)
O autor cita dois outros estudiosos do tema para enfatizar o “poder” que esse
sentimento de identidade nacional tem sobre os indivíduos. Destaca Roger Scruton (1986),
quando ele diz que
Ele faz referência também à Ernest Gellner (1983), ressaltando que fazer parte de um
grupo (como um país/uma nação) é algo que se tornou quase “inerente” ao ser humano.
22
“A ideia de um homem sem uma nação parece impor uma (grande) tensão à
imaginação moderna. Um homem deve ter uma nacionalidade, assim como
deve ter um nariz e duas orelhas. Tudo isso parece óbvio, embora, sinto, não
seja verdade. Mas que isso viesse a parecer tão obviamente verdadeiro é, de
fato, um aspecto, talvez o mais central, do problema do nacionalismo. Ter
uma nação não é atributo inerente da humanidade, mas aparece, agora, como
tal” (GELLNER, 1983, p. 6 APUD HALL 1992, p. 48)
A análise de Hall também pode ser trazida para a realidade brasileira, tendo em vista a
ideia generalizada que existe na sociedade de que o povo brasileiro é um só. O ditado
“brasileiro não desiste nunca” confirma esta tese. Anitta frequentemente “levanta a bandeira”
de representar o povo brasileiro em entrevistas no exterior. No videoclipe de “Girl From Rio”,
ela faz um recorte ainda mais específico na questão da identidade e se coloca como alguém
para representar o Rio de Janeiro - na intenção de quebrar estigmas para os gringos, porém
consequentemente construindo novos estereótipos.
O autor também utiliza a visão de Benedict Anderson (1983) para afirmar que a
cultura nacional é uma “comunidade imaginada”, ou seja, construção de uma quantidade de
símbolos e representações. Hall explica:
As questões que envolvem a identidade cultural serão discutidas neste trabalho através
de um olhar atento e crítico ao videoclipe “Girl From Rio” de Anitta, já que nele, como dito
anteriormente, pode-se perceber símbolos e discursos que transmitem a ideia de
pertencimento ao Rio de Janeiro. Com esse registro audiovisual específico, a cantora
construiu uma imagem diferente sobre o estado e os cariocas, mirando estratégias comerciais
e pessoais. Anitta se comunicou com determinado público (em grande parte gringo) por meio
da narrativa do projeto.
23
2.2 O videoclipe
24
No Brasil, dois acontecimentos foram cruciais para impulsionar e popularizar ainda
mais o gênero do videoclipe: a ampliação do rock nacional e o estabelecimento do programa
dominical Fantástico, da TV Globo, como promotor e produtor desses clipes (HOLZBACH E
NERCOLINI, 2009, p. 51). Os autores elucidam:
Para além das bandas de rock, outros artistas (solo e grupos) de diferentes gêneros
também beberam da inovação no mercado fonográfico, como Madonna, Michael Jackson e
Britney Spears. Os três se tornaram grandes referências por seus videoclipes marcantes para a
cultura pop, carregados de símbolos que se tornaram icônicos e ultrapassaram gerações. Anos
a frente, com o avanço da internet e surgimento das redes sociais, os registros audiovisuais
desses artistas tiveram uma nova configuração. Atualmente, os videoclipes normalmente são
divulgados no YouTube e amplamente divulgados em outras redes do artista, como o
Instagram, Facebook, TikTok e Twitter. Holzbach e Nercolini (2009) ressaltam que “a
25
internet, assim, está reconfigurando o videoclipe. Através dela a audiência pode atuar,
manusear, modificar e criar linguagens, ampliando os significados criados pela televisão e
pela indústria fonográfica” (HOLZBACH E NERCOLINI, 2009, p. 53), enfatizando a relação
mais ativa e direta com o público-alvo.
Ao citar John Mundy (1999), eles esclarecem que “o videoclipe “vende” a canção. E
ele é, também, responsável pela música estar “nos ‘olhos’ dos artistas, da gravadora e do
público” (JÚNIOR, SOARES, 2008, p. 5). Desta forma, o registro visual ajuda a construir
uma história e a tornar a canção mais atrativa/vendável.
Os autores afirmam que cada gênero musical possui uma determinada “estética” e
segue uma fórmula no videoclipe (aqui lido como um produto midiático), dentro do contexto
industrial.
Com relação à música pop - termo adotado para referenciar às expressões musicais
produzidas e consumidas a partir da configuração das indústrias fonográficas ao longo do
século XX -, Júnior e Soares refletem sobre o “refrão visual”, que segundo eles, seria o
26
momento em que o artista gesticula no videoclipe a parte principal da música - o refrão. “O
refrão, um dos principais elementos constitutivos da canção pop e gancho narrativo para uma
boa parte dos videoclipes, tem como propriedade marcar o momento em que a canção
convoca o ouvinte a um “cantar junto” de maneira mais evidente” (JÚNIOR, SOARES, 2008,
p. 7).
Para eles, no âmbito da música pop, o artista normalmente ignora “as normas de refrão
impostas pela canção e cria o seu próprio momento de convocação do espectador, impondo o
seu próprio ditame narrativo e se projetando para seu destinatário obedecendo às suas próprias
regras” (JÚNIOR, SOARES, 2008, p. 7). Nessa perspectiva, para exemplificar, se Anitta em
“Girl From Rio” canta que “garotas quentes” de onde ela veio “não se parecem com modelos”
no refrão, não necessariamente precisa demonstrar de forma literal esse momento nas cenas.
Neste caso, ela até o faz, mas em cenas diversas e sem seguir uma regra baseada na letra. Em
um take do refrão, logo no início, por exemplo, a cantora está sozinha, fazendo uma pose
(como uma modelo) e usando vestimentas que remetem aos anos de 1950 e 1960, que cobrem
a maior parte do corpo - enquanto canta o verso específico (“não nos parecemos como
modelos”).
Nesse sentido, podemos traçar comparativos com a estética do funk, gênero que foi
berço e porta de entrada de Anitta no Brasil. Na capa de “Girl From Rio”, Anitta “brinca”
27
com o imaginário popular ao trazer elementos da periferia carioca como o ônibus com o
escrito “piscinão” (referência ao Piscinão de Ramos) e a cadeira de plástico. Partindo do
princípio que a cantora veio do gênero - que nasceu nas favelas do Rio de Janeiro - e utiliza de
características do mesmo até hoje, a foto, como se verá adiante, transmite uma clara
mensagem ao estilo musical, ainda que a canção não seja funk propriamente dita.
No próximo capítulo, essa análise será ainda mais aprofundada, trazendo outras
considerações específicas sobre o “Girl From Rio”.
28
CAPÍTULO 3 - A GAROTA DO RIO
Inicialmente, quando estreou na Furacão 2000, Anitta era conhecida por “MC (sigla
para Mestre de Cerimônias) Anitta”, comum no meio do funk. A carioca rapidamente
conquistou um espaço de destaque dentro da produtora, gravando músicas que foram um
sucesso como “Eu Vou Ficar”, “Fica Só Olhando” e “Proposta”, apresentadas nos DVD’s da
Furacão 2000.
Azeredo (2022, p.9) ao citar Tatiane Leal (2013), afirma que “Anitta e suas músicas,
uma mistura de funk e pop, figuravam entre as mais tocadas de diversas rádios pelo país antes
mesmo da gravação de seu primeiro CD, lançado em julho de 2013”.
5
Disponível em:https://www.netflix.com/br/title/80216621?s=i&trkid=258593161 &
vlang=pt&clip=81012453. Acesso em: 29 de junho de 2023.
29
De salto alto, ao lado de suas próprias dançarinas e bastante autoconfiança, Anitta foi
mostrando o seu diferencial artístico e chamou a atenção da empresária Kamilla Fialho, que
também trabalhou na carreira do funkeiro Naldo Benny. Em entrevista ao Vênus Podcast, em
maio de 2022, Kamilla revelou ter pagado R$ 260 mil à empresa Furacão 2000, na ocasião
gerenciada por Rômulo Costa, para que a artista fosse agenciada por ela, em 2012. De acordo
com a empresária, Anitta foi pioneira em usar o ballet de salto no meio do funk, ainda que
outras pessoas duvidassem ou debochassem de sua escolha.6
6
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=W7gasirDU2c. Acesso em: 29 de junho de 2023.
7
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=HN3n5BuR_UA. Acesso em: 29 de junho de
2023.
30
pronunciamento carregado de emoção, onde prometeu que faria o funk carioca ser respeitado:
“Um dia, eu prometo pra vocês que eu vou fazer o nosso funk carioca ser respeitado [...]
Porque o nosso funk nasceu aqui, foi feito aqui, e ele merece ser respeitado sim” (2016),
explicou a cantora.8
Para o trabalho em questão, é importante analisar esses discursos para entender como
Anitta se coloca no mercado enquanto figura pública. Ela canta e performa ritmos variados,
mas veio do funk carioca e faz questão de enfatizar esse movimento quando pode. Em “Girl
From Rio”, pode-se considerar que o movimento funk está presente, ainda que a canção não
seja pertencente ao gênero, já que a cantora “veio de lá”. Além disso, o videoclipe traz
referências diretas ao subúrbio carioca, de onde o gênero nasceu. Ele tem uma mensagem
clara e objetiva: desmistificar o Rio como o gringo conhece, o Rio romantizado e mostrar o
lado da periferia, o lado de onde veio o funk.
8
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=8CtwfBR6DEI. Acesso em: 29 de junho de 2023.
31
Nas semanas seguintes, todo dia publicava duas imagens (também em preto e branco),
exibindo partes da “cultura do Rio de Janeiro”, trazendo o sentimento de identidade cultural
de Stuart Hall (1992). O Instagram da cantora ficou tomado por fotos e vídeos variados,
mostrando pessoas e momentos emblemáticos da cidade, como o calçadão de Ipanema nos
anos de 1960; o Cristo Redentor; Astrud Gilberto performando a versão em inglês de “Garota
de Ipanema”, “The Girl From Ipanema” em um programa de TV; Helô Pinheiro, conhecida
por ter sido a musa inspiradora de Tom Jobim e Vinicius de Moraes para mesma canção e
Roberta Close, primeira modelo trans a posar nua para a edição brasileira da revista Playboy.
Fonte: Reprodução/Instagram
9
Disponível em: https://www.instagram.com/p/CN2abr1HGoX/. Acesso em: 14 de julho de 2023.
33
Figura 2: Primeira foto colorida na divulgação do Instagram de Anitta
Fonte: Reprodução/Instagram
Finalmente, em 23 de abril, Anitta divulgou pela primeira vez a capa oficial do single.
A imagem traz a carioca em cima de duas cadeiras de plástico azuis, em frente a um ônibus
com os dizeres “Girl From Rio”, “Anitta” e “Piscinão”. Ela veste uma blusa em que se lê
“Garota do Rio”, em português e encara a câmera com a mão esquerda na cintura, como quem
tem domínio e poder sobre si.
34
a atenção dos olhos de quem está a visualizando. Segundo Almeida (2009), “a cor vermelha
por sua própria composição física, ao corresponder às ondas eletromagnéticas mais curtas,
chama a atenção com mais rapidez e intensidade do que as outras cores” (ALMEIDA, 2009,
p. 10). Já o amarelo e o azul podem se relacionar com o verde do biquíni de Anitta, além de
sua blusa branca, remetendo às cores da bandeira do Brasil. Para alguém que tem o objetivo
de internacionalizar a carreira, levar o “funk” para o mundo, é uma escolha estética bastante
sugestiva.
Fonte: Reprodução/Twitter
35
cadeiras de plástico, olhando por cima de quem a fotografou, com “pose” de confiança e
autodeterminação. A perna direita levemente inclinada e a mão esquerda na cintura mostram
que a artista tem controle sobre si e sobre a narrativa da “Garota do Rio”. Este termo, que
inclusive, está escrito em sua blusa, em português. Neste sentido, as palavras parecem mandar
uma mensagem direta a aqueles que a acusam de se “americanizar”. Embora esteja
“exportando” a música, ela veio do Rio de Janeiro e sempre será a “Garota do Rio” (e não
“Girl From Rio”). A pele bronzeada e o cabelo molhado também transmitem a ideia de um
dia de praia, que conversa com a estética do clipe. Para além do bíquini e da blusa, a cantora
também usa um salto alto, transmitindo certa elegância em ser uma garota do subúrbio,
alguém que é respeitada apesar das dificuldades do cotidiano.
Com relação ao símbolo - dependente de uma convenção social -, que traz algo geral e
não singular, podemos analisar a palavra “garota”, que está na blusa de Anitta. A artista optou
por esse termo abrangente, provavelmente para conversar com outras mulheres que vissem a
capa. Ainda que faça referência direta à clássica música “Garota de Ipanema”, os termos
também indicam que qualquer outra figura feminina do Rio de Janeiro poderia estar naquela
capa. O que configura uma garota do Rio?
Ainda analisando com o viés simbólico na semiótica peirceana, o ônibus trazido por
Anitta na capa do single traz uma identidade visual facilmente identificada por moradores do
Rio de Janeiro, acostumados a se locomover pelo transporte público da Auto Viação Jurema,
empresa sediada em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense do estado, que opera linhas
ligando o município à cidade do Rio. O coletivo retratado na imagem, apesar de ter sido
modificado digitalmente (na saturação e escrita), usa as mesmas cores e diagramação do
ônibus que é muito utilizado pelos cariocas, atravessando a Avenida Brasil e, inclusive,
podendo chegar até o Piscinão de Ramos. O interpretante lógico se faz presente na
compreensão de parte dos cariocas que visualiza o símbolo a partir do próprio repertório
cotidiano. Sendo assim, Anitta “conversa” com uma parcela da população que se identifica, se
vê representada. Não por acaso, a capa viralizou nas redes sociais, com fãs e famosos “se
colocando” frente ao ônibus. Artistas como Gretchen, Juliette, e até mesmo o prefeito do Rio
36
de Janeiro, Eduardo Paes, entraram na brincadeira.10 O fato do meme ter se espalhado por
toda a internet comprova a forte adesão popular que a capa do single teve.
A melodia de “Girl From Rio” é uma versão autorizada de “Garota de Ipanema”, uma
das canções mais icônicas da música brasileira e que se tornou um símbolo do país ao redor
do mundo. Criada por Antônio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, a faixa se tornou um
marco do movimento da Bossa Nova e foi lançada em 1962, retratando uma bela garota
branca que anda pela Zona Sul da cidade. Segundo Vianna (2012), no jornal O Globo, a
canção se tornou a segunda mais executada de todos os tempos, ficando atrás apenas de
“Yesterday”, dos Beatles.11
A canção foi escrita em uma das esquinas mais famosas do bairro de Ipanema, no Rio
de Janeiro, durante uma visita dos artistas a um bar chamado "Velloso". Enquanto observavam
o movimento na rua, Tom Jobim e Vinicius de Moraes foram inspirados pela presença de uma
jovem que passava por ali, chamada Heloísa Eneida Menezes Paes Pinto, mais conhecida
12
como Helô Pinheiro. O contexto em que a música foi escrita reflete a atmosfera cultural e
artística do Rio de Janeiro dos anos 60, período em que a Bossa Nova estava em ascensão. A
letra captura a essência de uma vida carioca descontraída, leve e romântica, de cenário
deslumbrante, tal como outras canções do estilo, como “Corcovado”, também de Tom Jobim e
“Samba de Verão”, de Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle. Todas trazendo o Rio em um
10
Disponível em: https://portalpopline.com.br/prefeito-from-rio-eduardo-paes-meme-anitta/. Acesso
em: 14 de julho de 2023.
11
Disponível em:
https://oglobo.globo.com/cultura/garota-de-ipanema-a-segunda-cancao-mais-tocada-da-historia-4340
449. Acesso em: 29 de junho de 2023.
12
Disponível em:
https://veja.abril.com.br/coluna/o-som-e-a-furia/garota-de-ipanema-os-60-anos-da-cancao-que-fez-mu
ndo-amar-o-brasil. Acesso em: 12 de julho de 2023.
37
ambiente focado na praia, em que a natureza exuberante e o ambiente de encanto são
destaques.
Em 1963, Astrud Gilberto foi convidada para cantar em inglês na faixa "The Girl from
Ipanema" (versão em inglês de "Garota de Ipanema"), e sua voz suave e delicada conquistou
o público internacional. A canção se tornou um grande sucesso nos Estados Unidos,
alcançando o topo das paradas musicais e rendendo um Grammy13 para o álbum
"Getz/Gilberto", de João Gilberto em parceria com o saxofonista estadunidense Stan Getz.
13
Astrud foi a primeira brasileira a ser indicada à premiação musical mais importante dos Estados
Unidos. Além de ganhar na categoria “Música do Ano”, também foi indicada em “Artista Revelação”,
mesma categoria disputada por Anitta em 2023.
38
Figura 4: Rio de Anitta X Rio da Bossa Nova
Fonte: (Reprodução/YouTube)
Finalmente, após cantar o primeiro verso do refrão, o estúdio com a imagem estática
do cartão postal do Pão de Açúcar se abre, enquanto Anitta diz: “Deixa eu te contar sobre um
Rio diferente. O Rio de onde eu vim e não o que você conhece”. Neste momento, o cenário
falso dá lugar a um Rio de Janeiro da periferia, com corpos diversos no Piscinão de Ramos.
As cores estão mais contrastadas e a cantora aparece descendo do mesmo ônibus da capa do
single. Sua vestimenta é colorida e mistura estampas, e funciona como uma mensagem oposta
à visão idealizada do começo. A paleta de cores, composta por tons quentes evoca uma
sensação de energia e vivacidade que está associada à “identidade carioca”.
41
Figura 6: Cenário do Rio Zona Sul abre e Anitta desce do ônibus
Fonte: Reprodução/YouTube
É válido perceber que até mesmo na visão “higienizada” - a que serve como sátira da
artista -, sua persona também é dona de si. A Anitta do Rio da Zona Sul está como figura
principal, contando sobre a sua realidade. As personagens cantam as mesmas frases e
gesticulam de forma similar, independentemente do cenário. É como se as duas funcionassem
como versões diferentes da artista, que levanta a bandeira do empoderamento feminino. Seja o
Rio de Janeiro que for, a figura feminina é exaltada e colocada em forte presença sob seu
próprio território, em um local de autoafirmação e sensualidade. A “Garota do Rio” é a garota
do Rio em qualquer circunstância, sendo caricata ou não. Ela é livre para dançar, beijar, piscar
42
para a câmera e ser autêntica em sua essência. Essa abordagem reafirma a importância da
representação feminina como protagonista, independente do contexto ou estereótipo imposto.
Através dessa identidade forte e multifacetada, Anitta assume o controle de sua imagem e se
posiciona como uma figura inspiradora para outras mulheres, encorajando-as a serem
autênticas e confiantes em sua própria essência, seja qual for o cenário ou a expectativa social.
Em outro take do videoclipe, Anitta aparece posando com sua mãe, pai e irmão, em
vestimentas claras e típicas dos anos de 1950, para uma máquina fotográfica antiga. A cantora
veste uma saia rodada, está com a cintura marcada, usando tons delicados e lenço no cabelo.
Aos 55 segundos, ela canta: “Acabei de descobrir que eu tenho um outro irmão. Mesmo pai,
mas de uma mãe diferente”. Nesse momento, o vídeo exibe a artista com uma feição de
surpresa, lendo um jornal de época que diz em letras garrafais: “Anitta tem um outro irmão”.
43
Figura 7: Anitta descobre um novo irmão
Fonte: Reprodução/YouTube
Fonte: Reprodução/YouTube
Nessa perspectiva, a cantora mais uma vez mistura sua vida pessoal com a arte, já que
em outubro de 2019, ela compartilhou nas redes sociais que havia descoberto um novo irmão
por parte de pai, Felipe Terra Machado. “Anitta coloca seu relato pessoal por ter descoberto
um novo irmão quando era já adulta, ao mesmo tempo em que retrata a realidade de milhões
de brasileiros que não conhecem seus pais e que esses filhos foram gerados fora de um
casamento” (AZEREDO, 2022, p. 41). Na ocasião, a intérprete de “Girl From Rio” explicou
44
que uma jornalista publicou rumores sobre o assunto e então, a artista decidiu ir atrás de
informações. Por fim, a família decidiu fazer um exame de DNA e confirmou o parentesco.
“Ninguém buscou a gente, eu que fui atrás dele. A mãe dele e o meu pai
perderam contato. A mãe dele viu meu pai na televisão junto comigo, e
comentou que aquele era nosso pai. E ele não nos procurou, porque tinha
medo de a gente achar que ele queria dinheiro, era interesseiro, como todo
mundo ficou comentando” (ANITTA, 2019)14
Na mesma entrevista, Anitta destacou que apesar de cantar em inglês na maior parte
da música, tentou colocar “bastante da cultura brasileira” no projeto. Ela ainda comentou que
a “energia do brasileiro é muito única”, ressaltando ter colocado esse sentido no trabalho
audiovisual. Sob a perspectiva de Stuart Hall (1992) e o processo de construção de identidade
cultural, é possível relacionar a afirmação da cantora com o sentimento de representação e
pertencimento a uma mesma cultura. O estereótipo do brasileiro e a generalização do que
14
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=s5qU75NP0f0. Acesso em: 29 de junho de 2023.
15
Disponível em: https://twitter.com/Anitta/status/1386703064258777090. Acesso em: 14 de julho de
2023.
16
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=o21_jUUSMHE. Acesso em: 29 de junho de
2023.
45
seria a “cultura brasileira” se fizeram presentes no discurso da artista, à medida em que
comentava sobre o seu lançamento em uma das maiores emissoras do Brasil, a TV Globo.
Embora o videoclipe de “Girl From Rio” seja uma crítica aos estereótipos de um Rio
de Janeiro higienizado, é possível observar outras representações estereotipadas no trabalho
da cantora. Ao mesmo tempo em que ela luta para quebrar um estigma, ela acaba construindo
novos formatos “caricatos” e controversos. Em uma das cenas, por exemplo, duas mulheres
discutindo na areia são mostradas. Logo depois, uma confusão generalizada entre dois grupos,
com uma pessoa tentando separar a confusão e segurando um copo de cerveja.
“Uma briga é mostrada durante o videoclipe, trazendo que nem tudo "são
flores" e calmaria, como retratado na música de Tom Jobim. Os passos de
danças acelerados e sem harmonia entre si, sendo o oposto do início do clipe
onde os homens e a Anitta dançam em sintonia. O futebol acontece em meio
à praia e esse ponto nos remete a mais um estereótipo reforçado no Brasil,
em que a favela é formada por um povo que não tem condições dignas mas
se divertem” (AZEREDO, 2022, p. 41-42)
Fonte: Reprodução/YouTube
Anitta, aqui encarnada como uma garota do Rio do subúrbio, aparece fazendo um
churrasco com a família na praia. Sentada em uma cadeira de praia, a artista surge com os
cabelos amarrados de forma bagunçada comendo carnes em um prato de plástico. Novamente,
símbolos da “cultura da periferia”. Ao lado dela, uma lata de cerveja Ipanema - bem
sugestiva, já que toda a faixa é uma referência à “Garota de Ipanema”.
46
Figura 10: Anitta comendo churrasco na praia
Fonte: Reprodução/YouTube
Em outro momento, a cantora surge aderindo ao corpo uma fita isolante, na intenção
de se bronzear mais rapidamente. O take rápido faz alusão direta a outro videoclipe de grande
sucesso da artista, “Vai Malandra” (2017), onde ela aparece usando um “biquíni de fita” e
tomando sol na laje. O símbolo aqui funciona como uma construção visual da marca Anitta.
Ademais, na própria letra da música, a carioca diz em português: “Vai Malandra, gringo canta,
todo mundo canta”, novamente se autoreferenciando e fazendo uma crítica à cultura do
“vira-latismo”, já que o hit de 2017 fez barulho no exterior, se tornando a primeira música em
português a entrar no top 20 do Spotify Global.17
Para além do sentido referencial de sua própria carreira, é possível interpretar a cena
das fitas isolantes como uma leitura do cotidiano nas periferias. Segundo Oliveira (2018), do
El País18, foi Érika Bronze - que inclusive apareceu em “Vai Malandra” - em sua laje no
Realengo, Zona Oeste do Rio de Janeiro, que começou a popularizar os biquínis de fita para
bronzeamento, em 2016. Desde então, a prática ficou famosa nas favelas da cidade carioca.
Em “Girl From Rio”, um videoclipe que usa justamente esses signos da periferia local, a
escolha de Anitta não é aleatória.
17
Disponível em:
https://g1.globo.com/pop-arte/musica/noticia/vai-malandra-de-anitta-e-1-musica-em-portugues-entre-
mais-ouvidas-do-mundo-no-spotify.ghtml. Acesso em: 04 de julho de 2023.
18
Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/01/10/cultura/1515612703_626750.html. Acesso
em: 29 de junho de 2023.
47
Anitta também aparece fazendo o “banho de lua”, procedimento estético que envolve
o uso de pó descolorante e água oxigenada, juntamente com uma esfoliação corporal, para
clarear os pelos da pele. A ação conversa com a estética praiana e “suburbana” do videoclipe,
mais uma vez, tentando criar laços de representatividade com quem está assistindo e se
identificando.
Fonte: Reprodução/YouTube
19
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=kOzGFJZZVe8&t=1s. Acesso em: 30 de junho de
2023.
48
alusões ao programa polêmico, é possível analisar símbolos semelhantes entre ambas as
produções. O programa mostrou a dificuldade que essas pessoas tinham em chegar até a praia
para o lazer, enfrentando no mínimo uma hora de transporte público lotado e, por vezes, até
mesmo usando mais de um coletivo.
Nas imagens, aparecem cariocas pulando a janela para conseguir entrar no veículo,
além de takes de pessoas comendo churrasco na praia - os popularmente conhecidos, de forma
pejorativa, como “farofeiros”. Em “Girl From Rio”, logo no começo do cenário do Piscinão
de Ramos, um homem também pula a janela e a câmera dá um zoom rápido em seu
movimento, trazendo um sentimento semelhante. Ademais, Anitta é filmada com um prato de
carne e farofa - o que também pode ser considerado uma crítica à fala de uma das pessoas
preconceituosas do documentário, que diz que os “sem educação” que comem “farofa com
galinha” vão “matar outras de nojo”.
Fonte: Reprodução/YouTube
49
Figura 13: Comida na praia no clipe X no documentário
Fonte: Reprodução/YouTube
Embora a referência não seja confirmada, é inegável o uso da semiótica até nos
ângulos parecidos de ambas as gravações. Em outro momento, meninas são filmadas tomando
sol de bruços e outras passam produtos para se bronzear, assim como em “Girl From Rio”.
Traçando um comparativo ainda mais evidente, em “Os Pobres Vão à Praia”, um casal
aparece aos beijos, enquanto Anitta também beija um rapaz na praia, durante o videoclipe. As
cenas similares causaram certo burburinho nas redes sociais, sendo o suficiente para que o
discurso de crítica social da artista se fizesse presente. Neste caso, o interpretante dinâmico de
parte dos espectadores teve efeito energético, já que funcionou como uma correlação mental
comparativa desses sujeitos entre as duas filmagens.
50
Figura 14: Beijo no clipe X no documentário
Fonte: Reprodução/YouTube
“Anitta traz em seu clipe uma outra realidade do Rio, mas reforça alguns
padrões de beleza, como a mulher depilada e os corpos volumosos com
"bunda e peito grande", imagem que também é vendida para o exterior e
principalmente para o Carnaval com mulheres de roupas curtas e/ou biquínis.
51
Ainda nessa vertente, é possível notar que o bronzeamento com fita e até
mesmo o natural é presente na demonstração das mulheres, outra figura que
é bastante vendida como do Brasil para o exterior” (AZEREDO, 2022, p. 42)
Fonte: Reprodução/YouTube
Outra análise também pode ser feita com relação a quantidade de pessoas pretas no
cenário do “Rio do subúrbio”. A artista canta sobre o Rio de onde ela veio, o Rio de Honório
Gurgel, do Piscinão de Ramos, áreas populares que vão na contramão da Zona Sul da cidade
52
carioca (no clipe, representada com menos pessoas pretas). Nessa perspectiva, é válido
analisar a profunda desigualdade social e racial existente no estado. Ao longo da história, o
Brasil passou por um período de escravidão e discriminação racial que deixou marcas
duradouras, afetando a população negra, que foi subjugada e marginalizada, resultando em
desigualdades persistentes que continuam a afetar a sociedade até os dias de hoje. As últimas
análises sobre essa questão no Rio20 apontam que a Zona Sul da cidade é majoritariamente
ocupada por pessoas brancas e de alta renda, um reflexo dessas raízes racistas.
Tabela 1
20
Disponível em: https://desigualdadesespaciais.wordpress.com/tag/rio-de-janeiro/. Acesso em: 16 de
julho de 2023.
53
Tabela 2:
Para além das referências brasileiras, é possível perceber semelhanças de outras obras
do exterior em “Girl From Rio”. Os signos escolhidos por Anitta que remetem à clássicos da
cultura norte-americana podem funcionar, tal como a icônica melodia da canção, também
como uma tática de memória afetiva desse público (interpretante dinâmico de efeito
emocional). Em determinado take, a cantora “brinca” com o fato de ter tido vários
relacionamentos amorosos expostos pela mídia e, novamente, misturando vida pessoal com a
arte, interage com alguns dançarinos vestidos de marinheiros. Cada rapaz segura um coração
de papel vermelho e todos tentam conquistar a artista, que os dispensa. A cena é uma clara
alusão ao famoso filme de Hollywood, “Os Homens Preferem as Loiras” (1953), estrelado
pela icônica Marilyn Monroe. Em um número musical que ficou bastante conhecido
mundialmente, “Diamonds Are a Girl's Best Friend”21, Marilyn também interage com homens
que seguram um coração de papel vermelho e todos estão posicionados em uma escada,
21
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=hEyWqVfY4vo. Acesso em: 04 de julho de 2023.
54
exatamente como em “Girl From Rio”. Vale destacar que novamente a artista faz alusão ao
empoderamento feminino, estando em uma posição de escolher os próprios pretendentes.
Fonte: Reprodução/YouTube
Não à toa, Carmen Miranda também pode ter sido referenciada por Anitta. A cantora
foi a primeira brasileira a se internacionalizar a níveis grandiosos, a ponto de atuar em
produções hollywoodianas, representando o país e “levantando a bandeira”, exatamente como
o discurso da carioca. No musical estadunidense "That Night in Rio" (1941), Carmen mostra
toda a sua brasilidade (por vezes caricata) aos gringos e canta sobre o Rio de Janeiro. No
número “Chica Chica Boom Chic”22, ela dança em frente a um cenário falso do Pão de Açúcar
- exatamente como Anitta em “Girl From Rio” - e interage com um motorista de um carro
típico dos anos de 1940, da mesma forma que a brasileira contemporânea. Todos esses
elementos podem contribuir para uma imagem nova, porém “familiar” de Anitta ao público
22
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=VvwnAp_HFmg. Acesso em: 04 de julho de
2023.
55
do exterior. Com esse repertório imagético e cultural, Anitta tenta “pescar” a atenção dessas
pessoas para o seu trabalho.
Fonte: Reprodução/YouTube
Com relação à sonoridade da canção, é interessante destacar que não é um funk. “Girl
From Rio” mescla elementos da Bossa Nova com o trap, gênero musical enérgico que
combina elementos do hip-hop e da música eletrônica, bastante em alta nos Estados Unidos.
Anitta claramente tentou deixar a música mais “aceitável” dentro do mercado estadunidense,
tendo em vista o histórico xenofóbico do país contra artistas latinos. A estratégia de
“americanizar” um clássico brasileiro para deixar mais palatável aos norte-americanos
conversa com as referências visuais híbridas do videoclipe. A todo instante é um jogo de duas
personas: a Anitta “gringa” e a Anitta de Honório Gurgel, a que quer levar o funk para o
mundo.
Essa dicotomia entre as duas personagens de Anitta se faz presente ao longo de todo o
videoclipe, inclusive, no que diz respeito ao ângulo da câmera e sua própria postura. Em 3:22,
ao analisarmos mais uma vez o sin-signo indicial da artista, temos Anitta centralizada e
56
caracterizada como a persona carioca, deitada em uma canga com a imagem do calçadão de
Ipanema, com “Garota do Rio” escrito em sua blusa. Logo no segundo seguinte, o corte seco
dá lugar à Anitta pin-up, deitada na mesma posição e também centralizada, contudo, de volta
ao fundo “fake” e aos tons pastéis.
Fonte: Reprodução/YouTube
O videoclipe fez com que Anitta fosse indicada e ganhasse na categoria “Vídeo
Favorito” no Latin American Music Awards, um dos principais eventos de premiação da
música latina, em abril de 2022. Dois meses depois, a carioca se tornou a primeira cantora
brasileira a ser homenageada com uma estátua de cera no renomado museu Madame
Tussauds. Na blusa de sua representação, os dizeres “Garota do Rio”23 em português, tal como
no clipe e capa do single. Além disso, a canção entrou no top 200 global da Billboard, parada
musical baseadas em streams e vendas de download mundiais. Assim, podemos dizer que
“Girl From Rio” fez com que Anitta se destacasse ainda mais no mercado norte-americano e
global.
23
Disponível em:
https://g1.globo.com/pop-arte/musica/noticia/2022/06/02/anitta-no-madame-tussauds-de-nova-york-m
useu-inaugura-estatua-de-cera-da-cantora.ghtml. Acesso em: 16 de julho de 2023.
58
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O intuito deste trabalho foi entender o videoclipe como um produto midiático, um
fenômeno que cria, através de signos específicos, diversas sensações em quem está assistindo
e se identificando. Dentro da indústria fonográfica, este recurso é bastante utilizado para fazer
com que o artista e sua música alcancem mais pessoas, ou seja, contém estratégias por trás.
Para exemplificar, foi analisado o clipe “Girl From Rio”, de Anitta, justamente na intenção de
compreender o poder da imagem dentro da comunicação.
A cantora abraçou uma narrativa - baseada nos discursos de sua persona midiática - e
introduziu no projeto em questão, em uma tentativa de internacionalizar a própria carreira e
“levar o funk para o mundo”. Em “Girl From Rio”, a garota do Rio é a menina que veio do
subúrbio carioca, que cresceu na vida e voltou às suas origens, quebrando estigmas e
ressignificando o Rio de Janeiro do cartão-postal, o Rio do gringo.
Para tal análise, foi escolhida como linha de frente a Semiótica de Charles Peirce, já
que o estudo aborda justamente os diferentes signos que existem na comunicação - seja ela
qual for. Através das contribuições de Peirce e interpretações de Lúcia Santaella (1983) acerca
de suas obras, vimos como os conceitos de Primeiridade, Secundidade e Terceiridade se
aplicam no videoclipe e identificamos elementos essenciais para a compreensão da mensagem
principal do projeto - o Rio de Janeiro “real”, dentro da subjetividade de Anitta. Além disso, a
teoria também serviu como uma maneira de interpretar a capa da música, que antecedeu os
visuais, auxiliando na interpretação de toda a estética “Girl From Rio”, proposta pela artista.
59
pessoal, “vendeu” o produto a partir da mensagem que construiu. A ideia foi compreender,
independentemente de juízos de valor, que o discurso de uma figura pública é muito
importante para complementar o sentido do clipe.
Stuart Hall (1992) com a ideia de identidade cultural e nacional também agregou ao
conteúdo desta monografia, com o sentido de pertencimento à determinada cultura sendo
trazido para o contexto do Rio de Janeiro e do Brasil. Com exemplos do marketing utilizado
por Anitta na divulgação nas redes sociais da música e clipe “Girl From Rio”, vimos de que
maneira a “cultura carioca” se fez presente na narrativa da artista. Além disso, uma breve
história sobre o videoclipe em si, baseada nos estudos de Holzbach e Nercolini (2009) foi
exposta, para entendermos a complexidade do fenômeno. Por fim, Jeder Janotti Júnior e
Thiago Soares (2008) complementaram a monografia, a fim de esclarecer a visão
mercadológica sobre os videoclipes. Os autores ressaltam que esses projetos audiovisuais são
feitos para impulsionar a música, torná-la mais vendável. Ademais, refletem sobre a relação
da letra com as imagens e a estética que existe desde o momento da divulgação.
Esta monografia foi dividida em três capítulos, sendo os dois primeiros focados na
teoria (com os conceitos da Semiótica, celebridade midiática, Retórica, identidade cultural e
videoclipes), e o terceiro e último na artista Anitta, no videoclipe e canção “Girl From Rio”,
com análises sobre as principais referências percebidas.
Com relação aos objetivos específicos, a pesquisa concluiu: i) A “cultura do funk” está
presente em “Girl From Rio” na dança, nos elementos que remetem ao subúrbio carioca, de
onde o gênero nasceu, além da própria artista - que começou sua carreira cantando esse estilo
musical -, como figura principal da narrativa. ii) O discurso de Anitta (em entrevistas, nas
legendas das redes sociais, onde fez o marketing do videoclipe e na própria letra da canção)
corroborou para um maior entendimento da história da obra audiovisual. Com o uso do ethos
60
e pathos aristotélicos, Anitta transmitiu o sentido de garota do Rio, mas de um Rio periférico.
iii) A artista foi na contramão dos estereótipos de um Rio de Janeiro higienizado, mas
reforçou outros estigmas, baseados em sua subjetividade e realidade.
61
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Anais do XXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Curitiba, PR.
Disponível em: http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2009/resumos/r4-0921-1.pdf.
Acesso em: 06 de maio de 2023.
AMARAL, Muriel. Entendendo a Semiótica – signos e linguagem. In: SOUZA, Rose Mara
Vidal de; MELO, José Marques de; MORAIS, Osvando J. de. Teorias da comunicação:
correntes de pensamento e metodologia de ensino. São Paulo: Intercom. Disponível em:
https://www.eca.usp.br/acervo/producao-academica/002672122.pdf. Acesso em: 06 de maio
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AZEREDO, Yasmim Marques de. Girl from Rio: como a utilização de aspectos regionais
impactam na formação de uma identidade nacional. Trabalho de Conclusão de Curso.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2022. Disponível em:
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GALINARI, Melliandro Mendes. Logos, Ethos e Pathos. Alfa: Revista de Linguística (São
José do Rio Preto), v. 58, p. 257-286, 2014.
62
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SOARES, Thiago; LINS, M.; MANGABEIRA, A. Divas Pop: O corpo-som das cantoras
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DISCURSO ANITTA NO VILLA MIX "EU PREFIRO FICAR SOZINHA DO QUE SER
SUBORDINADA". Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=8CtwfBR6DEI.
Acesso em: 15 de julho de 2023.
FANTÁSTICO: ANITTA FALA SOBRE O SINGLE "GIRL FROM RIO". Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=o21_jUUSMHE. Acesso em: 15 de julho de 2023.
63
GAROTA DE IPANEMA É A SEGUNDA CANÇÃO MAIS TOCADA DA HISTÓRIA.
Disponível em:
https://oglobo.globo.com/cultura/garota-de-ipanema-a-segunda-cancao-mais-tocada-da-histori
a-4340449. Acesso em: 15 de julho de 2023.
PREFEITO FROM RIO: ATÉ EDUARDO PAES CAI NO MEME DE ANITTA. Disponível
em: https://portalpopline.com.br/prefeito-from-rio-eduardo-paes-meme-anitta/. Acesso em: 15
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